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  • Professor é vaiado em formatura de jornalistas por apontar ataques do governo à imprensa

    Professor é vaiado em formatura de jornalistas por apontar ataques do governo à imprensa

    Fazer jornalismo no Brasil está cada vez mais perigoso. Ensinar como se faz bom jornalismo, também. E os ataques não vêm somente do governo que deveria respeitar a imprensa e as instituições democratas. Vêm também, incrivelmente, de familiares de jovens decididos a fazer jornalismo. Sua primeira batalha, portanto, será dentro de casa: mostrar aos parentes os FATOS e a importância desses fatos serem bem reportados a toda população.

    Felipe Boff certamente é um professor querido no curso de Jornalismo da  Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos. Não fosse assim, não teria sido convidado para ser o paraninfo da formatura, realizada na sexta-feira (7), em São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Boff abriu seu discurso com um fato triste:

    A imprensa brasileira vive seus dias mais difíceis desde a ditadura militar. Entre 1964 e 1985, jornalistas foram censurados, perseguidos, presos, torturados e até assassinados, como Vladimir Herzog. Hoje, somos insultados nas redes e nas ruas; perseguidos por milícias virtuais e reais; cerceados e desrespeitados por autoridades que se sentem desobrigadas de prestar contas à sociedade. Todos sabem – mesmo aqueles que não acompanham as notícias – quem é o principal propagador dessa ameaça crescente à liberdade de imprensa. É o mesmo que também considera como inimigos os cientistas, professores, artistas, ambientalistas – como se vê, estamos bem acompanhados.

    A plateia, no entanto, não gostou dos fatos. Parentes dos formandos começaram a vaiar e xingar o professor. Aparentemente não compreenderam o que os próprios estudantes traziam escrito na camiseta:

    “Não existe democracia sem jornalismo”

     

     

    Conforme o professor seguia citando fatos, como os ataques com insinuações sexuais contra jornalistas mulheres e os xingamentos a cada pergunta incômoda na palhaçada literal que se tornaram as “coletivas” na frente do Palácio, mais parte da plateia reagia gritando histérica, certamente envergonhando alunos e parentes esclarecidos. Até nisso o discurso do Professor Boff foi preciso:

    Esta é a mensagem a ser destacada nesta noite: quando tenta calar e desacreditar a imprensa, o atual presidente da República ameaça não só o jornalismo e os jornalistas. Ameaça a democracia, a arte, a ciência, a educação, a natureza, a liberdade, o pensamento. Ameaça a todos, até aqueles que hoje apenas o aplaudem – estes, que experimentem deixar de bater palma para ver o que acontece.

     

    No final, os seguranças da universidade acharam por bem escoltar o professor para fora do evento, evitando que agressões verbais de fascistas ignorantes pudessem se tornar físicas. A coordenação do Curso de Jornalismo emitiu depois uma nota em solidariedade ao professor. Nós, jornalistas ativistas pelos Direitos Humanos, também nos solidarizamos com o professor e com os agora jornalistas do curso da Unisinos que não compactuam com os fascistas na plateia, por mais que sejam parentes. Ouçamos, TODOS e TODAS a convocação do professor:

    Jornalistas, este é o nosso compromisso. Não deixaremos que a tirania nos cale mais uma vez.

     

     

     

    Ainda na noite de sábado, o professor escreveu em sua página numa rede social:

    Hoje à noite, algumas pessoas pouco afeitas à liberdade de expressão e à democracia tentaram, aos gritos, me impedir de prosseguir com meu discurso de paraninfo na formatura da turma de Jornalismo da Unisinos. A virulência desse ataque – que fez até a instituição colocar seguranças para me acompanharem na saída do auditório – só reforçou a importância do que foi dito. Por isso, compartilho a seguir o discurso, que pôde ser proferido até o fim graças ao apoio de professores, formandos, alunos, ex-alunos e muitos mais.

    Confira o discurso completo do Professor Felipe Boff na cerimônia de formatura:

    A imprensa brasileira vive seus dias mais difíceis desde a ditadura militar. Entre 1964 e 1985, jornalistas foram censurados, perseguidos, presos, torturados e até assassinados, como Vladimir Herzog. Hoje, somos insultados nas redes e nas ruas; perseguidos por milícias virtuais e reais; cerceados e desrespeitados por autoridades que se sentem desobrigadas de prestar contas à sociedade. Todos sabem – mesmo aqueles que não acompanham as notícias – quem é o principal propagador dessa ameaça crescente à liberdade de imprensa. É o mesmo que também considera como inimigos os cientistas, professores, artistas, ambientalistas – como se vê, estamos bem acompanhados.

    No ano passado, segundo levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas, o presidente da República atacou a imprensa 116 vezes em postagens nas suas redes sociais, pronunciamentos e entrevistas. Um ataque a cada 3 dias.

    Querem exemplos? “É só você fazer cocô dia sim, dia não.” “Você está falando da tua mãe?” “Você tem uma cara de homossexual terrível.” “Pergunta pra tua mãe o comprovante que ela deu para o teu pai.” É dessa forma chula e rasteira que o presidente da República, a maior autoridade do país, costuma responder aos jornalistas. Seus xingamentos tentam desviar a atenção das respostas que ele ainda deve à sociedade. Nos casos citados, explicações sobre o retrocesso da preservação ambiental no país, sobre os depósitos do ex-assessor Fabrício Queiroz na conta da hoje primeira-dama, sobre o esquema da “rachadinha” de salários no gabinete do filho hoje senador, sobre o envolvimento da família presidencial com milicianos.

    O presidente das fake news, que bate na imprensa cada vez que ela informa um fato negativo sobre ele e seu governo, é o mesmo que deu 608 declarações falsas ou distorcidas – quase duas por dia – ao longo de 2019. O levantamento é da agência de checagem Aos Fatos. Querem exemplos? “O Brasil é o país que mais preserva o meio ambiente no mundo.” “Leonardo Di Caprio tá dando dinheiro pra tacar fogo na Amazônia.” “O Brasil é o país que menos usa agrotóxicos.” “Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira.” “Nunca teve ditadura no Brasil.”

    Em 2020, depois de completar um ano de mandato com resultados pífios na economia e desastrosos na educação, na cultura, na saúde e na assistência social, o presidente não serenou. Redobrou os ataques à imprensa. Aplicou o duplo sentido mais tosco à expressão jornalística “furo” para caluniar a repórter que denunciou a manipulação massiva do WhatsApp na campanha eleitoral. Atacou outra jornalista, mentindo descaradamente, para negar a revelação de que compartilhou vídeos insuflando manifestações contra o Congresso e o STF.

    E segue promovendo o boicote à imprensa, com exceção daqueles que aproveitam o negócio de ocasião para vender subserviência e silêncios estratégicos. Aos veículos que não se dobram ao seu despotismo, o presidente da República impinge pessoalmente retaliações financeiras diretas, pressão sobre anunciantes e difamação de seus profissionais. Pratica, enfim, toda sorte de manobras sórdidas para tentar asfixiar o jornalismo e alienar a população dos fatos. E já nem se preocupa em disfarçar suas intenções. Querem um último exemplo? Declaração de 6 de janeiro deste ano, dita pelo presidente aos jornalistas “Vocês são uma raça em extinção”.

    Não, presidente, não somos uma raça em extinção. Ao contrário. Somos uma raça cada dia mais forte, mais unida, mais corajosa, mais consciente. Basta olhar para estes 21 novos jornalistas que estamos formando hoje. Basta ler os dizeres na camiseta deles: “Não existe democracia sem jornalismo”.

    Esta é a mensagem a ser destacada nesta noite: quando tenta calar e desacreditar a imprensa, o atual presidente da República ameaça não só o jornalismo e os jornalistas. Ameaça a democracia, a arte, a ciência, a educação, a natureza, a liberdade, o pensamento. Ameaça a todos, até aqueles que hoje apenas o aplaudem – estes, que experimentem deixar de bater palma para ver o que acontece.

    Para encerrar, gostaria de citar o exemplo e as palavras do grande escritor e jornalista argentino Rodolfo Walsh. Precursor da reportagem literária e investigativa e destemida voz contra o autoritarismo e o terrorismo de Estado, Walsh pregava que “Ou o jornalismo é livre, ou é uma farsa, sem meios-termos”. Dizia também que “um intelectual que não compreende o que acontece no seu tempo e no seu país é uma contradição ambulante; e aquele que compreende e não age, terá lugar na antologia do pranto, não na história viva de sua terra”.

    Rodolfo Walsh foi sequestrado e assassinado pela ditadura argentina em 25 de março de 1977. Na véspera, publicara corajosamente uma “carta aberta à junta militar”, denunciando os crimes do sanguinário regime, que então completava apenas seu primeiro ano. Estas foram as últimas palavras que Walsh escreveu: “Sem esperança de ser escutado, com a certeza de ser perseguido, mas fiel ao compromisso que assumi, há muito tempo, de dar testemunho em momentos difíceis”.

    Jornalistas, este é o nosso compromisso. Não deixaremos que a tirania nos cale mais uma vez.

     

    Confira a nota da Coordenação do Curso de Jornalismo da Unisinos:

    Declaração de apoio e solidariedade ao professor e jornalista Felipe Boff

    Na noite de 7 de março, sábado, na cerimônia de formatura do curso de Jornalismo da Unisinos em São Leopoldo, pessoas da plateia, aos gritos e vaias, tentaram impedir o paraninfo, professor Felipe Boff, de prosseguir seu discurso. A virulência desse ataque foi tão grande que a instituição teve que colocar seguranças para o acompanharem na saída do auditório.

    Em sua fala corajosa e necessária, principalmente na ocasião em que jovens colegas chegam ao mercado de trabalho, Felipe, embasado em dados e exemplos, alertava para o que deveria ser óbvio: o presidente da República vem constantemente ofendendo e destratando jornalistas. “No ano passado, segundo levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas, o presidente da República atacou a imprensa 116 vezes em postagens nas suas redes sociais, pronunciamentos e entrevistas. Um ataque a cada três dias”, destacou o professor.

    Como também salientou o paraninfo, o atual presidente da República vem ameaçando não só o jornalismo: “Ameaça a democracia, a arte, a ciência, a educação, a natureza, a liberdade, o pensamento. Ameaça a todos, até aqueles que hoje apenas o aplaudem”. Esses que na formatura tentaram calar um jornalista por dizer o que é fato não enxergam que estão abrindo mão de um direito básico e constitucional de todos os cidadãos brasileiros: o de serem informados. Não existe democracia sem jornalismo livre. Jornalistas já foram censurados, perseguidos, presos, torturados e até assassinados durante o período de ditadura militar no Brasil, como também lembrou Felipe.

    Mas não nos deixaremos intimidar com ameaças. Por isso, nós, jornalistas, professores e professoras de jornalismo abaixo assinados, declaramos total apoio e solidariedade ao professor e jornalista Felipe Boff, que conseguiu, em sua fala verdadeira, representar a todos e todas nós neste momento tão difícil que o país atravessa.. Também por nossos alunos e alunas, temos o dever de dizer: cada ataque nos tornará mais fortes. Por fim, reafirmamos o que o professor Felipe disse no encerramento de sua fala: “Não deixaremos que a tirania nos cale mais uma vez”.

    Porto Alegre, 8 de março de 2020.

    Micael Vier Behs

    Coordenador Jornalismo São Leopoldo
    Coordenador Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades, Artes e Tecnologias

     

  • MST de Mato Grosso apoia a luta dos professores estaduais

    MST de Mato Grosso apoia a luta dos professores estaduais

    A educação no Estado de Mato Grosso está em luta para cumprir sua missão, como apontamos em matéria recente publicada aqui nos Jornalistas Livres. Enquanto os professores da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT se preparam para a assembleia de sexta que vai analisar as propostas do “Fature-se” e se posicionar oficialmente quanto ao programa e os ataques pessoais do sinistro da educação à reitora Myrian Serra, os professores estaduais seguem em greve para o recebimento dos reajustes previstos em lei. Ontem, os profissionais ligados ao Sindicato dos Trabalhadores na Educação Pública do Estado – Sintep MT, ocuparam parte do prédio da Assembleia Legislativa para pressionar o governo a cumprir os compromissos assumidos com a categoria e receberam o apoio do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST, conforme nota abaixo. É triste ver que o pior inimigo da educação no Brasil são os mesmos políticos que a cada eleição prometem prioridade ao setor. Não existe futuro sem educação de qualidade. Não é possível promover a educação de qualidade sem respeito, apoio e incentivo aos profissionais que trabalham no setor. É já passada a hora da população se organizar para defender seu futuro!

    As imagens dessa postagem foram feitas pelo fotógrafo Francisco Miguel 

     

    NOTA DE APOIO E SOLIDARIEDADE AO SINTEP MT

    QUEM LUTA, EDUCA.

    O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST de Mato Grosso, vem, por meio desta nota, reafirmar apoio e solidariedade aos/as trabalhadores/as da educação pública do Estado de Mato Grosso que estão em luta há quase dois meses, pelos direitos do povo de MT, especialmente da classe trabalhadora, para que se possa ter uma educação pública, gratuita e de qualidade, e para isso é necessário que tenhamos escolas dignas e que os/as trabalhadores/as da educação sejam respeitados/as e valorizados/as.

    O Governador Mauro Mendes e seu vice, Otaviano Pivetta, através de suas intransigências e intolerâncias, tem se mostrado verdadeiros protótipos do governo Bolsonaro quando se trata das leis que protegem os trabalhadores/as. A Secretária da Educação, Senhora Marioneide, nada mais tem sido do que “a cereja do bolo” (desde quando estava no governo anterior) servindo apenas de enfeite, pois todos nós sabemos que são os dois Senhores feudais dos tempos modernos que negociam para comandar a pasta da educação, conforme os seus interesses privados, os interesses dos empresários da educação e do agronegócio. Estes Senhores não têm demonstrado nenhuma intransigência quando se trata de conceder e concordar com os privilégios aos privilegiados de Mato Grosso.

    Foto: Francisco Miguel

    Estes Senhores feudais modernos são entreguistas, antipatriotas, capatazes das empresas estrangeiras que levam toda a nossa riqueza, deixando aqui apenas a destruição ambiental, o envenenamento do solo, da água, do ar, da fauna e flora que ainda resistem. E ainda, deixam aqui os miseráveis do campo e das cidades nas filas do desemprego, amontoados em bairros e comunidades rurais precários ou nas cadeias, quando não morrem pelas mãos do agronegócio, do tráfico organizado ou pelas mãos armada do Estado.

    Este Senhores feudais modernos do Governo de Mato Grosso têm sido covardes ao usar de recursos públicos para financiar a imprensa, jornais e programas de televisão, utilizando, de forma mais baixa, mentiras relacionadas à greve, a dados de salários dos professores e maquiando as contas públicas para falsear a arrecadação do Estado e dizer que estamos em crise. Este Estado nunca esteve tão bem na economia. O fato é que eles continuam dando privilégios a eles mesmos e seus pares. Continuam sugando os cofres públicos através de incentivos fiscais para os privilegiados, que são as empresas estrangeiras do agronegócio (empresas dos venenos), os fazendeiros (Pivetta, Maggi e outros), as empresas de mineração (Mauro Mendes e outros) e tantos outras empresas que se enriquecem com a exploração do povo mato-grossense e acabando com as nossas riquezas naturais, como o cerrado, a Amazônia e o pantanal.

    Aos/as combatentes em greve, saibam que estamos orgulhosos de vocês. Estão dando uma das melhores aulas de suas vidas para a sociedade de Mato Grosso, especialmente para os demais servidores públicos que estão na tática de ficar quieto achando que não serão atingidos pelas políticas dos protótipos do governo Bolsonaro.

    Nossos/as professores/as estão dando uma bela aula de enfrentamento ao Estado/agronegócio, com as mais variadas formas de lutas na tentativa de sensibilizar este governo que não tem mostrado nenhuma sensibilidade com os/as trabalhadores/as da educação pública e para com todos os estudantes e suas famílias que estão sendo atingidas pela greve devido a arrogância deste Governo de negar direitos adquiridos. Isso é típico de uma burguesia que governa com a cabeça nos EUA e Europa e de costas para o Brasil, fazendo aqui as suas merdas.

    Estimados/os companheiros/as, QUEM LUTA, EDUCA, pois coloca a nu os problemas que não são mostrados pela maioria da imprensa mercenária que temos em MT. Uma imprensa que aceita o papel de alienar o povo, colocando cortinas de fumaça para que o povo não veja os responsáveis por sua miséria. Esta é a melhor aula de nossas vidas pois mostra quem de fato oprime o povo.

    Foto: Francisco Miguel

    Conclamamos a toda sociedade mato-grossense a se unir e apoiar a greve dos professores/as e pressionar este governo de Senhores feudais modernos, pois o que está em jogo são os direitos da população mais pobre de MT e os direitos das futuras gerações.

    Mais uma vez, o MST reafirma sua total solidariedade ao SINTEP, a todos/as grevistas e a todas as formas de lutas que estão sendo travadas.

    Companheiros e Companheiras, o futuro à classe trabalhadora pertence.

    Basta de ataques aos/as trabalhadores/as.

    Educação não é mercadoria.

    Todos juntos rumo ao dia 13 de agosto.

    Pátria Livre! Venceremos!

    Direção Estadual do MST – MT

    Cuiabá, 24 de julho de 2019.

  • O MINISTÉRIO ANTI-EDUCAÇÃO DE BOLSONARO

    O MINISTÉRIO ANTI-EDUCAÇÃO DE BOLSONARO

    Com cinco meses de governo, dois ministros na conta do Ministério da Educação (MEC), e um número muito maior de polêmicas e ataques contra a própria pasta, Bolsonaro é, sem dúvida, o presidente brasileiro recordista quando o tema é absurdos. O ministro, por enquanto, é Abraham Wentraub, que substituiu o colombiano, sem talento para a pasta, Ricardo Vélez Rodríguez.

    As investidas contra o Brasil continuam sem precedentes. Em pouco mais de cinco meses os dois ministros já somam cortes desde o ensino básico até no campo da pesquisa de doutores. Com tantas mazelas, está claro que o “critério” para sentar-se na cadeira mais alta do Ministério da Educação é ter ódio contra a ciência, escolas, professores e alunos.

    Bolsonaro tem um verdadeiro time de pessoas bizarras, desajeitadas travestidas com a capa de anti-ministros. No Ministério das Mulheres e dos Direitos Humanos, o país tem Damares Alves, no Itamaraty: Ernesto Araújo, no Meio Ambiente, uma posse grilada de Ricardo Salles, na Justiça, Moro, e na Economia, Guedes. Todos dispensam apresentações. Todos já são figuras muito bem conhecidas dos ricos e decadentes noticiários dos veículos de comunicação que não conseguem de nenhuma forma, esconder as atrapalhadas e absurdos permeados pela inabilidade de cada um desses verdadeiros personagens de uma novela de quinta categoria. Não é possível sequer adjetivar a turma que Bolsonaro colocou nesses ministérios. É de dar vergonha. Mas o capitão, claro, nos extremos de sua estupidez mórbida, tem apoiado seus escolhidos.

    O atual dono da cadeira da educação, Wentraub foi mais longe e caracterizou todos os universitários como praticantes de balburdia.

    Isso tudo, depois de meses com Vélez achincalhando a pasta e comprometendo a possibilidade de se realizar o Enem. O Colombiano não tinha ideia se o Exame Nacional do Ensino Médio custaria aos cofres 500 mil reais ou, de repente, 500 milhões. Wentraub permanece na mesma, também não sabe ou no mínimo, não sabe ainda informar. Deve ser porque acabou de chegar.

    Enquanto isso a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) cortou, pelo menos, três mil bolsas de pesquisa. A promessa de Wentraub para Universidades Federias e Institutos Federais é de um contingenciamento de bilhões nas despesas discricionárias (gastos com luz, água e limpeza).

    Mas os estudantes, pesquisadores e professores passaram as últimas semanas em movimento e marcaram para esta quarta, 15 de maio, um dia nacional de paralização, confirmado na maior parte das universidades federias e estaduais, além de Institutos Federais e diversas Escolas públicas. Algumas faculdades privadas, como a PUC-SP, e colégios privados também aderiram.

    Para compreender um pouco melhor o que se passa no Ministério da Educação e Cultura conversamos com Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, doutorando na Faculdade de Educação da USP e ex-candidato ao senado em São Paulo, pelo PSOL.

     

    Jornalistas Livres: Dois ministros já passaram pela pasta. O Vélez foi um descalabro. A coisa começou como se não houvesse projeto, agora parece que existe um projeto. Um projeto de oposição contra tudo que foi construído nos últimos anos. Como você definiria essa nova etapa do MEC, com o ministro Abraham Weintraub?

    Daniel Cara: Em primeiro lugar, é importante ressaltar, toda a questão começa a partir do processo de impeachment [da presidenta Dilma Rousself], momento em que emergiram ao poder, uma vez que elas já existiam, uma aliança ultraliberal e ultrarreacionária. Temer foi um presidente ultraliberal em aliança com os ultrareacionários. Na eleição, como o ultraliberalismo é muito ruim de voto e não possui a capacidade de conquistar setores majoritários da população, pois a população sabe da necessidade de serviços públicos e não quer a redução do Estado, o Bolsonaro foi representante de uma aliança remodelada: ultrareacionários com a condução do governo, ancorados nos ultraliberais. Uma vez que os ultrareacionários não têm agenda pública nasce uma agenda pública do governo Bolsonaro a partir do Paulo Guedes, o “superministro”, com uma agenda ultraliberal. Moro é o responsável pelo ultraliberalismo jurídico, que domina o liberalismo econômico do Paulo Guedes. Mas Moro não tem tido capacidade de implementar uma agenda: o pacote anticrime, que é a grande iniciativa dele, não anda. No caso da educação, Vélez Rodriguez [primeiro ministro da Educação, do governo Bolsorano] era de fato um ultraconservador e não chegava a ser um ultrareacionário – é importante distinguir. Acaba acontecendo o rompimento dele com Olavo de Carvalho, uma vez que Vélez era, essencialmente, apoiado pelos militares… até porque ele é professor emérito da Escola Superior de Guerra e, por ser ultraconservador, como se já fosse pouco, é uma pessoa alheia à área. Ele acabou caindo e entra Abraham Wentraub, que é de fato uma pessoa ultrareacionária.  Vélez paralisou a máquina do Ministério da Educação por incompetência. Ele não teve a capacidade de manejar o olavismo, que tinha grandes expectativas e, mais do que isso, não consegue agradar os militares. Ele perdeu os dois esteios de poder. O fato é que o Ministério da Educação representou o primeiro revés dos militares no governo. Quando cai Vélez e entra Abraham ele retira os militares do MEC, que passa a ser agora a imagem mais seca do governo Bolsonaro. Com o Vélez o MEC era exclusivamente ultraconservador e agora, com Abraham Weintraub, é dominado pelo ultrareacionarismo.

    JL: Quais as diferenças entre os polos ideológicos do governo Bolsonaro?

    DC: Ultrareacionarismo e ultraliberalismo são duas estratégias de freio, de contenção, da democratização da sociedade brasileira que começa, efetivamente, nas lutas pela superação da ditadura, na Diretas Já, e se materializa na Constituição de 88. Os ultrarreacionários buscam constituir um freio para a agenda dos direitos civis e dos direitos políticos. A meta do movimento ultrarreacionário é limitar os direitos civis e os direitos políticos. O que é a limitação dos direitos civis, por exemplo: toda a pauta regressiva contra população LGBT, contra as mulheres, contra os negros, contra os trabalhadores. É restringir aqueles que ainda lutam pela sua inclusão real na sociedade brasileira, uma vez que ela não veio ela não existe. A sociedade continua sendo machista, homofóbica, sexista. Toda a agenda de segurança pública nega, essencialmente, o fato de que o Brasil é um país que pratica genocídio contra a população jovem, negra e masculina. Também agridem direitos políticos: como a liberdade de associação, agride as reivindicações associativas, agride ações coletivas do MTST, por exemplo. Ou seja, é uma tentativa de retornar a um passado anterior da Constituição de 88. É o freio e uma introdução de uma política de retrocesso. O governo é ultrarreacionário e tem voto, porque setores da sociedade brasileira que se ressentem com a expansão dos direitos civis e políticos pós Constituição de 88. O problema do governo é que ele não tem pauta econômica, o ultrarreacionaríssimo não tem pauta econômica, ele se circunscreve na tentativa de limitar os direitos civis e direitos políticos, que não é só uma questão moral. Porque muitas vezes as pessoas falavam que é agenda moral e aí o partido Novo, por exemplo, percebendo essa dificuldade pode ser extremamente liberal e conseguir atingir o eleitorado dizendo ‘somos liberais na economia e conservador nos costumes’, isso não é costume! É direito, é direito civil, direito político! E a ideia de direitos agride o ultrareacionarismo. O direito sempre tem a função de expansão da sociedade. A afirmação do direito significa, essencialmente, atribuição cidadania. E quanto mais expandida é a cidadania no Brasil, mais o tensionamento nos espaços de elite. O que acontece no Brasil hoje? Hoje os homens brancos, heterossexuais, de classe média morrem de medo de qualquer transformação para ele não perder o seu lugar de privilégio. É inegável que a forma machista da sociedade brasileira privilegia o homem branco heterossexual. O machismo privilegia todos os homens brancos, héteros sexuais. Isso é um fato. Você é beneficiado. A questão é se você tem a decência ética de considerar isso justo ou não e luta contra esses privilégios. Isso que diferencia os lados do jogo. Os ultrareacionários são contra isso. Esse é o elemento estrutural desse polo, já os ultraliberais querem a redução do Estado, mas a redução do Estado é totalmente antipática para a sociedade brasileira. Porque as pessoas sabem que é preciso ter escola pública, universidade pública… até porque, sem salário, sem emprego, ela sequer tem condição de pagar por esse serviço. Então esse é o nó do bolsonarismo: como ele não tem pauta econômica ele acaba pegando emprestada a pauta econômica dos seus aliados liberais. Mas ele tem aí um limite, uma vez que se ele absorver toda a agenda liberal, ele não vai conseguir vencer eleições.

    JL: Esse apelo que foi usado na eleição, é uma das formas que Bolsonaro encontrou para se sustentar e acaba usando uma espécie de “cruzada contra o esquerdismo”, que se configura no que você está analisando. Esse ataque ideológico pode ser entendido como uma agenda principal do governo?

    DC: O que acontece no Brasil, é que a luta contra os direitos civis e direitos políticos tem apelo eleitoral. Porque a sociedade brasileira é tradicionalmente conservadora. Você vai ver uma série de mulheres ou mesmo uma série de pessoas inclusive do movimento negro defendendo as falas do bolsonarismo. Os ultraliberais atacam os direitos sociais. Nisso entra a reforma da Previdência, o financiamento da educação pública, expansão de uma ação redistributivas do Estado. Ação distributiva vinha andando lentamente com Fernando Henrique Cardoso, quase como um consentimento autorizado das elites. Já no governo Lula começa o processo mais acelerado de distribuição a partir do bolsa família, mas essencialmente, pelo elemento estruturante que é a política de valorização do salário mínimo. O que foi estrutural, pensando em médio e longo prazo, é a política de expansão da universidade. E, se conseguirmos manter a política de democratização da universidade, a sociedade brasileira vai ser outra em vinte ou trinta anos. Por conta da própria dinâmica e extensão da Constituição de 88, de caracterizar o que é a comunidade política, o que é sufrágio universal do voto, o sufrágio dos analfabetos… a preocupação em colocar a educação como o primeiro direito social, listado no artigo sexto da Constituição, reconhecimento de diversos direitos sociais. É uma constituição que não reconhece como deveria, mas segue as teses do Anísio Teixeira, do Florestan Fernandes, Darcy Ribeiro e do Paulo Freire em termos da composição constitucional. É uma constituição que, no capítulo da educação, é especialmente dedicada a democratização da sociedade. A escola pública é tratada, na Constituição Federal… aí nesse caso tenho uma crítica a construção, que não é feita de forma direta como deveria ser tratada, mas de uma forma consistente ainda assim… como uma instituição tanto da República como a Democracia. É uma constituição democratizante, com efeito democratizador. E a sociedade brasileira vinha se democratizando efetivamente. Conseguimos a aprovação da Lei das cotas, caminhávamos para a democratização do ensino superior, conseguimos o Plano Nacional de Educação, o sistema atual do Fundeb, incluindo as creches. Teve uma expansão, e eu acho que essa foi a grande medida do governo Lula, das universidades públicas federais, não o ProUni ou o Fies. O ProUni e o Fies são pautas relevantes pelo sentido de urgência. Mas o fato é que o ReUni, que na minha opinião, foi a grande medida na história de vida do Haddad e ele dá pouco valor. O ProUni e o Fies têm mais apelo eleitoral, mas não apelo estratégico. Mas a expansão das Federais e dos Institutos Federais foi a grande questão estratégica da democratização da sociedade brasileira, por meio da educação. Faltou, em todo o período democrático, isso incluindo Lula e Dilma, a capacidade de apresentar um projeto de educação que ficasse além da expansão de ensino. Mesmo sendo essa expansão um processo revolucionário, em termo de democratização. Mas só expansão do ensino, sem o projeto educacional, resulta efetivamente numa capacidade democratizadora, limitada, com mais dificuldade de articulação, que tem encontrado dificuldade para implementar uma agenda democratizadora da sociedade. Com isso não é possível garantir o preceito liberal de igualdade de condições na realização da vida.

    JL: E como ficam esses ataques do Bolsonarismo e do Olavismo que identificam a universidade como um espaço de esquerda. O que é isso?

    DC: Isso é uma besteira enorme. Eu sou doutorando na USP, sou do conselho da Unifesp e já estou com mais de vinte e quatro anos de escolarização. Posso te dizer com toda clareza que a universidade está distante de ser um espaço da esquerda. O que acontece é que – e esse é um elemento que gera muito ressentimento do bolsonarismo e de todos os movimentos ultrareacionários – os intelectuais de esquerda por uma contingência da luta social, como eles remendam contra a corrente, eles têm que ter uma melhor formação. Eu me ressinto de não ter, na área de educação, por exemplo, pessoas de direita que tenham uma boa formação e que tragam boas ideias para o debate. O fato do Olavo de Carvalho ser o maior expoente deles, porque teve mais leitura – até estou fazendo um reconhecimento ao fato de que o Olavo de Carvalho é uma pessoa que lê mais, muito mais. Ele é uma exceção, dentro do campo ultrarreacionário. Mas é sempre bom lembrar: a esquerda e centro-esquerda procuram ou humanizar o sistema capitalista ou elas procuram superar o sistema capitalista. Só que o sistema capitalista é a estrutura Econômica, ele é muito maior. Então você tem que ter melhor formação para poder responder a este desafio programático: de como superar ou humanizar algo que é que se impõe e que é um sistema reprodutor de desigualdades. E é um sistema que tem muita legitimação social porque conta com enormes canais de propaganda.

    JL: Os últimos ataques e cortes, anunciados nas últimas semanas, contra a educação pública, desde o fundamental até programas de pós-doutorado, anunciado pelo ministro da Educação, a criação da CPI das três estaduais (USP, Unicamp e Unesp) na Assembleia Legislativa de SP e o ataque do Bolsonaro nominando as Ciências Humanas, Filosofia e Sociologia em especial, parecem ter sido a manifestação prática desse discurso de demonização das Humanidades e, agora, de toda a ciência. Como isso se articula no governo Bolsonaro e aliados, como, por exemplo, Doria?

    DC: Os ultraliberais querem reduzir o custo da educação pública. E parte do curso de educação pública, que não é a maior: a cada um real investido em educação no Brasil, pelos esforços da União, dos Estados e dos Municípios 82 centavos vão para Educação Básica e 18 ensino superior. O hoje, inclusive, o governo federal tranfere muita mais do que trabsferia no passado, graças ao Fundeb atual. Fundeb que foi fruto de luta da sociedade civil, não era pauta nem do governo Lula fazer essa transferência toda. Isso é pra dessacralizar o governo Lula, no que trata da educação, mas naquele momento existia uma interlocução positiva em favor da área. Mas tinha luta e disputa. Várias vezes ganhamos do ministério da educação ou da fazenda. Mas havia espaço para uma interação positiva. O governo [Lula] não era contra a pauta da educação como é esse governo e como foi o anterior [Temer]. Ele era favorável, mas tinha outros constrangimentos econômicos, com outras áreas… ele não podia só beneficiar a educação…, mas a gente fazia a luta. Mas voltado aos cortes. A educação não é uma agenda positiva para o Bolsonaro, em si. O direito à educação não é uma agenda positiva para esse governo. O que ele aproveita da educação, o que traz ganhos para ele, é a idea de que a educação é uma ferramenta de propaganda ultrarreacionária. Isso é: O Escola Sem Partido, a defesa da educação domiciliar, a desqualificação da escola como espaço de cidadania. A educação, para o bolsonarismo, serve como uma política de controle, por isso ele defende a militarização de escolas. A educação é a expressão da agenda ultrarreacionária, em termos de valores. Ela serve para exprimir agenda ultrarreacionária pelos valores, disseminar e implementar esses valores. Mas, para fazer isso, ele tem que escolher os adversários, que são: a pedagogia, que é o oposto do que ele considera prioritário, como a disciplina autoritária. O outro adversário: a escola, que ele considera um espaço de desvirtuamento. Quando você coloca o teu filho na escola eles dizem que ele “vai sofrer uma doutrinação marxista e uma doutrinação de ordem sexual, desconstruindo as identidades de gênero”. E as universidades também são inimigas, uma vez que elas também são irradiadoras de valores. Elas têm o potencial de formação dos professores. O problema é que ele fazendo todo esse enfrentamento, ele ajuda muito a necessidade de corte dos ultraliberais. Porque, se as escolas e as universidades são espaços tão ruins e a prática pedagógica é algo tão condenável, então para que tem essa política? Então vamos cortar! Aí saem com uma proposta, absurda, de corte linear de 30% nas universidades. O que é inconstitucional, uma vez que são despesas obrigatórias. Não podem cortar 30% sem uma ampla justificativa porque isso vai significar a necessidade de demissão de pessoas, que têm estabilidade. É nessa hora que os ultraliberais encontram nos ultrarreacionários uma justificativa social para os cortes que querem implementar.

    JL: Desse encontro é possível, como já voltaram a circular comentários, que se tenha as cobranças de mensalidades? Uma secretaria de Doria já mencionou, é um tema que vai e volta em discussões. Isso pode virar realidade?

    DC: A cobrança de mensalidade vai ter muita resistência, por parte de quem é responsável, no debate universitário. hoje o aluno cotista já sofre um enorme problema, sendo considerado um aluno de segundo grau. Isso sem contar todas as dificuldades de permanência. Mas tem outro aspecto, que é tão perverso… se começarem a cobrar mensalidade, com nossa cultura política, que é uma cultura política pautada na Casa Grande e Senzala, os alunos pagadores vão se considerar com mais direitos ou os únicos com direito àquele espaço. Agora que se começou a democratizar o ambiente O Brasil não pode criar, dentro do ambiente universitário, mais um fator de segregação.

    JL: Com relação a votação do Supremo Tribunal Federal que tratava da cobrança de mensalidade, como vê o resultado que limitou a cobrança para cursos de extensão?

    DC: O sinal que o STF deu é ruim. Ele tá dizendo que a universidade pode cobrar. Que a universidade pública e gratuita pode cobrar por alguns cursos. A questão é que dentro do ambiente universitário, existia muita pressão em favor disso, porque os orçamentos das universidades já eram baixos. Essa virou uma estratégia de captação de recursos. Não é grave, mas traz um princípio ruim.

    JL: E quais são as possibilidades e estratégias possíveis para resguardar a educação?

    DC: Todo o estado brasileiro e os ditames constitucionais estão tensionados. Temos que fazer da constituição um freio e, ao mesmo tempo, um ponto de partida para retoma dos processos democratizantes da sociedade, que agora estão em questão. É sempre bom lembrar, isso começa, em termo de hegemonia política, com o impeachment da Dilma e ascensão do Temer. O Temer é a introdução disso tudo. Ele ataca o Ensino Médio que é, exatamente, a política educacional que cabe sob o teto dos gastos públicos, da emenda constitucional 95. É uma política educacional de baixo custo. A educação profissional se assemelha muito mais com cursinho de educação profissional do que ao sistema de educação profissional como os que temos nos Institutos Federais ou no Centro Paula Souza, em são Paulo. A política do Temer para o Ensino Médio foi um acerto educacional para o arranjo constitucional que ele construiu: o Teto dos Gatos Públicos e a reforma trabalhista. Funciona assim: o profissional que se formar pela reforma do ensino médio vai ser um profissional que tem uma pior qualidade de educação. Ele vai ser mais dócil ao mercado de trabalho desregulamentado. E pra quem vem da periferia, ainda hoje, encontra nas escolas técnicas uma facilidade de ingresso nas universidades. É um início de uma inserção qualificada ao ambiente escolar.

    JL: Parece contraditório piorar, inclusive os institutos de formação técnica, como os Institutos Federais ou o Centro Paula Souza, com o intuito de formar trabalhadores que recebam, nas palavras do próprio presidente, retorno imediato. Esses cursos profissionalizantes não deveriam se tornar prioridade?

    DC: Isso se dá por conta da natureza dos nossos ultraliberais. O ultraliberal brasileiro é um liberal sem substância. Ele não quer toda a agenda liberal, ele só quer a redução do Estado, porque essa redução busca conter a democratização da sociedade. É o encontro, de novo, do ultraliberal, com o ultrarreacionário. O Jessé Souza, com muita propriedade, falou que o Bolsonaro agride as universidades e a educação, junto com o Abraham Weintraub, por serem os dois, pessoas que não tiveram a capacidade de se integrar ao ambiente da educação formal. Eles são ressentidos porque não tiveram capacidade de pertencer nesses espaços.

    JL: Esse ressentimento pode ser uma janela a ser explorada?

    DC: O primeiro ponto para atacar o bolsonarismo, enquanto projeto político, é mudar a nossa forma de agir. Entrar nas polêmicas, de maneira franca e aberta e com as mesmas estratégias de lacração do Bolsonaro só tem ajudado o próprio Bolsonaro, gerando mais fluxo e alcance para as loucuras dele. É uma questão de modus operandi da esquerda. Tem uma questão concreta: precisamos ter, novamente, um projeto articulador. E acredito que o ponto de partida é a própria constituição, que tem que ser utilizada como instrumento para impor freios aos arroubos autoritários e ultraliberalizantes, no sentido estrito de diminuição do Estado e de direitos civis. Infelizmente não temos os liberais defendo os direitos civis, como poderiam fazer. E precisamos, de maneira muito clara, ter a capacidade, no caso da educação, de retomar os debatas sobre a implementação do plano nacional de educação. A pergunta que fica é: o plano nacional de educação, que completa agora cinco anos de descumprimento, vai ser cumprido? Provavelmente ele não vai ser realizado no conjunto de suas metas e estratégias, mas abandonar o plano como ferramenta política significa abandonar algo que foi fortemente construído pela sociedade e que precisa ter sentido político. E ele baliza o processo de democratização ao acesso para a escola e universidade e, fundamentalmente, a qualidade da educação básica.

    JL: É possível utilizar a educação, como ferramenta ideológica e retórica da forma como eles utilizam?

    DC: O bolsonarismo conseguiu descobrir qual é o papel da educação para ele. Submetendo a educação a uma propagando ultrareacionária e a disseminação de valores ultrarreacionários, ele pode tirar algo dela. Propaganda nunca é só divulgação. É também uma divulgação massificada que determina um conjunto de valores. O bolsonarismo tem sido muito hábil nesse sentido. E o campo da educação tem sido pouco articulado em torno do direito à educação. Hoje, os movimentos, institutos e fundações empresariais têm como pergunta, não “como defender a educação?”, mas sim como conseguir convencer o bolsonarismo a implementar a agenda deles. E não vai implementar. A agenda dos movimentos empresariais, na área de educação, não é de redução estrita da ação do Estado, é de se apropriar do orçamento da educação. Só que esse orçamento está sendo reduzido.

    JL: As Organizações Sociais podem crescer muito nesse período? Elas se articulam nesse sentido de absorver e gerenciar os espaços públicos.

    DC: Sim. A ideia de, por exemplo, creches conveniadas, universidades conveniadas, etc…

    JL: Isso afeta a própria autonomia de cátedra?

    DC: Exato. A ideia de dar a gestão de equipamentos públicos para o setor privado é uma ideia que está viva. Só que ela é uma ideia que está viva dentro de um contexto em que, cada vez mais, o bolsonarismo reduz recursos. Quem visa lucro não vai querer assumir uma universidade, uma escola, uma vez que o valor por aluno/ano é muito baixo. Mesmo das universidades. O problema é que movimentos, fundações e institutos empresariais são tão sedentos por influenciar que perdem o sentido lógico. O sentido prático de que a política de educação, no geral, está sendo submetida a uma estratégia de propaganda. A pauta orientadora tem que ser a – pauta do Direito à educação. Expansão da qualidade, expansão do acesso. Em um primeiro momento isso é um freio ao açodamento bolsonarista de se apropriar da área para fazer dela um instrumento de propaganda. Em um primeiro momento vai ser um freio. Em um segundo momento ela tem quer ser o próprio programa articulador.

    JL: Nessa defesa um personagem de destaque é o professor, tanto como alvo de ataques quanto no protagonismo do dia a dia da educação?

    DC: Os professores são inimigos por não existir nenhuma outra categoria como eles. São alguns fatores, na minha opinião, dois deles são peculiares da educação e um terceiro fator político real. Para quem é educador, para todos nós que somos educadores, resistir é cotidiano, não palavra de ordem. Você vai ver um monte de gente reivindicando a questão da resistência, mas a resistência para o professor acontece no dia a dia, quando ele acorda na segunda-feira, no início da semana, vai para uma escola precarizada sem nenhuma condição de trabalho, sala de aula super lotada, salário ruim e assim faz o seu trabalho. A resistência é um meio de vida, faz parte da ética profissional. É claro que outras profissões públicas vivem a mesma situação, mas não de maneira tão radical quanto os professores, que são as maiores vítimas de problemas de doenças de saúde mental, problemas psiquiátricos e isso é evidente em todas as pesquisas. Essa é a primeira questão. Os professores são atacados porque eles sabem resistir, eles têm toda uma vida de resistência. O segundo ponto é a própria pedagogia brasileira, que por mérito de todo um projeto educacional, que é mundial, mas que tem muita força no Brasil a partir do manifesto dos Pioneiros da Educação Nova e, posteriormente, nas figuras do Florestam [Fernandes, sociólogo brasileiro] e do Paulo Freire (o Florestam é um ponto de encontro entre o Paulo Freire e Escola Nova). A partir disso são criadas propostas mais avançadas, especialmente pelo Paulo Freire. Nesse projeto tem uma contribuição brasileira para a pedagogia mundial que a ideia de que a própria educação é um instrumento essencialmente democratizador da sociedade. A educação é libertadora, é emancipadora e democratizadora. E esse projeto está nos professores e eles acabam passando isso na sala. O terceiro ponto é que, como categoria política, os professores são a categoria que mais consegue se mobilizar contra os ataques do bolsonarismo, até porque tiveram uma formação melhor. Não que todos os professores sejam progressistas, defendam a democracia ou sejam contra a privatização, mas as lideranças do professorado e boa parte da base comungam desses valores e tem capacidade de mobilização. Eles têm a capacidade de fazer a leitura do processo. Por exemplo, eu convivi com professores que defendiam, lá no começo, o Escola Sem Partido. Eles estavam muito desgastados como petismo, com as baixas condições de trabalho e colocavam a culpa disso no governo federal, mas reencontrei eles e, hoje, são contra o projeto e contra o bolsonarismo. Existe um quarto fator, para esses ataques. Os professores são a principal cadeia de transmissão do Estado com a sociedade e com o futuro da sociedade. E na relação professor/aluno existe uma potência democratizadora. Quando o Escola Sem Partido, que utiliza a mesma estratégia do Alternativa Para Amanhã que é um partido nazista alemão atual, ou do Vox, da Espanha. Essa estratégia de gravar os professores, constranger, vai estimulando a quebra de relação entre o professor e o aluno. E esse potencial democratizador, que existe no exercício cotidiano da profissão docente vai sendo corroída.

    JL: Os estudantes, que também estão nessa ponta da relação, tem sido uma das categorias mais mobilizadas nos últimos anos, principalmente os secundaristas com as ocupações. O que podemos esperar deles?

    DC: Esse é um ponto importantíssimo. O que representou a ocupação das escolas? Uma reivindicação dos estudantes pelas teses da Escola Nova, do Anísio Teixeira, dos Pioneiros da Educação e do Paulo Freire, sem saber que pediam e defendiam essas teses. Eles queriam uma outra pedagogia, para uma outra escola, para uma outra formação e queriam o fortalecimento dos professores. Eles não tratavam o professore como inimigo. Pelo contrário, o professor era um aliado. O professor podia estar implementando uma política pedagógica ruim e, em muitos casos havia críticas aos professores, mas os estudantes viam uma possibilidade do professor mudar, se tivesse mais condições de trabalho como também viam a disposição dos professores em colaborar com os estudantes. Essa união é muito potente, pode mudar um país. E acho que um bom caminho seria o Brasil retomar e reler o que foi escrito no manifesto dos Pioneiros da educação, pelo próprio Anísio Teixeira, Florestan Fernades, Darcy Ribeiro e o Paulo Freire.

    JL: E como potencializar os estudantes secundaristas ou universitários?

    DC: Eu acho que eles já são potentes. O que é a potência? Ela tem duas características: ela é um devir, enquanto possibilidade de se realizar, ou ela já é um fato. A potência dos alunos está escondida, mascarada, pelo contexto político. É preciso colocar essa potência em movimento. E isso pode ser feito de diversas formas. Por meio de intervenções em escolas, trabalhos em escolas. Por meio da utilização da cultura, como um projeto pedagógico. Eu era estudante, na periferia de São Paulo, durante a prefeitura da Luiza Erundina e teve um projeto chamado RAPensando a educação que levava o RAP para a escola. Se discutia a educação a partir do cotidiano dos estudantes, que era o próprio RAP. Não existe nada mais freiriano do que isso. O cotidiano dos educandos que por meio de uma manifestação cultural, gerava uma conscientização e isso era utilizado pela própria escola. Isso era algo emergente que a escola fazia. Essa é uma questão que precisa ser retomada. O Bolsonaro tem dois ataques sistemáticos: a educação e a cultura. Mais do que muitos militantes de esquerda e de centro-esquerda, o Bolsonaro tem consciência de que se essas duas Políticas se encontram, ele não consegue sobreviver. Esse encontro gera conscientização, gera mobilização e mudança da hegemonia política. A potência dos estudantes não vai ser materializada pelos instrumentos tradicionais. Seria preciso ser mais ‘Ocupacionista’, usando essa experiencia das ocupações das escolas. Fazer um novo debate nas escolas, mobilizar as escolas para aquilo que importa aos estudantes. Perguntado para os estudantes. E como temos uma concorrência difícil, contra as redes sociais, a cultura é um dos melhores instrumentos pedagógicos.

  • O maior ataque à Universidade Pública Brasileira

    O maior ataque à Universidade Pública Brasileira

    Depois de começo de ano conturbado com o ex-ministro Ricardo Vélez à frente do MEC (Ministério da Educação), a chegada do novo ministro, Abraham Weintraub, traz novas polêmicas e ataques contra a educação pública.
    Na sexta-feira passada, 26/04, o presidente Bolsonaro se pronunciou contra o ensino de matérias de Humanas em universidades federais e prometeu cortes na área, prometendo focar em cursos que “dão retorno imediato”, como medicina, veterinária e afins. Ontem, o ministro Weintraub assinou decreto que corta 30% de verbas para universidades federais. Até agora as Unb, UFF e UFBA foram identificadas como as primeiras universidades afetadas pelos cortes. Para a Unb o corte significa um corte de R$ 38 milhões.

    A justificativa do ministro, dada ao Estado de S. Paulo, para o decreto é o ambiente universitário: “A universidade deve estar com sobra de dinheiro para fazer bagunça e evento ridículo”. O ministro também vinculou o corte a supostas baixas posições em rankings, sem especificar em que rankings, em algo que ele caracteriza como um desempenho “aquém do esperado”. Uma terceira justificativa é o contigenciamento pedido pelo Ministério da Fazenda de, pelo menos, R$ 4 bilhões por parte do MEC. No levantamento feito pela THE (Times Higher Education), ranking britânico que avalia universidades em todos os continentes, em 2018, as três universidades ocupam as respectivas posições entre as melhores do país: Unb – 8º; UFBA – 10º e UFF – 29º. As três apresentaram melhoras, segundo o ranking, do ano passado para este.

    O PSOL emitiu nota dizendo que entrará com uma representação na PGR (Procuradoria Geral da União) contra o ministro da educação por improbidade administrativa, em ação assinada pelo presidente do partido, Juliano Medeiros. Na mesma nota, o partido descreve o decreto como uma “clara perseguição política” e justifica que a improbidade no ato seria “patrocinar o descontrole dos gastos, ferir a autonomia das universidades, afetar o sistema e percentuais obrigatórios de financiamento da educação, demonstrar profundo descaso com a coisa pública, com normas de finanças públicas e com a responsabilidade fiscal”. Em outra nota, o partido diz que, por meio de sua bancada na Câmara, apresentará um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) para revogar os cortes em universidades públicas.

    Alessandro Molon, do PSB, entrará com uma representação no STF contra a determinação de Weintraub.

    A Unb se pronunciou dizendo: “Importante ressaltar que a UnB é uma das universidades com reconhecida excelência acadêmica no país, atestada em rankings nacionais e internacionais. Temos nota 5, a máxima, no Índice Geral de Cursos (IGC) do MEC, a avaliação oficial da pasta para os cursos de graduação. Também somos a 8ª melhor universidade brasileira, segundo avaliação do Times Higher Education (THE), uma organização britânica que acompanha o desempenho de instituições de ensino superior em todo o mundo. Há dois anos, ocupávamos a 11ª posição.”

  • Entidades denunciam perseguição política em demissão de docente de universidade federal

    Entidades denunciam perseguição política em demissão de docente de universidade federal

    O professor Luciano Martorano, tradutor do alemão para o português de importantes obras de esquerda como “A Ideologia Alemã” e “O Manifesto Comunista”, já não faz mais parte do corpo docente da Universidade Federal de Alfenas, em Minas Gerais. A decisão da reitoria para sua exoneração baseia-se na justificativa de que haveria “Desídia no Desempenho das Respectivas Funções”. O conceito refere-se, segundo o Portal Nacional de Direito do Trabalho, à “prática habitual de atos que infringem o bom andamento das tarefas a serem executadas, tais como a impontualidade, faltas ao serviço, imperfeições na execução do trabalho, abandono do local de trabalho durante a sua jornada, etc. (TRT10ª R. – RO 4.147/97 – 1ª T. – Relª Juíza Terezinha Célia Kneipp Oliveira – DJU 24.04.1998)” e pode ser utilizado como justa causa para a demissão de funcionários. No entanto, pelo menos duas entidades já emitiram notas de repúdio à exoneração do docente, afirmando que ele não teve nenhuma penalidade anterior à exoneração, nem amplo direito de defesa. As entidades reputam a decisão ao atual momento de golpe político que se expressa também pela perseguição política e pelos ataques aos serviços e servidores públicos, em especial nas universidades.

    Veja abaixo a íntegra das duas notas:

    NOTA DA DIRETORIA DO ANDES-SN EM SOLIDARIEDADE AO
    PROFESSOR LUCIANO CAVINI MARTORANO
    O professor Luciano Cavini Martorano, da Universidade Federal de
    Alfenas-MG, foi demitido de forma arbitrária pela reitoria daquela instituição, no dia 5 de julho de 2018, sem que antes tivesse recebido nenhum outro tipo de penalidade e após um processo no qual não lhe foi assegurada ampla defesa. A demissão é a penalidade máxima para um servidor público e só deve ser admitida em caso de falta grave.
    Tal fato evidencia mais um ataque à categoria docente numa conjuntura
    de investidas contra serviços e o(a)s servidore(a)s público(a)s. Vivemos em uma conjuntura que o projeto privatista em curso tenta desmoralizar o(a)s servidore(a)s público(a)s como forma de sucatear e desmontar os serviços públicos.
    Tal ação também evidencia a face recrudescida do conservadorismo, via
    perseguição política, impetrada no interior de nossas instituições de ensino.
    O ANDES-SN solidariza-se com o professor e juntamente com ADUNIFAL – Seção Sindical lutará, política e juridicamente, pela anulação da demissão.
    Brasília, 19 de Julho de 2018.
    Diretoria do ANDES-Sindicato Nacional

    Capa de um dos livros traduzidos diretamente do original em alemão pelo professor e lançado pela editora da Universidade Federal de Alfenas

    Nota de repúdio à exoneração de Luciano Martorano pela Unifal-MG

    A Adunesp – SS Marília – vem a público manifestar seu mais veemente repúdio à exoneração do colega cientista político Luciano Martorano por parte da reitoria da Universidade Federal de Alfenas-MG. Acadêmico conceituado, tradutor, do alemão para o português, de obras de Karl Marx e Friedrich Engels como “A Ideologia Alemã” e “O Manifesto Comunista”, autor e organizador de livros importantes em sua área de atuação, é público e reconhecido por colegas e alunos o compromisso de Martorano com o ensino, a pesquisa e as demandas em geral de uma universidade pública de qualidade. Tal reconhecimento público torna ainda mais grave este gesto arbitrário da reitoria da Unifal-MG, acusando o professor de incorrer em “desídia” e exonerando-o sem que sequer tivesse qualquer punição anterior. Trata-se, claramente, de mais um ato de perseguição e represália política aos docentes de notório perfil progressista dentro do sistema universitário brasileiro, prática que, se já não era nova, se intensificou após o golpe de Estado de agosto de 2016. A Adunesp-Marília denuncia este ato repressivo e persecutório contra o colega Luciano Martorano e se coloca à disposição para somar esforços pela sua reversão, bem como contra quaisquer outras práticas antidemocráticas e autoritárias na universidade pública brasileira.

    Marília, julho de 2018

    Adunesp-SS Marília

    Capa de uma das principais obras da esquerda mundial traduzida a seis mãos por Martorano, Rubens Enderle e Nélio Schneider
  • Alunos da UFMT conquistam primeiras vitórias na luta contra aumento no Restaurante Universitário

    Alunos da UFMT conquistam primeiras vitórias na luta contra aumento no Restaurante Universitário

    Texto e fotos por: Tylcéia Tyza e Vitória Gomes, especial para os Jornalistas Livres

    Devido aos recentes cortes nos repasses do governo para as universidades federais, muitas instituições estão buscando cortar custos. Na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus Cuiabá, a proposta da atual reitora Myrian Serra era aumentar os valores pagos pelos alunos no Restaurante Universitário (RU). O movimento estudantil se organizou em protestos que duraram toda a última semana de abril e acabam de conquistar uma primeira vitória: o reajuste programado para maio está adiado. Mas a luta deve continuar até a revogação total da proposta.

    O DCE ocupou o prédio da reitoria do principal campus da UFMT

    A reitoria afirma que o objetivo da mudança é reduzir os gastos com a alimentação, que no ano passado chegou a R$ 15 milhões, sendo R$ 3 milhões acima das despesas. Atualmente os alunos pagam R$ 0,25 pelo café da manhã e R$ 1,00 para almoço e janta. Com a aprovação da nova política os valores passariam a ser R$ 2,50 pelo café da manhã e R$ 5,00 para almoço e janta. A reitoria alega também que os alunos que não possuem renda suficiente (1,5 salário mínimo) e que atualmente são auxiliados pela Pró-reitoria de assistência estudantil (PRAE), deixarão de receber essa renda, tornando-se isentos de qualquer custo no Restaurante Universitário. Entretanto, os alunos assistidos alegam que o valor recebido da PRAE não só custeia o valor do RU, como também custeia suas refeições dias de domingo e feriados, quando o Restaurante Universitário não funciona.

    Estudantes de Várzea Grande ocuparam o Bloco Didático II no Campus Cuiabá

    Ao saberem desse ajuste os estudantes logo começaram a se organizar para impedir que a proposta fosse estabelecida definitivamente. Na terça-feira (24/04), um dia após a audiência pública para tratar da nova política de Alimentação Estudantil, os alunos do Campus de Cuiabá bloquearam a principal entrada que dá acesso à Universidade (Guarita I) em forma de protesto, já que na audiência da data anterior os administradores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) mantiveram a proposta do reajuste nos preços.

    Outros Campi da UFMT que também sofrerão com o reajuste no valor do Restaurante Universitário abraçaram a causa e se posicionaram contra a nova política de alimentação. Os campi da UFMT de Rondonópolis e Barra do Garças (Araguaia) iniciaram o movimento de ocupação dos espaços da Universidade Federal na sexta-feira (20), e em Sinop, além da ocupação, foi decretada greve estudantil.

    O Reitor em exercício, Evandro Silva, redigiu na sexta (27/04) um compromisso de suspensão do aumento

    No fim da manhã de sexta-feira (27/04) os alunos de Cuiabá conseguiram que o vice-reitor, naquele momento atuando como reitor em exercício, redigisse em uma folha de papel um pequeno texto suspendendo “a implantação da nova política de alimentação da UFMT, para o mês de maio de 2018, em atendimento à reivindicação dos estudantes”. Contudo, na conversa com os alunos, ele afirmou que a implantação da proposta seria retomada em junho.

    O reajuste deixaria os alunos da Universidade Federal em incerteza e medo, tendo em vista que o RU não é apenas uma fonte alimentícia, mas faz parte de uma política maior de garantia da permanência dos alunos na Universidade. Assim, os estudantes da UFMT pretendem continuar mobilizados para ter acesso às planilhas totais de gastos de modo a colaborar para encontrar outras fontes de despesas que não atinjam o direito à universidade pública gratuita. A suspenção temporária do aumento foi uma vitória, mas o objetivo maior é sua revogação total e o fortalecimento das políticas de inserção, inclusão e permanência de estudantes das mais diversas origens.

    Veja mais em:

    http://www.adufmat.org.br/2015/index.php/comunicacao/noticias/item/3014-estudantes-vencem-a-primeira-batalha-mas-a-luta-contra-o-aumento-do-ru-continua

    http://www.adufmat.org.br/2015/index.php/comunicacao/noticias/item/3004-estudantes-tecnicos-e-docentes-da-ufmt-se-colocam-contrarios-as-alteracoes-na-politica-de-alimentacao-propostas-pela-reitoria

    http://www.adufmat.org.br/2015/index.php/comunicacao/noticias/item/3010-nota-de-apoio-a-luta-dos-estudantes-pela-manutencao-do-restaurante-universitario-universal-a-r-1-00