Jornalistas Livres

Categoria: solidariedade

  • Glenn tem a solidariedade de jornalistas

    Glenn tem a solidariedade de jornalistas

    O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) lamentam e repudiam a agressão física do jornalista Augusto Nunes contra o jornalista Glenn Greenwald, ocorrida hoje, no programa Pânico, da Rádio Jovem Pan, em São Paulo.

    O SJSP e a FENAJ criticam a empresa por terem convidado Greenwald a comparecer a um de seus programas sem avisá-lo antecipadamente da presença de Nunes, autor de ataques pessoais ao jornalista e à sua família, o que criou um clima de conflito prévio ao início da entrevista.

    A agressão física a um convidado para uma entrevista viola todos os preceitos da conduta profissional dos jornalistas. Lembramos que os jornalistas brasileiros têm um Código de Ética, assim como existe um código de ética em nível internacional, e que seus preceitos devem ser seguidos por todos os profissionais.

    O SJSP e a FENAJ se solidarizam com o jornalista Glenn Greenwald, com quem compartilhamos no último dia 9 de setembro a mesa de um importante ato, com a presença de mais de mil pessoas, na Faculdade de Direito da USP, em São Paulo, em defesa da liberdade de imprensa, do jornalismo e da democracia.

    Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP)

    Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) 

    7 de novembro de 2019

  • Paulo Freire vive na Amazônia

    Paulo Freire vive na Amazônia

    Ontem pela manhã, deu-se inicio em Belém, PA ao III Encontro da,Cátedra Paulo Freire da Amazônia, promovido pela Universidade do Estado do Pará – UEPA por uma educação pública,popular e democrática.
    Porque Paulo Freire hoje é tão presente e necessário nesta conjuntura de perdas de direitos e de cortes nas politicas sociais? Os princípios de Paulo Freire estão articulados com um.projeto de superação das desigualdades e de construção democrática.

    Paulo Freire é compromisso histórico com a libertação da classe trabalhadora. A proposta de Paulo Freire é revolucionária, vai muito além da sala de aula. Consiste em processo de formação e de análise critica da realidade, juntamente com os trabalhadores, movimentos sociais e de resistência, na luta por uma educação transformadora, libertadora do povo oprimido.

     

    Fruto de produção coletiva e parcerias com movimentos sociais, coletivos de arte e cultura, professores, universidades, sindicatos e pessoas inconformadas com a perda de direitos e o aprofundamento das desigualdades sociais, este evento pretende ser espaço de reflexão, de troca, de articulação, de denúncia das arbitrariedades deste governo em detrimento das conquistas sociais e violação de direitos conquistados, em defesa da educação pública e de qualidade para todos, sem distinção de classe, gênero e raça. Ao mesmo tempo pretende ser um momento de afirmação de princípios, reconhecimento de identidades, de bandeiras de luta e afirmação da ESPERANÇA!
    PAULO FREIRE VIVE no cotidiano, na luta do dia a dia de todos nós.

    Painel de legados de Paulo Freire
  • Marcha das Margaridas: O que tem a nos ensinar?

    Marcha das Margaridas: O que tem a nos ensinar?

    A solidariedade para que o Coletivo Flores pela Democracia estivesse em Brasília, começou antes. Com o por do sol de Brasília no dia 12 de agosto, seis representantes chegaram de São Paulo, à casa de Maria e Samuel. Acolhidas com calor especial e muito amor, fizeram flores, brincaram, cozinharam. Dividiram desejos, risos, sonhos, lágrimas… Ouviram música e cantaram. Marcharam com as Margaridas. Vibraram com tantos e tantos sentimentos…

    Com a Marcha, a oportunidade de encontrar o nosso verdadeiro Brasil! Um misto de emoções indescritíveis! Cada Margarida, um histórico de vida, um motivo para participar desse grande evento. Não dimensionaram esforços para seu deslocamento, ainda que fosse de um dos quatro pontos mais longínquos do nosso país.

    Emoção à flor da pele. Passos firmes, determinados, vidas marcadas pela força e sabedoria da lida da terra. Brotaram Margaridas dos profundos rincões do Brasil. Muito fizeram para lá estarem presentes. De longe, com muitas horas de viagem, altivez e dignidade foram representar suas comunidades.

    “Saímos de Mocajuba,  Pará, no baixo Tocantins no domingo meio dia, viajando 2ª dia e noite e chegando na 3ª por volta das 8 hs da manhã. Viemos numa delegação de 26 pessoas, fizemos um trabalho de base sobre o que é a marcha, a mobilização e as vozes das mulheres ocupando espaços de ousadia… O simples  fato das pessoas saírem de suas casa, da zona de conforto, enfrentar esses dias de viagem, ir prá rua é uma forma de ousadia, se rebelando contra o sistema. Larga sua família, seu trabalho e vem se mantendo, acreditando que a mobilização é um processo importante. A própria viagem é um aprendizado político. A marcha é tão bonita, a Marcha das Margaridas começa desde o processo de mobilização, a solidariedade, reunião da comunidade, torneios, futebol de mulheres, quermesses para fundos. Esta mulher que veio está representando a sua comunidade. A solidariedade na viagem, é dessa forma que a gente tem que crescer, as mulheres cada vez mais solidárias, a solidariedade na vida, a partir das mulheres.(Joyce Dandara, 25 anos)

    Viemos de ônibus, do Maranhão 70 ônibus, 3 dias de viagem. Sou solteira, brasileira, naturalizada maranhense. Sou do Município de Matinha,quebradeira de côco babaçu. Nossos objetivos da Marcha das Margaridas é para que a gente tenha nossos pamerás livres, nossos cocos, nossos campos cercados. Outra coisa: Lula Livre. Se tem ladrão, bota os outros na cadeia, não puxa debaixo do tapete. Estamos nessa luta há muito tempo” (Maria Valdelina).

    Sou de José Boiteau, Sta. Catarina, faço faculdade em Blumenau, odontologia. Fiquei espantada com a multidão de gente, um aprendizado que dá mais força pra gente estar na luta estudantil, demarcação de terras indígenas. Muita emoção ainda mais neste tempo que estamos vivendo , dá vergonha. Tem poucos jovens formados,  pouco tempo de cotas raciais, todos que se formaram, voltaram para a aldeia, somos muito apegados, faz parte da cultura nossa”  (Djadjá, da etnia Xokleng)

     

    A presença no Planalto Central

    80.000 Margaridas acamparam e marcharam… Com a sua garra, bandeiras, faixas, cantos e gritos, mostraram sua força, deixaram seu recado e estiveram presentes no Planalto Central do país.

    O dia a dia rude da lida no campo não ceifou suas energias. Em suas expressões, alegria de participar, solidariedade e garra.  Nas suas reivindicações luta por terra e trabalho, direitos, vida digna no campo, afirmação de identidades, uma agricultura sem veneno, preservação da natureza, soberania. A vivência com a natureza, as lições de garra no domar o trato da terra, a sabedoria do plantio, cultivo e colheita dos alimentos, as tornaram mais humanas, mais solidárias e com mais disponibilidade para a luta?

    Sou de Bom Conselho, PE, trabalhadora rural, participo do sindicato, vim prá Marcha por luta por melhorias. Lá as pessoas passam dificuldades sofrem mesmo de verdade, falta emprego. O agricultor sofre muito, a comunidade tem a terra mas não tem como trabalhar, quando aparece, pagam muito pouco ...” (Cleide, 41 anos)

    “Meu objetivo hoje é brigar para que nossos direitos sejam alcançados, Bolsonaro cai fora e Lula Livre. Essa é minha intenção. Tô aqui lutando pelos meus netos, meus filhos e pelas gerações futuras. Sou professora aposentada, me formei depois de 56 anos… A maior parte da juventude está alienada, não teve uma educação política. Pode ver que ele ta acabando com a Universidade, com a educação, com tudo. Enquanto Lula criou várias universidades, ele está destruindo e isso é lamentável. Nós que já temos uma caminhada, temos que lutar prá que isso não aconteça”  (Anadina , 72 anos, presidente da Associação dos Pequenos Produtores Rurais , Vila Bonita, Itacarambi, prá lá de Montes Claros, Norte de MG)

    O problema é que no campo não se oferece políticas públicas então o jovem tá saindo para estudar e muitas vezes esse jovem não volta prá comunidade e isso vai dificultando a vida no campo, pra se fazer uma sucessão. A ideia é que o jovem possa ficar no campo com condições dignas, compreendendo a importância rural para que ele possa assumir a terra, continuar produzindo, se percebendo como classe trabalhadora de agricultores familiares(Joyce Dandara, 25 anos).

    Moro em Palhoça, Sta. Catarina. Sou assistente social e faço parte do movimento de economia solidária. Trabalho com mulheres no artesanato. Nesta conjuntura  política é muito importante a gente se empoderar e retomar o espaço por direitos.Levo de volta muita experiência, muito conhecimento, muitas amizades, parece que todo mundo se conhece” (Inês, 57anos)

    Sou de Bom Sossego, PE. Estou aqui para que meus filhos, meus netos, mais etnias, tenham como viver melhor. Não temos saúde, escolas, garantia de nossas terras. Acho importante como homem, estar na Marcha, sinto um grande amor pelas mulheres e por Margarida Alves. Uma grande admiração pela mulher que foi lutadora, batalhadora. Por todas as mulheres batalhadoras que vivem na luta do dia a dia, não importa o trabalho que tenham, são guerreiras. De volta levo uma mala cheia de alívio no peito por ver tantas mulheres lutando como Margarida Alves” (José Roberto, 50 anos, indígena)

    Venho da Amazônia brasileira. Meu povo, minha etnia vem da Amazônia, dentro do Acre. Meu povo sofreu muito, vive na Amazônia há 5 mil anos. Prá vir prá cá foram muitas horas de viagem. Viemos de van, a gente se organizou…  Sou artesã e assim como todas as mulheres do mundo, somos muitas coisas: sou professora, sou costureira, sou ativista do movimento indígena, ambiental, do movimento de liberação da maconha como uso medicinal e recreativo para que nosso país pare com essa pouca vergonha, pare de prender nossos filhos, nossos jovens por causa de um cigarro natural enquanto liberam cigarro cheio de química…Para nós indígenas a saúde está precária, um monte de desvios, muita falta de atenção pras comunidades indígenas do Brasil inteiro. A minha pauta também é da educação.Nós indígenas pertencemos a 6 troncos. Somos mais de 365 povos e não é possível que o governo brasileiro queira enfiar goela abaixo a mesma educação que oferece a todos os brasileiros, sem respeitar cada região brasileira, cada povo. Paulo Freire  em 1964 foi expulso de nosso país, se seu método tivesse sido implantado, nosso país seria outra coisa. Nas aldeias existe um preconceito que nos ensinaram nesses anos todos de dominação colonial que éramos inferiores, incapazes. O que fizeram com a gente, com os povos da América Latina foi uma atrocidade, restou muito pouco. Digo sempre aos meus alunos que nós somos o que restou do paraíso.  Paulo Freire vive em cada região mamadi da Amazônia. Enquanto eu viver o método dele vai ser aplicado na minha aldeia e por onde eu passar no mundo” (Quichirá, aquela que nasceu para guiar, 43 anos).

    Sou de uma aldeia no município de José Boiteau, representante das mulheres que cultivam ervas medicinais, um chá da Índia. Eu e minha mãe estamos desenvolvendo um projeto com as mulheres que estavam entrando em depressão e com os estudantes. Mobilizamos os estudantes para que tenham um lugar para buscar informação sobre nossa cultura indígena que não é só o falar, mas o artesanato, a comida, os costumes, ervas medicinais, as palestras e as vivências que tínhamos e que hoje estamos um pouco distanciados. Projeto faz lembrar como éramos antes da pacificação, nossas crianças brincavam juntas, a gente comia no mesmo prato e isso é muito importante de lembrar. Na Marcha é muito importante ver nós mulheres brigando pelos direitos. Eu sou uma que não  paro e isso eu vou levar para as nossas mulheres. Com é importante a luta política hoje e nós temos que nos levantar” (Antõnia Batlé, 36 anos, etnia Xhokleng)

     

    Margaridas: Encontros de Sujeitos por outro país

    Na Marcha das Margaridas num agosto seco do cerrado brasileiro, vários encontros se deram. Encontros de seres humanos, de pessoas, de sujeitos fortes e, ao mesmo tempo, delicados. Encontros de corpos que estão juntos na luta por outro país. Encontros de olhares de identidade da luta coletiva. Encontros que simbolizam uma chama que não se apaga porque há vida latente… ainda. E sempre.

    Daquelas mulheres simples do campo, de todos os cantos do país, a garra por justiça e direitos, solidariedade e preocupação com a preservação da natureza.

    “A Marcha é tão bonita, começa desde o processo de mobilização. A solidariedade, reunião da comunidade, torneios, futebol de mulheres, quermesses para fundos. Esta mulher que veio está representando a sua comunidade. A solidariedade na viagem das companheiras que ajudam as companheiras. Eu trouxe meu filho e todo mundo ajudou. A solidariedade, é dessa foram que a gente tem que crescer, as mulheres cada vez mais solidárias, a solidariedade na vida, a partir das mulheres” (Joyce Dandara, 25 anos).

    “Tudo o que estão fazendo agora na minha casa no Acre, a fumaça, vai ter repercussão no Sul, no Sudeste, no Nordeste. A única coisa que vai salvar o planeta é a solidariedade. Nós indígenas estamos resistindo. Cada gesto nosso vai refletir no outro. Minha ação no planeta, onde eu estiver,  vai refletir no outro. Temos que ter essa consciência. Quando liberam os agrotóxicos, estamos envenenando nossa própria casa. É como minha mãe dizia, é uma cobra que morde o próprio rabo. O que estão fazendo (o governo, o povinho lá de fora, os banqueiros), não nos interessa, eles vão nos levar à morte. Deixe nós nações indígenas e o povo brasileiro a nos guiar. Esse povo dos grandes lá, só ta pensando em dinheiro. Gostaria que meus descendentes recebessem a casa e o rio que eu recebi. Eu pude nadar no rio da Amazônia . junto com os peixes e agora não tá podendo mais. Eu pude respirar um ar limpo. O que vale realmente a pena na vida é a família, é ser feliz, é estar no ambiente que a natureza esteja bem. Não podemos comprar o sol, a água. Eles vão entender que a  água não é mercadoria, a Bolívia entendeu e graças aos índios eles recuperaram aquilo que eles tem. O que fizerem com os povos da América Latina foi uma atrocidade, restou muito pouco. digo sempre aos meus alunos que nós somos o q restou do paraíso”

    “Como disse Krenáh, nós estamos em guerra  e prá nós não temos trégua. Vocês também estão em guerra, é um tipo de guerra sem bomba, mas é . Vamos mostrar prá esse povo que eles podem até querer fazer mas a gente vai ter reação” (Quichirá, 43 anos)

     

    Juntas Somos Muitas!

     

     

    Não consigo retirar a pulseira  do meu braço.

    Margaridas, Margaridas!Quantas somos?

    Ainda não consigo retirar a pulseira do meu braço.

    Serei eu uma Margarida?

    Quantas somos?

    Ainda não consegui retirar a pulseira do meu braço …

    Conseguirei confeccionar tantas margaridas pra quantas somos?

    A pulseira…  Nossos braços.

     

    Nossa força que carrega nossas Flores.

    Flores que tem perfume de Brasil

    Do nosso Brasil soberano, livre!

     

  • Multiplicar Resistências, Semear Esperanças

    Multiplicar Resistências, Semear Esperanças

    O sábado do dia 08 de junho foi para mim e para cerca de 70 pessoas que se reuniram na Ação Educativa, um dia especial.  Representantes de movimentos, coletivos de resistência, ONGs de Formação Política e de Defesa dos Direitos Sociais, cursinhos e universidades populares, Centros de Defesa de Direitos, militantes indignados com o momento de retrocessos que estamos vivendo em nosso país, se reuniram para trocar experiências a partir de suas práticas, aprofundar a análise de conjuntura, definir estratégias de luta e desafios da resistência e da educação popular para fazer frente à conjuntura nacional.

    Coordenado pelo CEAAL Brasil (parte integrante do Conselho de Educação Popular da América Latina e Caribe, que congrega representantes de 21 países e 150 organizações), juntamente com a Ação Educativa (ONG voltada à assessoria e formação política a movimentos populares e  a instituições educativas, com ênfase no trabalho de base com jovens, mulheres, negros…), o encontro teve como objetivo aprofundar o conceito da Educação Popular como Formação Política frente ao atual contexto a partir  das experiências formativas dos participantes,  articular as lutas de resistência e organizar uma campanha de defesa do legado de Paulo Freire fundamento teórico para as estratégias de luta e de resistência e das práticas de formação política com base na educação popular.

    A vivência em grupos possibilitou conhecer a riqueza de práticas ao mesmo tempo em que apontou desafios de toda ordem para fazer frente ao contexto de discriminação, exclusão, aprofundamento das desigualdades e das políticas neoliberais, perda de direitos, retrocessos de conquistas sociais, perda de direitos e das garantias democráticas, dilapidação de nossas riquezas, da soberania nacional e desmonte do Estado. Acresce-se ainda um questionamento dos valores incutidos com o aprofundamento das políticas neoliberais que reforçam o individualismo, o consumismo, a meritocracia individual, a despolitização da vida e descrédito das instituições, a banalização da violência e disseminação do ódio de classe, gênero, raça, em substituição a valores humanos de respeito e de solidariedade ao diferente.

    Múltiplos foram os desafios e práticas de resistência e de educação popular entendida como processo de produção de conhecimento que se dá através da ação, da escuta e do diálogo, da reflexão e da constatação do modo de dominação que produz despolitização. É preciso escutar e fortalecer as lutas das juventudes, a luta anticapitalista no enfrentamento das discriminações de gênero, etnia e raça; descolonizar o pensamento, reinventar a comunicação e linguagens, incentivar e fortalecer as manifestações culturais que se constituem na expressão das identidades. Realizar ações de base nos territórios onde se constroem redes e identidades, enfim preparar, ocupar e transformar; transformar discursos em ações; fortalecer as lutas de grupos de excluídos; articular politicamente as lutas de resistência e os movimentos sociais.

    Pedro Pontual, educador popular e um dos coordenadores do evento, ressaltou a diversidade de processos e práticas de educação popular as quais devem se referenciar no contexto socioeconômico, político, cultural, ambiental em que estamos vivendo de aprofundamento das políticas neoliberais e conservadoras. Além dos aspectos já apontados, o Estado criminaliza os movimentos sociais e de protesto e boicota todas as formas de participação social da população menos favorecida e dos segmentos marginalizados. Vivemos um momento na América Latina de crise multifacetada, decorrente de golpes em vários países: crise da democracia liberal e das instituições políticas. Polarização política das sociedades, em que as forças da direita e da extrema direita aliadas à forte ação da mídia tentam desmontar e desacreditar as alternativas progressistas com o objetivo de aprofundar a hegemonização capitalista, patriarcal, racista; incutir na subjetividade das pessoas valores consumistas e individualistas; implantar a cultura do ódio de classe de várias formas violentas: homofobia, tendências religiosas fundamentalistas.

    Em contrapartida, ressaltou diversas práticas de resistência em espaços nacionais e internacionais, em busca de ações emancipatórias, novos paradigmas de interpretação da realidade, de construção de nossas utopias. Desafio central das lutas de resistência, da luta por direitos é apontar para a construção de uma nova sociedade.

    Pedro Pontual destacou 12 pontos que se constituem em desafios para a formação política:

    • Como sair da bolha? Dialogar com o outro com práticas respeitosas, trabalho de base nos territórios, com atitude ativa, de escuta e de experimentação;
    • Incentivar as formas de ativismo social, desobedecer e ampliar o reconhecimento de práticas existentes libertadoras assim como valorizar novas práticas emergentes. Superar o medo, recuperar o sentido do coletivo e de comunidade, ação política exercida com alegria;
    • Cultura como eixo de articulação das práticas de resistência, a cultura como manifestação e afirmação da sabedoria popular, mobilizar pessoas com o exercício da criatividade e da liberdade, criar círculos de cultura, incentivar rodas de conversa;
    • Economia solidária, como uma nova maneira de pensar a produção e o trabalho humano;
    • Papel central e protagonista das juventudes nas práticas de formação política e nas novas formas de exercício político;
    • Em contraposição à pedagogia capitalista, a pedagogia feminista, anti-racista e libertadora, desconstruir o modo de pensar colonial no continente latino americano;
    • Novas formas de democracia, reinventar a democracia participativa, direta e representativa; incentivar canais institucionais de participação e controle social das políticas públicas (atenção á campanha atual “O Brasil precisa de Conselhos” e a Plataforma dos movimentos Sociais pela reforma política);
    • Re-significar as políticas e programas sociais, face ao desmonte das políticas públicas, educação política e educação para a cidadania, na concepção de direitos, universalidade no atendimento às diversidades e de proteção social.
    • Resgatar os direitos humanos na sua dimensão integral e as diversas formas e instâncias de participação social;
    • Enfrentar a batalha das redes sociais hegemonizadas pelas elites conservadoras, contra fake news e informações incorretas e maldosas;
    • Pedagogia ecológica de respeito à natureza e ao planeta, obrigações humanas, sentido coletivo e de sustentabilidade ecológica;
    • Religião e política, como desenvolver práticas inter-religiosas e enfrentar os diversos tipos de fundamentalismos que se constituíram em estratégia política da direita para intervir nas subjetividades;

    Fechando o encontro o CEAAL e a Ação Educativa, organizadores do evento reforçaram a importância do engajamento dos participantes na Campanha Latino Americana e Caribenha em defesa do legado de Paulo Freire.

    O engajamento dos participantes na Campanha deverá se centrar em torno de questões fundamentais:

    • lutar por bandeiras que ele sempre apoiou como liberdade de pensamento, autonomia do sujeito, democracia plena e respeito às diversidades.

    • lutar para que suas idéias não sejam descaracterizadas e pela preservação, ampliação e divulgação de seu legado;

    • apoiar o reconhecimento internacional de sua obra obtido ao longo das últimas décadas. No Brasil, lutar pela manutenção do título de Patrono da Educação Brasileira, concedido a Paulo Freire por meio da Lei no. 12.612/2012, que os setores obscurantistas do governo e da sociedade tentam revogar.

    Participantes de Belém do Pará ao Rio Grande do Sul, das periferias de São Paulo para o interior do estado, militantes de várias áreas saímos energizados com a riqueza desse encontro e com nova disposição de luta.

    Nosso norte da formação política calcada nos fundamentos metodológicos e na concepção de libertação dos oprimidos segundo Paulo Freire, fortificou-se. Saímos com garra e determinação para multiplicar resistências e semear esperanças na construção de uma nova utopia, como na música de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós:

    “Quando o muro separa uma ponte une
    Se a vingança encara o remorso pune
    Você vem me agarra, alguém vem me solta
    Você vai na marra, ela um dia volta

    E se a força é tua ela um dia é nossa
    Olha o muro, olha a ponte, olhe o dia de ontem chegando
    Que medo você tem de nós, olha aí…

    Você corta um verso, eu escrevo outro
    Você me prende vivo, eu escapo morto

    De repente olha eu de novo

    Perturbando a paz, exigindo troco…”

  • Evangélica deixa o país por sofrer ameaças

    Evangélica deixa o país por sofrer ameaças

    “Perdi o direito! Perdi o direito de viver no meu próprio país! Quem defende a laicidade do Estado, é massacrado por um Estado que não é laico. Perdi o direito de viver com minha família e meus amigos, de levar meu trabalho adiante. Perdi o direito de viver minha vida como a vivo hoje. Perdi esse direito porque o fundamentalismo que governa o Brasil hoje assassina qualquer profeta que denuncie o pecado das grandes lideranças.”

    O desabafo é da carioca Camila Montovani da Silva e foi postado nesta sexta-feira, 26, em sua página no Facebook. É mais uma brasileira do Estado do Rio a deixar o país em consequência das perseguições e ameaças que vem sofrendo, neste caso, de fundamentalistas. A jovem é perseguida por prestar solidariedade e apoio pastoral a mulheres evangélicas que sofrem violência doméstica. Recentemente, o deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ) e a ex-candidata ao governo do Rio de Janeiro pelo PT, a filósofa Márcia Tiburi, também tiveram de deixar o país por causa de perseguições e ameaças. 

    “Perdi meus direitos porque um Brasil governado por evangélicos é um Brasil anti povo, anti direitos, anti pluralidade que é tão importante pra assegurar a democracia! Estou indo embora do país em exílio depois de esgotar todas as minhas possibilidades de ficar aqui e permanecer viva. Lutei o quanto pude pra não ter que sair, mas me colocaram no limite. Estou indo porque quero viver e quero viver porque quero continuar a construção de um outro mundo. Estou indo porque quero deixar minha família e meus amigos seguros. Estou indo, mas continuo a denúncia da barbárie que esse país se tornou sendo um país tão evangélico! Sigo na luta, porque a despeito da igreja hegemônica que persegue e mata quem ousa contrariá-la, eu tenho comigo a força do Nazareno, do Deus que encarnou preto e pobre, do Deus que valorizava as mulheres. Eu sigo com Jesus Cristo, apregoando o Reino de Deus, mesmo que isso me custe a Cruz!
    Me tiraram tudo. Mas o sorriso de quem tem paz no coração fica!

    Aqui ou em qualquer lugar eu sigo pela vida das mulheres, pelo respeito à diversidade, pela garantia da democracia, contra o fundamentalismo religioso!
    Da Luta, não me retiro!”, conclui Camila em seu desabafo de despedida.

    Solidariedade

    Além do apoio manifestado por muitos de seus 4.979 amigos e amigas de Facebook, Camila recebeu também a solidariedade  do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC).

     

    Nota de Solidariedade a Camila Montovani e seus familiares

    “Felizes as pessoas que promovem a paz,
    porque serão chamadas filhas de Deus” (Mt5.9)

    O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) e o Fórum Ecumênico ACT Brasil (FEACT) expressam irrestrita solidariedade a Camila Montovani e seus familiares.

    Uma das atuações de Camila, uma jovem evangélica, é prestar solidariedade e apoio pastoral a mulheres evangélicas que sofrem violência doméstica e não conseguem romper com este ciclo porque são orientadas por lideranças religiosas de que “a mulher cristã deve ser submissa a seu marido”.

    Lembramos que nas histórias do Antigo Testamento bíblico muitas mulheres ousaram desafiar o sistema opressor, entre elas, Vasti, que não se submeteu ao rei Assuero (Est 1.1-22).

    Há bastante tempo, o protagonismo de Camila tem provocado a raiva de líderes religiosos evangélicos fundamentalistas. Hoje, a raiva tornou-se ódio.

    As ameaças se tornaram graves. Sua casa e seus familiares passaram a ser vigiados e Camila ficou sem lugar fixo para morar. Foi obrigada a mudar a rotina. A gravidade das ameaças obrigou Camila a sair do país.

    O CONIC e o FEACT colocam-se ao lado de Camila e de seus familiares. Denunciam que outras pessoas evangélicas, engajadas em movimentos de promoção e defesa dos direitos humanos, estão sofrendo ameaças semelhantes.

    A perseguição vivida por estas pessoas é consequência da instrumentalização da fé cristã para legitimar práticas de violência e discursos de ódio. O fundamentalismo religioso não aceita o pluralismo e nem a crítica à religião – mesmo que ela cause algum tipo de opressão ou violência.

    A fé cristã não pode ser instrumentalizada para subjugar as pessoas, nem para dominar territórios, impondo medo às pessoas. A fé cristã não pode ser associada com armas e nem com o crime organizado.

    A fé evangélica não é violência. Não está fundamentada no exclusivismo e nem no autoritarismo. Ela se orienta pela graça amorosa de Deus e pela liberdade. É este o testemunho das muitas tradições evangélicas no país. Não aceitaremos que nossa tradição de fé seja instrumentalizada para a promoção do ódio, do racismo, do sexismo e outras formas de dominação e violência.

    Que a paz de Jesus Cristo, seu testemunho radical de vida, contrário a todo o poder opressor estatal e religioso nos oriente e fortaleça.

  • Missa de Domingo de Ramos, vira ato pelas vítimas da favela do Cimento

    Missa de Domingo de Ramos, vira ato pelas vítimas da favela do Cimento

    Domingo, 14 de abril de 2019, o Padre Julio Lancellotti junto com representantes da Comunidade do Cimento, de Movimentos de Moradia, e do Movimento de Povo de Rua, fizeram uma caminhada da Capela São Miguel à capela da faculdade São Judas Tadeu, onde foi feita uma missa do Domingo de Ramos, em homenagem aos moradores da favela do Cimento, que foram vitimas de um incêndio, poucas horas antes da reintegração de posse do terreno da favela, no dia 23/03.

    Algumas famílias, sem ter para onde ir, alojaram-se em um galpão na Rua do Hipódromo, o ato também chama atenção para a data determinada para reintegração de posse do galpão ocupado, no dia 23/04, um mês após o incêndio que matou um homem e que dificultou a vida já sofrida de dezenas de famílias.

     

     

    A Comunidade do Cimento estava instalada às margens da Avenida Radial Leste, no entorno e abaixo do Viaduto Bresser, até a Avenida Pires do Rio, na Móoca, abrigava cerca de 215 famílias. O Incêndio ocorreu de maneira “misteriosa”, depois da chegada da GCM, CLIQUE AQUI para saber mais.

     

    O ato continuou até a favela do Cimento onde foi plantada um árvore em homenagem ao morador que morreu em decorrência das queimaduras em 70% do seu corpo.

    O ato foi chamado de Árvore da Resistência Popular – Comunidade do Cimento, e teve também o apoio do grupo Muda Móoca e de representantes das Igrejas Batistas da região.

    Aqui imagens do incêndio que atingiu a favela do Cimento:

    https://www.youtube.com/watch?