Em nota pública, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns, manifesta seu mais veemente repúdio à declaração do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, em entrevista para a rede alemã Deutsche Welle, de que o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra foi “um homem de honra, que respeitou os direitos humanos dos seus subordinados”. As palavras do vice-presidente, que é um general reformado do Exército, não apenas desonram as Forças Armadas, como agridem a dignidade dos que padeceram nas mãos deste torturador já condenado pela Justiça.
Não é de hoje que autoridades do atual governo exaltam a figura macabra do ex-chefe do DOI-CODI do 2. Exército, em São Paulo, de cujos porões emergiram inesquecíveis relatos de terror e sadismo contra cidadãos brasileiros. Para se ter ideia da barbárie autorizada como política da Estado, entre 1970 e 1974, a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, liderada por Dom Paulo, patrono da Comissão Arns, reuniu mais de 500 denúncias de tortura no DOI-CODI comandado por Ustra.
Passaram-se mais de 30 anos para que, finalmente em 2008, Ustra fosse reconhecido como autor de sequestro e tortura, em ação declaratória movida pela família Telles, cujos membros puderam sobreviver para testemunhar as crueldades perpetradas por este militar e seus “subordinados”, nos porões da ditadura.
Hoje e sempre, serão inaceitáveis homenagens a este violador da Carta Constitucional de 1967/9, do Código Penal Militar de 1969 e das Convenções de Genebra de 1949, como documentado no Relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV).
Ao proferir tais elogios, Hamilton Mourão conspurca, de saída, a honra dos militares brasileiros. Ao fazê-lo na condição de vice-presidente, constrange a Nação e desrespeita a memória dos que tombaram sob Ustra. E, ao insistir em reverenciar o carrasco, fere mais uma vez o decoro do cargo em que foi investido sob juramento de respeitar a Constituição. É ela que nos ensina: “Tortura é crime inafiançável, insuscetível de graça ou anistia”.
São Paulo, 9 de outubro de 2020.
Margarida Genevois, presidente de honra da Comissão Arns José Carlos Dias, presidente da Comissão Arns, ex-coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV) Paulo Sergio Pinheiro, ex-presidente e fundador da Comissão Arns, ex-coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV)
Assinam conjuntamente todos os demais membros da Comissão Arns (em ordem alfabética):
Ailton Krenak André Singer Antonio Claudio Mariz de Oliveira Belisário dos Santos Jr. Claudia Costin Dalmo de Abreu Dallari Fábio Konder Comparato José Gregori José Vicente Laura Greenhalgh Luiz Carlos Bresser-Pereira Luiz Felipe de Alencastro Manuela Carneiro da Cunha Maria Hermínia Tavares de Almeida Maria Victoria de Mesquita Benevides Oscar Vilhena Paulo Vannuchi Sueli Carneiro Vladimir Safatle
É conhecida a fábula do Sapo e o Escorpião. Certo dia, o escorpião pediu ajuda ao sapo para levá-lo a outra margem do rio. O sapo temia ser picado, mas o escorpião garantiu que não faria isso, pois se o sapo morresse, ele também morreria afogado. Com a explicação convincente, o sapo decidiu ajudar o “amigo”, mas no meio do rio recebeu a picada mortal. Antes de morrer perguntou: “Por que você fez isso?” O escorpião respondeu: “É da minha natureza”. Assim age Bolsonaro. Como o escorpião.
Por Dacio Malta*
Sempre foi assim, e assim continuará.
A trégua que ele deu ao país, após a prisão do amigo Queiroz, foi para inglês ver.
O capitão é caso perdido.
Nem curso intensivo da Socila — escola tradicional no ensino de etiqueta e boas maneiras — daria jeito no capitão meio bandido, meio desastrado, mas completamente ignorante.
A resposta dada ao repórter de “O Globo”, que perguntou ao presidente por que a terceira primeira-dama Michelle recebeu R$ 89 mil de Queiroz, mostrou um Bolsonaro em sua forma mais genuína:
—Minha vontade é encher sua boca de porrada.
Um milhão de tweets já publicados contra a declaração, em nada mudará seu comportamento.
O capitão é assim.
Desastrado ao ponto de, no Piauí, pegar um anão no colo pensando ser uma criança.
Grosso ao dizer, em Mossoró, na mesma semana, que na política “sou imbrochável”.
—E não é só na política não. Eu tenho uma filha de 9 anos de idade, que foi feita sem aditivo.
Em princípio teremos de conviver com a besta por mais dois anos e meio.
Supersticioso, o presidente da Câmara não quer discutir o impeachment.
E tem lá suas razões.
A pandemia é a desculpa, mas a razão verdadeira é o apoio do centrão ao presidente que, junto com os R$ 600,00 alçou sua popularidade a 37% de aprovação, o que é muito pouco, mas suficiente para segurá-lo no cargo.
Obviamente, é preciso haver o combate diário não só contra ele, mas também contra os Ernestos, as Damares, os Ônixs, os Pazuellos, os Salles, os Mendonças e todos aqueles que insistem em avacalhar o país aqui e no exterior. E em especial ao Corisco do Lampião, e que atende pelo nome de Paulo Guedes.
Nos próximos 28 meses ainda iremos sofrer e nos envergonhar por termos de conviver com um presidente tosco com viés miliciano.
Mas ele passará.
Sua força é com um castelo de cartas.
Quis fazer um partido para chamá-lo de seu, e disputar as eleições deste ano, mas já sabe que não conseguirá formá-lo nem para 2022. Precisava do apoio de 492 mil eleitores, mas só conseguiu 15.762 apoiadores.
A resposta virá.
E o melhor.
Ele, e os filhos bandidos, terão o destino que merecem: a cadeia.
*Dacio Malta trabalhou nos três principais jornais do Rio – O Globo, Jornal do Brasil e O Dia – e na revista Veja.
Na manhã dessa quarta-feira 17 de junho, ativistas da cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, romperam o isolamento social por uma causa maior: protestar contra o genocídio promovido pelo governo Bolsonaro. O local escolhido foi a Praça Tubal Vilela, rebatizada pelos movimentos como Ismene Mendes, em homenagem a uma lutadora dos direitos humanos em contraposição a um político que matou por ciúmes a própria esposa grávida.
Fotos e vídeo: Isley Borges
Fotos e vídeo: Isley Borges
Fotos e vídeo: Isley Borges
Dezenas de “corpos” de vítimas do racismo, da fome e da Covid-19 foram dispostos na praça como denúncia do fascismo e da necropolítica definidoras do atual governo Federal. Às frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, juntaram-se diversos movimentos de luta contra a pandemia e também as políticas de morte como o machismo, a LGBTfobia, a violência policial e todos os preconceitos baseados em ódio irracional.
Os grupos também fizeram um apelo urgente ao prefeito Odelmo Leão, apoiador de primeira hora da extrema-direita, pela volta do fechamento dos serviços não-essenciais para impedir a atual velocidade de transmissão do novo coronavírus.
Os ativistas também publicaram uma nota explicativa. Leia abaixo:
FORA BOLSONARO E SEU GOVERNO
CIVIS, COLETIVOS, MOVIMENTOS POPULARES, PARTIDOS, FRENTES BRASIL POPULAR E POVO SEM MEDO PROTESTAM PELO FORA BOLSONARO E SEU GOVERNO, CONTRA AS POLÍTICAS DE MORTE DIANTE DA PANDEMIA.
Vivemos em um país governo por neofascistas, irresponsáveis e incompetentes, assistimos todos os dias os investimentos se esvaindo, o desemprego, a miséria e a fome crescem assustadoramente e o nosso futuro ficando cada dia mais incerto. Bolsonaro e seu governo ataca os estudantes, artistas, professores, funcionários públicos e todos que lutam por um país mais justo e democrático, vêem os brasileiros como seus inimigos, e coloca todos os trabalhadores e trabalhadoras como um problema a ser enfrentado e não como a solução para os problemas por eles criados por esse Governo.
O ano de 2020 está sendo marcado uma pandemia da COVID-19 e isso nos coloca em uma situação de risco à saúde e de retração da atividade econômica e não vemos nenhuma ação desenvolvida pelo Governo Bolsonaro e seus apoiadores em Minas Geias e Uberlândia em defesa da vida e das pessoas. Sem uma política de enfrentamento aos problemas gerados pela pandemia, sem a capacidade de construir uma política de saúde, onde nem mesmo a manutenção de um Ministro da Saúde esse governo foi capaz, os trabalhadores e trabalhadoras brasileiros foram deixados à própria sorte.
Enquanto o Governo Central se preocupa em beneficiar as grandes indústrias, os grandes empresários usam a atenção da mídia para a doença para conseguir passar uma “boiada” de leis contrárias a defesa da Amazônia, aos direitos trabalhistas e as políticas públicas de educação.
Somente agora, após a morte de milhares de brasileiros e brasileiras, e uma escalada autoritária e frenética contra a democracia e ataque aos demais Poderes do Estado vemos alguma reação contrária a este Governo genocida. A nossa democracia está severamente ameaçada, as vidas dos brasileiros e brasileiras está por um fio. Enquanto alguns estão morrendo de fome, outros morrem doentes. Há um descaso completo com nossa soberania e com os interesses do Brasil.
Elas sacudiram as ruas do país em 2018 com protestos gigantescos do “Ele Não” durante a campanha presidencial, que tinham o objetivo de salvar o país das mãos do autoritarismo com a eleição de Bolsonaro. Seu grito estrondoso contra o encorajamento do feminicídio e do racismo pelo candidato provocou a ira dos fascistas que invadiram sua página no Facebook quando já somava quase nove milhões de integrantes e promoveram um ataque de fake news nas igrejas neopentecostais para desmoralizar o movimento. Elas não se abateram com a derrota nas eleições: criaram o Movimento Mulheres Unidas Com o Brasil e foram à Assembleia da ONU denunciar os ataques aos direitos humanos pelo governo eleito na base de disparos milionários de notícias caluniosas nas redes sociais.
Agora, elas estão de volta e com sua luta fortalecida para derrubar o governo que, embora eleito, provou que age de forma inconstitucional e representa de fato uma ameaça real para a democracia e para todas as minorias políticas articuladas pelo movimento feminista. Neste domingo, 14, mulheres do país inteiro se unem num grande levante para derrubar Bolsonaro. Elas escrevem o Manifesto Levante de Mulheres e avisam: “Ele cai”.
Mulheres concentram sua força de articulação na queda do governo fascista. Foto: Lienio Medeiros
A primeira ação será pelo Twitter, a partir das 14h, por meio da hashtag #MulheresDerrubamBolsonaro. Às 14h30, acontecerá uma live no canal do Levante no Youtube e na página no Facebook. Da iniciativa fazem parte milhares de mulheres que vivem no Brasil e no exterior, representando, com seus coletivos, movimentos e organizações, 15 áreas da sociedade civil.
O Levante das Mulheres é provocado pela desastrosa política de Bolsonaro, que mata diariamente mil brasileiros por Covid-19, amplifica a necropolítica e o genocídio de jovens negros. Segundo o manifesto, em plena pandemia, o Governo Federal aumenta a desigualdade e o empobrecimento, retira direitos, quer armar a população, espalha mentiras e ódio, faz apologia à ditadura, ao racismo e ao fascismo. Tem o objetivo de pressionar as instituições da República para que seja consumado o processo de impedimento e derrubada deste presidente que dissemina ideias e ações destrutivas e inconstitucionais.
Por que é preciso derrubar Bolsonaro?
inúmeros pedidos de Impeachment foram impetrados na Câmara dos Deputados, e, no TSE, diversas ações pela cassação da chapa Bolsonaro/Mourão por fraude eleitoral. O STF precisa responsabilizar o presidente, que segue descumprindo a Constituição, atentando contra as liberdades e produzindo a morte de brasileiros e brasileiras, diz o manifesto. A jornalista Patrícia Zaidan, uma das impulsionadoras do Levante, ressalta que o mundo político é machista. Da mesma forma, o Congresso, o Supremo, o TSE são instituições pautadas por uma lógica masculina, elitista, sexista e branca. “As mulheres só têm voz quando se juntam e fazem barulho e pressão”, diz.
Foi assim contra a violência doméstica, no “Quem Ama não Mata”, pela volta da democracia, no “Diretas Já”, pelo fim do feminicídio, com o grito “Nenhuma a menos”, nas Marchas das Margaridas, na “Marcha das Mulheres Negras”, no “Fora Cunha”, “Fora Temer”, e, nas últimas eleições, com o “Ele não”, lembra. “Agora, as brasileiras se juntam para dizer: Ele cai”, sintetiza a jornalista.
Ludimilla Teixeira, idealizadora do Mulheres Unidas Contra Bolsonaro (MUCB), que criou o #EleNão, fala sobre a importância da continuidade da articulação neste momento: “Depois de acender o fósforo com a criação do MUCB, a chama da indignação coletiva feminina cresceu, ganhou força criando o #EleNão e agora somou-se a muitos outros coletivos de mulheres para explodir todas as formas de opressão derrubando Bolsonaro!”. Empenhadas em demovê-lo do poder, a partir de domingo (14/6), o Levante das Mulheres vai inundar as redes sociais e o Brasil com um estrondoso #MulheresDerrubamBolsonaro”. Para conhecer o conteúdo do manifesto e assinar, as mulheres entram neste link aqui: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLScy4S3ofcagrZ-2tWNSxwR6S4ZDCIqBjxik4H0pb9drYsZ2uA/viewform
MANIFESTO MULHERES DERRUBAM BOLSONARO
Neste domingo, 14 de junho, será lançado um manifesto que faz um chamado a um Levante Virtual das mulheres. O manifesto e o levante foram iniciativas de mulheres que já estiveram juntas, em unidade, pelas “Diretas Já”, pelo “Fora Temer”, pelo “Fora Cunha”, e, principalmente, pelo histórico #EleNão. Não temos dúvidas que foi o movimento do EleNão que possibilitou que o Bolsonaro não fosse eleito já no primeiro turno e que o movimento, formado por diversas mulheres de todo país, com diferentes origens, organizações e atuações, demonstrou sua importância por desde antes da eleição já denunciar o caráter genocida deste governo.Já afirmávamos desde lá que o discurso racista, machista e LGBTfóbico deste governo nunca foi cortina de fumaça, mas é parte de sua ideologia neofascista. A reunião ministerial divulgada demonstrou todo o ódio deles contra negros, mulheres e povos indígenas. Se hoje, por conta da pandemia, lembramos da necessidade de colocar a vida acima dos lucros, se por conta dos assassinatos racistas precisamos reafirmar que #VidasNegrasImportam, com Bolsonaro no poder e sua política da morte, essas são bandeiras fundamentais para salvar nossas vidas e por isso queremos o “Ele Cai!”.Nós, da Resistência Feminista, junto com mais de 100 companheiras de dezenas de espaços políticos e estados diferentes, assinamos esse manifesto feminista e participaremos do Twittaço e da live do levante.A primeira ação será pelo Twitter, a partir das 14h, por meio da hashtag #MulheresDerrubamBolsonaro.Às 14h30, acontecerá uma live no canal do Levante no Youtube e na página no Facebook. Nós, a partir das páginas do Esquerda online, também a transmitiremos. Como dito no manifesto “A política do (des)governo Bolsonaro – que mata diariamente cerca de mil brasileiros por Covid-19, amplifica a necropolítica e o genocídio de jovens negros, aumenta a desigualdade e o empobrecimento da população, retira direitos e faz apologia à ditadura e ao fascismo – mobilizou o Levante das Mulheres a produzir este manifesto”Se “As mulheres só têm voz quando se juntam e fazem barulho e pressão” vamos inundar as redes sociais e o Brasil com um estrondoso #MulheresDerrubamBolsonaro”.
Uma reunião virtual que discutia estratégias de combate ao racismo com mais de 70 convidados, a maioria mulheres, foi interrompida por imagens de cabeças sendo cortadas, um homem se masturbando, pedidos de morte a mulheres e a figura de uma suástica na quarta-feira (10/06), em Florianópolis.
Os relatos de duas das organizadoras, ouvidas pela BBC News Brasil, seguem um padrão semelhante ao de pelo menos seis outros ataques registrados em debates virtuais feitos por meio de aplicativos nos últimos dois meses. O encontro havia sido organizado pelo Icom (Instituto Comunitário Grande Florianópolis) com o tema “Que tipo de práticas antirracistas podem ser adotadas pela sociedade civil organizada?”.
A maioria dos convidados havia se inscrito previamente por meio de um formulário disponibilizado pelo instituto. “Mas, uma hora antes, divulgamos o link direto para o evento em nossas redes sociais para aqueles que quisessem participar de última hora”, explica Mariana de Assis, uma das organizadoras. “Eles entraram depois de uma hora de webnário, quando tínhamos mais de 70 pessoas participando. Toda a nossa equipe é formada por mulheres, 95% das presentes também eram mulheres. De repente, entra uma música dizendo que mulher tem que morrer, depois outra janela mostrando pornografia, outro comentando, fazendo ataques. Foram dois minutos de ataques até que a equipe conseguiu tirá-los”, explicou Assis.
O instituto, uma organização sem fins lucrativos criada há 15 anos na capital catarinense, registrou um boletim de ocorrência após o episódio, ao qual a BBC News Brasil teve acesso. À reportagem, a diretora da polícia civil na Grande Florianópolis, delegada Eliane Chaves, disse que vai instaurar um inquérito para apurar as denúncias. O vídeo da reunião foi gravado e será uma das fontes para a investigação.
Ataques semelhantes
FOTO: REPRODUÇÃOHomem se masturbou durante ataque a reunião virtual na plataforma Zoom, na última quarta-feira
O episódio em Florianópolis segue padrão semelhante ao de outros ataques registrados nas últimas semanas em diferentes estados. No início de abril, uma vídeochamada organizada pela SBI Imuno e pela Agência Bori pelo aplicativo Zoom discutia a pandemia do novo coronavírus com 60 participantes quando foi interrompida por imagens de Hitler.
Em maio, um debate sobre divulgação científica organizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência foi interrompido por ofensas racistas e saudações nazistas. Na última semana, pelo menos quatro ataques semelhantes foram registrados. Na segunda-feira, um debate universitário sobre negritude com professores da Universidade Federal da Bahia também foi interrompido por imagens de conotação racista. Segundo uma das organizadoras, a reunião foi suspensa após inúmeras tentativas de retirar os estranhos do ambiente, que festejaram a decisão aos gritos de “mito, mito” – em referência ao presidente Jair Bolsonaro.
Já na terça-feira, um ataque durante o webinário Atlântico Negro, organizado por professores da Unicamp, também foi “invadida de forma massiva por vozes e imagens que impediram o direito de fala da professora da Unicamp, dra. Lucilene Reginaldo, bem como de todos que acompanhavam a atividade, numa clara agressão à missão que a sociedade entregou à universidade de produzir conhecimento e difundi-lo de forma livre e democrática”, segundo nota emitida pela universidade.
“Esse gesto violento e autoritário procura também, por meio da intimidação, calar os avanços que a sociedade realizou nas últimas décadas no reconhecimento da injustiça representada pela escravidão. Procura, na mesma lógica racista que sustentou a escravidão, ocultar a competência intelectual dos negros, impedir sua manifestação pública e seu direito elementar de ter protagonismo na construção do conhecimento a respeito de sua própria história”, prossegue a nota.
No mesmo dia, um evento organizado pelo centro acadêmico da faculdade de direito da UFRJ foi “alvo de uma invasão promovida por um grupo neonazista durante o evento do Conhecendo o CACO na plataforma Zoom”. “Diante de imagens nazistas, vídeos de pornografia e fotos de pessoas mutiladas exibidas em nossa reunião com calouros e calouras, vimos necessidade em levar a ocorrência às autoridades competentes”, diz o centro, em nota.
Porta fechada
GETTY IMAGES Especialista defende que acesso a reuniões por videoconferência seja restrito, para evitar ataques como os que foram registrados nas últimas semanas
Para Renato Opice Blum, especialista em crimes digitais e um dos advogados da plataforma Zoom no Brasil, os ataques poderiam ser tipificados como uma série de crimes, incluindo ameaça, calúnia, injúria e difamação, além de injúria qualificada e racismo. “A figura da suástica é inclusive citada na descrição do crime de racismo”, diz.
Professor de proteção de dados e direito digital do Insper, Blum afirma que a plataforma Zoom “não tem responsabilidade” sobre este tipo de ataque. “Não são problemas que decorrem da ferramenta, mas da situação comportamental”, diz. “As plataformas, não só o Zoom, são muito seguras. Inseguro é o ser humano.”
“Recomenda-se que, quando uma reunião for realizada, não se divulgue o link nas redes sociais e que a reunião fique restrita. O administrador tem que autorizar ingressar na videoconferência”, afirmou a delegada-chefe da polícia da Grande Florianópolis.
O advogado sugere que o acesso às reuniões seja restrito. “Normalmente, essas invasões acontecem porque as pessoas divulgam o canal de acesso, o link. É como deixar as portas de casa abertas”, diz. Mas ele completa: “Mas não é porque você deixou a porta de casa aberta que você é responsável por um eventual ataque à sua casa.”A recomendação, segundo o advogado, é registrar a queixa em qualquer delegacia. “Não precisa ser uma delegacia especializada em crimes digitais.”
Mariana Assis, uma das organizadoras do evento em Florianópolis, conta que precisou abandonar a reunião. “Eu estou traumatizada. Fiquei com muito medo e caí no choro. Ainda faltavam 40 minutos e eu, enquanto mulher preta, não tive mais condições de continuar, não, não tive força para me posicionar nas minhas mídias sociais e não sei como vou conseguir lidar com isso daqui para frente. Nem sozinha eu estou conseguindo ficar em casa”, diz.
A professora Lia Vainer Schucman, do Departamento de Psicologia da UFSC, foi quem continuou a condução do debate. “Na hora, eu fiquei super assustada, não sabia que havia essa prática de invasões e demorei para entender. Uma coordenadora disse que havíamos sido invadidos e, na hora, um dos homens desenhou uma suástica”, contou Schucman, que é judia, à reportagem. “Os mediadores conseguiram tirá-los. Eu já fui muito atacada e hoje lido bem. Parei, respirei e propus uma análise sobre o que tinha acontecido. Falei sobre como esse tipo de ataque é comum quando as vozes negras questionam a hegemonia branca”, disse.
“Apesar de tudo isso, nós temos uma rede forte e isso me dá esperanças. Muita gente veio se solidarizar. Para além disso, espero do fundo do meu coração que a justiça seja feita e que os responsáveis sejam presos”, diz Assis.
Da: MediaQuatro especial para os Jornalistas Livres
Desde de 2019, com as manifestações contra os cortes na educação e a deforma da previdência, Cuiabá não juntava tanta gente nas ruas. E talvez nunca tenha havido tamanho contingente policial, incluindo helicóptero, para o improvável caso de “vandalismo”. Mas era mesmo de se esperar. Afinal, o racismo estrutural brasileiro em uma das capitais mais conservadoras do país exige que se trate os pretos e pretas sempre como potenciais criminosos. BASTA! O país não pode mais conviver e não conseguirá sequer viver como nação integral enquanto houver preconceitos que se refletem em práticas cotidianas e políticas públicas que oprimem e excluem a maior parte da população.
Texto e fotos: www.mediaquatro.com
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Chegamos a um ponto no Brasil que não é mais suficiente não ser racista. É preciso lutar contra o racismo, nas ruas, nas redes, nos campos e nas casas. E a luta antirracista é central na derrubada do governo Bolsonaro e suas políticas genocidas na economia, na segurança pública e na saúde. Foi por isso que, apesar da necessidade de se intensificar o isolamento social, fomos à Praça Alencastro e marchamos pelas avenidas Getúlio Vargas, Marechal Deodoro, Isaac Póvoas e BR 364 para retornarmos à Praça da República sem qualquer incidente.
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Assim como em outras cidades e estados por todo o Brasil, em Cuiabá e Mato Grosso os negros e negras são maioria e são exatamente os corpos pretos os mais encarcerados, os pior pagos, os que vivem nos lugares mais distantes, os que mais precisam trabalhar fora de casa durante a pandemia (e muitas vezes sem sequer os equipamentos de proteção adequados) e os que mais são atingidos pela Covid-19. Isso não é uma coincidência. É resultado de quase 400 anos de escravidão formal, que em Mato Grosso também vitimou indígenas em larga escala, e de uma abolição inconclusa que indenizou os “proprietários” de pessoas mas nunca pagou a dívida histórica com quem sente na pele seus efeitos até hoje.
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É fato que o assassinato do estadunidense negro George Floyd foi o estopim dos protestos antirracistas em todo mundo e também no Brasil, onde houve atos em pelo menos 20 cidades, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Recife. Mas por aqui, as mortes do menino Miguel, do adolescente João Pedro e dos jovens em Paraisópolis, só pra citar alguns casos mais representativos nos últimos seis meses, demonstram cotidianamente o que significa ser alvo do preconceito, da polícia e das políticas.
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Desse modo, derrubar o governo o quanto antes o governo do fascista que ocupa a presidência é indispensável para conseguirmos combater a epidemia de forma minimamente eficiente. E tirar apenas o presidente não é suficiente, porque seu vice e ministério são igualmente racistas, como está provado em entrevistas antes mesmo das eleições, em pronunciamentos em eventos e na fatídica reunião ministerial.
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Enquanto não derrubarmos as políticas estúpidas da “guerra às drogas”, do encarceramento em massa, da concentração de renda, do agronegócio acima da agricultura familiar, não há presente para o país. E enquanto não investirmos em políticas públicas de igualdade racial e de gênero, de proteção às minorias e à diversidade, e de promoção dos direitos humanos a TODOS e TODAS, incluindo a punição de policiais assassinos, milicianos e racistas, não haverá futuro também.