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  • (IN)Justiça de SP manda despejar milhares de pessoas em Carapicuíba

    (IN)Justiça de SP manda despejar milhares de pessoas em Carapicuíba

    Por Laura Capriglione e Lucas Martins, dos Jornalistas Livres

    Sob temperatura de 37ºC, a Justiça de São Paulo autorizou nesta quinta (12/9) a destruição de mais de 700 moradias precárias, ocupadas por idêntico número de famílias, representando algo entre 3.000 e 4.000 pessoas, que ocupavam há 3 anos um terreno conhecido como Comunidade do Escadão, localizado na cidade de Carapicuíba, na Grande São Paulo.

    O terreno pertence à Cohab de São Paulo, estatal que tem como principal acionista a Prefeitura Municipal de São Paulo, administrada por Bruno Covas. Oitocentas crianças cadastradas pelo Conselho Tutelar perderam o endereço em poucas horas, deixando brinquedos e cadernos para trás. Muitas abandonarão as escolas, porque viverão longe daquelas em que estavam matriculadas.

    O prefeito de Carapicuíba, Marcos Neves, do Partido Verde, não se dignou a aparecer no local, embora tenha frequentado aquela favela durante a campanha eleitoral de 2016. Na ocasião, ele prometeu “buscar recursos nos projetos habitacionais do governo do Estado e governo Federal, além de cobrar agilidade nas ações do Programa Cidade Legal, do Governo do Estado, para concluir o trabalho de regularização e entregar o título de posse aos moradores [que ocupam lotes irregulares].

    Em vez de cumprir suas promessas, o prefeito da cidade nem sequer providenciou um galpão para abrigar os flagelados. A defesa civil foi orientada a não distribuir garrafinhas de água para os moradores desalojados, apesar do calor desalmado e do fato de o fornecimento de água para a favela já ter sido cortado de véspera. Auxílio-moradia, então, nem pensar. De acordo com a Prefeitura de Carapicuíba não existe a obrigatoriedade do benefício nesse caso.

    Uma imensa operação de guerra foi montada para forçar os moradores a sair de suas casas nas primeiras horas do dia. Centenas de policiais militares em terra, helicópteros, tropa de choque, além dos agentes fortemente armados da Guarda Civil Metropolitana de Carapicuíba, que portavam armas de canos longos, invadiram a Comunidade do Escadão a partir das 6h da manhã, enquanto máquinas retroescavadoras demoliam os barracos.

    A imprensa foi orientada a cobrir todo o evento a partir de um campo de futebol, onde havia banheiros químicos e distribuição de garrafinhas de água e de kits com suquinho, sanduíche e banana. A PM bloqueava o acesso dos profissionais de imprensa ao interior da comunidade, alegando questões de segurança, já que havia fogo e demolição ocorrendo nas vielas estreitas.

    O que se verá a seguir é o registro exclusivo e sem cortes obtido pelos Jornalistas Livres, que percorreram o local com uma câmera baixa, a 30-40 centímetros do chão, para não chamar a atenção dos policiais e dos agentes da Guarda Civil de Carapicuíba. O único momento em que a câmera foi levantada ocorreu durante o registro da prisão de uma moradora que tentou voltar ao barraco em vias de demolição para resgatar seu gato. Impedida de recolher o animal pelos PMs, desesperada, ela os chamou de “malditos”. Foi presa por “desacato”.

     

     

    A PM bloqueava o acesso dos profissionais de imprensa ao interior da comunidade, alegando questões de segurança, já que havia fogo e demolição ocorrendo nas vielas estreitas. Mas, mesmo em áreas isentas de risco, os jornalistas eram impedidos de entrevistar moradores e trabalhadores, como se vê neste vídeo, intitulado PM TENTA IMPEDIR JORNALISTAS LIVRES DE MOSTRAR O DRAMA DO DESPEJO EM CARAPICUÍBA (SP)

     

     

    Veja abaixo uma galeria de fotos da reintegração

  • Comunidade Nelson Mandela perde a terra no Apartheid brasileiro

    Tropa de choque, força tática e guarda civil metropolitana de Osasco mobilizam-se para negar a moradia digna a 10.000 brasileiros pobres.

    A ação de reintegração de posse do chamado Morro do Mandela ocorreu de forma pacífica diante de um pesado aparato militar. Na Comunidade Nelson Mandela, que fica ao lado do Rodoanel Mario Covas, na divisa de Barueri com Osasco, a linha de frente da repressão era formada pela Força Tática e pela Tropa de Choque, mas lá estavam também a cavalaria da Polícia Militar, a Guarda Civil Metropolitana, carros do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), helicópteros militares, além do apoio de bombeiros e enfermeiros do Sistema Único de Saúde. Alguns moradores, como forma de protesto, atearam fogo em barracos que ja tinham sido desocupados, e os bombeiros tentavam conter o fogo para que não atingissem bujões de gás. Dois adolescentes, um de 16 anos e outro de 17, foram presos acusados de incêndio criminoso.

    Foto: Leo Moreira Sá

    Os primeiros “mandelenses” chegaram ali no dia 14 de janeiro de 2014, 29 dias depois do sepultamento de Nelson Mandela, e resolveram homenagear o grande líder africano. Ocuparam um terreno particular de 200 mil metros quadrados, que não tinha uso social e segundo os moradores iria virar um lixão. Carpiram a área, cercaram e levantaram os barracos da noite pro dia. Em um ano e meio a ocupação foi recebendo outras famílias e a Comunidade Nelson Mandela foi crescendo até atingir 10.000 habitantes, vindos na maior parte das periferias de Osasco, Barueri e Carapicuiba.

    Foto: Leo Moreira Sá

    Produziu-se uma estrutura básica de pequenos comércios para atender a comunidade. Famílias matricularem seus filhos em escolas, mães trabalhavam e utilizavam as creches da proximidade, pais de família trabalhavam. Segundo alguns comerciantes do entorno da comunidade, os moradores eram bem-vindos porque movimentavam o comércio local, e também transformaram uma região antes deserta e perigosa, com muitas ocorrências de assaltos, numa região habitada e segura. Ali havia uma comunidade viva, que em poucas horas foi reduzida a escombros, cinzas e desespero de tantas pessoas que não tinham para onde ir.

    Foto: Leo Moreira Sá

    Conversei com uma moça que estava parada diante do seu barraco desocupado: “Estou aqui olhando pro meu barraco vazio nem sei por quê”. Ela me contou que a comunidade fazia reuniões, pedia ajuda para as autoridades, mas o que receberam foi a promessa do prefeito Jorge Lapas (PT), que disse que tentaria negociar com o dono do terreno. Mas há três meses receberam a ordem de despejo. Ela me informou que a prefeitura não tinha, até aquele momento, nem oferecido alojamento — apenas um galpão para a guarda dos pertences dos moradores.

    A prefeitura de Osasco declarou que recebeu uma comissão de representantes da ocupação e que aquela área não era indicada ao uso habitacional por ser área de risco de deslizamentos de terra, além de estar sobre um aterro sanitário.