Jornalistas Livres

Tag: evangélicos

  • Os negócios da fé e o militarismo nas eleições municipais: o futuro-presente das esquerdas

    Os negócios da fé e o militarismo nas eleições municipais: o futuro-presente das esquerdas

    Em nossa contribução ao livro Do Fake ao Fato (des)atualizando Bolsonaro procuramos usar as palavras “atualizados” e “obsoletos”, entrecruzando-as com as definições clássicas de direita e esquerda, para compreender a base bolsonarista. Esse cruzamento pareceu-nos útil para entender a relação desses eleitores com o tempo, como atualizados de direita e de esquerda; e obsoletos de direita e de esquerda. É partindo dessa compreensão teórica que aqui nos perguntamos: Como reagir ao crescimento vertiginoso de candidaturas evangélicas e militares em nossas últimas eleições?

    Mayra Marques, Mateus Pereira, Valdei Araujo, professores da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) em Mariana

    Frente a um tempo agitado e marcado pela chamada destruição criativa, somos levados a nos compreender como atualizados ou obsoletos em um ambiente hostil que parece nos cobrar um preço sempre mais alto pelo simples direito de existir. Essa sensação é parte do que temos chamado de atualismo, uma ideologia hegemônica que avalia e divide as pessoas por seu grau de atualização. O sujeito atualizado pode ser no máximo um surfista que tenta se equilibrar nas ondas de atualização e teme a todo momento se afogar em um oceano de coisas, comportamentos, linguagens e tecnologias consideradas obsoletas. Nessa metáfora, a história é um profundo oceano de esquecimento no qual estamos ameaçados de afundar.

    O sujeito rotulado de obsoleto existe com a contínua sensação de sua incapacidade de sobreviver à próxima onda de atualização. Não por acaso, o vocabulário da extinção é continuamente invocado para caracterizá-lo: ele é o peixe fora d’água ou o dinossauro que se recusa a desaparecer. Atualizado e obsoleto são as duas condições que a ideologia atualista reserva aos humanos, atribuindo valor exclusivo ao estar atualizado. O atualismo pretende nos convencer que apenas o que é atual merece existir. Essa ameaça existencial do atualismo produz ansiedades e ressentimentos que são amplamente explorados pela direita. Curiosamente, a mesma direita que patrocina a visão de um mundo em que apenas os mais fortes (atualizados) merecem viver, tem sido exitosa em capitalizar com o medo de extinção de setores dos grupos sociais que se enxergam como  maiorias. Neste grupo, os militares e religiosos conservadores se destacam.

     Comecemos por relembrar um fato ocorrido na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2020, que em decorrência da pandemia de Covid-19, aconteceu de forma remota. Na ocasião, o presidente Jair Bolsonaro fez um discurso no qual, dentre várias informações distorcidas, fazia “um apelo a toda a comunidade internacional pela liberdade religiosa e pelo combate à cristofobia”[1] e encerrou a sua fala afirmando que “o Brasil é um país cristão e conservador e tem na família sua base”. Nota-se que o esforço em manter os laços com a comunidade cristã, em especial a evangélica, não foi algo que se restringiu aos palanques eleitorais; assegurar este importante apoio é uma constante de Bolsonaro, mesmo estando há quase dois anos na presidência: após vetar o projeto de lei que pretendia perdoar as dívidas das igrejas, Bolsonaro declarou, no Twitter, que ele mesmo derrubaria seu próprio veto, caso fosse um senador ou deputado[2]. Desta forma, mesmo quando parece não agir em favor das igrejas, o presidente reforça a sua imagem como um defensor e propagador da religião cristã.

    Alguns meses antes da Assembleia da ONU, a Deutsche Welle noticiou que muitos pastores apoiavam o discurso de Bolsonaro, que diminuía a gravidade da Covid-19 e defendia a reabertura do comércio, e mantinham suas igrejas abertas, embora a maioria dos fiéis preferisse ficar em casa[3]. Para Edir Macedo, quem nada teme não precisa se preocupar com o vírus; já, para Valdemiro Santiago, a doença seria uma vingança divina. O primeiro é um bispo evangélico fundador da Igreja Universal do Reino de Deus e proprietário de uma das maiores emissoras de televisão do Brasil, a Rede Record, enquanto o segundo é fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus e possui um programa na Rede Bandeirantes. Além do fato de ambos possuírem fortunas dignas de serem relatadas na Revista Forbes e de possuírem programas religiosos na TV aberta, outro fato os une: os dois têm o apoio a Bolsonaro.[4]

    O atual presidente foi eleito com grande adesão do eleitorado evangélico. Cerca de um terço da população brasileira é de alguma denominação evangélica, dentre os quais 42% ajudaram a eleger Bolsonaro[5]. Embora seja católico, o atual presidente, que até então era apenas um capitão “excêntrico” que defendia o lobby corporativo dos militares, foi batizado pelas mãos do pastor e deputado Everaldo Dias, em 2016, no rio Jordão, e costuma frequentar cultos com sua esposa na Igreja Batista. Seu lema de campanha “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”, assim como o combate a pautas progressistas, como a legalização do aborto e o casamento homo-afetivo, fizeram com que muitos pastores o apoiassem e aconselhassem seus fiéis a votarem nesse candidato.

    É bom destacar que o discurso de Bolsonaro nem sempre manteve essa ênfase na religião: entre 2004 e 2012, por exemplo, os seus temas principais eram o anticomunismo e o favoritismo ao militarismo, mas, a partir de 2013, ao se aproximar do então presidente da Comissão de Direitos Humanos, o pastor Marcos Feliciano, ele passou a ter mais contato com a “Bancada Evangélica”, incluindo aspectos religiosos às suas falas. Marcos Feliciano, pastor da igreja neo-pentecostal Catedral do Avivamento e vice-líder do governo no Congresso, e Silas Malafaia, pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, foram incluídos entre seus principais conselheiros.

    A Frente Parlamentar Evangélica, popularmente conhecida como Bancada da Bíblia, compõe parte considerável do Parlamento: dos 594 parlamentares, 203 pertencem ao grupo, sendo 195 deputados e oito senadores, o que significa mais de 30%. Os partidos que têm maior adesão a esta frente são: o Partido Social Liberal (PSL), Partido Social Democrático (PSD), Republicanos, Partido Liberal (PL), Progressistas (PP) e Movimento Democrático Brasileiro (MDB), embora haja representantes de diversos outros partidos, incluindo o Partido dos Trabalhadores (PT) . Em 2019, a Frente Parlamentar Evangélica foi considerada, pelo “Estadão”, a bancada mais governista dos últimos cinco mandatos presidenciais, pois 90% dos seus votos foram a favor do governo . Após a saída de Bolsonaro e seus filhos do PSL, houve a tentativa de criar o partido Aliança pelo Brasil, que fracassou. Assim, a ex-mulher do presidente, e seus filhos, Carlos e Flávio Bolsonaro, se filiaram aos Republicanos, partido que contém 24 parlamentares na Frente Parlamentar Evangélica. Jair Bolsonaro segue sem partido, mas não seria de se espantar que ele também se filiasse ao Republicanos, pois além deste partido ser um dos mais presentes na Bancada Evangélica, também é o partido do atual prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, sobrinho de Edir Macedo e bispo da Igreja Universal do Reino de Deus.

    Santinho da campanha de Crivella

    Crivella busca a reeleição no pleito deste ano e, para isso, tentou uma aliança com a ala bolsonarista do antigo partido do presidente, o PSL. No entanto, o partido preferiu não se associar ao atual prefeito do Rio devido ao seu suposto envolvimento em um esquema de corrupção. Mesmo assim, Crivella optou por uma candidata a vice-prefeita bastante simbólica, pois tem duas características que podem ser bastante atrativas para os apoiadores do presidente: ela é militar e católica. Enquanto o catolicismo da tenente-coronel Andrea Firmo pode arrebanhar votos de mais cristãos, englobando os católicos, ela ainda tem uma carreira militar digna de nota: ela foi a primeira mulher a comandar uma base da ONU na África. Assim, essa candidatura tem tudo para agradar as duas principais alas do bolsonarismo.

    Segundo um levantamento feito pelo Observatório das Eleições, o número de candidatos a prefeito, com títulos militares, aumentou em mais de 300% desde 2016, enquanto o aumento no número de vereadores que seguiram a mesma “estratégia” foi de 56%. Embora o crescimento da porcentagem de candidatos com títulos religiosos tenha sido menor, ele ainda existe: mais de 10% dos candidatos a prefeitos e mais de 40% dos candidatos a vereador[6].Os partidos que lideram este crescimento são os mais próximos a Bolsonaro: o PSL é o partido com mais candidatos militares, enquanto o Republicanos é o partido com mais candidatos religiosos. Os gráficos abaixo mostram que os eleitores conservadores terão muitas possibilidades de escolha em 2020:

    Fonte: Observatório das Eleições

    O antropólogo Juliano Spyer identifica uma transição religiosa no país: caso o número de evangélicos continue crescendo no ritmo que estamos assistindo, até 2032 eles serão maioria. Para o antropólogo, uma das razões fundamentais para este crescimento é o papel que muitas igrejas desempenham como uma espécie de “bem-estar social informal”, promovendo uma melhora na qualidade de vida de muitas pessoas pobres que o Estado não consegue promover de forma satisfatória[7]. Ainda que seja uma explicação insuficiente, ela ajuda a explicar o crescimento que assistimos, já que seria preciso, inclusive, construir distinções entre igrejas propriamente ditas de corporações disfarçadas de igrejas.

     E é preciso lembrar que há personalidades políticas que também são evangélicas, mas com tendências progressistas, como Benedita da Silva e Marina Silva, mas com posicionamentos bastante diferentes dos de Bolsonaro e seus seguidores. Já, em relação aos militares, é possível trazer políticos relacionados à segurança pública para o campo progressista, como mostram as candidaturas, bastante contestadas, por militantes e filiados, de Denice Santiago, ex-major da PM, como candidata à prefeitura em Salvador pelo PT; e do ex-coronel da PM e católico praticante, Ibis Pereira, como candidato a vice-prefeito no Rio de Janeiro pelo PSOL. Oportunidade para dizermos que a esquerda também pensa em segurança pública? Talvez.

    De todo modo, o nosso ponto é que no interior da nossa tipologia, entre atualizados e obsoletos, a hierarquia superior, entre militares e evangélicos, tende a ser mais atualizada, ao passo que a “base” tende a ser classificada e algumas vezes se considerar obsoleta frente aos valores que se apresentam como atualizados. Assim, um dos desafios do campo progressista passa, obviamente, por criar pontes e conquistar parte dos setores atualizados e obsoletos desses segmentos, em especial, os últimos, pois como vimos acima os pastores-políticos atualizados são hábeis em mudar de lado, caso o vento mude. Considerar estas pessoas como líderes religiosos é não entender o principal de suas atuações, justamente a dissolução das fronteiras entre política, religião, entretenimento e negócios.

    No entanto, parece que só o campo progressista pode atuar em vantagem em um aspecto. Essas duas possibilidades existenciais, atualizados e obsoletos, parecem cegas para os verdadeiros operadores do atualismo, as grandes empresas e corporações que monopolizam o novo mercado de dados, o que Shoshana Zuboff, em The Age of Surveillance Capitalism, chamou de “capitalistas da vigilância”: “A combinação entre conhecimento e liberdade funciona para acelerar a assimetria de poder entre os capitalistas da vigilância [Google, Facebook, Amazon etc] e as sociedades nas quais eles operam. Este ciclo será quebrado apenas quando reconhecermos como cidadãos, sociedades, e mesmo como civilização, que os capitalistas da vigilância sabem demais para se qualificarem para a liberdade”.

    Em outras palavras, queremos dizer que no Brasil o capitalismo de vigilância adquire uma “cor local” quando percebemos que há uma aliança tática entre as grandes corporações do capitalismo de vigilância com outras duas corporações e seus líderes atualizados: a militar e a evangélica, não excluindo aqui certo conservadorismo católico. E essa aliança constrói guerras culturais de atualização bastante específicas e estranhas a uma parte considerável do campo progressista, pois está assentado em discursos, práticas e tradições que pensávamos superadas. 

    Mateus Pereira, Mayra Marques e Valdei Araujo escreveram o Almanaque da Covid-19: 150 dias para não esquecer ou o encontro do presidente fake e um vírus real. Mateus Pereira e Valdei Araujo são professores de História na Universidade Federal de Ouro Preto, em Mariana. Também são autores do livro Atualismo 1.0: como a ideia de atualização mudou o século XXI e organizadores de Do Fake ao Fato: (des)atualizando Bolsonaro, com Bruna Klem. Mayra Marques é doutoranda em História na mesma instituição. Agradecemos à Márcia Motta e aos grupo Proprietas pelo apoio e interlocução neste projeto.


    [1] https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/discursos/2020/discurso-do-presidente-da-republica-jair-bolsonaro-na-abertura-da-75a-assembleia-geral-da-organizacao-das-nacoes-unidas-onu

    [2] https://www.camara.leg.br/noticias/692461-deputados-criticam-tweet-de-bolsonaro-sobre-veto-a-isencao-de-tributo-a-igrejas

    [3] https://www.dw.com/pt-br/evang%C3%A9licos-fazem-coro-com-bolsonaro-e-negam-riscos-do-coronav%C3%ADrus/a-53000050

    [4] https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/06/pastores-se-destacam-entre-lideres-que-orbitam-governo-de-bolsonaro.shtml

    [5] https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2018/10/07/interna_internacional,994989/quem-sao-os-eleitores-de-bolsonaro.shtml

    [6] https://noticias.uol.com.br/colunas/observatorio-das-eleicoes/2020/09/30/aumentam-as-mencoes-a-titulos-militares-e-religiosos-nas-urnas-em-2020.htm

    [7] https://www.dw.com/pt-br/igrejas-evang%C3%A9licas-s%C3%A3o-estado-de-bem-estar-social-informal/a-55208669

  • Sem papas na língua. Juliano Medeiros no Dialogando de hoje

    Sem papas na língua. Juliano Medeiros no Dialogando de hoje

    Quais interesses políticos estão por detrás da próxima disputa eleitoral? No Programa Dialogando desse domingo (26/07), 18h, o Pastor Fábio recebe Juliano Medeiros, presidente do PSOL para um papo sobre eleições e aprendizados da pandemia que passa por uma das fases mais críticas do momento, onde prefeituras e governos de vários Estados do país programam reabertura de mais uma parcela considerável de setores, enquanto isso, a mídia normaliza as curvas ascendentes do número de infectados pelo Coronavírus.

    Outra pergunta que precisa ser respondida é qual é o sentido das eleições serem realizadas ainda neste ano? Quais interesses políticos estão por detrás da próxima disputa eleitoral? Tudo isso e um pouco mais, sem papas na língua, como diz o Pastor Fábio. Vem!

    Assista, compartilhe. comente e mande perguntas no Facebook.

    Juliano Medeiros é um jovem dirigente político da esquerda brasileira e desde janeiro de 2018 ocupa a presidência do Partido Socialismo e Liberdade. Historiador e Mestre em História pela Universidade de Brasília, é Doutor em Ciências Políticas pela mesma instituição.

    Co-autor e organizador de Um Mundo a Ganhar e Outros Ensaios (Multifoco, 2013), Um Partido Necessário – 10 anos do PSOL (Fundação Lauro Campos, 2015) e Cinco Mil Dias: o Brasil na era do lulismo (Boitempo, 2017), colabora com sites, jornais e revistas no Brasil e exterior.[2]

    Em 2018 coordenou a campanha de Guilherme Boulos à Presidência da República pelo PSOL[3] e, no segundo turno, após decisão do partido, passou a integrar a coordenação da campanha de Fernando Haddad[4]. Desde a vitória de Jair Bolsonaro, participa do Fórum dos Presidentes de Partidos de Oposição[5].

    Durante mais de uma década Juliano Medeiros foi dirigente da corrente interna Ação Popular Socialista – Corrente Comunista do PSOL. Em Junho de 2019, a APS-CC se fundiu com o Coletivo Rosa Zumbi e mais oito coletivos regionais para fundar a Primavera Socialista, atualmente maior tendência do PSOL, da qual Juliano também é dirigente.[6]

    Fábio Bezerril Cardoso é Pastor, cientista social, ativista social e Cofundador & Coordenador da Escola Comum e atualmente apresenta o Programa Dialogando, todos os domingos, às 18h. É um dos pastores progressistas que têm lutado pela defesa dos povos periféricos e costuma não ter papas na língua para falar sobre a realidade desses lugares. A produção é de Katia Passos, com arte de Sato do Brasil.

    Conheça mais sobre a atuação do Pastor Fábio https://www.facebook.com/fabio.bezerrilhttps://www.facebook.com/fabio.bezerril

  • COVID-19. Quando a fé contamina

    COVID-19. Quando a fé contamina

    Texto e fotos: Karina Iliescu, para os Jornalistas Livres. Colaboração: Sato do Brasil

     

    Embora uma das orientações mundiais para evitar a disseminação do vírus COVID-19 seja de isolamento social, o Tribunal da Justiça Federal derrubou a liminar que suspendia cultos e missas por conta da COVID-19.

    Quem descumprisse com a ordem poderia pagar multa ou ter o local interditado. Esta ordem entende que estes espaços são, em maioria, ambientes fechados com pouquíssima circulação de ar e alta aglomeração de pessoas, aumentando a disseminação do vírus.

    “Infelizmente, a queda dessa liminar premia a inconsequência e mau-caratismo de líderes como Malafaia, e coloca em risco a vida de milhares de pessoas, já que os cultos, missas e diversos encontros religiosos são carregados de demonstrações de afeto e proximidade, salvo raras exceções. O que vamos colher disso é mais desgraça para um povo já sofrido e enganado por esses falsos líderes”, disse em entrevista, José Barbosa Junior, teólogo, escritor e um dos pastores da Comunidade Cristã da Lapa, Rio de Janeiro.

    É bom lembrar que recentemente, na Coreia do Sul, um padre cristão pediu desculpas de joelhos, após sua igreja ter sido considerada o grande foco de disseminação do COVID-19, quando se negou a suspender seus cultos.

    A igreja de Silas Malafaia, localizada no Rio de Janeiro, tinha suspendido os cultos por conta da liminar, porém aumentou para até 12 horas de atendimento dentro de suas igrejas. Mesmo depois de vários órgãos responsáveis do Governo Federal terem pedido e orientado diariamente a suspensão imediata dos cultos e missas, alguns pastores como Silas Malafaia (pastor e líder da Assembléia de Deus) e Edir Macedo (fundador e líder da Igreja Universal do Reino de Deus e proprietário do Grupo Record e da RecordTV, a terceira maior emissora de televisão do Brasil) se negaram e entraram com essa ação de suspensão da liminar da justiça.

    Igreja Universal do Reino de Deus

    Igreja Pentecostal Deus É Amor

    O próprio presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), em uma entrevista ao canal SBT, mostrou indignação pela suspensão dos cultos e missas, mesmo em tempo de pandemia mundial do COVID-19. No Brasil já são 2.201 infectados registrados e 46 mortes. Última atualização de quarta, 25 de março de 2020, 12h56, com dados do Ministério da Saúde: https://saude.gov.br/.

    Dentro dessas colocações problemáticas, uma delas que não foi citada acima é que Bolsonaro comparou a COVID-19 à uma chuva, que basta colocar uma capa pra se proteger. Além da metáfora desnecessária, Bolsonaro desafia o poder público ao afirmar que o pastor ou o padre deveriam decidir sobre suspender ou não os cultos e missas, como se as igrejas estivessem acima das leis comuns ao restante das pessoas, do país e do mundo.

    “É lamentável que num momento como esse , a irresponsabilidade do presidente chegue a esse ponto. Faz da tragédia um palco político e continua “jogando para a plateia”, que neste caso são os evangélicos. Irresponsabilidade. Infantilidade. Crime contra a humanidade”, afirma o pastor José Barbosa Junior.

    Agora é uma questão de tempo para que as pessoas procurem desesperadamente estas igrejas como refúgio. Entendemos que pastores, padres, igrejas e espaços religiosos no geral servem para além da religião como acalento em meio ao desespero e medo, uma força intensa de fé e ajuda. O problema é que estes espaços podem e vão continuar sendo centros de propagação do COVID-19 uma vez que continue o fluxo de pessoas. Inclusive, muitos pastores colocaram em seus sermões que existe salvação somente dentro da igreja.

    “As igrejas devem priorizar o recolhimento, a quarentena contra o COVID-19. Realizando suas reuniões de forma virtual e, principalmente, reafirmando a verdade evangélica de que “Deus não habita em templos feitos por mãos humanas”, tão cantada e falada, mas tão pouco percebida na realidade”, continua o pastor José Barbosa Junior.

    Porque não fechar e manter a convivência online? Ou por ligação telefônica? Orar em casa e estratégias para que continuem utilizando de sua fé sem que se coloque em risco a sua vida e das outras pessoas. Os pastores, padres e disseminadores da fé, deviam estar orientando o isolamento social como uns dos métodos primordiais para saúde de seus seguidores.

    “(…) A doença não escolhe vítimas por sua religiosidade (ou não religiosidade). Ela afeta a humanidade. E isso é muito, mas muito maior que qualquer fronteira. Precisamos ser menos divinos e mais humanos.(…)”, conclui o pastor José Barbosa Junior.

    Para além de todas essas contradições de alguns religiosos, ainda existem padres, pastores e outros líderes religiosos que nos servem de bom exemplo neste momento caótico. O Padre Júlio Lancelotti, coordenador da Pastoral Povo da Rua ofereceu acolhimento para moradores de rua com suspeita de COVID-19 em São Paulo. Também abriu uma petição para pressionar a Prefeitura Municipal de São Paulo e outros órgãos para que forneçam o material básico para higiene e proteção da população em situação de rua. Link da petição: http://change.org/PovoDeRuaSemCorona.

    Homem se protege do COVID-19

    Segue a entrevista completa com o pastor José Barbosa Junior.

    1. Como você vê esse momento de pandemia do COVID-19 especificamente no Brasil?
    Um momento muito difícil. Creio que é a primeira vez que a nossa geração enfrenta uma pandemia tão devastadora e o Brasil está tendo que aprender “na marra” como lidar com isso.

    2. Ontem o presidente Jair Bolsonaro teve uma fala no programa do Ratinho que contradiz o que a Justiça do Estado de São Paulo determinou com uma liminar que proíbe missas e cultos por conta da disseminação do Coronavírus ou COVID-19, mas o presidente agiu como se os pastores que tivessem que decidir sobre fechar ou não suas portas para cultos. Como você vê essa atitude do presidente Bolsonaro?
    É lamentável que num momento como esse, a irresponsabilidade do presidente chegue a esse ponto. Faz da tragédia um palco político e continua “jogando para a plateia”, que neste caso são os evangélicos. Irresponsabilidade. Infantilidade. Crime contra a humanidade.

    3. Alguns pastores como Silas Malafaia, Edir Macedo e outros se negaram a seguir as orientações do Ministério Público para que igrejas evitem cultos com grandes aglomerações. Porque você acha que pastores se negaram a seguir as orientações?
    Esses pastores citados já abandonaram há tempos o Evangelho. Não são pastores, são negociantes da fé, empresários da espiritualidade. Logo, suas igrejas são enormes comércios e visam somenteno lucro financeiro. Não me espanta manterem abertas as suas igrejas, por dois motivos: sabem que igreja cheia geralmente corresponde a boa arrecadação e se alimentam de brigas e polêmicas para posarem de “defensores da fé contra os inimigos”. São espertos e sabem que essa “cruzada” lhes favorece em seus projetos de poder.

    4. A ciencia sempre teve um papel fundamental que nenhum outro orgão consegue substituir. No entanto, a gente vê o desdém de planos de governo que realizou cortes e de algumas religiões que negam o entendimento científico. Porque algumas religiões tem medo da ciência?
    Esse governo que aí está é, desde a campanha, anticientífico. E o fundamentalismo religioso também o é, logo, há um casamento perfeito entre o mau caratismo governamental e a ignorância ensinada e fortalecida na maioria das igrejas, infelizmente. Algumas religiões, erroneamente, acham que fé e ciência são antagônicas. Nada mais distante da verdade. A verdadeira fé é suprarracional e não irracional. Caminha com a ciência e os conhecimentos. Vai além (daí ser fé), mas sem negar a caminhada em conjunto.

    5. Como as igrejas podem ajudar nesse momento a população? Qual deve ser a principal atitude, ao seu ver, de um pastor ou padre nesse momento?
    As igrejas devem priorizar o recolhimento, a quarentena. Realizando suas reuniões de forma virtual e, principalmente, reafirmando a verdade evangélica de que “Deus não habita em templos feitos por mãos humanas”, tão cantada e falada, mas tão pouco percebida na realidade.

    6. Como a população pode ajudar? Quais são as principais medidas de prevenção do coronavírus dentro de sua igreja?
    A população deve obedecer aos apelos de se resguardar, ficar em casa. A Comunidade Cristã da Lapa suspendeu as atividades por tempo indeterminado. E nós, pastores, continuamos nosso trabalho nas redes sociais.

    7. E pra finalizar, o que estamos aprendendo socialmente com esta pandemia mundial até agora?
    Acho que a principal lição é a de que o que acontece com um é problema de todos. Uma pandemia serve para nos mostrar isso. É quase um “efeito borboleta”. E isso nos traz o pleno sentido de humanidade. A doença não escolhe vítimas por sua religiosidade (ou não religiosidade). Ela afeta a humanidade. E isso é muito, mas muito maior que qualquer fronteira. Precisamos ser menos divinos e mais humanos.

  • Na igreja Bola de Neve, Profeta Kevin previu que Roberto Alvim comandaria a Nação

    Na igreja Bola de Neve, Profeta Kevin previu que Roberto Alvim comandaria a Nação

     

    “Deixa eu pedir uma coisa pra vocês. Vocês que filmaram, não postem, porque isso é a vida privada [da Igreja]”, pediu o Apóstolo Rina (é assim que Rinaldo Luis de Seixas Pereira, marqueteiro e dublê de surfista prefere ser chamado), a uma multidão de milhares de fiéis da Bola de Neve Church, em sua sede no bairro da Lapa, em São Paulo. O Apóstolo Rina foi quem criou a Bola de Neve, em 2000, igreja famosa por colocar uma prancha de surfe em cima do altar, seja lá o que isso queira dizer.

     

    A “vida privada” a que se referiu Rina foi um mega-culto ministrado pelo americano Kevin Leal, também “apóstolo”, mas que gosta de ser chamado de “profeta”. Na ocasião, o Profeta Kevin homenageava Roberto Alvim, ex-secretário Nacional da Cultura de Jair Bolsonaro. Roberto Alvim, como se sabe, é o sujeito que lançou um tal Prêmio Nacional das Artes numa encenação grotesca que incluiu a reprodução ipsis literis de partes de discurso do Ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels.

     

    A homenagem a Roberto Alvim ocorreu há pouco mais de um mês, quando o ex-secretário da Cultura ainda não havia “incorporado” Joseph Goebbels. Mas o que se via lá já não prenunciava coisa boa. Roberto Alvim ajoelhou, fechou os olhos, recebeu a unção dos óleos com ares de comoção, ergueu as mãos como se estivesse em louvor e adoração, enquanto o Profeta Kevin gritava-lhe em inglês, imediatamente traduzido para o português, também aos gritos:

    “Vocês trabalham para o presidente, mas servem a um Rei”.

     

    A platéia delirava.

     

    Era só o começo.

     

    Ah, nem é preciso dizer que o pedido do Apóstolo Rina, diante dos fiéis, para que o culto não fosse postado nas redes… Bem, o pedido foi ignorado e o vídeo é o que está embaixo deste texto (o pedido de Rina, para que o vídeo não fosse colocado nas redes está no último minuto do vídeo).

     

    Quem é o Profeta Kevin?

    "Palavra de Deus" ensinada pelo Profeta Kevin - apenas 3 dólares
    “Palavra de Deus” ensinada pelo Profeta Kevin – apenas 3 dólares

    Em 1971, servindo na Força Aérea americana, Kevin “foi salvo e cheio do Espírito Santo”, conforme consta em seu currículo. Logo descobriu seu dom profético e profetizou para centenas de pessoas em reuniões de dois ou três dias. Nos anos 1980, ele uniu seus dons de profecia a uma nova missão, que lhe teria sido passada diretamente pelo Espírito Santo e se transformou num formador de quadros evangélicos. Presidente do Kevin Leal Ministries e do Key Ministries, ele ensina para líderes de igrejas evangélicas do mundo todo como conquistar e permanecer com as chaves de acesso aos corações dos fiéis. Em outras palavras, Kevin é um consultor de igrejas. Ajuda a construir equipes de liderança, ensina e treina pastores e quadros dirigentes das denominações religiosas que atende, produz livros para serem usados em escolas de ministério, além de obras de auto-ajuda, como “Detox Espiritual” (veja ao lado o anúncio) e “Expansão dos Negócios”. Também é o criador de um programa da “mentoring”, chamado Headlights, que será instalado em sua propriedade, onde funciona a igreja Jubilee International Ministries em Pensacola/Flórida.

     

    O Brasil está no foco das atenções do Profeta Kevin. Ele é presença frequente nas sedes da Bola de Neve e da Rede Águias e Leões (REAL), liderada pelo Apóstolo Maurício Cundari Marques, da qual é um dos conselheiros.

     

    Com esse currículo todo, coube ao Profeta Kevin a tarefa de (como não?) profetizar, vaticinar, prever o futuro que caberia ao então secretário Nacional de Cultura, Roberto Alvim. E o profeta não fez por menos, já que estaria falando por inspiração divina ou, mais sério ainda, sendo a própria voz de Deus.

     

    Para Roberto Alvim, o profeta profetizou, falando bem de perto e tocando no rosto do ex-secretário, como se fosse o Todo Poderoso:

    “Você trabalha para o presidente, mas serve a um rei. Eu te faço como Daniel na casa do Brasil. Todo o teu preparo acadêmico todo o teu treinamento, agora está nas mãos do Senhor. E você será o conselheiro sábio, não somente para este governo, mas para outros governos. Dê a eles a sua sabedoria. Você será uma voz para a próxima geração. Você vai ver o futuro do Brasil e vai influenciar muitos políticos. Você vai influenciar as leis do Brasil, porque eu te dei o meu maior dom: a Sabedoria para a Nação. E você vai sentir a presença de Deus sobre ti. Você vai sentir algo sobrenatural sobre ti. Receba agora a Sabedoria para comandar uma Nação.”

     

    Uau! Comandar uma Nação!

     

    O Profeta Kevin pediu aos milhares de fiéis que cantassem enquanto oravam por Roberto Alvim, no que foi obedecido com devoção.

    “Eu quero dizer para as pessoas no Brasil. Só porque você teve uma eleição, isso não determina o resultado final. Deus comanda que o povo continue orando pelos seus líderes, oração é a mão de Deus no Brasil. Então, quando a música começar a tocar, eu quero que vocês orem por eles. Para que eles sejam fortalecidos pelas orações que vêm de dentro.”

     

    O Apóstolo Rina também foi grandioso:

     

    “Em sua presciência o Senhor determinou que, nesta hora, o Brasil viveria mudanças que primeiro começariam nas regiões celestiais, que foram geradas por oração, por intercessão, e que agora estão se materializando. São mudanças que também dizem respeito à área cultural. E nós estamos diante de pessoas que o Senhor gerou, treinou, preparou e condicionou para esta hora [n.r. estavam diante de Roberto Alvim, o que copiou frases nazistas]. Tudo o que eles viveram de bom e de ruim os capacitou para aquilo que eles precisam enfrentar. O nosso papel como corpo de Cristo, como igreja é interceder por eles… Que o Senhor lhes dê intrepidez, unção para que, dirigidos pelo Espírito Santo, eles possam fazer o melhor trabalho que essa Secretaria, que esse Ministério já fez nesta Nação. Porque aquilo que é Belo, aquilo que é alimento espiritual para povo, também é cultura. Dai-lhes graça, diante de Deus e diante dos homens. E que toda a arquitetura das Trevas seja dissipada. Que tudo o que eles façam tenha a Tua benção e a Tua aprovação. Para a glória e honra do nome de Jesus.”

     

     

    Coincidência estranha:

     

    Fachada do Cine Nacional na inauguração, em 1950: monstros e nazismo
    Fachada do Cine Nacional na inauguração, em 1950: monstros e nazismo

     

    A igreja Bola de Neve, onde essas cenas “proféticas” ocorreram, localiza-se na rua Clélia, 1.517, na Lapa (zona oeste de São Paulo). Lá, no mesmo local, em 1950, foi inaugurado o luxuoso Cine Nacional, com capacidade para 3.300 espectadores sentados nas confortáveis poltronas Cimo, as melhores que havia para grandes casas de espetáculos. Foi um acontecimento. Uma edição especial do jornal “Cine-Repórter” saiu no dia 15 de abril, inteiramente consagrada à inauguração do “imponentíssimo palácio da cinematografia”, que pertencia ao Circuito Serrador. De página inteira, um anúncio da British Films do Brasil, oferecia seus produtos aos exibidores. E eles pareciam instigantes. Em um filme, chamado “Ilha Desconhecida”, mostrava-se a luta do homem moderno contra criaturas pré-históricas. O outro, com título em forma de pergunta, atiçava os fantasmas: “Acontecerá de Novo?” -prometia cenas inéditas com Adolph Hitler, Eva Braun e “todos os nazistas em pessôa”. A sessão inaugural do novo cinema exibiu o filme “Monstro de um Mundo Perdido”. Parece que eles estão voltando… Acontecerá de novo?

     

     

    VEJA O VÍDEO (há partes com o áudio cortado devido a reclamação de direitos autorais por parte da gravadora Onimusic, que diz ser “proprietária” do hino de louvor cantado durante o culto)

     

  • Benedicto Abicair: quem é o desembargador-censor do Porta dos Fundos

    Benedicto Abicair: quem é o desembargador-censor do Porta dos Fundos

    Benedicto Abicair, desembargador do TJ-RJ Foto: Reprodução
    Benedicto Abicair, desembargador do TJ-RJ Foto: Reprodução

    O desembargador Benedicto Abicair, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), determinou que a Netflix suspenda a exibição do especial de Natal ‘Primeira Tentação de Cristo’, feito pelo grupo Porta dos Fundos. Advogado por 30 anos, ele se tornou magistrado apenas em 2006, quando foi nomeado pela então governadora Rosinha Garotinho. Conseguiu o cargo pelo “quinto constitucional”, uma cota que reserva vagas na magistratura para advogados.

    Foi depois de se tornar magistrado, em 2006, que Benedicto Abicair passou a publicar suas opiniões na imprensa. Esquisitão, Benedicto Abicair escreveu sobre assuntos diversos, como trajes adequados para advogados, trajes e calçados adequaos para cães domésticos, escovação dentária de cães, higiene íntima de cães, roupas a serem usadas nos aviões (ele manifestou-se contra os “corpos suados” nas “poltronas geminadas”) e justificou em 2018 o pagamento de auxílio-moradia para juízes, pois eles teriam vida “difícil e sacrificante”. Benedicto Abicair não se esqueceu, em seu bestiário, de defender um colega que deu voz de prisão ao ser parado em blitz da Lei Seca, que ele já havia atacado em 2009.

    A decisão do tal Benedicto, determinando que o Netflix suspenda a exibição do especial de Natal “Primeira Tentação de Cristo”, do Porta dos Fundos, foi motivada por pedido do Centro Dom Bosco de Fé e Cultura, que alegou que “a honra e a dignidade de milhões de católicos foram gravemente vilipendiadas pelos réus”. No seu especial, Porta dos Fundos retratou um possível romance gay de Jesus, ocorrido durante seu período de retiro no deserto.

    “Minha avaliação, nesse momento, é de que as consequências da divulgação e exibição da ‘produção artística’ (…) são mais passíveis de provocar danos mais graves e irreparáveis do que sua suspensão, até porque o Natal de 2019 já foi comemorado por todos”, diz a decisão do desembargador, afrontando a Constituição brasileira.

    Quem é o desembargador

    Antes de virar desembargador, o doutor Abicair, ou será o Benedicto?, atuou em um caso que teve grande repercussão no futebol brasileiro, em 1999.

    Benedicto Abicair era um dos três auditores do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) que participaram de uma punição ao São Paulo Futebol Clube. O time perdeu pontos no Campeonato Brasileiro por escalar o jogador Sandro Hiroshi, que havia falsificado sua certidão de nascimento.

    Na época, a decisão causou bastante polêmica: o São Paulo perdeu pontos de duas partidas. Em uma delas, o clube havia vencido o Botafogo por 6 a 1, mas os pontos do jogo acabaram repassados para o time derrotado. Os pontos acabaram salvando o clube carioca do rebaixamento para a segunda divisão.

    Ternos, cães e magistratura

    Nos últimos anos, Benedicto Abicair tem publicado textos com suas opiniões na imprensa.

    Em um dos artigos, interessantíssimo, porque parece saído da mente de um redator do Porta dos Fundos — publicado no jornal O Globo em fevereiro de 2019 —, (Será o) Benedicto Abicair afirma que “donos selvagens” de cães domésticos deveriam seguir “rígidas regras” quando saem com seus animais nas ruas.

    Para ele, os cães domésticos são “desprovidos de higiene adequada, pois não são banhados diariamente, não trajam indumentárias, nem calçam as patas, além de não realizarem higienização após suas necessidades fisiológicas, muito menos se utilizarem de fio dental, escova e pasta de dentes.”

    Uau, ele queria cachorro de sapato, usando papel higiênico e escovando os dentes!

    (Será o) Benedicto Abicair finaliza, tipicamente cinofóbico: (…) já passa do tempo de serem impelidas, com rigor, aos donos selvagens de cães domésticos regras e penas severas para que respeitem a cidadania daqueles que não são simpáticos ao convívio com cães domésticos e seus pelos, muito menos sentem prazer ao serem por eles cheirados e lambidos.”

    O desembargador também já escreveu que o traje passeio completo — terno e gravata — deve ser obrigatório para advogados, mesmo em dias quentes do verão.

    “Que os jovens, como eu no início da carreira, se rebelem contra certos hábitos e costumes é plenamente aceitável e previsível. Porém, inconcebível que pessoas amadurecidas não enxerguem a necessidade de preservar tradições, em confronto com experiências anteriores”, afirmou o desembargador.

    O artigo, também publicado no site Conjur, foi escrito em 2011 em reação a uma decisão da OAB-RJ que tornou o uso do traje facultativo durante o verão.

    “Os estudantes universitários, obrigatoriamente, vestiam-se com terno e gravata. A permissividade extinguiu o paletó, depois a gravata, em seguida, as camisas sociais e hoje frequenta-se as Faculdades de bermuda, saída de praia, camiseta regata e chinelo”, escreveu ele.

    O magistrado argumenta que o uso do traje “tem a finalidade de padronizar e dar aparência de organização”.

    Ah… esses “corpos suados”…

    “Lembro, ainda, que, tempos idos, era obrigatório, ou pelo menos de boa prática, o traje ‘passeio completo’ para os passageiros de avião. Atualmente vemos homens e mulheres seminus, encostando seus corpos suados nos ocupantes dos minúsculos assentos geminados. Bons tempos quando era politicamente correto ser bem vestido”, escreveu (Será o) Benedicto Abicair.

    Em outro artigo, publicado no Conjur em março de 2018, o desembargador afirma não ser verdade que os juízes brasileiros são “privilegiados” e que recebem quantias exorbitantes. Para ele, os magistrados passam por muitas “agruras” na carreira, como morar em locais distantes e em acomodações precárias.

    No mesmo texto, ele também escreveu que um juiz “não pode exercer qualquer outra atividade remunerada, exceto no magistério (?!), onde é impossível repor as perdas e menos ainda obter ganhos extravagantes”.

    “Como é difícil e sacrificante a vida na magistratura, pois no Judiciário são, aproximadamente, 17 mil magistrados decidindo conflitos entre mais de 200 milhões de pessoas naturais, além das pessoas jurídicas. (…) Já os ‘obtusos” detratores reflitam, isentamente, e parem de apedrejar a magistratura e outras carreiras jurídicas do serviço público, que de privilegiadas nada têm, antes de serem todas extintas por falta de candidatos, pois não haverá atrativos que os animem a enfrentar a dura e espinhosa trajetória a que se submetem”, completou.

    Pergunta de 1 milhão de dólares: Será o Benedicto, ou é outra sacanagem do Porta dos Fundos?

     

    Com informações do site BBC Brasil e do UOL

     

     

  • Evangélicos veem engano em messianismo anti-cristão

    Evangélicos veem engano em messianismo anti-cristão

    Por Isac Machado, evangélico e professor de Letras e teologia

    Eu quero começar o domingo fazendo alguns esclarecimentos sobre umas coisinhas que ando percebendo que não estão ainda muito claras, especialmente, para minhas irmãs e meus irmãos de fé. Eu só quero ajudar mesmo. Vamos lá:

    1. Quando uma pessoa é homossexual e fala uma verdade, essa verdade continua sendo verdade. Da mesma forma, quando uma pessoa hetero e cristã fala, cria, compartilha uma mentira, ela continua sendo mentira.

    RESUMO DO TÓPICO 1: Religião e sexualidade não canonizam nem demonizam. Caráter sim.

    1. Glenn Greenwald NÃO é um hacker. Ele é um jornalista conceituadíssimo em diversos países. Como jornalista, ele tem suas fontes. E assim como um padre precisa, a todo custo, proteger os segredos de confessionário, os jornalistas precisam, a todo custo, proteger suas fontes. Se a fonte é um hacker, não é função dele revelá-la, e sim da polícia. Aquela mesma polícia que ainda “não sabe” quem mandou matar Marielle e que preferiu não se aprofundar sobre a morte de Teori e que não conseguiu explicar o dinheiro do esfakeador desempregado de Juiz de Fora.

    RESUMO DO TÓPICO: Jornalista e hacker não é a mesma coisa. Muitos “pastores” pouco sabem sobre segredo de “confessionário”, pois costumam utilizá-los como exemplos nos sermões de domingo.

    1. Pessoas cometem erros, inclusive nós, religiosos. Logo, decepcionamos e somos decepcionados. Mas quando religiosos se aliam a alguém que se autodeclara “especialista em matar”; a alguém que deseja, a todo custo, esmagar os já oprimidos, os empobrecidos, para beneficiar banqueiros e os mais ricos empresários, em troca de uma vaga no STF, de não taxação das igrejas, de conluio, de concessão de canais de rádio e tv, esses religiosos já não têm relação com Deus faz tempo.

    RESUMO DO TÓPICO: Nem todo aquele que se diz pastor, bispo, apóstolo, semideus tem qualquer nível de aproximação com Deus e servem a Satanás. No domingo fingem adorar a Deus; de segunda a sábado prestam serviço público a Satanás com suas declarações e ações.

    RESUMO DO RESUMO DO TÓPICO: Poucos pastores são do bem. Para identificá-los é bem simples. Se ele é Cristocêntrico, é PASTOR do povo de Deus. Se ele é dinheirocêntrico, bolsonarocêntrico, jumentocêntrico, ele tem vínculos diretos com Satanás, a quem representa, inserido entre o povo de Deus.

    1. A bancada evangélica NÃO está do lado da verdade. Confio na “bancada” LGBT. Embora lamente pelo autoexílio de Jean Willys, e embora tenha clareza de que o mesmo fez em um mandato muito mais que Bolsonaro em sete, considero-o um extremista e acho que o parlamento ganhou muito mais com David Miranda, seu substituto. Meu nível de confiança na bancada evangélica é zero. A bancada LGBT que não se declara “bancada LGBT” não está lutando apenas pela causa LGBT, e isso já faria deles e delas bons e boas parlamentares. A bancada evangélica que se declara “bancada evangélica” sequer luta pela causa evangélica. Limitam-se a “lutar” por si mesmos, pelo enriquecimento deles próprios; e para fazer uma cortina de fumaça, fazem uns monumentos à Bíblia por aí e uma marcha para Jesus da qual Jesus jamais participaria.

    RESUMO DO TÓPICO: A bancada evangélica é hipócrita, corrupta, extremista, e seus membros, sem exceção que eu conheça, mantêm contato direto com o trono de Satã, a quem servem em tempo integral.

    1. Evangélicos, assim como todos os outros brasileiros, podemos ser de esquerda ou de direita. Não é essa a discussão. O que não podem é trocar Deus por Baalsonaro e adorá-lo descaradamente nos “templos de Deus”. Podem sim criar uma nova religião, e se o fizerem terão meu respeito. A maioria “evangélica”, que já não se identifica com os evangelhos, não deveria mais usar a “marca” do Cristo da cruz. Que se mudem para “bolsonélicos”, seguidores do evangelho segundo ustra; ou para “lucifélicos”, seguidores do evangelho segundo São Tanás, um evangelho mais brando que o de ustra. Mas que assumam o desvínculo com o evangelho de Jesus, que já não vivem faz tempo.

    RESUMO DO TÓPICO: A maioria dos evangélicos não têm vínculo com os evangelhos de Jesus, mas também não têm coragem nem caráter para assumirem isso. Os poucos evangélicos que continuam vivendo os evangelhos sempre serão meus irmãos. Muitos deles nem fazem parte de uma igreja evangélica.

    RESUMO DO RESUMO DO TÓPICO: Se alguém tem ódio no coração e sangue nos olhos não tem vínculo com Jesus.

    Queridas e queridos irmãos, hoje é domingo, dia de orar por mim. Eu tenho corpo fechado, mas preciso renovar esse fechamento todos os dias. Obrigado.

    Ato de evangélicos contra Bolsonaro | Foto: Fernando Martins/Ponte Jornalismo

     

    Para a matéria original de onde foram reproduzidas as fotos acima, acesse https://ponte.org/o-amor-vai-vencer-o-odio-gritam-frentes-evangelicas-contra-bolsonaro/