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  • Mandetta se finge de bom-moço pra rifar SUS e ganhar eleição futura

    Mandetta se finge de bom-moço pra rifar SUS e ganhar eleição futura

    Todos os dias assistimos a imagem de um Ministro vestindo colete do Sistema Único de Saúde (SUS) reafirmando que tomará todas as medidas baseado em critérios científicos. É esse o mesmo que acabou com o Programa Mais Médicos, deixando milhões de pessoas desassistidas em todos os cantos do país. Está também entre seus colegas o incapaz e recalcado que chamou as universidades públicas de “balbúrdias” e cortou substancialmente verbas das Universidades Federais e do fomento da pesquisa no país. Cortaram também verbas do Bolsa Família, colocando milhões de pessoas em situação de extrema pobreza. Essas, entre outras inúmeras asneiras e crueldades, nos faz perguntar todos os dias: porque Bolsonaro ainda não caiu?

    Por Silmara Conchão* e Eduardo Magalhães Rodrigues**, especial para os Jornalistas Livres

    A atitude pública do ministro de colete azul do SUS na TV está coerente com as recomendações mundiais no enfrentamento ao Covid-19. Este comportamento, contudo, não passa de um trampolim para a disputa eleitoral. Faz do ministro um sucesso na carência nacional de líderes. Esperamos que depois dessa glória Mandetta desista de privatizar o SUS, pois, sabemos, é um dos que mais defende essa ideia e até por isso está onde está. Patrocinado pelos planos de saúde, ele é um vendilhão e não um herói.

    Em um país pautado por uma cultura colonialista e servil ao grande capital, a retrógrada e velhaca elite econômica, aliada à políticos entreguistas e religiosos fundamentalistas, fomenta o esquecimento e o ocultamento histórico.

    Inversamente, a realidade copia a arte. Parecemos viver sob o governo do paranoico, falso moralista e conservador Odorico Paraguaçu, prefeito da fictícia cidade de Sucupira. Na admirável telenovela de Dias Gomes, “O Bem Amado” (Globo, 1973), o político possui a ideia fixa de realizar sua grande obra, a inauguração do cemitério municipal. O projeto se tornou obsessivo e para isso o tosco e medíocre governante não mede esforços. Por exemplo, em uma epidemia de Tifo, sumiu com vacinas e medicamentos. Acreditava que tudo e todos conspiravam contra ele.

    Mentalmente transtornado, o paranoico crê em suas concepções, mesmo que contrárias à razão. Consegue expressar abertamente loucuras e delírios, porque não acredita serem absurdos, mas sim fatos concretos. O coronel Odorico e o ex-capitão Bolsonaro estão apegados a suas verdades únicas e irreais. Somos todos povo de Sucupira liderados por um genocida.

    Enredados em uma ditadura, escolhida pelo voto, naturalizamos o machismo, o racismo, o extermínio de jovens pobres e a lgbtfobia em nome de Deus. Além da prática fascista do governo e sua alucinada e violenta manada de apoiadores, carinhosamente denominados “bolsominions”, que dizem não ter ideologia, a pandemia chega ao Brasil e desnuda o capitalismo perverso do Estado-Mínimo. No entanto, a crise mostra a importância do SUS, das Universidades públicas e da ciência.

    O eleito Bolsorico-Paraguaçu, hoje sem partido, não tem apoio do Congresso; do Supremo Tribunal Federal (STF); dos militares graduados; da mídia comercial (salvo Edir Macedo e Silvio Santos); de organizações internacionais (ONU, OMS etc); dos movimentos sociais e até mesmo de parte dos grupos de direita. Assiste sua popularidade derreter. Segundo pesquisa do Datafolha, (08/04/2020) 64% reprova a conduta do Presidente em relação à pandemia.

    Concomitantemente, seu Ministro da Saúde já está sendo anunciado como o grande líder da nação: um médico seguro, calmo, informado e político conciliador. Todavia, na votação do impeachment de 2016, ou melhor dizendo, golpe contra a Presidenta Dilma (sobre a qual nenhuma corrupção se provou), o Deputado Federal Mandetta empunhava ironicamente uma placa “Tchau querida”. E no início de sua gestão, demitiu os médicos cubanos. Sabemos que o resultado disso envolveu mortes evitáveis dos mais pobres por causas básicas, o que será agravado no atual contexto.

    Por Simch

    As falas e as atitudes desatinadas de Bolsorico-Paraguaçu minimizam a pandemia e fazem pobres e explorados acreditarem que a doença ameaça grupos mais vulneráveis. Estamos no meio do caos. Comunidades sem voz como a indígena, quilombolas, periferias e favelas sofrerão mais pela falta de assistência médica, fome e desemprego. Será que um dia conheceremos o quadro real da devastação ora anunciada e subnotificada? Enquanto isso o palanque eleitoral segue. Bolsorico é um inconsequente oportunista enganando cegos e desvairados que não querem ver, muito menos dar o braço a torcer.

    De qualquer forma o neoliberalismo desnudado revelou para o mundo que só sobrevive com a mão de obra explorada e recursos públicos. Autocentrados em resguardar seus interesses privados, burgueses protegidos nos seus carrões foram às ruas em carreatas exigir que seus empregados voltassem a trabalhar para gerar riqueza. Riqueza para quem? A quem os fundos públicos devem socorrer?

    Nesse precipício em que nos encontramos, parte da esquerda não aproveita o momento político de graves erros do desgoverno para encaminhar mudanças efetiva. Continua apática e frouxa. Titubeia, vacila e se apresenta dividida entre o “Fora Bolsonaro” e o “Fica Bolsonaro”.

    Algumas lições já se mostram óbvias: não devemos mais cair na cilada elegendo dementes e necropolíticos, cabendo ainda ao Estado garantir proteção, igualdade de oportunidades e serviços básicos como a educação e a saúde públicas, universais e gratuitas. Pessoas estão morrendo e morrerão devido à leviandade governamental. Podemos morrer a qualquer momento. A vida que já era frágil virou um sopro. O Coronel Odorico tinha como única meta inaugurar o cemitério que o daria palco. Nosso Bolsorico Paraguaçu não se importa em produzir milhares de cadáveres em nome de uma falsa salvação econômica do país. Salvação sim do grande capital que o elegeu, num plano macabro onde sabemos que os mais pobres morrerão nas portas dos hospitais. A Europa depois da Peste Negra, saiu da Idade Média e entrou no Renascimento, em que passou a valorizar muito mais as ciências, a cultura e as artes. Também houve separação total do Estado e da Igreja e a noção de que a razão leva ao conhecimento. Nossa opção será voltarmos ao passado obscurantista ou sairemos mais fortes para superarmos e avançarmos enquanto civilização? Quem sobreviver, que nunca mais se esqueça de lutar por nosso SUS, pelas Universidades públicas e por investimentos na ciência brasileira.

     

    *Silmara Conchão – Socióloga, feminista e professora universitária da Faculdade de Medicina do ABC. Mestra em Sociologia e Doutora em Ciências da Saúde.

    **Eduardo Magalhães Rodrigues – Sociólogo e pesquisador da Universidade Federal do ABC. Mestre em Relações Internacionais e Doutor em Planejamento e Gestão do Território.

     

    Veja mais: Vidas ou lucro? Modelo capitalista neoliberal entra em xeque com pandemia do Novo Coronavírus

  • Inexpugnavelmente

    Inexpugnavelmente

     

     

     

     

     

    Construir um país é derrubar muros, abrir janelas, criar portas.Há uma linha de frente na história, entre pensamento e resistência, escrita por pessoas que pensam e creem nos cuidados com a vida,  saúde coletiva.

    No Brasil colonial eram os curandeiros e barbeiros que propiciavam atendimento de saúde aos menos favorecidos./ desenho por Jean-Baptiste Debret

     

    São antigos os traços, relatos, o percurso dos que querem sim a saúde como direito universal, integral, equânime. 

     

    Será lançado, dia 12, nesta quinta-feira, o LASCOL, Laboratório de Saúde Coletiva, na Escola Paulista de Medicina/Unifesp, na cidade de São Paulo.

     

    Docentes, técnicos, pesquisadores, residentes e alunos da graduação e pós-graduação vinculados à área de Política, Planejamento e Gestão; além de convidados de outras universidades, gestores e trabalhadores do SUS, Conselheiros de Saúde, lideranças e militantes dos movimentos sociais, parlamentares com atuação na área da saúde, etc.

     

     

     

    O compromisso é com a democratização e disseminação de conhecimentos e informações para a sociedade, utilizando a mídia convencional, as redes sociais e outros meios alternativos de comunicação.

     

    Atividades de pesquisa e disseminação de conhecimentos, atividades de extensão, ações diversas com o movimento social, assessoria e consultoria ao que, de fato, importa para se viver numa saúde coletiva.

     

    Políticas sempre em movimento, que necessitam de permanente reflexão em sua construção. E que agora estão em risco.

    A 8ª Conferência Nacional de Saúde (CNS), realizada entre 17 e 21 de março de 1986, foi um dos momentos mais importantes na definição do Sistema Único de Saúde (SUS).

     

     

    Em tempos de conservadorismos e quebra do Estado Democrático de Direito que estamos vivendo, é o próprio SUS, enquanto política pública, universal e gratuita, que está em risco.

     

     

    Abre-se convite aos que não renegam ou abjuram, creem livres, conectam-se.

  • Médica cubana assume secretaria de Saúde no norte do Rio

    Médica cubana assume secretaria de Saúde no norte do Rio

    Por Júlia Maria de Assis, especial para os jornalistas livres

     

    Não foram poucas as vezes em que ela teve que explicar que era sim uma médica e não uma agente comunista recrutada para a revolução armada que a esquerda queria fazer no Brasil, uma das muitas fake news envolvendo o programa Mais Médicos que inundaram as redes sociais de desinformação e preconceito. Foi preciso dialogar muito, desconstruir estereótipos e trabalhar duro.

    Hoje questionamentos como esse praticamente não existem mais. E a cubana Arleny Váldés integrou-se de tal forma à comunidade que a acolheu há pouco mais de cinco anos que acaba de ser nomeada secretária municipal de Saúde de São João da Barra, cidade de 35 mil habitantes no norte do Estado do Rio de Janeiro.

    Aos 32 anos, divorciada, sem filhos, Arleny tomou há dois anos uma das mais difíceis decisões de sua vida: permanecer no Brasil quando acabou seu contrato com o programa. Como consequência só pode voltar a Cuba em 2025. Sente saudades dos pais, avós, irmãos e sobrinhos – a última vez que viu a família foi em fevereiro de 2016, quando viajou de férias para casa –, mas não se arrepende da escolha. Sua mãe vem ao Brasil pela primeira vez no final deste ano para visitá-la e enquanto tenta segurar a ansiedade se dedica ao novo desafio de cuidar das políticas públicas de saúde no município.

    Reforçar a atenção primária é prioridade para ela. E nem mesmo o momento de desmonte vivido no país a desmotiva. “Há uma involução na atenção primária, no SUS, mas a população e os profissionais na ponta resistem, lutam para manter as políticas de saúde pública. E defendem com argumentos, o que é importante”, afirma.

    “Se vocês fazem tudo isso vou fazer o quê? Só dou consulta?”

    Arleny se formou em 2010 e fez pós-graduação em Medicina da Família. Em 2012 foi para a Venezuela, onde ficou dois anos atuando em um programa similiar ao Mais Médicos, o Barrio Adentro. Recebeu a proposta para trabalhar no Brasil em janeiro de 2014. Dois meses depois chegou a Guarapari, no Espírito Santo, um dos quatro pólos de formação do Mais Médicos, para estudar português e Medicina brasileira.

    Quando soube que seu destino seria São João da Barra foi para a internet pesquisar sobre a cidade. Não tinha ideia de como era o lugar. Chegou em maio para atuar como médica da família, primeiro para uma unidade de Grussaí e depois Atafona.

    “Já cheguei organizando os medicamentos, o material, porque é isso também que os médicos fazem no meu país, e fiquei surpresa e impressionada ao ver que a equipe de enfermagem cuidava dessas tarefas, e com muita qualidade. Perguntei: ´Se vocês fazem tudo isso vou fazer o quê? Só dou consulta?`”.

    O começo foi um desafio, mas Arleny lembra do apoio que recebeu da comunidade. “Havia muita curiosidade, principalmente com o sotaque, mas os pacientes me ensinavam, me falavam das gírias locais. Me senti acolhida e essa é uma semelhança grande com meu país, os amigos se tornam família”. Ela lidou com preconceito também, mas para ela não chegava a ser algo agressivo. “Sempre houve muita desinformação sobre Cuba, sobre o Mais Médicos, parte pelo que se falava na mídia, mas o bom é que as pessoas perguntam, estão dispostas a ouvir, e o diálogo foi desconstruindo tudo isso”.

     

    Revalida concluído

    Quando terminou seu contrato com o Mais Médicos em 2017 e ela informou aos pacientes e colegas de trabalho que teria que retornar para Cuba foi organizado até abaixo-assinado para que ficasse. Arleny nunca tinha falado com a prefeita Carla Machado (PP), que havia assumido o governo poucos meses antes, tanto que quando recebeu um telefonema dela pensou que fosse trote. “Ela me ligou e me convidou para ser uma das coordenadoras do ESF (Estratégia Saúde da Família) e então decidi ficar no Brasil”. Ela também coordenou a Atenção Básica e a Vigilância em Saúde.

    Deixou de clinicar porque perdeu o direito, mas se inscreveu no Revalida, um processo demorado, e passou em todas as etapas.

    Concluiu este ano e só está aguardando a chegada do registro no CRM para voltar a atender pacientes. “Vou tentar conciliar com o trabalho na secretária, porque sinto falta de atender as pessoas, de visitar as casas. Sou apaixonada por clinicar”.

    Arleny estudou o SUS para trabalhar no Brasil e é só elogios ao sistema, mas reconhece as dificuldades para a execução real do que está no papel. “O SUS é maravilhoso, é o sonho da atenção primária, mas no Brasil há uma cultura que ainda não está focada nesta área, o que atrapalha muito”. E é esta justamente a prioridade da nova secretária. “Termos 100% de cobertura na atenção básica, o que é muito bom, além de contarmos com uma equipe ótima”.

     

    É mais curiosidade do que preconceito

    A estrutura comandada por Arleny conta com 26 unidades de saúde. Só de médicos são 174. Se há resistência dos colegas brasileiros de profissão? “Havia mais. O que acaba existindo é muito mais curiosidade. O preconceito vem da desinformação. Uma médica uma vez veio me dar um abraço, disse que tinha outra visão e ao conviver comigo passou a ter um pensamento diferente. Alguns médicos chegaram a viajar de férias para Cuba depois de ouvirem o que eu contava sobre meu país”.

    Arleny não sabe se um dia voltará para Cuba. Ela não casou de novo – era casada com um médico cubano que também veio para o Brasil – mas pretende ter filhos e gostaria que nascessem em São João da Barra. Apesar de adaptada ao Brasil sente falta de casa. “Cuba é um país lindo, politicamente difícil de entender, até para nós cubanos, economicamente difícil. Mas a educação é maravilhosa, a saúde é maravilhosa”, destaca.