Jornalistas Livres

Tag: Colégio Estadual do Paraná

  • MINHA ESCOLA, MINHA VIDA – Não tem conforto, só tem perrengue!

    MINHA ESCOLA, MINHA VIDA – Não tem conforto, só tem perrengue!

    Dormir no chão e numa sala com mais 10 ou 15 pessoas, passar frio.
    Tomar banho frio no único chuveiro do colégio. Não ter shampoo, não ter condicionador, dividir um sabonete com 20 ou 30 pessoas.
    Deu fome. Deu sono. A exaustão pegou.
    No café tomar leite. Noventa porcento dos almoços a base de macarrão com molho de tomate. Sem temperos.
    Noventa porcento dos jantares a base de arroz com frango. Mais leite antes de dormir.
    Deu fome. Deu sono. A exaustão pegou.
    Cozinhar pra 30 ou 40 pessoas. Lavar a louça de trinta ou quarenta pessoas. Manter a cozinha improvisada limpa.
    Conviver com pelo menos 50 pessoas que você mal dava bom dia no colégio. Se unir com essas cinquenta pessoas.
    Deu fome. Deu sono. A exaustão pegou.
    Fazer a coisa funcionar. Aprender a organizar e a respeitar assembleias. Ter compromisso com seus afazeres.
    Reformar a escola. Trocar torneiras, consertar portas.
    Vigília! Equipe de segurança no portão, cadastro de quem entra e sai.
    Deu fome. Deu sono. A exaustão pegou.
    Passar a noite em claro. Ter que esconder o rosto.
    Sentir medo. Medo dos que ameaçam, medo da polícia.

    E tudo isso enquanto diariamente os cronogramas de atividades, aulas e oficinas são cumpridos à risca.

    Não tem conforto, só tem perrengue, mas é por um objetivo muito maior! É pela EDUCAÇÃO!

     

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  • Você começou a quebrar as minhas paredes e então cobriu meu coração com beijos

    Você começou a quebrar as minhas paredes e então cobriu meu coração com beijos

    No dia 07 de outubro de 2016 duas irmãs decidiram ocupar um colégio próximo a área central da cidade de São José dos Pinhais, município do Paraná, contra a PEC 241 e a MP 746. Mariana Gomiela de 17 anos, contou, cheia de orgulho, que todos os alunos estavam cientes dos motivos das ocupações e que receberam apoio dos país, professores e da comunidade próxima à escola. O desmonte da educação foi o estopim para uma das mobilizações mais fortes que o Brasil já viu. Em três semanas, foram aproximadamente 850 ocupadas por alunos de 15 a 17 anos.
    Cronogramas espalhados por toda a escola, horários pré-determinados e cumpridos à risca. Sala de mantimentos, quarto das meninas, quarto dos meninos, cozinha improvisada com doações dos moradores da região. Comissão de limpeza, de segurança, de comunicação. Paredes pintadas, torneiras consertadas, piso do teatro encerado, alambrado da quadra consertado.
    Com a escola ocupada e completamente a dispor dos alunos, abriram todas as portas que antes lhes foram negados. Surpresa! Três microscópios! Um esqueleto! Um corpo humano montável, em que os órgãos se encaixam! Tubos de ensaio, e diversos equipamentos que os alunos sequer sabiam para o que servia – porque nunca tiveram acesso. Muitas flautas e baquetas – o colégio não tem banda, nem nunca teve! As aulas de ciências, química, física, biologia e artes ficaram somente na teoria, mesmo tendo todos os materiais. Os materiais ficavam trancados numa sala em que os alunos não tinham acesso e, os que tinham prazo de validade – como os óleos dos microscópios, já estavam vencidos há anos.

    (Foto: Lucas Martins /Jornalistas Livres)

    Os alunos começaram a quebrar as paredes que existiam entre o que lhes era permitido e o que não tinham conhecimento. Os alunos passaram a dar aulas de cidadania, de organização, de responsabilidade e comprometimento. E também deram aulas sobre a PEC 241, sobre a MP 746 e também sobre o golpe que foi dado em nosso país. Politizados, com firmeza em cada afirmação. Estudaram, discutiram, se posicionaram. Foram e continuam sendo verdadeiros guerreiros quando o assunto é lutar por aquilo que acreditam.
    Esses adolescentes, mesmo tão jovens, já compreendem a importância de ocupar os espaços por uma educação de qualidade e para que o pensamento crítico não lhes seja tirado sem qualquer consulta. Essa luta nada mais é que um grito de socorro por políticas públicas que os contemplem e lhes deem perspectiva de um futuro melhor. Como sempre frisam, eles não são robôs e muito menos máquinas. Não querem olhar somente numa direção, querem rodar, de braços abertos, e conquistar tudo que o que quiserem.
    Na tarde da última segunda-feira, 24, um dos nossos guerreiros cobriu nossos corações com beijos e nos deixou. Nos deixou vítima daquilo que lutava. Nosso guerreiro tão novo e politizado foi derrotado por um Estado que não se importa com essa luta tão bonita. E legítima. Por um Estado que ignora o trabalho de base e prefere punir no futuro. Que ao olhar pra frente, não vê escolas, mas sim prisões. Que transforma escolas em prisões.
    Agora a luta tem que continuar, pelo nosso guerreiro, pelas novas gerações e por nosso futuro. Todo apoio às ocupações das escolas de todo o país.