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  • Lula, resistência na medida, acompanhada de discurso histórico!

    Lula, resistência na medida, acompanhada de discurso histórico!

    Artigo de Eduardo Campos, jornalista e advogado em Belo Horizonte

    Lula não se deixou humilhar. Não acatou a “ordem” de Moro de render-se de imediato e com hora marcada. Demonstrou altivez e dignidade, combatividade e sensatez. A mobilização da sociedade não permitiria uma resistência continuada e indefinida.

    Infelizmente, as ruas do país não se encheram ontem em repúdio ao crime contra ele perpetrado, ainda que tenha havido algumas manifestações expressivas. Muito pouco, ainda, para nos habilitar a virar o jogo. Mesmo entre muitos de nós, “politizados”, parece não haver ainda a compreensão necessária da importância das mobilizações. O ato de Belo Horizonte dessa sexta-feira comprova isto.

    Lula fez um discurso que vai ficar na história. De cabeça erguida, com valentia, sem aparentar qualquer abatimento, mostrou pra nação o significado de sua prisão. Apontou o dedo para seus algozes, mas deixou claro os interesses que eles representam: a manutenção dos privilégios históricos das elites, a desconstrução dos direitos alcançados nos governos do PT, o desmonte da soberania nacional, tudo isto às custas do comprometimento dos espaços democráticos. Não deixou de mirar no papel decisivo da mídia no golpe e em toda esta trama, nominando, expressamente, a Globo, a Record, a Bandeirantes e a Veja, enfatizando a perseguição que sofre da primeira. Não poupou o MP e o Judiciário, tendo a cautela necessária ao referir-se aos ministros do Supremo Tribunal Federal. Defendeu as estatais e paraestatais, em particular a Petrobrás, a Caixa, o Banco do Brasil, o BNDES; apoiou, sem meias palavras, as ocupações de terras urbanas e rurais; mostrou, de maneira categórica, a necessidade de união das esquerdas; elogiou, sem economia, as lideranças novas emergentes, nas figuras de Boulos e Manuela.

    Lula não só vai para a cela com a cabeça erguida. Nos deixa, também, com a moral elevada. Vai sair de lá, mais cedo ou mais tarde, com o peito estufado, como ele mesmo disse. Cabe a nós estufarmos o nosso, para que o intervalo de tempo da castração de sua liberdade seja o menor possível, e para que possamos superar este dia sombrio que marca, indelevelmente, um dos momentos mais trágicos da história do Brasil “republicano”.

     

  • Inédito: Marielle Franco deixou um recado sobre o PME do Rio

    Nesta terça-feira (27), acontece a votação do Plano Municipal de Educação, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. O plano estabelecerá as diretrizes da educação e suas prioridades no Rio nos próximos 10 anos.

    O discurso de Marielle já estava sendo feito antes de ser assassinada e a equipe do mandato Marielle Franco disponibilizou o texto. O companheiro Tarcísio Motta irá lê-lo no Plenário, durante a votação.

    No Brasil inteiro, a educação vem sofrendo um boicote por uma ideologia da intolerância e do desrespeito, principalmente em relação à igualdade de gênero. Não está sendo diferente aqui no Rio. Estão tentando retirar a palavra “gênero” do Plano para que não haja o debate nas escolas sobre igualdade entre homens e mulheres, meninas e meninos.

    Confira o discurso que Marielle iria fazer. Compartilhe o post para que a sua voz não seja silenciada!

    Boa tarde à todas e todos,

    O Brasil é o quinto país que mais mata mulheres no mundo.

    Os números são assustadores: em 2016, foi registrada uma violência contra mulher a cada 5 horas no Estado do Rio de Janeiro.

    Mas também sabemos que estes números são apenas de parte das mulheres que conseguiram, de algum modo, buscar auxílio e denunciar.

    E eu pergunto à vocês: seguiremos nos recusando a falar sobre igualdade de gênero? Até quando?

    O debate sobre a nossa igualdade é urgente no mundo, no Brasil e no município do Rio de Janeiro!

    Enfrentar este debate é nos comprometermos com a democracia e com nosso avanço civilizatório.

    Falar de igualdade entre mulheres e homens, meninas e meninos, é falar pela vida daquelas que não puderam ainda se defender da violência. E são muito mais das 50.377 registradas em 2016, aqui, no Rio.

    Diferente do que se fala ou, infelizmente, do que se acostuma ver em Casas Legislativas, como esta, não somos a minoria. Somos a maior parte da população, ainda que sejamos pouco representadas na política.

    Ainda que ganhemos salários menores, que estejamos em cargos mais baixos, que passemos por jornadas triplas, que sejamos subjulgadas pelas nossas roupas, violentadas sexualmente, fisicamente e psicologicamente, mortas diariamente pelos nossos companheiros, nós não vamos nos calar: as nossas vidas importam!

    No Brasil, segundo o IPEA (2016). As mulheres negras brasileiras ainda não conseguiram alcançar nem 40% do rendimento total recebido por homens brancos. E somos nós, mulheres negras, que mais sofremos violências diariamente.

    Só quem acha que isso é normal é quem não sofreu no corpo o machismo e o racismo estrutural. Quem acha que isso não merece ser debatido na nossa educação é porque se benefecia das desigualdades.

    Por isso, quero deixar registrado que essa Casa, ao retirar os termos “gênero”, “sexualidade” e “geração”, fortalece a continuidade de desigualdades e violências dos mais diversos tipos.

    Hoje falamos do principal plano para desenvolvimento social do nosso município: o Plano Municipal de Educação. Este plano merece que tenhamos compromisso e responsabilidade.

    O termo “gênero” começou a ser utilizado como categoria de análise a partir de 1970 com o objetivo de dar visibilidade às desigualdades entre homens e mulheres. Logo, tanto na origem da sua criação, quanto no uso corrente em debates sobre a superação das desigualdades, falar de “gênero” tem como finalidade promover a devida atenção e crítica das discriminações sofridas pelas mulheres, e tentar achar meios para que todas e todos possamos juntos enfrentar este cenário.

    Desde quando falar sobre uma opressão, que gera tantas mortes, é falar sobre alguma doutrinação?

    Se dizem tanto a favor da vida, então deveriam ser a favor da igualdade de gênero. E só se promove igualdade através de uma educação consciente e do debate com nossas crianças, para que se tornem adultos melhores.

    Por isso, como parlamentares responsáveis pelas cidadãs e cidadãos dessa cidade, devemos defender o debate na educação!

    Se é da escola que nasce o espaço público que queremos, é indispensável que se fale de igualdade de gênero sim! Que se fale de sexualidade, de respeito, de laicidade, de racismo, de LGBTfobia, de machismo. Pois falar sobre estes temas é se comprometer com a vida, em suas múltiplas manifestações. É se comprometer com o combate à violência e a desigualdade!

    É mais do que urgente que esta casa não se cale sobre as vidas que são interrompidas dia-a-dia neste Município.

    Falar de igualdade de gênero é defender a vida!”

    Marielle vive!