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  • Um texto fundamental para entender a greve dos caminhoneiros

    Um texto fundamental para entender a greve dos caminhoneiros

    Tem ao menos seis anos que colaboro com um jornal de caminhoneiros e não me arrisquei a fazer nenhuma análise sobre a recente greve da categoria. Mas muitas opiniões, sobretudo de “esquerda” proferidas em redes sociais (ninguém se importa, na verdade) me geraram um incômodo. Por isso, me arrisco agora a escrever algumas pontuações sobre a greve dos caminhoneiros, lembrando que, dessa vez, muita gente perguntou, rsrsrs.

    1) A greve começou como um movimento puxado pela CNTA, a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos. A convocação da paralisação se deu após encaminhamento de ofício ao governo federal em 15 de maio, solicitando atendimento de demandas urgentes antes da instalação de uma mesa de negociação. As urgências eram: o congelamento do preço do Diesel pelo prazo necessário para a discussão sobre benefício fiscal que reduzisse o custo do combustível para os transportadores (empresas e caminhoneiros); e fim da cobrança dos pedágios sobre eixos suspensos, que ainda está acontecendo em rodovias de caráter estadual, conforme compromisso assumido pela lei 13.103/2015, conhecida também como Lei do Motorista.

    2) No ofício encaminhado pela CNTA se fala na deflagração de uma paralisação em 21 de maio, caso não fossem atendidos os pedidos da Confederação. Também se explicita o apoio de 120 entidades representativas, mas não se esclarece se essas organizações são sindicatos patronais ou de autônomos.

    3) A paralisação prevista para 21 de maio aconteceu, já que o governo se recusou a negociar com a CNTA e com demais entidades. Ao que consta nos comunicados de imprensa do organismo, também estavam na pauta discussões como o marco regulatório dos transportes e a questão da “reoneração da folha de pagamento”

    4) Abro parênteses para o tema: desde 2011, a discussão da desoneração da folha de pagamento vem acontecendo no Brasil com vistas a garantir a geração de empregos. Nos anos seguintes ela foi ampliada para outros setores, como o do transporte rodoviário de cargas. Com a desoneração os patrões tem a possibilidade de escolher a forma mais “vantajosa” de pagar a contribuição previdenciária, recolhendo 20% sobre os pagamentos dos funcionários e contribuintes individuais (sócios e autônomos) ou recolhendo uma alíquota sobre a receita bruta (cujo percentual variava entre diferentes setores da economia, no caso do TRC é de 1,5 a 2%). No ano passado, o governo Temer, através do Ministro da Fazendo, Henrique Meirelles, anunciou a reoneração da folha de pagamento com a justificativa de que era necessário reajustar “as contas” da União. Atualmente, a ampliação da reoneração da folha de pagamento está sendo discutida no âmbito do TRC.

    5) Com a mobilização que se potencializou em 21 de maio, uma série de pautas foram levadas para as “estradas”. Dentre os mobilizados nesse primeiro momento estavam autônomos e motoristas contratados. As informações que nos chegam é a de que eles estão deixando passar as cargas perecíveis e os medicamentos e os itens considerados de primeira necessidade.

    6) A paralisação continuou e ganhou adesão das transportadoras que prometeram não onerar os funcionários nem realizar cortes salariais ou demissões por causa da greve. Afinal de contas, a redução do preço do Diesel também é do interesse da classe patronal.

    7) A greve conta com grande apoio nacional, porque a alta do preço dos combustíveis afeta não só a prestação de serviços, mas a vida de grande parte dos brasileiros.

    8) Os sindicatos estão batendo cabeça. De um lado, muitas federações e entidades soltaram nota dizendo que não apoiam a greve e que ela tem características de lockout justamente porque a pauta tem sido capitaneada pelos setores empresariais em nome dos seus interesses. Do outro lado, existem sindicatos de autônomos, como a própria CNTA, o Sindicam de Santos que puxou a paralisação na região do porto, e agora a Abcam, que recentemente se mobilizou na negociação, apoiando o movimento. Segundo nota, o presidente da Abcam esteve em Brasília no dia 24 de Maio e depois de uma reunião frustrada disse que a greve dos caminhoneiros continua. A reunião tinha como objetivo negociar a redução da tributação em cima dos combustíveis.

    Esse é o cenário geral da mobilização. Ela é composta por uma série de segmentos que conformam o TRC. E, obviamente, suscita algumas questões:

    • Existe uma clara apropriação da pauta dos caminhoneiros por parte da classe empresarial que exerce maior influência nas negociações. Isso significa que, por mais que a greve seja legítima, pode acabar resultando num “tiro pela culatra” a depender dos rumos tomados na resolução entre as partes e as lideranças.
    • Não existe uma pauta unificada, o movimento não é hegemônico, nem do ponto de vista social, nem do ponto de vista ideológico. Existe um grupo de caminhoneiros bolsonaristas, outros que são partidários de uma intervenção militar, outros pedem Diretas Já e Lula Livre. Ou seja, é um movimento canalizado principalmente, pela insatisfação em relação ao preço do Diesel.
    • Em função da grande complexidade e fragilidade das lideranças sindicais de autônomos, o movimento carece de uma representatividade que possa assegurar as demandas da classe trabalhadora. Enquanto isso, os sindicatos patronais acabam por exercer maior influência, determinando os caminhos da negociação e o teor das reivindicações.
    • Isso se faz notar, por exemplo, no tipo de reivindicação expressada por grande parte dos caminhoneiros que é a redução da tributação em cima do preço do combustível. Ora, todos nós sabemos que o cerne do problema é a nova política de preços adotada pelo governo Temer e pela Petrobras, que atualmente é presidida por Pedro Parente.
    • Novo parênteses sobre o tema: desde o ano passado, a Petrobras adotou uma nova política de preços, determinando o preço do petróleo em relação à oscilação internacional do dólar. Na época, esse tipo de política foi aplaudida pelo mercado internacional, que viu grande vantagem na venda do combustível refinado para o Brasil. Aqui dentro, segundo relatório da Associação de Engenheiros da Petrobras, a nova política de preços revela o entreguismo da atual presidência da empresa e governo Temer, que busca sucatear as refinarias nacionais dando prioridade para a importação do combustível. Tudo isso foi justificado na época com o argumento que era necessário ajustar as contas da Petrobras e passar confiança aos investidores internacionais. É verdade, portanto, que o movimento em si tem uma percepção um pouco equivocada da principal razão do aumento dos combustíveis, mas isso não significa que toda classe dos caminhoneiros não faça essa relação clara entre o problema da política de preços da Petrobras e o aumento dos combustíveis.
    • De fato o grande problema nesse momento é saber quem serão as pessoas a sentar nas mesas de negociação. De um lado, existe uma legítima expressão da classe trabalhadora em defesa das suas condições de trabalho e dos seus meios de produção. O aumento do Diesel é um duro golpe entre os caminhoneiros autônomos e a reivindicação da sua redução, seja pela eliminação dos tributos, seja pelo questionamento da política de preços da Petrobras, é legítima e deve ser comemorada.
    • A questão fundamental agora é saber o que o governo vai barganhar na negociação. Retomo, então, a questão da reoneração da folha de pagamento. O governo já disse que haverá uma reoneração da folha e esse é um dos meios de captação de recursos caso haja fim do Pis/Cofins incidindo sobre os combustíveis. Na prática, porem, a reoneração pode ter um impacto sobre os empregos dos próprios caminhoneiros, resultando em demissões.
    • Se houver o fim da tributação no Diesel, conforme inclusão do relator, Orlando Silva (PCdoB/SP), na Medida Provisória, de parágrafo que exclui a tributação, a classe trabalhadora e toda sociedade serão impactadas. Afinal de contas, com redução de receita, haverá, consequentemente, um corte no repasse da verba para a seguridade social, previdência, saúde, etc.

    Considerando tudo o que foi dito, expresso meu incomodo com análises e percepções simplistas da esquerda, ou de pessoas que se dizem da esquerda, sobre o movimento. Locaute virou doce na boca dos analistas de facebook. Porque não atende à nossa noção de “movimento” ideal, os caminhoneiros que legitimamente se mobilizaram em nome da redução do preço do diesel estão sendo taxados de vendidos e cooptados, como uma massa amorfa preparada para ser manipulada.

    Os “puristas” não entendem a complexidade da categoria, e tampouco atentam para a dificuldade que é promover a mobilização ampla desses trabalhadores, tendo em vista não só a precarização extrema à qual estão sujeitos, mas também à realidade itinerante de seu trabalho. Soma-se a isso o duro golpe que atualmente foi proferido contra as entidades sindicais menores de autônomos, com o fim da obrigatoriedade do imposto sindical. Sinto dizer aos colegas acadêmicos, portanto, que nem sempre nossos modelos de análise social se aplicam a realidade. Não se trata de uma disputa entre o bem e o mau; nem de um movimento totalmente cooptável e ilegítimo; uma massa manipulável e “bobinha”. Por outro lado, também não é um movimento cujos protagonistas tem uma consciência enquanto classe, enquanto categoria. Não é unificado, as pautas são heterogêneas e também voláteis. Por tudo isso, parte desses trabalhadores expressam reações conservadores e, alguns grupos, visões extremistas sobre a política e suas estratégias de luta.

    Nada disso, ao meu ver, torna ilegítima a mobilização. Pelo contrário, é um convite para que busquemos entender mais das categorias sociais e para que aceitemos que as mobilizações sociais nem sempre atendem ao nosso critério idealizado de pauta, objetivo e organização.

  • 5o dia de paralisação dos Caminhoneiros faz prefeito de SP se mexer

    5o dia de paralisação dos Caminhoneiros faz prefeito de SP se mexer

    O prefeito de São Paulo, Bruno Covas acaba de decretar Estado de Emergência na cidade, isso quer dizer, por exemplo, que o município poderá fazer compras de alimentos para Escolas Municipais sem licitação.

    Com a medida, Bruno Covas também poderá requisitar ou apreender bens públicos, como por exemplo, combustíveis que estejam estocados em postos de gasolina.

     

    Fala-se também na possibilidade de decretar feriado na cidade nos próximos dias. https://www.facebook.com/jornalistaslivres/posts/762575560532990

  • Um acordo que vende o Brasil

    Um acordo que vende o Brasil

    por Maister F. Da Silva, Leandro Noronha de Freitas, Anderson Barreto Moreira e Lauro Duvoisin

    Anunciado como uma trégua para pôr fim ao caos econômico, na verdade o acordo de ontem vai apenas aprofundar a crise que estamos vivendo. O acordo entre governo, grandes empresários do transporte e capital financeiro internacional é, na verdade, um esquema de saque das riquezas nacionais e de entrega da Petrobras às grandes corporações. Os trabalhadores do transporte de cargas continuarão a sofrer o alto custo do combustível assim como toda a população brasileira, que depende da gasolina e do gás para sobreviver.

    1) Os eventos do dia de ontem (24 de maio) confirmam que houve, pela primeira vez durante este governo, uma fissura na classe dominante. Uma fração da burguesia interna percebeu a fragilidade do governo e apostou na possibilidade de rapina.

    2) Até agora tudo indica que o motivador principal da paralisação patronal foi econômico. Este setor percebeu a sua desvantagem relativa frente à oligarquia financeira internacional e apostou na oportunidade que um governo enfraquecido e desmoralizado poderia oferecer para elevar o tom de suas reivindicações.

    3) Em virtude do cenário econômico e da política energética irresponsável do governo, a burguesia interna passou a contar rapidamente com a adesão massiva dos diversos setores de transporte de cargas.

    4) O governo Temer, que representa sobretudo os interesses da oligarquia financeira, viu-se em situação difícil, pressionado internamente pela possibilidade de caos econômico e perda total da autoridade, e externamente pela posição de mando inconteste da oligarquia financeira que não cederia à burguesia de segunda classe.

    5) A esquerda dividiu-se entre os triunfalistas, que viam tudo isso como uma rebelião popular, e os apavorados, que viam o cenário como uma orquestração fascista para cancelar as eleições de outubro e dar um golpe dentro do golpe. Embora seja fato que há forças de extrema direita aproveitando-se da desordem econômica e da fragilização do governo, e mesmo que o processo esteja em andamento, os desdobramentos até agora permitem afirmar que estas duas posições estão profundamente equivocadas e não permitem enxergar o que é central no cenário atual: o enorme espaço político-ideológico que se criou para fustigar o projeto neoliberal e apresentar uma alternativa para o Brasil.

    6) No dia 24 de maio ao final do dia o que vimos foi um acordo, frágil, entre a burguesia interna e a oligarquia financeira internacional. Por um lado, permanece intocada a política energética antinacional e a estrutura de comando atual da Petrobras, e por outro se cede recursos públicos do Estado para satisfazer a sanha da fração burguesa rebelada. O preço do acordo é, mais uma vez, um assalto aos cofres públicos controlados pelo Estado.
    7) Contudo, não nos enganemos, a oligarquia financeira cobrará a conta dos setores produtivos internos. Este padrão de atuação é o mesmo da Operação Lava Jato: desvalorização de empresas e produtos competitivos no mercado internacional em prol das grandes corporações. Nesse sentido, já se anunciou a possibilidade de quebra de contrato das exportações de soja, carro-chefe da pauta exportadora brasileira. Ou seja, a oligarquia financeira transformará, mais uma vez, qualquer desafio ao seu poder como uma oportunidade de avançar na guerra econômica de rapina contra os interesses nacionais.

    8) A rede Globo, que desta vez se antecipou e desde o início deu o tom, inclusive criando o efeito manada (corrida ao postos e supermercados), aparentemente mudou o discurso na noite do 24/05. Possivelmente perceberam os riscos de perder o controle ao criar uma situação de desabastecimento e caos que certamente dificultaria muito a condução dos rumos da paralisação. Sua postura no acordo foi buscar enquadrar a fração interna rebelada. A repetição de que o acordo é muito bom para os setores paralisados e ruim para o governo e os “acionistas” confirmam sua posição em favor do capital financeiro. Pior, agora se reafirma pela força dos fatos e pela mensagem deste acordo que a Petrobras nada mais é do que uma filial subalterna dos grandes holdings internacionais a quem deve submeter-se custe o que custar. A que ponto chegamos!

    9) A suposta solução proposta pelo governo é apenas um arremedo paliativo para tentar retomar o controle da situação. Não coloca em questão nenhum dos pilares da política energética que produziram a insatisfação atual, ou seja, não resolve o problema central, que é os preços dos combustíveis pagos pelo setor produtivo e pela população em geral: diesel, gasolina, álcool e gás de cozinha.

    10) Visivelmente o acordo excluiu o setor mais precário dos transportes. Ou seja, foi um acordo no alto escalão da burguesia. Como não resolve os problemas do custo dos combustíveis, para os próximos dias é provável um cenário de continuidade das paralisações com ações repressivas por parte do governo para evitar a perda do controle novamente.

    11) O governo sem dúvidas sai ainda mais enfraquecido deste embate. Pela primeira vez ele mostra-se incapaz de aglutinar todas as frações burguesas dentro de um mesmo projeto. Além disso, fica ainda mais evidente que sua força vital vem de fora, vem da natureza entreguista de seu projeto, sustentado a ferro e fogo pela oligarquia financeira.

    12) A rápida adesão à pauta em curso nos últimos dias e a mobilização de setores dos estratos médios da classe trabalhadora e mesmo daqueles mais pauperizados pode levar à perda de controle do “baixo escalão” por parte da burguesia interna. Esta massa pode migrar para a direita, que até agora tem mostrado ter mais capilaridade nestes setores, ou para a esquerda, se alguma força social de peso, como os trabalhadores petroleiros, entrarem com força na luta com clareza, domínio e autoridade sobre a pauta em disputa.

    13) A solução apresentada desvela os verdadeiros interesses em jogo e cria um ambiente propício para a disputa de projeto. O acordo, ao que tudo indica, por atender aos setores já citados, pode ser rejeitado por parte dos que participam da paralisação. O que a esquerda e os setores progressistas podem fazer caso siga a atual situação? Apenas dizer que se trata de um lockout fascista e esperar que uma explosão social de caráter reacionário saia as ruas? Ou buscar fustigar as enormes contradições em jogo: a política neoliberal que drena as riquezas e não traz benefício algum; a denúncia de que esta crise é fruto exatamente da forma privada que conduz a Petrobras; se existe subsídio para os acionistas também podem existir para o gás. Não alimentamos ilusões de que isso possa ser atendido, mas são questões colocadas. A crise desatada pela paralisação trouxe à tona as imensas tensões que estão acumuladas na população. Alguns setores ensaiam paralisações como motoboys e taxistas; em algumas refinarias têm início o que pode se tornar uma greve do setor petroleiro. Continuemos no esforço de encontrar as brechas para colocar um projeto que de fato resolva os problemas do povo brasileiro.

    • Maister F. Da Silva e Leandro Noronha de Freitas (Militantes do Movimento dos Pequenos Agricultores) e Anderson Barreto Moreira e Lauro Duvoisin ( Militantes do Levante Popular da Juventude)
  • Nota do PT: Governo entreguista criou crise dos combustíveis

    Nota do PT: Governo entreguista criou crise dos combustíveis

    Do site do PT

    Em nota o Partido dos Trabalhadores aponta a política nefasta do governo golpista de Temer, PSDB, DEM como o responsável pelo aumento absurdo do preço dos combustíveis que só beneficiam aos grandes acionistas privados  e ao setor financeiros. Esta conta é paga por todos os brasileiros diariamente ao comprar gasolina, álcool, ou diesel e também na compra do botijão de gás.Lembramos ainda que todos os que apoiaram o golpe de 2016 contra o povo são responsáveis pela atual crise que vivemos.

    Esta lógica perversa de priorizar os interesses privados e fazer que a conta salgada seja feita pelo povo não pode continuar. Neste sentido, a nota do PT aponta que “a  paralisação do transporte rodoviário no país é resultado direto da política irresponsável de preços de combustíveis da Petrobras sob o governo golpista, que atingiu primeiramente a população mais pobre, com os aumentos escandalosos do gás de cozinha. Trata-se de uma crise anunciada e agravada pelo noticiário da Rede Globo, que estimula a corrida aos postos e supermercados, além da especulação com preços dos alimentos. A Globo investe na crise, como fez em 2013 e ao longo do golpe do impeachment de 2016.

    O protesto contra a alta dos combustíveis é justo. Foram absurdos 229 reajustes no preço do diesel nos últimos dois anos. Nos 12 anos de governo do PT, foram apenas 16 reajustes.”

    Veja a integra da nora do Partido dos Trabalhadores:

     A paralisação do transporte rodoviário no país é resultado direto da política irresponsável de preços de combustíveis da Petrobras sob o governo golpista, que atingiu primeiramente a população mais pobre, com os aumentos escandalosos do gás de cozinha. Trata-se de uma crise anunciada e agravada pelo noticiário da Rede Globo, que estimula a corrida aos postos e supermercados, além da especulação com preços dos alimentos. A Globo investe na crise, como fez em 2013 e ao longo do golpe do impeachment de 2016.

    O protesto contra a alta dos combustíveis é justo. Foram absurdos 229 reajustes no preço do diesel nos últimos dois anos. Nos 12 anos de governo do PT, foram apenas 16 reajustes.

    Na época dos governos do PT os preços do diesel, da gasolina e do gás acompanhavam os preços internacionais em ciclos longos. Os reajustes eram feitos de forma espaçada e moderada, conciliando os interesses da empresa com os interesses maiores do bem-estar público e da eficiência global da economia. Já a gestão golpista da Petrobras adotou uma política de transferência compulsória e imediata das oscilações internacionais para o mercado interno e de maximização dos preços dos derivados, com o intuito único de remunerar os acionistas e tornar a empresa atrativa para as privatizações setoriais a que é atualmente submetida. Tal política, que trata a Petrobras como se fosse uma bolha privada desconectada do interesse nacional, provocou uma volatilidade absurda dos preços, que passaram a ser reajustados, em alguns casos, de forma praticamente diária.

    É por isso que o preço do diesel no Brasil está hoje bem acima do preço internacional do produto (56% acima). É por isso que o Brasil está com a segunda gasolina mais cara do mundo. É por isso que a população mais pobre não consegue mais comprar botijões de gás. É por tal razão que a economia brasileira está paralisando. É por isso que o Brasil está importando cada vez mais combustíveis de grandes petroleiras norte-americanas, como Chevron, Exxon, etc.

    Além disso, a direção entreguista da Petrobras reduziu em cerca de 30% a produção de combustíveis em nossas refinarias, abrindo o imenso mercado brasileiro para a importação de combustíveis. Nossas importações de derivados norte-americanos subiram de 41% para 82%. Estamos exportando óleo cru, ao invés de refiná-lo aqui mesmo, e comprando combustível mais caro no estrangeiro, que muitas vezes é produzido a partir do nosso petróleo. É uma estratégia suicida, que visa a atrair investidores para a privatização da Petrobras. Um crime contra a economia popular e contra a soberania nacional.

    Neste contexto, é meramente paliativa a ideia de zerar os impostos federais sobre combustíveis (objetivo das grandes empresas de transporte que se aproveitaram do movimento para realizar um locaute). A volatilidade dos preços internacionais e do câmbio vai continuar a gerar novos aumentos. Além disso, o custo fiscal dessa proposta, que incide sobre o PIS/Cofins, recairá fatalmente sobre o orçamento de programas sociais e políticas públicas, como a do seguro desemprego, que beneficiam o povo mais pobre. Além de inútil, a proposta do governo golpista é injusta.

    O acordo anunciado nesta noite (24/05) confirma essas fragilidades, já que, além de não revolver adequadamente o problema, vai onerar a União, que terá de remunerar a Petrobras caso ela tenha algum prejuízo com as medidas tomadas. Trata-se de uma total inversão de valores, na qual os interesses privados dos acionistas da empresa se sobrepõem aos interesses públicos.

    A saída para mais esse desastre do governo golpista está na recuperação da Petrobras e do papel estratégico que nossa maior empresa sempre exerceu no país, inclusive na regulação dos preços dos combustíveis. É urgente reverter a política ultraliberal de Pedro Parente, que trata a Petrobras como se fosse uma empresa privada, com foco no lucro de quem detém ações (grande parte estrangeiros), em detrimento do maior de todos os acionistas: o povo brasileiro.

    A reversão deste processo, em benefício do país e do povo, só será possível quando tivermos um governo eleito pela maioria, com legitimidade para enfrentar as pressões do mercado, ao invés de submeter-se a ele como fazem Michel Temer e Pedro Parente. Esta é mais uma razão para lutarmos pela liberdade de Lula e pelo direito do povo de votar livremente num projeto de país melhor e mais justo, um país soberano, com desenvolvimento e inclusão social.

    Alertamos, por fim, para as tentativas de manipulação política da paralisação dos transportes e suas consequências. Uma crise dessas dimensões, diante um governo que já não tem sequer a capacidade de dialogar, por absoluta falta de credibilidade, pode se transformar em terreno fértil para aventuras autoritárias. Principalmente porque o campo dos golpistas não consegue apresentar uma candidatura e um projeto de país com viabilidade eleitoral. O PT defenderá sempre as soluções democráticas e justas para o país.

    Foto: agência PT-Protesto dos caminhoneiros na BR-040 em Duque de Caxias

    Pela recuperação plena da Petrobras e de seu papel estratégico!

    Por uma política justa e soberana dos preços de combustíveis!

    Por eleições livres e democráticas!

    Lula Livre! Lula Presidente!

    Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do PT

    Paulo Pimenta, líder do PT na Câmara dos Deputados

    Lindbergh Farias, líder do PT no Senado Federal

  • O que está em jogo nas estradas do Brasil?

    O que está em jogo nas estradas do Brasil?

    por Anderson Barreto Moreira, Maister F. da Silva, Lauro Duvoisin e Leandro Noronha de Freitas *

    1) O caráter da greve: as medidas de desmonte e entrega do petróleo e da Petrobras são o pano de fundo da atual paralisação. A pauta econômica é real, ou seja, aumentos contínuos num cenário de crise, por isso o crescente apoio popular à paralisação.

    O governo já não apresenta mais a força necessária para implementar o projeto golpista, vive para o saqueio. Com isso, setores da burguesia também se colocaram na disputa pela sua parte. Dentro desta instabilidade, era inevitável o desdobramento político.

    2) A composição da paralisação: 3 setores são visíveis.

    Primeiro, os transportadores autônomos, mais atingidos pelas políticas atuais de preços, dão a cara pública (trabalhadores) e conquistam apoio popular. Desejam que o governo intervenha nos preços.

    Segundo grupo, o setor empresarial dos transportes, tem como objetivo retirar impostos sobre os combustíveis e reduzir os valores de transporte na intenção de ampliar o lucro.

    Terceiro, capitalistas do setor de energia, que tem como pauta a privatização da Petrobras e angariam apoio em setores empresariais e outros.

    3) A paralisação não coloca, aparentemente, uma disputa de projetos. Porém, é perceptível que cresce a saída “linha dura” como solução das contradições. Fechar mais o golpe para implementar o programa.

    O foco até agora está na Petrobras, não no governo. Mas caso continue a situação atual, a correlação de forças pode se tornar desfavorável para o campo do governo.

    3) Governo: a política neoliberal atual praticamente inviabiliza qualquer controle do governo. Mesmo com o anúncio de uma redução de 10% por quinze dias a reação do capital estrangeiro foi derrubar as ações da Petrobras, num recado para o governo. Ou seja, se o governo decidir atuar, sofre pressão internacional, se não atuar, aumenta a crise. Aparentemente, não há solução à vista, o que pode agravar em poucos dias a situação.

    4) Os setores progressistas: num primeiro momento ficamos presos em apoiar ou não, em caracterizar como greve ou lockout. Nos parece que isso é importante, mas não é o central para a ação. A paralisação angariou apoio popular, mesmo com o desabastecimento ( suspeito, já que em dois dias já se esvaziam postos e prateleiras). Criou várias contradições, principalmente em relação ao setor de energia e a condução da economia. E aí que temos que atuar.

    Não podemos descartar, caso a atual crise se aprofunde, mobilizações de setores da classe média (gasolina) e setores populares ( gás e alimentação). Caso os setores progressistas e a esquerda não encontrem um flanco para disputar a linha política podemos ter movimentos de massa com viés reacionário.

    5) Possibilidades de ação: primeiro, não temos como disputar a direção da greve em si, visto a quase inexistente presença da esquerda na categoria. A disputa que temos que fazer é de projeto no meio da sociedade.

    Denunciar o governo golpista, sua política neoliberal, sua atual política para petróleo e para Petrobras. Pautar não somente a queda dos preços do Diesel e gasolina, mas também do gás. Mostrar como o golpe transformou o país nisso.

    Seria fundamental uma greve do setor petroleiro, como forma de abrir espaço com presença real para disputa desse movimento que pode ter desdobramentos na correlação de forças.

     

    • Maister F. Da Silva e Leandro Noronha de Freitas são militantes do Movimento dos Pequenos Agricultores.
      Anderson Barreto Moreira e Lauro Duvoisin são militantes do Levante Popular da Juventude.

     

  • Desabastecimento começa a atingir Ceagesp

    Desabastecimento começa a atingir Ceagesp

    Texto: Maurício Abbade, para os Jornalistas Livres, com fotos de Rafaela Bonilla

    A greve dos caminhoneiros entrou em seu quarto dia nesta quinta-feira (24) e seus efeitos começam a ser sentidos no Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns de São Paulo). Produtos como manga, mamão da Bahia, melão do Rio Grande do Norte, batata do Pará começam a faltar nas bancas.

    O desabastecimento é consequência da imobilidade urbana causada pela paralisação das estradas devido às reivindicações populares, que começaram na segunda-feira e estendem-se à grande parte das rodovias brasileiras. A Associação Brasileira de Caminhoneiros (ABCam) demanda do Governo Federal medidas para mitigar os impacto do aumento do diesel, como a isenção de tributos.

    O Ceagesp é o maior centro de abastecimento da América Latina, responsável por 60% do abastecimento da Grande São Paulo. Por ele circulam diariamente cerca de 50 mil pessoas e entre 10 e 14 mil veículos. Os caminhões circulam principalmente durante a noite e madrugada – fora do horário de pico.
    Entre os abastecimentos afetados pela mobilização, o fornecimento de pescados destaca-se como um dos mais abatidos, principalmente pela diminuição da variedade de produtos. Moisés Pereira da Silva, distribuidor que transportar peixes do Ceagesp ao Mercado Municipal de São Paulo afirma que “durante o final de semana, tudo isso vai parar, já que é muito provável que fiquemos sem produto” e completa: “a greve é de extrema importância, é necessário tudo isso para que o governo comece a tomar atitudes.”

    Porém, há divergências dentro da esquerda quanto a nomenclatura da mobilização social.

    Alguns afirmam que greve é o melhor termo, já que caminhoneiros estão se movimentando para que melhorias ocorram para sua classe, inclusive, alguns acreditam que isto é trama do governo. Por conta de alguns afirmarem que são os empresários os responsáveis pela mobilização, outros acreditam que a palavra não seja adequada. Entretanto, o mote é o mesmo para as duas situações: a insatisfação do provável aumeto que ocorrerá aos produtos.

    O aumento no valor do diesel acaba gerando um movimento em cadeia, prejudicando a sociedade como um todo. Com uma consequente alta no frete, o preço das mercadorias que chegam à mesa do consumidor é afetado. Entretanto, ao visualizar este quadro, há um problema: a conta não fecha. O consumidor não consegue pagar os altos preços, em vista do alto desemprego. “Menos pessoas estão vindo comprar mercadorias, nós [do Ceagesp] já estamos sentindo o prejuízo”, confirma Moisés.

    Encarregado de transportar cereais, tanto para o Ceagesp quanto para o Porto de Santos, Eugênio Moreira é um dos caminhoneiros que hoje ocupa a estrada SP-264, alinhando-se à mobilização. Autônomo, ele arca com os valores de combustível e pedágios de seus trajetos, enquanto as empresas que o contratam apenas pagam o frete. De acordo com ele, o valor não é o suficiente para manter seu caminhão.
    Jordan Viana, caminhoneiro que está enclausurado no Ceagesp desde de quarta-feira (23), por conta da falta de combustível, afirma que “A greve está certa pois o governo anda pensando, na minha opinião, que os motoristas são palhaços.” Ele é um entre os vários daqueles afetados pelo aumento do diesel.