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  • Entenda a disputa política que ocorreu no congresso da UNE

    Entenda a disputa política que ocorreu no congresso da UNE

    O 55° Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), encerrado ontem (18) no estádio Jornalista Felipe Drummond, o Mineirinho, em Belo Horizonte, elegeu a estudante a estudante bahiana Marianna Dias para a presidência da entidade pelos próximos dois anos. É a terceira gestão consecutiva que uma mulher preside a organização representativa dos estudantes universitários brasileiros. Fato inédito nos seus 80 anos de história.

    A chapa de número 6 pela qual Marianna foi eleita obteve 3.788 votos, o que equivale a 79% dos 4.795 votos depositados nas urnas. Denominada “Frente Brasil Popular – A unidade é a bandeira da esperança”, a chapa reuniu 10 grupos políticos dos 26 que participaram do congresso. São eles: União da Juventude Socialista (UJS), ligada ao PCdoB, Levante Popular da Juventude, movimento “Novo Rumo”, juventude do PSB, juventude do PDT e as tendências petistas Democracia Socialista (DS), Construindo um Novo Brasil (CNB), Esquerda Popular Socialista (EPS), Mudança e Trabalho.

    As demais foram:

    Chapa 5: 690 votos (14,33%) – Oposição de Esquerda (PCR, PSOL, PCB, MAIS)

    Chapa 3: 148 votos (3,09%) – Vem que a UNE é Nossa (PSDB)

    Chapa 4: 85 votos (1,77%) – Mutirão (Partido Pátria Livre)

    Chapa 2: 84 votos (1,75%) – Reconquistar a UNE (Articulação de Esquerda). Única tendência petista que não se somou a chapa vencedora

    Chapa 1 – retirou a chapa

    O resultado reafirmou a hegemonia da UJS no movimento estudantil. Desde que surgiu, em 1984, quase todos os presidentes da UNE são militantes dessa organização. Nesse congresso, mais da metade dos votos da chapa vencedora foram oriundos do movimento organizado por eles, apresentado como “Vem Quem Tem Coragem”.

    SITUAÇÃO POLÍTICA NO PAÍS E O IMPACTO NO CONGRESSO DA UNE

    A complexa situação política do país se refletiu diretamente na montagem das chapas. A necessidade de reunir forças para enfrentar o governo ilegítimo de Temer foi decisiva para formar-se um grupo político do tamanho desse que saiu vitorioso. No congresso realizado em 2015, esses 10 grupos políticos que formaram uma só chapa para disputar a direção da UNE estavam divididos em 4 chapas distintas.

    As pautas políticas que unificaram esses movimentos nesse ano são: saída imediata de Temer e convocação de eleições diretas para a presidência da República, enfrentamento às reformas do atual governo, participação efetiva na construção da greve geral convocada para o próximo 30 de junho e a realização de várias mobilizações em defesa dos direitos políticos e sociais que vem sendo reduzidos após o golpe de 2016.

    A segunda chapa mais votada, que formam o campo político denominado “Oposição de Esquerda na UNE”, obtiveram 690 votos e se diferenciaram no discurso ao não concordarem com saídas institucionais para a crise política e econômica do Brasil. Para os principais grupos políticos que o compõem (PCR, PSOL, PCB, MAIS), a solução para os problemas do país não virá com as “Diretas Já”. Defendem a realização de manifestações e mobilizações populares para enfrentar as medidas de Temer. Para eles, o que está por trás das “Diretas” é somente a candidatura de Lula e “seu projeto de conciliação de classes”.

    No outro extremo, ficou o movimento “Vem que a UNE é nossa”, organizada pela juventude do PSDB. Diferente da decisão tomada há alguns dias pela direção nacional do partido, a juventude tucana defendeu o “Fora Temer”, mas também a continuidade das reformas implementadas por ele. Segundo eles, esse é o caminho para o Brasil retomar o crescimento.

    As outras duas chapas, organizadas pela juventude do PPL e da tendência petista Articulação de Esquerda (AE), saíram sozinhas como opção tática levando em consideração a dinâmica do movimento estudantil. Na defesa da chapa da AE, por exemplo, um de seus líderes reafirmou a necessidade do chamado “Campo Popular”, liderado no congresso anterior pelo Levante Popular da Juventude, não deixar de existir.

     

     

    COMPOSIÇÃO DA DIRETORIA

    A diretoria da UNE é composta por 85 cargos. Eles são distribuídos proporcionalmente à qu

    Anderson Bahia, [19.06.17 14:19]
    antidade de votos obtidos por cada movimento. A direção é dividida em executiva, com 17 cargos, e o pleno, com 68. Nos próximos dois anos, 15 diretores da executiva da UNE serão provenientes da chapa vencedora.

     

     

    QUEM ELEGEU A NOVA DIRETORIA

    Aproximadamente, 7.200 delegados/as (participantes com direito a voz e voto) estavam aptos a votar no 55° Congresso da UNE. Eles foram escolhidos em eleições em suas próprias universidades. Cerca de 3,5 milhões de estudantes de 90% das instituições de ensino superior elegeram esses delegados para representar suas universidades no evento.

  • POR PRETOS, PARDOS E INDÍGENAS NA FACULDADE DE MEDICINA DA USP, SIM!

    POR PRETOS, PARDOS E INDÍGENAS NA FACULDADE DE MEDICINA DA USP, SIM!

     

    Depois da histórica vitória dos estudantes e movimentos negros na conquista das cotas raciais no vestibular da Universidade de Campinas (Unicamp), o Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (CAOC – Centro Acadêmico Oswaldo Cruz) fez uma provocação necessária nos corredores do “porão”, a área reservada ao convívio de estudantes do curso mais disputado do Brasil.

    Há uma semana, o local conta com um grafite de apoio à política de reserva de cotas para pretos, pardos e indígenas no ingresso à chamada “Casa de Arnaldo”, apelido do campus em São Paulo que faz referência ao médico Arnaldo Vieira de Carvalho, o fundador da faculdade de Medicina e, curiosamente, um dos principais entusiastas do movimento da eugenia no Brasil. Doutor Arnaldo foi defensor da teoria de “purificação das raças”, desenvolvida meramente para justificar o preconceito e o racismo, e também dá nome ao edifício de escadarias e colunas de mármore Carrara.

    Neste prédio imponente, tombado pelo Patrimônio Histórico, o grafiteiro Mauro Neri estampou uma galeria de semblantes em diferentes tons de pele e feições raciais. O grafite acompanha palavras como “acesso”, “cotas sim ou não”, “quando”, “divergente”, “veracidade”, “inclusão”, “igualdade”, “marginalizados”, “dívida histórica”. É um marco.

    Se falar de cotas afirmativas para toda a Universidade de São Paulo ainda é tabu, o tema é ainda mais abafado dentro da Faculdade de Medicina. No último vestibular, cada uma das 175 vagas do curso foi disputada por 75 candidatos no campus de Ribeirão Preto e 63 no da capital. “O curso de Medicina é tão resistente à adoção de políticas afirmativas que dos 42 cursos da USP é dos únicos, ao lado apenas do Instituto de Física, que sequer aderiu à possibilidade de incluir vagas de entrada na universidade pelo SISU, única via pela qual é possível instituir cotas na USP atualmente”, explica o estudante Deivid Déda Araújo Nunes, um dos diretores do CAOC.

    Hoje, a Medicina da USP aplica apenas seu concurso vestibular, a FUVEST (Fundação Universitária para o Vestibular), que é regionalista no conteúdo cobrado, só aplicado no Estado de São Paulo e não oferece cotas. “Há apenas um sistema de bonificação que já se mostrou insuficiente”, diz Gabriel Chicote Guimarães, também diretor da nova gestão do CAOC, da chapa Mosaico, que volta a ter um caráter declaradamente progressista depois de quase 10 anos de gestões desmobilizadas.

    Vale lembrar: o SISU (Sistema de Seleção Unificada) vale-se das notas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) para a entrada em universidades e é amplamente aceito em todo o país. A política do SISU possui duas modalidades de inscrição: por ampla concorrência (que vale todos os alunos indistintamente) e por reserva de vagas por cotas para alunos de escolas públicas, pessoas de baixa renda e estudantes autodeclarados pretos, pardos e indígenas. Além disso, as universidades participantes do SISU podem oferecer vagas para suas próprias ações afirmativas, como por exemplo: pessoas com deficiência e quilombolas.

    “Na minha turma de 175 pessoas há no máximo 10 negros. Essa falta de representatividade também se reflete no hospital. São pouquíssimos médicos, professores ou assistentes”, diz Pedro Santana, aluno do quarto ano que faz parte do primeiro grupo organizado de estudantes negros do curso. Ele conta que até em comparação com outras faculdades de Medicina, tanto do Estado de São Paulo como no país, a porcentagem de negros na USP é menor.

    “É um obstáculo não se imaginar como aluna ou aluno dessa faculdade quando você está prestando vestibular. A imagem que temos de estudantes da FMUSP é de pessoas brancas”, diz a aluna de medicina Maira Mello de Carvalho. “No cursinho popular (Medensina) a porcentagem de alunos negros é absurdamente maior do que na graduação. Outro dia uma menina negra do Medensina veio falar comigo, pedir dicas e fez alusão ao fato de ambas sermos negras, aí eu relembrei que eu pensava o mesmo. Representatividade importa, sim. Se a gente não vê pessoas com quem nos parecemos em um lugar, tendemos a achar que não pertencemos a ele”, completa Maira.

    Diante disso, os dirigentes do CAOC pleitearam e conseguiram uma primeira vitória: acabam de aprovar na Comissão de Graduação, que é a primeira instância para implementação da adesão da FMUPS às cotas, o pedido de inclusão de quase 30% das vagas de ingresso na faculdade pelo SISU. Isso representa 50 vagas, 10 delas para ampla concorrência e 40 reservadas para cotas. Destas, 15 são para alunos pretos, pardos e indígenas e 25 para alunos vindos de escolas públicas.

    Passo importante. Mas só o primeiro. A proposta ainda vai passar pela Congregação da faculdade para ter êxito. A comissão é formada majoritariamente por professores. “É necessária uma pressão da sociedade para que se promova a inclusão social na USP. Essa problemática precisa urgentemente ser revista e reparada”, pontua Deivid.

    “Apenas 5% dos estudantes se autodeclaram pretos, pardos ou indígenas na faculdade”, afirma Gabriel. “No Hospital das Clínicas, onde passamos boa parte da graduação, há uma concentração majoritária de pacientes pretos e pardos. Eles oferecem os seus corpos para que a gente aprenda Medicina mas não estão entre os aprendizes”. Gabriel lembra que, como um microcosmo do Brasil, na faculdade negros são os prestadores de serviços, pessoal da limpeza, atendentes do restaurante. “Não estão entre os formadores de conhecimento”.

    Foi ele quem convidou Mauro para fazer o grafite provocativo na instituição de excelência em ensino médico. “É uma contribuição a um público de maioria branca, com privilégios, que talvez não esteja habituado ou tratar dessas questões”, pontua o artista. “Essas imagens de negros e palavras que remetem à causa das cotas traz a esse cotidiano um repertório que é sabido mas é esquecido”. Ainda que o grafite não seja permanente e sua exposição seja efêmera, é impossível ser ignorado naquele corredor de acesso ao refeitório e sala de estudos do “porão” elitizado. “Foi muito bacana trazer a verdade para esse lugar”, diz Mauro. Que a Casa de Arnaldo receba, em breve, a devida visita dos ilustres brasileiros descendentes de escravos, mestiços e indígenas para dignificar ainda mais o exercício da Medicina.

     

    Por Flávia Martinelli/Jornalistas Livres

    Vídeo: Gustavo Aranda/Jornalistas Livres

  • Da República de Curitiba ao “Caos” dos Secundaristas

    Da República de Curitiba ao “Caos” dos Secundaristas

    As mobilizações secundaristas que ocorreram em Curitiba no ano passado transformam-se em registro cinematográfico no documentário República do Caos, que teve sua pré-estreia no sábado (17/06), às 15 horas, na da Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), na capital paranaense. O longa, com uma 1h20 de duração, trata dos eventos ocorridos entre maio e novembro de 2016 e foi construído de forma coletiva utilizando-se de materiais  disponibilizados pela mídia livre, whatsApp e por veículos digitais, além de uma série de cenas e entrevistas inéditas capturadas pela equipe do filme.

    Segundo um dos diretores, Paulo Jesus, “o desafio foi manter uma linguagem moderna e estética com tantas dimensões diferentes em que as imagens se encontravam.” Além disso, ele ressalta que a narrativa caótica e não linear foi uma decisão unânime da equipe que apostou na correlação dos eventos como “na teoria do Caos”. Paulo ainda lembra que o documentário é uma tentativa de demonstrar que Curitiba não é somente a capital da Lava-Jato.

    estudante em documentário República do Caos
    Foto: Melito/CWB Resiste

    “É importante garantir um registro histórico desses acontecimentos, que marcaram a política local e nacional”, opina Mônica Ribeiro, também diretora do longa e professora do departamento de Educação da UFPR. “Os secundaristas, por exemplo, assumiram um protagonismo fundamental ao se organizarem nas ocupações”.

    Além da preocupação estética e da coletividade, o filme valoriza o cenário da cultura local. As músicas utilizadas como trilha sonora do filme foram compostas por músicos radicados na capital paranaense.

    O documentário também estará disponível no Youtube, a partir do dia 21 de junho e poderá ser assistido em 4 episódios de cerca de 20 minutos na plataforma.

    sessão documentário República do Caos
    Foto: Melito/CWB Resiste

    Durante a estreia quem assistiu o documentário garantiu que sentiu aflição e empatia pelos estudantes. Na quarta, 21/07 ocorre outra exibição na UFPR. Dia 29/06 ocorrerá uma exibição na Unicamp em São Paulo.

    Direção:
    Mônica Ribeiro e Paulo Jesus

    Traillers:
    https://youtu.be/-kZ0GuxHcqQ

    https://youtu.be/gHxp46naBcM

    Serviço:

    Página:
    https://www.facebook.com/RepublicadoCaos/

    Evento:
    https://www.facebook.com/events/1733006646991651

    Data: Quarta, 21 de junho.

    Local: Observatório do Ensino Médio, primeiro andar do prédio Dom Pedro I da Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Entrada pela Rua General Carneiro, Centro de Curitiba.

  • Para entender a UNE e seu congresso

    Para entender a UNE e seu congresso

    Batuques, palavras de ordem, dezenas de mesas de debates e grupos de discussões, reuniões diversas entre grupos políticos e, no meio disso tudo, uma grande manifestação pelas ruas de Belo Horizonte pedindo eleições “Diretas Já” para a Presidência da República. Assim tem sido o 55º congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), que teve início na última quarta-feira (14) e se encerra hoje (18) na capital mineira.

    Rostos e sotaques de todos os estados brasileiros se encontram no evento para discutir e aprovar os rumos da entidade pelos próximos dois anos, prazo da gestão que também será eleita no congresso. A edição realizada esse ano marca o início das comemorações dos 80 anos da UNE, a ser celebrado em 11 de agosto.

    A presidenta da entidade cujo mandato se encerra logo mais, Carina Vitral, destaca a importância política da atividade. “Esse congresso é histórico. É o primeiro após o golpe político ocorrido em 2016 e que destituiu uma presidenta da República. E vem muito oxigenado por uma geração de jovens que iniciaram sua participação política nas ocupações e inúmeras mobilizações ocorridas nas universidades no último período”, disse.

    O crescimento pelo interesse com a política entre a juventude, percebida nas redes sociais e em atividades políticas ocorridas em todas as regiões do país, se configura também no evento da octogenária entidade. Esse congresso da UNE é a maior entre todas as organizações do movimento social do país.

    UNIVERSIDADE DA POLÍTICA BRASILEIRA

    Além de ser o maior no movimento social brasileiro, o congresso da UNE é também o mais plural. Ao todo, 26 grupos políticos se organizam para participar. Alguns desses movimentos são liderados por juventudes partidárias, como a do PT, e outros são correntes políticas autônomas formados nas universidades para debater política e disputar as eleições do movimento estudantil, como centro e diretórios acadêmicos.

    Engana-se quem acredita que todos esses grupos tem em Marx sua principal referência teórica. O movimento “Vem que a UNE é Nossa” é liderado pela juventude do PSDB e durante todos os dias da atividade cantou “palavras de ordem” exaltando Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso. Durante as votações sobre conjuntura (atualidade política), educação e movimento estudantil defenderam as reformas apresentadas pelo governo Temer, rechaçadas pela maioria dos demais grupos políticos juvenis ali presentes. No entanto, também expressaram sua rebeldia ao defenderem a saída imediata de Michel Temer da presidência da República, destoando da direção nacional do PSDB que na semana passada aprovou a permanência em seu governo.

    A defesa dessas propostas revelou o elevado nível de domínio político por parte das principais lideranças. Temas como a crise econômica mundial, imperialismo, os profundos impactos sociais das medidas de Temer e os temas relacionados à educação foram abordados com números e argumentos construídos à maneira como muitos parlamentares no Congresso Nacional não conseguem discutir.

    Não à toa alguns conhecidos líderes políticos da atualidade participaram da UNE quando jovens. Nomes como os senadores Lindberg Farias (PT) e José Serra (PSDB) e o deputado federal Orlando Silva (PCdoB) foram da UNE quando jovens. A contribuição da UNE para a política nacional não ficou só no passado. Revelada pelas mobilizações em defesa da democracia, Carina Vitral foi candidata à Prefeitura de Santos em 2016.

    A ex-presidenta da entidade, Virginia Barros, afirma que essa contribuição é diferencia porque “a juventude que constrói a UNE e suas lutas são movidas pelos sonhos e pela ligação com as causas defendidas pela organização. Não possuem interesses menores que esses”.

     

     

    AS DIMENSÕES DO CONGRESSO

    Nos cinco dias cinco dias de programação, nada menos que 15 mil estudantes dos 26 estados e do Distrito Federal participam da atividade. Todos deslocaram-se para Belo Horizonte em caravanas de ônibus.

    Os estudantes do Amapá ainda fizeram o percurso até Belém, capital do Pará, singrando o rio Amazonas de navio e, de lá, entraram nos ônibus que os trouxeram até o destino final. Aqueles oriundos de Amazonas e Roraima fizeram a viagem de avião. Algumas delegações, como a do Acre, passaram até quatro dias na estrada. Governos estaduais, prefeituras e universidades contribuíram com o custeio do transporte.

    Para descansar após os dias repletos de atividades, os estudantes ficaram em 17 alojamentos distintos. Foram cedidas pelo governo do estado de Minas Gerais 16 escolas públicas e mais o Centro de Convenções Risoleta Neves, de 70.000 m², situado na cidade de Vespasiano, ao lado de Belo Horizonte. Cada um é responsável pela sua própria acomodação e geralmente dormem em barracas e colchonetes que trazem em suas bagagens.

    A programação contou 177 convidados. Intelectuais, artistas, parlamentares e líderes políticos expuseram análises, estudos e opiniões em dezenas de debates realizadas principalmente nos primeiros três dias, nas dependências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Os últimos dois foram dedicados a “plenária final”, na qual os participantes aprovam as propostas que serão defendidas pela entidade na próxima gestão. O encerramento, mais tarde, culminará com a eleição da nova diretoria.

     

    CONGRESSO FINALIZA UM GRANDE PROCESSO DE MOBILIZAÇÃO

    O congresso da UNE teve sua convocação lançada no dia 20 de março. Na ocasião, ocorreu, no campus Vergueiro da UNIP, em São Paulo, o 65° Conselho de Entidades Gerais (CONEG), fórum que reúne as entidades estudantis de representação estadual, Diretórios Centrais de Estudantes (DCE´s) e Diretórios Acadêmicos (DA´s) responsáveis por aprovar a data da atividade e toda a dinâmica até sua realização.

    De lá até o congresso, 3,5 milhões de estudantes de aproximadamente 90% das instituições de ensino superior no Brasil participaram das atividades que compõem o calendário de mobilizações até o evento. Eles elegeram cerca de 7.200 delegados (participantes com direito a voz e voto). Desses, por volta de 4.400 se credenciaram no evento. Os milhares de outros participam na condição de observadores (participantes com direito a voz nos debates, mas não ao voto).

  • Cores, caras e sorrisos de luta no 55º Conune

    Cores, caras e sorrisos de luta no 55º Conune

    No despertar para o Congresso da União Nacional dos Estudantes, a Universidade Federal de Minas Gerais se encheu de povo nesta quinta-feira (15), o que não é visto há muito tempo, já que a política da UFMG é de repressão aos não estudantes. Ou melhor, aos não estudantes que são negros, periféricos e pobres.

    Se no Conune 2017, movimentos sociais, mulheres, negras, negros, LGBTs, e norte, nordeste, sul, sudeste e centro-oeste do país estavam representados, nas cadeiras das salas de aula, o que se vê é mais do mesmo na UFMG e na maioria das instituições: a meritocracia reinando em prol do direito à educação pública, gratuita e de qualidade.

    Nos últimos anos, principalmente em 2014 e 2015, a UFMG fechou as suas portas para os visitantes, com as desculpas de aumento de roubos e a realização de festas não autorizadas no campus, agora ela se vê obrigada a receber àqueles que antes só ficavam das grades da Av. Antônio Carlos para fora.

    As festas acontecem desde o surgimento do Campus e da Universidade enquanto instituição que lida com diversos jovens estudantes. Ela só começou a incomodar quando a juventude periférica passou a frequentar os antros de diversão noturna da instituição, e vender produtos durante estas festas.

    Explicando: quando os estudantes faziam o “Na Tora”, a tradicional festa de quinta-feira a noite dentro do campus, a vida seguia um ritmo normal, mas com a chegada de “pessoas de fora”, o problema parece bem mais gritante. Racismo institucional. Preconceito. Mas “hoje é dia de alegria”, então vamos pintar a Universidade com as cores da rebeldia. Confira as pessoas que estiveram presentes no 55º Conune nesta quinta-feira (15):

     

  • UNICAMP aprova princípio de cotas étnicos-raciais:

    UNICAMP aprova princípio de cotas étnicos-raciais:

    Na tarde de terça feira (30/05), o Conselho Universitário da UNICAMP (CONSU), aprovou o documento no qual consta o princípio de adoção de cotas étnico raciais para os vestibulares de 2019. Do lado de fora do prédio, setores do movimento estudantil da universidade, bem como secundaristas e organizações de Campinas, assistiram à sessão do lado de fora da reitoria com o intuito de fazer pressão nos conselheiros de oposição.

    Foto: Fabricio Menza

    A discussão da pauta começou por volta das 11h da manhã e apesar das tentativas de adiamento da discussão e posterior inclusão de uma proposta alternativa — que não compunha o

    s princípios de cotas — a reunião continuou até às 06h da tarde. Somente então o documento (elaborado a partir de três audiências públicas e um grupo de trabalho (GT) paritário, com representação de alunos, funcionários e professores igualmente) proposto pelo Núcleo de Consciência Negra e Frente Pró-Cotas foi aprovado por unanimidade, .

    A proposta contém, além da implementação de cotas raciais, a inclusão de alunos de baixa renda oriundos de escola pública e coloca como meta a elaboração de um vestibular indígena na universidade para 2019. Todos estes pontos serão encaminhados para um grupo de trabalho, que criará o documento final de adoção progressiva das metas. O reitor Marcelo Knobel discursou também que a universidade pretende criar uma secretaria de inclusão social e equidade, além de refletir sobre a possibilidade de adoção do SISU como meio de ingresso na UNICAMP.

     

    Greve

    Importante ressaltar que a votação da terça-feira foi resultado da greve estudantil de 2016. A greve se estendeu de maio a agosto do ano passado — compreendendo os dois meses de ocupação do prédio da reitoria. Motivada pela determinação da reitoria em estabelecer um corte de gastos de R$ 40 milhões (que congelaria o orçamento da universidade), a assembleia que deliberou a movimentação estudantil contou com cerca de mil alunos. Outras pautas incluídas foram a construção de uma nova moradia e a adoção de cotas étnico-raciais, que foram disputadas até o final com a universidade, que se negou a dialogar sobre a questão orçamentária.

     

     

    Cobertura: Fabrício Menza, Rodrigo Cruz, Bruno de Paula