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  • Perícia confirma que ônibus da caravana de Lula foi atingido por tiros

    Perícia confirma que ônibus da caravana de Lula foi atingido por tiros

    Agora é oficial e vem calar a boca de certos oportunistas da direita que lançaram dúvida e tentaram fazer a cabeça de seus leitores ou ouvintes com mentiras. Acredite se quiser, teve maluco que chegou ao ponto de afirmar que os próprios petistas teriam disparado os tiros para se passarem por vítimas. Mas agora, um laudo oficial da perícia confirma que um dos três ônibus da caravana de Lula pelo Sul do país foi realmente atingido por dois tiros, no Paraná, na semana passada. A conclusão está no laudo pericial do Instituto de Criminalística, assinado pelo perito Inajar Kurowski, apresentado na tarde desta quinta-feira, 5, em Curitiba, durante entrevista coletiva.

    Conforme a perícia, os dois tiros acertaram o lado direito do veículo. Um deles atingiu a lataria e a bala foi bloqueada por uma chapa de aço. O segundo disparo de arma de fogo acertou de raspão o vidro de uma janela. A bala não chegou a ser encontrada pelos peritos, mas foram recolhidas amostras de chumbo. O orifício por onde a bala entrou tinha cerca de 10 milímetros de diâmetro.

    O perito Inajar Kurowski informou que a arma era de calibre .32, que tem baixo poder de fogo. “É uma arma que já saiu de fabricação. Nem a arma, nem sua munição são mais fabricadas”, afirmou. Kurowski não quis apontar o tipo exato de armamento usado, mas disse que poderia ser uma pistola de dois canos paralelos, conhecida como garrucha. “Totalmente fora de uso. As pessoas têm isso como coleção ou como herança. São armas que ainda se encontram em circulação”, disse.

    O atirador estaria distante 18,9 metros da rodovia, em uma posição atrás do lado direito do alvo, e posicionado em um base com altura superior à do ônibus, cerca de 4,3 metros em relação ao asfalto. “O mais provável é que ele estivesse num barranco. A investigação é que vai verificar a localização”, explicou o perito. Pelo ângulo de impacto, a bala poderia ter atingido os passageiros, disse o autor do laudo. “Poderia ter transfixado a lataria e teria acertado a perna de alguém. E o tiro que acertou o vidro poderia acertar alguém na altura da cabeça”, observou Kurowski.

    No momento dos tiros, a caravana fazia o trajeto de 60 quilômetros entre Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul, na região oeste do Paraná. O delegado responsável pelo caso, Hélder Lauria, afirmou que o laudo da perícia facilita a investigação. Ele informou que já foram ouvidas 15 testemunhas, entre passageiros, pessoas que estavam nos locais onde os ônibus passaram e policiais rodoviários que acompanhavam a caravana. Ainda não há suspeitos.

  • Por que as elites brasileiras odeiam Lula?

    Por que as elites brasileiras odeiam Lula?

     

    Artigo de Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História da UFBA, com foto de Guilherme Santos/Sul21

    Nada diz mais sobre o Brasil, sobre o que somos há muito tempo, que a caravana de Lula pelo sul do país. Em terras sulistas, por onde Lula passou foi hostilizado pela classe proprietária, pela elite da terra.

    Não!
    Chamar de “hostilidade” é pouco.

    O que aconteceu na etapa sulista da caravana “Lula pelo Brasil” foi uma sucessão de atentados contra a vida de Lula e de seus correligionários políticos. Começou com chicotadas, agressões e pedradas e chegou, no último dia 27 de março, a tiros de arma de fogo.

    Não foi ovo, não foi cocô. Foi tiro. Tiro de arma de fogo.

    Como entender essa escalada de violência na política Brasileira?

    Muitos falam em “fascismo”, termo que tem notória força política e que por isso seu uso no debate público talvez tenha lá alguma importância.

    Mas estou convencido de que se quisermos fazer uma interpretação mais rigorosa da realidade, o termo é equivocado, pois mais confunde do que esclarece. Definir como “fascista” a escalada da violência na política brasileira demandaria tantos reparos e observações para mostrar como o “fascismo brasileiro” é diferente daquele “fascismo clássico” europeu de meados do século XX que o próprio conceito perderia força explicativa.

    Por isso, prefiro seguir uma via interpretativa doméstica, tomando as manifestações de violência contra a caravana de Lula no sul do Brasil como representativas daquilo que o Brasil é, do que sempre foi.

    É este o meu esforço neste ensaio: tomo a violência contra a caravana de Lula como ponto de partida para uma interpretação do Brasil.

    Começo, então, com a pergunta que não quer calar, com a pergunta que, talvez, seja a mais importante de ser feita no atual momento da história do Brasil:

    Por que as elites brasileiras odeiam Lula?

    Nem de longe Lula foi um Presidente revolucionário, nem de longe relou no “sagrado” direito de propriedade privava. As elites brasileiras não perderam dinheiro nos governos de Lula. Muito pelo contrário, nunca ganharam tanto.

    De onde vem todo esse ódio?

    Não penso que seja necessária a importação de um conceito específico da história europeia para a compreensão de uma realidade que é tão brasileira quanto a jabuticaba. Não é fascismo não, não tem nada a ver com fascismo.

    O fascismo é moderno, é o desdobramento mais grotesco da modernidade.

    O ódio a Lula é arcaico, deita suas raízes nos velhos valores aristocráticos, pré-modernos, na lógica da Casa Grande, em uma racionalidade de tipo antigo.

    Não é fascismo não. É o Brasil mesmo.

    Sei que é difícil reconhecer, mas no fundo, bem no fundinho, é só o velho Brasil de sempre. Em pouco mais de uma década de bonança, nos enganamos, fomos ingênuos, achando que o Brasil estava mudando, melhorando. Mudou não. Melhorou não. Tá igualzinho ao que sempre foi.

    Não há como falar nessa atualização do “Brasil de sempre” sem dedicar alguma atenção à “instituição Lula”.

    Pois sim, o “homem Lula” já morreu e deu lugar a uma instituição.

    Lula é a maior instituição política da história do Brasil. É tolo quem acha que uma instituição pode ser morta com uma bala ou com uma facada. Todos os brasileiros e brasileiras terão que conviver com a “instituição Lula” daqui para frente. Ninguém mais faz política no Brasil sem passar por Lula, seja para negá-lo ou para reivindicar o seu legado.

    Mas o que significa essa instituição?

    Há pouco tempo, escrevi um ensaio sugerindo que no final da década de 1990 aconteceu dentro do PT a “guinada lulista”, que teve efeitos contraditórios para o maior partido político da história da esquerda latino-americana: o lulismo, ao mesmo tempo em que catapultou o PT à chefia do Poder Executivo, representou o seu colapso ideológico.

    É que o lulismo aposta na conciliação de classes e ao fazê-lo acaba negando o princípio da luta de classes, que é o núcleo da identidade ideológica de qualquer partido que pretenda estar à esquerda.

    O lulismo achou que era possível “ajudar os pobres sem incomodar os de cima’, na certeira formulação de Marcelo Odebrecht.

    No frigir dos ovos, essa conciliação seria mesmo possível.
    Com algum sacrifício da classe média e com uma situação econômica relativamente favorável, seria possível distribuir renda para os mais pobres sem contrariar os interesses dos grandes capitalistas.

    Dinheiro no bolso do povão, expansão do crédito, incentivo ao consumo, bancarização das relações comerciais, investimento na exportação de commodities. Todo mundo saiu ganhando, ainda que uns tenham ganhado mais que outros.

    Com o boom do consumo, ganhou o capital produtivo.

    Com a bancarização das relações comerciais, ganhou o rentismo.

    Com o micro-crédito, ganhou o pobre, que comprou geladeira, TV de plasma e viajou de avião pra lá e pra cá.

    A fórmula funcionou durante dez anos. O fator “Dilma Rousseff” foi o principal elemento de desestabilização do sistema. Não foi o único elemento, é claro que não. Mas foi o principal.

    É que Dilma tensionou demais.

    Dilma tensionou com o rentismo na batalha dos spreads, tensionou com a classe política, quando acreditou que a “Operação Lava Jato” seria de fato republicana.

    O golpe de 2016 não foi exatamente contra o lulismo. Foi contra o dilmismo.

    Duvido que Lula cairia, duvido muito. Mas não é disso que quero falar, não aqui, não agora.

    O que estou querendo dizer é que pela lógica racional do mercado, do capitalismo, não há nenhum motivo para as elites brasileiras odiarem Lula.

    Os donos de terra do sul do Brasil receberam muito dinheiro do governo federal durante a Era Lula, pois a exportação das commodities era o grande combustível econômico da conciliação lulista. Era importante para o governo que os proprietários produzissem, vendessem, ganhassem dinheiro.
    Lula tratou o agronegócio com muito carinho, com muito carinho mesmo.

    De onde vem esse ódio? Por que os proprietários sulistas tentaram matar Lula? É por causa da corrupção?

    Não, não tem nada a ver com corrupção. Há outros políticos notoriamente corruptos que não despertam o mesmo ódio. Nunca é demais lembrar que os mesmos que hoje odeiam Lula aplaudiram Eduardo Cunha e votaram em Aécio Neves. O problema dessas pessoas nunca foi a corrupção.

    O ódio é arcaico, é de tipo antigo.

    Lula é o nordestino, trabalhador manual, homem de berço plebeu que ousou governar.

    Num país em que a política formal sempre foi assunto a ser tratado entre iguais, entre oligarcas, Lula representa o radicalismo, ainda que na posição de mandatário maior da República tenha sido bem tímido, talvez até um tanto conservador.

    É que o radicalismo de Lula independe de suas ações. Lula é o próprio radicalismo, é o radicalismo em pessoa, não importa o que faça, não importa o que deixe de fazer, não importa o quanto tente conciliar.

    Com aquela “alma de pobre”, com aquelas escorregadelas nas concordâncias e nos plurais, Lula jamais conseguirá conciliar por muito tempo, pois para conciliar carece antes de ser aceito como mediador. Precisa sentar à mesa.

    O aristocrata não aceita sentar à mesa com o plebeu.

    As elites brasileiras têm nojo de Lula, sempre tiveram. Mesmo ganhando dinheiro durante o governo Lula, elas continuaram sentindo nojo, odiando. É que para as elites brasileiras o mais importante não é, exatamente, o dinheiro. O mais importante é a distinção.

    Não importa se o aquecimento do consumo é positivo para a cadeia produtiva. Quando a empregada usa o mesmo perfume que a patroa, quando o filho do porteiro começa a estudar na universidade, é o regime da distinção que está sendo abalado.

    Patroa e empregada, sinhá e mucama, não podem ter o mesmo cheiro. Não importa se a empregada “tirou” o tal perfume no cartão de crédito, pra pagar em 12 suaves prestações. Não importa se a empregada, depois da jornada de trabalho, vai sacolejar duas horas no trem e no ônibus para chegar em casa, no outro lado da cidade.
    O que importa é o cheiro, é o signo de distinção.

    Não importa se o morador do 10° andar vai passear em Paris nas férias, enquanto o porteiro vai visitar “mainha” em Santo Amaro. O que importa mesmo é que quando começar o semestre, o filho do porteiro estará lá, na mesma sala que filho do morador do 10° andar. Olhando de longe, bem de longe, eles são iguais, são estudantes. O absurdo está aqui. O ódio vem daqui.

    É isso: não tem nada a ver com fascismo. O que explica a escalada de violência na política brasileira é o ódio de uma elite arcaica que goza com a distinção.

    Não é fascismo. O fascismo é a tragédia da Europa moderna. Nossa tragédia é outra.

    É a tragédia de uma sociedade de modernização incompleta, forjada no escravismo e controlada por uma elite historicamente comprometida com o atraso.

  • “Vou pra Porto Alegre, tchau!”

    “Vou pra Porto Alegre, tchau!”

    Por Lais Vitória Cunha de Aguiar, especial para os Jornalistas Livres

    Três ônibus com cerca de 200 pessoas saíram do ponto de encontro, o Hotel Nacional, para Porto Alegre, em meio a férias de janeiro. Brasília, sendo uma cidade administrativa, torna-se vazia em férias. Que evento poderia reunir 200 pessoas de todo o entorno do Distrito Federal para viajar em pleno janeiro, e, ainda mais para uma viagem com cerca de 36 horas?

    O julgamento de um dos maiores líderes da América Latina é suficiente para tanto: Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente com mais de 33 títulos de doutor honoris causa, e, mais importante do que qualquer título, o homem que retirou milhões de brasileiros da miséria.

    Cada um dos militantes das mais distintas categorias presentes na Caravana sabia o propósito daquele julgamento: retirar o Lula da disputa presidencial de 2018. Por isso, todos gritavam “Eleição sem Lula é Fraude!”

    Todos os ônibus foram pagos pelos próprios militantes: a cada 13 camisetas vendidas, um militante ia a Porto Alegre. Foram tantas vendas que afinal cerca 200 militantes conseguiram ir. Vocês tem ideia de quantas pessoas se mobilizaram para que tal fato ocorresse?

     

    Contando com militantes de diversos movimentos sociais, foi uma caravana repleta de diversidade, mas que no conjunto formava um panorama bem conhecido: a sociedade brasileira, bem ao contrário daqueles que julgaram Lula, em sua maioria homens brancos de classe média alta.

    O começo da viagem não apresentou grandes dificuldades ou diferenças em relação a qualquer outra viagem de ônibus. Teve gente que leu, dormiu, cantou. Eu diria, porém, que a ansiedade para chegar a Porto Alegre no dia 23 e acompanhar o julgamento permitiu que uma aura de tensão se instalasse por toda ida.

    Para piorar a tensão, o nosso ônibus quebrou no meio da estrada, na divisa entre São Paulo e Paraná. Como sempre é possível agravar a situação, não havia sinal de celular. Estávamos incomunicáveis, totalmente sem serviço.

    Um dos outros ônibus foi muito solidário ao nosso infortúnio. Parou também e nos fez companhia, enquanto iam buscar o necessário para consertar a corrente, ou seja, durante as três horas em que permanecemos conversando, estendendo faixas contra a condenação do Lula.

    As reações dos muitos caminhoneiros que passaram por nós foram interessantes. Como disse um colega, “se dependesse dos caminhoneiros o Lula já estava eleito”, o que  me deixou surpresa, afinal foram os caminhoneiros que fizeram uma grande greve contra a Dilma pouco tempo antes do golpe do impeachment. Na maioria das vezes em que passava um caminhoneiro, ele buzinava para nós.

    Os xingamentos foram bem escassos, ainda mais que os militantes ali presentes eram em parte do NDD, Núcleo Pela Democracia que se reúne todas segundas feiras na Praça dos Três Poderes, em Brasília, em frente ao Palácio do Planalto, para denunciar o golpe. Na Praça dos Três Poderes sim, recebemos muitos xingamentos e poucas buzinadas simpáticas. Por isso mesmo, a cada buzinada o povo vibrava.

    A nossa água estava acabando, não havia comida, não havia um posto próximo, havia somente mato ao nosso redor: mesmo assim as faixas de apoio ao Lula permaneceram estendidas, seguradas por militantes, durante as três horas que permanecemos esperando pelo conserto do ônibus.

    Por coincidência a equipe dos Jornalistas Livres passou por nós, filmando em parte a alegria dos militantes que puderam ir a Porto Alegre, defender o Lula com sua presença e energia, a maior arma de quem não encontra sua voz representada nas instâncias do poder. Abaixo o vídeo dos Jornalistas Livres:

    Depois da imprevista parada de três horas, ainda tivemos que enfrentar uma chuva bem forte, o que fez com que fôssemos a uma velocidade bem menor. Ao chegarmos a Porto Alegre fomos tomar banho no clube da Caixa,  depois passamos pelo acampamento formado pelos movimentos sociais especialmente para o evento do dia, com Lula, e um dia depois, no julgamento.

    Assim que chegamos fomos para o evento com Lula,  lá encontramos uma senhora, vendedora de água e guarda-sol, que nos contou que não perdia um evento para defender Lula ou Dilma.

    Nós chegamos cedo, conseguimos acompanhar a marcha da Juventude Revolução até a Esquina Pela Democracia, no centro de Porto Alegre, um local simbólico da luta gaúcha pela Legalidade, durante a tentativa de golpe contra João Goulart, em 1961. Horas antes do discurso de Lula, o local já estava bem cheio. Algumas horas depois, não teria nem como se mover. Nós não conseguimos voltar para onde estávamos antes, por causa da incrível quantidade de pessoas (a Brigada Militar calculou em 70 mil manifestantes e os organizadores do ato, em 100.000. Era gente demais, então ficamos ouvindo todos os discursos na lateral, que também estava cheia, já que o evento não tomou apenas uma rua, mas todas as ruas próximas ao Mercado Municipal de Porto Alegre. Era muita gente.

    Caravana de Brasília no acampamento do MST, em Porto Alegre

    No dia 24, dia do fatídico julgamento, às sete da manhã, já estávamos no acampamento acompanhando as atividades. Sendo manhã bem cedo, pudemos ver gente do Nordeste e do Sul se juntando para cantar suas músicas típicas. Vimos um senhor tocando músicas que compôs na época da ditadura e explicando o significado para uma roda de jovens a sua volta.

    Depois houve uma reunião da juventude Mudança, que me deixou esperançosa e triste ao mesmo tempo: é muito bom ver  uma juventude de esquerda unida, de várias partes do Brasil, pensando em como transformar realidade da política.

    O mais interessante dessa reunião foi, sem dúvida, a fala do Patrick, de Minas, que apontou um problema específico, mas que se apresenta plural:  a política em geral não consegue chamar hoje o jovem da periferia, seja de esquerda ou direita. Esse é um papel que acabou sendo em boa parte assumido pelo crime organizado, que concede ao jovem a esperança de uma vida melhor por meio da venda de drogas. O crime organizado vende uma ideologia de individualismo, a qual o jovem compra com facilidade. Como ele pontuou: ‘A CUT não consegue parar o Brasil hoje, mas o PCC consegue.’

    Nessa reunião, após a fala de todos, como encaminhamento ficou decidido que iríamos fazer uma mesa sobre o assunto no Fórum Social Mundial, que nesse ano ocorrerá em Salvador do dia 13 a 17 de março.

    Apesar da tristeza com relação ao resultado do julgamento, era óbvio que o judiciário iria julgar Lula de forma injusta. Quantos Lulas não são presos todos os dias por roubar um pão, por fome? Imagine o que esses homens que prendem pessoas com fome não iriam fazer com um que defende as pessoas que eles prendem? Aqueles que os ditadores de toga não prendem são justamente os que se identificam com eles: a classe alta com contas na Suíça, os políticos com aviões de droga…

    Ao voltarmos para Brasília, ao menos o ônibus não quebrou. Nós pudemos, todavia, ouvir ao rap de alguns companheiros –Sander, Victor e Emerson– sobre a viagem. Termino aqui com o relato deles, que demonstra que ainda existe uma juventude de esquerda pronta para lutar pelo que acredita:

     

  • Estudantes convocam reedição da “UNE Volante” para o primeiro semestre de 2018

    Estudantes convocam reedição da “UNE Volante” para o primeiro semestre de 2018

    Via: União Nacional dos Estudantes – UNE

    Os 17 diretores da Executiva da UNE aprovaram nesta terça-feira (12/12) a construção da “UNE VOLANTE: Uma universidade chamada Brasil” no primeiro semestre de 2018.

    1° Reunião da Executiva da UNE – 2017-2019

    A iniciativa é uma reedição da UNE Volante realizada pela primeira vez em 1961, e foi uma caravana que percorreu diversos estados do Brasil com o objetivo de promover as reivindicações estudantis através da cultura e da conscientização popular.

    Na época a caravana serviu para mobilizar a luta da UNE pela participação dos estudantes nos órgãos colegiados da administração das universidades, na proporção de um terço, com direito a voz e voto, que desembocou na greve nacional do 1/3. Os estudantes chegaram a ocupar por três dias do prédio do Ministério da Educação e Cultura, no Rio.

    “Dessa vez nossa proposta é conhecer mais de perto as realidades das universidades brasileiras nos diversos Estados para focarmos na nossa luta em defesa da universidade pública e gratuita de qualidade”, destacou a presidenta da UNE, Marianna Dias.

    Segundo a resolução aprovada a homenagem se dá num momento em que a democracia do Brasil passa novamente por uma grande crise, assim como o próprio caráter gratuito das universidades públicas brasileiras. “Por isso, a UNE VOLANTE 2018 terá como principais eixos: a defesa da universidade pública e gratuita brasileira; a defesa da universidade pública enquanto indutora do desenvolvimento nacional e soberano; a defesa dos espaços de vivência e confraternização estudantil, a luta contra a mercantilização do Ensino Superior Privado e a defesa do Estado Democrático de Direito.”

    De acordo com diretor de Universidades Públicas da UNE, Mário Magno, os estudantes querem “construir uma agenda de esperança que consiga chegar além dos centros urbanos, mas também ao processo de interiorização do ensino superior, no fortalecimento das lutas locais e na mobilização para o Encontro de Mulheres, Negros e Negras e LGBT da UNE”.

    Para percorrer as principais universidades públicas do país a UNE Volante buscará o apoio das associações nacionais, regionais e locais da comunidade acadêmica e científica.

    Uma nota em defesa do estado democrático de direito e contra a perseguição política ao presidente Lula também foi aprovada durante a reunião.

    ”A UNE ressalta sua posição em defesa do combate à corrupção, mas entende que este processo não pode ser feito à margem de conquistas democráticas como o direito à presunção da inocência, ao contraditório, à ampla defesa e o devido processo legal”, diz o documento.

     

    O ex-presidente da UNE, Aldo Arantes (à dir.), organiza a primeira caravana da história da entidade em 1961.
  • Indignação e desejo de barrar o golpe marca último dia de caravana de Lula por MG

    Indignação e desejo de barrar o golpe marca último dia de caravana de Lula por MG

    A Praça da Estação, em Belo Horizonte, que já é conhecida na cidade como um local de união para resistência e luta, ficou lotada na noite de 30 de outubro, último dia da caravana do ex-presidente Lula por Minas Gerais. No público, um sentimento de indignação e desejo de barrar o golpe dado pelo atual governo. “Eu me filiei ao PT diante deste terror que vivemos. Sou psicóloga e não quero que o desenvolvimento social acabe”, afirmou Edna Maria da Silveira, que saiu de Juiz de Fora e viajou 273 km para participar do ato.

    Foto: Ricardo Stuckert

    O estudante de Direito, Diego Moura Duarte, que vive na capital, também relatou que foi ao evento para apoiar o ex-presidente Lula. “Sou contra a reforma trabalhista e os manejos do Temer. O governo dele é a mostra de como não governar e ele são sai do poder porque tem apoio e usa o dinheiro público para continuar”, declarou.

    A estudante de Engenharia de Produção, Thaine Freitas, de 24 anos, complementou: “O governo dele é ilegítimo e está tirando o direito dos trabalhadores, das mulheres e da comunidade LGBT”.

    Vitor Dias de Carvalho, de 47 anos, é de São Joaquim de Bicas (MG) e viajou 40 km para participar do último ato da caravana. “No governo FHC, eu estava desempregado. Nos governos Lula e Dilma, eu estava empregado. Bastou um irresponsável não aceitar a derrota nas urnas e eu estou desempregado há 3 anos”, relatou.

    Em seu discurso, Lula afirmou que os golpistas levaram o país a uma situação de deterioração e ressaltou o papel da educação para o crescimento do país. “Estudar não é gasto, é investimento e nós temos a obrigação de financiar os nossos jovens para estudar”. Ele ressaltou que irá continuar lutando pela retomada da democracia. “O Brasil vai ser o país que a gente quiser”, finalizou.

    Durante uma semana, o ex-presidente percorreu 21 cidades e passou por diversas regiões, como os vales do Aço, Jequitinhonha, Mucuri e Rio Doce. Em suas visitas, as pessoas demonstravam gratidão pelas ações do seu governo e uma indignação pela atual situação do país.

    Foto: Ricardo Stuckert
  • ​Em reunião com Lula, reitores criticam os retrocessos da educação no atual governo

    ​Em reunião com Lula, reitores criticam os retrocessos da educação no atual governo

    Os estudantes da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e integrantes do DCE da universidade, Igor Félix, de 21 anos, Ernesto Elias, de 20 anos e Nicole Point, de 19 anos, acordaram cedo para ver o ex-presidente Lula em sua visita ao local no dia 29 de outubro. “Viemos em defesa da democracia”, afirmou Igor. “Reconhecemos a importância que o governo dele deu para a educação, ampliando o ensino para o interior”, complementou Nicole.

    Na ocasião, o ex-presidente realizou uma reunião com 17 reitores e representantes de universidades e Institutos Federais de Minas Gerais. O estado é o que possui o maior número de instituições públicas de ensino superior. Os profissionais destacaram as dificuldades que as instituições vêm enfrentando após os cortes realizados pelo atual governo. “Temos uma relação de 28 alunos por técnico. O sugerido pelo MEC é 15”, relatou o reitor da Universidade Federal de São João del-Rei, Sérgio Augusto Cerqueira.

    Já o reitor do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, José Ricardo Martins da Silva, contou que “com o orçamento de 2018, fomos orientados a colocar somente o custeio”. Segundo o diretor da Universidade Estadual de Minas Gerais em Diamantina, “o corte de gastos tem atingido diretamente as universidades”.

    Foto: Ricardo Stuckert

    Lula encorajou os reitores neste momento complicado. “Vocês estão na linha de frente dessa batalha. Não pode entrar nas costas de vocês a herança maldita que o golpe está deixando. Essa reunião nos convoca a uma luta mais séria em relação à educação”.

    Retrocessos após o golpe 

    A outra passagem do dia da caravana de Lula foi em Cordisburgo. O ato contou com diversas pessoas de cidades da região, como Sete Lagoas, Morro da Graça e Contagem, que ressaltaram as dificuldades da população após o governo Temer.

    A pescadora Glória Silva, encarou uma viagem de seis horas, saindo da cidade de Três Marias. “Estamos vivendo uma luta de classes e isso faz com que a gente saia da nossa cidade para apoiar o Lula. A classe mais pobre é a que está mais sofrendo. Estou aqui para defender o futuro dos meus filhos e meus netos”. A professora Mestiça Samarino também viajou, saindo de Contagem, para fazer parte do ato.

    “Estou nessa luta porque acredito nesse Brasil. Essa caravana vai renovar as esperanças de um novo país”.

    O servidor público, Manoel Elias Nash, de 63 anos, criticou a retirada de direitos, por meio da reforma trabalhista e congelamento de investimentos. “Tenho a esperança de um país melhor e que vamos reverter esse quadro”, finalizou.

    Foto: Ricardo Stuckert