Jornalistas Livres

Tag: chacina

  • Aldeia dos quatro Chiquitanos mortos por policiais é alvo de ameaças

    Aldeia dos quatro Chiquitanos mortos por policiais é alvo de ameaças

    Após um mês da chacina, com indícios de tortura, de quatro indígenas na fronteira do Brasil com a Bolívia (veja relato completo em https://jornalistaslivres.org/policia-mata-quatro-chiquitanos-na-fronteira-com-a-bolivia/) por policiais do Gefron, a aldeia é alvo de novas ameaças. O professor da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT Aloir Pacini, que acompanha o caso de perto, relatou essa semana que os Chiquitanos estão ligando desesperados depois dos policiais dizerem que vão matar outros dez habitantes do lugarejo. Por causa das ameaças e para dar apoio e visibilidade ao caso,Pacini, que também é padre jesuíta e antropólogo, está publicando semanalmente relatos da situação no site da Unisinos (http://www.ihu.unisinos.br/). Os Jornalistas Livres continuarão acompanhando o caso.

    “A boiada não vai passar e a mentira, mesmo que saia da boca de uma mesma pessoa, dita milhares de vezes não se tornará verdade, principalmente porque sabemos que o pai da mentira é o diabo. Vamos somente aprender com os índios, caboclos e pequenos produtores rurais a cuidar da floresta como cuidar do fogo para queimar os roçados nas roças de toco ou usar de modos agrossistêmicos e agroecológicos adequados em busca da sobrevivência e produção de alimentos em áreas já desmatadas”, escreve Pacini.

    Eis o artigo. 

    Brasil está sendo criticado desde o ano passado na ONU e internacionalmente por causa de sua política ambiental e o massacre dos povos tradicionais, porque não quer aprender com os povos indígenas a cuidar dos nossos biomas, possui uma visão equivocada e idolátrica da natureza como local de roubo e de enriquecimento, como se esse fosse um banco pronto para assaltar e roubar. Não bastasse, as formas de negacionismo são tantas e tão perversas que encontra formas de colocar a culpa nos outros e, constantemente, minimiza os problemas causados pela forma equivocada de grande parte do agronegócio se portar, devastando em vez de cuidar. Bem diferente é a agricultura ecológica que possui um cuidado extremo com o uso do fogo, aprendeu que quem põe a mão no fogo queima.

    No dia 23 o Coiso já havia dito que o Brasil era “vítima” de uma campanha “brutal” de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal e que os indígenas e caboclos eram que colocavam fogo, e foi duramente questionado por isso. Não aprendeu porque a cabeça é dura, algum problema existe, pois no dia 30 voltou a declarar na cúpula sobre biodiversidade da Organização das Nações Unidas (ONU) que “ONGs” comandam “crimes ambientais” no Brasil.

    Todas as pesquisas científicas mostram que é a agropecuária que provoca no país tal impacto nos incêndios, o que é chamado dilúvio de fogo por causa do desmatamento e queimadas descontroladas que estão ocorrendo nas regiões de floresta, cerrado e pantanal, para o susto de todos, pois se tratava de um bioma com grande parte alagada, algo que jamais fora visto no país, ou seja, principalmente no Pantanal e na Amazônia temos grande precipitação de chuvas e isso gerava antes do aquecimento global e do desmatamento que faz com que grande quantidade de massa orgânica é devastada para colocar fogo sem os cuidados tradicionais que os povos indígenas tradicionalmente possuem.

    Em vez do agropecuário recuperar as áreas devastadas por ele no Brasil, trazendo para todos um expressivo aumento de produtividade alimentar para nós e para o mundo, e parar de avançar sobre as áreas ainda preservadas como seria de bom tom, o que provocaria um impacto benéfico sobre o meio ambiente. Quando o Coiso tem dificuldades mentais de aprender com a prática fiel do bem, insiste na mesma narrativa de que os incêndios têm origem natural e que a ação humana nos locais não tem muita interferência. Parece que voltamos para o tempo da pedra lascada, não sabemos nós que a venda dos grandes tratores teve um aumento sem precedentes no mês de maio deste 2020. Para entrar na Floresta um desses tratores em cada ponta levam os correntões e vão derrubando a mata nativa em proporções nunca visto na Amazônia, começando é claro pelos seus entornos.

    boiada não vai passar e a mentira, mesmo que saia da boca de uma mesma pessoa, dita milhares de vezes não se tornará verdade, principalmente porque sabemos que o pai da mentira é o diabo. Vamos somente aprender com os índios, caboclos e pequenos produtores rurais a cuidar da floresta como cuidar do fogo para queimar os roçados nas roças de toco ou usar de modos agrossistêmicos e agroecológicos adequados em busca da sobrevivência e produção de alimentos em áreas já desmatadas.

    O que venho observando nas pesquisas que faço desde 1989, quando fui morara com os Rikbaktsa é que as comunidades organizam-se para botar fogo e poder controlar, os indígenas seguem a mesma lógica. Acompanhei os Rikbaktsa nas suas derrubadas de mata, tudo feito de forma ritualizada, em vista de uma festa. O dono da festa designava cada um dos homens para derrubar as árvores maiores e a mulherada derrubava na frente as menores. Quando uma árvore grande iria cair, tocava-se a buzina tradicional, tudo no respeito, pedindo licença para poder derrubar a árvore e não prejudicar ninguém, ao contrário, poder fazer a roça de toco como dizem. Na hora de botar fogo, toda a comunidade se organiza e todos a postos ao redor da derrubada para o fogo não espalhar para dentro da mata, e ali era mata amazônica. Não se pode mais ficar nos preconceitos tão grosseiros, que não conseguem olhar para essa sabedoria dos povos tradicionais que valorizam cada árvore, cada fruto, cada planta e cada animal. Todos têm nome, não é uma floresta a ser derrubada para plantar pasto para o gado.

    Chiquitana assumida, Miraci falou como Abelha Rainha na live da Comissão Pastoral da Terra a respeito das queimadas, como tradicionalmente os indígenas e os sem-terra cuidam do fogo e o usam para fazer comida, para preparar a roça e nunca provocaram os incêndios que atualmente está o agronegócio provocando no nosso meio para espanto de todos. E ainda tem um governo louco que acusa os indígenas e caboclos de serem eles os que provocam essa devastação sem precedentes na floresta amazônica, no Pantanal e no cerrado.

    Todos os biomas no mundo e no Brasil (PampaMata AtlânticaCaatingaPantanalCerrado e Amazônia) possuem a ação do fogo, contudo não é essa a questão que me ocupa aqui. Desde os inícios as civilizações utilizaram o fogo para preparar seu alimento, para se proteger dos animais, para iluminar nas noites com um tição de fogo (ver filme A guerra do fogo). Os fogos numa casa indígena representam claramente as unidades de produção de alimentos para núcleos menores das famílias mais extensas que podem formar um clã, uma etnia numa aldeia. O controle do fogo tem sido uma preocupação tradicional dos povos indígenas e isso aparece nos seus mitos relacionados ao fogo. Contudo, o dilúvio de fogo na cosmologia Chiquitana é parte desses incêndios descontrolados feitos pelos fazendeiros que não se importam com o quanto queime, ou melhor, desejam que queime o máximo para que se possa jogar depois as sementes de pasto e não ter custos maiores com essa atividade de formação de pastagens. Assim, os incêndios que estamos presenciando estão diretamente relacionados ao desmatamento descontrolado levado avante pelo agronegócio, dado que até o ministro do meio ambiente propõe fazer a boiada passar enquanto estamos ocupados com a pandemia. Assim, as gigatoneladas (bilhões de toneladas) de dióxido de carbono jogadas no ar aumentam e tudo se torna um círculo vicioso no aquecimento global. [1]

    A cruz com os nomes dos 4 chacinados na capela de San José de la Frontera (01/10/2020) | (Fotos enviadas pelo autor)

    No primeiro dia do mês missionário, os Chiquitanos levaram a cruz esculpida na madeira de ipê roxo (tahivo) por Conrado Ardaya para a capela da comunidade e ali rezaram pelos falecidos. Perguntei por que não foi de aroeira e eles explicaram que a aroeira não permite gravar os nomes dos falecidos na madeira, é muito dura. Quanto à cor das flores do ipê, o roxo é porque ainda estão de luto. Mas chegará o dia da Justiça e os ipês amarelos, rosa, branco vão florescer junto com o roxo. Toda vez que virem um tahivo florir nesse cerrado, no Pantanal ou na floresta, vão lembrar das flores de ressurreição que os sacerdotes do templo de Jerusalém tinham enterrado para que ninguém encontrasse. Mas Santa Helena mostrou como encontrar a cruz de Jesus Cristo mais ao fundo, cavaram e primeiro encontraram a cruz do mau ladrão, depois a cruz do bom ladrão, São Dimas, só bem mais profunda é a fé para encontrar a cruz de Cristo. Lembrei também dos Xoklem e dos cafusos de Santa Catarina que fazem a cruz com cedro para brotar e, quando brota, é sinal que a pessoa por quem rezam ressuscitou.

    O plano era no dia seguinte, o dia dos anjos da guarda, ir plantar a cruz com o nome dos quatro mártires no chão sagrado onde eles foram mortos covardemente pelo Gefron, pois ali, dizem eles, foi derramado sangue inocente, uma mancha pesada que clama aos céus por Justiça. Assim pensam que as bênçãos de Deus vão proteger os que ficaram. Esperam que suas orações, por meio da cruz que pendurou o corpo de Jesus que foi elevado para o Céu, também leve os quatro Chiquitanos a um bom lugar. Quando eles chegarem na porta dos céus estarão com essa cruz para abrir a fechadura que foi colocada ali para que os maus policiais não entrem. Alguns acontecimentos cuidadosamente lidos e interpretados pelos Chiquitanos vão mostrar os meandros dessa história.
    Já fora denunciado que Mato Grosso carece de uma produção jornalística independente e que não é saudável simplesmente repetir palavras vazias e preconceituosas como essa: Gefron mata mais quatro mulas bolivianas [2]. Isso é quase pior que matar, pensar as pessoas abaixo de animais, pois a qualidade desses animais específicos é a mais cruel. E quando vamos ver do que se trata nessa Operação Hórus/VIGIA, não há possibilidade de refletir a complexidade de uma tal notícia, baseada num BO sem reflexão:

    “… quando a equipe policial realizava patrulhamento rural nas margens do Rio Jauru, em local conhecido por travessia de ‘mulas humanas’, a equipe abordou pessoas armadas carregando mochilas. Que no momento em que os policiais abordaram e verbalizaram se identificando como policiais os suspeitos começaram a desferir disparos contra os policiais. Por sua vez, os policiais revidaram a injusta agressão com disparos de arma de fogo no intuito de resguardar as suas vidas e após cessar o confronto armado, os policiais fizeram varredura de segurança no local, onde encontraram 04 suspeitos caídos ao solo e alvejados, cada um portando arma curta e mochila. […] os suspeitos foram encaminhados para o pronto socorro mais próximo, porém não resistiram aos ferimentos e vieram a óbito.”

    A imagem que aparece no noticiário mostra dois Chiquitanos de San José de la Frontera e dois aliciadores brasileiros que provocaram mais essa tragédia. Os policiais não sofreram nenhum arranhão, todos os 4 morrem para não contar outra versão dos fatos. E o comando do Gefron, logo em seguida anuncia que um dos falecidos é irmão de outro assassinado no dia 11/08. Em reunião no dia 28/09 com o Tenente Coronel Fábio R. de Araújo que comanda o Gefron no Mato Grosso, esclarecemos que o César não era irmão de nenhum dos outros assassinados. Mesmo assim essa notícia continuou vinculando os dois fatos de forma equivocada. [3]

    Jesus orienta que não adianta jogar pérolas aos porcos porque eles não sabem o que fazer com elas. O contraditório tem que sempre ser considerado, principalmente nesses casos tão complexos. Quem contratou o brasileiro que estava casado com uma pessoa da comunidade a fim de aliciar os dois Chiquitanos para o trabalho de mula humana? Somente um jovem e um adolescente se prestou a esse trabalho e a mãe de Carlos Socoré (16 anos) disse que o filho falou ao sair que iria fazer um trabalho porque queria comprar uma roupa nova, mas ela não pensava que era para levar droga para Cáceres. Foram mortos depois, pois os policiais já sabiam onde estavam, o que faziam e assim poderiam querer livrar a pele da atrocidade ocorrido no dia 11/08, dando a impressão que ninguém é inocente como afirmou o Secretário de Segurança Pública (ver adiante). César Alvarez Lopez (27 anos) era filho de Adelina Lopes e Romelio MartinezCarlos Socoré Algarañaz (16 anos), era filho de Carmelo Socoré Bautista e mãe Úrsula Algarañaz; os dois brasileiros são pouco conhecidos e uma pessoa da comunidade pensa que se chama Tiago Silva (34 anos) e o outro era genro do César, e deixou a esposa grávida. A comunidade reconhece nesse caso que “faziam coisas erradas, mas não precisava logo matar, não andam armados!”, disseram. ”Assim fica mais difícil de saber a verdade!”

    Boletim de Ocorrência do dia 11/08 é semelhante ao do dia 27. Está com esses nomes: 3º SGT PM dos Santos; 3º SGT PM Sílvio; SD PM Cristiano; SD PM Marcos Aurélio. Contudo, a execução pode ter sido feita por um grupo e o BO ter sido registrado por outros. Nessa semana a comunidade ficou desesperada porque o Gilson Macaúba, do Gefron ameaçou as pessoas de San José, dizendo que vão matar mais uns dez, isso em dois momentos, com pessoas diferentes, segundo testemunhos da comunidade. Michel de Foucault (in Vigiar e Punir) já analisou que as instituições como as polícias que vivem do monopólio e controle da violência. A raiz do problema está no tráfico, e sabemos que que o tráfico é possível se existe agente do Estado envolvido, nesse caso ninguém está imune, pois é um negócio que dá muito dinheiro. O certo é que os Chiquitanos não inventaram o tráfico, mas são vítimas de uma situação cruel na Fronteira. Mesmo que são utilizados como “mulas humanas” para terem um dinheiro mais fácil, já sugeri quebrar as pernas do tráfico em outro texto, ou seja, muitos estão sendo mortos sistematicamente e os traficantes enriquecem soltos por aí.

    O dia 30/09 foi o dia mais quente dos últimos 100 anos em Cuiabá, segundo o Instituto Clima Tempo, que marcou 44°C por volta das 15 horas, o terceiro recorde histórico de calor em Cuiabá registrado no mês de setembro. As causas são uma cortina de fumaça que encobre ainda a cidade por causa das queimadas no Pantanal e uma bolha de calor sobre a região que impede o avanço das frentes frias e das massas de umidade da Amazônia que poderiam formar as chuvas. Cuiabá bate recorde de calor no domingo dia 4, com 46°C e uma sensação térmica extenuante por causa da fumaça. O secretário de Segurança Pública de Mato Grosso, em entrevista nesse dia 30/09 falou coisas que interessam para a corporação. Evidente que o espírito de corporativismo é gritante e vergonhoso, pois o que deveria ser a segurança pública virou algo privado e a morte do povo brasileiro pouco importa por esses que tomaram os governos: “Independente se é índio, branco, negro, chiquitano…Traficante que atirar em polícia vai levar bala de volta. E é assim que está acontecendo na fronteira”, afirmou o secretário. Como prova o Secretário essa afirmação descabida: “Nenhuma dessas vítimas aí estava carregando flores. Todas estavam carregando cocaína. As apreensões são na ordem de 400 quilos, 500 quilos.”[4] Nem inquérito policial foi feito como pode dizer que nenhuma das pessoas mortas em confronto com o Gefron na região da fronteira era inocente? Onde estariam os 400 ou 500 quilos que estavam com os quatro Chiquitanos mortos no dia 11/08? Como pode ser tão enfático em afirmar que eles não são inocentes ou será que um crime justifica o outro?

    Por isso fomos nesta sexta (02.09) como Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Humana de Mato Grosso à SESP para conversar com o Secretário de Segurança Pública de Mato GrossoAlexandre Bustamante, para tratar das investigações sobre a morte dos quatro Chiquitanos, ocorrida no dia 11 de agosto, no município de Cáceres. O Ouvidor Geral de Polícia de Mato Grosso, Lúcio Andrade, apresentou a preocupação em relação à letalidade que aumentou em diferentes ações do Grupo Especial de Fronteira: “O problema do tráfico de drogas é real, a dificuldade de lidar com o problema é sabida em tantos quilômetros de fronteira seca, mas a letalidade das ações é preocupante. Cobramos uma investigação isenta desse caso, que tem repercussão internacional, por se tratarem de indígenas e cidadãos bolivianos” [5]. Pensa o Secretário ser urgente os militares que estão nos Quartéis da fronteira terem a incumbência de auxiliar o Gefron a coibir o tráfico, pois não tem sentido ficar esperando que a Bolívia ataque o Brasil. Parece que a fala do Secretário incentivou mais a agressividade dos policiais na Fronteira e os Chiquitanos não estavam conseguindo dormir na noite de quinta-feira:

    “Estou com um grande aperto no coração como si tivesse algo acontecendo […] sinto no meu coração como si tivesse levando os tiro que meu irmão levo. É um medo grande. […] teve um policial que paro meu tio e disse que são 10 pessoa padre que eles vão matar ainda na nossa comunidade. Isso me deixa cada vez mais preucupada. Não sei si esse policial quer amedrontar a gente para tipo agente retirar o caso” (01/10/2020).

    Esse encontro com o Secretário foi para procurar convencer, pressionar até, porque parece que sua postura de defesa dos seus policiais foi superficial, segundo o que foi anunciado nos meios de comunicação. O policial Macaúba passou a ameaçar as pessoas da comunidade, falou lá: “matamos mais quatro… vamos matar mais uns dez!” O fazendeiro Fabinho, patrão de José Mário Oliveira também foi parado pelo Gefron e avisado que eles não iriam parar por aí. Realmente, o caso está pegando fogo, pois as mentiras inventadas no BO não se sustentam. Vamos ver alguma forma de pedir proteção para as famílias da comunidade de San José de la frontera. Eles pedem também orações, pois os policiais que mataram os 4, no dia 11/08; no dia 27 mataram mais 4 e estavam ameaçando que vão matar mais uns 10. A comunidade estava especialmente amedrontada no dia 01/10 e não conseguiam dormir… pois alguns sinais foram dados: uma coruja passou por cima da casa de uma das viúvas como que zombando deles e depois voltou com a mesma forma de cantar. Perguntaram se seria o demônio que tomou conta dos policiais. Explicaram que também estão aparecendo mariposas marrons e entrando nas casas das famílias: “Tudo mau presságio. Hoje o filho mais novo do Yona chorou desesperado e só acalmou com banho com água benta!”

    Yona de vermelho e o seu Zé, o gerente, de camiseta azul carneando porco na fazenda do Japonês

    Seu , o gerente da fazenda do japonês Getúlio mantinha amizade e procurava os Chiquitanos para trabalhar na fazenda, “sempre convidava para auxiliar quando precisava de nós por lá” disse um morador da comunidade. Essa prática de chegar alguém na aldeia San José de la Frontera buscando trabalhadores é comum. E nem sempre os pais conseguem segurar os filhos diante das propostas de trabalho mais avantajadas, pois quando o milagre é grande demais, até o santo desconfia, disse uma moradora.

    Rezaram para São Miguel Arcanjo e Melânia conseguiu dormir. Acordou sobressaltada com o sonho: o seu fogão estava em chamas e ela conseguiu desligar o gás para não explodir a casa. Nisso, o filho mais velho de Yona (5 anos) pediu água que estava com muita cede e Melânia lhe deu. Estava refletindo sobre a sabedoria dos nossos pais. Meu pai chamava de patente, o lugar onde a gente ia cagar, pois ele estava cagando e andando para as patentes dos militares que oprimiam o povo já no tempo da ditadura militar. Quando meu pai queria xingar alguém chamava de alcalde. E agora na Bolívia observei que o alcalde é o prefeito. Havia uma crítica velada até na forma de nomear as coisas. A árvore toda cravejada de balas pela polícia do Gefron no dia 11/08.

    Rezador que foi professor de Yona (03/10/2020)

    Foram para o local da chacinagem o pai de Yona (+) os rezadores Carmelo Candia da paróquia e da comunidade, Antônio Tosube e sua esposa; o irmão e a irmã de Ezequiel (+), a viúva e o filho de Pablo (+); Kênedi, Melânia e seu esposo, João Camilo, que reza o rosário todos os dias para que pare toda violência contra os Chiquitanos. Em vários lugares do país a comunhão cósmica foi grande com esse momento de oração. Ressalto a oração pela arte de Lucilene França de Belo Horizonte, MG. [6]

    José, pai de Yona, o guardião da cruz (03/10/2020)

    O ato ritualizado de fazer a cruz e levar ao lugar do massacre é uma dedicação que direciona os corações dos Chiquitanos na direção certa. Ali rezaram para Jesus que também derramou seu sangue por nós, para que tenha piedade de toda a comunidade, pois agora já perceberam que a polícia está reagindo com mais violência e intimidação, uma vez que estão pedindo justiça de forma sistemática, algo inusitado nesses últimos anos, pois a lei é sofre calado. A naturalização das mortes das “mulas humanas” a que chegamos na fronteira é algo dramático. E o Gefron tem um histórico de não passar nenhum arranhão na sua imagem, algo que já é um sinal de uma opressão sem limites. E quem terá coragem de enfrentar o Golias?

    Melânia disse que Deus tocou no seu coração para deixar água no pé da cruz para eles e ela deixou como uma bênção de Deus para que eles também peçam chuva, principalmente nessa secura. Nesse dia dos mártires Ambrósio e André, agora também lembrará os Chiquitanos. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) alerta para o aumento exponencial da violência contra povos indígenas e esses casos das mortes dos Chiquitanos preocupa o mundo inteiro, pois tem pessoas sofrendo em todo lugar Tem cruz plantada de Oiapoque ao Chuí, apesar de sermos todos irmãos, uma verdade óbvia que ganha relevância na Encíclica Fratelli Tutti do Papa Francisco.

    Notas: 

    [1] No Acordo de Paris, aprovado em 1992 por 195 países que participaram da Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) para reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEE) em vista de um planeta sustentável, foi estabelecido o compromisso de manter o aumento da temperatura média global em menos de 2°C. acima dos níveis pré-industriais. Contudo, Cuiabá está pegando fogo.

    [2] Acesse aqui

    [3] OPERAÇÃO HÓRUS/VIGIA-MT | GEFRON/SESP/SEOPI-MJSP/DEFRON/6°CR/PMMT/CÁCERES-MT | Fato: Tráfico ilícito de drogas / Associação para o tráfico / Porte ilegal de armas;
    Data: 27/09/2020; Horário: 00h20min; Local: Proximidades do Rio Jauru; Autor: 04 (quatro) pessoas; Antecedentes Criminais: 01 Suspeito com uma passagem por tráfico de drogas e uma por homicídio; 02 Suspeito com uma passagem por tráfico de drogas, com mandado de prisão em aberto e fuga de presídio; 03 Após ocorrência verificou-se que esse suspeito de nacionalidade boliviana era irmão de um suspeito que confrontou com equipe do GEFRON no dia 11/08/2020, onde quatro suspeitos de narcotrafico vieram a óbito, conforme bo n° 2020.188027.
    Histórico: Durante Operação Hórus/VIGIA, em força tarefa entre GEFRON, DEFRON e 6°CR/PMMT, com foco no combate ao tráfico de entorpecentes na região de fronteira entre Brasil e Bolívia, equipe policial realizava patrulhamento rural nas margens do Rio Jauru, em local conhecido por travessia de “mulas humanas”, onde a equipe abordou pessoas armadas carregando mochilas. Que no momento em que os policiais abordaram e verbalizaram se identificando como policiais os suspeitos começaram a desferir disparos contra os policiais. Os policiais revidaram a injusta agressão com disparos de arma de fogo no intuito de resguardar as suas vidas. Após cessar o confronto armado, os policiais fizeram varredura de segurança no local, onde encontraram 04 suspeitos caídos ao solo e alvejados, cada um portando arma curta e mochila. No interior das mochilas os policiais encontraram substâncias aparentando ser pasta base de cocaína e alimentos. Foi solicitado apoio policial no local. Os suspeitos foram encaminhados para o pronto socorro mais próximo, porém não resistiram aos ferimentos e vieram a óbito.
    Apreensão:
    90kg Substância análoga a pasta base de cocaína;
    3,2kg Cloridrato de cocaína;
    5kg Ácido bórico;
    01 Pistola calibre 9mm;
    01 Pistola calibre .22;
    02 Revólveres calibre .38.
    Prejuízo ao crime: R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais);
    B.O. N°: 2020.231526;
    Anexo: 01 (uma) foto e 01 (um) vídeo.
    Disque Denúncia 08006461402
    GEFRON, há 18 anos os olhos da fronteira!!!
    Servir e Proteger. Fronteira!!!

    [4] Acesse aqui e aqui.

    [5] Acesse aqui.

    [6] Acesse aqui.

    Leia o artigo original em http://www.ihu.unisinos.br/603461-crimes-na-terra-de-santa-cruz

  • Fallet-Fogueteiro: “Deram facadas no coração de um, no pulmão de outro. Foi uma chacina a facadas”

    Fallet-Fogueteiro: “Deram facadas no coração de um, no pulmão de outro. Foi uma chacina a facadas”

    Nesta terça-feira, 12 de fevereiro, uma van sufocante, sem ar e sem janela, levava o “pessoal dos direitos humanos” do centro do Rio de Janeiro até o Morro do Fallet, na zona norte. O objetivo era participar de um encontro, promovido pela Defensoria Pública, com os moradores da comunidade e familiares de 15 jovens mortos pela polícia quatro dias antes, na mais violenta operação da década. O entrosamento entre todos, tristes e preocupados com o que ouviriam logo mais, foi cortado pelo diálogo de uma mulher com um jovem, representante da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos.
    – Quem é o secretário de Direitos Humanos do Witzel?
    – É A secretáriA. Fabiana Bentes.
    (Cara de: quem é essa pessoa???)
    – Ela vem do Esporte. Não é ligada aos Direitos Humanos.
    A van seguiu. Quando chegou ao posto de gasolina, no pé da favela, os defensores e assessores parlamentares (de mandatos de esquerda) desceram. Foram imediatamente filmados por cinegrafistas da Globo e do SBT. Alguns não gostaram. A situação era tensa. Mas os cinegrafistas não estavam nem aí. Alguns jornalistas freelancers, que trabalham na defesa dos direitos humanos, comentaram a presença da repórter da Globo. Foi ela quem, ano passado, divulgou o nome e a foto de um jovem de Acari, suspeito pela polícia de ser assassino de um policial. Ocorre que este mesmo jovem, na hora do telejornal, já havia se apresentado à delegacia e provado sua inocência. A repórter estava com medo. Disse para a colega: “eles já estão nos observando lá de cima, não conheço nada aqui, não sei avaliar o risco”. O cinegrafista da Globo completou: “poderiam ter nos trazido em um carro descaracterizado, não esse, com esse logo enorme da Globo”.
    O “pessoal dos direitos humanos” subiu o morro. Os jornalistas, no primeiro momento, evitaram. Ao chegarmos na Associação de Moradores do Fallet, uma liderança local pedia a todos os visitantes que se apresentassem. Estavam lá defensores públicos do Estado, da União, assessores parlamentares, jornalistas e, ainda, representantes da Secretaria de Direitos Humanos cuja secretária “não é ligada aos diretos humanos”. Todos eram aplaudidos pelos moradores, que lotavam o pequeno imóvel.
    Os familiares das vítimas foram chamados para uma sala à parte. Ali os defensores coletaram os depoimentos para fortalecer a pressão sobre o Ministério Público, a Polícia Militar e a Polícia Civil, que, teoricamente, investigam a trágica ação. Os demais ficaram na sala maior, explicando o que aconteceu para o Ouvidor-Geral da Defensoria Pública do Rio, Pedro Strozenberg. Os relatos, quase todos de mulheres, são aterrorizantes.
    “A operação começou logo de manhã!”, gritou a primeira.
    “O Choque e o BOPE vieram para matar”. As falas, em gritos, iam se atropelando.
    “Os policiais me chamaram de piranha e vagabunda!”, reclamou outra, já quase chorando.
    “Foi uma carnificina! Uma chacina! Eles mataram a facadas os meninos, todos estavam rendidos”. Uma chacina a facadas? A afirmação estremeceu os visitantes.
    “Os meninos estavam fugindo dos policiais, que entraram no morro por todos os lados, invadindo as casas, xingando as pessoas. Esse grupo de sete meninos correu para dentro de uma casa qualquer. Os policiais quebraram a porta e entraram na casa”, explicou uma voz mais tranquila.
    “Os meninos queriam se entregar. Eles entraram na casa e se entregaram”, disse uma senhora, que emendou: “aí, em todos os grupos de zap chegou a mensagem de que os policiais estavam com meninos dentro de uma casa, fazendo maldade. Foi por isso que toda a comunidade correu em direção a essa casa”.

    “Às 9 horas, eu recebi uma mensagem mesmo, que dizia que os garotos estavam sendo torturados nesta casa. Eu corri pra lá”, confirmou uma menina de não mais de 15 anos, que conhecia vários deles.
    “Quando os moradores chegaram perto da casa, os policiais atiraram para cima dos moradores. Teve gás de pimenta. Bomba! Quebraram as motos dos mototaxistas! Eles ameaçaram quem filmava”, disse uma jovem, amiga dos mortos.
    “A polícia disse que houve tiroteio. É mentira! Temos que desmontar a versão através dos detalhes!”, gritou uma mulher, tentando organizar as falas.

    “Como eles dizem que houve tiroteio se meus sobrinhos XXXX e XXXX foram mortos com facadas na barriga? Tá aqui a certidão de óbito. Houve espancamento. Quebraram o pescoço de um dos meninos! Tá aqui o laudo do IML. Há um consenso entre nós de que houve tortura. Teve facada no coração, no pulmão!”, disse o tio, ainda jovem, de dois dos mortos.

     

    “A polícia não acuou apenas os jovens na casa. Ele acuou toda a comunidade!”, gritou uma senhora, de 40 anos na sociedade.

    “Os policiais pegaram os corpos rapidamente e botaram em cima das caminhonetes. Eles sentaram em cima dos corpos. Nem mesmo depois de mortos, os corpos foram respeitados. Os corpos foram levados para o hospital com policiais sentados em cima desses corpos”, esbravejou uma jovem, já chorando.

    “Isso não é novidade, senhor. Eles vem com essas chaves mistas, que abrem qualquer porta. Foi assim que entraram em outras várias casas da comunidade naquela manhã. Em duas delas, mataram mais dois irmãos em cada! Mataram o filho da XXXX e da XXXX”, deixou escapar uma das moradoras.

    “Cada um fala de seu morto!”, tentou organizar um jovem mototaxista.

    A essa altura, os jornalistas da grande imprensa já haviam chegado à associação. Como raramente estão preocupados com a segurança dos moradores de favela, já haviam ligado suas câmeras. A situação incomodou os moradores.

    “Tira essa câmara da minha cara! Depois a polícia vem aqui e me mata. O que vai adiantar minha cara no jornal? Ô moço, por favor, cuida com isso aí!”, reclamou, com toda a razão, uma mulher de cerca de 40 anos.

    “Então se cada um fala do seu morto, eu vou falar do Jefferson. Eu vi o Jeferson caminhar baleado pela comunidade logo cedo. Ele pedia para chamarem seu pai, o XXXX. Mataram o Jeferson, depois mataram dois na casa da XXXX. Tiraram um de casa. A gente sabe o nome de cada um dos mortos!”, disse uma moradora, sugerindo que os nomes, quase todos Silvas, fossem enfileirados na conversa.

    “Roger Silva, David Silva, Felipe Antunes, Enzo Carvalho, Maikon Silva, Vitor Hugo Silva, Luan de Oliveira, Carlos Alberto Castilho, Jeferson de Oliveira, Gabriel da Silva, Robson da Silva e André Leonardo Dias”, foi a chamada perversa dos jovens, muitos ainda menores de idade.

    “Foi isso, senhor. Sete foram mortos na casa. Depois, duas duplas de irmãos em duas casas diferentes. Teve ainda o Jefferson. Foram 12 mortos no Fallet. E ainda mais três, fomos saber depois, que foram mortos lá no Morro dos Prazeres (morro vizinho, onde havia uma operação do BOPE”, explicou um homem.

    “Um desses mortos foi encontrado na mata dos Prazeres. Ele era aqui do Fallet, mas a polícia não queria deixar a gente entrar na mata. Quando encontraram o corpo dele, ele tava num buraco, que havia sido coberto por folhas de árvores. O Matheus tinha dois tiros na boca”, lembrou, com horror, uma senhora.

    Foi então que o Corregedor Pedro intercedeu, para lembrar o contexto no qual a tragédia estava inserida: “Pessoal, vocês sabem que tem muita gente lá fora achando que tá certo fazer o que foi feito. Tem muita gente que acha que a operação foi bem sucedida. A gente tá aqui para ajudar a dizer que não, que esta operação não foi bem sucedida”.

    “Eu briguei toda a semana no Face por causa disso! Tem muito gente dizendo: bandido bom é bandido morto. Não gente! Tem a lei para quê, então?”, disse a moça mais jovem a se pronunciar.

    “Por que só foram no Fallet?”, disse uma moradora, deixando escapar um consenso entre os moradores: de que a operação da polícia ocorreu em parceria com a facção rival a do Fallet. Um jovem se levantou e mostrou um vídeo, da Rede Record, que mostrava a PM usando uma toalha para esconder das câmaras quem entrava dentro do caveirão naquela manhã.

    “Aliás, se tiver um jornalista da Record aqui, não vou bater palma não. A Record tá sempre aplaudindo a polícia, que oprime o morador, não pode isso!”, reclamou uma senhora bem velhinha, provavelmente, ex-telespectador de Wagner Montes, jornalista sensacionalista que morreu recentemente.

    “A gente tá aqui para evitar que isso aconteça de novo. Porque hoje é aqui, amanhã…”. Ela foi cortada: “É aqui de novo! A polícia tem alguma coisa com o Fallet”, disse uma mulher, que saiu da sala imediatamente.”Eles poderiam ser presos e mudar de vida”, voltou a dizer um tio de vítimas. “Então a pena de morte existe no Brasil! Por que existe só para pobre? Tem muito bandido do colarinho branco que tá preso por aí, mas vai sair e pode mudar de vida. Nossos sobrinhos, nossos vizinhos também podiam”.

    “Eu quero contar outro caso, que eu vi: nos Prazeres, neste mesmo dia, a polícia pegou um gaguinho. Ele ficou todo assustado, não sabia o que falar. Ele tem problema. A polícia pegou esse cara e deu uma martelada na mão dele. Eles tavam tão drogados, tão drogados…”, lamentou uma senhora bem negra, que disse ainda mais: “Eles matam cachorros quando entram aqui também. Eles vêm aqui na comunidade condenar as pessoas”.

    “Ninguém aguenta mais! Eu quero dizer uma última coisa: aprendam a votar, Marcelo Freixo me representa!”, gritou uma jovem, que também se levantou e saiu da sala.

    Uma senhora já bem idosa levantou uma ideia: “Tinha que ter um repórter morando aqui. Ia ver que quem chega atirando sempre sempre é a polícia. Tem que acabar com isso. Tem que ser dentro da lei! Depois que esse governador (Wilson Witzel) entrou, muita gente vai morrer ainda!

    “Naquele dia das mortes, se aqueles dois repórteres ali não tivessem chegado na hora certa, muito mais gente iria morrer. Foi um anjo quem mandou vocês”, disse uma mulher, fazendo a mais bonita homenagem que eu já vi um jornalista receber.

    “A gente até sabe quem são os policiais que vêm aqui com a má intenção. É o Cara de Espinha e o Salchicha!”, denunciou uma moradora.

    O representante da Defensoria da União pediu a palavra. Ele explicou o projeto do Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, que quer ampliar o conceito de legítima defesa: “Eles fazem tudo isso que vocês falaram sem ter permissão. Se o projeto passar, eles terão permissão”.

    “Agora vão ter?”, perguntou, apavorada, uma moradora.

    “Sim!!! Então vamos nos armar!”, gritou um homem, que foi acompanhada por outra mulher, a mais agitada de todas: “Alguém me dá uma pistola e me ensina a atirar! É guerra, então?”

    O Corregedor da Defensoria tomou a palavra novamente. Disse que quem quiser formalizar as denúncias poderia procurar os defensores. Foi logo interrompido: “A gente até quer, mas tem medo!”

    A reunião terminou, e a imprensa foi entrevistar individualmente os familiares dos mortos. A mãe de dois deles foi a que mais se dedicou a falar, para a Globo e SBT: “Tiraram o direito deles de viver, tiraram meu direito de ser mãe. Um escolha não define a vida de ninguém. Agora só me resta o vazio. Eu nem tive coragem de ver os vídeos”. A repórter da Globo foi a única, naquele dia inteiro, a perguntar se os jovens eram traficantes. Assustada com a pergunta, a mãe respondeu: “Um filho meu viu o outro ser morto. Eles andavam com os amigos do tráfico. Tinham cometidos erros”.

    Ao terminar a entrevista, ela mostrou as certidões de óbito de seus filhos, de 16 e 18 anos. Em uma delas, o resumo de um dia de terror: LESÃO POLICERVICAL. FERIMENTO TRANSFIXIANTE DO TÓRAX. AÇÃO PÉRFURO CONTUNDENTE.

    Arrasados, o “pessoal dos direitos humanos” desceu o morro a pé. No caminho, um deles perguntou aos representantes do governo do Estado: “e aí, o governador vai saber disso que foi falado hoje?”. Com a cara de chateação, um dos representantes respondeu: “saber ele já sabe”.

    Ao lado do coronel Rogério Figueiredo, secretário da Polícia Militar, o governador Witzel publicou um vídeo na internet nesta quinta-feira no qual parabeniza o Choque, o BOPE, toda a PM: “O que aconteceu no Morro do Fallet-Fogueteiro foi uma ação legítima da Polícia Militar. A polícia agiu para proteger o cidadão de bem.”

  • Parem de nos matar!

    Parem de nos matar!

     

    Alguma coisa acontece no Pará… Tem sangue de gente pobre e preta sendo derramado aos litros e quem se importa? A cada semana sabemos de uma ou mais chacinas, mas e as que não sabemos? Carros pretos e pratas levam terror às periferias, de Belém. E já ultrapassaram a questão do imaginário popular ou da sensação de insegurança. Está virando uma cruel rotina de medo! De viver com a incômoda sensação de que há uma arma apontada para a nossa direção. Em janeiro, após a morte de um policial militar, em abril de novo, em maio e agora em junho. Essa é a quarta chacina registrada, neste ano, na capital. São mais de 40 mortes.

     

    A gente sabe que historicamente as pessoas negras são as principais vítimas da violência no Brasil, mas alguma coisa está acontecendo para que os assassinatos estejam saindo daquela banalização que não causa comoção social. Aquela banalização das “queimas de arquivos”, do “acerto de contas”… Alguma coisa acontece para que as mortes saiam desse controle e comecem a chocar, a estarrecer… O que acontece?

     

    Homens encapuzados descem com a certeza da impunidade, atiram e matam. Há um genocídio acontecendo, aqui, nesta cidade. Gritamos isso todos os dias. Quem nos ouve? Choramos a morte dos nossos amigos, vizinhos e calamos diante do medo e da impunidade.

     

    Na cabeça

    Na chacina mais recente, em Belém, duas caminhonetes fecharam um bar e atiraram. Saldo 3 mortos na hora, dois no hospital, mais de 10 feridos, entre eles duas crianças, uma baleada na cabeça. Quem sobreviveu disse que não havia um alvo. Apenas atiraram. Mais do que a certeza da impunidade, os encapuzados só queriam matar e seguir com projeto genocida do Estado Brasileiro. É lá, bem longe do centro e dos muros dos condomínios que as balas perdidas encontram alvos. Homens, mulheres, crianças, adolescentes… Não sabemos. O que sabemos é a classe e a raça da vítima. Chacinas só acontecem na periferia, com pessoas pretas e pobres!

     

    Segundo dados do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), de 2017, a cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. Mata-se mais no Brasil do que em guerras civis declaradas pelo mundo. Das 30 cidades mais violentas do país, 22 estão no Norte e no Nordeste. Altamira, aqui no Pará, é quem lidera esse ranking.

     

    O levantamento da ONG Conselho Cidadão para Segurança Pública e Justiça Penal, com sede na Cidade do México, mostrou Belém como a 11ª cidade mais violenta do mundo em 2016, a 2ª cidade mais violenta do Brasil. São 67,41 mortes por cada grupo de 100 mil habitantes. O relatório usa como base dados divulgados pela imprensa nas maiores cidades do mundo e faz uma descrição da metodologia.

     

    No campo, a situação não é diferente. No estado do massacre de Eldorado do Carajás, a morte do campo é rotina. Punição não! Há algumas semanas, um “confronto” entre agricultores e policiais militares deixou 10 pessoas mortas. Um “confronto” com 10 agricultores mortos. Nenhum policial foi ferido. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra, o Pará liderou o ranking de assassinatos no campo nos últimos dez anos (2007-2016). Foram 103 mortes no estado. Depois veio Rondônia, com 66 assassinatos.

     

    Quando lançamos a campanha de 75 dias de Ativismo Contra o Racismo aqui no Pará, em 12 de maio passado, alguém perguntou a razão da campanha. É porque estamos morrendo. É porque o racismo está tão plantado na sociedade brasileira que é banalizado. É porque cada pessoa negra viva é um desafio às estatísticas. O Estado Brasileiro não liga para como vivemos ou para como morremos. É porque estamos brigando ainda para ter uma dimensão de humanidade que nos foi negada historicamente. Viver não privilégio. É direito.

     

    Queremos viver sem uma arma apontada para a nossa direção! Queremos viver! Parem de nos matar!


    *Flávia Ribeiro é jornalista, feminista negra, militante do Cedenpa (Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará, da Rede de Mulheres Negras e da Rede de Ciberativistas Negras.


    Links úteis:

    https://www.facebook.com/mulheresnegrasamazonidas/

    http://www.diarioonline.com.br/noticias/para/noticia-405403-.html

    http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2017/05/conflitos-de-terras-provocam-morte-de-7-pessoas-em-uma-semana-no-para.html

    https://www.brasildefato.com.br/2017/05/31/chacina-em-pau-darco-tem-as-mesmas-raizes-do-massacre-de-carajas/

    http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=30253&catid=4&Itemid=2

  • Ato celebra ação dos policiais que assassinaram 10 pessoas no Pará

    Ato celebra ação dos policiais que assassinaram 10 pessoas no Pará

    Causou comoção nas mídias sociais a “convocação” para uma marcha de apoio aos policiais envolvidos com a chacina de 01 trabalhadora e 09 trabalhadores rurais no município paraense de Pau d’ Arco, neste domingo, 24 de maio.

    A chamada informa que a “Marcha em prol dos policiais da operação na fazenda Santa Lúcia” está sendo organizada por um coronel e um sargento da polícia militar, “Cel Barata” e “Sgt Haelton”, com o apoio de um vereador de Belém, “Sargento Silvano”.

    A manifestação é considerada pelos críticos como uma ofensiva aberta contra os movimentos sociais, as organizações civis e as comissões de direitos humanos que contestam, com base nos depoimentos de sobreviventes e familiares das vítimas, a hipótese de confronto alegada pelas polícias militar e civil.

    Em nota, a Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura rechaçou o ato. “Exigimos uma posição oficial do Governador Simão Jatene e do alto comando da segurança pública no Pará a respeito do uso de símbolos oficiais da Polícia Militar e da Polícia Civil nos materiais de divulgação de tais atos. Queremos saber se o Governo do Estado chancela oficialmente esse tipo de iniciativa absurda”, indaga a diretoria da federação, que assina o manifesto.

    No texto, a Fetagri também manifestou solidariedade ao deputado estadual Carlos Bordalo (PT-PA), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), que divulgou no dia 30 um parecer assinado por três deputados, com base numa diligência realizada no dia 26 de maio, por meio da qual foram ouvidos relatos de sobreviventes e de parentes das vítimas.

    Segundo o documento de 18 páginas, os relatos e indícios encontrados em campo apontam evidências de que não houve confronto.

    “As perfurações de balas nas costas, nas nádegas, nos crânios por trás, além de indícios fortes de tiros à queima-roupa, indicam que houve tudo, menos um confronto. As circunstâncias desse massacre precisam ser averiguadas, as razões também. Mas o fato é que se criou um teatro de horror, porque se desfez a cena do crime, se transportou de uma forma completamente inapropriada os corpos das vítimas, se impediu as famílias de verem os corpos dos seus familiares. Eu lamento dizer à população do Pará que, pelas provas testemunhais que colhemos, houve um massacre violento, covarde e desumano, na Fazenda Santa Lúcia”, afirmou o parlamentar à imprensa no dia 30, reforçando a necessidade uma investigação mais aprofundada sobre o caso.

    Questionado sobre os rumores de pressões por parte de parlamentares corporativistas e da ofensiva dos policiais que articulam a marcha contra os movimentos sociais e de defesa dos direitos humanos, ele aponta a entrada da Polícia Federal como um fato de grande importância para a transparência e isenção das investigações.

    “Espera-se que essa ofensiva não comprometa as investigações e que o Estado realmente cumpra o que foi prometido pelo próprio governador Jatene, ou seja, uma investigação isenta. Particularmente não acreditamos que isso seja possível, uma vez que o episódio teve envolvimento claro de policiais da região. A entrada da Polícia Federal no caso, nesse sentido, é um elemento muito importante, para garantir mais transparência às investigações”, declarou Bordalo, por meio de sua assessoria de imprensa.

    Críticas – Em vídeo veiculado pelo facebook no dia 31, uma semana após o anúncio da chacina, o governador Simão Jatene falou em isenção do Estado no procedimento de investigações sobre as mortes dos trabalhadores. No vídeo de quase 3 minutos e 40 segundos, ele não se pronunciou a respeito do uso dos logotipos das polícias ligadas ao Estado na chamada de apoio público aos policiais afastados dos cargos após os assassinatos.

    Em seu blog, o jornalista Lúcio Flávio Pinto, reconhecido nacional e internacionalmente pela cobertura de pautas sobre os impactos sociais dos projetos de desenvolvimento e as violações de direitos humanos na Amazônia, criticou as declarações.

    Segundo Lúcio Flávio, que é editor do independente Jornal Pessoal, o pronunciamento na forma de um vídeo mostrou-se como um “eficiente meio de comunicação, mas tosco e inadequado diante da gravidade do caso”, na medida em que “diante de situações explosivas e dramáticas”, o governador tem preferido “a solidão, que o preserva de questionamentos imediatos”.

    O jornalista também questionou a comparação do caso em Pau d’ Arco com outros, como os assassinatos da missionária Dorothy Stang, em 2005, e do casal de ativistas ambientais Cláudio e Maria do Espírito Santo, em 2011. Para o governador, em ambos “a Polícia cumpriu rigorosamente seu papel, com apuração, identificação, prisão e entrega à justiça dos responsáveis”.

    “A questão é que, nos dois casos, os assassinos foram pistoleiros profissionais, a mando de fazendeiros e madeireiros incomodados pela ação da freira americana e dos dois líderes locais. O gravíssimo no caso de Pau D’Arco é a volta da ação direta da polícia quase como milícia a serviço de terceiros interessados na eliminação do grupo atacado pela força policial”, contesta Lúcio.

    “Independentemente das informações que ainda precisam ser produzidas, o que recomenda a prudência, a cautela e a honestidade apontadas pelo governador, para ‘evitar juízos prévios e precipitados’, já não há mais dúvida de que as mortes ocorreram por execução deliberada. Se as vítimas eram bandidos e se havia motivo para a polícia se prevenir, nada justifica a ação violenta, incompetente e – talvez – de má fé da polícia”, completa.

     

  • Vídeo mostra polícia atirando em presídio

    Vídeo mostra polícia atirando em presídio

    Uma das grandes obscuridades em relação aos recentes massacres nos presídios em Manaus e em Boa Vista é a participação da Polícia Militar. Quando acontecem rebeliões nos presídios, os batalhões de choque da PM são os responsáveis por atuar para acabar com os motins. Até agora não se sabe como a polícia atuou no momento das mortes, durante as negociações ou quando acabou a briga entre facções (o que obviamente aconteceu, ainda que o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, queira negar).

    As informações oficiais de Manaus, por exemplo, dão conta de que a Polícia Militar entrou “pacificamente” no Compaj após o fim das negociações. A versão dos familiares é outra: a polícia teria matado – à queima roupa e na frente de qualquer um que passasse pela cena – os presos que fugiram do complexo penitenciário. Dos cerca de 200 foragidos (podem ser muitos mais), apenas 63 foram recapturados com vida. Os agentes penitenciários também contam outra história. Dizem que a polícia entrou para matar. “Quando os policiais entraram, não queriam saber se era agente ou bandido. Eles atiravam. Ainda bem que a polícia de choque não entrou logo de início, se não a gente ia morrer”, contou à Folha um agente penitenciário feito refém. Um vídeo divulgado neste sábado mostra a polícia de Roraima atirando nos presos depois do final da rebelião com bala de borracha a uma distância que, dependendo de onde acerte o tiro, é letal. Isso é tortura.

    A atuação da Polícia Militar matou pelo menos 111 presos no Massacre do Carandiru, o maior extermínio de pessoas sob custódia do Estado da América Latina – e o segundo maior do mundo. O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, e o presidente da República, Michel Temer, vêm, a cada dia, negando o óbvio: houve massacre (não foi acidente); o período de tensão era conhecido pelas autoridades federais; o rompimento entre as facções era sabido pelo governo federal; as condições degradantes das cadeias foram amplamente estudadas e divulgadas para a União. Querer que a população acredite que autoridades e polícia não tiveram participação nas mortes, seja por ação ou por omissão, é acreditar que o brasileiro não pensa e que não tem memória.

    Cenas de tortura

    O vídeo mostra policiais mascarados entrando na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista Roraima, enquanto atiram com escopetas calibre 12 municiadas com bala de borracha.

    Os alvos: presos a poucos metros de distância.

    A distância considerada segura para o disparo de balas de borracha – munição de elastômero – é de 20 metros. Disparos de distâncias menores do que esta aumentam consideravelmente o risco de ferimentos graves, inclusive levando ao óbito.

    “‘Bora, caralho, ‘bora”. “Vai, vai, filho da puta!”, gritam os policiais para os presos, já dominados e desarmados.

  • Sem Terra foram mortos com tiros nas costas

    Sem Terra foram mortos com tiros nas costas

    O MST do Paraná esclareceu na manhã desta sexta (8/4) que os sem terra atacados em emboscada pela Polícia Militar ontem em Quedas do Iguaçu foram atingidos pelas costas, o que desmente cabalmente as versões do governo de Beto Richa (PSDB) de emboscada ou confronto por iniciativa dos moradores do Acampamento Dom Tomás Balduíno na tarde de ontem.

    Os sem terra ocupam parte das terras da fazenda Rio das Cobras desde maio de 2015. Moram no acampamento cerca de 1,5 mil pessoas. A região foi grilada ilegalmente pela madeireira Araupel. Em dezembro do ano passado o juiz da 2ª Vara Federal de Cascavel, Leonardo Cacau Santos, declarou a área ocupada como de domínio da União para fins de reforma agrária.

    Os sem terra foram atacados por uma força conjunta integrada por soldados da PM, seguranças da Araupel e capangas por ela contratados. Informa o MST que foram assassinados os trabalhadores rurais Vilmar Bordim, 44 anos, casado, pai de três filhos e Leomar Bhorbak, de 25 anos, que deixa esposa gravida de nove meses. “Também foram feridos mais sete trabalhadores e dois foram detidos para depor e já foram liberados.”, diz a nota do movimento.

    As fotos a seguir são de um veículo dos acampados perfurado por tiros da PM e pessoas diante do IML em Quedas do Iguaçu – fotos cedidas pelo MST-PR:

    MST5_Snapseed MST3_Snapseed MST2_Snapseed MST_SnapseedMST

    O relato das vítimas na nota do MST da manhã de hoje:
    “Não houve confronto algum segundo o relato das vítimas do ataque. A emboscada ocorreu enquanto aproximadamente 25 trabalhadores Sem Terra circulavam de caminhonete e motocicleta, a 6 km do acampamento, dentro do perímetro da área decretada pública pela justiça, quando foram surpreendidos pelos policias e seguranças entrincheirados. Estes alvejaram o veiculo onde se encontravam os Sem Terra, que para se proteger, correram mato adentro em direção ao acampamento, na tentativa de fugir dos disparos que não cessaram. Em relato a PM admite que os dois corpos foram recolhidos de dentro da mata. Todas as vítimas foram baleadas pelas costas o que deixa claro que estavam fugindo e não em confronto com a PM e seguranças.”

    O local da chacina foi isolado pela PM por mais de duas horas, impedindo o socorro às vítimas e o acesso de qualquer pessoa, mesmo advogados. Os mortos foram removidos da cena do crime, assim como os objetos, sem a presença do IML ou da Polícia Técnica. Familiares, advogados e jornalistas que se aproximaram do local foram ameaçados gravemente.

    Relata o MST do Paraná em sua nota: “A Policia Militar criou um clima de terror na cidade de Quedas do Iguaçu, tomando as ruas, cercando a delegacia e os hospitais de Quedas do Iguaçu e Cascavel para onde foram levados os feridos, impedindo qualquer contato das vitimas com familiares, advogados e imprensa.”

    O ataque aos sem terra aconteceu pouco depois de o deputado Valdir Rossoni (PSDB) assumir a chefia da Casa Civil do Paraná. Em 01 de abril, ele, mais o secretario de Segurança Publica do Paraná, Wagner Mesquita, e representantes das cúpulas da policia do Paraná estiveram em Quedas do Iguaçu numa reunião que já preparava a ofensiva contra o Acampamento Dom Tomás Balduíno. Segundo informa reportagem da Ninja (veja aqui), Rossoni não coincidentemente recebeu R$ 50 mil da madeireira grileira Araupel em sua campanha eleitoral.

    O governo do Paraná, conhecido internacionalmente pelo massacre perpetrado pelo governador Beto Richa contra os professores do Estado, em abril de 2015, divulgou uma versão segundo a qual a PM e os seguranças e capangas da Araupel teriam sido emboscados pelos sem terra quando iam apagar um incêndio na mata. A versão tem três problemas graves:

    1. Porque uma tropa de elite da PM (a Rotam) estaria participando de combate a incêndio?
    2. Se a tropa da PM foi emboscada, é verossímil que apenas os sem terra tenham sido feridos e mortos?
    3. Como os sem terra que teriam realizado a emboscada teriam sido atingidos em tiros pelas costas?

    Na manhã desta sexta, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, mandou ofício a Beto Richa na manhã desta sexta exigindo providências e lembrando que o Brasil já foi condenado na Corte Interamericana de Direitos Humanos por assassinato de sem terra no Paraná.

    Amanhã, sábado, haverá um ato em Quedas do Iguaçu com a presença de sem terra do Paraná e de todo o país, de advogados e representantes de movimentos dos direitos humanos. O clima é de enorme tensão no Paraná.