Jornalistas Livres

Tag: Democracia

  • O que está por trás da contagem de pessoas nos protestos?

    O que está por trás da contagem de pessoas nos protestos?

     

    O número divulgado de participantes nas manifestações do fim de semana mostra quem é quem na fila do pão, mais conhecida como política

    Se depender dos resultados sobre o número de participantes nas manifestações que tomaram a Avenida Paulista na sexta-feira, 13, e no domingo, 15, deste mês de março de 2015, a situação da educação brasileira não poderia ser mais assustadora: somos os piores do mundo em matemática.

    Afinal, o que mais explicaria o fato de a Polícia Militar do Estado de São Paulo dizer que mais de um milhão de pessoas foram às ruas protestar neste domingo, enquanto o Instituto DataFolha estima não mais que 210 mil pessoas? Uma diferença superior a 450% na solução de uma mesma equação.

    Foto: Mauricio Lima para Jornalistas Livres

    Na sexta-feira foi ainda pior. Na manifestação a favor da democracia e em defesa da Petrobras, a PM fechou a conta em 12 mil pessoas, a organização (formada por movimentos sociais e sindicais) cravou 100 mil. O DataFolha chutou na coluna do meio: 41 mil. A discrepância entre um ponto e outro beira 1000%.


    Mesmo sem um diploma de exatas ousamos ponderar que em ambos os dias, a verdade numérica deve estar no meio desses extremos. O problema é que cada lado adota para si o que lhe é mais conveniente.

     


    De acordo com o DataFolha, no auge da manifestação deste domingo por volta das 16 horas, havia 188 mil pessoas reunidas. Pouco antes, às 15h40, a Polícia Militar havia informado que o número passava de um milhão de manifestantes na Avenida Paulista e adjacências, protestando contra o governo da presidente Dilma Rousseff. Segundo a PM, o cálculo levou em conta a informação de que a cada dois minutos chegavam quatro mil pessoas pelo pela estações de metrô da região.

    Foto: Renato Stockler para Jornalistas Livres

    De acordo com o professor de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo, Renato Janine Ribeiro, para caber tanta gente nos cerca de 2,6 quilômetros de extensão, com cerca de 30 metros de largura da avenida, ocupados pelos manifestantes, é necessário que haja de 15 a 17 pessoas por metro quadrado. “Nem naquela apresentação do circo chinês, onde os artistas de se equilibram um em cima do outro é assim”, ironiza. A PM rebate afirmando que usa imagens aéreas e tecnologia de ponta nos cálculos.

    Davi e Golias – O que está por trás da contagem de pessoas nos protestos?

    Para quem compareceu às manifestações, resta uma certeza: Nem de longe, a multidão que marchou por quilômetros da Paulista a Praça da República, embaixo de chuva torrencial (confira aqui) na sexta-feira, 13, era o Davi que sugere a polícia. Ao passo que nem o mais crédulo cidadão pode concordar que para o protesto contra a corrupção, a favor do impeachment, intervenção militar, e pelo menos mais meia dúzia de reinvindicações, mais de um milhão de pessoas saíram de casa neste domingo em direção a avenida mais famosa de São Paulo. Um Golias para metáfora bíblica nenhuma botar defeito.

    Policiais monitoram manifestação na Av. Paulista no Domingo, 15 de Março. Foto: Caio Palazzo para Jornalistas Livres

    A discrepância absurda merece análise, mas não para se discutir as operações básicas da matemática — que ao que parece ninguém sabe como funciona em São Paulo — e sim as motivações para tal. O governo paulista, a quem a polícia é subordinada, tem claro interesse de inflar o resultado de domingo e mitigar o de sexta, assim como o tratamento dado pela imprensa tradicional, que solenemente ignorou o ato da sexta, mas tratou o do domingo como um carnaval, já mostra onde estão depositados os seus interesses. O mesmo acontece com o perfil dos presentes nos dois dias.

    Sexta-feira, a cor e a cara dos manifestantes não escondia o cansaço e nem a origem dos mesmos, ao passo que domingo, a alegria, a camisa da seleção, e as babás uniformizadas também não. Isso deslegitima a maior parte das reinvindicações? Não, mas deixa claro as motivações de cada um.


    Saiba mais sobre os Jornalistas Livres

    #JornalistasLivres em defesa da democracia: cobertura colaborativa; textos e fotos podem ser reproduzidos, desde de que citada a fonte e a autoria. Confira mais em facebook.com/jornalistaslivres.

  • Intervenção militar não!

    Intervenção militar não!

     

    Se dependesse da vontade de parte da população que ocupa as ruas neste domingo, 15, esta manifestação não aconteceria. Vários cartazes expostos apontam o desejo da volta dos militares ao poder. Uma vontade aparentemente contraditória para quem está se manifestando livremente, já que os militaristas que vão as ruas se beneficiam de um dos principais fundamentos da democracia: o direito à livre manifestação, independentemente das contradições.

    Foto: Mídia NINJA

     

    Intervenção militar não !

    A insatisfação incentivada pela imprensa tradicional, claramente direcionada a um partido e ao governo federal — em meio a denúncias que envolvem nomes de diversos partidos nas esferas municipal, estadual e federal — procura acordar monstros adormecidos nos porões de nossa História. Uma pergunta paira no ar: como um retrocesso poderia ajudar a resolver os problemas políticos e econômicos que o país enfrenta agora?

    Queremos avanços, não retrocessos.


    Saiba mais sobre os Jornalistas Livres

    #JornalistasLivres em defesa da democracia: cobertura colaborativa; textos e fotos podem ser reproduzidos, desde de que citada a fonte e a autoria. mais textos e fotos em facebook.com/jornalistaslivres.

     

  • Sexta-feira, 13: dia de terror para os poderosos

    Sexta-feira, 13: dia de terror para os poderosos

    As forças sociais que elegeram a presidente Dilma Rousseff reuniram-se na  sexta-feira, 13  de março, pela primeira vez desde o início deste segundo mandato presidencial para exigir a reforma política, defender a democracia, os direitos dos trabalhadores (atacados pelo ajuste fiscal promovido pelo pacto de governabilidade), a Petrobras e o Pré-Sal.

    Um ato de luta, que exigiu o respeito ao mandato das urnas.

    Sexta-feira, 13 – um dia há se lembrar

    No mesmo dia, há 51 anos, o presidente trabalhista João Goulart, também enfrentando uma oposição feroz, realizou o Comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Diante de uma multidão de 150 mil pessoas, o próprio Goulart discursou em favor das chamadas Reformas de Base (reformas agrária e urbana), e do direito de voto para analfabetos e soldados. Como demonstração da centralidade da Petrobras desde então, Goulart assinou decreto de desapropriação de refinarias de petróleo que ainda estavam de posse da iniciativa privada.

    São Paulo. Foto: Renato Stockler

    Mas as semelhanças param aí. Nos atos públicos realizados neste ano em 24 cidades e no Distrito Federal, Dilma Rousseff não foi. Seus ministros tampouco. E contavam-se nos dedos os dirigentes do Partido dos Trabalhadores que deram as caras. Entre as honrosas e aclamadas exceções estavam o ex-senador Eduardo Suplicy e o ex-deputado estadual Adriano Diogo, para o qual o partido precisa voltar para o campo das lutas populares.

    Rio de Janeiro. Foto: Mídia NINJA

    Foi resultado da coragem dos dirigentes da Central Única dos Trabalhadores, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, da União Nacional dos Estudantes, dos movimentos de moradia, e de inúmeras outras organizações populares e de juventude, o grande reencontro da esquerda com sua vocação reivindicatória, expressa nos atos públicos realizados. Centenas de milhares de pessoas manifestando a disposição de lutar pelo aprofundamento da democracia e por mais direitos.

    Desde o Palácio do Planalto, durante toda a semana, saíam recriminações aos atos do dia 13. Dizia-se que seria um fracasso, um tiro no pé, que acabaria dando munição aos defensores do impeachment, que demonstraria a fragilidade da base social do governo.

    Mas foi bem diferente o que se viu..

    Avenida Paulista. Foto: Mídia NINJA

    O maior de todos os atos aconteceu em São Paulo, o Estado que deu esmagadora vitória ao candidato tucano Aécio Neves na última eleição presidencial, terra de bandeirantes e de preconceitos, mas também berço do Partido dos Trabalhadores, do movimento estudantil e das greves operárias dos anos 1970/80, que ajudaram a derrubar a ditadura e a reconquistar a democracia.

    Na avenida Paulista, 100.000 pessoas (segundo a CUT) e 41.000 (segundo o DataFolha) vestiram-se de vermelho debaixo de céu preto e ameaçador. Não demorou e a tempestade desabou. Mas aí foi que a festa começou.

    São Paulo. Foto: Renato Stockler

    “Pode chover, pode molhar, ninguém segura a resistência popular”, gritavam os manifestantes. Ninguém arredou pé.

    Foto: Mídia NINJA
    Avenida Consolação. Foto: Jornalistas Livres

    Para a militância, que passou o último mês encolhida –humilhada pelas denúncias de corrupção envolvendo dignitários petistas e gente de todos os partidos — , foi uma apoteose. O MST apareceu com seus homens e mulheres de rostos tostados de sol, os professores vieram depois de decretar greve em assembleia realizada no vão livre do Masp. Os metalúrgicos, os sambistas da Rosas de Ouro, os negros, os cotistas, os moradores de rua. Os jovens do Levante Popular da Juventude.

    São Paulo, 13 de Março de 2015 — Foto: Maurício Lima
    São Paulo, 13 de Março de 2015 — Foto: Maurício Lima

    “A mídia golpista quase fez a gente acreditar que estava derrotada, mas a gente está firme e forte e não vai permitir que o Brasil seja tomado de assalto pelos ricos e poderosos”, disse a dona de casa Eurides Camargo de Souza, 65 anos, enrolada em uma bandeira do PT que ela mesma bordou em 1982, durante a primeira campanha eleitoral que teve Lula como candidato.

    São Paulo. Foto: Hélio Mello
    Rio de Janeiro — Foto: Dado Galdieri

    Muitos militantes portavam cartazes em que se lia ‪#‎globomente‬ e ‪#‎globogolpista –aliás, a hashtag #globogolpista foi a campeã de citações no twitter, comprovando que até mesmo na guerra virtual, a esquerda retomou a iniciativa. Pela primeira vez em meses, hashtags identificadas com os movimentos sociais tiveram a maioria das citações nas redes sociais‬. “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!”

    São Paulo. Foto: Mídia NINJA

    Ficou até chato ver o repórter da Globo andando com capacete de guerra na avenida Paulista, entrando no Jornal Nacional. Para enfatizar o ridículo do equipamento de segurança, o próprio Jornal Nacional afirmava terem sido absolutamente pacíficos os atos realizados em todo o país.

    Igualmente destoante foi a presença de 50 militantes do grupo de ultra-direita “Revoltados Online”, que se postou na avenida Paulista em clara atitude provocativa. Mas ninguém lhes deu ouvidos. E eles ficaram ali, com o farol baixo, gritando o seu “Fora Dilma” sem eco entre os transeuntes.

    Na chegada à praça da República, as professoras Adriana e Sonia, encharcadas e exaustas, ainda tiveram forças saltar bem alto, na coreografia do “Quem não pula é tucano, quem não pula é tucano.” Na segunda-feira, as duas estarão em greve contra o governo Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e por reajuste salarial.

    É a luta que segue.

    Foto: Renato Stockler

    Saiba mais sobre os Jornalistas Livres

    #JornalistasLivres em defesa da democracia: cobertura colaborativa; textos e fotos podem ser reproduzidos, desde de que citada a fonte e a autoria. mais textos e fotos em facebook.com/jornalistaslivres.

    Álbum completo de fotos