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Categoria: Saúde

  • Paulo Marinho comprova que o Brasil está nas mãos de um facínora: Jair Bolsonaro

    Paulo Marinho comprova que o Brasil está nas mãos de um facínora: Jair Bolsonaro

     

    Por Ricardo Melo*

    Paulo Marinho entrega os podres de Jair Bolsonaro: ex-melhores amigos
    Paulo Marinho entrega os podres de Jair Bolsonaro: ex-melhores amigos

    As revelações do “empresário” Paulo Marinho na “Folha de S.Paulo” deste domingo (17/5) só confirmam o que se suspeitava desde janeiro de 2019. Na cadeira de presidente do Brasil está sentado um facínora que manipula as instituições para acobertar os crimes de sua família.

    Paulo Marinho não é qualquer um. Quem trafega pela política carioca conhece sua fama de trambiqueiro profissional. Como profissional do ofício, tornou-se homem de confiança da família Bolsonaro.

    Cedeu sua própria casa para ser QG da campanha do “Mito”. Lá foram gravados os vídeos publicitários do candidato. Para quem não sabe, Paulo Marinho manteve por 12 anos uma união estável com a atriz Maitê Proença, e concordou em nunca registrar a união no papel. Motivo? Impedir que Proença deixasse de receber a pensão que o Governo do Estado de São Paulo lhe paga mensalmente por ser filha “solteira” do procurador de Justiça Eduardo Gallo, morto em 1989. O episódio esclarece um pouco o caráter das duas “personalidades”.

    Esclarece também que a Polícia Federal está longe de ser uma “instituição” autônoma, independente e a “serviço do Estado”. Nada disso. O episódio comprova que a PF estava a serviço do Capitão que foi expulso do Exército ainda antes de sua eleição. A questão era só saber qual o serviço a fazer.

    Só para lembrar: durante a campanha do impeachment, a repórter Julia Duailibi, à época no Estadão e hoje na Globonews, revelou trocas de mensagens entre agentes e delegados do órgão ofendendo Lula e Dilma com palavras de baixo calão e cobrando atitudes contra ambos. O Google está aí para provar. Basta clicar AQUI.

    O fato é que o Brasil está à deriva diante de uma pandemia devastadora, tendo no “comando” um homicida patológico. “E daí?” E daí que os corpos vão sendo enterrados numa velocidade alucinante.

    Chega a ser trágico o debate que se trava hoje no país. “Temos que pensar no pós-pandemia. Muitos vão morrer, o problema é achatar a curva”. Que diabos é isto? Como assim, muitos vão morrer? Não, não é isso, pelo menos para quem não pensa apenas em lucros e dividendos.

    Para quem ainda tem algum sentimento humanitário, a questão é outra: como evitar as mortes dos que estão vivos? Que medidas tomar para impedir que os pobres sejam massacrados por uma pandemia importada por comitivas presidenciais, turistas de luxo, “gente cheirosa”. Como impedir que a Covid-19 extermine gente humilde que não tem como se defender?

    Sobre isso, um silêncio ensurdecedor. Os números mostram que moradores dos bairros mais humildes e desassistidos são as principais vítimas do coronavírus. Os ricos, o 1%, sempre encontram um respirador à disposição nos hospitais privados. Chegam a fretar aviões no Norte-Nordeste para levar seus doentes para serem tratados no Einstein ou no Sírio-Libanês. O “resto”, a maioria, morre sufocada no desespero da falta de ar, em filas quilométricas.

    É uma vergonha mundial assistir às imagens de multidões aglomeradas em busca de um “auxílio” de R$ 600,00, sujeitas ao contágio implacável de uma doença que não se sabe como curar. “Ah, mas eles poderiam usar a internet”. Cínicos. Primeiro, a internet só funciona quando o “sistema” está no ar. Ou seja, quase nunca. Depois, quantos brasileiros têm acesso ao sistema?

    Qual a solução? Difícil saber, mas sempre haverá. Porém, é fácil saber qual não é.

    Sob este governo, o povo está sendo conduzido ao abate. Bolsonaro e sua gangue estão determinados a sacrificar a vida de milhares de brasileiros em favor de sua quadrilha de milicianos, fardados ou não. Cada dia que este governo permanece no poder custa ao país de 800 a mil mortes. Sem contar a subnotificação. Faça as contas.

    *Ricardo Melo, jornalista, foi editor-executivo do Diário de S. Paulo, chefe de redação do Jornal da Tarde (quando ganhou o Prêmio Esso de criação gráfica) e editor da revista Brasil Investe do jornal Valor Econômico, além de repórter especial da Revista Exame e colunista do jornal Folha de S. Paulo. Na televisão, trabalhou como chefe de redação do SBT e como diretor-executivo do Jornal da Band (Rede Bandeirantes) e editor-chefe do Jornal da Globo (Rede Globo). Presidiu a EBC por indicação da presidenta Dilma Rousseff.

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    BALANÇO E PERSPECTIVAS: 2019 FOI RUIM? PREPARE-SE PARA 2020

    LULA ESTÁ SOLTO, MAS AINDA NÃO LIVRE

     

  • Bolsonaro deve deixar Saúde com Pazuello, que confunde homens com cavalos

    Bolsonaro deve deixar Saúde com Pazuello, que confunde homens com cavalos

    Por Dacio Malta*

    O general Eduardo Pazuello chegou ao ministério da Saúde usando o instrumento que melhor sabe manejar: um paraquedas.

    O médico bolsonarista Nelson Teich assumiu sua pasta tonto e, 28 dias depois, estava atordoado.

    Sem força e sem equipe, aceitou o general para ocupar a secretaria geral e, em menos de uma semana, foi engolido por mais 30 militares gulosos que ocuparam todas as chefias do ministério.

    O presidente começou a fritar Teich na terceira semana, torcendo para que ele pedisse o boné.

    Se tivéssemos um governo minimamente competente e previsível, o substituto seria nomeado na mesma tarde.

    Mas o que fazer?

    Educação e Saúde são os dois ministérios mais cobiçados pelos políticos, quanto mais em meio a uma negociação como a que existe no momento,  com o bloco mais fisiológico da Câmara – o chamado Centrão.

    Mas nem eles querem o rabo de foguete.

    Recusaram o convite e sugeriram que o general cumpra um mandato tampão, até que acabe a crise da pandemia.

    Já os generais do Planalto, torcem para que a pasta seja entregue a um civil, pois não desejam ver os milhares de mortos, que ainda vem por aí, caírem no colo de um militar. Certamente mais de 90% dos médicos votaram em Bolsonaro e, pelo menos até a “gripezinha”, esse índice não havia diminuído.

    Mas quem tem um currículo a preservar não vai jogá-lo no lixo só para agradar um capitão maluco, despreparado, tosco, ignorante, mal educado e criador de caso – que nem o Exército quis preservar em suas fileiras.

    Currrículo de Pazuello, no site do ministério: nada a ver com a Saúde
    Pazuello no site do ministério: nada a ver com Saúde

    Em meio à tragédia sanitária, econômica e política que nos aflige, Bolsonaro deve acabar optando mesmo por Pazuello, o paraquedista que tem gravado em sua ficha funcional o fato de ter colocado um soldado, no lugar de um cavalo, para puxar uma carroça – forma de punir um indisciplinado.

    Pazuello, como militar obediente, será agora o cavalo que puxará a carroça do capitão.

    O general, caso efetivado, chegará fraco, pois ficará claro que, depois de várias sondagens, o presidente não encontrou um nome que aceitasse o desafio. Por isso sua nomeação.

    A Wikipédia ensina que ordem unida “é uma formação habitual dos componentes de uma tropa”, que aceitam os comandos “dados pelo oficial, graduado ou o mais antigo presente à frente do grupo, em tom firme, enérgico e que inspire respeito à figura da autoridade presente”.

    Em termos práticos, a ordem unida serve para mostrar quem manda.

    É também a forma mais eficaz de ensinar os subordinados a respeitarem seus superiores.

    Na ordem unida não existe discussão.

    Aos poucos, o capitão vai disseminando o que aprendeu em seus primeiro dias de AMAN, a Academia Militar das Agulhas Negras.

    E Pazuello, que chegou como número 2, assim continuará.

    O ministro de verdade será Jair Bolsonaro.

    O aspecto positivo é que, nessa condição, o presidente não poderá mais recusar a função que vem desempenhando, com enorme afinco, desde meados de março: o de coveiro da nação.

     

    *Dacio Malta trabalhou nos três principais jornais do Rio – O Globo, Jornal do Brasil e O Dia – e na revista Veja.

     

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    Teste do Covid-19 de Bolsonaro é fake

  • Editorial – O “adulto na sala” ou ensaio para uma nova ditadura?

    Editorial – O “adulto na sala” ou ensaio para uma nova ditadura?

    O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, publicou na edição de ontem do jornal O Estado de S. Paulo um artigo de opinião intitulado Limites e Responsabilidades. No texto, o vice-presidente, que diversos setores da sociedade tentam vender como o “adulto na sala” e a opção “moderada” contra o governo de destruição nacional de Jair Bolsonaro, demonstra claramente não entender NADA sobre limites e responsabilidades. Ele ultrapassa todos os limites do cargo ao ameaçar, novamente, a imprensa, o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional, os governadores dos estados que não estão alinhados incondicionalmente ao genocida que ocupa a presidência e até mesmo o direito de expressão individual de ex-presidentes da República. Portanto, Mourão não atenta à responsabilidade do cargo que possui atualmente e mata qualquer esperança de que numa eventual presidência pós-impeachment assumirá qualquer responsabilidade sobre os atos de Bolsonaro, a quem ajudou a eleger, sobre o apoio que segue dando ao genocida, ou mesmo sobre o papel fundamental de um governante que é unir a nação para resolver os problemas do povo.

    Ele ataca, mais uma vez, o jornalismo de modo geral ao dizer que “A imprensa, a grande instituição da opinião, precisa rever seus procedimentos nesta calamidade que vivemos. Opiniões distintas, contrárias e favoráveis ao governo, tanto sobre o isolamento como a retomada da economia, enfim, sobre o enfrentamento da crise, devem ter o mesmo espaço nos principais veículos de comunicação. Sem isso teremos descrédito e reação, deteriorando-se o ambiente de convivência e tolerância que deve vigorar numa democracia.” 

    Não, general, opiniões distintas NÃO devem ter o mesmo espaço quando se lida com vidas. Os jornalistas temos a responsabilidade de separar o que é fato, o que é opinião baseada em fatos e na ciência e o que é “achismo” ou declarações oportunistas de canalhas que querem se beneficiar do caos institucional sem se preocupar com as montanhas de cidadãos mortos. Se há intolerância na sociedade hoje, mais do que da imprensa a responsabilidade é de quem diz que os esquerdistas devem ser fuzilados e que torturadores assassinos são heróis, como fez o seu chefe e o senhor.

    As únicas frases corretas do texto estão no primeiro parágrafo: “Nenhum país do mundo vem causando tanto mal a si mesmo como o Brasil. Um estrago institucional, que agora atingiu as raias da insensatez, está levando o País ao caos”. No entanto, Mourão exclui do rol de limites e responsabilidades TODAS as ações do governo federal e joga sobre outros ombros a culpa pelo caos que vivemos, com perto de mil mortes diárias pela Covid-19 em números oficiais. Aliás, assim como seu ainda chefe, o general não fez qualquer referência no artigo ao sofrimento de milhares de famílias que perderam seus entes queridos, no dia em que o país somou oficialmente mais de 14 mil mortes. O tópico não faz parte dos quatro elencados por Mourão, mas e daí, né? Contudo, também a exemplo do chefe, o militar aproveitou o cargo no governo para dar o filé mignon ao filho, que foi promovido duas vezes no Banco do Brasil para ganhar mais de 36 mil reais.

    O estrago institucional em que estamos é consequência direta do golpe parlamentar/judiciário/midiático que tirou ilegalmente a presidenta Dilma Roussef do cargo. Quando um juiz de primeira instância grava e divulga ilegalmente uma conversa da presidenta e não é exonerado, há um enorme estrago institucional. Quando um ministro do STF impede que a presidenta escolha livremente um ministro da Casa Civil para se articular politicamente e impedir o impeachment, o golpe na institucionalidade é ainda maior. Quando um deputado federal vota pelo impeachment homenageando no Congresso um assassino e torturador e não sai de lá preso, a institucionalidade está ferida de morte. Quando um ex-presidente é condenado sem provas por “atos indeterminados” impedindo sua candidatura, rasgando até decisões em contrário da ONU e o ex-juiz responsável por isso vira ministro da justiça do candidato que beneficiou ilegalmente, é o fim da institucionalidade. Tudo o que temos hoje é fachada, é verniz, é disputa do butim. E os Jornalistas Livres avisaram disso em 2016.

    Mas, como disse o vice escolhido por ter feito em 2017 defesa enfática da ditadura de 1964 a 1985 e de uma intervenção militar, ainda “Há tempo para reverter o desastre. Basta que se respeitem os limites e as responsabilidades das autoridades constituídas” . Neste momento é passada a hora das autoridades constituídas assumirem suas responsabilidades dentro de seus limites. O Tribunal Superior Eleitoral, por exemplo, deve julgar urgentemente as eleições de 2018 e cassar a chapa eleita (Bolsonaro E Mourão) por caixa-dois e uso massivo de fake news como fartamente provado pela imprensa. O Supremo Tribunal Federal deve urgentemente votar a suspeição de Sergio Moro como juiz nos casos envolvendo Lula e anular a condenação do ex-presidente, como é consenso no mundo jurídico sério. O presidente do Congresso, Rodrigo Maia, deve escolher o quanto antes um dos mais de 30 pedidos de impeachment contra Bolsonaro e colocar em votação, já que não faltam crimes de responsabilidade provados. E mais, votar também a proposta de lei que exige novas eleições em 90 dias no caso de impeachment. Afinal, o país só poderá retornar à normalidade democrática quando de fato houver eleições limpas, com debates sobre projetos de governo e a presença de todos os principais candidatos dos partidos.

     

    Foto: www.mediaquatro.com
  • Teste do Covid-19 de Bolsonaro é fake

    Teste do Covid-19 de Bolsonaro é fake

    Por Dacio Malta*

    A presidência da República apresentou, finalmente, ao STF, o resultado dos testes do Covid 19 realizados por Bolsonaro.

    Nos três exames o resultado deu negativo.

    Mas a confiabilidade desses documentos enviados ao Supremo é próximo de zero.

    O capitão fez os juízes de tolos e estes se fingiram de bobos.

    Bolsonaro usou nome falso, mas informou corretamente seu RG e o CPF.

    Se a coleta para o teste fosse feita por um funcionário do laboratório, certamente o técnico veria que se tratava do Presidente da República, e não de Fulano ou de Beltrano. Mas o material foi colhido em um hospital militar.

    Bolsonaro viajou para os Estados Unidos no dia 7 de março, com uma comitiva de cerca de 30 pessoas.

    Dessas, 23 contraíram a doença, com exceção dele – quem sabe devido ao seu “histórico de atleta” que lhe assegurava apenas ter “uma gripezinha ou resfriadinho”.

    No dia 12 de março, seu secretário de Comunicação Social, Fabio Wanjgarten, comunicou que estava com o vírus e entrou em quarentena.

    Nessa data, Bolsonaro fez o seu primeiro teste, sob o nome “Airton Guedes”.

    Exame do dia 12 de março
    Exame fake do dia 12 de março

    No dia 18 de março, o general Augusto Heleno também testou positivo.

    Bolsonaro tinha realizado seu segundo teste no dia anterior (17), e repetiu-o nesta data, agora sob o nome “Rafael Augusto Alves da Costa Ferraz”.

    Exame do dia 17 de março
    Exame fake do dia 17 de março

    Os dois primeiros foram realizados pelo Laboratório Sabin, e o terceiro na Fiocruz, este sob o nome “Paciente 05”.
    Estranhamente, o laudo da Fiocruz embora esteja datado no dia 19 de março, só foi entregue a presidência no dia 6 de maio – ou seja 48 dias após a sua realização.

     

    Exame do dia 19 de março
    Exame fake do dia 19 de março

    Os três laudos apresentados referem-se a um teste PCR, que indica apenas se o paciente está com o vírus no exato momento do exame. É como se fosse uma fotografia.

    Não é plausível que, até hoje, o serviço médico da Presidência não tenha solicitado um teste IgM e IgG de Bolsonaro.

    Para esse teste, colhe-se sangue e o resultado sai em dois dias.

    O exame determina se o paciente tem ou teve contato com o vírus, e se já adquiriu anticorpos.

    Durante dois meses, enquanto durou o mistério de seus testes, especulava-se que o presidente já havia adquirido anticorpos e, por isso, estava sempre em contato direto com seus adeptos.

    Mas. se os testes enviados ao Supremo fossem verdadeiros, sua saúde correria perigo nesses contatos públicos.

    Afinal, o presidente da República necessita que não só sua segurança, mas também sua saúde, sejam preservados.

    Muitos diziam que as aparições do presidente contrariavam as recomendações do ministério da Saúde.

    Mas o curioso é que nunca houve manifestação do serviço médico da presidência sobre essas exposições.

    Enquanto Bolsonaro não apresentar a nação o resultado do IgG e IgM – testes que certamente já foram realizados – a dúvida sobre sua contaminação ou não pela Covid permanecerá.

    O que Bolsonaro mostrou ao Supremo é fake.

    É da sua natureza.

     

    *Dacio Malta trabalhou nos três principais jornais do Rio – O Globo, Jornal do Brasil e O Dia – e na revista Veja.

  • Covid-19 e ação genocida do governo Bolsonaro podem matar 28 mil índios

    Covid-19 e ação genocida do governo Bolsonaro podem matar 28 mil índios

    Por Julio Zelic, especial para os Jornalistas Livres

     

    Vivemos em um tempo tenebroso. O presidente Jair Bolsonaro, sem nenhum peso na consciência, ataca abertamente os povos indígenas. Em janeiro de 2020, por exemplo, Bolsonaro disse durante uma live em suas redes sociais que “Com toda certeza, o índio mudou. Está evoluindo. Cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós” [2]. Em diversas outras ocasiões ao longo de sua carreira como deputado e, agora, como presidente, Bolsonaro proferiu discursos contra a demarcação de terras indígenas. Luiz Antonio Nabhan Garcia, secretário fundiário de Bolsonaro, disse, em novembro de 2019, que Hoje, o maior latifundiário do país é o índio [3] e, durante a pandemia, articulou uma instrução normativa com a FUNAI que facilita o roubo das terras indígenas.

    São tantas mentiras e imposturas racistas de Bolsonaro e seus aliados a respeito dos povos indígenas, que não é preciso pensar duas vezes antes de desconfiar de qualquer ação ou omissão do governo.

    A “gripezinha” como minimizou o Presidente, nesta quarta-feira (13/5), já ultrapassou as 12 mil mortes[4] em todo o País. O amparo do governo não é suficiente, e a economia, posta acima de tudo, está trazendo a sombra do medo e a morte para cima de todos.

     

    Para os povos indígenas, as consequências da pandemia se agravam ainda mais.

     

    A FUNAI (Fundação Nacional do Índio), hoje presidida pelo delegado da PF Marcelo Augusto Xavier da Silva, que atuou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da FUNAI, em 2016, como assessor da bancada ruralista, não está dando mínima assistência ou direito à saúde para os indígenas. Não atua para restringir o contato, para proteger a terra, para expulsar os garimpeiros ilegais que transmitem a doença para os índios. Quanto aos casos, hoje, conforme os dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), no site “quarentena indígena” já temos a presença do vírus em ao menos 34 aldeias. São 308 contaminados e 77 mortos[5]. Sem contar toda a subnotificação, sabidamente imensa, já que o Brasil é dos países que menos testes tem feito para a doença.

    É importante reparar que, se em 308 casos conhecidos da Covid-19 entre indígenas, registraram-se 77 óbitos, a probabilidade de o índio morrer ao apresentar sintomas é de 25%, enquanto, no Brasil como um todo, essa porcentagem está, hoje, em aproximadamente 7%. Temos portanto uma taxa de mortalidade entre os indígenas mais do que três vezes maior do que a taxa de mortalidade do País. Obviamente, essa situação reforçaria ainda mais a necessidade de ajuda, de tratamento, de EPI’s, de fiscalização. Mas o Estado está ausente, quando o assunto é salvar os povos indígenas de uma doença que não lhes pertence.

    É trágica a constatação de que esta pandemia ainda irá longe, e que muitos indígenas morrerão por omissão criminosa do governo e do órgão que lhes deveria proteger. Segundo o censo de 2010, temos 800 mil índios no Brasil. Se seguirmos a projeção do Bolsonaro, segundo a qual, 70% da população irá se contaminar, e levando em conta uma porcentagem de 80% de assintomáticos[6] (que ainda não sabemos como se aplica aos índios por não existirem pesquisas a respeito), teríamos 112 mil remanescentes dos Povos Originários apresentando sintomas que podem requerer atendimento hospitalar por apresentarem dificuldade respiratória. Desses, a prosseguir o alarmante índice de 25% de mortalidade, 28 mil perecerão até o fim da pandemia.

    Que isso não aconteça de novo em nosso país.

    "Cenário

    Vivemos em um tempo de medo e desestruturação no mundo inteiro, convivendo com uma pandemia que ameaça nossa existência e o modo de vida em sociedade. Esta sensação que temos agora já foi sentida pelos brancos há 100 anos, durante outra pandemia que ficou conhecida como Gripe Espanhola. Fato tão distante no tempo mostra quão extraordinário para a Sociedade Nacional é esse medo, essa angústia de adoecer, de ter a morte à espreita, essa incerteza sobre o amanhã de nossa gente.

    Porém, quando olhamos para os povos indígenas, para as culturas e as pessoas tornadas invisíveis pelo mundo do Capital e da especulação, a realidade é muito diferente: doenças e morte são um perigo constante.

    Ao ler diversos documentos históricos, arquivados no site Armazém Memória (aberto a todos), tive a oportunidade de perceber a luta que os povos indígenas travam para sobreviver em meio a uma sociedade que lhes fecha as portas da saúde e dos cuidados. Para além disso, pude encarar a perversão do Estado e da classe dominante quanto ao adoecimento nas aldeias: utilizam-se da fragilidade decorrente das doenças como ferramenta para tomar posse das terras, para expansão de latifúndios, para extração de minérios, para o desmatamento e comércio de madeira, para tudo que gere lucro independentemente das vidas que se perdem no meio dessa exploração desenfreada.

     

    Estado genocida

    Não podemos compreender as doenças que assolam os povos indígenas sem fazer paralelo com as ações do Estado brasileiro. Portanto, usaremos como referência os registros nos Anais do Congresso Nacional, que são documentos importantes para entendermos esta relação: Estado/Povos Indígenas/Epidemias.

    O primeiro ponto notável, antes mesmo de apresentar documentos, é o descaso dos deputados diante das questões indígenas. Podemos ver que a quantidade de discursos no Congresso sobre epidemia em povos indígenas, entre os anos de 1946 e 1996, ou seja, num intervalo de 50 anos, não atingiu a marca de 30, e muitos desses discursos apareceram apenas como uma citação no Dia do Índio, soando como um descarrego de má consciência, depois de terem ignorado as pautas indígenas durante o ano todo.

     

    "Funai liquidará com os índios" - Reprodução "Jornal do Brasil":
    Reprodução “Jornal do Brasil”

    O discurso do deputado Marcos Freire[7], em maio de 1972, apresenta acusações graves à FUNAI, que mesmo sendo um órgão do governo cuja função é ajudar os povos indígenas, tem sido, ao longo da história, incapaz, incompetente e inepta no cumprimento de seu papel. Marcos Freire, após as denúncias contra a FUNAI, anexa a seu discurso uma reportagem publicada no “Jornal do Brasil” a respeito da renúncia de Antônio Cotrim a seu cargo na Funai. Destacarei aqui alguns trechos da notícia:

     

    “Sertanista Antônio Cotrim abandona FUNAI para não ser um “coveiro de índios”

    (Antônio Cotrim) “Afirma que não pretende continuar sendo instrumento de um órgão que é um “blefe à opinião pública” nem colocar em prática uma política indígena errada, pois não procura conciliar os interesses de desenvolvimento da sociedade nacional com a proteção das sociedades primitivas.”(…)

    (…) Antônio Cotrim: “Quando estava entre os kubekrametis, em junho, foi avisado pela FUNAI que havia epidemia de gripe entre os jandeavis, transmitida durante a passagem pela aldeia da missão do Padre Antônio Carlos, da Prelazia do Xingu. Dos 76 índios, morreram 16.

    O sertanista pediu medicamentos à FUNAI, mas eles só chegaram 48 dias depois e em quantidade insuficiente. Essa falta de assistência acabou por revoltá-lo ao ponto de se decidir pela demissão em caráter irrevogável.”(…)

    (…) A morte de mais de 40 parakanãs, além de cegueira em oito, causadas por doenças venéreas transmitidas pelos próprios funcionários da fundação, é relacionada por ele como uma das razões que o está levando a se afastar do órgão.”

     

    A partir deste documento podemos perceber em primeiro lugar a falta de amparo da FUNAI aos povos indígenas. Além disso, vemos também, que nestes casos citados, como em muitos outros, foi o contato dos brancos com os índios que trouxe doenças. É importante ressaltar que as doenças chegam, mas os medicamentos não.

     

    Sobre o caso dos Parakanã, citado por Antônio Cotrim, temos ainda no discurso da deputada Lúcia Viveiros, em outubro de 1979[8], um anexo que prova a reincidência do erro descrito por Cotrim. Novamente representantes da FUNAI levando doença aos Parakanã. Toda repercussão do escândalo denunciado pelo sertanista não foi suficiente para a FUNAI rever sua conduta:

     

    “1976: Uma frente de atração da FUNAI efetua contato com o grupo de Parakanã, junto ao Rio Anapu nas proximidades de Altamira. A situação de saúde dos componentes da equipe de atração, logo antes do contato, era bastante precária (malária e gripe) sem alimentação adequada e apoio suficiente.

    A equipe não optou pelo retorno, como era de esperar, mas permaneceu até o encontro final.

    O resultado foi que, logo depois do encontro, 11 índios morreram de malária e a equipe voltou às pressas impondo aos índios uma transferência e contato violentos com a “civilização”, em condições completamente diferentes dos próprios padrões culturais.

    O grupo Parakanã do Lontra é transferido, pela 4.ª vez, para o atual aldeamento junto ao PI (Posto Indígena) da FUNAI chefiado nesta época por um enfermeiro. Além da mudança de aldeia, neste período várias transformações culturais são impostas ao grupo”

     

    Seguimos com a oportunidade que este documento nos traz de refletir sobre o quinto parágrafo do artigo 231 da Constituição[9]:

     

    “§ 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, “ad referendum” do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse o risco.”

     

    Esta lei é uma ferramenta que pode ser utilizada de forma positiva ou negativa, pois permite a remoção de povos indígenas de suas terras em casos de epidemia (entre outros casos descritos no parágrafo). Podemos pensar de maneira positiva quando a remoção dos índios de sua terra visa aos cuidados de sua saúde. Seguindo a lei, após cessados os riscos, os índios deveriam retornar imediatamente para sua terra. Porém, as eventuais boas intenções dos constituintes não impediram a malversação da lei, que se tornou então uma ferramenta a serviço da expulsão dos índios de seus territórios. Como vimos no caso dos Parakanã, o Estado leva a doença e em seguida tira de forma forçada o povo de sua aldeia, pouco se importando com a cultura e o sagrado que ficam na terra em que eles habitam. Ao longo da história, os Parakanã foram remanejados diversas vezes, sempre por conta de algum interesse capitalista. Não por coincidência, este povo tem sua história pontuada pela doença, peste e sofrimento.

     

    Em abril de 1979 o deputado Heitor Alencar Furtado proferiu um discurso muito forte[10], embasando, ainda mais, a denúncia ao Estado que fazemos neste texto.

     

    “Para desalojar tribos indígenas e tomar-lhes a terra, no processo de ocupação que se desenvolveu ao longo da História, o branco sempre se utilizou de métodos desumanos, na maioria das vezes com a conivência das autoridades governamentais. Conta o sertanista Villas-Boas que, no período de construção da Estrada de Ferro Noroeste, os índios durante a noite desmanchavam o que era feito durante o dia. Houve, então, quem sugerisse e, pior, quem pusesse em prática a violência numa de suas formas mais cruéis. Algumas camisas contaminadas com o vírus do tifo foram deixadas junto à estrada. Ocorreu então uma epidemia devastadora e milhares de índios morreram. Quem pagou, ou quem pagará por essas vidas? A quem responsabilizar por estes crimes, senão a uma administração falha e omissa?”

     

    Neste documento podemos ver que para além da incapacidade do governo de cuidar dos povos indígenas, o Estado é conivente com a violência do setor privado contra os povos, cujo objetivo é roubar as riquezas e as suas terras. Vemos também que as doenças foram utilizadas como ferramenta para fragilizar a luta indígena contra a grilagem de suas terras. De tal forma, doenças tornaram-se armas letais que se fingem como um infortúnio, uma fatalidade, mas que escancaram que o governo, além de omisso, é também cúmplice da maldade genocida dos capitalistas, pois não julga os crimes dos invasores e nem sequer presta socorro aos índios adoecidos.

    É preciso respeitar a Constituição e os direitos dos povos indígenas, garantir-lhes o direito à terra, cultura, saúde e à vida. É nosso dever participar da luta dos povos originários para devolver o que lhes pertence por direito inalienável.

     

    [1] Indígena em Manaus, durante pandemia de Covid-19 | Alex Pazuello/Prefeitura de Manaus

    https://www.socioambiental.org/pt-br/blog/blog-do-isa/direto-do-confinamento-salvem-os-indios

    [2]https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/01/24/cada-vez-mais-o-indio-e-um-ser-humano-igual-a-nos-diz-bolsonaro-em-transmissao-nas-redes-sociais.ghtml

     

    [3] https://exame.abril.com.br/brasil/hoje-o-maior-latifundiario-do-pais-e-o-indio-diz-secretario/

     

    [4] https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/05/12/casos-de-coronavirus-e-numero-de-mortes-no-brasil-em-12-de-maio.ghtml

    [5] https://quarentenaindigena.info/casos-indigenas/

    [6] https://coronavirus.saude.gov.br/sobre-a-doenca

    [7] para ver o discurso completo acesse o Centro de Referência Virtual Indígena: http://www.docvirt.com/docreader.net/DocIndio/120583

    [8] para ver o discurso completo acesse o Centro de Referência Virtual Indígena: http://www.docvirt.com/docreader.net/DocIndio/121005

    [9]Quadro histórico dos dispositivos Constitucionais – Artigo 231 CEDI – Câmara dos Deputados

    http://www.docvirt.com/docreader.net/LegIndio/1642

    [10] para ver o discurso completo acesse o Centro de Referência Virtual Indígena:

    http://www.docvirt.com/docreader.net/DocIndio/120963

     

     

    Leia mais sobre mortalidade de indígenas por Covid-19 em:

    Garimpo agrava os efeitos da Covid-19 entre os Povos Indígenas

  • Em Cuiabá, cruzes denunciam morte de enfermeir@s

    Em Cuiabá, cruzes denunciam morte de enfermeir@s

    A morte de cada profissional da enfermagem que atuava na linha de frente do combate ao coronavírus importa. Em menos de dois meses, o país já perdeu 98 profissionais, mais do que Espanha e Itália juntos. Não foi por acaso. Os governos neoliberais que promoveram sucessivos cortes de recursos, entre outras políticas voltadas à privatização da saúde pública são os grandes responsáveis por essas perdas. E essa é a denúncia de trabalhadores de Cuiabá organizados na Frente Popular em Defesa dos Serviços Públicos e de Solidariedade ao Enfrentamento da Covid-19 nessa terça-feira, 12/05, Dia Internacional da Enfermagem.

    Em abril, Mato Grosso também registrou a morte de um enfermeiro. Athaíde Celestino da Silva, de 63 anos, faleceu em decorrência da Covid-19 após 37 dias de internação. O 37 também marca os anos de dedicação do servidor à Saúde Pública. Segundo o Conselho Federal de Enfermagem (http://observatoriodaenfermagem.cofen.gov.br/ ), outros 106 profissionais da Enfermagem estão infectados no estado; no Brasil, já são cerca de 13 mil (acompanhe aqui a atualização do Confen).

    Como não poderia deixar de ser, o ato dessa terça-feira – em defesa da vida, do Sistema Único de Saúde (SUS) e em homenagem aos profissionais da Enfermagem – foi realizado sem aglomeração. Desde as 8h, na Prainha, próximo ao Morro da Luz, região central de Cuiabá, os transeuntes podem ver uma cruz e uma vela para cada um dos profissionais que morreram nessa guerra. Nos arredores também há faixas com reivindicações e sons reproduzidos mecanicamente.

    A ideia é chamar a atenção da população para o número de mortos no Brasil como efeito do descaso dos governantes de todas as esferas – federal, estadual e municipal –, representada pela falta de investimentos e, consequentemente, equipamentos de proteção.

    Por mais que os representantes brasileiros se preocupem em demonstrar esforços para conter a pandemia agora, o mundo percebe a diferença entre os países que investem na saúde pública e os que não investem. Nos extremos, a Alemanha aparece como exemplo pelo baixo número de mortalidade, e seu histórico de investimento na saúde pública; na outra ponta, os Estados Unidos da América (EUA), cujo sistema de saúde é limitado pelos interesses do mercado, é o triste líder do ranking de mortalidade.

    Nessa terça-feira, foi possível acompanhar o ato realizado em Cuiabá por meio de uma live, transmitida pela página oficial da Adufmat-Ssind e SINASEFE no facebook. Alguns poucos organizadores estiveram presentes no ato distribuindo 500 máscaras, o que já está sendo feito pelas entidades que compõem a Frente desde o início de abril.

    Foto: Sandra Duarte, Sinasefe e AAMOBEP

    Em entrevista ao repórter Khayo Riberiro, do HNT/HiperNotícias, a professora aposentada da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso, Rosa Lúcia, apontou que o movimento cobra urgência em ações que assistam aos profissionais expostos ao coronavírus no exercício de suas atividades.

    “Hoje é o Dia Internacional da Enfermagem e essa movimentação que está acontecendo é uma manifestação silenciosa, de luto pelo número de profissionais de saúde e mais especificamente de enfermagem que já tombaram no Brasil por conta da infecção da Covid-19. Até ontem tínhamos o número de 98 profissionais de enfermagem que tinham morrido”, apontou a professora, que faz parte da comissão organizadora do movimento.

    Na reportagem, o jornalista cita ainda uma fala do

    presidente do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), Manoel Neri, dizendo que o Brasil enfrenta hoje uma situação grave no que diz respeito à evolução da pandemia entre os profissionais da saúde.

    “A situação no Brasil é crítica. O Observatório da Enfermagem, criado pelo COFEN para monitorar a evolução da pandemia entre profissionais de Enfermagem, já registra mais de 13 mil casos e 100 óbitos associados à Covid-19. A maior parte desses profissionais integrava pelo menos um grupo de risco. É inadmissível que estivessem expostos na linha de frente, contrariando as diretrizes sanitárias indicadas pelo Ministério da Saúde”, apontou Neri.

    Foto: Sandra Duarte, Sinasefe e AAMOBEP