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  • Rompimento da barragem em Mariana provocou cenário adoecedor

    Rompimento da barragem em Mariana provocou cenário adoecedor

    Depressão. Transtornos, como do sono. Vômito. Diarreia. Ociosidade que causa estresse, dependência química em álcool e outras drogas. E o contato com a lama e a água contaminada pode provocar doenças que levam à morte.

    Durante o 1° Encontro Nacional dos Atingidos que aconteceu em Mariana entre os dias 3 e 5 de novembro, a Rede Nacional de Médicos e Médicas Populares apresentou um dossiê sobre a saúde dos atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão.

    “A gente fica em quarto apertado e sem quintal. Ninguém aguenta mais, estamos estressados e cansados”. Muitos atingidos tiveram de deixar suas casas na roça, onde viviam de plantações e criação de animais. Hoje vivem em casas alugadas pela Samarco.

    A tragédia obrigou um novo estilo de vida àquelas pessoas, o que está provocando muitas doenças. Além de perder casas e entes, as perdas naturais e simbólicas provocam alterações mentais. As pessoas perderam as referências. Há muitos casos de depressão, inclusive com uma vítima fatal, casais se separando e muito stress.

    Fotografia por Gustavo Miranda

    O solo e a água foram tomados pelos rejeitos de minério, onde há metais pesados como alumínio, chumbo, arsênio, mercúrio. O contato das pessoas com esses metais faz com que eles se acumulem no corpo, o que pode alterar funções dos neurônios e do coração, causar cefaleia, câncer e anomalias reprodutivas.

    A rede chama atenção para a qualidade da água e a probabilidade de o ecossistema não se recuperar. A própria falta de água também causa infecções, pela não limpeza de alimentos, do corpo e da casa.

    Fotografia por Gustavo Miranda
    Fotografia por Gustavo Miranda

    “Lama em Barra Longa”

    Na segunda cidade atingida pela lama, foram agravadas as doenças respiratórias nos idosos e a vida agora é dentro de casa. Nas crianças surgiram as doenças respiratórias e manchas na pele.

    Sônia, de Gesteira, distrito do município, deu seu depoimento durante o encontro. Assustador. Segundo ela, a filha não para de apresentar diarreia, febre e manchas pelo corpo. Ela fez a denúncia absurda de que a empresa, juntamente com a prefeitura, usou rejeito para fazer o calçamento na cidade. Sônia conseguiu um laudo comprovando que a filha passou a apresentar os sintomas depois da chegada da lama, mas a empresa se negou a pagar um tratamento e mandou a mãe procurar pelo SUS.

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    Fotografia de Barra Longa, 03/16, por Mídia Ninja.

    A lama que atingiu Barra Longa na madrugada do dia 6 de novembro destruiu os espaços públicos e coletivos, como a calçada de caminhada, a praça, o campo de futebol… Após um ano, o cenário não mudou. Há lama por todo o lado. Na seca, poeira de lama; na chuva, barro de lama. Segundo Sônia, a empresa age como se estivesse em uma mineradora. “Não há mais bem estar na cidade. A rotina são os caminhões trabalhando dia e noite, muitos funcionários da empresa circulam pela cidade, o que limita nossa circulação”, desabafou.

    E de novo aquela velha história: os atingidos não têm voz, nem acesso às informações. Não há diálogo. A energia dos moradores está mais cara, há mais gastos com produtos de limpeza e são muitas as violações de direitos.

    A rede mencionou que há ainda o aumento de DST’s – Doenças Sexualmente Transmissíveis, pelo fato de as cidades atingidas estarem mais cheias e tumultuosas.

     

    “Saúde das mulheres, a mais afetada”

    O relatório da Rede de Médicos e Médicas Populares constatou que a saúde das mulheres é a mais afetada. Principais responsáveis pelo cuidado da casa e da família, elas acumulam o peso de uma lama criminosa.

    A pescadora Creuza, de São Mateus, cidade atingida no Espírito Santo, carregava sua filha nos braços mostrando os machucados e as manchas na pele. O sofrimento é maior pois nenhum exame médico conseguiu detectar o problema.

    Fotografia por Gustavo Miranda
    Fotografia por Gustavo Miranda

    Os peixes também estão contaminados pela lama e não há mais pesca no Rio Doce e no litoral atingido. Os catadores de carangueijos e pescadores estão sem onde tirar o sustento das famílias e o próprio alimento.

    Em um grito de desespero, a mãe encerrou a fala: “A SAMARCO VAI TER DE PAGAR POR TODO O CRIME QUE COMETEU.”