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  • Suspenso o despejo de 100 pessoas em #SP

    Suspenso o despejo de 100 pessoas em #SP

    Por Luiza Rotbart e Silmara Silva | Jornalistas Livres

    O imóvel que supostamente pertence ao contrabandista Law Kin Chong, foragido da polícia, hoje é a habitação de 100 pessoas, que há um ano trabalham duro na revitalização do espaço. São 43 famílias compostas por 10 idosos, 25 crianças, 7 adolescentes, 49 mulheres e 13 homens adultos.

    Os jornalistas livres fizeram a denúncia no mês passado sobre a situação do imóvel e das famílias.

    43 famílias da ocupação Almirante Negro pedem socorro!

    A juiza Andrea de Abreu e Braga, da 10ª Vara Cível de São Paulo, não se sensibilizou com a causa e os apelos dessas famílias, disse: “aqui não é lugar para caridade, se querem caridade procurem uma freira”.

     

    Somente após um ato que ocupou a Praça da Sé e a frente do Tribunal de Justiça de São Paulo na tarde de ontem, 28.11.2019, o Desembargador Almeida Sampaio, determinou a suspensão da reintegração de posse e declarou a nulidade absoluta dos atos processuais. A determinação do desembargador Almeida Sampaio impediu que mais de cem pessoas fossem para as ruas de São Paulo.

    Suspenso o despejo depois de apelos e muita luta

    A reintegração de posse (despejo) contra os moradores do local, estava marcada para domingo 01.12. A juiza Andrea de Abreu e Braga, da 10ª Vara Cível de São Paulo, foi irredutível na sua decisão, o que fez com que os moradores recorressem ao Tribunal de Justiça para reverter a decisão.

    Os moradores haviam feito apelo também ao Vereador Suplicy, que enviou carta à Juiza este semana, veja a íntegra.

    Excelentíssima Juíza Dra. Andrea de Abreu e Braga,

     

    Fui procurado na semana passada pelos moradores da Ocupação Almirante Negro, cuja desocupação do imóvel está em discussão nos autos do processo  1026859-66.2019.8.26.0100, sob a responsabilidade de Vossa Excelência. Eles relatam que a operação de reintegração de posse estaria agendada para o próximo domingo (1º) e que não tiveram qualquer atendimento social e habitacional do Poder Público até o momento.

     

    Como Vereador, tenho sido procurado semanalmente por diversas ocupações da cidade solicitando apoio para a articulação de atendimento às famílias que sofrerão algum processo de remoção. Inclusive, sou autor do Projeto de Lei nº 200/2019, que justamente estabelece um Protocolo Unificado para Remoções na cidade de São Paulo, e prevê, entre outros pontos, a articulação de serviços e equipamentos diversos para minimizar os danos sociais (e até humanitários) às pessoas que sofrem algum processo de remoção. Além do dilema da moradia, essa população geralmente já está em uma situação de vulnerabilidade grande, o que se agrava com uma medida dessas, principalmente para as famílias que têm filhos em idade escolar.

     

    No presente caso, quando procurado, minha primeira atitude foi conversar com o Núcleo de Mediação de Conflitos da Secretaria Municipal de Habitação, que informou já ter encaminhado o relatório produzido pela SEHAB, solicitando, ao fim, a prorrogação do prazo para cumprimento da medida de reintegração de posse. Minha manifestação vai ao mesmo sentido. Tenho visto exemplos concretos do quanto uma remoção sem qualquer suporte do Poder Público agrava ainda mais situação de vulnerabilidade e pobreza de famílias que não têm moradia. Embora o direito de propriedade deva ser resguardado, é muito importante que os danos de uma medida como essa sejam reduzidos ao máximo. É importantíssimo para o desenvolvimento das crianças e adolescentes da ocupação que possam bem concluir seu ano letivo escolar, o que acontece em escolas da região.

     

    Em outros casos em que meu gabinete atuou, tivemos êxito na articulação com juízes e promotores, a fim de encaminhar o caso para os cuidados do GAORP, que detém de maior força institucional para viabilizar esse atendimento social nesses casos. Diante disso, questiono a possibilidade de que seja adotado encaminhamento semelhante no presente caso, ou que, pelo menos, seja adiada a medida a fim de que se conclua o ano letivo das crianças e adolescentes e de que essas famílias não tenham que passar as festas de fim de ano na rua. 

     

    Coloco-me à disposição, dentro da competência institucional, para colaborar com o que for preciso em prol da boa solução dessa medida de remoção. Agradeço imensamente sua atenção e na oportunidade manifesto votos de elevada estima e distinta consideração.

     

    Atenciosamente,

     

    Eduardo Matarazzo Suplicy

    Vereador

    APELO DOS MORADORES

    Os moradores também enviaram apelo, em carta aberta aos membros do judiciário, que finalmente se sensibilizaram, revertendo a decisão do despejo que estava marcado para o próximo domingo.

     

    Abaixo, a nota que foi enviada pela comissão de moradores da Ocupação Almirante Negro:

    Excelências

    Do judiciário, do executivo, do legislativo e das forças de segurança, não deixem a injustiça prosperar.

    Somos 43 famílias compostas por 10 idosos, 25 crianças, 7 adolescentes, 49 mulheres e 13 homens adultos. Ao todo, mais de 100 pessoas. Trabalhamos duro para sustentar as nossas famílias e por absoluta falta de condições materiais e desprezo do poder público, não encontramos meios para pagar aluguel. Vivemos com dignidade, mas em estado de necessidade. Frente a essas condições, em 18 de Abril de 2018 ocupamos o imóvel abandonado na Rua Carlos de Sousa Nazaré, 630 – Parque Dom Pedro II. Encontramos o prédio completamente destruído, sem fios elétricos, sem encanamentos, nem portas e janelas, pias, vasos sanitários. Servia como ponto de consumo de drogas. E por vezes, ocorria assassinato, e até um corpo foi encontrado na caixa d’agua. Possuía muito lixo, ratos, pernilongos criadouros de dengue. Enfim, era câncer um urbano. 

    De acordo com o código civil art. 1.228 é uma propriedade ilegal e abandonada. Seu suposto proprietário é o senhor Law Kin Chong, um fora da lei, contrabandista, constantemente às voltas com a polícia e a justiça. Entendemos que essa propriedade, além de abandonada, foi adquirida por recursos ilícitos. Não foi adquirida por execução do trabalho, mas pelas atividades do contrabando. Observando estas condições, ocupamos o imóvel e reconstruímos tudo: Alvenaria, elétrica, hidráulica, portas. Deixamos em condições de acomodar nossas famílias. Já moramos ali por mais de 1 ano. Trabalhamos no entorno e nossos filhos frequentam as escolas da região.

    Entretanto, a juíza Andrea de Abreu e Braga, da 10ª Vara Cível de São Paulo, concedeu a reintegração de posse (despejo) contra todos os moradores do local. Violou nossos direitos assegurados pela nossa Constituição, pela Convenção de Direitos Humanos, pela Bíblia que tem a moradia como direito sagrado. Violou ainda o código civil que estipula requisitos para o direito à propriedade. Obedeceu a um pedido da esposa do injusto possuidor do prédio. E mais, solicitou forças policiais armadas para arrancar as famílias e suas crianças de seus lares. Para completar, se recusou a dialogar com os moradores. Disse que, “em 18 anos de carreira, nunca falou com populares, sempre por advogados”. Revelando assim, seu total desconhecimento da vida de nosso povo. E por esse comportamento da juíza, fica comprovado que o judiciário não faz justiça. 

    Por isso estamos aqui, para que as autoridades anulem essa sentença injusta e desumana. Para que respeitem nosso ordenamento jurídico e assegurem os nossos direitos. Queremos continuar morando no local porque deixamos o prédio apropriado para acolher as nossas famílias que correm o risco de irem parar nas ruas de São Paulo. Que o imóvel seja desapropriado e sejam abertos programas de financiamento de moradia popular que contemplem os trabalhadores de baixa renda, permitindo que as famílias continuem morando no local. Não podemos aceitar que as autoridades nos tratem como se fossemos sacos de lixo, para proteger os bens de um contrabandista.

    São Paulo, 28 de novembro de 2019

    Comissão dos Moradores da Ocupação Almirante Negro

    SEGUE AQUI A COMEMORAÇÃO DA VITORIA DOS MORADORES

     

  • Um, em cada quatro brasileiros, tem sua força de trabalho subutilizada

    Um, em cada quatro brasileiros, tem sua força de trabalho subutilizada

    Embora pequenos, os aumentos recentes no emprego, no Brasil, deveriam gerar um otimismo maior do que temos verificado. As vendas no varejo continuam apresentando volumes decepcionantes: o trimestre terminado em setembro ficou estável em relação ao trimestre anterior, ou seja, as vendas não cresceram, nem caíram. Em 12 meses, o varejo ainda cai 0,6%.

    Da mesma forma, o setor de serviços não traz boas novas: caiu em julho (0,8%), em agosto (1,0%) e em setembro (0,3%), além de acumular queda de 3,7% no ano de 2017. Como explicar o desânimo revelado por esses números do varejo e do setor de serviços?

    O gráfico acima nos dá uma ideia precisa: embora os dados do IBGE venham indicando pequenas quedas no desemprego, há um contingente expressivo de pessoas, acima da casa dos 6 milhões, que trabalha menos horas do que poderiam e gostariam. Há, ainda, 7,5 milhões de pessoas, que compõem a força de trabalho potencial, cuja força de trabalho é igualmente subutilizada.

    Vamos destrinchar os indicadores que compõem esse gráfico

    A Organização Internacional do Trabalho (OIT) recomenda que os países utilizem três indicadores para que consigamos visualizar um quadro mais completo da situação do trabalho e da subutilização da força de trabalho.

    O primeiro indicador já é bastante conhecido entre nós: pessoas desocupadas. São pessoas, de 14 anos ou mais, que estavam sem trabalho na semana pesquisada, mas que estavam disponíveis para trabalhar e tentaram conseguir um trabalho. No terceiro trimestre de 2017 (julho-agosto-setembro), havia 12 milhões e 961 mil pessoas desocupadas no Brasil.

    O segundo indicador é composto por aquelas pessoas que gostariam de trabalhar 40 horas por semana, mas só conseguem trabalho por períodos menores. São pessoas subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas. Havia, no Brasil, 6 milhões e 276 mil pessoas nessa condição, no 3o trimestre de 2017.

    O terceiro indicador, recomendado pela OIT, é chamado de força de trabalho potencial são pessoas que gostariam de trabalhar, estavam disponíveis, mas não procuraram trabalho, somadas às pessoas que buscaram trabalho, mas não estavam disponíveis para trabalhar na semana pesquisada. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), realizada pelo IBGE nesse 3o trimestre de 2017, revelou que a força de trabalho potencial era composta por 7 milhões e 525 mil pessoas.

    No quadro abaixo podemos identificar os três indicadores os desocupados (letra D), os subocupados por insuficiência de horas (letra H) e a força de trabalho potencial (letra E). Ao somarmos os três indicadores chegamos à subutilização da força de trabalho: 26 milhões e 762 mil pessoas.

    Somando o número de ocupados, de desocupados e a força de trabalho potencial chegamos à Força de Trabalho Ampliada, que nessa pesquisa somou 111 milhões e 783 mil pessoas.

    A Taxa Composta da subutilização da Força de Trabalho é a divisão da subutilização da força de trabalho (subocupados por insuficiência de horas + desocupados + força de trabalho potencial) pela Força de Trabalho Ampliada. A pesquisa do IBGE revela, assim, que 23,9% dos trabalhadores brasileiros estão desocupados, subocupados ou fazem parte da força de trabalho potencial.

    Em resumo, a economia brasileira não está sendo capaz de utilizar a força de trabalho total disponível de um em cada quatro trabalhadores ou trabalhadoras.

    Nota:

    1 Para ver o relatório do IBGE: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/18012-pnad-continua-taxa-de-subutilizacao-da-forca-de-trabalho-fica-em-23-9-no-3-trimestre-2017.html

    2 Para ver os dados do varejo: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2013-agencia-de-noticias/releases/17935-em-setembro-vendas-no-varejo-crescem-0-5.html

    3 Para os dados do setor de serviços: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/18014-em-setembro-setor-de-servicos-varia-0-3-frente-a-agosto.html

  • Um ano do golpe. E a economia?

    Um ano do golpe. E a economia?

    Quando o canal de TV e o jornal apoiam o governo, a notícia econômica ruim é dada acrescentando-se ao final: “mais há sinais de que vai melhorar”. Quando a notícia é boa, mas a mídia é oposição ao governo, acrescem: “mas pode piorar”. Você, provavelmente, tem ouvido que nossa economia está mal das pernas, mas que vai melhorar.

    Mostramos, aqui os dados mais recentes, divulgados pelo IBGE, relativos ao desemprego, à produção industrial, ao comércio varejista, ao setor de serviços e à inflação. Encerramos com um breve comentário sobre o caminho que ora trilhamos.

    Vamos ver se há motivos para comemorar.

    1 O desemprego chegou a 14,2 milhões de pessoas e bateu o recorde da série histórica

    “Essa foi a maior taxa de desocupação da série histórica”, afirma o comunicado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD – que mostrou que, no trimestre janeiro, fevereiro e março de 2017, o desemprego chegou a 13,7% da força total de trabalho do Brasil, estimada em pouco mais de 103 milhões de pessoas.

    A população desocupada chegou a 14,2 milhões no primeiro trimestre de 2017 (jan-fev-mar) e bateu o recorde da série histórica. No trimestre anterior (out-nov-dez de 2016), o contingente de desempregados era de 12,4 milhões de pessoas. Mais de 1,8 milhão de pessoas passaram à condição de desempregados, um crescimento percentual de 14,9%.

    No mesmo trimestre de 2016 (jan-fev-mar), a pesquisa apresentava 10,9% de desemprego, ou seja, 11,1 milhão de desempregados. Houve, do primeiro trimestre de 2016 para o primeiro trimestre de 2017, um acréscimo de 3,1 milhões de pessoas, o que representa um crescimento percentual de 27,8% no contingente desempregado.

    É possível reparar no quadro acima que o desemprego atual é mais do que o dobro do verificado durante quase todo o ano de 2014 e só cresceu nos últimos meses.

    “O número de empregados com carteira de trabalho assinada (33,4 milhões de pessoas) recuou em ambos os períodos de comparação: frente ao trimestre outubro / dezembro de 2016 (-1,8% ou menos 599 mil pessoas) e ao trimestre janeiro / março de 2016 (-3,5% ou menos 1,2 milhão de pessoas). Este foi o menor contingente de trabalhadores com carteira assinada já observado na série histórica da pesquisa”, nas palavras do IBGE.

    2 Produção industrial cai 3,8% nos últimos 12 meses

    Os índices da produção industrial costumam apresentar surpresas de um mês para outro, no entanto quando olhamos comparações anuais temos melhor ideia da tendência que está em curso. O quadro abaixo nos mostra que, em 12 meses terminados em março de 2017, houve queda na produção em todas as quatro categorias: bens de capital (-2,3%), bens intermediários (-4,2%), bens de consumo duráveis (-5,5%) e bens de consumo semiduráveis e não duráveis (-5,5%).

    Na comparação de março de 2017 com fevereiro também foi observado recuo de 1,8% da atividade industrial. Dos 24 ramos da indústria pesquisados, 15 tiveram desempenho negativo. “Entre os setores, as principais influências negativas foram registradas por veículos automotores, reboques e carrocerias (-7,5%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-23,8%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-3,3%)”, aponta o IBGE.

    3 Comércio varejista ampliado cai 7,1% em 12 meses

    A tabela abaixo nos mostra os dados do varejo e do varejo ampliado, que engloba veículos e material de construção. O altíssimo número de desempregados nos explica fielmente os dados do comércio: quando a renda cai, a família tenta manter a alimentação e medicamentos, abrindo mão dos outros itens de consumo. Isso explica que as menores quedas, em 12 meses terminados em março de 2017, são relativas às vendas de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-3,2%) e às vendas de artigos farmacêuticos (-3,4%).

    As compras descartadas e adiadas se agrupam, principalmente, em i) livros, jornais, revistas e papelaria (-13,2%); ii) equipamento e material para escritório, informática e comunicação (-10,8%) e iii) veículos, motos, partes e peças (-12,8%).

    4 Setor de serviços cai 5,0% em 12 meses

    O setor que mais emprega trabalhadores no Brasil, o setor de serviços, teve queda de 5,0% nos 12 meses encerrados em março de 2017. O ciclo vicioso atual fica evidente através desse setor: milhões de desempregados consomem menos, as empresas aumentam as demissões pela queda no volume de serviços, o que vem agregar mais trabalhadores ao contingente desempregado.

    A maior queda se verificou nos serviços de transporte (-7,2%), seguida pelo setor de serviços profissionais, administrativos e complementares (-6,1%).

    Sobre o mais recente dado publicado, o IBGE informa: “em março, o setor de serviços apresentou queda de 2,3% no volume de serviços prestados frente ao mês anterior (série com ajuste sazonal), após ter registrado crescimento de 0,4% em fevereiro (revisado) e 0,0% em janeiro (revisado). Essa é a maior queda da série iniciada em 2012”.

    5 Inflação tem a menor taxa acumulada em 12 meses desde 2007

    A inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA – ficou em 4,07% no período de 12 meses terminado em abril de 2017. Segundo o IBGE, constituiu-se “na menor taxa em 12 meses desde julho de 2007, quando se situou em 3,74%”.

    A tabela abaixo nos mostra que, em abril, os preços do item alimentação foram os que mais subiram (0,15%) e os preços do item habitação foram aqueles que mais caíram (+0,17%), especialmente por conta da queda do preço da energia elétrica (6,39%).

    6 Considerações finais

    Houve um tempo em que o combate à inflação não era a principal meta das áreas de política econômica do governo, Banco Central, Ministérios da Fazenda e do Planejamento. O emprego e o crescimento eram mais importantes. Houve, é claro, exageros e “irresponsabilidades” fiscais.

    Mas, ao sairmos do oitenta, dos governos militares, em direção ao oito, dos governos pós Plano Real, perdemos a noção de que o que realmente importa na economia é o bem-estar que é possível proporcionar ao conjunto da população.

    Achar que, para crescer e voltar a dar emprego aos brasileiros, é preciso deixar mais de 14 milhões de trabalhadores desempregados, com a política de austeridade atual, é de uma miopia criminosa. A estabilidade política com um governo legítimo é o caminho para voltarmos aos trilhos, o único caminho.

    Notas

    1 PNAD – comunicado do IBGE em 28/04/2017 em:

    http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias.html?view=noticia&id=1&idnoticia=3420&busca=1&t=pnad-continua-taxa-desocupacao-vai-13-7-trimestre-encerrado-marco-2017

    2 Produção Industrial – Comunicado do IBGE em 03/05/2017 em:

    http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias.html?view=noticia&id=1&idnoticia=3422&busca=1&t=producao-industrial-cai-1-8-marco

    3 Vendas no varejo – comunicado do IBGE em 1/05/2017 em:

    http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias.html?view=noticia&id=1&idnoticia=3429&busca=1&t=vendas-varejo-caem-1-9-entre-fevereiro-marco

    4 Serviços – comunicado do IBGE em 12/05/2017 em:

    http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias.html?view=noticia&id=1&idnoticia=3430&busca=1&t=marco-setor-servicos-cai-2-3-relacao-fevereiro

    5 Inflação – comunicado do IBGE em 10/05/2017 em:

    http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias?view=noticia&id=1&busca=1&idnoticia=3427

  • PM: “ É quase certeza que a reintegração ocorrerá”

    PM: “ É quase certeza que a reintegração ocorrerá”

    Boa parte dos moradores da ocupação são crianças. Foto: www.mediaquatro.com

    A reintegração de posse do Glória, área pertencente à Universidade Federal de Uberlândia onde vivem 2.350 famílias há cinco anos, se torna cada vez mais próxima aos olhos da Polícia Militar. Porém, mesmo com o planejamento pronto e a verba necessária depositada à PM, a intervenção ainda não ocorreu. O Major Julio Cesar Cerizze Cerazo de Oliveira, assessor de Comunicação Organizacional da 9ª RPM (9ª Região de Polícia Militar), explicou o motivo desta ação ainda não ter acontecido em entrevista exclusiva ao blog Glória em Foco.

    “O processo de reintegração de posse não é simplesmente o uso de força policial para reaver o terreno ocupado. Ele envolve uma série de negociações que inclui reuniões com o Ministério Público, órgãos de defesa dos direitos humanos e dos sem teto, a Pastoral da Terra, a Promotoria e os próprios moradores”. Segundo o Major, o avanço do processo depende das negociações e prazos estabelecidos nesses encontros.

    Ele ainda afirma que a área do campus Glória da UFU não é um assentamento. “Tecnicamente, por enquanto é uma invasão. Vira assentamento depois que o governo compra a área e a distribui em forma de lotes”. Apesar disso, o dicionário Aurélio apresenta outra descrição: “Ato ou efeito de fixar-se, de estabelecer residência em determinado lugar”.

    O chamado “Triângulo do Glória” limitado abaixo por um campus da UFU, à esquerda pela antiga ocupação e hoje bairro São Jorge e ao fundo os bairros centrais de Uberlândia. Foto: www.mediaquatro.com

    Oliveira declara também que a parte mais complexa desta ação já foi realizada. “Realmente houve o depósito dos R$ 7,4 milhões para custear a operação, e isso era o mais difícil de ocorrer. Então eu quero acreditar que a ordem judicial será cumprida, pois já são dois anos de negociação e ninguém conseguiu entrar num consenso. Tenho quase certeza que a reintegração vai acontecer”. Como fins da verba citada, ele cita a munição, o transporte, a alimentação e o combustível, além de hospedagem para as possíveis tropas vindas de fora da cidade.

    “O planejamento para a operação já está pronto desde 2014. Por isso, o valor depositado pela UFU pode não ser suficiente para custeá-la. Houve aumento do número de pessoas no local, então precisaremos aumentar a quantidade de policiais, de viaturas, de armamento para fazer frente ao tamanho que hoje está a invasão do Glória ”, declara Oliveira.

    Para o Major, há também perigo de fatalidades no caso de um confronto com os moradores do local. “Quem vai determinar o tipo de abordagem que vai ocorrer são as pessoas que moram lá. A Polícia Militar estará preparada para o que for necessário. De acordo com a reação que ocorrer por parte dos moradores, vamos responder à altura”. Ele também afirma que, no planejamento, a polícia já faz uma previsão do pior dos cenários, com 40 mortes (10 soldados e 30 civis). Por este motivo, existe um plano de uso de ambulâncias e de transporte aéreo para feridos graves. Além disso, é feito um contato prévio nos hospitais próximos.

    Praticamente todas as mais de 2.350 casas da ocupação são de alvenaria e os moradores continuam construindo mais. Foto: www.mediaquatro.com

    Quanto aos bens da população, Oliveira afirma que, por ser uma área federal, provavelmente a UFU colocará à disposição mão de obra, equipamentos e um local para manter os pertences dos moradores, no entanto não há qualquer manifestação da reitoria nesse sentido. “No caso de uma área particular, o proprietário é quem geralmente banca estes custos. Como é uma área federal, quem deve acolher estas pessoas deve ser a própria universidade”. Ainda assim, em documento expedido no dia 13 de fevereiro deste ano, a procuradoria de Uberlândia afirmou que a universidade não tem competência para realizar um plano de desocupação considerando o número atual de habitantes do terreno.

    Quando perguntado sobre a possível substituição da área pela Fazenda do Capim Branco, localizada na zona rural de Uberlândia, o oficial foi incisivo. “Não existe troca de área pública. O governo não pode doar esta área porque não pertence a ele, é público. É como achar que o prefeito pode dar uma praça para alguém. A UFU é pública, por isso não se pode ficar trocando ou cedendo espaço para outros. Se fosse uma área particular, seria diferente”. É importante lembrar que, apesar da afirmação acima, houve uma série de negociações para a troca do terreno com a UFU, mesmo havendo certo prejuízo. Enquanto a área do Glória é avaliada em cerca de R$ 65 milhões, a do Capim Branco tem valor de 58 milhões de reais.

    Foto: www.mediaquatro.com

     

  • Estudantes ocupam Centro Paula Souza e sofrem desocupação truculenta

    Estudantes ocupam Centro Paula Souza e sofrem desocupação truculenta

    Por Anna Caroline Kaptchouang, Fotos Lucas Martins Jornalistas Livres

    Na quinta-feira, 3, um grupo de estudantes ocupou a sede do Centro Paula Souza, autarquia responsável pela administração das Escolas Técnicas (ETEC) e Faculdades de Tecnologia (FATEC) do Estado de São Paulo, localizada no centro da capital.

    Os secundaristas alegavam que o atual governo gerenciado por Geraldo Alckmin (PSDB) não tem repassado recursos para as unidades das Etecs e Fatecs e não apresenta planos de inclusão.

    A Medida Provisória Nº 746/2016, que institui uma reforma estrutural no ensino médio, e a PEC 55/2016 (antiga 241), que prevê o congelamento de gastos do governos pelos próximos 20 anos, também foram questionadas.

    A ocupação teve seu início às 17h55, enquanto os alunos pulavam o muro da entrada principal e instalavam-se na parte de fora do edifício, já que a porta de vidro da área exterior estava trancada. Os ocupantes começaram a montar barracas, mas pouco tempo depois viaturas da polícia sondaram o prédio. Por volta das 18:56, o policiamento foi reforçado e a Força Tática que isolou o quarteirão do prédio tomado pelos estudantes.

     


    Os estudantes passaram a gritar palavras de ordem ao perceber que a PM estava se posicionando para realizar a desocupação, que foi feita às 19:55, horário em que o primeiro ocupante foi retirado e posicionado para ser revistado. No mesmo instante, o Deputado Estadual José Zico Prado (PT) discutia com policiais do lado de fora do cordão de isolamento e negociava entrar para acompanhar de perto o que estava sendo feito.

    O advogado Denis Veiga Junior foi acionado e se responsabilizou pelos 37 manifestantes, entre eles dez menores de idade, que foram encaminhados para o 2º Distrito Policial, no Bom Retiro, em dois ônibus divididos entre homens e mulheres.

    AGRESSÕES

    Durante a desocupação o estudante Mateus, 16, recebeu um chute no rosto enquanto estava agachado, terminando de arrumar seus pertences. “No momento achei que haviam jogado uma bomba ali porque só ouvia um zumbido muito forte”, disse enquanto aguardava para prestar depoimento. Outra aluna também alegou ter sido agredida pela polícia. Após optar por não se identificar, a jovem afirmou que levou um forte chute na costela. Ambos realizaram exame de corpo de delito na manhã de sexta-feira, 4.

    AUTOTUTELA

    A medida usada para a realização da desocupação foi a autotutela. Este meio não possui argumento jurídico, é um parecer (a opinião de um juiz sobre o caso). Diante disso, a PM foi autorizada a agir da forma que achasse necessário para realizar a desocupação. Basta apenas solicitar o pedido de alguém responsável pelo prédio ou pela Secretaria da Educação. Esta medida, entretanto, não possui ordem judicial ou legalidade para futuros processos contra os secundaristas. O fato da autotutela não ser um documento jurídico fez com que a delegada que se encontrava na DP não realizasse queixa alguma contra os manifestantes, tendo os liberado por volta das 1h30 da manhã.

    O governador Geraldo Alckmin, depois do ocorrido, disse concordar com o uso da autotutela por acreditar que as ocupações retiram direitos de alunos e professores e reafirma que a medida foi confirmada pelo Tribunal de Justiça após o parecer da Procuradoria Geral. Alckmin disse também que sempre esteve aberto a diálogo com os estudantes.

    Acompanhe pelo vídeo:

     

  • Assentamento Glória enfrenta ameaça de despejo

    Assentamento Glória enfrenta ameaça de despejo

    Uma das maiores ocupações urbanas do Brasil, na periferia de Uberlândia, teve 5º pedido de reintegração de posse emitido pela justiça mas não foi realizada. Governo golpista pode desalojar 2.300 famílias a qualquer momento.

     

    Desde o final de 2011, 50 famílias, várias despejadas de outra ocupação, começaram a montar alguns barracos em uma grande área na periferia de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, pertencente à União e destinada a um novo campus da Universidade Federal de Uberlândia. No ano seguinte, 120 famílias ligadas ao Movimento dos Sem Teto do Brasil (MSTB) se juntaram às iniciais e fundaram a Ocupação do Glória, também chamada então de Paulo Freire. Hoje são cerca de 15 mil moradores na área que tem ruas demarcadas, lotes numerados, casas de alvenaria, igrejas, pequeno comércio e recebe o nome oficial de bairro Élisson Pietro.

    Foto por Luiz Alberto Júnior
    Foto por Luiz Alberto Júnior

    Para evitar uma tragédia como o Pinheirinho, em São José dos Campos, São Paulo, a UFU e a Prefeitura de Uberlândia entraram num entendimento de doação de um outro terreno para a universidade em permuta com o da ocupação. Entretanto a Secretaria de Patrimônio da União teria recusado o acordo por conta do valor do terreno ofertado pela prefeitura, que seria menor do que o do campus Glória, e entrado na justiça pedindo a reintegração de posse.  Segundo o advogado dos assentados, Higino Marcos, o imbróglio jurídico deveria ter se encerrado em março desse ano, a partir de um acordo entre as partes. Mas a justiça emitiu em abril uma nova ordem de despejo, a 5ª em quatro anos, para execução em 10 dias. Esse prazo já se encerrou e com a tomada pelo poder do governo golpista de Michel Temer, os assentados estão novamente com a espada sobre as cabeças.

    Foto por Luiz Alberto Júnior
    Foto por Luiz Alberto Júnior

    O documentário Faces do Glória, produzido em 2015 por alunos do curso de jornalismo da UFU, mostra a realidade da comunidade e retrata a sua identidade através de depoimentos dos próprios moradores sobre as dificuldades enfrentadas, a marginalização do movimento de luta pela terra e as perspectivas para o futuro em busca da conquista do seu espaço e direitos básicos. Conheça a realidade de um movimento muito estigmatizado, estereotipado e invisível aos olhos da sociedade.

    Produção, edição e finalização do vídeo:  Ana Luiza Figueiredo, Emilio Andrade, Halyson Vieira, Isabela Silveira, Isadora Puríssimo, Iury Machado e Luiz Alberto Júnior

    Orientação acadêmica: Profas. Diva Silva e Christiane Pitanga