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  • Luiza Erundina e Paulo Freire, no coração de todos nós

    Luiza Erundina e Paulo Freire, no coração de todos nós

    Muita emoção e coisa boa, na homenagem a essa mulher guerreira que durante toda sua vida e por onde passa, espalha esperança, garra e energia. Luíza Erundina sempre pautou sua vida na luta e construção da UTOPIA de um mundo com justiça social, direitos sociais e dignidade para todos.
    Logo ao chegar na UNINOVE neste dia 26 de outubro encontramos uma exposição de fotos, jornais, trabalhos desenvolvidos pelas escolas na época de Luiz Erundina, em que com tanta criatividade e compromisso expressam o que se fez pela Educação Libertadora de Paulo Freire, no dia a dia da escola.

    Esta homenagem aos 30 anos da Gestão Municipal de Luiza Erundina à frente da Prefeitura de São Paulo, organizada pelo pessoal da rede municipal de ensino, com todo o suporte da Rádio Madalena, foi de grande sabedoria. Paulo Freire fez parte de sua equipe de governo e juntos assumiram o desafio de, para além da educação formal do sistema de ensino, mudar esta cidade, incluir a periferia no mapa e nas prioridades da cidade, fazer de São Paulo uma cidade educadora, acolhedora e digna para todos, especialmente os menos favorecidos que nunca tiveram direito a voz.
    Erundina montou uma equipe guerreira e da mais alta competência e compromisso: Paulo Singer, Paulo Freire, Marilena Chauí, Carlos Neder, Ermínia Maricato, Ladislau Dawbor, Nelson Machado, Amir Khair, Teresa Lajolo, Aldaíza Esposati, Delmar Mattes, João Carlos Alves, Rosalina Santa Cruz, Rui Alencar e tantos outros, mudaram a gestão, deixaram marcas profundas no jeito de administrar esta cidade.Tudo foi mexido, da infra estrutura urbana, como transporte, saneamento, asfalto, às políticas sociais de educação, saúde, cultura, esporte, assistência social, habitação; da ética e controle social da gestão por parte da população ao investimento em formação, compromisso com a gestão pública e valorização do servidor.

    Com Luíza Erundina, marco divisor na forma de gestão da Cidade

    Luíza Erundina pôs em prática uma concepção social da democracia participativa, democracia da escuta e democracia de direitos. Muitas sementes foram lançadas e frutificam, florescem até hoje. A integração entre as diversas secretarias, de todas as áreas de atuação, gestada na prática ena lida diária tinha o compromisso de conjuntamente desvendarem a cidade submersa, invisível, segregada nas periferias de São Paulo, em que grande parte da população estava à margem dos bens e serviços que a cidade oferece. Desvendar conjuntamente esta dura realidade, a complexidade dos problemas, os grandes desafios para a transformação de São Paulo numa cidade com direitos para todos se dava através de colegiados entre secretários de governo no Gabinete da prefeita, nas secretarias, nos equipamentos sociais com funcionários, pais, cidadãos usuários dos serviços públicos em todas as instâncias, em assembleias populares e através do orçamento participativo em todas as regiões. A prefeita de São Paulo, de 1989 a 1992, juntamente com Paulo Freire transformou nossa cidade numa verdadeira cidade educadora.Segundo Marilena Chauí, Secretária de Cultura na época, a equipe que compôs o governo Erundina tinha um farol, acreditava na UTOPIA de um mundo mais digno e justo para todos.

    Mario Sérgio Cortella destaca que “desde o golpe com a presidente Dilma em 2016, estamos à beira do buraco mas que a luta, a força e energia de todos não permitirá que a onda avassaladora de censura, as investidas neoliberais de perda de direitos nos domine. Na educação não permitiremos que a redução do currículo apenas voltado para atender ao mercado de trabalho, de mercantilização do ensino nos deixe quietos”.

    Sônia Kruppa reforça “a importância do diálogo e do enfrentamento a todos os desmontes das conquistas do direito à educação, garantidos na Constituição de 1988. Se as forças neoliberais estão aí, nós também estamos em cada escola, em todos os lugares. Tenho muito orgulho da nossa rede municipal de educação.”

    Daniel Cara, enfatiza que “As lutas que se travam hoje pela defesa do direito à educação, e em defesa do Plano Nacional de Educação por uma educação pública e de qualidade, são fundamentadas em conquistas que se deram na gestão de Luíza Erundina. Sua gestão demonstrou na prática de que isso é possível”.

    Selma Rocha chama atenção para “o grande processo de formação e transformação dos professores que se iniciou,o movimento de reorientação curricular, o Mova, a política de educação de jovens e adultos. Experiências que se criaram na base, foram e se constituem em referência para grande parte das políticas educacionais mais ousadas que permanecem até hoje como ponto de partida para os desafios da educação calcada na filosofia de Paulo Freire, nos direitos humanos e que prepara o cidadão para a vida. Hoje a nível nacional, gestões que tentam implantar sistemas de grandes corporações na educação, não conseguiram acabar com estas diretrizes que foram implantadas.Em cada quebrada, em cada escola, continuamos nas trincheiras de luta que não vão parar por aqui. Lutaremos até o fim para que a escola incorpore os quilombolas, indígenas, negros e todos os segmentos que têm direito a uma educação gratuita e de qualidade para todos, sem distinção de classe, gênero ou raça.”

    Chico Alencar fez questão de cumprimentar todos “os educadores pela história que ajudaram a construir e pela homenagem a esta mulher guerreira que não fugiu à luta. Como prefeita da maior cidade do país, enfrentou todo tipo de preconceito, era mulher e nordestina! Sua gestão chegou ao Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e em muitas regiões do país. A visão de Paulo Freire vivida no cotidiano das escolas e a luta por uma educação de qualidade, perseguida por todos, é uma referência que não conseguiu ser destruída apesar de todos os ataques, o que as novas gerações têm que tomar como exemplo. Por isso Paulo Freire é atacado, referência de educação conscientizadora que prioriza o diálogo. Os alunos aprendem e também têm muito a ensinar ao professor. Vocês amassaram barro e participaram com a população de mutirões para melhorar a rua e a vida da comunidade. Acredito que este momento é passageiro, em 2017 não conseguiram tirar o título de “Patrono da Educação Brasileira de Paulo Freire”; em 2018 a gente conseguiu tirar da pauta do Congresso Nacional a Escola Sem Partido; em 2019 a gente aprendeu a trabalhar em silêncio. O que eles querem é a polêmica e a gente conseguiu ganhar, no dia do professor que a Escola sem partido não fosse aprovada no Espírito Santo e em diversas cidades do país. Eles tentam de todo jeito a privatização da educação no país, mas passo a passo, a luta de vocês, da Luíza Erundina e de todas as forças de resistência da sociedade será vitoriosa com os novos ventos das “Veias Abertas da América Latina”. Em 2020 a extrema direita começará a ser derrotada e a vitória se dará pela luta popular.”

    Marilena Chauí reforçou que “esse horror implacável da sociedade faz nascer o pensamento, a UTOPIA como desejo de uma sociedade inteiramente outra, de uma sociedade de negação ponto por ponto da sociedade existente. Essa ideia de uma sociedade de justiça, de fraternidade, de solidariedade, de compreensão, de pensamento, de criação da imaginação da fantasia. A UTOPIA parte desse sentimento do presente insuportável e inaceitável que pensa não num programa de ação mas num projeto de futuro no qual poderão surgir programas de ação. É nisso que Erundina acredita, que provou que é possível, é isso que nos permitirá não cair no abismo, não saltar, mas enterrá-lo.”

    Mulher guerreira nos chama para o hoje

    Luiza Erundina guerreira nos chama para o hoje, “temos que ter muita coragem e determinação para que aquilo que a gente viveu em nossa cidade nos quatro anos de governo, para que a gente leve para o nosso país hoje. Neste período vivemos aquilo que Hannah Arendt dizia, a política é uma ação de sujeitos coletivos. Eu não faria nada sozinha, sozinho não se vai a lugar nenhum. São trinta anos de uma experiência, fraterna, solidária, comunitária. Por isso estamos muito felizes, tínhamos um sonho grande e o sonho não morre, não envelhece, o sonho marca uma vida. Estamos felizes apesar do abismo que estamos vivendo, o sonho continua. O governo não terminou, deu pra ver pelas falas, pelos testemunhos. Quero sair daqui com a certeza de que tudo que nos moveu, que nos deu alegria de viver não terminou. Esperamos que não demore a acontecer um basta popular como no Chile em que milhões tomaram a rua lutando pela democracia da sociedade. Espero que vocês, educadores, ativistas pelos direitos humanos, sejam socialistas. Não vamos esperar que o povo se organize, que partidos tomem a iniciativa. O socialismo se antecipa na forma de viver, na forma de se relacionar com os outros, de maneira solidária e generosa, rompendo com que é o mal maior da humanidade que é o capitalismo. Isso é uma tarefa gigantesca que se cumpre no dia a dia, em cada enfrentamento que tivermos que fazer. Neste tempo aqui me emocionei, pensei na minha trajetória , na minha saída da Paraíba sem querer sair. Cheguei em São Paulo e achei que tinha deixado a luta para trás. Entrei na Prefeitura como Assistente Social, fui trabalhar em cortiços e em favelas e aqui eu me encontrei e percebi que a luta pela terra não estava só lá, que a reforma agrária era lá mas que a luta pela reforma urbana era aqui. Vi que a luta não era só lá, era no campo e era na cidade que deveria ter moradia digna para todo cidadão. Lembrei-me quando me encontrei com Paulo Freire lá na Paraíba, através de seus livros e filosofia, no trabalho com os camponeses, quando jovem, lutando para a alfabetização conscientizadora dos trabalhadores do campo. Era época da ditadura, tivemos que enterrar retroprojetores. Em São Paulo , quando dei aula em uma faculdade, me encontrei com Paulo Freire voltando do exílio e com ele tive um grande aprendizado. Não reclamou do exílio, valorizou a sua volta e reforçou a saudade de seu povo, de sua comida nordestina, dos costumes e modo de ser de seu povo.

    Não podemos nos prender ao passado e querer permitir que ele volte, mas pensar no passado agora no presente para pensar no futuro. É por isso que eu continuo contando os anos pela frente para ver quanto ainda Deus e a história me reservam. O povo é capaz de fazer a mudança necessária, dar a virada do jogo, negar tudo aquilo que está acontecendo de crueldade com nosso povo. Vocês verão os efeitos nefastos do que essa previdência acarretará para a vida dos aposentados, o que essa reforma trabalhista vai fazer com os trabalhadores.
    O povo precisa ser estimulado pra enfrentar tudo isso, não há espontaneidade para enfrentar um regime de força, ela é muito dura e pesada e lamentavelmente nossos partidos não estão hoje com a condição de ir à frente, carregando o povo juntos, para fazer a mudança. Então cabe a vocês educadores que estão mais próximos do povo, acordar esse povo para sua força, o seu poder, para os seus direitos e pela determinação de lutar por seus direitos”
    .

    A Esperança é Revolucionária

    Assim foi que, não foi à toa que cerca de 500 pessoas predominantemente da educação foram à Uninove, tão bem recebidos pelo diretor Romão, celebrar este momento.

    O passado nos une, reforça os laços, nos torna mais fortes para seguir na luta. Os desafios são muitos, esta conjuntura de tantos desatinos, perda de direitos, de tentativa de venda do patrimônio público, de políticas de privatização da gestão da cidade, de segregação dos excluídos, de desvirtuamento da gestão pública, de favorecimento de grupos econômicos e da especulação imobiliária em detrimento do povo mais pobre que depende dos serviços públicos para a sua sobrevivência, não pode nos paralisar.
    Todo esse pessoal que participou do evento, educadores ainda atuantes na rede ou não, professores universitários, lutadores da “Campanha pelo Direito à Educação”, Coletivos “Linhas de Sampa” e “Flores pela Democracia”, “Rádio Madalena”, “Jornalistas Livres”, militantes das diversas áreas, políticos, foram chamados a viver e tornar realidade em seu a dia a dia, a luta pela UTOPIA, uma possibilidade histórica da qual cada um de nós não pode fugir.
    Grande exemplo Luíza Erundina nos deu “O desânimo é conservador, é atrasado e é paralisante. É preciso estimular o povo a se organizar e lutar! A esperança é revolucionária.”
    Paulo Freire vive em cada um de nós na responsabilidade pela educação libertadora de nosso povo.
    Vamos à luta!
    Vamos prá rua!

  • Entidades repudiam agressão a professora em Mato Grosso

    Entidades repudiam agressão a professora em Mato Grosso

    A truculência da direita se manifestou novamente nesse final de semana contra uma docente em Mato Grosso. Na antevéspera do dia dos professores, a Profa Lisanil Conceição Patrocínio Pereira, que leciona há 15 anos na Universidade Estadual de Mato Grosso – UNEMAT e já foi diretora de campus, subiu ao palco de uma igreja católica na cidade de Campos Júlio, interior do estado, para protestar contra a falta de música regional no bingo que ocorria no espaço. Militante histórica da esquerda no estado, Lisanil vestia uma camiseta com as inscrições Lute como uma Garota e Lula Livre. Incomodado pela manifestação, ainda que pacífica, o pároco local, conhecido como Frei Sojinha por seu apoio aos grandes produtores de soja da região, chamou a polícia que a tirou à força do local e a obrigou a dormir na cadeia. Nos dias seguintes, as principais entidades representativas dos professores de nível superior em Mato Grosso lançaram notas de apoio à docente e em repúdio à ação violenta das autoridades. Veja a seguir as duas notas na íntegra, com a descrição pormenorizada das ações tanto da docente como das forças policiais.


     

    NESTE DIA D@S PROFESSOR@S, EXIGIMOS RESPEITO!
    EM DEFESA DA PROFESSORA LISANIL C. PATROCÍNIO.
    A Associação dos Docentes da Universidade do Estado de Mato Grosso – ADUNEMAT, Seção Sindical-SN, vem a público prestar apoio e solidariedade à professora Dra. Lisanil Conceição Patrocínio Pereira, professora da UNEMAT há mais de 15 anos, lotada no Campus de Juara.  E, no mesmo ato, repudiar a truculência de policiais, populares e o pároco da igreja católica de Campos de Júlio, conhecido como Frei Sojinha.
    No último domingo (13), a professora foi vítima da mais absurda violência física e moral, caracterizando violação de sua dignidade humana enquanto docente do ensino superior, trabalhadora, mãe, chefe de família.
    Lisanil encontrava-se no município de Campus de Júlio, onde ministrava aulas na turma especial de Direito da UNEMAT, desde o dia 06 de outubro. Já em sua chegada para ministrar as aulas de economia política, foi recepcionada por estudantes que pesquisaram sua vida pelo facebook e, apresentaram animosidade em razão de sua orientação política de esquerda, conforme relatos de pessoas que conviveram com ela naquele curso.
    Vestida com uma camiseta “Lute como uma Garota” e na lateral “Lula Livre” e, sem opção de um restaurante para almoçar, a professora acreditou que poderia ir a uma festa da Igreja Católica, no salão paroquial, onde estava boa parte da sociedade católica do lugar. Entretanto, foi abordada de forma ostensiva pelos presentes que comentavam e a olhavam com estranheza e desdém pelas marcas de sua orientação política, estampada na camiseta.
    À certa altura da festa, a professora Lisanil subiu ao palco, num impulso de reivindicar músicas mato-grossenses. Como incomodou os organizadores da festa, o pároco (conhecido como Frei Sojinha por sua relação preferencial com os grandes produtores de grãos), resolveu chamar a polícia para que tirasse a professora do palco. Imediatamente, quase uma dezena de homens apareceu para deter a professora e levá-la a força para fora daquele lugar.
    Com a truculência que é própria dos fascistas, a professora foi arrastada pelo palco e pela escada abaixo, ficando à mostra suas partes intimas. Deixada ao chão por um instante e, posteriormente, levada à delegacia algemada com mãos para trás do corpo.
    Como se debatia muito, revoltada com a situação, foi levada ao hospital onde injetaram tranquilizantes que a fizeram ficar sem condições de ser ouvida pela delegada, obrigando-a passar a noite numa cela onde a fossa séptica aberta estava ao lado o fino colchão onde iria dormir.
    Que crime a professora cometeu? Que periculosidade tinha uma mulher sozinha, desarmada e sem qualquer habilidade física para enfrentar os brutamontes que a atacaram? O que justificou tamanha violência senão o ódio às mulheres consideradas perigosas por serem autônomas e por terem posição política e a coragem de enfrentar um estado ainda patriarcal e violento?
    A violência inaceitável contra a professora Lisanil é um crime de ódio que envolve um dirigente da igreja católica que incitou tal brutalidade contra a professora e, agentes do Estado que deveriam protegê-la. Além disso, foi testemunhado por uma plateia onde havia pessoas delirantes, fiéis de uma igreja, seguidores de um Frei que de amor e empatia nada sabe. Gritavam palavras de baixo calão contra a professora e filmavam tudo enquanto se deliciavam aos risos, com o horror que produziam.
    A ADUNEMAT, sindicato ao qual a professora Lisanil é filiada desde que entrou para a UNEMAT, não se calará diante do fascismo crescente que avança no interior de Mato Grosso e em todo Brasil.  Essas pessoas desconhecem qualquer sombra de civilidade, de respeito à diversidade e, por isso, não conseguem compreender o sentido de uma Universidade, constituída de múltiplos olhares e sentidos, de visões políticas e de mundo, todas necessárias e merecedoras de respeito e convivência pacífica.  O risco que esses fascistas impõem à Universidade é sua destruição, pelo silenciamento, pela tentativa de destruir qualquer traço de autonomia de pensamento, de ideias, o ódio ao conhecimento e o elogio à ignorância e à brutalidade.
    Da parte da ADUNEMAT, demos e daremos todo respaldo à professora e, exigimos que a UNEMAT, nas suas instâncias assuma uma postura diante dos fatos que vem ocorrendo. Este é o terceiro caso de professor/a ameaçado/a,  agredido/a por sua posição política no interior de Mato Grosso. O ensino superior não pode se transformar num caso de polícia em Mato Grosso e, as instituições precisam atuar no sentido de coibirem práticas fascistas que querem não apenas intimidar como, também, aniquilar os corpos não docilizados dos/as professores/as.
    À professora Lisanil, não apenas nossa solidariedade neste dia dos professores, mas a nossa luta contínua em defesa da Universidade e do direito dos professores à liberdade de pensamento, de cátedra e de modos de vida que lhe permitam exercer com amorosidade a profissão que escolheram.  Que não permitamos que a crítica, base do trabalho intelectual, seja criminalizada por aqueles que cultivam o ódio e a ignorância.
    Contem com a ADUNEMAT, nossa força e nossa voz.
    Basta de violência, basta de opressão!
    Que neste dia dos professores e das professoras, tenhamos ainda mais força para continuarmos a luta em defesa da educação.
           A DIRETORIA DA ADUNEMAT
                       Cáceres, 15 de outubro de 2019.
    _______________________________________
    NOTA EM DEFESA DA PROFESSORA LISANIL C. PATROCÍNIO
    A Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmat-Ssind) vem, por meio desta, manifestar solidariedade à professora Lisanil C. Patrocínio, docente da UNEMAT há 15 anos, que foi brutalmente contida e presa por manifestar sua posição política em uma festa da Igreja Católica de Campos de Júlio.
    O sindicato manifesta, ainda, repúdio aos populares, policiais e ao pároco da Igreja de Campos de Júlio, conhecido como Frei Sojinha (devido a sua relação preferencial com os grandes produtores de grãos), pela truculência praticada contra a professora.
    No dia 13 de outubro a docente foi a uma festa da paróquia vestida com uma camiseta em que estava escrito “Lute como uma Garota” e na lateral havia a insígnia “Lula Livre”.
    A camiseta levou os presentes a hostilizarem a professora.
    A certa altura da festa, a professora Lisanil subiu ao palco para reivindicar músicas mato-grossenses. Como incomodou os organizadores, Frei Sojinha resolveu chamar a polícia.
    A partir do chamado do pároco, quase uma dezena de homens apareceu e, com a truculência que é própria dos fascistas, a professora foi arrastada pelo palco, escada abaixo, e levada à delegacia algemada com mãos para trás do corpo. Há vídeos fortes que retratam a terrível e absurda agressão à professora.
    Como se debatia muito, revoltada com a situação, Lisanil foi levada ao hospital onde injetaram tranquilizantes que a fizeram ficar sem condições de ser ouvida pela delegada, obrigando-a passar a noite numa cela. Ali, ao lado do fino colchão no qual a professora passou a noite, havia uma fossa séptica aberta.
    É inaceitável a postura do pároco, dos policiais e populares que cometeram contra a professora a mais absurda violência física e moral, caracterizando violação de direitos humanos, enquanto docente do ensino superior, trabalhadora e mulher. Nada justifica tanta agressividade.
    Entendemos que tal postura reflete o ódio machista às mulheres, consideradas perigosas por serem autônomas, por terem posição política e a coragem de enfrentar um Estado ainda patriarcal e violento.
    O episódio lamentável demonstra que, mais uma vez na história, o ódio fascista se alastra com maior facilidade entre aqueles que se dizem religiosos e “pessoas de bem”, já que a violência sofrida pela professora envolve um dirigente da igreja católica e foi testemunhada por uma plateia de fiéis da igreja que gritavam palavras de baixo calão contra a professora e filmavam tudo enquanto se deliciavam aos risos, com o horror da violência física e moral.
    A Adufmat-Ssind reitera sua posição ao lado dos defensores da democracia e dos direitos humanos e jamais se calará diante do fascismo crescente que avança no Brasil e no mundo!
    O ódio fascista é a antinomia da Universidade democrática, autônoma e popular que sonhamos construir. Esses fascistas impõem à Universidade a sua destruição, pelo silenciamento, pela tentativa de esfacelar qualquer traço de autonomia através do ódio ao conhecimento e do elogio à ignorância e à brutalidade.
    O sindicato reitera sua preocupação, pois o ensino superior não pode se transformar num caso de polícia em Mato Grosso. As instituições precisam atuar no sentido de coibirem práticas fascistas que tentam não apenas intimidar como, também, aniquilar os corpos não docilizados dos/as professores/as.
    O sindicato reitera também a solidariedade da categoria à professora Lisanil. A nossa luta continua em defesa da Universidade pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada, além do direito dos professores à liberdade de pensamento, de cátedra e de modos de vida!
           A Diretoria
    Cuiabá, 16 de outubro de 2019.

     

  • PAULO FREIRE ERA DE ESQUERDA

    PAULO FREIRE ERA DE ESQUERDA

     

    ARTIGO

    ALEXANDRE SANTOS DE MORAES, professor do Instituto de História da Universidade Federal Fluminense

     

    O governo Bolsonaro é ambicioso na escolha de seus inimigos. Arriscaria dizer que é culpa da inocência, mas não posso negar a ignorância ou a absoluta falta de opção. Prova disso foi ter escolhido Paulo Freire como adversário. Os ataques são compreensíveis e coerentes, já que o Patrono da Educação Brasileira foi o perfeito oposto de tudo aquilo que eles são ou poderão ser: inteligente, trabalhador, humanista e mundialmente prestigiado. Não menos importante, Paulo Freire foi de esquerda e sempre defendeu a democracia. Essas duas variáveis não são acidentes do destino ou feliz coincidência pra quem luta contra o autoritarismo e a ganância, mas o alicerce de toda sua genialidade. Nesse 15 de outubro, dia das Professoras e Professores, é fundamental recordá-lo como homenagem e como símbolo de luta contra o atraso.

                Ao longo de sua vida, Paulo Freire escreveu dezenas de livros e artigos. Trata-se do intelectual brasileiro mais lido e conhecido da história. Sua principal obra, a Pedagogia do Oprimido, é a terceira mais citada nas Ciências Humanas do mundo, superando clássicos como Vigiar e Punir, de Michel Foucault, e O Capital, de Karl Marx. A inteligência de Freire rendeu inúmeras homenagens e prêmios no Brasil, Europa, África e Estados Unidos: foram pelo menos 35 títulos de Doutor Honoris Causa ao longo de sua vida ou in memoriam. Foi filiado ao Partido dos Trabalhadores e atuou como Secretário de Educação de Luíza Erundina durante seu mandato na Prefeitura de São Paulo (1989-1991). Dedicou-se, sobretudo, à alfabetização, sempre atento à necessidade de ensinar a ler não só a língua, mas também o mundo. Além de refletir a respeito, Freire praticou a Educação, pois a prática é o critério da verdade. 

                A paranoia obscurantista que tenta a todo custo demonizar seu legado intelectual só pode ser explicada pelos seus próprios textos. Contra o ódio daqueles que defendem, por exemplo, o projeto Escola sem Partido, Paulo Freire responde que ensinar exige respeito à liberdade do ser do educando: “O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros”. Contra a lógica cada vez mais perniciosa de uma educação técnica, voltada exclusivamente para a formação de mão de obra, Freire defendia uma pedagogia humanista, que ensinasse não apenas conteúdos, mas a pensar o lugar que cada um de nós ocupa no mundo: “Percebe-se, assim, a importância do papel do educador, o mérito da paz com que viva a certeza de que faz parte de sua tarefa docente não apenas ensinar os conteúdos mas também ensinar a pensar certo”.

                Contra o que chamava de “educação bancária”, que sepulta a criatividade de educandos e educadores, Paulo Freire defendia a necessidade de manter vivo nos estudantes o gosto da rebeldia, que aguça a curiosidade e estimula a capacidade de se arriscar e se aventurar.

                Outra grande lição de Paulo Freire, seguida por milhares de profissionais do magistério hoje homenageados, é que a Educação não é um processo unilateral, verticalizado, ao gosto daquilo que militares gostariam de ver em escolas militarizadas. Ensinar e aprender são anverso e reverso da mesma moeda: aprendemos enquanto ensinamos e ensinamos enquanto aprendemos. Os estudantes não são, na pedagogia de Freire, objetos passivos que devem se subordinar com disciplina aos professores e ao mundo. Mas, sobretudo, Freire sempre defendeu uma educação popular, emancipadora, que fosse capaz de libertar simultaneamente o oprimido e o opressor, capaz de recuperar a liberdade deles roubada e a humanidade que um mundo centrado na lógica da acumulação e na manutenção das desigualdades insiste em recusar. Por isso Paulo Freire foi de esquerda, como todos aqueles que prezam pela autonomia e que lutam contra as opressões.

                Vê-se com clareza a inocente ambição de Bolsonaro e seus ministros da Educação. Em breve, eles passarão. O futuro lhes reserva apenas a nota de rodapé da História. Paulo Freire, por sua vez, continuará gigante, imenso, com o prestígio intocado, e todos os ataques que sofre serão apenas mais um dado que enobrece sua já extensa biografia. O mesmo vale para nós, professores e professoras que seguimos conscientes da necessidade de educar para a liberdade e democracia, contra tudo e contra todos, sempre amparados no imperativo ético que nos fez escolher e permanecer nessa profissão cada vez mais difícil.

     

  • A PEDAGOGIA DO MEDO: escola militarizada no DF

    A PEDAGOGIA DO MEDO: escola militarizada no DF

     Por Dioclécio Luz

    Na primeira semana de agosto de 2019, duas escolas públicas do Distrito Federal (DF), decidiram em assembleia que não queriam se converter numa escola militarizada como pretendia o governo. Irritado com a decisão da comunidade escolar – pais, alunos, professores, servidores –  o governador Ibaneis Rocha deu a entender que iria implantar as EM na marra, e pretendia começar “justamente pelas escolas que rejeitaram o modelo”, disse à imprensa.

    A reação de Ibaneis simboliza o caráter dessa pretensa escola. O que se tem aqui é o autoritarismo tornado pedagogia, é o medo feito disciplina; a educação teve fim, a democracia foi substituída pelo autoritarismo. Isto é a escola militarizada
    Hoje o DF conta com nove escolas militarizadas e um total de 12.156 alunos e alunas matriculados. Tudo começou em janeiro de 2019, quando teve início o novo governo e seis escolas públicas foram convertidas ao novo modelo. Em agosto uma nova investida do governo capturou mais três escolas. Como se percebe, essas investidas ocorrem estrategicamente no início ou fim de semestre, quando não há atividade escolar ou elas serão paralisadas.

    Eis um projeto caracterizado por mentiras. Começa com o governo tentando mascarar o projeto militarista maquiando as escolas militarizadas como “gestão compartilhada” ou “escola cívico-militar”. Depois, tenta dar uma roupagem democrática: a Secretaria de Educação e a de Segurança Pública, responsáveis pela nova “escola”, promovem “assembleias” com a comunidade que seria soberana na decisão pela mudança. Foi quando duas escolas rejeitaram o projeto e o governador irritado disse que faria a mudança de qualquer jeito. Não espanta. Pais, alunos, representantes do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF), relatam que essas “assembleias” se dão sob pressão: quem é contra é hostilizado pelos organizadores.

    A escola militarizada tem como alvo os jovens oriundos da periferia. O objetivo é controla-los. Afinal, se esses pobres decidem reivindicar seus direitos, o Estado vai ter problema em atendê-los. Portanto, na falta de um controle de natalidade mais severo para os pobres que insistem em nascer, a solução é controlar a natalidade das ideias e das reinvindicações.
    O projeto recebe o apoio do governo Bolsonaro que anunciou a expansão dessas escolas. No dia 5 de setembro deste ano ele assinou decreto com o objetivo de implantar o modelo militarizado em 216 escolas até 2023. Esse tipo de escola não fazia parte do plano de governo de Ibaneis. Mas, para agradar ao presidente, no primeiro mês de governo Ibaneis criou as escolas militarizadas do DF.


    Coisa de fascista


    A escola militarizada atua sobre os jovens da periferia para que se tornem servis e obedientes. Os militares trazem da caserna o conceito de pátria e cidadania: obediência, disciplina, submissão. Não existe rebelde numa escola assim. Não por acaso, escolas com esse formato foram implantadas pelo fascismo de Benito Mussolini, nos idos de 1922. 
    Na Alemanha, em 1933, Adolf Hitler criou a Juventude Hitlerista, responsável por mobilizar mais de 5 milhões de jovens para o seu projeto de escola cívico-militar. Como nas atuais escolas militarizadas, o ensino nas escolas nazistas valorizava o nacionalismo, a obediência e a disciplina; defende a família e as tradições.
    Adolf Hitler diante da sua criação.
    Benito Mussolini diante dos alunos
    O filósofo, ex-ministro da educação no governo Lula, e professor da USP, Renato Janine Ribeiro, em entrevista à Rádio CBN (27/02/2019) disse:
    “A escola deve incentivar o aluno a ser rebelde, a ter opinião, questionar o professor, refletir sobre a sociedade. Isso é bom para a escola e para o aluno. A escola com militares é exatamente o contrário: ela pretende educar para um tempo que não existe mais – quando o professor era autoridade inquestionável. Esse tempo se foi, não volta mais”.
    Pelo visto voltou. E não só no Distrito Federal.

    Conforme o site Uol hoje o número dessas escolas chega a 120, espalhadas por 17 estados do Brasil. A grande maioria está em Goiás, po
    r obra e graça do ex-governador Marconi Perillo. O governador estava preocupado com os “baderneiros”: professores que faziam greve e alunos que ocupavam as escolas. No dia 10 de outubro de 2018, ao prestar depoimento na PF, Perillo foi preso preventivamente na operação “Cash Delivery” da Polícia Federal, acusado de receber R$ 12 milhões em propina da construtora Norberto Odebrecht.


    Soldadinhos de chumbo


    Engana-se, porém quem acha que a escola adotada por Mussolini e Hitler fascina somente a direita. O Piauí e a Bahia, sob o comando do Partido dos Trabalhadores, embarcaram nessa também. No caso do Piauí, conforme a revista Época, o governador petista Wellington Dias chegou a defender a criação de “Pelotões mirins” e “Combatentes mirins” – jovens formados pela Secretaria de Segurança Pública nos preceitos cívico-militares, nos moldes da Juventude hitlerista.

    Soldadinhos de chumbo? Sim. A escola impõe um regimento de quartel sobre as crianças, seus “soldadinhos”. O regimento trata de disciplina, civismo (na visão militar), religião e moral. É a pedagogia do medo. Os militares criam delatores dentro da escola, os chamados “líderes de turma”, com a missão de dedurar aqueles que não se comportam como manda o regimento. Com os policiais eles fiscalizam se a farda está limpa e a camisa por dentro da calça, se não incluíram adereços proibidos, se o corte de cabelo não é o proibido, se usam batom, o que é proibido; são vetados os brincos; os jovens não podem falar na linguagem deles. Nessa pretensa escola os alunos não se cumprimentam com o tradicional “bom dia”, mas com a continência militar; na hora de conversar com a autoridade, mãos para trás. Nada de namoro, nada de beijos e abraços. Se o major-diretor promover uma homenagem a qualquer-um-poderoso é obrigação do aluno estar lá, formar fileiras, cantar o hino nacional, bater palmas para esse qualquer-um, que pode ser um pilantra ou gente de bem. Nessa falsa escola o aluno obedece e ponto final.

    O jovem de uma escola como essa não é mais dono do seu corpo. Não pode assumir a sua identidade de raça ou de gênero, não pode ter opinião – é punido quem criticar a escola e os seus comandantes. É punido quem não seguir as “tradições” ou o “comportamento adequado”. O quê por exemplo? Aquilo que dá na cabeça do comandante. O aluno pode ser punido se questionar a “aula de civismo” ou falar que houve uma ditadura nesse país.

    Aplicar a jovens e adolescentes civis um regimento destinado a militares, isto é, gente que treina para o combate, é desumano e humilhante. Ainda mais quando se sabe que esse mesmo regimento está matando os adultos, os policiais militares. Eles são as primeiras vítimas de um sistema policial repressor que não respeita a humanidade que existe em cada um, levando os policiais ao estresse, depressão e suicídio.

    O jornalista Solon Neto, do site Sputniknews (20/03/2019), relata que “hoje, no estado de São Paulo, morrem mais policiais devido a suicídio do que em confrontos nas ruas. Entre 2017 e 2018, foram 71 suicídios nas Polícias Civil e Militar paulistas, enquanto nove policiais morreram em confronto nas ruas”.

    Diz o jornal El País (03/03/2019) que em São Paulo, “entre janeiro de 2014 e junho de 2018 três PMs foram diagnosticados, por dia, com transtornos mentais. Entre janeiro e agosto de 2018, 2.500 policiais militares foram afastados por transtornos mentais, mais que o dobro dos afastados em todo o ano de 2014”.

    Os números estão dizendo que o treinamento da PM é ineficiente e está matando os policiais. É preciso uma intervenção civil sobre as forças militares.


    Bizarro


    Diz o Governo do Distrito Federal (GDF) que a escola com a PM lá dentro dá mais segurança e disciplina ao aluno. Aqui se percebe uma tentativa de burlar a lei maior. Afinal, se é função constitucional do Estado garantir a segurança de todos, por que somente dentro da escola? Porque, historicamente, o Estado garante a segurança nos bairros nobres e abandona as periferias. O Estado despreza sua obrigação constitucional.

    A escola militarizada não elimina a violência na região. Pais e mães da periferia est
    ão tão acostumados com a ausência e o desprezo do Estado, que aceitam a migalha oferecida. Fazem isso por amor aos filhos, porque sabem que a escola (não isto que a PM e o governo inventaram) é um lugar sagrado. Essa “escola” não resolve o problema da violência, mas “pelo menos”, vai permitir que os jovens estudem. Por isso aceitam as mentiras do governo.

    Aqui a mentira tem requintes de crueldade porque incide sobre o sonho de muitas famílias, a esperança de uma situação melhor para os filhos, para que eles tenham aquilo que os pais não puderam ter: educação e um futuro melhor.

    O GDF também mentiu ao dizer aos pais que essa escola é como o Colégio Militar. Não é. Os colégios militares recebem três vezes mais recursos que as escolas públicas civis. Por alguma razão especial eles têm essa regalia. Para escola pública os recursos são regrados.

    Com a escola sob o comando da PM, os jovens da periferia, serão diariamente punidos. O fato é que o antigo território sagrado da sociedade, a escola, já não é mais o espaço aonde os jovens constroem suas primeiras relações sociais sadias. A escola sumiu. Ela não cabe na academia. Não se sabe de nenhuma Faculdade de educação que defenda essa projeto.

    Oficialmente a escola militarizada é um Frankenstein. Essa criatura bizarra não existe na forma da lei. Não há nenhuma lei em vigor fazendo referência a escola militarizada. Não se fala em escola militarizada na Constituição Federal, Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Orgânica do Distrito Federal.
    O Plano Distrital de Educação (PDE), Lei nº 5.499/2015, estabelece prioridades e metas para o DF e é a principal referência para a elaboração de planos plurianuais nas diferentes esferas de gestão. O PDE instituiu “21 Metas para o desenvolvimento do ensino no Distrito Federal nos próximos 10 anos e 411 estratégias para o seu cumprimento”. Em nenhuma delas é citada a escola militarizada. O Conselho tutelar tampouco foi consultado.

    Considerando a dimensão do projeto imagina-se que o GDF tenha elaborado estudo aprofundado sobre a viabilidade desse tipo de escola. Fazendo uso da lei de acesso à informação, foi solicitado esse estudo à Secretaria de Educação (SED) e à de Segurança Pública (SSP). A SSP informou que não é sua obrigação produzir documento que não tem! Já a SED, em resposta, encaminhou um texto de quatro laudas mostrando de forma simplória o óbvio: que toda escola precisa de disciplina para funcionar bem. Não era um estudo sobre a implantação de escolas militarizadas. Não existe estudo.

    O fato é que a escola militarizada é ilegal. Ela fere pelo menos 17 dispositivos legais. Fere a Constituição Brasileira (CF), a Lei de Diretrizes e Bases da educação (LDB), o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei de gestão democrática do DF, entre outros.

    O regimento disciplinar avança sobre o comportamento e o corpo da pessoa, indo além do território escolar. É punido quem “desrespeitar em público as convenções sociais” ou “namorar na escola ou usando o uniforme da escola”. Aqui se afronta o Art. 5 inciso II: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei”.
    O Art. 5º é cláusula pétrea da Constituição, mas é agredido assim mesmo. O texto diz que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas”. Mas ao vetar os cabelos longos dos meninos, o uso de brincos e tiaras pelas meninas, o Estado, mais exatamente a Polícia Militar, está invadindo na intimidade e privacidade dos jovens.
    No mesmo Art. 5º (inciso X) se diz que “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”. Será que é desumano e degradante exigir que a criança obedeça calada as ordens do sargento, faça ordem unida como se fosse um soldado, corte o cabelo como se fosse militar? Não é humilhante impedir a garota de usar brincos e manter os cabelos soltos; impedir de falar na linguagem da sua tribo?

    Também se violenta o Art. 206 da CF que trata da gestão democrática. Os dirigentes dessa escola, policiais, escolhem os professores; os alunos não opi
    nam; a comunidade escolar deve obediência aos policiais. A PM decide tudo. Não existe mais eleição para diretoria. Não existe democracia.

    A Polícia não tem competência legal (e tampouco profissional) para a função delegada pelo governo estadual ou distrital.  Ao contrário do que diz o discurso oficial, a Polícia não está na escola para garantir segurança, mas para impor uma pedagogia – ela ensina, impondo a moral dos quartéis. Trata-se de desvio de função, como define o Art. 144 da CF.
    Tudo faz crer que o projeto de escola militarizada não se sustenta do ponto de vista legal. Mas não é esta a visão do Ministério Público. Em nota oficial, datada de 13 de fevereiro de 2019, as promotoras Cátia Gisele Martins Vergara e Márcia Pereira da Rocha, da Promotoria de Justiça de Defesa da Educação (PROEDUC), do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), afirmam que a proposta atende aos requisitos legais.

    Com o aval do MP o governador Ibaneis pretende ir longe. Neste momento, em algum lugar de Brasília, uma escola deixa de ser escola para se tornar esse Frankenstein. O Sinpro-DF já se manifestou contra, mas alguns professores e diretores de escola fazem a defesa desse modelo. Alunos e alunas, os principais atingidos por este modelo, têm pouco espaço para opinar. Se antes desconhecem o objetivo dessa escola, depois que ela é implantada aprendem que não podem reclamar – o regimento pune quem critica a escola.
  • Ativistas antirracistas rebatem ministro da Educação sobre “não existir povo negro”

    Ativistas antirracistas rebatem ministro da Educação sobre “não existir povo negro”

    Foto: Ricardo Albertini/Câmara dos Deputados

     

    O ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse, recentemente, em um pronunciamento na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, que a deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) não teria o direito de representar os negros do país, porque “não existe povo negro, existe brasileiro de pele escura”.

    O ministro citou, ainda, como argumento para atacar a deputada, que o avô dele tinha a pele mais escura do que a dela. “Meu avô era mais escuro que ela. Quando ela se atribui como grande defensora do povo negro, não sei quem lhe deu esse cargo”, acrescentou.

    A deputada, que estava presente no debate da Câmara, acusou o ministro de desconhecer sobre educação pública, afirmando que ele é contra cotas raciais e que não tem informações sobre políticas afirmativas no ensino superior.

    Questionada sobre o caso, a deputada contou à Fórum que vê a fala do ministro como uma tentativa de invisibilizar diversas problemáticas decorrentes do racismo. “Quando o Ministro diz que ‘não existe povo negro’ ele está apagando toda uma história de dor, mas também de resistência, que nosso país passou. Milhares de seres humanos foram sequestrados e escravizados. Esse história traz marcas para o Brasil até os dias de hoje”, respondeu Talíria.

    Repercussão negativa

    Após a declaração do ministro, o Portal Mídia 4P foi ouvir lideranças sobre esse episódio.

    O historiador, mestre em Desenvolvimento e Gestão Social e militante do Coletivo de Entidades Negras (CEN) Marcos Rezende ressalta que, ao afirmar que não existe povo negro, mas um Brasil de pele escura, o ministro da educação não fala isso de forma despropositada.

    “Ele visa criar novas narrativas acerca da população brasileira. Claro que ninguém dúvida da ignorância dele, pois ele já nos deu provas suficientes disso. No entanto, ele sabe que o conceito de raça é utilizado tanto socialmente, como também foi muito utilizado ‘cientificamente’, seja por Lombroso em escala mundial ou por Nina Rodrigues no Brasil”, ressalta.

    Ele diz, ainda, que criaram perfis do criminoso padrão com a presença de todas as características físicas negras. “Mesmo rebatido por outros cientistas, até hoje a polícia se utiliza desse argumento, porque o racismo estrutura a sociedade brasileira”.

    “O ministro tem como última forma acabar com a política de cotas e de ações afirmativas. Na verdade, ele segue a lógica, a cartilha do governo Bolsonaro, e, ao falar isso, ele sabe que a mensagem subliminar é: não existe raça, a raça é humana, uns mais claros e outros mais escuros, mas todos brasileiros. Tentando enfiar o conceito de nação brasileira goela abaixo”, acrescenta.

    Rezende cita, também, dados do IBGE, que se utiliza da classificação racial no censo. “54% da população se declararam negros no último censo. Ou seja, para sermos o que o ministro deseja, uma nação brasileira, basta mudar a realidade da população negra em todos os indicativos sociais do país, e de quebra, inserir as contribuições dos povos negros no conceito desse novo Brasil que deseja criar. Só assim poderemos nos reconhecer enquanto integrantes dessa ‘nova nação brasileira”.

    A educadora, liderança comunitária de Cosme de Farias e religiosa de matriz africana do Engenho Velho da Federação, Jandira Mawiusi, acredita que a declaração de Weintraub é reflexo do poder branco, elitista e colonizador que ele representa. “Ele está representando o governo dele. Quando o presidente se coloca a favor da ditadura, falar isso não é nada”, ressalta. Jandira é solidária com a parlamentar, representante de uma comunidade que não é pensada por homens brancos, como Weintraub, que estão no poder, no Brasil, há séculos.

    “Talíria só devia ter pedido para ele fazer um comparativo: dentro das detenções brasileiras, para ver o número de homens e mulheres negros, da pele escura, e no cenário dele, no Legislativo, pra ver qual é o povo que está lá, se da pele branca ou da pele escura”, ironiza.

    A socióloga, defensora dos direitos humanos e membro da Mahin Organização de Mulheres Negras, Vilma Reis, preferiu destacar a importância da presença de mulheres negras, como Talíria Petrone, no parlamento em um contexto de ataque aos direitos das minorias.

    “Nós lutamos durante anos para que mulheres negras, como a nossa brilhante parlamentar Talíria Petrone, tivessem o direito de dizer e afirmar a sua negritude, na pluralidade de nossa população negra. Além disso a mandata de Talíria Petrone, assim como de outras parlamentares negras como Áurea Carolina, Erica Malunginho, Renata Souza, Andreia de Jesus e Mônica Francisco, é uma potente experiência de mandatos nacionais, que mudou a estética política brasileira e, neste momento terrível de ataque aos mínimos direitos que conquistamos ao custo de muita luta, elas no parlamento têm um papel decisivo no enfrentamento às narrativas coloniais, de senhores grotestos como o atual ministro da educação”, disse Reis.

    *Colaborou Juliana Brito

  • #13ACuiabá – Mato Grosso na luta pela educação

    #13ACuiabá – Mato Grosso na luta pela educação

    Sete meses e meio de governo de extrema-direta já deixaram mais do clara a guerra aberta contra a educação, a ciência e todos os direitos duramente conquistados por anos pela classe trabalhadora. A miséria voltou, a recessão bate à porta e o presidente que venceu as eleições com fake news e o processo ilegal contra Lula não tem nenhuma proposta para o desemprego, a retomada econômica e a redução das desigualdades sociais. Entre escatologias e nepotismo, lança o Fu(a)ture-se, um projeto de privatização do ensino superior com rendição da autonomia universitária (e financeira) em favor de Organizações Sociais e Comitê Gestor que sequer existem ainda e com regras a serem definidas. Por isso, movimentos sociais, estudantes e comunidade acadêmica voltaram às ruas nesse 13 de agosto de 2019 no 3º #TsunamiDaEducação. Segundo balanço da União Nacional dos Estudantes, mais de um milhão e meio de pessoas protestaram em pelo menos 205 cidades de norte a sul. Uma delas foi Cuiabá, capital de Mato Grosso.

    foto: www.mediaquatro.com

    Enquanto os colegiados da Universidade Federal de Mato Grosso ainda se reúnem para uma posição conjunta oficial, que deve ser tomada até a próxima quinta 15 de agosto, Diretórios Acadêmicos e Departamentos de diversos cursos já decidiram refutar o Future-se. Instituições de Ensino Superior públicas federais por todo país, como a UFRJ e a UFMG, também escolheram rejeitar o projeto. A UNE e centenas de outras entidades, como a ADUFMAT – Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso, idem. Mesmo cansados de uma longa greve de quase 80 dias encerrada dia ontem, a maior da categoria, os professores estaduais organizados no SINTEP/MT – Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso, tomaram novamente as bandeiras para pisar o asfalto e exigir nenhum direito a menos.

    Lélica Lacerda / ADUFMAT, Edna Sampaio / UNEMAT, RUA Juventude Anticapitalista- www.mediaquatro.com –

    Mulheres, negros, quilombolas, indígenas, LGBTs… Gente de todo jeito, de toda cor, marcharam, se abraçaram, gritaram palavras de ordem e avisaram em alto e bom som que esse governo vai cair. Ninguém vai voltar para o armário, para a senzala, para a falta de esperança no futuro. Ninguém vai desistir de garantir e ampliar os espaços de inclusão e diversidade conquistados com muita luta, suor e sangue. O ensino TEM de ser público, gratuito, universal e laico. O governo precisa garantir o acesso, a permanência e, na saída, a igualdade de condições no mercado de trabalho e a plena cidadania. Estamos nas ruas e das ruas não sairemos!