Jornalistas Livres

Categoria: Golpe

  • Que países negaram passagem ao avião de Evo Morales?

    Que países negaram passagem ao avião de Evo Morales?

    Do Página12

    A aeronave da Força Aérea mexicana teve que mudar a rota que estava prevista. As complicações surgiram porque houve países que tinham autorizado o sobrevôo de seus territórios e depois mudaram de idéia, proibindo a passagem

     

    O chanceler mexicano Marcelo Ebrard detalhou o complicado trajeto que o ex-mandatário boliviano teve de percorrer para viajar da Bolívia ao México. As complicações surgiram, sobretudo, pela intempestiva proibição de sobrevoos sobre seus territórios, por parte de alguns países latino-americanos tinham se comprometido a ajudá-lo.

    A difícil negociação para fazer a viagem de Evo
    A difícil negociação para fazer a viagem de Evo

    “A rota que previmos para retornar incluía o regresso por Lima, depois do que sairíamos por águas internacionais até chegar ao México”, ressaltou o funcionário do governo de Andrés Manuel López Obrador, presidente mexicano. O problema ocorreu, segundo ele, quando o governo do Peru suspendeu sua permissão para que o avião pudesse descer em Lima para se abastecer e continuar sua rota. Alegou “avaliações políticas”. A alternativa foi o Equador, pelo qual tramitaram pedidos de permissão para aterrissagem breve ali. Mas, enquanto se realizavam essas tratativas, a viagem voltou a se prolongar, porque foi negada a passagem pelo espaço aéreo boliviano, momento em que a embaixadora mexicana na Bolívia, María Teresa Mercado, teve de  intervir. “Por um milimétrico espaço, aconteceu a saída”, apontou.

    Então, tiveram que tomar uma rota pelo espaço aéreo brasileiro, graças a que o embaixador do Brasil na Bolívia admitiu a sua entrada.

    “Conseguiram permissão para voar no espaço fronteiriço do Brasil e, dali, sair para o Peru”, relatou Ebrard. Com este último país também tiveram que negociar novamente para que pelo menos deixassem transitar por seu espaço aéreo. “Com as autorizações do Brasil, Peru e Equador, por fim o avião decolou”, relatou.

    Mas logo tiveram que enfrentar um novo obstáculo porque o governo do Equador, de Lenín Moreno, os impediu de sobrevoar seu espaço aéreo, e assim o avião teve de rodear o Equador para entrar em águas internacionais e poder continuar o vôo.

  • Golpe é Golpe e renúncia não é covardia

    Golpe é Golpe e renúncia não é covardia

    Ontem tivemos o texto de um importante historiador e intelectual de esquerda chamando de covardes Evo Morales e outros líderes históricos da esquerda e centro-esquerda que renunciaram a seus legítimos mandatos populares diante de pressões golpistas. É fato que depois ele escreveu um novo texto se reposicionando, mas ainda assim questionando “a quem foi útil?” a renúncia de Evo. Discordamos totalmente dessa linha de pensamento! E temos de levar em conta, ainda, que se trata de um novo tipo de golpe na América Latina ao contar, também, com forças milicianas e fanáticos fundamentalistas neopentecostais que acreditam num perversão total da mensagem cristã para justificar a tortura e morte de inimigos políticos, como se Cristo não tivesse sido torturado e morto por motivos políticos. A análise desse novo tipo de golpe, contudo, merece outro texto.

    Nas ruas de Assunção, havia a possibilidade de resistência – foto: www.mediaquatro.com

    Sobre a escolha de Evo, estivemos no Paraguai em 2012 e havia uma possibilidade real de resistência de Fernando Lugo perante o golpe disfarçado de impeachment relâmpago. No entanto, os telhados em volta da principal praça da cidade estavam repletos de militares armados. Naquele mesmo local houve um massacre num golpe anterior. Qualquer palavra errada dele levaria a um banho de sangue imediato. Em 1964 tínhamos uma frota de navios de guerra estadunidenses estacionada bem próximo do litoral. No Chile em 1972 o palácio do governo, La Moneda, foi efetivamente bombardeado e o presidente Salvador Allende se matou pra não ser torturado e humilhado em praça pública. Na Bolívia, além da prefeita quase linchada, temos notícia das casas de dois governadores, da irmã do Evo e do reitor da universidade incendiadas.

    Quanto sangue de civis desarmados vale a resistência de um governante? – foto: www.mediaquatro.com – Paraguai 2012

    Qual o preço, em sangue, merece ser pago pela resistência armada? Podemos até não concordar com a renúncia ao cargo, como aconteceu com Evo, ou à luta como aconteceu com Jango, mas NUNCA podemos chamá-los de covardes. Tem de ter coragem, e muita, para aceitar quando a batalha está perdida e não botar inutilmente pilhas de cadáveres em sua biografia.

    Veja Aqui nossa matéria sobre o golpe no Paraguai em 2012

    Veja Aqui o novo texto intelectual citado no primeiro parágrafo se reposicionando e Aqui o texto original, ambos em sua coluna no site Brasil247

  • O golpe na Bolívia é racista, religioso e ultraconservador e pode assanhar as milícias evangélicas no Brasil

    O golpe na Bolívia é racista, religioso e ultraconservador e pode assanhar as milícias evangélicas no Brasil

    Por Yuri Silva*, do Mídia 4P

    O golpe de Estado a que foi submetido o povo boliviano, por meio da pressão das Forças Armadas para que o presidente Evo Morales e seu alto escalão renunciasse ao governo, expõe o avanço acelerado das milícias religiosas conservadores na América Latina e o racismo delas contra os povos originários indígenas e os negros latinos.

    Qualquer paralelo com o momento vivido atualmente no Brasil, com ataques a templos de religiões de matriz africana e perseguição aos povos indígenas que vem tendo seus espaços de culto incendiados e seus direitos sociais vilipendiados, não é mera coincidência. Trata-se de uma ação articulada, e em violenta escalada, em todo o continente.

    As cenas que se sucederam no roteiro de consumação do golpe militar na Bolívia — que ainda está em curso até o momento em que ficará mais nítido quem será o ditador a ocupar o comando do país — apontam que o ódio aos povos andinos é o combustível que faz mover a deposição de Evo.

    Além da imagem aberrante do opositor Fernando Camacho, líder da extrema-direita, de joelhos defronte a uma bíblia dentro do Palácio de Governo, relatos e vídeos publicados ainda dão conta de atos de incêndio contra a bandeira Whipala, símbolo das nações originárias, os quíchuas e os aimarás, para os quais tal representação é a expressão do pensamento filosófico andino.

    O golpe, que tenta se justificar com base em ilações de fraudes no percentual da vantagem obtida por Morales no primeiro turno das eleições bolivianas, é edificado, contudo, nesse sentimento de fundamentalismo religioso, de destruição de tradições e de “conversão” de todo um povo.

    A ultradireita – que fortalece-se em todo mundo, vide o resultado das eleições espanholas deste final de semana com um crescimento enorme do ultraconservador Vox nas urnas – segue em marcha para dar respostas às recentes vitórias das forças de esquerda, como triunfo do kichnerismo e do lulismo na Argentina e no Brasil e a revolta do povo chileno nas ruas.

    As Forças Armadas da Bolívia, prontamente apoiadas pelo governo Bolsonaro e pelos generais que compõem as fileiras do bolsonarismo (atual instrumento de atuação da ultradireita brasileira), iniciaram logo cedo a perseguição aos governistas, com prisões, violência, saques e ameaças veladas. Também estão, até a finalização desse texto, em perseguição a Evo, que tenta chegar até o México para receber lá asilo político.

    Situação grave? Imaginemos, então, que o Brasil, possuidor das mesmas características de avanço do conservadorismo evangélico neopentecostal, e com a assunção a passos largos de um Estado miliciano, já tem tido que lidar com declarações dos filhos do presidente Jair Bolsonaro a favor de “um novo AI-5”.

    Os fatos que se desenrolam na vizinhança atestam que tais discursos não são desarticulados. E geram uma reflexão importante de se responder: O que será de nós caso a tendência que emerge de forma concreta da Bolívia consolide-se também por aqui?

    A aliança conservadora-religiosa-paramilitar já está formada e em atuação no Brasil, infestando a estrutura do Estado e vencendo algumas batalhas todos os dias.

    Sem mostrar-se com nitidez, e ainda às sombras do patrimonialismo que domina o Brasil, essa coalizão ultraconservadora já foi capaz de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, de destruir templos de candomblé e umbanda na Baixada Fluminense numa combinação igreja-tráfico, de incentivar a morte da população LGBTQI+, de pregar a catequização violenta dos povos indígenas em pleno ano de 2019, de defenestrar o direito dos quilombolas ao território, de apostar nas queimadas na Amazônia, por meio do qual ataca os povos tradicionais da floresta, entre outros golpes diários.

    Resta saber qual impacto o avanço de um grupo golpista de características idênticas na Bolívia terá sobre a nossa conjuntura política.

    Terão coragem de escancarar ainda mais a disposição que possuem para o golpismo, o autoritarismo e o genocídio? Sairão definitivamente do armário em que tentam se esconder mesmo com a porta entreaberta?

    É difícil saber, mas sem dúvida o incentivo à radicalização ultraconservadora nunca foi tão excitante para os cães que entram no cio ao menor sinal de coturnos por perto.

     

    *Yuri Silva é jornalista formado pelo Centro Universitário Jorge Amado – Unijorge, coordenador nacional do Coletivo de Entidades Negras (CEN) e membro do Conselho Editorial 4P. Foi repórter de Cidade, Política, Economia e outras editorias no jornal A Tarde durante quatro anos e meio, especializando-se na cobertura de temas relacionados à pauta negra e das religiões afro-brasileiras. Também trabalhou no jornal O Estado de S. Paulo, o Estadão, como correspondente na Bahia durante as eleições presidenciais e estaduais de 2018. Atualmente, atua como consultor na área de comunicação política, para meios digital e offline, além da paixão que mantém pela reportagem

  • JEAN WYLLYS: “Eu cuspi na cara dele por você, Dilma. Por nós”

    JEAN WYLLYS: “Eu cuspi na cara dele por você, Dilma. Por nós”

    Querida Dilma,

    Meu coração simultaneamente apertou e acelerou quando li a notícia de que um delegado da Polícia Federal, aliado do ministro da Justiça de Bolsonaro, Sergio Moro, pediu sua prisão.

    De imediato eu não pensei na explícita prática de lawfare que este pedido de prisão absurdo representa; não pensei na estratégia do canalha em criar, com este factóide, uma cortina de fumaça que impeça a maioria do povo brasileiro de ver a entrega do petróleo do pré-sal por parte do governo Bolsonaro (com apoio de plutocratas que apenas fingem se importar com o desapreço deste pela democracia); nem pensei nos ensaios de fechamento do regime que esses fascistas organizados em seitas religiosas e organizações criminosas fazem todo dia para testar os limites de uma nação agora adoecida por ter se recusado a trabalhar traumas como a escravatura e os terrorismos das ditaduras…

    Ao ler a notícia, eu só pensei em você, minha amiga. Primeiro, naquela senhora que me abraçou demorado – seu cheiro bom, aquele cheiro de afeto que os filhos identificam em mães amorosas, ainda está está na minha lembrança como se eu tivesse acabado de lhe abraçar – naquele restaurante japonês em Copacabana, onde jantamos em companhia do historiador americano James Green. Aquela senhora que me aconselhou a sair do país por reconhecer que eu realmente estava correndo risco de morte. Aquela senhora que, num dado momento da conversa, chamou-me de “meu filho”…

    Em seguida, lembrei-me de que aquela senhora amorosa é também a estudante da foto histórica em que, após dias sob tortura por parte de covardes idolatrados hoje pelos igualmente covardes que pediram sua prisão, você encara altiva seus torturadores, imorais que escondem suas caras na esperança de escapar do julgamento da história e da infâmia que a maldade joga sobre sua (deles) descendência…

    Só depois dessa reação afetiva; dessa preocupação com a pessoa (que é avó e ama sua família); só depois disso, é que, relembrando o quanto nossas histórias individuais se entrelaçaram na trama da história do Brasil, por eu ter sido o primeiro ativista gay a chegar no Congresso Nacional e você a primeira presidenta – sim, presidenta – da república, dei-me conta dos significados políticos e dos perigos terríveis contidos nesse pedido de sua prisão.

    As facções políticas (incluindo aí as organizações criminosas na cidade e no campo) que perpetraram o golpe contra seu governo – com o objetivo de garantir a si mesmas privilégios, lucros obscenos e impunidade em seus (delas, das facções) crimes – estão em guerra pelo poder desde então. A prisão do Lula, a intervenção militar no Rio de Janeiro feita pelo governo do crápula que lhe traiu e ao PT, Michel Temer, e a posterior execução de Marielle Franco são as consequências dessa guerra entre as forças políticas de direita que produziram a ruptura com a democracia em 2016.

    Você sabe, Dilma, que nem mesmo o alinhamento dessas facções golpistas em torno da figura de Bolsonaro nas eleições de 2018 (àquela altura já instrumentalizada e turbinada pelos plutocratas da extrema-direita americana) garantiu a paz entre elas.

    Os ricos brasileiros, os banqueiros ilustrados, os marajás do funcionalismo público, os donos de veículos de comunicação e os intelectuais endinheirados que fizeram da Lava Jato um complô e, do cafona e medíocre Sergio Moro, um fantoche, não esperavam que as facções criminosas com as quais se aliaram – milícias e seitas religiosas que servem de lavanderia para dinheiro sujo – fossem querer ter as rédeas do país. Mesmo assim, com todo o horror que elas vêm praticando, a Globo e a Folha de São Paulo seguem elogiando seu ministro da Economia, como se não se tratasse do mesmo governo fascista que ameaça a liberdade de imprensa, a cultura e a laicidade – e ignora emboscadas que matam os guardiões da Amazônia.

    Dilma, não sei se você sabe, mas, naquela noite em que teve início o golpe disfarçado de processo de impeachment, logo depois de dedicar seu voto ao torturador Brilhante Ustra (o covarde que quebrou com um soco o maxilar daquela menina da foto que é você), Bolsonaro me xingou de “queima-rosca” e me disse “tchau, querida”, numa referência à frase que o Lula lhe disse na conversa grampeada ilegalmente por Sergio Moro e divulgada pela Globo. A misoginia e a homofobia – males gêmeos – exigiram-me uma reação naquele momento. Além delas, a memória dos mortos sob as torturas perpetradas pela ditadura militar.

    Eu cuspi na cara dele por você, Dilma. Por nós.

    E, por tudo isso, mas principalmente por você, a quem poderia chamar de “minha mãe”, mas chamo de “minha amiga”, eu lhe peço nesta carta aberta:

    Tenha cuidado, amada! Os fascistas ressentidos de ontem e de hoje não toleram o que você representa, presidenta.

    Te amo!

    Jean Wyllys

  • Discurso de Dilma Rousseff, em festa na Espanha, é ovacionado por milhares de pessoas presentes

    Discurso de Dilma Rousseff, em festa na Espanha, é ovacionado por milhares de pessoas presentes

    Por Bruno Falci, de Madrid , especial para os Jornalistas Livres

    A Festa do Partido Comunista de Espanha (PCE) aconteceu nos dias 27, 28 e 29 de setembro, em Madrid, envolvendo diversos debates e atrações culturais, seguindo o formato dos grandes festivais de partidos comunistas da Europa. Milhares de pessoas estavam presente na festa quando a ex-presidenta Dilma Rousseff fez um discurso ao lado do Secretário Geral do PCE, Enrique Santiago em um Palco montado no centro do festival.

    Diversas barracas com artesanatos, comidas e bebidas de diversos países do mundo estavam espalhadas pela festa, cada uma representando um partido de esquerda de sua nação, o Brasil esteve representado pelo Núcleo do Partido dos Trabalhadores (PT) de Madrid, presente nos 3 dias de festa recolhendo assinaturas do abaixo assinado pela liberdade do Lula.

    Dilma Rousseff em visita ao stand do PT na festa do PCE. Foto: Bruno Falci / Jornalistas Livres

    Muitas lideranças políticas estiveram presentes como o Deputado do Congresso Espanhol pelo Podemos, Rafael Mayoral, que mandou sua saudação para o Jornalistas Livres e exigiu a liberdade do ex-presidente Lula.

    Dilma foi saudade por milhares de jovens comunistas em um desfile em comemoração de sua presença, veja abaixo:

    https://www.instagram.com/p/B2-fAEch8vC/

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Dilma, em sua Fala, comentou o golpe de Estado de 2016, a perseguição ao ex-presidente Lula, a chegada do fascismo ao poder e a política neoliberal que está em vigor. Depois de França e Bélgica, Dilma prosseguiu com sua agenda na Espanha, discutindo o contexto brasileiro de aprofundamento do processo antidemocrático, veja a fala completa da Dilma :

    Inicialmente, Dilma ressalta que os conflitos que estão sendo vividos na América Latina e no Brasil são  caracterizados pelo que alguns chamam de guerras híbridas e que outros chamam de manipulação dos princípios jurídicos, para fazer guerra, ou seja, lawfare:

               “Nesses momentos, a primeira vítima é a verdade, e a verdade tem que ser reafirmada sempre porque é um instrumento de transformação. No caso do Brasil, nós estamos vivendo um momento muito grave. Temos um governo neofascista, porque nem fascista é, uma vez que o fascismo sempre se caracterizou por alguns aspectos nacionais e o governo de Bolsonaro está submetido de forma humilhante aos Estados Unidos. Nunca um governo do Brasil teve esta postura em algum momento de nossa história”

    Dilma observa que a característica do fascismo de Bolsonaro é ter uma agenda ultra moralista, discriminatória  contra as mulheres, contra as populações negras e contra os  indígenas:

    “O fascismo se caracteriza também pela defesa de uma visão de nossa história que pretende mudar a compreensão do passado, enfatizando que não houve ditadura militar no Brasil, como sabemos que houve. Além disso, defendem a tortura e o assassinato político. Defendem uma violência  cruel para os mais pobres do país, contra os negros, pune com a morte a vereadora Marielle Franco porque sabemos perfeitamente que foram os grupos paramilitares, que são próximos, que a mataram. Eles defendem o uso dos policias como arma de matar cidadãos e deixam impunes também aqueles que matam crianças de oito anos”.

    “Esse fascismo – prossegue Dilma – foi a única forma que no Brasil pode implantar a agenda neoliberal porque com nossas quatro eleições – duas do Lula e duas minhas – nós barramos a perda de direitos dos trabalhadores. Não permitimos reformas trabalhistas e laborais que tornassem o trabalho desprotegido, precário, intermitente. Não permitimos reformas da Previdência que acabassem com acesso dos mais pobres às aposentadorias, porque se o trabalho for intermitente nenhum trabalhador brasileiro continuará sem trabalhar continuamente até conseguir uma aposentadoria. Nós não deixamos que se destruíssem os sindicatos e, sobretudo, fizemos os programas sociais que, pela primeira vez, tiraram o Brasil do mapa da fome da ONU. Superamos a miséria extrema que é diferente da pobreza. A miséria extrema são as pessoas que vivem com recursos quase impossíveis de superar a subsistência”.
    Dilma esclarece:

    “Isso significou 36 milhões que saíram da miséria extrema, significou 42 milhões que chegaram às classes médias. Fizemos programas de habitações, fizemos programas de saúde, e, sobretudo, demos total importância às nossas empresas públicas. Tínhamos um Banco de Desenvolvimento maior que o Banco Mundial e uma empresa de petróleo que era a sétima maior do mundo. É isso que todos neoliberais queriam se apropriar como forma supostamente de fazer uma melhoria no país. Como não conseguiram por eleições, na última eleiç&atilde ;o, mudaram sua estratégia. Passaram a construir as condições para que assumissem o poder. Para isso, precisaram fazer várias coisas, uma delas era nos destruir politicamente, destruir o Partido dos Trabalhadores, destruir a mim e, sobretudo, destruir Luís Inácio Lula da Silva”

    Acrescentando que a chegada do neoliberalismo ao poder passa por diversas etapas, Dilma Rousseff menciona o impeachment sem crime de responsabilidade, fraudulento e a operação Lava Jato, que persegue implacavelmente Lula:

    “Como isso não impactava seu apoio popular foi ao julgamento, à  condenação, depois à prisão e, por último, à interdição, sendo que ele era o que tinha mais apoio da população brasileira em todas as pesquisas. Foi impedido de candidatar-se. Até aquele momento, muitos diziam que Lula estava preso por corrupção, até aquele momento utilizaram de todas as armas para desmoralizá-lo sem conseguir”.

    Segundo a ex-presidente, um acontecimento inesperado que vai abalar a  narrativa dominante é o papel desempenhado pelo jornalista Glenn Greenwald no site The Intercept  Brasil, que revela diálogos entre aqueles que julgaram Lula, principalmente o juiz Moro, e  os procuradores, que visavam uma operação específica cujo objetivo era destruir o Partido dos Trabalhadores:

    “Essas revelações mostram um juiz parcial, político, uma investigação que tem interesses obscuros e escusos e que foram responsáveis por condenar Lula sem provas. Essa é uma das  consequências da campanha contra Lula, a outra é que o sistema de justiça brasileiro, por causa disso, foi corroído porque se a justiça fundamentalmente em nossa sociedade queira manter um caráter imparcial, tem que respeitar o devido processo legal, a presunção de inocência, sobretudo essa senhora que é a justiça tem os seus olhos vendados e uma balança na mão porque não pode ser política e parcial e com Lula,  se sabe hoje, com  ricos  detalhes que foram  parciais, como foram políticos ao condenarem sem a menor prova, sabendo que ele era inocente. O que acontece contra Lula é um complô, é uma perseguição política porque eles sabiam perfeitamente que jamais permitiríamos que derrubassem  a democracia e se implantassem determinadas agendas neoliberais”. Para Dilma, o que está em questão hoje é a soberania nacional, primeiro pela Amazônia:

    “A soberania brasileira está em questão quando Bolsonaro quer abrir a Amazônia a qualquer custo, destrói a fiscalização, a acaba com o controle por satélites dos desmatamentos, manipula dados que se referem às queimadas e os incêndios involuntários que estimulam todos os métodos  ilegais de devastação da Amazônia. Ele faz isso porque querem explorar as grandes reservas minerais que estão no solo amazônico, porque querem explorar as madeiras, querem usá-las para produzir carvão vegetal.  E isso é muito grave porque a Amazônia é o coração do Brasil. É bom que todos saibam que em todos os anos do governo de Lula e do meu reduzimos o desmatamento de forma sustentável e sistemática.  A ONU reconheceu isso em 2014 porque levávamos o melhor programa de combate ao desmatamento e proteção da Amazônia”. Dilma enfatiza a política predatória de Bolsonaro, inteiramente voltada para a destruição do patrimônio público brasileiro:

    “Nós temos uma quantidade de território que é onze vezes o Reino Unido e sete vezes a Espanha. Só se faz isso através de monitoramento de satélites e Bolsonaro demite o cientista, físico e engenheiro, que dirigia o Instituto e que denunciava as queimadas como forma de dar acesso às explorações minerais. Por isso, é muito grave o que faz Bolsonaro porque tem coisas que poderão ser revertidas, outras que não poderão, e Amazônia é uma delas. A outra é a venda das estatais e a privatização das escolas superiores, das universidades e dos institutos, porque no Brasil, sem educação, não se pode tirar as pessoas da pobreza e, ao mesmo tempo, não se consegue acessar as riquezas do solo e a economia do conhecimento. Lula representava tudo isso – a luta antineoliberal e a luta contra o fascismo. Lula representa a junção, a síntese dessa dupla luta.  Lula está preso e todos sabem que ele é um prisioneiro político e um inocente”.

    Em suas conclusões, Dilma assegura que “no Brasil estamos resistindo e iremos resistir  e que só a resistência de todas as pessoas do mundo do trabalho, da cultura, da produção, o mundo que defende o direito das mulheres, que luta pelo meio-ambiente, será o que poderá  transformar novamente o Brasil em uma grande democracia e em um país desenvolvido”.

  • #Paris: Na cidade das luzes, o Brasil está no centro do debate!

    #Paris: Na cidade das luzes, o Brasil está no centro do debate!

    Por Bruno Falci e Karina Morais, de Paris, Especial para o Jornalistas Livres

    A última semana em Paris (15 a 21 de setembro) foi bastante intensa no que se refere ao debate acerca da conjuntura política no Brasil. O Jornalistas Livres acompanhou essa agenda e, hoje, destacamos alguns dos acontecimentos que se inserem nesse debate, ora centralizando as discussões em torno do Brasil, ora dialogando com as pautas que borbulham na efervescência do nosso cenário político. Em todas os eventos subimos conteúdos exclusivos, que nossos leitores podem retomar ao visitar nossa página. De todo modo, comprometidos com a circulação dessas informações, sintetizamos aqui o que acompanhamos dessa semana tão intensa na cidade mais visitada do mundo.

    Festa da Humanidade

    Nos dias 13, 14 e 15, aconteceu a Fête l’Humanité, um dos maiores festivais de esquerda da Europa, organizado pelo Partido Comunista Francês (PCF), por onde circulam cerca de 600 mil pessoas. O evento reúne partidos e organizações do mundo todo, que se encontram para debater temas importantes que envolvem a micro e a macropolítica, bem como celebrar a resistência, envolvidos por shows, performances, exposições e uma diversidade de opções gastronômicas. A festa ocorre há 84 anos e, nesta edição, a ex-presidenta Dilma Rousseff foi convidada de honra. Além de participar da cerimônia de encerramento, com um aclamado discurso sobre a democracia no Brasil, Dilma estampou também a capa do jornal l’Humanité, que informava sua presença em defesa da liberdade de Lula. E não é a primeira vez que uma liderança do Partido dos Trabalhadores é destaque do jornal. Lula protagonizou o editorial do l’Humanité por duas vezes e por duas vezes figurou na capa, sendo que a de maior repercussão o destacava enquanto candidato ao Prêmio Nobel da Paz.

    Para além da presença da primeira mulher eleita à presidência no nosso país – impedida de terminar seu mandato por conta da articulação de um golpe extremamente machista e misógino – o debate sobre o Brasil se expressou de várias formas ao longo do festival: por meio de intervenções artísticas em defesa de Lula Livre, por meio de faixas e cartazes em vários estandes de outros países e por meio de debates que se voltavam à discutir o avanço da ultradireita no Brasil e a consequente perda de direitos das trabalhadoras e trabalhadores brasileiros.

     

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/439439976672392/

    Veja a cobertura feita do grande espaço da fête de L´Humanite pelos Jornalistas Livres.

    Em roda de conversa sobre a sucessão de golpes e sanções contra a América Latina, dado o avanço do imperialismo sobre nossos povos e territórios, dirigentes de diversos partidos de esquerda se colocaram solidários ao povo brasileiro pelo sistemático desmonte nas políticas sociais, sucateando a saúde, a educação e precarizando as condições de trabalho e de vida. Representantes dos partidos comunistas da Venezuela, da Colômbia, do Peru e da França enviaram saudações ao Brasil, por meio do Jornalistas Livres. Confira:

     

     

    O estande France Amerique Latine, além do Comitê de Paris, dividia espaço também com o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), com o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), com a Frente Brasil Popular (FBP), com o Comitê Libérez Lula e com uma banca da campanha das argentinas pela legalização do aborto. Disponível estava o abaixo-assinado pela anulação dos julgamentos de Lula, que se somarão a outras 96562 assinaturas arrecadadas em plataforma online. Walter Sorrentino, presidente do PCdoB, discursou acerca da importância da liberdade de Lula dentro do processo democrático e foi também neste espaço que o Coletivo Xote interviu com música, dança e performances, denunciando a ruptura democrática com a prisão política de Lula.

    Depoimento de Diana Daros, do Setor de Educação do MST e coordenadora pedagógica do Instituto de educação Josué de Castro (uma escola do MST).

     

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/2438581336232197/

    Apresentação do Coletivo Xote

    Dilma na Sorbonne

    Cá desse lado do Atlântico, a agenda de Dilma Rousseff foi bastante concorrida. Logo na sequência, a ex-presidenta fez uma longa e disputada conferência na Universidade Paris-Sorbonne (Paris IV), que ocorreu no último 17 de setembro, sob o título: “O Brasil é o país do futuro? Juventude, educação e democracia”. Foi a primeira fala da presidenta após a aparição pública de Michel Temer que confessou ter participado da articulação do golpe, que a impediu de terminar seu mandato.

    Veja a Fala de Dilma Rousseff abaixo

     

    Logo na primeira fileira, Marcia Tiburi, filósofa, candidata a deputada federal nas últimas eleições pelo Partido dos Trabalhadores e que se autoexilou por conta de ameaças, ressaltou a importância do pronunciamento de Dilma naquele momento:

     

     

    No dia seguinte, em 18 de setembro, ocorreu outra conferência com a ex-presidenta Dilma, no Instituto Superior de Relações Exteriores (IRIS), com o eixo “Crise do sistema mundial: quais são as perspectivas democráticas?”, dando continuidade ao debate acerca da defesa da democracia no Brasil e no mundo.

     

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/707520256428968/

    Fala da Dilma Rousseff no IRIS (Parte 1)

     

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/1390650461091836/

    Fala da Dilma Rousseff no IRIS (Parte 2)

    Entre tantas atividades, duas grandes manifestações ocorreram em Paris. Uma, do Coletes Amarelos e, no mesmo dia, em 21 de setembro, pela Greve Climática. Essa segunda responde a uma ação global, em que diversos países organizaram greves, atos e atividades na perspectiva de chamar a atenção para as alterações climáticas no mundo todo, e que diz respeito diretamente aos abusos do mercado, bem como dos governos que não cumprem acordos internacionais de sustentabilidade. Nesse sentido, o debate acerca do que ocorre hoje na Amazônia é central e foi tema também aqui. O “Dia do Fogo”, em que latifundiários, madeireiras e grileiros atearam fogo em diversas áreas da Amazônia, estimulados pelos pronunciamentos públicos e a postura conivente de Jair Bolsonaro, é pauta no mundo todo e reforça o quanto a comunidade internacional reprova essa ação criminosa, que segue dizimando comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas. Além, é claro, de impor um problema de outra ordem: as propostas dos países imperialistas de intervenção estrangeira e armada na Amazônia. O fato é: no Brasil, na França e no mundo, a Amazônia é a pauta da vez.

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/451165458837385/

    Coletes Amarelos são violentamente reprimidos pela policia de Emanuel Macron, veja a cobertura do confronto feita pelos Jornalistas Livres

    Primeiro dia de Greve Climática em Paris. Um grande ato reuniu dezenas de milhares de pessoas que caminharam da Place de la Nation  até Bercy onde atividades, discursos e debates aconteceram ao longo do dia.

    Depoimento de Célia Xakriabá, liderança indígena brasileira, que é uma das participantes em destaque da greve climática em Paris.

    https://www.instagram.com/p/B2pAe_7BR9X/?igshid=nkbsdi9ennqw

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Segundo dia de greve climática em Paris segue reunindo dezenas de milhares de pessoas.

    Nas ruas, nas redes e na academia

    Essa semana ocorreu também, entre 18 e 21 de setembro, o Seminário Internacional ABRE Paris (Associação de Brasilianistas na Europa), reunindo pesquisadores do mundo todo, em especial da comunidade europeia, que se dedicam a estudar o Brasil, a partir de diversas áreas e temáticas. O evento ocorreu na École des Hautes Études en Sciences Sociales e contou com uma mesa dedicada especificamente ao debate sobre a nova direita no Brasil. Também integrou a programação do evento a inauguração, em Paris, do Jardin Marielle Franco, que ocorreu no último sábado e contou com a presença da família de Marielle (mãe, pai e filha), de sua antiga chefe de gabinete e amiga de infância do Complexo da Maré, a deputada da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Renata Souza (PSOL), a filósofa auto exilada e ex-candidata a governadora no Rio de Janeiro, Marcia Tiburi (PT), a liderança indígena Célia Xakriabá, além de alguns vereadores de Paris, representando a prefeitura. Dezenas de pessoas vieram acompanhar a inauguração e uma enorme fila de pessoas de diversas partes do mundo se formou na entrada do jardim. Por todos os lados, plaquinhas informando que Marielle foi assídua defensora dos direitos humanos. Marielle Franco era vereadora no Rio de Janeiro pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e seu assassinato ocorreu 14 dias após ser nomeada relatora da Comissão que iria acompanhar a intervenção militar no Rio de Janeiro e 04 dias depois de ter denunciado a violência policial na comunidade de Acari, comunidade na Zona Norte do Rio de Janeiro. Sua morte segue sem respostas, mas com inúmeros indícios de que se trata de mais uma vítima da política do extermínio promovida pelo fascismo que hoje avança no Brasil.

    depoimentos da Mãe e do Pai de Marielle Franco.

    Depoimento de Renata Souza, deputada Estadual do PSOL no Rio de Janeiro, ex-chefe de gabinete de Marielle Franco.

    Depoimento exclusivo de Célia Xakriabá , liderança indígena brasileira

    Depoimento da filosofa Márcia Tiburi.

    Depoimento do vereador de Paris, Hermano Sanches Ruivo, do Partido Socialista Francês, representante da Prefeitura, quer saber quem mandou matar Marielle Franco.

    https://www.instagram.com/tv/B2sTLRUhTe_/?igshid=ub7gbp68a0vr

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Nós, Jornalistas Livres, temos acompanhado atentamente os debates que envolvem o Brasil e a América Latina, cá no dito “Velho Mundo”. Essa semana em Paris, mais uma vez, reafirma o quanto se faz presente entre a comunidade internacional as discussões acerca das rupturas democráticas que vem sendo praticadas no Brasil, promovidas por um governo ilegítimo e que só se sustenta por meio de golpes e uma sucessão de medidas de austeridade. A compreensão de que Lula é um preso político e, portanto, não há democracia no Brasil enquanto seu processo não for anulado, é amplamente defendido por aqui. Em todos os eventos em que participamos, parece consensual a leitura de que Lula foi impedido de disputar as eleições por se tratar da maior liderança de esquerda no Brasil, capaz de polarizar com a direita e barrar o projeto do golpe. São questões que seguem em pleno vapor não só entre a militância organizada, mas também entre os parlamentares europeus, a sociedade civil e a comunidade científica. Hoje, somos manchete no mundo, mas as notícias que circulam não são de tempos prósperos. Por outro lado, revelam a construção de respostas coletivas que cada vez mais internacionalizam o debate sobre o que ocorre hoje em nosso país. 

     

    Mãe e Pai de Marielle Franco na Inauguração do Jardim. Foto: Bruno Falci / Jornalistas Livres
    Jardim Marielle Franco, Paris. Foto: Karina Morais / Jornalistas Livres,

     

    Inauguração do Jardim de Marielle Franco em Paris. Foto: Bruno Falci / Jornalistas Livres

    #LulaLibre #LiberezLula #MarielleVive