Jornalistas Livres

Categoria: Pernambuco

  • Miguel: quantos como ele correm perigo nas casas das patroas de suas mães?

    Miguel: quantos como ele correm perigo nas casas das patroas de suas mães?

    https://www.youtube.com/watch?v=sMvyTtB070M

    Se nesse momento a história da trágica morte do menino negro, Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, filho da empregada doméstica, Mirtes Renata Santana da Silva, fosse inversa em todas os seus detalhes: se ele fosse o filho branco da patroa, Sari Mariana Gaspar Corte Real, e tivesse morrido depois de despencar do 9º andar por desleixo e irresponsabilidade da empregada doméstica, certamente essa mulher negra estaria, neste exato momento, encarcerada.

    Miguel Otávio Santana da Silva, 5 anos de vida, é vítima do racismo arraigado na vida cotidiana de pessoas como Sari, uma mulher que, ironicamente, possui sobrenome supremacista branco “CORTE REAL”.

    Mas esse não é o pior dos detalhes. Nesse episódio trágico, a imprensa pernambucana, majoritariamente branca, portanto “limpinha”, não quis desagradar a mulher do prefeito da cidade de Tamandaré, Sérgio Hacker (PSB).

    Até agora não há sequer uma menção realmente incisiva sobre a responsabilização de Sari na morte do menino.

    O mesmo aconteceu com o delegado Ramón Teixeira, que acolheu o caso inicialmente. Preferiu preservar a identidade de Sari Mariana Gaspar Corte Real.

    Sari não dispensou Mirtes por causa da pandemia. Sari não quis limpar sua própria merda, não quis varrer seu chão, não quis colocar  suas roupas na máquina de lavar, não quis cozinhar sua própria comida. Sari não quis levar seu cachorro para passear. Sari colocou a vida de sua empregada em risco, exposta à COVID-19. Sari matou o filho de Mirtes.

    Que tipo de gente é essa?  Miguel, 5 anos, queria ver a mãe, que saiu para levar o cachorro da patroa a passear. Insistiu, fez birra, como qualquer criança faria. E não se curvou ao racismo de Sari. Por isso entrou no elevador. Por isso foi ao nono andar. Sozinho, porque Sari não se importa, não se importou com o fato de ele ser um menino. Ele era filho da empregada, não era nada. E ele caiu do nono andar. Ele morreu. Quando um filho morre, a mãe é a primeira que desce à cova. Era um filho negro. Na casa da patroa branca. A mãe negra, a empregada, não percebeu isso ainda. Em meio à dor, em estado de choque, ela humildemente lamenta a “falta de paciência” da patroa assassina.

    Miguel
    Miguel com sua mãe, Mirtes. Ao lado, Sari Corte Real, a patroa que colocou a empregada e seu filho em risco.

    O FATO – O menino foi vítima de homicídio na terça-feira (2). Caiu do 9° andar da sacada de um prédio de luxo no Centro do Recife, em Pernambuco, conhecido como Torre Gêmeas. A informação inicial era de que, na hora do acidente, a empregada estaria trabalhando no 5° andar do prédio, mas hoje foi revelado que, na verdade, a empregada estava cumprindo a função de passear com os cachorros da família, enquanto a patroa cuidava de Miguel. Sari foi presa inicialmente, mas pagou uma fiança de R$ 20 mil e responde em liberdade, mesmo depois da divulgação de vídeos mostrando que Sari colocou Miguel sozinho no elevador de serviço, o único que dava acesso para a área desprotegida da qual o menino despencou para a morte. Os elevadores para pessoas como Mirtes e seu filho, na prática, ainda são diferentes no Brasil. E foi lá que a patroa o deixou.

    Apartamento onde Miguel estava
    Planta de um apartamento no prédio de luxo de Sari, marcado por corrupção e tragédia

     

    Um corpo negro que vale 20 mil reais? Realmente vivemos um pesadelo legitimado pela racismo institucional do judiciário

    Liana Cirne Lins, professora da Faculdade de Direito da UFPE, relatou em suas redes sociais que muitos têm defendido a tese de que, inclusive, houve homicídio DOLOSO, configurando dolo eventual. “Afinal, que adulto coloca uma criança de cinco anos, que está chorando pela mãe, sozinha, num elevador, e não calcula a possibilidade de um acidente?” Miguel não tinha intimidade com elevadores. Morava com os pais em uma casa pobre, num bairro humilde.

    Sari sabia dos riscos e não faria o mesmo com os próprios filhos. Aliás, essa é uma pergunta que gostaríamos de fazer à patroa de Mirtes: como você acabaria com a birra de seus filhos?

    Certamente Sari não os colocaria em risco. O centro desse debate é, sem dúvida, a herança de nossa cultura escravocrata e racista.

    Outra declaração importantíssima de Liana Cirne é sobre o local e a data simbólica do homicídio: “O local é nas famigeradas Torres Gêmeas, esse lugar horroroso que tem essa energia do mal, do crime, da corrupção. Elas são um aborto em nossa paisagem e cenário de vários escândalos, desde que a [construtora] Moura Dubeux as ergueu, entre liminares. Nesse momento, mais do que em outros, queria que a sentença demolitória do juiz Hélio Ourém tivesse sido executada. Sobre a data: Miguel morreu no dia em que a PEC das Domésticas completou cinco anos! E é assim que se celebra o aniversário da legislação de proteção das Domésticas, o que diz muito sobre nosso país, que não superou sua herança escravagista.”

    Os Jornalistas Livres se solidarizam demais, profundamente, com mais esse fato absurdo, horroroso, que tem como alimento o racismo.

    Miguel, presente!

     

     

     

    Leia mais sobre o racismo que mata no Brasil:

    A Polícia de Wilson Witzel matou João Pedro, um jovem estudante. Ele poderia ser seu filho

     

  • Ativistas debatem sobre a construção de usina nuclear em Pernambuco

    Ativistas debatem sobre a construção de usina nuclear em Pernambuco

    Há aproximadamente 450 km de Recife, sertão de Pernambuco, está a cidade de Itacuruba, com uma população de 4.754 pessoas. Nesse pequeno município existe um projeto do Governo Federal, para construção de um complexo com seis reatores nucleares e uma emenda à Constituição de Pernambuco pretende liberar a construção desta usina nuclear no Estado. Nesta primeira transmissão da série #LIVESANTINUCLEARES, o ativista Chico Whitaker entrevistou a cacica Evani Tuxá, da aldeia Tuxá, cujo território pode se tornar canteiro de obras das usinas de Itacuruba e o bispo de Floresta, Dom Gabriel Marchesi, que tem lutado contra esse projeto.

     

     

    REPORTAGEM SOBRE O PROJETO FEDERAL DA USINA NUCLEAR EM ITACURUBA:

    A luta ambiental dos índios Tuxás contra o retrocesso da usina nuclear

  • TRADIÇÃO PANKARARU É ALIMENTO PARA O CORPO E A ALMA

    TRADIÇÃO PANKARARU É ALIMENTO PARA O CORPO E A ALMA

    Texto e fotos: Daniel Filho (*)

    A Terra Indígena Pankararu, homologada em 1987, está localizada entre os atuais municípios de Petrolândia, Itaparica e Tacaratu, no sertão pernambucano, próximo ao rio São Francisco. Seu povo mantém viva suas tradições, fé e luta, mesmo num Brasil que governa contra nossos povos tradicionais.

    Encerrou no último dia 15 de março, o ciclo de celebração e resistência do povo Pankararu conhecido como “Corrida do Umbu”. Consiste em celebrar a safra do fruto que chega, assim como representa tempo de purificação, renovação e inspiração para o ano que se inicia.

    pankararus

    Após as primeiras trovoadas de janeiro, iniciando as plantações do fruto após as primeiras chuvas, os “detentores de saber” vão escolher o dia para o flechamento do primeiro umbu que aparecer da safra. No final de semana logo após o dia esse flechamento iniciam-se as corridas, que são movimentadas em grandes terreiros durante quatro finais de semana. 

    A ancestralidade, a reger a fé e força do povo, é personificada nos Praiás, indígenas cobertos com uniforme de fibra de caroá, que conduzem o Toré ao som dos toantes, maracás, manifestando a força encantada aos presentes. Segundo a cosmologia Pankararu os Encantados são entidades que estão presentes em toda a terra indígena enquanto elo entre aqueles que fazem parte do mundo humano com a entidade maior que não está presente nessa terra. 

    As festas são organizadas por famílias zeladoras dos Praiás que organizam os espaços (Poró) onde são guardados e onde certas obrigações são realizadas de forma a manter a força encantada viva entre os membros da família. 

    No cumprimento das obrigações estão presente as ervas, o fumo encantado (tabaco aromatizado de preparo exclusivo para as forças encantadas) e o vinho de ajucá (bebida preparada da jurema) como sinal de respeito ao sagrado a sustentar o mundo em que vivemos.

    O ciclo fecha no quarto final de semana com a saída do “Mestre Guia” chefe de todos os encantados. O momento é esperado por centenas de pessoas que aguardam sua saída em vigília por toda madrugada em completo silêncio. Pirão e garapa são ofertados aos presentes para alimentar o corpo, as bênçãos do Mestre Guia alimentam o espírito.

    Para além da tradição aconteceu, entre os dias 6 e 8 de Março, a primeira edição da mostra de música Pankararu reunindo centenas de indígenas e não-indígenas.

    Aconteceu na aldeia Indígena Bem Querer, localizada a 7 km de distância da cidade de Jatobá, no Sertão pernambucano. Durante os três dias os participantes imergiram na cultura tradicional em rodas de conversa, trilhas e shows/espetáculos. O projeto estimulou o potencial econômico, criativo e afetivo da comunidade local, colaborando para a consolidação de um polo autônomo, independente e sustentável de produção cultural. Contou com a participação da Cia de Dança do Sesc Petrolina, e os artistas Juliano Holanda, Isabela Moraes, Camila Yasmine e Gean Ramos. 

    O projeto, da “Aió Conexões” com apoio Cultural do Sesc, foi um sucesso contando, com centenas de participantes.

    Tanto a tradicional Corrida quanto a Mostra soam uma resposta ao Brasil que extermina povos indígenas, saqueia suas riquezas e destrata tradições: “Resistiremos!”

    Que a força encantada esteja conosco!

     

    (*) Daniel Filho é professor da Rede Estadual de Pernambuco. 

     

    Sobre a mostra de música:

    https://www.instagram.com/tv/B9jNatSpBKn/?igshid=1bkz4ii4sfir2

     

    História:
    https://medium.com/@rathias/for%C3%A7a-encantada-dan%C3%A7a-festa-e-ritual-entre-os-pankararu-b621f03f1ac9

     

    Sobre extermínio de povos indígenas:

    https://cimi.org.br/2019/11/nota-do-cimi-sobre-o-exterminio-programado-dos-povos-isolados-ao-menos-21-terras-indigenas-estao-invadidas/

  • A luta ambiental dos índios Tuxás contra o retrocesso da usina nuclear

    A luta ambiental dos índios Tuxás contra o retrocesso da usina nuclear

    Com a promessa de empregabilidade em uma região carente e que já sofreu uma tragédia, quando na década de 1980, a construção da barragem de Itaparica, inaugurada em 1988, inundou todo o território das cidades de Itacuruba, Petrolândia e Rodelas, atingindo assim as comunidades indígenas e quilombolas, o Governo Federal vem prometendo mundos e fundos para a pequena população de menos de 5 mil habitantes da cidade de Itacuruba.

     

     

    Sobre a inundação, no livro “Tuxá, os Índios do Nordeste, o autor Orlando Sampaio lembra o fato: “Com a cidade de Rodelas, ficaram sob as águas as habitações e as ilhas dos índios Tuxá. A ilha da Viúva, a mítica terra em que esses índios faziam a agricultura e praticavam seus rituais, tornou-se um acidente histórico submerso no lago.”

    Viajamos até lá e entrevistamos várias pessoas de comunidades indígenas, quilombolas e das cidades de Itacuruba e Floresta, onde se concentra o movimento da igreja católica que é contrária a construção da Usina Nuclear com seis reatores na região e que conta com dois lobistas do Governo Federal e Estadual respectivamente: Fernando Bezerra Coelho, senador (MDB) e Alberto Feitosa, deputado estadual (SD).

     

    tuxas contra usina nuclear
    Entrada do aldeia do povo Tuxá, em Itacuruba, Pernambuco

    Em breve traremos novas entrevistas sobre um assunto tão absurdo e surreal, pois é totalmente na contramão da tendência mundial, que é desligar todas as Usinas Nucleares, a exemplo da Alemanha e Japão, que já vem nesse processo há alguns anos, mas que se tratando de desgoverno Bolsonaro, a gente até entende.

    Videorreportagem: Sergio Gaspar, Veetmano Prem, Daniel Barros e Eduardo Nascimento

    Texto: Rodrigo Pires

    #XôNuclear #Itacuruba #UsinaNuclear #Pernambuco

    LEIA MAIS EM NOSSO SITE SOBRE O PROJETO DE CONSTRUÇÃO DA USINA NUCLEAR EM PERNAMBUCO

    Carta de Floresta, 06 de novembro de 2019

    BACURAU E ITACURUBA: A HISTÓRIA SE REPETE, A PRIMEIRA COMO FICÇÃO, AMBAS COMO TRAGÉDIAS

    *Essa matéria faz parte de uma série de reportagens que iremos fazer a respeito da construção do complexo nuclear em Itacuruba, sertão de Pernambuco. Para viabilizar nossas viagens, estamos realizando campanhas boca a boca em Recife, junto aos parceiros que podem de alguma forma, contribuir para o bom jornalismo.

    Patrocinadores:

    FETAPE – Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco

    Mandato do Vereador Ivan Moraes (PSOL)

    SINDSPREV – Sindicato dos Trabalhadores Públicos Federais em Saúde e Previdência Social no Estado de Pernambuco

  • Porto de Galinhas é Bacurau

    Porto de Galinhas é Bacurau

    A Guarda Municipal abordou trabalhadores fardados, com truculência e a população de Porto de Galinhas, litoral norte de Pernambuco, não deixou barato, colocou pra correr.

    via Twitter de @flaviocostaf

  • Itacuruba recebe palestra sobre danos da usina nuclear

    Itacuruba recebe palestra sobre danos da usina nuclear

    Há aproximadamente 450 km de Recife, sertão de Pernambuco, está a cidade de Itacuruba, com uma população de 4.754 pessoas (de acordo com IBGE 2015). Nesse pequeno município existe um projeto do Governo Federal, para construção de um complexo com seis reatores nucleares.

    Aconteceu no último sábado (08.02) uma palestra sobre os impactos sociais da construção da usina. O evento teve a palestra com a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutora em Auditoria Social, Fátima Pinel. Logo após a roda de conversa, foi exibido o filme Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dorneles.

    “Tenho estudos acadêmico-científicos para afirmar, como também evidenciar, porque sou totalmente contra a construção da usina nuclear no entorno de Itacuruba, local escolhido estrategicamente pela presença do urânio 235. Esta usina provavelmente gerará empregos radioativos, contaminação e radiação para o entorno, como câncer no pulmão e tireoide, vide o caso de Caetité na Bahia, além da morte do Rio São Francisco” disse a professora, que é autora do Livro Modelo de Auditoria Social para Transnacionais que Destroem a Natureza e colonizam os Povos.

    “Como consequência das pressões internacionais, que exigem um planeta livre da radiação dos acidentes fatais nucleares, como vimos o exemplo Fukushima e Chernobyl, estas usinas estão sendo desativadas em países desenvolvidos o que é um processo complexo, duradouro e caro, devido aos resíduos tóxicos que permanecem durante décadas na natureza”, conclui.

     

    cacica tuxa usina nuclear
    A cacica Evani Tuxá Campos evidencia que é muito claro o interesse de grandes empresas na construção da usina nuclear

    Para a cacica Evani Tuxá Campos, a palestra foi muito importante. “Até agora, todos os debates que tivemos até hoje, se assim posso falar, foram só com quem defendia a construção da usina nuclear. Diferente de hoje. Para além disso, trouxe elementos importantes que apontam o interesse das grandes empresas nesse projeto”, salientou.

    Por outro lado existem pessoas que são favoráveis a construção da usina, como é o caso de Marcineide Freire, dona da pousada Três Irmãos, que argumenta a mesma coisa que os pró-usina falam: geração de emprego e renda! Mas nós sabemos que não é bem assim e já publicamos aqui uma entrevista com Angelo Bueno, do Conselho Indigenista (CIMI) que pontuou: “como é que essa população será empregada se ninguém tem especialização de energia nuclear! Lógico que esse empregos são pra quem é de fora.”

    “Achei muito representativo quando os estrangeiros entraram na cidade para matar todos e o povo se organizou para lutar. Isso pra mim mostra que mesmo com o interesse econômico das grandes multinacionais se a gente se organizar podemos vencer” disse Netinho Tuxá, da Comissão de Jovens Indígenas de Pernambuco (COJIPE), quando perguntamos qual a opinião dele sobre o filme Bacurau.

    Esse evento faz parte de um série de atividades que serão realizadas neste ano contra a construção do complexo nuclear em Itacuruba.

    LEIA MAIS SOBRE O PROJETO DE CONSTRUÇÃO DA USINA NUCLEAR EM PERNAMBUCO

    Carta de Floresta, 06 de novembro de 2019

    BACURAU E ITACURUBA: A HISTÓRIA SE REPETE, A PRIMEIRA COMO FICÇÃO, AMBAS COMO TRAGÉDIAS

    O INDIGENISTA ANGELO BUENO EXPLICA OS INTERESSES POR TRÁS DA CONSTRUÇÃO DA USINA 

     

    *Essa matéria faz parte de uma série de reportagens que iremos fazer a respeito da construção do complexo nuclear em Itacuruba, sertão de Pernambuco. Para viabilizar nossas viagens, estamos realizando campanhas boca a boca em Recife, junto aos parceiros que podem de alguma forma, contribuir para o bom jornalismo.

    Patrocinadores:

    FETAPE – Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco

    Mandato do Vereador Ivan Moraes (PSOL)

    SINDSPREV – Sindicato dos Trabalhadores Públicos Federais em Saúde e Previdência Social no Estado de Pernambuco