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  • No Vale do Jequitinhonha, euforia e emoção para receber Lula

    No Vale do Jequitinhonha, euforia e emoção para receber Lula

    Gritos, celulares capturando cada movimento e muitas pessoas disputando um espaço na porta do ônibus. A situação, que se assemelha muito à de um grande astro da música chegando para um show, era a do ex-presidente Lula passando por diversas cidades da região do Vale do Jequitinhonha nesta quarta-feira, dia 25 de outubro, no terceiro dia de sua caravana pelo estado de Minas Gerais. A região foi uma das que recebeu mais benefícios durante o seu governo.

    Caravana do Lula por Minas Gerais. Foto: Ricardo Stuckert

    Paradas não previstas

    Durante o percurso, que previa passagens pelas cidades de Itaobim, Itinga e Araçuaí, o ex-presidente acabou fazendo algumas pausas no meio do caminho, pois diversas pessoas o aguardavam ansiosamente. Uma desses lugares foi Catuji, cidade com o 4º pior IDH de Minas Gerais.

    Maria das Neves Pereira, de 62 anos, era uma das pessoas que aguardavam o petista e relatou como o Bolsa Família melhorou as condições dela e de sua família, composta por quatro filhos e dois netos. “O Lula foi o melhor presidente que já tivemos. Eu tenho um problema de saúde e não posso trabalhar. Com a ajuda do Bolsa Família, agora eu posso fazer compra, pagar uma conta de água e comprar alguns remédios que não consigo de graça”.

    Foto: Patrícia Adriely | Jornalistas Livres

    Outra parada improvisada foi em Padre Paraíso. Tanto que Manoel Nunes Pinheiro, de 44 anos, nem sabia que Lula iria passar por lá, mas assim que foi informado pelo filho sobre a mobilização das pessoas para a passagem do ex-presidente, fez questão de sair de Itaraí e viajar por cerca de 50km para vê-lo. “Toda vida eu fui do lado de Lula, não existe outra pessoa que para substituí-lo. Com o governo dele, eu consegui comprar duas motos e uma bicicleta. Antes dele, pobre não conseguia comprar uma bicicleta, só com muito trabalho”.

    José Ramos Vieira, de 72 anos, revelou que essa não foi a primeira vez que ele viu o Lula. “Conheço ele desde 1976, época da primeira greve em São Paulo. Eu também trabalhava por lá. O Lula foi o melhor presidente da república. O que ele fez, melhorou para mim e minha família, não temos nada a reclamar. Consegui comprar casa, carro e me aposentar. Com ele, foi tudo mais fácil. Pela próxima geração, eu apoio ele”.

    O último local não planejado que Lula passou foi Ponto dos Volantes. Lá, a jovem Karina de Oliveira Alves, de 28 anos, não disfarçava a excitação por ver o ex-presidente. “Ele permitiu a mudança e nos tirou da miséria. Com seu governo, pudemos ter televisão, carro, moto e viajar de avião”, afirmou.

    Grande público

    Entre a multidão admiradora que o esperava na cidade de Itaobim, estavam os jovens Rafael Batista, de 22 anos, João Vitor Alves, de 18 anos, Leron Tanan, 20 anos, e Vinícius Araújo, de 17 anos. Eles afirmaram que não foram diretamente beneficiados por programas implantados durante o governo Lula, mas que reconhecem a importância das ações realizadas. “O comércio da cidade gerava dinheiro e atualmente parou. Ainda estamos em cima do muro, então viemos aqui ouvir o que ele tem a dizer”, ressaltou Vinícius.

    Em Itinga, Lula foi acolhido por um aglomerado eufórico de moradores, com direito, inclusive a um “camarote”. Quem proporcionou isso foi a moradora Thaísa Cordeiro, que abriu as portas e varandas da sua casa para que diversos amigos pudessem ter um bom ângulo para ver e ouvir o ex-presidente. “As outras vezes também foram assim na minha casa. Faço isso porque somos simpatizantes de Lula e reconhecemos a facilidade que ele trouxe para nós moradores”.

    Itinga foi um dos primeiros municípios a receber a visita de Lula após a posse dele como presidente da República em 2003. O lugar ganhou destaque após a construção de uma ponte sobre o Rio Jequitinhonha, que facilitou a locomoção dos habitantes do local e a atuação do comércio. Apesar disso, alguns moradores gritaram “Fora Copanor”, demonstrando insatisfação a um problema recorrente na cidade: a falta de água. De acordo com os moradores Aelson Batista Aguilar e Glória de Fátima Gonçalves, todos os meses de outubro e novembro falta água. “Estamos sem água já tem uma semana”, afirmou Glória.

    Por fim, Lula realizou um grande ato em Araçuaí, cidade que também recebeu grandes investimentos durante o seu governo. No local, 17 mil pessoas foram beneficiadas pelo Bolsa Família e foi realizado a instalação de 1.159 cisternas de água para consumo e 308 para produção. Para a camareira Cleusa de Sousa Câmara, Lula foi o melhor presidente pois ajudou os pobres. “Antigamente, a gente não tinha condições de comprar uma lata de óleo, agora conseguimos ter as coisas”.

    No ato, a estudante Natália Nunes, de 18 anos, segurava uma bandeira do Movimento dos Atingidos pela Barragem. Moradora de Guaranilândia, município a 169km de Araçuaí, ela afirmou que apoia o Lula por querer um país melhor. “Com o passar de dois anos do rompimento da barragem, nada melhorou. Acredito que o Lula pode resolver isso e muito mais”. Nesta quinta-feira (26 de outubro), o presidente continua a caravana com uma visita ao Campus de Araçuaí do IFNMG e à cidade de Salinas.

    *Editado por Agatha Azevedo
    Caravana do Lula por Minas Gerais. Foto: Ricardo Stuckert
  • Lula tomou um “banho de povo”

    Lula tomou um “banho de povo”

    Após 5 mil quilômetros percorridos por mais de 30 cidades dos nove estados nordestinos, a Caravana “Lula pelo Brasil”, que teve início no dia 17 de agosto, chegou ao fim nesta quarta-feira (5), em São Luís do Maranhão.

    Foto: Mídia Ninja

    A Caravana, como foi falado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em diversos momentos, teve como principal objetivo vivenciar o grande desenvolvimento pelo qual a região passou durante os 13 anos de governo do Partido dos Trabalhadores. E, principalmente, entender de que forma o Nordeste vem sofrendo com os desmontes sociais do governo de Michel Temer, exatamente um ano depois do golpe que tirou do poder a presidenta Dilma Rousseff, e aprovou uma série de medidas que restringem o investimento em políticas públicas e flexibilizam os direitos dos trabalhadores, como a PEC 55 e a Reforma Trabalhista.

     

    Entre as principais mudanças na região durante a última década, que a Caravana mostrou, está a interiorização do ensino superior brasileiro, a construção de cisternas para armazenamento de água, e a distribuição de renda e direitos básicos através de programas como o Luz para Todos e o Bolsa Família. Foram 63 campi universitários, 150 novas escolas técnicas e sete novas universidades construídas no Nordeste pelo governo do PT; 1/,2 milhão de cisternas para consumo instaladas em casas do semiárido nordestino, e milhões de pessoas beneficiadas pelos programas sociais.

    O contexto político atual é essencial para entender a importância histórica dessa Caravana, e marcou boa parte dos discursos do ex-presidente, assim como os depoimentos do povo que o recepcionou. Difamado diariamente pela grande imprensa, réu em primeira instância pela Operação Lava Jato, e aguardando uma decisão em segunda instância que pode barrar sua candidatura em 2018 – para uma eleição que já é antecipada como uma das mais polarizadas da história do país – Lula encontrou na Caravana o apoio e reconhecimento das milhares e milhares de pessoas beneficiadas pelo seu projeto de país.

    Apoio esse que, mais uma vez, tentou ser apagado por veículos da mídia empresarial que descaradamente insistiam em fotografar praças esvaziadas horas antes dos atos marcados, ignorando fatos noticiosos como cidades que reuniram um número de pessoas (algumas vindas de regiões próximas) que somavam mais da metade de sua população para assistir às falas do ex-presidente, como Currais Novos (RN), que tem 35 mil habitantes e aglomerou pelo menos 30 mi pessoas.

    Nesse sentido, tivemos a decisão de fazer uma cobertura colaborativa entre três dos maiores veículos da mídia alternativa, assumindo o desafio de construir em conjunto uma narrativa, acompanhando todas as atividades dos 20 dias de Caravana, contando os relatos, lembranças e sonhos daqueles que tiveram suas vidas transformadas, mas são os últimos a serem ouvidos pela mídia hegemônica. Produzimos textos, fotos, vídeos, matérias para rádio, transmissões ao vivo, memes, em quatro comunicadores no dia a dia da Caravana, mas contando com o apoio das equipes das bases e de colaboradores em diversas cidades pelas quais passamos. A nossa cobertura atingiu cerca de 30 milhões de pessoas.

    Assim, acompanhar a jornada de Lula pelo mesmo Sertão que ele deixou há 64 anos, como retirante, foi uma das mais comoventes experiências vivenciadas por cada uma e cada um de nós. De tudo que presenciamos e contamos, algumas cenas foram especialmente marcantes, como a travessia de Lula pelo Rio São Francisco, quando centenas de pessoas aguardavam para recebê-lo no estado de Alagoas, às margens do rio, ao por do sol. Ou também em uma noite, na pequena cidade de Acari (RN), quando fomos surpreendidos por uma multidão deixou a missa, que acontecia naquele momento, para assistir à passagem da Caravana dos degraus de uma igreja.

    Essas paradas não programadas em cidades onde os habitantes espontaneamente se reuniam e se mobilizavam para encontrar com o ex-presidente, foram, talvez, os momentos mais emocionantes da viagem. No trajeto original de cinco horas entre Quixadá (CE) e Juazeiro do Norte (CE), onde foram realizados atos programados, por exemplo, a Caravana parou em oito pequenas cidades do interior, demorando o dobro de tempo para chegar.

    Nesses momentos, Lula descia com o apoio de alguns seguranças e era engolido por uma multidão de pessoas que fazia questão de seguir os ônibus para tocá-lo e agradecê-lo, segurando bandeiras vermelhas improvisadas com paus, lençóis e outros tecidos, em cenas que pareciam histórias de realismo fantástico. Após duas semana de Caravana, as mãos e braços do ex-presidente já estavam bastante arranhadas, sua voz havia praticamente sumido, mas ele continuou com o impressionante esforço de cumprimentar e abraçar as pessoas em cada lugar que o recebia.

    A presença incansável do povo marcou desde a primeira atividade da Caravana, a visita de Lula ao recém-inaugurado metrô de Salvador (BA), até o última fala do ex-presidente em São Luís do Maranhão. Nesse meio tempo, Lula participou de atividades inesquecíveis como a colação de grau dos estudantes brasileiros e africanos da primeira turma do curso de Humanidades da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (Unilab), criada durante seu governo para promover a integração Sul-Sul, e agora ameaçada de cortes de bolsas para seus estudantes. Ou o almoço no acampamento Valdir Marcedo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), em Jandaíra (BA), onde centenas de acampados e assentados se reuniram para recebê-lo. Ou os cinco títulos de Doutor Honoris Causa que o ex-presidente recebeu durante a Caravana, apesar de, como ele disse diversas vezes, não ter tido a oportunidade de ter uma formação universitária.

    Foto: Guilherme Imbassahy

    Outro ponto marcante que notamos foi a presença das mulheres em cada uma dessas manifestações. Mais afetadas pelas políticas públicas de distribuição de renda e reparação histórica dos governos do PT, e consequentemente as maiores vítimas dos desmontes sociais de Temer, elas foram as protagonistas de cada uma das atividades organizadas pela Caravana. Nossa cobertura decidiu contar a história de algumas dessas mulheres, já que elas apareciam como presentes a cada parada da Caravana, com suas histórias comoventes e que traduzem toda a força e peleja de suas vidas.

    Assim, contamos a história da jovem Iva Mayara, que devolveu seu cartão de beneficiária do programa Bolsa Família à Lula em Aracaju (SE), afirmando não precisar mais dele após ter se graduado pelo PROUNI e se tornar cadastradora do próprio programa. Narramos a vida da peixeira Simone Virgínia e da lavadeira Alzira de Souza, moradoras do bairro de Brasília Teimosa, no Recife, desde quando ele sofria com a falta extrema de saneamento básico, antes da visita de Lula ao local, em 2004.

    Também tivemos a honra de conversar com a lendária militante da reforma agrária Elizabeth Teixeira, que aos seus 92 anos não deixou de comparecer ao ato de recepção de Lula em João Pessoa (PB), e com a fundadora do MST no Ceará, dona Maria Lima, hoje com 80 anos. Conversamos também Solange Saldanha, a Sol, que esteve presente em Currais Novos (RN) para agradecer Lula pela possibilidade de ter entrado no curso de letras da Universidade Federal do Rio Grande do Norte aos 35 anos, através do mesmo sistema de cotas raciais que colocou sua filha mais velha – e colega de classe – na mesma universidade.

    Após 20 dias acompanhando Lula pelo Nordeste, voltamos, cada um para seu respectivo estado, com a certeza de que somente por termos estado debaixo do sol com o ex-presidente, durante ao menos 10 horas diárias, pudemos entender a dimensão do desenvolvimento trazido pelo seu governo, e das injustiças que tentam diminuir uma das maiores lideranças políticas da América Latina. É preciso estômago para ignorar e deslegitimar os relatos de pessoas que representam o primeiro diploma de suas famílias, que relatam com propriedade o fim dos saques nas épocas de seca após as políticas de Lula, que agradecem com lágrimas nos olhos pela atenção que lhes garantiu sobrevivência.

    Deixamos o Maranhão sabendo que, independente da linha editorial de cada veículo da nossa cobertura compartilhada, e da opinião política de cada comunicador, tivemos a chance de vivenciar e entender a proporção mais bruta das medidas tomadas em Brasília e da intensificação da luta de classes no país.

    Por esse motivo, voltamos acreditando ainda mais no potencial de uma mídia independente, ativista ou popular, e da importância de oferecer contra-narrativas, com o apoio de um povo que hoje não apenas tem o que comer e onde morar, mas possui a consciência política e os meios tecnológicos necessários para disseminar essas informações. Como disse Lula, em uma entrevista coletiva realizada no terceiro ônibus da Caravana, que durante as três semanas nos abrigou, temos alternativas à mídia hegemônica: “Nós não precisamos deles”.

    A cobertura da caravana “Lula pelo Brasil” foi realizada por meio da parceria entre Brasil de FatoMídia Ninja e Jornalistas Livres.

  • 13 fotos de Lula no Piauí

    13 fotos de Lula no Piauí

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  • Lula inicia caravana pelo nordeste

    Lula inicia caravana pelo nordeste

    Alvo de diversas campanhas que pediam que o país fosse separado, o Nordeste tem um papel fundamental na construção do Brasil. Entre os dias 17 de agosto e 07 de setembro, o ex-presidente Lula fará a segunda edição da Caravana pelo Nordeste. 25 anos depois o ônibus percorrerá mais de 30 cidades, saindo de Salvador-BA e terminando em São Luís-MA.

    Os Jornalistas Livres compreendem a importância de contar a história do povo que é deixado à margem não só pelo atual governo mas também pela mídia, que diversas vezes não os consideram pessoas dignas e importantes para o país. Queremos conhecer quem saiu da miséria nos governos Lula e Dilma e agora está voltando a ter fome. Queremos dar voz a quem é ignorado por todos os lados. Os Jornalistas Livres afirmam o caráter jornalístico e ético da cobertura, com ênfase em quem tem esperança de que o Brasil volte a ser governado tendo seu povo como prioridade.

    Nos ajude a mostrar o que não estará na grande mídia. Nos ajude a dar rosto para as lutas pelo fim da miséria, pelo fim da fome, pela saúde, pela educação, pelos direitos trabalhistas, pela água e, principalmente, pela vida. Contribua com qualquer valor para que essas histórias sejam contadas.

    PARTICIPE:

    Banco Caixa Econômica Federal

    AG: 3033

    Conta Poupança: 8971-0

    OP: 013

    Confira o trajeto completo da caravana:
    QUINTA-FEIRA, 17 DE AGOSTO Salvador – Bahia
    SEXTA-FEIRA, 18 DE AGOSTO Cruz das Almas e São Francisco do Conde – Bahia
    SÁBADO, 19 DE AGOSTO Feira de Santana – Bahia
    DOMINGO, 20 DE AGOSTO Estância – Sergipe
    SEGUNDA-FEIRA, 21 DE AGOSTO Lagarto, Itabaiana e Nossa Sra. da Glória – Sergipe
    TERÇA-FEIRA, 22 DE AGOSTO Aracaju – Sergipe
    Penedo – Alagoas
    QUARTA-FEIRA, 23 DE AGOSTO Arapiraca – Alagoas
    Maceió – Alagoas
    QUINTA-FEIRA, 24 DE AGOSTO Recife – Pernambuco
    SEXTA-FEIRA, 25 DE AGOSTO Recife – Pernambuco
    SÁBADO, 26 DE AGOSTO João Pessoa – Paraíba
    DOMINGO, 27 DE AGOSTO Campina Grande – Paraíba
    Currais Novos – Rio Grande do Norte
    SEGUNDA-FEIRA, 28 DE AGOSTO Mossoró – Rio Grande do Norte
    TERÇA-FEIRA, 29 DE AGOSTO Quixadá – Ceará
    QUARTA-FEIRA, 30 DE AGOSTO Juazeiro do Norte – Ceará
    QUINTA-FEIRA, 31 DE AGOSTO Granito – Pernambuco
    SEXTA-FEIRA, 1º DE SETEMBRO Marcolândia – Piauí
    Picos – Piauí
    SÁBADO, 2 DE SETEMBRO Teresina – Piauí
    DOMINGO, 3 DE SETEMBRO Timon – Maranhão
    SEGUNDA-FEIRA, 4 DE SETEMBRO São Luís – Maranhão
    TERÇA-FEIRA, 5 DE SETEMBRO São Luís – Maranhão

  • Solidariedade e luta contra a opressão em Brasília

    Solidariedade e luta contra a opressão em Brasília

    Saímos de Campina Grande, Paraíba no domingo, dia 27. Éramos três professores: um do IF e dois da UEPB, e os demais 42 eram estudantes secundaristas e universitários. No dia da nossa chegada, nos concentramos na UNB.

    No dia seguinte, fomos ao local das atividades. Após concentração e distribuição do almoço no MEC, assistimos a fala da Maria Lúcia Fatorreli.

    Em seguida, caminhamos para a concentração no Museu e de lá caminhamos em direção ao Senado. Nunca tinha visto tanta gente na rua lutando pela mesma causa. Não sou a melhor pessoa para números, mas acredito que tínhamos 50.000 pessoas na rua. A energia era forte, uma mistura de determinação e esperança. Nosso grupo rapidamente chegou ao gramado que antecede o espelho d’água. Sem identificação aparente, os policiais já estavam posicionados para nos receber. Até então não houvera nenhum tipo de embate, apenas algumas pessoas dentro da água. Do lado oposto, uma mulher dizia algo para os policiais. Nesse momento tive a idéia de abrir a bolsa e pegar o celular. Nessa fração de segundo ouvi uma vaia generalizada e levantei os olhos: a mulher estava inerte na água. Todos se revoltaram com o fato do policial jogar spray de pimenta algumas vezes e ela não recuar. No entanto, a maior revolta foi a agressão física que a fez desmaiar na água: enquanto jogava o spray, ele a chutou no rosto. Lembrem- se que ela estava no nível mais baixo ( na água) e ele no terraço do Senado. Sim, a polícia provocou e começou as agressões. Aí, tudo virou um caos. Um grupo virou um carro branco, acendeu o fogo e em seguida o empurrou em direção aos policiais, numa espécie de barricada para tentar resgatar a moça. Outras pessoas foram de mãos para cima para tentar negociar a retirada garota, mas também levaram spray de pimenta.  Nesse momento, as bombas de gás lacrimogêneo começaram a cair por todos os lados. Uma caiu na nossa frente, saímos de lá com aquela sensação de queimor insuportável, mas, ao mesmo tempo, já estávamos com pequenas quantidades de vinagre (como o leite de magnésio, vinagre é eficaz para os sintomas causados pelo gás). Todas essas recomendações recebemos e propagamos na viagem, bem como as estratégias de rota de fuga ( com uma montagem de um mapa do plano piloto) em caso de embate com a polícia, dispersão ou desencontro.

    A medida em que recuávamos, a polícia avançava. Ela não poupava ninguém. Quando o protesto começava a tomar corpo, já se aproximava do fim o expediente dos trabalhadores. Ninguém foi poupado. Vi idosos, mulheres com crianças, e nós, os militantes, apanharmos muito. O desespero era fugir do gás e, simultaneamente, retirar quem estivesse atingido ao lado: foi a maior lição de solidariedade que vivi.

    Nossa janela de fuga (sim, porque 95% das pessoas que lá estavam não foram preparadas para uma guerrilha urbana) foi proporcionada pelos Black Blocks. Eles retardaram o avanço da polícia e criaram, junto com alguns militantes mais experientes, barricadas para conter o avanço policial. Eles também apanharam muito. Carros foram queimados para distrair atenção dos agressores, painéis e alguns prédios de ministérios foram quebrados na tentativa de diminuir as agressões e salvar as pessoas feridas.

    Nesse momento percebemos os helicópteros (contei 4 diferentes). No início eu achei que era apenas para acompanhamento da movimentação da massa. Já no início da noite, algumas aeronaves começaram a fazer voos mais baixos, logo seguidos do estouro de uma nova bomba. Não vi cair nenhuma bomba dos helicópteros, mesmo porque o inferno estava no solo, mas a polícia estava muito longe para que as bombas chegassem a nós. O pior aconteceu quando a cavalaria entrou em ação. O pânico tomou conta. As pessoas corriam enlouquecidas com medo de serem pisoteadas pelos cavalos. E o confronto seguiu nesse terror. Estávamos assustados demais para reagir e, em nosso grupo, a prioridade era proteger os alunos já que a maioria deles nunca tinham presenciado embates tão duros. Hoje percebo que o país inteiro não tinha vivido tão recentemente tamanha truculência.

    Conseguimos enviar boa parte do grupo para o ônibus, mas ainda tínhamos que pegar os outros no nosso ponto de fuga. Criou-se assim uma espécie de equipe de resgate. Nesse momento trocamos de blusas, tiramos botons/adesivos e jogamos as bandeiras fora. O mais importante era restabelecer em segurança o grupo. As bombas continuavam a cair. Um dos impactos que a bomba causa é o impacto psicológico: elas têm um som ensurdecedor e treme o chão quando toca o solo. Ainda assim, depois de juntarmos quase todos e o clima aparentemente ter acalmado, ainda tínhamos os desaparecidos. Só tínhamos duas alternativas: hospital ou cadeia. A ajuda dos companheiros que não estavam no protesto foi fundamental. Eles nos ajudaram a localizar várias pessoas, entre elas, nossa companheira desaparecida que estava no hospital da UNB. Ela foi socorrida por uma enfermeira que tinha na mão o magnésio e a achou desacordada debaixo de uma árvore. Não sabemos seu nome, apenas que salvou nossa aluna. Para esta pessoa os meus mais sinceros agradecimentos. Não são todos que se dispõem a salvar a vida do outro, colocando a sua própria em jogo. Não podemos esquecer da equipe médica que a atendeu. Não tenham dúvidas de que foi um belíssimo trabalho, já que nossa aluna possuía uma fragilidade pulmonar que complicou os sintomas do gás em seu corpo. Obrigada equipe médica da UNB.

    Ao acordar, nossa aluna conseguiu passar as informações para o pessoal do hospital, que entraram em contato com familiares e professores de sua unidade de ensino que, por sua vez, entraram em contato conosco. Ela nos relatou que o hospital estava cheio e que, em sua maioria, mulheres eram as principais vítimas, sobretudo as que estavam com os seios desnudos. Impossível não fazer um leitura sociológica desse fenômeno.  Ela também nos relatou um caso de uma criança que aparentava 10 anos. Ela e sua mãe estavam muito machucadas: a mãe com marcas roxas pelo corpo causado pelo cacetete, a criança com 15 pontos na boca, em direção às maçãs do rosto. A mãe foi buscá-la na escola vestindo uma camisa do “Fora Temer” e, por azar, estava no olhou do furação. A mãe foi agredida pelo policial que, não satisfeito com o espancamento, partiu para agredir a criança.

    Pude perceber que existia prazer em alguns policiais em agredir as pessoas, outros, nos indicavam com um olhar uma rota de fuga. Pessoas e pessoas.

    Não posso deixar de mencionar o papel de alguns cidadãos de Brasília. Mesmo não estando no protesto, eles nos indicavam os possíveis caminhos para fugir daquela insanidade. Muito obrigada.

    Já passava das 21h e ainda tínhamos alunos desaparecidos. Ficamos sabendo que a polícia tinha fechado a rodoviária e estava prendendo militantes dentro dos ônibus estacionados nas imediações da rodoviária. Ao mesmo tempo, dois dos nosso alunos estavam em outra localidade com uma delegação diferente. Decidimos pegar um táxi e entrar na rodoviária para procurarmos o último desaparecido. Para nossa sorte, recebemos mensagem de que ele tinha encontrado nosso transporte e estava a salvo. Assim retornamos ao ônibus e saímos de Brasília naquele mesmo momento.

    Sentimos falta da presença da CUT e MST.  Acredito que se eles estivessem lá o resultado poderia ser diferente. No entanto, as entidades que estavam, nos deram maior apoio possível, inclusive, de ordem tática. Não foi a toa que a polícia deu voz de prisão aos manifestantes que estavam no alto do trio elétrico chamando a militância a resistir ao avanços dos policiais.

    Acredito que o protesto de ontem e seus desdobramentos deram início a outro momento na história do país. E o protagonismo será da juventude. Cabe a nós, os professores, o papel de elaborar proteger, orientar, salvar, zelar e agir por nosso jovens.

    Desculpem-me eventuais erros e equívocos, mas ainda estamos na estrada rumo ao nosso destino.  Neste momento, 20:56 do dia 30/11/16, em algum lugar desta enorme Bahia, a caminho de casa, decidi escrever esse texto como forma de informação, mas também de expurgo para a compreensão geral dos chocantes acontecimentos de ontem.

    É impressionante o crescimento individual deste grupo de alunos. Eles estão mais coesos e solidários. No início da viagem houve pequenos ruídos por causa dos posicionamentos de um grupo de alunos com outro grupo que tinha orientação LGBT. Neste exato momento estou sentada entre dois grandes grupos que estão debatendo questões específicas. Os rapazes mais conservadores estão discutindo gênero com parte do grupo LGBT e o outro discutindo formas de exploração do trabalho. Se tornaram homens e mulheres, literalmente, do dia pra noite. Eu apenas os observo, afinal quem mais está aprendendo aqui sou eu. E meu coração está inundando de amor e felicidade.

    A PEC passou e irá passar. Mas o sentimento de que fiz (fizemos) tudo que estava ao meu (nosso) alcance me conforta, mas não me resigna. Saio mais convicta da necessidade da luta.

    *Mauriene Freitas é professora do Departamento de Letras e Humanidades da Universidade Estadual da Paraíba.

    Brasília, 29/11/2016. Foto: Maxwel Vilela
    Brasília, 29/11/2016. Foto: Maxwel Vilela
  • Caravana a Brasília

    Caravana a Brasília

    A caravana a Brasília
    Qualquer coisa de maravilha
    Que eu pude experimentar
    Foi um sonho, foi vivência
    Uma libertária experiencia
    Com o meio popular

    Lindo povo do agitamento
    Presente do encantamento
    Dos Movimentos Sociais
    Foi dizer não às trapaças
    Das armações, das farsas
    Teatrais, globais

    Fomos em ritmo de alegria
    Na harmonia da cantoria
    Com muita fé
    Defender nossa Presidenta
    Pois o povo tudo enfrenta
    E não é arredar o pé

    Nós vimos lá em Brasília
    Uma cambada, quadrilha
    Mentindo em rede nacional
    Se ganhou o primeiro embate
    Estamos vivos no combate
    Venceremos no final

    Se nós fomos derrotados?
    Não! Com ânimos redobrados
    Jamais iremos desistir
    A verdade sempre triunfa
    A gente não TEMER bufunfa
    Globo e Cunha vão cair

    E por falar em derrota
    Isso pouco nos importa
    De Che é muito bom lembrar:
    É de derrota em derrota
    Que vamos rompendo portas
    Até a justiça triunfar

    Apesar da dor da tristeza
    O retorno foi, com certeza
    Tranquilidade geral
    Além da multiplicidades
    Vivenciamos solidariedade
    E análise conjectural

    Desta viagem a Brasília
    Lindo foi ver a partilha
    Tradução do verbo amar
    Vi troca de conhecimentos
    O dividir dos alimentos
    Um verdadeiro socializar

    Ao ver um alegre ambiente
    Até me senti adolescente
    Entre jovens lindos demais
    Grande abraço ao Apolônio
    Um companheiro dos sonhos
    Irmão de guerra, de paz

    Pra não gerar ciumeiras
    Cito só uma companheira
    Nas saudações finais aqui
    Minha belíssima idealista
    Professora jornalista
    Te amo querida Vivi

    Na nossa caravana do Pará tinha um poeta popular. Abençoados os poetas que tornam nossa jornada mais leve.

    Jetro Fagundes
    Farinheiro do Marajó e de Ananin