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  • Redução da Maioridade Penal: mitos e verdades da polêmica que está sendo votada novamente

    Redução da Maioridade Penal: mitos e verdades da polêmica que está sendo votada novamente

    Por Luna Costa para os Jornalistas Livres

    O projeto da redução da maioridade penal de 18 para 16 anos- (PEC) 33/12 – voltou à pauta no Senado em setembro desse ano e está para ser votado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado em primeiro novembro. Em 2015, o projeto foi votado na Câmara dos Deputados, proposto ex-deputado federal Eduardo Cunha. Na época, jovens de todo o país fizeram pressão dentro e fora da Câmara no movimento chamado Amanhecer Contra  Redução. O projeto foi barrado em segundo turno no plenário, mas Cunha fez uma manobra para ter uma outra votação e o projeto passou.

    Novamente, a juventude do Amanhecer está mobilizada e conseguiu adiar a votação na CCJ do Senado duas vezes.  É necessária maioria simples para que o projeto seja aprovado na Comissão e, em seguida, seja submetido à votação em dois turnos pelo Plenário. Atualmente, tem 19 votos contrários, 13 favoráveis e 20 indecisos ao projeto, mas o placar pode mudar a qualquer momento.

    A atual crise de Segurança Pública no Brasil, a sensação de medo fomentada pela grande mídia, a fragilidade nas garantias de direitos na Constituição e as frequentes violações pelo Estado reforçam o senso comum e suscitam discursos rasos baseados em vingança, punitivismo e justiçamento.  Por isso, separamos argumentos que são levantados quando se fala em maioridade penal e mostramos se é mito ou verdade.

     

    MITOS X VERDADE

    Os jovens estão cada vez cometendo mais atos infracionais. MITO!

    Sim, a taxa de homicídio entre jovens é enorme. Mas eles não são os que mais matam, eles são os que mais morrem. Segundo o Mapa da Violência publicado em 2014, a cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil. Um jovem negro tem 4 vezes mais chance de ser assassinado do que um branco.

    Em contrapartida, menos de 1% de todos os crimes e 0,5% dos homicídios no Brasil são cometidos por adolescentes, segundo os dados do Ministério da Justiça em 2011.

    Os adolescentes em conflito com a lei ficarão impunes? MITO!

    O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), criado em julho de 1990, já responsabiliza os jovens em conflito com a lei. Ao cometerem crimes de grave ameaça ou violência, os adolescentes de 12 a 18 anos podem ficar de seis meses à três anos internados em unidades socioeducativas.

    Além disso, hoje, no Senado, já estão tramitando dois projetos de lei que aumentam até 10 anos a internação de adolescentes. Isso também é uma forma encarcerar cada vez mais cedo a nossa juventude. A privação da liberdade

    A questão então não é impunidade. É o fracasso do sistema socioeducativo, que não cumpre seu papel e não garante com qualidade outras medidas socioeducativas, como as em meio aberto, que consiste em liberdade assistida e prestação de serviço comunitário.

    Aumentar o número de prisões diminui o índice de violência. MITO!

    O Brasil já prende muita gente: somos a quarta maior população carcerária do planeta, com cerca de 622 mil presos – dos quais 61% são negros, segundo o Depen. Destes, 221 mil são presos provisórios, ou seja, 40% aguardam julgamento privados de liberdade. O sistema ainda está com 161% de sua capacidade ocupada. Apesar de aumentar o número de prisões, os índices e sensação de violência não diminuiu.

    O que acontece na realidade é que prisões são lugares de tortura e barbárie chancelados pelo Estado. Violência, estrutura insalubre e precarizada que gera epidemias, superlotação, comidas estragadas, violações de direitos. O sistema carcerário tira a condição de sujeito e desumaniza quem está atrás dos muros da amnésia.

    Reduzir a maioridade é uma tendência mundial. MITO!

    Nenhum dos países que reduziram a maioridade penal reduziu os índices de violência. O Estados Unidos é um exemplo dos que reduziu, mas que discute voltar atrás, já que a medida gerou maiores taxas de reincidência entre esses jovens. A Espanha também reduziu a maioridade penal dos 18 para os 16 anos atrás, e, após novos debates e números desfavoráveis, subiram novamente para 18 anos em 1995.

    Na Escócia, até 2010, a idade mínima com que alguém podia ser levado para a cadeia era 8 anos. Hoje a maioridade penal lá é de 12 anos. De 2013 para 2014, o país registrou seu nível mais baixo de criminalidade dos últimos 40 anos e os crimes violentos diminuíram de 10%.

    Na contramão da redução da maioridade penal estão a Holanda e Suécia que, recentemente, fecharam presídios pelo seu esvaziamento. A primeira é conhecida por sua importante política de liberação das drogas, e a segunda, por sua qualidade de vida e distribuição de renda.

    Medidas socioeducativas em meio aberto são mais eficazes que a internação. VERDADE!

    Prender uma pessoa com a justificativa de solucionar uma questão não faz sentido porque já vimos que cadeias são lugares de tortura. Ao contrário, um jovem socializa quando investem na sua educação, nos seus vínculos entre a família e a comunidade.

    As medidas socioeducativas em meio aberto – a liberdade assistida e a prestação de serviço comunitário – são uma forma de garantir esses direitos ao adolescente, com profissionais adequados, como psicólogos e assistentes sociais. E, sobretudo, dentro do seu próprio bairro, com  seus vizinhos, amigos e a sua escola.

    Essas medidas são de responsabilidade também da Prefeitura de cada cidade e da Secretaria Municipal de Assistência Social. É preciso que o Município cobre aos responsáveis para que tenha condições de trabalho dignas e qualificação humanizada dos profissionais, um judiciário e uma sociedade que entendam o contexto, as necessidades e o impacto das medidas na vida do adolescente.

    A redução fere o Estatuto da Criança e do Adolescente. VERDADE!

    Em 1990, com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, foi previsto à eles todos os direitos humanos fundamentais, como à educação e à dignidade. Logo, a redução da Maioridade Penal fere uma série de direitos, como: o Direito à vida e à saúde, Direito à liberdade, ao respeito e à dignidade, Direito à convivência familiar e comunitária; Direito à educação, cultura, esporte e lazer; e o Direito à profissionalização e à proteção no trabalho.

    É urgente a garantia do acesso à educação, ao esporte e à cultura e o investimento em políticas públicas voltadas para a juventude. Estamos falando de jovens pobres, negros e periféricos, aos quais são negados esses direitos básicos desde criança. Redução não é solução.

    Resgatando a campanha Amanhecer Contra a Redução

    Em 2015, o projeto de redução da maioridade penal foi discutido na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Jovens de todo o país se mobilizaram em uma campanha Amanhecer Contra a Redução. Tiveram grandes ações em todo o Brasil: praças amanheceram pipas, faixas e cartazes; festival Amanhecer Contra a Redução na Praça XV, com um dia inteiro de shows, oficinas e intervenções; e caravanas de jovens de todos os estados que foram à Brasília acampar em frente ao Congresso e pressionar os deputados.

    Nesse ano, a juventude o Amanhecer está mobilizada e conseguiu adiar a votação na CCJ do Senado duas vezes.  Atualmente, tem 19 votos contrários, 13 favoráveis e 20 indecisos ao projeto, mas o placar pode mudar a qualquer momento. A estratégia agora é pressionar os indecisos, mandando mensagem para a rede social de um Senador por dia. Entenda e participe: https://www.reducaonaoesolucao.com.br/

    A juventude negra e pobre quer e vai viver!

  • As 18 Razões CONTRA a redução da maioridade penal

    As 18 Razões CONTRA a redução da maioridade penal

    A redução da maioridade penal não é nem de longe a melhor alternativa para lidar com o problema da criminalidade na adolescência. Em lugar de encarcerar, o melhor é trabalhar o potencial de cada jovem por meio de arte, cultura e educação. Encaminhar adolescentes de 16 e 17 anos para o sistema penitenciário não ataca os reais problemas da violência brasileira, além de aumentar a criminalização dos/as jovens, em especial negros/as, pobres e moradores/as de periferias.

    A cadeia como um local de reintegração social é um conceito historicamente recente, adotado pelos países entre o final do século 19 e o início do século 20. O Estado assume a custódia do criminoso e não está lá para aplicar uma vingança pessoal: independentemente da gravidade ou dos horrores dos crimes cometidos por alguém, a punição ao encarcerado deve respeitar as leis e a dignidade humana.

    Apesar de a Constituição brasileira estabelecer o respeito à integridade física e moral dos detentos, não é essa a realidade observada nas mais de 1,4 mil unidades prisionais do país. Apesar da negação de direitos básicos aos detentos não causar comoção popular, os problemas do sistema prisional geram consequências também para as pessoas que estão fora das celas. “A superlotação carcerária e a organização de facções dentro dos presídios apenas potencializam o aumento dos crimes”, afirma Rodrigo Azevedo.

    1° Porque já responsabilizamos adolescentes em ato infracional

    A partir dos 12 anos, qualquer adolescente é responsabilizado pelo ato cometido contra a lei. Essa responsabilização, executada por meio de medidas socioeducativas previstas no ECA, têm o objetivo de ajudá-lo a  recomeçar e a prepará-lo para uma vida adulta de acordo com o socialmente estabelecido. É parte do seu processo de aprendizagem que ele não volte a repetir o ato infracional.

    Por isso, não devemos confundir impunidade com imputabilidade. A imputabilidade, segundo o Código Penal, é a capacidade da pessoa entender que o fato é ilícito e agir de acordo com esse entendimento, fundamentando em sua maturidade psíquica.

    2° Porque a lei já existe. Resta ser cumprida!

    O ECA prevê seis medidas educativas: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação. Recomenda que a medida seja aplicada de acordo com a capacidade de cumpri-la, as circunstâncias do fato e a gravidade da infração.

    Muitos adolescentes, que são privados de sua liberdade, não ficam em instituições preparadas para sua reeducação, reproduzindo o ambiente de uma prisão comum. E mais: o adolescente pode ficar até 9 anos em medidas socioeducativas, sendo três anos interno, três em semiliberdade e três em liberdade assistida, com o Estado acompanhando e ajudando a se reinserir na sociedade.

    Não adianta só endurecer as leis se o próprio Estado não as cumpre!

    3° Porque o índice de reincidência nas prisões é de 70%

    Não há dados que comprovem que o rebaixamento da idade penal reduz os índices de criminalidade juvenil. Ao contrário, o ingresso antecipado no falido sistema penal brasileiro expõe as(os) adolescentes a mecanismos/comportamentos reprodutores da violência, como o aumento das chances de reincidência, uma vez que as taxas nas penitenciárias são de 70% enquanto no sistema socioeducativo estão abaixo de 20%.

    A violência não será solucionada com a culpabilização e punição, mas pela ação da sociedade e governos nas instâncias psíquicas, sociais, políticas e econômicas que as reproduzem. Agir punindo e sem se preocupar em discutir quais os reais motivos que reproduzem e mantém a violência, só gera mais violência.

    4° Porque o sistema prisional brasileiro não suporta mais pessoas

    O Brasil tem a 4° maior população carcerária do mundo e um sistema prisional superlotado com 500 mil presos. Só fica atrás em número de presos para os Estados Unidos (2,2 milhões), China (1,6 milhões) e Rússia (740 mil).

    O sistema penitenciário brasileiro NÃO tem cumprido sua função social de controle, reinserção e reeducação dos agentes da violência. Ao contrário, tem demonstrado ser uma “escola do crime”.

    Portanto, nenhum tipo de experiência na cadeia pode contribuir com o processo de reeducação e reintegração dos jovens na sociedade.

    5° Porque reduzir a maioridade penal não reduz a violência

    Muitos estudos no campo da criminologia e das ciências sociais têm demonstrado que NÃO HÁ RELAÇÃO direta de causalidade entre a adoção de soluções punitivas e repressivas e a diminuição dos índices de violência.

    No sentido contrário, no entanto, se observa que são as políticas e ações de natureza social que desempenham um papel importante na redução das taxas de criminalidade.

    Dados do Unicef revelam a experiência mal sucedida dos EUA. O país, que assinou a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, aplicou em seus adolescentes, penas previstas para os adultos. Os jovens que cumpriram pena em penitenciárias voltaram a delinquir e de forma mais violenta. O resultado concreto para a sociedade foi o agravamento da violência.

    6° Porque fixar a maioridade penal em 18 anos é tendência mundial

    Diferentemente do que alguns jornais, revistas ou veículos de comunicação em geral têm divulgado, a idade de responsabilidade penal no Brasil não se encontra em desequilíbrio se comparada à maioria dos países do mundo.

    De uma lista de 54 países analisados, a maioria deles adota a idade de responsabilidade penal absoluta aos 18 anos de idade, como é o caso brasileiro.

    Essa fixação majoritária decorre das recomendações internacionais que sugerem a existência de um sistema de justiça especializado para julgar, processar e responsabilizar autores de delitos abaixo dos 18 anos.

    7° Porque a fase de transição justifica o tratamento diferenciado

    A Doutrina da Proteção Integral é o que caracteriza o tratamento jurídico dispensado pelo Direito Brasileiro às crianças e adolescentes, cujos fundamentos encontram-se no próprio texto constitucional, em documentos e tratados internacionais e no Estatuto da Criança e do Adolescente.

    Tal doutrina exige que os direitos humanos de crianças e adolescentes sejam respeitados e garantidos de forma integral e integrada, mediando e operacionalização de políticas de natureza universal, protetiva e socioeducativa.

    A definição do adolescente como a pessoa entre 12 e 18 anos incompletos implica a incidência de um sistema de justiça especializado para responder a infrações penais quando o autor trata-se de um adolescente.

    A imposição de medidas socioeducativas e não das penas criminais relaciona-se justamente com a finalidade pedagógica que o sistema deve alcançar, e decorre do reconhecimento da condição peculiar de desenvolvimento na qual se encontra o adolescente.

    8° Porque as leis não podem se pautar na exceção

    Até junho de 2011, o Cadastro Nacional de Adolescentes em Conflito com a Lei (CNACL), do Conselho Nacional de Justiça, registrou ocorrências de mais de 90 mil adolescentes. Desses, cerca de 30 mil cumprem medidas socioeducativas. O número, embora seja considerável, corresponde a 0,5% da população jovem do Brasil, que conta com 21 milhões de meninos e meninas entre 12 e 18 anos.

    Sabemos que os jovens infratores são a minoria, no entanto, é pensando neles que surgem as propostas de redução da idade penal. Cabe lembrar que a exceção nunca pode pautar a definição da política criminal e muito menos a adoção de leis, que devem ser universais e valer para todos.

    As causas da violência e da desigualdade social não se resolverão com a adoção de leis penais severas. O processo exige que sejam tomadas medidas capazes de romper com a banalização da violência e seu ciclo. Ações no campo da educação, por exemplo, demonstram-se positivas na diminuição da vulnerabilidade de centenas de adolescentes ao crime e à violência.

    9° Porque reduzir a maioridade penal é tratar o efeito,  não a causa!

    A constituição brasileira assegura nos artigos 5º e 6º direitos fundamentais como educação, saúde, moradia, etc. Com muitos desses direitos negados, a probabilidade  do envolvimento com o crime aumenta, sobretudo entre os jovens.

    O adolescente marginalizado não surge ao acaso. Ele é fruto de um estado de injustiça social que gera e agrava a pobreza em que sobrevive grande parte da população.

    A marginalidade torna-se uma prática moldada pelas condições sociais e históricas em que os homens vivem. O adolescente em conflito com a lei é considerado um ‘sintoma’ social, utilizado como uma forma de eximir a responsabilidade que a sociedade tem nessa construção.

    Reduzir a maioridade é transferir o problema. Para o Estado é mais fácil prender do que educar.

    10° Porque educar é melhor e mais eficiente do que punir

    A educação é fundamental para qualquer indivíduo se tornar um cidadão, mas é realidade que no Brasil muitos jovens pobres são excluídos deste processo. Puni-los com o encarceramento é tirar a chance de se tornarem cidadãos conscientes de direitos e deveres, é assumir a própria incompetência do Estado em lhes assegurar esse direito básico que é a educação.

    As causas da violência e da desigualdade social não se resolverão com adoção de leis penais mais severas. O processo exige que sejam tomadas medidas capazes de romper com a banalização da violência e seu ciclo. Ações no campo da educação, por exemplo, demonstram-se positivas na diminuição da vulnerabilidade de centenas de adolescentes ao crime e à violência.

    Precisamos valorizar o jovem, considerá-los como parceiros na caminhada para a construção de uma sociedade melhor. E não como os vilões que estão colocando toda uma nação em risco.

    11° Porque reduzir a maioridade penal isenta o estado do compromisso com a juventude

    O Brasil não aplicou as políticas necessárias para garantir às crianças, aos adolescentes e jovens o pleno exercício de seus direitos e isso ajudou em muito a aumentar os índices de criminalidade da juventude.

    O que estamos vendo é uma mudança de um tipo de Estado que deveria garantir direitos para um tipo de Estado Penal que administra a panela de pressão de uma sociedade tão desigual. Deve-se mencionar ainda a ineficiência do Estado para emplacar programas de prevenção da criminalidade e de assistência social eficazes, junto às comunidades mais pobres, além da deficiência generalizada em nosso sistema educacional.

    12° Porque os adolescentes são as maiores vítimas, e não os principais autores da violência

    Até junho de 2011, cerca de 90 mil adolescentes cometeram atos infracionais. Destes, cerca de 30 mil cumprem medidas socioeducativas. O número, embora considerável, corresponde a 0,5% da população jovem do Brasil que conta com 21 milhões de meninos e meninas entre 12 e 18 anos.

    Os homicídios de crianças e adolescentes brasileiros cresceram vertiginosamente nas últimas décadas: 346% entre 1980 e 2010. De 1981 a 2010, mais de 176 mil foram mortos e só em 2010, o número foi de 8.686 crianças e adolescentes assassinadas, ou seja, 24 POR DIA!

    A Organização Mundial de Saúde diz que o Brasil ocupa a 4° posição entre 92 países do mundo analisados em pesquisa. Aqui são 13 homicídios para cada 100 mil crianças e adolescentes; de 50 a 150 vezes maior que países como Inglaterra, Portugal, Espanha, Irlanda, Itália, Egito cujas taxas mal chegam a 0,2 homicídios para a mesma quantidade de crianças e adolescentes.

    13° Porque, na prática, a Pec 33/2012 é inviável

    A Proposta de Emenda Constitucional quer alterar os artigos 129 e 228 da Constituição Federal, acrescentando um paragrafo que prevê a possibilidade de desconsiderar da inimputabilidade penal de maiores de 16 anos e menores de 18 anos.

    E o que isso quer dizer? Que continuarão sendo julgados nas varas Especializadas Criminais da Infância e Juventude, mas se o Ministério Publico quiser poderá pedir para ‘desconsiderar inimputabilidade’, o juiz decidirá se o adolescente tem capacidade para responder por seus delitos. Seriam necessários laudos psicológicos e perícia psiquiátrica diante das infrações: crimes hediondos, tráfico de drogas, tortura e terrorismo ou reincidência na pratica de lesão corporal grave e roubo qualificado. Os laudos atrasariam os processos e congestionariam a rede pública de saúde.

    A PEC apenas delega ao juiz a responsabilidade de dizer se o adolescente deve ou não ser punido como um adulto.

    No Brasil, o gargalo da impunidade está na ineficiência da polícia investigativa e na lentidão dos julgamentos. Ao contrário do senso comum, muito divulgado pela mídia, aumentar as penas e para um número cada vez mais abrangente de pessoas não ajuda em nada a diminuir a criminalidade, pois, muitas vezes, elas não chegam a ser aplicadas.

    14° Porque reduzir a maioridade penal não afasta crianças e adolescentes do crime

    Se reduzida a idade penal, estes serão recrutados cada vez mais cedo.

    O problema da marginalidade é causado por uma série de fatores. Vivemos em um país onde há má gestão de programas sociais/educacionais, escassez das ações de planejamento familiar, pouca oferta de lazer nas periferias, lentidão de urbanização de favelas, pouco policiamento comunitário, e assim por diante.

    A redução da maioridade penal não visa a resolver o problema da violência. Apenas fingir que há “justiça”. Um autoengano coletivo quando, na verdade, é apenas uma forma de massacrar quem já é massacrado.

    Medidas como essa têm caráter de vingança, não de solução dos graves problemas do Brasil que são de fundo econômico, social, político. O debate sobre o aumento das punições a criminosos juvenis envolve um grave problema: a lei do menor esforço. Esta seduz políticos prontos para oferecer soluções fáceis e rápidas diante do clamor popular.

    Nesse momento, diante de um crime odioso, é mais fácil mandar quebrar o termômetro do que falar em enfrentar com seriedade a infecção que gera a febre.

    15° Porque afronta leis brasileiras e acordos internacionais

    Vai contra a Constituição Federal Brasileira que reconhece prioridade e proteção especial a crianças e adolescentes. A redução é inconstitucional.

    Vai contra o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) de princípios administrativos, políticos e pedagógicos que orientam os programas de medidas socioeducativas.

    Vai contra a Doutrina da Proteção Integral do Direito Brasileiro que exige que os direitos humanos de crianças e adolescentes sejam respeitados e garantidos de forma integral e integrada às políticas de natureza universal, protetiva e socioeducativa.

    Vai contra parâmetros internacionais de leis especiais para os casos que envolvem pessoas abaixo dos dezoito anos autoras de infrações penais.

    Vai contra a Convenção sobre os Direitos da Criança e do Adolescente da Organização das Nações Unidas (ONU) e a Declaração Internacional dos Direitos da Criança compromissos assinados pelo Brasil.

    16° Porque poder votar não tem a ver com ser preso com adultos

    O voto aos 16 anos é opcional e não obrigatório, direito adquirido pela juventude. O voto não é para a vida toda, e caso o adolescente se arrependa ou se decepcione com sua escolha, ele pode corrigir seu voto nas eleições seguintes. Ele pode votar aos 16, mas não pode ser votado.

    Nesta idade ele tem maturidade sim para votar, compreender e responsabilizar-se por um ato infracional.

    Em nosso país qualquer adolescente, a partir dos 12 anos, pode ser responsabilizado pelo cometimento de um ato contra a lei.

    O tratamento é diferenciado não porque o adolescente não sabe o que está fazendo. Mas pela sua condição especial de pessoa em desenvolvimento e, neste sentido, o objetivo da medida socioeducativa não é fazê-lo sofrer pelos erros que cometeu, e sim prepará-lo para uma vida adulta e ajuda-lo a recomeçar.

    17° Porque o Brasil está dentro dos padrões internacionais

    São minoria os países que definem o adulto como pessoa menor de 18 anos. Das 57 legislações analisadas pela ONU, 17% adotam idade menor do que 18 anos como critério para a definição legal de adulto.

    Alemanha e Espanha elevaram recentemente para 18 a idade penal e a primeira criou ainda um sistema especial para julgar os jovens na faixa de 18 a 21 anos.

    Tomando 55 países de pesquisa da ONU, na média os jovens representam 11,6% do total de infratores, enquanto no Brasil está em torno de 10%. Portanto, o país está dentro dos padrões internacionais e abaixo mesmo do que se deveria esperar. No Japão, eles representam 42,6% e ainda assim a idade penal no país é de 20 anos.

    Se o Brasil chama a atenção por algum motivo é pela enorme proporção de jovens vítimas de crimes e não pela de infratores.

    18° Porque importantes órgãos têm apontado que não é uma boa solução

    O UNICEF expressa sua posição contrária à redução da idade penal, assim como à qualquer alteração desta natureza. Acredita que ela representa um enorme retrocesso no atual estágio de defesa, promoção e garantia dos direitos da criança e do adolescente no Brasil. A Organização dos Estados Americanos (OEA) comprovou que há mais jovens vítimas da criminalidade do que agentes dela.

    O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) defende o debate ampliado para que o Brasil não conduza mudanças em sua legislação sob o impacto dos acontecimentos e das emoções. O CRP (Conselho Regional de Psicologia) lança a campanha Dez Razões da Psicologia contra a Redução da idade penal CNBB, OAB, Fundação Abrinq lamentam publicamente a redução da maioridade penal no país.

    Mais de 50 entidades brasileiras aderem ao Movimento 18 Razões para a Não redução da maioridade penal.

    Pressione os senadores: https://www.reducaonaoesolucao.com.br/
    Via: https://18razoes.wordpress.com/quem-somos/

  • Quebrada contra a redução — Zona Sul disse não!

    Quebrada contra a redução — Zona Sul disse não!

    Larissa Gould, do Barão de Itararé, especial para os Jornalistas Livres

     

    Foto: Midia NINJA

    Quebrada contra a redução — Zona Sul disse não!

    Três mil pessoas passaram pelo campo do Pantanal, no Capão Redondo, durante o festival Amanhecer contra a redução.

    Larissa Gould, do Barão de Itararé, especial para os Jornalistas Livres

    No meio dos morros do Capão Redondo, entre ruas estreitas e vielas ainda mais, o campinho de terra — um dos poucos espaços de diversão da molecada daquela quebrada — coloriu-se e assumiu mais uma função social e política na Zona Sul, o de defender aqueles meninos que ali brincam.

    Nesse sábado (15) foi realizado o Festival Amanhecer Contra a Redução, o primeiro na capital Paulista, o terceiro no país, reunindo mais de três mil pessoas. Em junho, 20 mil cariocas ocuparam a Praça XV. Em julho, centenas de pessoas se reuniram em Limeira, interior de São Paulo, para organizar o mesmo festival. Está em curso a organização de edições por todo o país. Isso por que aliar a arte na luta contra a violência é uma tática vitoriosa desde… sempre.

    Foto: Mídia NINJA

    Todos os festivais são construídos de maneira colaborativa, reunindo coletivos culturais, de comunicação, movimentos sociais, cooperativas e quem mais quiser ajudar. A ideia é unir forças e criar redes em defesa da juventude e contra o encarceramento da nossa juventude.

    O festival teve início às 10h com prestação de serviços para a comunidade, como cabelereiro, manicure e oftalmologista. Essas atividades foram uma demanda trazida pelos próprios movimentos que atuam na região. A pluralidade da construção faz com que os festivais sejam diferentes, trazendo as características de cada localidade.

    Foto: Mídia NINJA

    Edvam Filho, da rede Fora do Eixo, participou da organização do festival do Rio e de São Paulo. Para ele, a maior diferença, e também a maior dificuldade, entre os dois festivais foi a conjuntura política “quando fizemos o primeiro festival a pauta estava muito quente, dessa vez, devido aos tantos ataques que viemos sofrendo, foi mais difícil mobilizar o pessoal” e complementa: “Mas as pessoas compreenderam a correlação entre os assuntos. Está tudo ligado”.

    Foto: Mídia NINJA

     

    E rolou. Mais de 10 coletivos e movimentos, entre eles a Associação Raso da Catarina, o Palhaço Charles, o Levante Popular da Juventude, União da Juventude Socialista, União Nacional dos Estudantes, União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, Rede Fora do Eixo, Agência Popular Solano Trindade, Rede Jornalistas Livres, Juntos, Anistia Internacional, União Popular de Mulheres, Capão Cidadão e Rua, se juntaram e fizeram a edição paulistana acontecer.

    Para financiar esse festival o grupo está realizando um financiamento coletivo que termina no próximo dia 20.

    Às 10h, começaram a chegar principalmente mães acompanhadas de seus filhos. E foi assim, começou tímido, a comunidade foi chegando e quando vimos milhares de pessoas se posicionavam contra a redução. São Pedro também colaborou e o dia lindo com céu azul e sem nuvens compôs o perfeito cenário para a celebração. Celebração da vida e da juventude.

    Foto: Mídia NINJA

    Thiago Vinicius, da Agência Popular Solano Trindade, que atua na Zona Sul, participou da construção do evento desde o início, há quase dois meses. As reuniões, semanais, eram abertas a todos que quisessem colaborar. Ele explica que o convencimento da população da região não foi fácil, grande parte dos moradores são a favor da redução “É muito delicado falar sobre isso, as pessoas não têm acesso à discussão. Antes da quebrada falar de redução tem que discutir outras coisas. A quebrada precisa de lazer, de escola, de qualidade, de cultura. A quebrada está saturada de tanta violência, só quem vive aqui sabe o que é enfrentar a violência”.

    Ele também explica a importância do evento ser realizado na periferia. “Fazer na quebrada tem essa importância, por que somos nós que vamos sofrer. Quem é da elite, da classe média alta, está preocupada com o seu patrimônio. É isso, a redução é uma questão mais patrimonial do que humana”.

    E Walquiria Costa, moradora do Capão, sabe bem disso. Ela costuma ser a favor da redução. “Eu via a violência e pensava, tem que prender todo mundo e jogar uma bomba!”. O que mudou? A maternidade. “Eu vi que não era assim. Eu passei por isso, meu filho tomou um enquadro no shopping uma vez e ele é estudante. Comecei a questionar a redução. Vou defender a redução maioridade penal? E se fosse meu filho!”.

    Foto: Midia NINJA

    Os enquadros policiais são uma realidade cotidiana na periferia. Ativistas da Anistia Internacional recolhiam assinaturas durante o evento para a Campanha Jovem Negro Vivo, que denuncia o genocídio dessa população: 30.000 jovens são assassinados por ano, desse 93% são homens e 77% são negros. Os dados são do Mapa da Violência de 2014. “O objetivo maior dessa campanha é chamar a atenção da população e conscientizar as vítimas de que elas são detentoras de direitos”, explica Itã Cortez, ativista da entidade.

    Não foi diferente durante o dia do festival. Às vésperas de sua realização, quinta-feira (13), uma chacina protagonizada por policiais matou ao menos 20 em Osasco, região Oeste Metropolitana da Capital. “Eles estão todos agitados” explica Neide Abati, da União Popular de Mulheres de Campo Limpo e Adjacências. Na sexta (14), durante a montagem do palco, policiais munidos de metralhadoras foram ao Campo, atividade de rotina, queriam saber o que estava acontecendo, deixaram a orientação que o Festival deveria terminar mais cedo. No dia do evento, montaram bases em diversos pontos da comunidade para o patrulhamento de veículos. Também entraram por diversas vezes na área do festival, alegando que havia sido um “Pedido do Alto Comando”.

    Mas o dia foi de festa! Os shows complementaram a narrativa positiva do festival: Youthman Soundsystem, Msário, Coral Indígena, Leci Brandão, DJ Eduardo Brechó, Veja Luz, Pequeno Cidadão, Batalha na Vila, Negredo, NU, Liga do Funk, Bó da Catarina, Afro Funk e Doc. Artistas de diferentes linguagens e estilos: música, dança, teatro, circo, graffiti e poesia! Arte e cultura como formas de protesto.

    A sambista histórica e deputada estadual Leci Brandão marcou presença. Vice-presidenta da Frente Parlamentar de educação e cultura e presidenta da frente parlamentar em defesa da Juventude, Leci acaba de protocolar um pedido de CPI para a investigação do genocídio negro em São Paulo. Durante o show defendeu a juventude: “Estamos aqui para celebrar a vida”. Ela também lembrou a chacina de Osasco: “É muito triste pedir um minuto de silêncio. Por isso, eu peço palmas para dar coragem e força a esses familiares que ficam”.

    Foto: Mídia NINJA

    Além das atrações culturais, o evento contou com aula pública e debate sobre a redução. Durante o debate, Neide, que também compõe a União Brasileira de Mulheres, lembrou “Eu participei da luta pela constituição do ECA que agora é rechaçado. A mesma polícia que matava na ditadura mata hoje os trabalhadores de Osasco, mata a nossa juventude”. Juventude essa que é criminalizada.” Agem como se os jovens fossem os agentes da violência, sabendo que, na verdade, eles é que sofrem com a violência”, desabafou Graziele Monteiro, diretora de Universidades Públicas da UNE. A solução? Para Wesley Machado, diretor de Cultura da UBES, é uma nova educação “que não expulse o jovem da escola. Hoje o jovem não tem nenhum atrativo para estudar”.

    O projeto de emenda constitucional que diminui a idade penal foi aprovado na Câmara dos Deputados em junho, depois de manobra política do presidente da casa Eduardo Cunha. A segunda votação deve ser na próxima terça-feira (18). As mobilizações continuam por todo o Brasil. Em São Paulo, no próximo sábado (22), será realizado o festival pela #15Contra16 também contra a Redução. Nós, Jornalistas Livres, estaremos presentes.

    Foto: Mídia NINJA

     

  • Padre Julio Lancellotti: Redução do que mesmo?

    Padre Julio Lancellotti: Redução do que mesmo?

    Nesta semana a Câmara Federal inicia o processo de aprovação da Proposta de Emenda Constitucional, PEC, nº 171 (número sugestivo) para a redução da maioridade penal.

    As discussões são acaloradas e as pesquisas mostram o alto índice de aprovação popular da idéia. Por trás de tudo, movem-se interesses inconfessáveis e eleitoreiros, lobbies da privatização dos presídios (afinal, a clientela vai aumentar).

    Todos querem a diminuição da violência e da impunidade, muitos desconhecem o Estatuto da Criança e do Adolescente, criticam-no e são seus opositores ferrenhos.

    Tudo isso num quadro de agudo individualismo, pragmatismo, busca de soluções imediatas, de espetacularização do crime pela grande mídia e de sensação de insegurança — muitas vezes fabricada e manipulada.

    Todo texto tem que ser entendido no contexto.

    Para entender a proposta de redução temos que considerar o conjunto de medidas e mudanças que reduzem as conquistas duramente aprovadas dentro de um sistema que escraviza e pune, elitista e competitivo.

    As propostas de redução estão passando por adaptações e acordos políticos , todos querem ser o pai da criança, mas não sabem que essa criança vai crescer e se tornar adolescente também.

    Uma lei não tem efeito retroativo, também não é instrumento de vingança, não inibe a criminalidade que o sistema fabrica, incentiva e impõe.

    Uma juventude sem qualidade de vida e sem possibilidades não qualifica a vida.

    A frustração acumulada, a falta de cuidado, o crime organizado na lógica do sistema empurram os jovens para o sofrimento e alguns, ainda que sejam a minoria, reagem e se tornam “em conflito com a lei “.

    Esta minoria causa o clamor pela adoção de medidas cada vez mais punitivas e restritivas .

    Nossa geração passará para a história como a geração que não soube lidar com a violência a não ser sendo mais violenta ainda .

    A redução da maioridade penal é a nossa redução e incapacidade de sermos mais humanos e de lidarmos com situações complexas com a complexidade que merecem .

    Os mais pobres serão como sempre os penalizados; a questão dos crimes hediondos, como tráfico de drogas, é polêmica e controversa.

    A precariedade de dados e o desconhecimento dos dados que existem entorpecem e distorcem a capacidade de refletir e agir .

    Reduzir a maioridade penal é um ato político, mais do que uma decisão técnica numa cultura tecnicista. Mas trata-se de uma ação política que reduz a responsabilidade de todos, que nos desumaniza e que, no horizonte, só nos levará a ter de continuar reduzindo para controlar, vigiar e punir .

    Neste momento grave somos chamados à lucidez , ao sentido histórico de nossas ações, à tomada de posição e sobretudo a humanizar nossa reflexões e ações.

    A história será testemunha deste 171 que estão passando em nós!

     

  • Rio de Janeiro tem dia histórico contra a redução da maioridade penal

    Rio de Janeiro tem dia histórico contra a redução da maioridade penal

     

    “É isso: se tiver violão, se tiver funk, se tiver cultura, não vai precisar de faca em Copacabana. Não à redução!”. Assim o Dream Team do Passinho encerrou seu show para milhares de pessoas na Praça XV, na noite de domingo (14).

    O movimento Amanhecer contra Redução surgiu em meados de abril, inspirado na campanha uruguaia No a la Baja, que impediu a redução da maioridade penal no país vizinho. Uma iniciativa de jovens criativos, principalmente estudantes secundaristas, para resistir à redução, de uma forma didática e leve, com a cultura.

    Foi algo dessa natureza que deixou o centro da Cidade Maravilhosa mais colorido na manhã deste domingo. O Festival Amanhecer, fruto da construção colaborativa de coletivos, movimentos sociais e artistas, reuniu cerca de 80 atrações de música, dança, teatro, grafite, debates, fotografia e poesia na Praça XV, para um público total de mais de 20 mil pessoas.

    Foram 5 palcos espalhados pela tradicional Praça XV, que se coloriu com cartazes, sorrisos, faixas, pipas, murais, grafites, adesivos, brincadeiras, tecidos e danças ao longo do dia. Uma ação de resistência, que não seria possível senão com um posicionamento decisivo dos estudantes.

    “Assim que a PEC da Maioridade passou na Comissão de Constituição e Justiça, nós reunimos um grupo de amigos aqui no Rio de Janeiro para fazer uma campanha contra a redução. Nossa expectativa era que fosse uma campanha pequena, mas acabou crescendo e chegou a 400 cidades em todo o país!” afirma Daniela Orofino, que tem 22 anos e é estudante de Ciências Sociais. De lá para cá não pararam. Em maio, o grupo realizou um grande sarau na Lapa, que reuniu 600 pessoas.

    Além da programação cultural, o domingo foi marcado por intensos debates com a presença de artistas, ativistas e parlamentares, como Marcelo Freixo, deputado estadual pelo Rio de Janeiro.

    Mais de 20 mil reais foram arrecadados para o evento, através do financiamento coletivo: “É a força da juventude mostrando que a gente acredita na cultura e na educação como alternativas para todos esses jovens do Brasil que têm poucas oportunidades”, conclui Daniela.

    Outra estudante, Mariana Monteiro, tem 16 e começou a participar da campanha a partir de um convite feito pelos colegas. Seu grupo colaborou para o financiamento realizando um sarau na escola para arrecadar fundos: “Doamos R$1.000 para o Festival e foi muito bem investido”.

    Assim como ela, Clarice Pessoa, 14, também faz parte da Campanha e participou da produção do evento: “A redução, na verdade, é a seletividade penal, pois serão os jovens em situação de vulnerabilidade que pagarão, e não nós. Estamos aqui hoje para
    lutar por direitos”.

    Gisela, estudante de Comunicação, destacou a importância de se unir ao movimento cultural: “Pela cultura conseguimos dialogar com muito mais gente”.

    O Levante Popular da Juventude foi um dos movimentos que compuseram o festival, com uma oficina de bateria. Para Felipe Haua, estudante e militante do grupo, é fundamental a união de todas as forças contra a PEC da maioridade. “É uma pauta que está sendo empurrada no Congresso e que afeta diretamente a juventude. Se não estivermos unidos não teremos chance”.

    Nada deve parecer impossível de mudar..

    Se o festival queria atingir corações e mentes para ganhar forças na luta contra a redução, conseguiu. Gilvan tem 42 anos e é empresário. Passou sem querer na praça e a curiosidade fez com que ficasse, para mudar de opinião:

    “Era a favor da redução. Ouvi um debate, li as faixas e cartazes e me permiti refletir sobre a questão. Principalmente sobre a frase ‘Redução não é solução’. Não é mesmo. Na verdade, ela traz muitos problemas, como o aumento desmedido da população carcerária”, afirmou.

    Não é a solução porque desvia o foco do que é realmente importante: a proteção dos direitos das crianças. É o que pensa Átila Roque, diretor da Anistia Internacional no Brasil. “Hoje o adolescente é vítima da violência, não quem causa violência. Os jovens são mais de 50% dos mortos no país, totalizando 30 mil jovens mortos por ano na faixa dos 15 aos 29. Grande parte deles entraria nessa faixa da redução. Ou seja, já existe uma penalização gigantesca para esses jovens”, afirma.

    A Campanha Jovem Negro Vivo, da Anistia, levanta ainda um dado assombroso na matemática da pátria educadora: dos 30 mil mortos, 70% são negros.

    A marcha dos desprovidos

    Atualmente, o Projeto de Emenda Constitucional — PEC 171, que altera a imputabilidade penal, está no Congresso Nacional. A Comissão Especial criada para a discussão do tema possui 70% dos deputados a favor da redução. Jandira Feghali, deputada federal pelo PCdoB, esteve presente no festival e concorda que a conjuntura não é favorável:

    “No Congresso, infelizmente, nós estamos andando para trás. Todas as pautas que vão se estruturando e vão se estabelecendo são pautas profundamente retrógradas, de anulação de um período longo de conquistas em todas as áreas.”

    Ativistas do movimento estudantil são expulsos da Câmara dos Deputados durante a semana, ao se manifestarem contra o projeto de redução da maioridade penal. Fotos: Mídia NINJA

    Mas acredita que a batalha não está perdida. “Muitos dados mostram que não é só o jovem infrator grave que está no alvo desses caras. Mudar a Constituição é mudar as regras para a juventude inteira. Vai mudar a relação do Estado brasileiro com a sociedade”.

    Nas próximas semanas, a Campanha e as ideias propagadas nesse domingo viajam para Brasília, para pressionar os parlamentares da Câmara e dialogar com uma comissão especial do Senado sobre o tema.

    Maria de Fátima, mãe do dançarino D.G., executado pela Polícia Militar carioca em abril de 2014, é categórica na importância da campanha continuar sua caminhada contra a PEC 171:

    “O Brasil é dividido em dois: o país dos privilegiados e o país dos desprovidos. A redução só atingirá os desprovidos”

    Foto: Felipe Paiva / Rua Foto Coletivo

    texto Larissa Gould para Jornalistas Livres
    fotos Cobertura Colaborativa Amanhecer Contra Redução