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Tag: Acordo de Salvaguardas Tecnológicas

  • Quilombola é Alcântara! Alcântara é quilombola!

    Quilombola é Alcântara! Alcântara é quilombola!

    NOTA: ENTIDADES REPRESENTATIVAS E MEMBROS (AS) DE RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA E AFRO-BRASILEIRAS CONTRA RESOLUÇÃO N. 11 DE 26 DE MARÇO DE 2020

    As entidades representativas e membros(as) de religiões de matriz africana e afro-brasileiras signatárias desta nota vem a público manifestar repúdio à Resolução nº 11/20 (GSI-PR), que institui a remoção forçada de 800 famílias e 30 comunidades quilombolas da cidade de Alcântara-MA, no conjunto de medidas tomadas no âmbito do Acordo de Salvaguarda Tecnológica firmada entre o Brasil e os Estados Unidos em 2019.

    Na matriz de responsabilidades dos órgãos envolvidos no Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro, o documento informa que mais de 12 mil hectares serão utilizados pelo Centro de Lançamento, além da área atual da base, afetando ainda mais as comunidades que ocupam aquele território desde o século XVII.

    Além desses pontos que em si representam uma grande tragédia humana e violação da dignidade coletiva dos quilombolas de Alcântara, o documento, em seu art. 6º, VIII, “a” e “b”, prevê “a implantação de espaços religiosos e a recomposição de áreas e instalações compatíveis com as existentes nos espaços hoje habitados pelos quilombolas, para a prática de atos religiosos”, e a implementação de “projeto de um museu dedicado aos aspectos históricos e culturais das comunidades quilombolas”.

    Entendemos que os territórios quilombolas representam acima de tudo espaços civilizatórios de ancestralidade africana, de reterritorialização e de resistência secular às opressões sem medida perpetradas pela sociedade e pelo Estado em solo brasileiro. Sendo assim,reiteramos que os processos de deslocamentos e alterações de nossos espaços sagrados, no que tange as práticas religiosas de matriz africana, são efetuados mediante consultas aos nossos oráculos, sistemas adivinhatorios próprios e o consentimento de nossos ancestrais regentes de nossas casas de axé. Portanto, remeter essa tarefa ao aparato de Estado expõe nossa religiosidade ao risco de violação do nosso sagrado, ao mesmo tempo que nos aponta a possibilidade de termos a atenção voltada às outras denominações religiosas, tais como igrejas evangélicas e católicas e a negação das nossas religiões de Matriz Africana, como forma de dizimar nossa ancestralidade.

    As religiões de matriz africana e afrobrasileiras concebem o zelo e a proteção dos lugares sagrados para além dos espaços físicos das casas de axé. O acesso ao mar, aos lagedos, as pedreiras, aos mangues, aos rios e as florestas, são vitais para sua sobrevivência. Tudo isso está ameaçado e não há como transportar caso haja remoção. Deste modo, não há que se falar em museu, implantação de espaços religiosos ou recomposição de áreas e instalações como suposta forma de reparação pelos danos materiais e imateriais causados à memória ancestral e coletiva daquelas comunidades, agravados com este novo processo de desterritorialização representado pela Resolução nº 11/20.

    Em verdade, a resolução fere frontalmente a Convenção nº 169 da OIT, ao inviabilizar qualquer processo de consulta livre, prévia e informada às comunidades envolvidas; a Constituição Federal de 1988, em seus artigos 215 e 216, que estabelecem o pleno respeito aos modos de criar, fazer e viver de comunidades tradicionais e grupos formadores da sociedade brasileira; e ao artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que assegura direitos às comunidades quilombolas ao reconhecimento da propriedade definitiva dos seus territórios.

    Ressaltamos que o documento é sorrateiramente imposto em um momento de grave crise global provocada pela pandemia do COVID-19. A medida do governo federal agrava mais ainda a situação de vulnerabilidade e insegurança a que estão sujeitos os quilombolas de Alcântara após a assinatura do Acordo de Salvaguarda. Assim, mobilizamos toda a solidariedade em favor das comunidades quilombolas atingidas pela medida para manifestar nossa profunda discordância com o teor do documento e exigir sua imediata revogação.

    Assinem e divulguem!

     

    https://secure.avaaz.org/po/community_petitions/gabinete_de_seguranca_institucional_da_presidencia_nao_a_remocao_das_comunidades_quilombolas_de_alcantara_e_seus_espacos_sagrados/?ltlqOob

  • Deputadas do PSOL lançam plataforma para garantir os direitos dos quilombolas de Alcântara (MA)

    Deputadas do PSOL lançam plataforma para garantir os direitos dos quilombolas de Alcântara (MA)

    Para pressionar o Congresso para que seja realizada consulta prévia junto às comunidades quilombolas sobre exploração comercial do Centro de Lançamentos de Alcântara (CLA), as deputadas federais Áurea Carolina (PSOL-MG) e Talíria Petrone (PSOL-RJ) lançaram a plataforma Consulta Quilombolas Já.

    A situação dos povos quilombolas em Alcântara, no Maranhão, é grave.

    Precisamos reagir!

    Assine o abaixo-assinado!

    A plataforma, além de conter informações detalhadas sobre o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas – em tramitação na Câmara dos Deputados, apresenta um abaixo assinado para pressionar os congressistas para que as comunidades sejam consultadas – antes da votação – sobre um empreendimento que afetará dramaticamente a vida de mais de 800 famílias.

    Entenda o caso: 

    Via https://www.consultaquilombolaja.com.br

    No litoral maranhense, no município de Alcântara e sob a Linha do Equador, o Brasil mantém uma base estratégica para lançar foguetes e satélites. É o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), construído no início da década de 1980 pelo regime militar.

    Para que o CLA fosse instalado, mais de 300 famílias quilombolas foram removidas de seus territórios ancestrais e realocadas em sete agrovilas afastadas do mar. Perderam, com isso, acesso direto à sua principal fonte de segurança alimentar e sustento econômico e tiveram seus modos de vida profundamente alterados. Essas comunidades aguardam até hoje a devida indenização e a titulação de suas terras.

    Essa história de violência pode estar prestes a se repetir caso o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) entre Brasil e EUA para a exploração comercial do CLA, assinado em março deste ano, seja efetivado.

    A expansão do CLA para toda a costa de Alcântara, prevista pelo acordo, pode resultar na remoção de outras centenas de famílias. Para piorar, tudo tem acontecido sem qualquer diálogo com essas comunidades, desrespeitando a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Além disso, o Acordo pode comprometer a soberania brasileira

    Neste momento, o acordo tramita no Congresso Federal e os parlamentares podem evitar que esse histórico se repita.

    Não queremos mais violações aos direitos das comunidades quilombolas. Pressione os deputados a exigirem a realização de uma consulta às comunidades!

     

     

    De acordo com a Convenção 169 da ONU, da qual o Brasil é signatário e que tem força de lei no país, os povos e comunidades tradicionais devem ser consultados previamente sempre que qualquer decisão impactar seus territórios e modos de vida.

    No último dia 04/09 o plenário da Câmara aprovou o regime de urgência para tramitação do AST. Com isso, o texto fica pronto para ser discutido e votado pelos deputados.

    Até o momento, não há movimentação do governo Bolsonaro para cumprir a Convenção 169. Por outro lado, os quilombolas da região elaboram, por conta própria, um protocolo que permitirá referendar – ou não – a legitimidade da consulta promovida pelo poder público, caso ela ocorra.

     

    O VAI E VEM DO ACORDO:

    Achismos

    Até o momento, não foram apresentados estudos confiáveis sobre a rentabilidade do Acordo de Salvaguardas Tecnológicas e suas reais vantagens para o país. O que temos são apenas projeções vagas e sem qualquer fundamentação técnica.

    Desinformação

    O governo tem divulgado informações contraditórias sobre a expansão territorial da base – enquanto o Ministério da Ciência e Tecnologia garante que não haverá ampliação, o Ministério da Defesa afirma que isso deverá acontecer.

    Sem conversa

    A Convenção 169 da OIT – da qual o Brasil é signatário – determina que povos e comunidades tradicionais sejam consultados de forma prévia, livre e informada sobre projetos que afetem seus territórios e modos de vida. Não é o que vemos em Alcântara. Sem informações confiáveis sobre o que está por vir, os quilombolas de Alcântara estão temerosos sobre seu futuro.

    Auto-organização

    Enquanto o Estado brasileiro permanece omisso, os quilombolas de Alcântara estão elaborando, de forma autônoma, um protocolo para essa consulta. Isso permitirá a eles referendar – ou não – a legitimidade da consulta oficial do poder público. Os parlamentares são fundamentais para garantir que essa escuta aconteça!

    Marcas profundas

    As remoções da década de 1980 deixaram uma herança perversa para as comunidades. Adoecimento físico e mental, destruição de vínculos comunitários, migração de famílias para as periferias de São Luís, desemprego, escassez de alimentos, pobreza e proliferação da violência são apenas alguns dos problemas.

    Fracassos

    Não é a primeira vez que o CLA é objeto de acordos internacionais. Em 2000, o presidente FHC assinou com os EUA um acordo praticamente idêntico ao AST, rechaçado pelo parlamento sob a alegação de que ele feria a soberania nacional. Três anos depois, o presidente Lula firmou um acordo com a Ucrânia para o desenvolvimento aeroespacial do Cyclone-4 no CLA, encerrado em 2005 sem êxito financeiro ou operacional.

    Mais problemas

    Além dos impactos devastadores para as comunidades quilombolas, o acordo abre brechas para o uso bélico e militar do CLA pelos EUA. Também cria áreas restritas no interior da base que dependem da permissão do governo americano para ingresso. Tudo isso compromete aspectos de soberania do Estado brasileiro.