Pelo Facebook, Carlos Techera, militar da reserva, ameaçou matar candidato da Frente Ampla, Mujica e Tabaré, caso Lacalle perdesse as eleições
O militar da reserva Carlos Techera foi preso nesta manhã (27/11) por divulgar um vídeo nas redes sociais, onde ele aparece ameaçando o ex-presidente José ‘Pepe’ Mujica, que acaba de ser eleito senador; o atual presidente Tabaré Vázquez e o candidato da Frente Ampla (FA), Daniel Martínez.
Em sua mensagem, transmitida ao vivo no Facebook antes do segundo turno das eleições de 24 de novembro, Techera disse:
“Vou dizer uma coisa a este retardado de Martinez e a esse idiota de Mujica. Eles vão perder as eleições. Hoje eles vão Hoje Luis Lacalle Pou e o Partido Nacional (PN) serão governo, gostem ou não. ”
Além disso, durante a proibição, ele afirmou:
“Se eles cometerem o erro de tentar contra a segurança de Lacalle Pou ou contra as instituições do país ou a Constituição da República por perderem as eleições, não terão o mesmo destino de 73”
Naquele ano, começou o golpe de estado que começou a ditadura militar.
A mensagem intimidadora contra os líderes do centro uruguaio continuou: “Se você quer ter um problema contra os militares, você o terá e de graça. A única diferença é que não terá 73 anos, desta vez todo mundo fica, tupamaros ou Não. É simples assim, fácil.
” E ele reiterou: “Desta vez, eles não saem vivos, vamos ver se eu estava livre agora”.
Você terá que testemunhar perante o promotor.
Então, o banco da FA votou por unanimidade a registrar uma queixa criminal, e o senador Juan Castillo a apresentou na terça-feira junto ao Ministério Público, considerando que eram “ameaças de morte”. Após a prisão, foi anunciado que os ex-militares testemunharão perante as autoridades ao meio-dia, diz El Observador.
Antes de sua apreensão, em uma entrevista à Universal Radio, ele se arrependeu: “Quem cometeu um erro fui eu e não tenho desculpa”, disse ele.
No ano passado, Techera tentou ser candidato à presidência do PN e, em reportagens com a mídia local, ele se considerava “pior que Bolsonaro”, o presidente de direita do Brasil.
Texto: RT
“Me equivoquei”, disse militar aposentado, depois do vídeo em que ameaça Martínes e Vásquez
“Me equivoquei e estou reconhecendo. Que mais vão querer fazer comigo? Uma carniçaria?”, disse Carlos Techera na noite desta terça-feira
Carlos Techera, o militar da reserva que ameaçou de morte e insultou o atual presidente, o senador Pepe Mujica e o candidato a presidente da Frente Ampla, Daniel Martínez
En la noche de este martes, Carlos Techera, un militar retirado que quiso competir en la interna nacionalista y que en un video amenazó tanto al presidente Tabaré Vázquez como al candidato frenteamplista Daniel Martínez, dijo: “El que me equivoqué fui yo y no tengo excusas”.
En diálogo con Radio Universal señaló que en el tono del mensaje “estuvo mal” y agregó: “Lo que yo digo, está mal también, eso no se puede decir”.
Consultado sobre qué significa la “quedan todos”, dijo: “Pueden ir presos, lo que sea, pero yo no dije matar. Cada uno interpreta lo que quiere”.
“Me equivoqué y lo estoy reconociendo. ¿Qué más van a querer hacer conmigo? ¿Una carnicería?”, dijo Techera.
“Yo lo que soy es muy reaccionario. Soy muy calentón. Me arrepiento de lo que dije, de la forma que lo dije, sí, en el contenido de la parte en todo lo que tiene que ver con los militares, sí me arrepiento”, señaló minutos después.
La bancada del Frente Amplio votó por unanimidad presentar una denuncia penal en su contra. Este martes se presentaron ante la Fiscalía de Corte los senadores Juan Castillo, Mónica Xavier y Ruben Martínez Huelo para que se traslade la denuncia ante la dependencia correspondiente, informó Castillo a El País.
Indicó además que todos los senadores del Frente Amplio coincidieron en que efectivamente se cometió un delito, en base al numeral 4 del artículo 171 del Código Penal que alude a “ofensa y violencia a la autoridad”.
En la denuncia, a la que accedió El País, los senadores frenteamplistas dicen que los dichos de Techera constituyen “actos con real apariencia delictiva” y le piden al fiscal general de la Nación, Jorge Díaz, que disponga “las medidas pertinentes a los efectos de investigar la denuncia”. Agregan que se trataría de un delito contra la administración pública y sobre la violencia y la ofensa a la autoridad pública.
Techera, quien el año pasado intentó ser precandidato a presidente del Partido Nacional y se presentaba en las entrevistas como “peor que Bolsonaro”, comienza diciendo en el video divulgado: “Se quejan en el Frente Amplio porque el general (Guido) Manini Ríos hizo un video, bueno yo voy a subir más la vara a ver si se quejan conmigo y aparte le voy a dar una advertencia y yo no estoy jugando. Si alguno cree que yo soy un loco o soy un bocón y estoy jugando hagan la prueba, no me cuesta nada levantar el teléfono y hacer una llamada”.
Según lo que expresa Techera, el video fue realizado en la mañana del domingo, antes de conocerse el resultado del balotaje.
“Les voy a decir algo a los líderes del Frente Amplio, y háganlo viral este video, si ustedes cometen el error, el mínimo error, de atentar o contra la seguridad de (Luis) Lacalle Pou, o contra las instituciones de la patria o contra la Constitución de la República por perder las elecciones, ustedes no van a tener la misma suerte del 73 (año del golpe de Estado). Y me voy a sacar los lentes para que me vean bien la cara, Vázquez, la quedan todos”, expresó.
“Si ustedes quieren tener un problema contra los militares, lo van a tener y gratis. La única diferencia es que no va a ser el 73, esta vez la quedan todos, tupamaros o no, así de simple, así de fácil. Las Fuerzas Armadas están para cumplir con la Constitución de la República y el mandato que ella dispone, pero no para ser masacrados en una emboscada, a pedradas”, agregó.
Techera reiteró: “Si ustedes en el Frente Amplio tienen un problema con las Fuerzas Armadas, se lo dice un militar desde ya, lo van a tener y gratis. Esta vez no salen vivos, a ver si fui claro ahora. Las elecciones van a seguir, Vázquez, como tienen que seguir, en democracia”, agregó.
Por Joana Zanotto e Isabella Fiuza, Jornalistas Livres direto de Montevidéu.
Caminhando pelas ruas de Montevidéu, no último domingo de eleições presidenciais e legislativas (27/10), avistamos um senhor sentado em frente ao comitê de campanha da Unidad Popular Uruguaya (UP) que lia um livro sobre lutas de classes na Grécia Antiga. O senhor lendo e entregando seus panfletos se tratava de Roberto Kreimerman, ex-Ministro da Indústria, Energia e Mineração do governo de Pepe Mujica entre 2010 e 2015. Ele deixou a Frente Ampla para se incorporar a UP e encabeçar o partido Assembleia Popular ao Parlamento.
Nos juntamos a ele para conversar por uns instantes ainda pela tarde, antes do encerramento das votações às 19h30. O encontro casual é representativo, nos fez sentir a relação estreita entre as políticas e políticos de esquerda e as comunidades votantes, assim como as fotos de Pepe Mujica e sua companheira Lucía Topolanksky, panfletando e conversando com as pessoas no parque público, disseminadas amplamente nos Whatsapps da geral aqui no Uruguai.
Cruzando pela capital, encontramos dezenas de militantes e candidatos/as da Frente Ampla e da Unidade Popular em tendas, que aproveitavam os últimos momentos para conversar diretamente com a população que participou massivamente dessas eleições decisivas para o país e a América Latina em um contexto onde a agenda progressista, com avanços nas liberdades individuais e coletivas no Uruguai, conquistados nos últimos quinze anos governados pela Frente Ampla, está ameaçada pelo avanço da direita e extrema-direita que já começam a anunciar as coligações para o segundo turno, que ocorrerá no dia 24 de novembro.
O primeiro turno foi encerrado com Daniel Martinez, candidato presidencial da Frente Ampla, em primeiro lugar com 39,2% votos e Luis Lacalle Pou, candidato do Partido Nacional com 28,6% dos votos. A coligação de esquerda UP teve como candidato a presidente Gonzalo Abella e vice-presidente Gustavo López. A chapa recebeu o equivalente a 0,8% do total dos votos. Nenhum senador da UP foi eleito.
Integrantes da Unidade Popular se consideram marxistas, anti-imperialistas e antioligárquicos. Roberto Kreimerman tinha clareza de que o seu partido não venceria o pleito presidencial e trabalhava para alcançar cadeiras no parlamento. “Nós somos um partido pequeno com a intenção de crescer no futuro, por isso a aposta nessas eleições”, nos explicou.
O ex-ministro não nos antecipou o posicionamento da UP em relação a possíveis coligações no segundo turno, que já era previsto, por conta da lei eleitoral que proíbe manifestações políticas ostensivas no dia das eleições e também em respeito ao princípio do partido, que alia diferentes correntes. Mas reforçou que para o partido “a democracia é um valor fundamental”. Grupos da extrema-direita, assim como no Brasil, levantam bandeiras com ideais antidemocráticos fascistas.
“Nós [Unidade Popular] temos como ponto básico os trabalhadores porque são a parte majoritária mais vulnerável da sociedade. Com isso o nosso enfoque é melhorar as suas perspectivas”, disse Roberto Kreimerman. Na entrevista ele abordou essencialmente aspectos econômicos para nos responder sobre as questões sociais que permeiam a América Latina.
Jornalistas Livres: Pode nos falar um pouco sobre a Unidade Popular?
Nós somos um partido que já existe há algum tempo, ao qual eu aderi recentemente, e que está basicamente composto por uma série de grupos que possuem uma plataforma comum para trabalharem. Nesse sentido, é um grupo pequeno com intenções de trabalhar fundamentalmente a favor dos trabalhadores.
JL: Caso as eleições do dia de hoje passem para o segundo turno, há alguma perspectiva de alinhamento?
Hoje é dia de eleições e os resultados serão definidos em breve. Em função disso, assim que saírem os resultados, nós iniciaremos as discussões entre grupos distintos que compõem a Unidade Popular para falarmos sobre um possível alinhamento.
JL: Poderia falar um pouco sobre esse momento que a gente vive na América Latina de crescente conservadorismo como isso é visto a partir de uma perspectiva do Uruguai?
Nesse sentido, é necessário afirmar que a América Latina passou por um ciclo importante, reflexo da constituição de mundo, das grandes cadeias de valor que promoveram uma nova organização mundial de trabalho e tiveram também uma influência no preço das matérias-primas, com uma crescente desindustrialização em muitos dos países da América Latina, além de uma concentração de produtos primários, de produtos de baixo valor agregado. Então, vemos mudanças políticas significativas de um lado e, em outro sentido, grandes insatisfações populares na região. O sistema de produção mundial está nos deixando como produtores de bens de baixo valor de mão de obra e de recursos naturais. Ambas as coisas são absolutamente inconvenientes ao nosso futuro e isso é um pouco do que estamos vendo como consequência em muitos dos países.
JL: Como você vê os protestos populares populares no Chile?
Em primeiro lugar, o que nós vemos são vários efeitos positivos e negativos. É evidente que o que me referia anteriormente se vê muito no Chile, porque é um país que tomou fortemente esse processo como política econômica. Outros países da América Latina também assumiram, como já dizia, uma política baseada na exportação de bens primários, com altíssima porcentagem de exportações dependendo desse tipo de produto. Já em seu processo histórico, não realizaram um processo de industrialização ou um processo de desenvolvimento importante, o que conservou uma grande desigualdade. Então vemos, por um lado lamentável, a quantidade de pessoas mortas e a repressão que se instituiu em boa parte e, por outro lado, vemos que o povo do Chile saiu a protestar porque é uma situação muito negativa para os trabalhadores. Desigualdade altíssima, crescente desemprego, custo de vida elevado e o que isso está mostrando amplamente é que o que eu mencionava anteriormente: a estrutura de produção que se apropria desses benefícios, um tema grave para que os povos possam se desenvolver.
JL: Temas como o aumento do custo de vida e falhas na segurança pública estão sendo muito comentados nessas eleições. Os partidos de direita e conservadores estão propondo algumas reformas na segurança que envolvem militarização do Uruguai. Qual é o projeto da UP para que possam melhorar essa questão?
Hoje, o dia das eleições, é um dia em que não posso falar sobre os aspectos políticos do Uruguai por conta da lei eleitoral. Por sorte, por costume dos uruguaios, estamos desenvolvendo esse dia de forma muito natural, comum e com muita participação, mas hoje não podemos falar sobre aspectos políticos. Hoje corresponde a um dia em que a gente se expresse apenas colocando o nosso voto e aguardando pelo resultado.
Por Joana Zanotto e Isabella Fiuza, enviadas dos Jornalistas Livres em Montevidéu
O domingo de eleições (27/10) presidenciais e legislativas amanheceu cinzento em Montevidéu. Apesar do momento crucial para a política do país, as ruas se conservaram tranquilas durante todo o dia, com a presença massiva de eleitoras e eleitores. Observamos muitas pessoas idosas e com necessidades especiais indo votar. Os mercados são proibidos de vender bebidas alcoólicas por 24 horas até o fim da eleição.
Ativistas e eleitoras/es da esquerda começaram a se reunir para os festejos, perto do encerramento das votações às 19h30, na avenida principal 18 de Julio, que corta a capital ao longo de sua extensão, e que no final da noite se encheu de gentes, mesmo diante da alta probabilidade de segundo turno, previsto para o dia 24 de novembro.
Encontramos com diversos militantes da Frente Ampla durante o dia, distribuindo folhetos e bandeiras em tendas pela capital.
Logo cedo na primeira hora da votação, que teve início às 8h, o simpático e popular ex-presidente José Pepe Mujica (2010-2015) votou. Aos 84 anos, ele disputa uma vaga ao Senado. Assim como sua companheira, a atual vice-presidenta no governo de Tabaré Vázquez, Lucía Topolansky, aos 74 anos. Ambos da coligação progressista Frente Ampla lutaram contra a ditadura militar no Uruguai, que perdurou entre 1973 e1985.
O candidato a presidente pela Frente Ampla, Daniel Martínez, chegou cerca de 11h30 ao seu colégio eleitoral, na Faculdade de Administração e Ciências Sociais, no Bairro Pocitos, em Montevidéu, onde permaneceu na fila por uma hora até votar conversando com jornalistas. Em entrevista para Jornalistas Livres, disse que pretende, caso eleito, formar entre os países latino-americanos “uma verdadeira integração” visando fortalecer e sustentar um lugar muito mais digno no mundo. “Foi a luta dos que sonharam uma América Latina independente e também muito mais integrada.” Martínez fez referência ao herói libertário uruguaio José Artigas.
É grande a expectativa no processo eleitoral do Uruguai perante a convulsão política que vive a América Latina neste momento, na sua maioria colapsada em crises econômicas e sociais geradas pela agenda neoliberal, que é defendida pelos candidatos de direita no Uruguai, inclusive Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional. O candidato deve se aliar aos demais partidos de direita/conservadores no segundo turno, o que deixa em alerta os setores progressistas. Ainda mais que um dos candidatos nesse bolo, Manini, do partido Cabildo Abierto, fundado neste ano, se promove com discursos fascistas semelhantes aos que elegeram Bolsonaro no Brasil, com forte ênfase na segurança pública. Nas televisões uruguaias os políticos de direita já anunciam as possíveis coligações pela candidatura de Lacalle.
Os dois partidos principais de direita, Colorado e Branco, sempre rivalizaram entre si, mantendo-se por quase duzentos anos no poder. A possível aliança entre os dois partidos é uma tentativa de disputa com a coligação de esquerda.
São quinze anos e três mandatos da Frente Ampla à frente da presidência. O país conquistou importantes avanços nas liberdades individuais e coletivas durante esse período, como a descriminalização do aborto em qualquer circunstância e a liberação da venda e cultivo da maconha. Em 2018, o Parlamento de maioria frenteamplista aprovou lei para proteção da população transgênero.
A eleitora Giselle Marchesi falou em entrevista para a reportagem que nesses quinze anos se conquistou “igualdade de direitos para as mulheres, trans, gays e pessoas com deficiência. Eles [a Frente Ampla] fizeram muito e uma troca de governo a essa altura seria voltar pra trás.”
Junto aos avanços, o país enfrenta desafios como o alto custo de vida. A direita conservadora superexplorou o tema da segurança pública para impulsionar a sua campanha.
Uma proposta da direita de reforma à segurança pública para militarizar as polícias também foi votada neste domingo. A reforma foi rejeitada pela maioria dos eleitores nas urnas, mas ainda assim chegou a receber 47% de adesão.
O eleitor Javier Torres, que trabalha em uma empresa de ônibus e há dois anos também como motorista de Uber, conta que vota em Lacalle porque considera que “algumas coisas precisam mudar.” Ao mesmo tempo, ele considera que “não gostaria de militares nas ruas.”
Pepe Mujica fez uma declaração no final do ano passado, em Los Angeles, nos Estados Unidos dizendo que se conseguiu no país “até certo ponto, ajudar essa gente [pobres] a se tornarem bons consumidores; mas não conseguimos transformá-los em cidadãos”. A autocrítica de Mujica ganhou bastante repercussão internacional. O ex-presidente, com seu jeito simples e repleto de dignidade, passou o sábado na praça junto a vice-presidenta Polansky conversando com passantes em campanha para a Frente Ampla.
Os resultados preliminares das eleições indicam o segundo turno entre Daniel Martínez e Lacalle Pou.
Uruguaios vivendo fora do país viajam para votar
São mais de 7 mil colégios eleitorais em todo o Uruguai; 6.314 em áreas urbanas e 808 em áreas rurais. A população é de 3,4 milhões de pessoas.
Uruguaios que vivem fora do país se organizaram para viajar nas eleições. O Uruguai é um dos únicos países que não possui o direito a voto consular e, portanto, os cidadãos não podem votar desde outros países.
Do Brasil saíram ônibus de Santa Maria (RS), Caxias (RS), Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC). A reportagem acompanhou a caravana das eleitoras e eleitores da Frente Ampla que partiram de Floripa rumo a Montevidéu. Durante as 20 horas de trajeto muita música e animação entreteve as 46 pessoas no ônibus fretado.
Integrou a caravana o professor de história Luis Hector, preso político e torturado pelo regime militar do Uruguai quando tinha 19 anos. Ele vive no Brasil desde que foi solto e sempre viaja para votar. Nessas eleições, Luis saiu do Rio de Janeiro de ônibus para se juntar à caravana e ir até o seu colégio eleitoral. Questionado sobre seu esforço para participar das eleições, afirmou convicto: “nós temos que ganhar. A esquerda não pode perder, ainda mais agora, no contexto em que a América Latina se encontra. O Chile está provando que a representatividade da direita está falida.”
Chegada da caravana de Florianópolis em Montevidéu na noite de sábado (26)
Há duas semanas das eleições presidenciais, imigrantes uruguaios recebem solidariedade brasileira para votar no país de origem
Depois de se livrar do atraso de uma das ditaduras militares mais atrozes do continente e de se tornar um modelo de reconstrução democrática, o Uruguai está em risco outra vez. As conquistas populares e os direitos sociais são os mais ameaçados pelo avanço da direita. Mas o alerta já soou em toda a América Latina, sobretudo no Sul do Brasil. Há duas semanas da eleição, as forças progressistas se mobilizam para angariar fundos e ajudar os imigrantes uruguaios espalhados pelo mundo a chegarem ao seu país de origem no dia do pleito presidencial, em 27 de outubro. O espírito da solidariedade latino-americana desperta principalmente os hermanos vizinhos da Argentina e Brasil, que não querem ver o Uruguai repetir a dolorosa experiência de retorno a um governo neofascista ou ultraliberal, como os de Bolsonaro e de Macri, cujos retrocessos podem significar um caminho sem volta.
Criação da Frente Ampla de Florianópolis, inspirada na experiência do Uruguai
Sem a possibilidade de participar do pleito votando no consulado ou por carta nos países onde residem, grande parte dos 300 mil uruguaios espalhados pelo mundo precisa de apoio financeiro para comparecer ao primeiro turno das eleições. Em Santa Catarina, região de fronteira, onde vivem aproximadamente 1.500 uruguaios, a mobilização para ampliar a vantagem do candidato da Frente Ampla do Uruguai, Daniel Martinez, assume um protagonismo nacional. Além de realizar festas para arrecadar recursos que serão todos aplicados no custeio do transporte de ônibus dos eleitores, as forças de resistência à onda conservadora abriram uma conta para depósitos com essa finalidade (203064-0, Banco do Brasil, agência 5255-8, em nome de Nelba Luz Moreno). Participam dessas iniciativas, sindicatos, partidos políticos e entidades ligadas à resistência latino-americana e a própria extensão da Frente Ampla em Florianópolis, para a qual todo voto pode fazer diferença nessa disputa decisiva não só para o Uruguai, mas para as lutas populares de todos os continentes.
A iniciativa mais promissora ocorre neste sábado, 12/10, Dia da Resistência Indígena, quando os apoiadores da Frente Ampla promovem a Festa América. Com a perspectiva de reunir 300 pessoas, a festa pretende arrecadar recursos para levar o maior número possível de uruguaios residentes em Santa Catarina às eleições. O evento ocorre das 12 às 22 horas, na famosa Associação Baiacu de Alguém, no Norte de Florianópolis, que realiza o carnaval mais autêntico e prestigiado da Ilha, em Santo Antônio de Lisboa, comunidade praieira de tradição açoriana. Os recursos até agora arrecadados são suficientes para contratar apenas um ônibus, conforme Ricardo Botana, da Frente Ampla do Uruguai em Floripa. Artista plástico e designer gráfico radicado na Ilha há 17 anos, Botana expõe na festa suas lâminas políticas, pinturas em nanquim com retratos e frases de Pepe Mujica, Lula, Eduardo Galeano, entre vários outros ícones da resistência internacional.
O Baiacú de Alguém vai animar a Festa América desde o meio-dia, com música latino-americana, incluindo candombe (corda de tambores) e outros ritmos como blues, rock, samba brasileiro. Gastronomia típica, com o churrasco choripan e cerveja integram o cardápio de atrações. Organizada pelo produtor cultural Nelson Brum Mota, a festa quer despertar o compromisso político apostando em uma confraternização de cunho artístico entre brasileiros e uruguaios. “Queremos criar um clima de fraternidade e incentivar as pessoas que não puderem comparecer ao evento a contribuírem com o que puderem depositar na conta em favor da democracia e dos direitos sociais no Uruguai”, enfatiza Mota.
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Em Porto Alegre, outra caravana formada por ônibus e carros de transporte coletivo e ainda de caronas solidárias está sendo organizada, com saída no dia 25 de outubro e retorno no dia 27. O objetivo é o mesmo: ajudar os uruguaios gaúchos progressistas a cumprirem a tarefa cívica de deter o avanço da direita no país. Na fronteira argentina, peronistas e outros camaradas também se agilizam para apoiar os uruguaios a comparecerem às urnas.
Pintura a nanquim do uruguaio Ricardo Botana
Muitos uruguaios migraram para o Brasil e para outros países da América Latina e da Europa durante as ditaduras sanguinárias que se revezaram no poder durante os anos 70 e 80 (1973-1984), sacrificando, sobretudo, os rebeldes do grupo Tupamaro, do qual fazia parte José Mujica. Após sucessivos governos tiranos, corruptos e entreguistas, marcados pela tortura, prisão, assassinato e desaparecimento de opositores, o Uruguai teve um longo processo de redemocratização que durou 20 anos. Só então, com a vitória da Frente Amplio nas eleições de 2004, seguiu-se o período mais pródigo de conquistas sociais, distribuição de renda e desenvolvimento cultural e econômico . A formação de esquerda e centro-esquerda assumiu o governo federal em três mandatos sucessivos: Tabaré Vásquez, de 2005 a 2010, foi sucedido pelo popularíssimo Pepe Mujica, de 2010 a 2015, e retornou para cumprir o mandato atual que se finda ao final deste ano.
Daniel Martinez, do Partido Socialista, que foi prefeito de Montevidéu, está perigosamente embolado com o candidato do Partido Nacional, Louis Lacalle Pou, que encabeça uma coalizão conservadora integrada por setores da ultradireita. Político de vida obscura, cuja fortuna milionária nunca foi explicada, e sem nenhuma experiência como dirigente público, Lacalle é investido pelo neoliberalismo da missão de cumprir a cartilha de arrocho do FMI, e está pronto para repetir o resultado desastroso de Macri, a ser amplamente reprovado nas eleições da Argentina, que ocorrem no mesmo dia 27 de outubro. Projeto que sofre também uma reprovação antecipada no Equador insurgente, que ameaça o mandato do traidor Lenín Moreno no primeiro ano de governo.
Um protótipo local da Frente Ampla, inspirado e respaldado na experiência uruguaia, reforça essas ações de socorro à democracia do país de fronteira. Formado pelos partidos de esquerda (PT, PSoL, PCdoB, PDT, PCB, PCO, Rede e IC), esse projeto de unidade pelos ideais democráticos foi lançado em 10 de maio, na Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, com a presença do presidente da FA, Javier Miranda. Uma nova Unidade contra o Autoritarismo ganhou reforço em 4 de outubro, em seminário na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, com a presença de líderes nacionais, como Gleisi Hoffmann (PT),Vanessa Graziotin (PCdoB), Talíria Petrone (PSoL), Edmilson Costa (PCB) e Manoel Dias (PDT).
Agora é hora de ajudar os companheiros que deram exemplo de resistência e ensinaram o continente a tornar factível a utopia da unidade. Grande parte da juventude uruguaia, na faixa dos 30 anos, cresceu sob a égide dos governos da Frente Ampla, sem sentir na pele o terror dos 12 anos de ditadura. Esses jovens, potencialmente eleitores de esquerda, percebem os benefícios de viver num país com distribuição de renda e garantia de políticas públicas como um direito natural. Não naturalizam, contudo, a estagnação econômica internacional, nem o desgaste próprio de uma força que se mantém há 15 anos no governo, conforme a explicação do analista político Katu Arkonada, em La Jornada, periódico de esquerda mexicano. Precisam despertar para os perigos do retorno ao passado, antes que precisem experimentá-lo, como os brasileiros o fazem agora amargamente.
Martínez, da Frente e Lacalle Pou, do Partido Nacional
Frente Amplio do Uruguai
Mujica, tenta transferir sua popularidade para salvar conquistas
Ameaça de retrocesso despertou apoio em todas as áreas de fronteira
País destruído por ditaduras sanguinárias é exemplo de reconstrução democrática
AZARÃO BOLSONARISTA E TUCANO URUGUAIO PODEM DEFINIR UM SEGUNDO TURNO
Num cenário semelhante ao Brasil pré-eleitoral, Louis Lacalle Pou se associa à bancada evangélica reacionária e à mídia, que atua como um partido político fazendo campanha dirigida aos 30% da população menos politizada dos indecisos. A bolsonarização das eleições também marca a disputa nas redes sociais, que virou território livre para a disseminação de fake news contra os governos de esquerda. Nas primárias presidenciais realizadas em 1º de julho, Lacalle chegou a abrir grande vantagem sobre Daniel Martinez, com 41,6% contra 23,6%, quadro que foi se revertendo com a reação das esquerdas reunidas pela Frente Ampla.
Alimentando uma fachada de direita moderada, o candidato que ameaça o processo de transformação iniciado em 2015 já acenou para uma perigosa aliança com o candidato extremista Guido Manini Ríos. Estagnado em 12% nas pesquisas, Manini é considerado uma versão de Bolsonaro, por quem declara forte admiração. Mesmo fora do páreo, o militar que defende os torturadores pode ser um azarão, se transferir seus votos para o candidato do Partido Nacional num mais que provável segundo turno entre Lacalle e Matínez.
Conforme as pesquisas divulgadas em 29 de setembro, no primeiro turno, a Frente Ampla vence em todas as pesquisas, com 30%, apenas 4 a 7 pontos de vantagem em cima do segundo colocado do Partido Nacional. Pesquisas mais recentes apontam uma vantagem entre 41% e 39% para Martínez, contra 23% de Lacalle. O perigo, contudo, mora no segundo turno, que deve ocorrer em novembro, uma vez que nenhuma agremiação superará os 50% da soma dos outros candidatos. Nesse caso, herdando os votos de Manini, somados aos de Ernesto Talvi, do Partido Colorado (uma versão uruguaia do PSDB), que tem cerca de 15% nas pesquisas, Lacalle poderia vencer com certa folga no bloco de direita rumo ao retrocesso.
A ameaça da onda conservadora no Uruguai sensibiliza particularmente a resistência internacional pela história de sofrimento político atravessado por seu povo, admirado pelo alto nível de politização e coragem no enfrentamento da ditadura. O carisma conquistado após a ascensão da Frente Ampla (Frente Amplio), especialmente com a eleição de Pepe Mujica em 2004, chegou a produzir um movimento migratório contrário. Até então era considerado o refúgio dos democratas que deixaram países como Argentina, Colômbia, Paraguai e mais recentemente o Brasil, após os golpes brancos que instalaram governos neofascistas ou neoliberais.
URUGUAI, ÀS VÉSPERAS DE DECIDIR UM FUTURO QUE PODE REPETIR O PASSADO
Muitos compatriotas que deixaram o Uruguai há 20, 30, 40 anos, têm retornado na última década. Isso em função de que vem sendo o país da América Latina que melhor leva sua situação econômica e financeira na convulsionada região à que pertencemos. Em três períodos consecutivos de governo de esquerda, a Frente Amplio do Uruguai tem conseguido elevar o nível de vida da população, melhorar substancialmente a economia e desenvolver políticas sociais que têm beneficiado os setores mais vulneráveis da sociedade.
Por Ricardo Botana*
É importante lembrar que a Frente Amplia chega ao poder, no ano 2005, com o país numa das crises mais agudas da sua história. Décadas de governos de direita, tinham deixado o país, nos primeiros anos deste século, numa situação catastrófica; com altíssimo níveis de pobreza, desemprego e desigualdade social, a economia péssima, a dívida externa imensa em relação ao paupérrimo Produto Interno Bruto daqueles tempos sombrios.
A partir do 2005, tudo mudou. Foram 15 anos de crescimento econômico ininterrompido (dados reais da Cepal e de outros organismos internacionais como o Banco Mundial, entre outros) confirmam que o país vem percorrendo o caminho certo.
Basta comparar os indicadores sociais e econômicos mais importantes entre os anos 2004 e 2019: nesse período, a pobreza no Uruguai caiu de 38% em 2004 para 8,9% hoje. A indigência (pobreza extrema) passou de 6% para 0,7%. No âmbito social, as políticas de benefícios para a população e os setores mais vulneráveis têm sido fundamentais na redução do índice de pobreza, à condição do menor da América Latina.
O salário mínimo alcançou um recorde histórico de majoração em 15.600 pesos uruguaios, que equivalem a R$ 1.700,00. Há 15 anos consecutivos, o S.M. uruguaio e as aposentadorias crescem acima do índice de inflação. Para citar outros resultados de políticas públicas, o sistema de saúde vem sendo exemplo na América Latina. Com a criação do novo Fonasa (Fundo Nacional de Saúde), o governo popular implementou um sistema integrado de saúde, no qual a totalidade da população tem direitos ilimitados em todo o país para fazer uso dos hospitais que empregam hoje a melhor tecnologia disponível no mundo. Os medicamentos são distribuídos gratuitamente para a população.
Pintura a nanquim de Ricardo Botana
Na educação, as melhorias começam pela implementação do “Plan Ceibal”. que outorgou, de forma gratuita, a absolutamente todas as crianças das escolas do país, um computador individual para estudar na escola e em suas casas. Outro plano implementou tratamento gratuito para toda criança com problemas de visão, o que inclui o fornecimento de óculos quando necessários. A Frente Ampla colocou em funcionamento uma quantidade enorme de novos centros de estudo, em nível escolar e universitário e elevou substancialmente os orçamentos anuais da educação, mantendo-os e curva crescente.
São também inúmeras as conquistas obtidas nesses últimos 15 anos em relação aos direitos das mulheres e população LGBT+, como legalização do aborto; matrimonio igualitário; ley trans (Ley N° 19684, que tem como objetivo assegurar os direitos das personas trans). Na área comportamental, a legalização da venda e distribuição da cannabis tem sido apontada como um avanço no mundo todo. (https://www.cepal.org/pt-br/publicacoes/tipo/estudios-perspectivas-oficina-la-cepal-montevideo)
Enfim, um país que vem crescendo ininterruptamente nos últimos 15 anos, mas cujo crescimento vem relacionado com a redistribuição de renda. Trata-se de um diferencial definidor em relação a outras economias do continente que também crescem, mas não repartem os dividendos na sociedade. Isso porque, para os governos desses países, a acumulação de riquezas continua sendo o objetivo final de todo superávit. É o caso do Chile, onde o crescimento também tem sido favorável nos últimos anos, mas a desigualdade social continua muito alta, sem que haja políticas sociais para os setores vulneráveis.
Hoje, após o transcurso histórico que resumi aqui, o povo uruguaio está prestes a definir, na eleição nacional do dia 27 de outubro, o país que vai querer para os próximos anos. Este que temos, onde o crescimento, as melhoras e as conquistas de direitos têm sido permanentes, ou retroceder ao pais de princípios do século, onde governava a direita, que nos levou à miséria, às graves injustiças e à ausência de perspectiva de futuro.
Sabemos como a direita vem avançando na região, impulsionada sempre pelos planos estratégicos do império… E não é o Uruguai que vai escapar dessa situação. Como em outros países, os partidos da direita uruguaia orquestram falsidades, mentiras, valendo-se das mídias sociais e do apoio incondicional dos países sob a liderança dos Estados Unidos, que atuam para que os interesses estrangeiros sejam privilegiados. Esses países conspiram para que a Frente Amplio saia do poder e assim eles possam voltar à condução do Uruguai para integrá-lo aos países da região que tornaram a cair nas garras do liberalismo extremo.
Nós, da Frente Amplia de Uruguai em Florianópolis, estamos trabalhando para fazer nossa parte e colaborar com a imprescindível tarefa de conscientizar compatriotas, de mostrar o caminho certo e de juntar a maior quantidade de votantes para manter o governo de esquerda no nosso pais. Infelizmente no Uruguai ainda não temos “voto consular”: a gente pode votar, mesmo morando fora, mas só viajando e votando lá no país de origem. Nesse contexto é que estamos realizando uma campanha de arrecadação de fundo, com o único objetivo de conseguir levar a maior quantidade de compatriotas ao sufrágio presidencial.
Neste sábado, 12 de outubro (das 12h às 22 h), realizamos um evento que chamamos “Festa América”, na “Associação Baiacu de Alguém”, em Santo Antônio de Lisboa. Música, Candombe, Gastronomia, Cerveja e muita fraternidade latino-americana para receber o povo progressista da Grande Florianópolis e ter a possibilidade de conseguir os recursos necessários para custear os ônibus de compatriotas para votar no dia 27 deste mês.
Os esperamos a todos/as…
Arriba los que luchan!!!
* Artista plástico uruguaio radicado no Brasil
Frente Amplio em Florianópolis
Secretário da Associação dos Uruguaios de Florianópolis (Asurflo)