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Categoria: Negras e Negros

  • CRIME AMBIENTAL SEGUE IMPUNE E DEIXA RASTROS

    CRIME AMBIENTAL SEGUE IMPUNE E DEIXA RASTROS

    Após 10 meses do crime ambiental causado pelo derrame de petróleo cru que atingiu o litoral da região do Nordeste, ainda há evidencias de que esse resíduo permanece no local.

    O biólogo Felipe Brayner pontuou locais entre as praias de Itapuama e Pedra de Xaréu no Cabo de Santo Agostinho onde é possível visualizar o material, “Foram 47 pontos específicos, sendo uma mais expressivas com aproximadamente 1 metro quadrado” afirma o biólogo. Ele explica também que as rochas atingidas são metamórficas que, longe de seus locais de formação e submetidas à pressão e temperaturas diferenciadas, transformam-se e modificam suas características, abrigando diversas espécies como arthopodos, cnidários, moluscos e crustáceos, espécies estas que estão sendo afetadas pelo resíduo. “Uma forma de mitigação dessa situação é o uso do biogel”, concluiu Felipe.

    Precisamos chamar a atenção dos órgãos competentes. Isso não pode continuar como está, nosso meio ambiente grita o tempo todo por socorro. Precisamos lutar!

    via Projeto Onda Limpa

  • Parceria entre Projeto Saúde e Alegria e Corpo de Bombeiros configura marco histórico após Operação Fogo do Sairé

    Parceria entre Projeto Saúde e Alegria e Corpo de Bombeiros configura marco histórico após Operação Fogo do Sairé

    Via Projeto Saúde e Alegria

    Há mais de 30 anos, no período que antecede a temporada da estiagem no Oeste do Pará, o Projeto Saúde e Alegria (PSA) intensifica suas atividades de combate às queimadas. A cerimônia que marcou o pontapé inicial da campanha de Prevenção ao Fogo 2020 atendeu ao pedido do 4º Grupamento de Bombeiros Militares (4º GBM).

    Depois de todo o ocorrido no final do ano passado, não deixa de ser um marco histórico. Realizado na última sexta-feira (10/07) com a doação de equipamentos de ponta para o pessoal da linha de frente no combate aos incêndios, o evento oficializou a renovação da parceria entre a ONG e o 4º Grupamento de Bombeiros Militares (4º GBM), sete meses após a Operação Fogo do Sairé, que resultou na apreensão de computadores, documentos e prestações de contas dos últimos sete anos do Projeto Saúde e Alegria, que ficou sob investigação.

    O caso foi amplamente divulgado na imprensa nacional e internacional com a prisão de quatro integrantes da Brigada de Alter, um deles funcionário do PSA, investigados por atear fogo na floresta para receberem benefícios financeiros. Apesar do que foi alardeado na época, principalmente nos primeiros dias que se seguiram às apreensões, com algumas autoridades policiais insinuando o envolvimento de ONGs nos incêndios, não houve acusação formal ou indiciamento algum contra a Organização, nem no primeiro relatório final do inquérito da Polícia Civil, nem no segundo e último, mesmo com os pedidos por mais apurações solicitados pelo Ministério Público Estadual.

    “Por tudo isso que passamos, um momento difícil ao ser acusado por algo que não fizemos e sempre lutamos contra, é animador reeditar a Campanha 2020 atendendo ao pedido deles para a revitalizar essa aliança com o 4º GBM. Seguir cooperando e oferecer condições mais adequadas de proteção e combate para essa turma heróica que cuida da gente e das florestas é ainda mais fundamental esse ano, em que a temporada de fogo coincide também com a intensidade da pandemia do coronavírus aqui na nossa região”, disse o coordenador do PSA, Caetano Scannavino.

     

     

     

    A parceria é uma retomada na proposta do Plano Territorial de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais, construído em outubro de 2019 com participação de representantes da Resex Tapajós-Arapiuns, Flona Tapajós, Corpo de Bombeiros, Secretaria Municipal de Meio Ambiente, ICMBio e Brigada de Alter, quando então foram traçadas estratégias para atuação das entidades, como cursos de capacitação para novos brigadistas, oficinas de prevenção ao fogo, apoio para aquisição de equipamentos, entre outras ações.

    Nessa primeira ação da campanha de prevenção ao fogo de 2020, o PSA doou à Corporação equipamentos para melhoria das condições de combate, como sopradores, roupas completas, botas, luvas, balaclavas e capacetes. Antes, os bombeiros já haviam recebido EPIs para se protegerem em meio a pandemia de Covid-19.

    Estas ações de prevenção e combate aos incêndios são parte do Programa Floresta Ativa do PSaa, com atividades também de restauração florestal, apoio à agricultura familiar, à bioeconomia e às cadeias produtivas que ajudam na renda das comunidades e mantém a floresta em pé.

    O biólogo Paulo Bonassa, coordenador do Floresta Ativa, aproveitou para agradecer os parceiros Rainforest Alliance, Instituto Clima e Sociedade | ICS, e outros mais recentes que tem apoiado o Programa, e destacou a importância de um plano conjunto:

    “As queimadas infelizmente ocorrem anualmente na Amazônia, ora menores, ora maiores, como as do ano passado na APA Alter do Chão, e a gente sabe das dificuldades dos bombeiros para atender todos os alertas, muitos ao mesmo tempo, em locais diferentes, de difícil acesso, numa área de grandes extensões. Por isso a importância de somar, das campanhas educativas de prevenção, das iniciativas de apoio da sociedade, das brigadas voluntárias, de comunitários capacitados para o primeiro combate, sem falar no suporte para que a turma da linha de frente esteja bem protegida e equipada. São exemplos de ações previstas no nosso programa Floresta Ativa, em apoio ao Plano desde o ano passado e retomadas agora”.

    O comandante do 4º GBM, Tenente-coronel Ney Tito, ressaltou a necessidade dos itens para o grupamento responsável por atender ocorrências em toda região oeste do Pará: “O Saúde e Alegria, grande parceiro de longas datas, hoje fez a entrega desse material de suma importância para nossas ações de combate aos incêndios florestais. Com esses equipamentos, nós vamos ter a capacidade operacional de atuarmos diretamente nesses incêndios e principalmente instruir as instituições, projetos e programas para que os munícipes e as comunidades estejam devidamente treinadas para que possam dar esse primeiro combate. São materiais que com toda certeza vão ser de grande valia para nossas operações”.

    Para Ana Daiane, colaboradora do PSA, comunitária do Maripá, na Resex, e formada como brigadista, a retomada dessa parceria é uma ótima notícia:

    ”É uma oportunidade de remobilizar a Brigada do CEFA num trabalho com brigadistas comunitários da Resex formados no ano passado nessa parceria do PSA, Corpo de Bombeiros e ICMBio. E a depender da pandemia, mais pra frente, além de seguir o trabalho com quem está formado, seria importante retomar também os cursos para formação de novos brigadistas. O verão vem forte e é importante que estejamos preparados!”

    “Mais do que nunca, o momento pede a união de todos, e nesse sentido, seja agora ou antes, o Saúde e Alegria sempre esteve mobilizado para ajudar. Fica nossa gratidão ao Tenente-coronel Tito e sua equipe pelo chamado para retomarmos essa bem sucedida parceria e pela confiança depositada no nosso trabalho. Bóra em frente até porque não serão tempos fáceis de vírus mais fogo. Sigamos!” – finalizou Scannavino.

    Veja matéria sobre a entrega.

  • Estreia a série “Vozes da Floresta”

    Estreia a série “Vozes da Floresta”

    “Vamos ver como que a gente vai seguir daqui pra frente com o ataque contra a floresta e contra o povo da floresta.”

    Está no ar o primeiro episódio da série “Vozes Da Floresta – A Aliança dos Povos da Floresta de Chico Mendes a Nossos Dias” com Ailton Krenak. Nesta entrevista ele fala sobre a ideia da Aliança para os dias de hoje, o que é ser índio no Brasil, a ideia de resgate e identidade, a importância da memória, o modo de gestão territorial indígena, a relação dos movimentos sociais com a política institucional e as contradições e desafios que o atual momento histórico coloca a todos os brasileiros.

    Assista e compartilhe https://youtu.be/KRTJIh1os4w

    “Vozes Da Floresta – A Aliança dos Povos da Floresta de Chico Mendes a Nossos Dias” é uma série composta por entrevistas com lideranças indígenas, extrativistas e militantes refletindo sobre as lutas pela preservação das florestas e dos direitos dos povos que a habitam, lembrando o passado e o presente desta poderosa articulação entre indígenas e seringueiros.

    Conheceremos momentos importantes dessa história, que teve entre suas lideranças Chico Mendes, seringueiro que conseguiu projeção internacional nos anos 1980 discutindo a questão da preservação das florestas brasileiras, e que por sua luta foi covardemente assassinado a mando de fazendeiros em 1988.

    A Aliança dos Povos da Floresta surgiu em meados dos anos 1980, quando algumas das mais importantes lideranças dos povos indígenas e seringueiros do Brasil se uniram para reivindicar demarcações de territórios e a criação de reservas extrativistas. Era o momento de abertura democrática e a assembleia constituinte começava seus trabalhos. O encontro e a pressão destas lideranças foi fundamental para a inclusão na constituição de direitos em defesa dos povos indígenas e proteção do meio ambiente.

    Ao longo de seis semanas faremos uma reflexão sobre os legados da Aliança dos Povos da Floresta para o meio ambiente, os erros e acertos das lutas nos anos 1990 e 2000 e a retomada da Aliança nos dias de hoje, quando vivemos um processo acelerado de destruição das florestas e seus povos, com o incentivo do atual Governo Federal.

    O primeiro episódio é com Ailton Krenak que discutirá a ideia da Aliança para os dias de hoje, o que é ser índio no Brasil, a ideia de resgate e identidade, a importância da memória, o modo de gestão territorial indígena, a relação dos movimentos sociais com a política institucional e as contradições e desafios que o atual momento histórico coloca a todos os brasileiros.

    A série foi filmada no Acre, São Paulo, Brasília e Minas Gerais, conversando com mais de 20 entrevistados. Destas filmagens resultarão 12 video-reportagens que serão exibidas as terças e quintas-feiras no canal do Le Monde Diplomatique posteriormente um webdoc que será lançado no segundo semestre. Este material é parte do documentário “Não verás país nenhum”, que será lançado no início do próximo ano.

    Dirigida e roteirizada pelo cineasta e jornalista Thiago B. Mendonça, autor de diversos filmes premiados entre ficções e documentários como “Jovens Infelizes” (2016), “Entremundo” (2015), “Procura-se Irenice” (2015), “A guerra dos gibis” (2013) e “Piove, il film di Pio” (2012), a série foi produzida com o apoio do Rainforest Journalism Fund, em associação com o Centro Pulitzer. A produção é da Memória Viva, em parceria com o Le Monde Diplomatique e tem o apoio da InfoAmazonia e da Saci Filmes do Acre.

  • A luta ambiental dos índios Tuxás contra o retrocesso da usina nuclear

    A luta ambiental dos índios Tuxás contra o retrocesso da usina nuclear

    Com a promessa de empregabilidade em uma região carente e que já sofreu uma tragédia, quando na década de 1980, a construção da barragem de Itaparica, inaugurada em 1988, inundou todo o território das cidades de Itacuruba, Petrolândia e Rodelas, atingindo assim as comunidades indígenas e quilombolas, o Governo Federal vem prometendo mundos e fundos para a pequena população de menos de 5 mil habitantes da cidade de Itacuruba.

     

     

    Sobre a inundação, no livro “Tuxá, os Índios do Nordeste, o autor Orlando Sampaio lembra o fato: “Com a cidade de Rodelas, ficaram sob as águas as habitações e as ilhas dos índios Tuxá. A ilha da Viúva, a mítica terra em que esses índios faziam a agricultura e praticavam seus rituais, tornou-se um acidente histórico submerso no lago.”

    Viajamos até lá e entrevistamos várias pessoas de comunidades indígenas, quilombolas e das cidades de Itacuruba e Floresta, onde se concentra o movimento da igreja católica que é contrária a construção da Usina Nuclear com seis reatores na região e que conta com dois lobistas do Governo Federal e Estadual respectivamente: Fernando Bezerra Coelho, senador (MDB) e Alberto Feitosa, deputado estadual (SD).

     

    tuxas contra usina nuclear
    Entrada do aldeia do povo Tuxá, em Itacuruba, Pernambuco

    Em breve traremos novas entrevistas sobre um assunto tão absurdo e surreal, pois é totalmente na contramão da tendência mundial, que é desligar todas as Usinas Nucleares, a exemplo da Alemanha e Japão, que já vem nesse processo há alguns anos, mas que se tratando de desgoverno Bolsonaro, a gente até entende.

    Videorreportagem: Sergio Gaspar, Veetmano Prem, Daniel Barros e Eduardo Nascimento

    Texto: Rodrigo Pires

    #XôNuclear #Itacuruba #UsinaNuclear #Pernambuco

    LEIA MAIS EM NOSSO SITE SOBRE O PROJETO DE CONSTRUÇÃO DA USINA NUCLEAR EM PERNAMBUCO

    Carta de Floresta, 06 de novembro de 2019

    BACURAU E ITACURUBA: A HISTÓRIA SE REPETE, A PRIMEIRA COMO FICÇÃO, AMBAS COMO TRAGÉDIAS

    *Essa matéria faz parte de uma série de reportagens que iremos fazer a respeito da construção do complexo nuclear em Itacuruba, sertão de Pernambuco. Para viabilizar nossas viagens, estamos realizando campanhas boca a boca em Recife, junto aos parceiros que podem de alguma forma, contribuir para o bom jornalismo.

    Patrocinadores:

    FETAPE – Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco

    Mandato do Vereador Ivan Moraes (PSOL)

    SINDSPREV – Sindicato dos Trabalhadores Públicos Federais em Saúde e Previdência Social no Estado de Pernambuco

  • Entenda a luta do povo Guarani pelo Parque Ecológico Yary Ty no Jaraguá-SP

    Entenda a luta do povo Guarani pelo Parque Ecológico Yary Ty no Jaraguá-SP

    A Ocupação Yary Ty (CEYTY) comunica ESTADO DE EMERGÊNCIA DO TERRITÓRIO INDÍGENA da T.I. Jaraguá e convoca imprensa, parceiras e parceiros para comparecerem dia 04 de março, às 15h, no Fórum da 14a. Vara Federal, na Avenida Paulista 1682, para fortalecer na reza dos Guarani durante a audiência. A luta do povo Guarani no Jaraguá continua.

     

    Principais tópicos da luta do povo Guarani no Jaraguá

    Em visita à ocupação do povo Guarani na área do sonhado Parque Ecológico Yary Ty (CEYTY), descobrimos vários caminhos fraudulentos e mesmo criminosos trilhados pela Tenda Negócios Imobiliários, que tem como principais acionistas a AMBEV e o Itaú, e que estão garantindo à construtora tomar posse dessa área para construir até 11 torres de apartamentos a 200 metros de território indígena (T.I.), o que, por si só, transgride a Portaria Interministerial 060 de 2015. Mas as ações ilegais não param aí.

    Entre as diversas contradições dessa especulação imobiliária está o fato dessa área ter sido classificada como ZEIS (Zona Especial de Interesse Social), sendo que já estava classificada como ZEPAM (Zona de Preservação Ambiental). Leia mais em “Outras Ações em Curso” no final do texto.

    A área é considerada, ainda, uma Reserva de Biosfera, instrumento de preservação que incentiva uma gestão integrada e sustentável de recursos naturais.

    522 árvores da Mata Atlântica já foram derrubadas pela Tenda na área, além de diversas espécies de animais mortas, como abelhas sem ferrão. Depois dessa ação, a comunidade Guarani do Jaraguá ocupou o local para impedir que essas devastações ambientais continuassem.

    No dia 10 de março, a Tenda deve entrar nessa área continuar a derrubada de um total de 4 mil árvores, uma ação orquestrada com aval de uma juíza estadual, que pode calar diversas defesas garantidas por leis de preservação daquela área, considerada, ainda, área de amortecimento do Parque Estadual do Jaraguá. A ação da Tenda pode, ainda, acabar por isolar a comunidade Guarani e seu território demarcado, a 200mts dali, tornando praticamente inviável a manutenção e o desenvolvimento cultural Guarani naquele território, além de minar a preservação de uma das já poucas áreas verdes em São Paulo.

    Jaraguá – São Paulo/SP – Fev/2020
    crédito: Nair Benedicto/N Imagens

    O chamado agora é para que todos os habitantes da cidade de São Paulo acordem para esse crime ambiental!

    “Ontem nos reunimos com vários coletivos daqui para uma ação no dia 10 de março. Estaremos promovendo vários eventos e atividades na ocupação. Acabamos, de certa forma, sendo protagonistas aqui no Jaraguá. Mas essa luta é um dever de todos. Assim como estão vindo pessoas de outros países, o principal é que as pessoas que moram em São Paulo façam parte dessa resistência com a gente”, disse o líder Thiago Henrique, que nos conta os detalhes dos encontros líderes do povo Guarani no Jaraguá com a Tenda.

    Entendendo todo o histórico da luta abraçada pelo povo Guarani no Jaraguá pela criação do Parque Yary Ty (CEYTY) e um Memorial da Cultura Guarani.

    Mata Atlântica – Reserva Indígena Guarani – Jaraguá – São Paulo/SP – Fev/2020
    crédito: Nair Benedicto/N Imagens

    Depoimento de Thiago Henrique, líder da ocupação indígena no futuro parque:

    “A Tenda Negócios Imobiliários comprou este terreno há mais ou menos dois anos. Aqui havia o Clube Sul Riograndense.  Por mais que fosse uma área privada, nossa comunidade sempre usou essa área, porque as pessoas da administração do clube entendiam que estávamos aqui antes do clube. Então, nunca barrou a comunidade de vir nadar no rio, pescar, brincar nas árvores, até porque nosso território aqui é a menor terra indígena demarcada por um governo federal – tem 1,7 hectares, onde meus avós iniciaram, de novo, a família Guarani aqui.

    O clube faliu e a Tenda comprou este terreno, já com um projeto  de construção de apartamentos. Quando a Tenda nos procurou, no final de dezembro de 2019, disseram que iam construir cinco torres para 800 habitantes, que teriam que derrubar 4 mil árvores, que a gente não precisava se preocupar, pois já estava tudo licenciado, com alvará da prefeitura e autorização da FUNAI, e que eles só estavam avisando a gente.

    Foi quando dissemos que não era assim que funcionava, que não íamos aceitar o corte de 4 mil árvores do nada.  E eles disseram que havia uma área dentro desse terreno, onde não poderiam construir, e seria cedida para nós contruirmos uma escola, na compensação para a prefeitura – uma área no meio do terreno, que é uma área de lagos (rs).  

    Argumentamos, então, que não estávamos ali para negociar terra, mas sim a vida das árvores e queríamos um esclarecimento do Ministério Público, porque dentro de uma área de 8 km de uma terra indígena nenhum tipo de especulação ou obra pode ser feita sem um estudo de impacto ambiental e sócio-componente indígena (Portaria Interministerial 060, de 2015). Estamos a 200mts desse empreendimento.

    Esse estudo determinaria quais seriam os impactos dentro da terra indígena e de que forma esses impactos podem ser minimizados ou compensados e se há a possibilidade de serem compensados, porque existem impactos que não têm como serem compensados.

    A Tenda, então, argumentou que não precisava fazer isso, que estava isenta desse processo/estudo, pois a FUNAI já tinha dado a autorização, e que a Tenda não precisaria respeitar a legislação federal.

    Mais uma vez trouxemos à Tenda a Portaria Interministerial  060, de 2015. Além dela, existe a Convenção 169 da OIT, adotada em Genebra, em 1989, e aprovada pelo Congresso Nacional por meio do Decreto Legislativo 143, de 20 junho 2002,  e que nos garante que qualquer tipo de ação do Estado que venha ferir a comunidade de qualquer forma, causando qualquer tipo de impacto, temos que ter uma consulta prévia, livre e informada, de boa fé. Ou seja, o próprio Município de São Paulo não poderia ter dado uma autorização ou alvará, liberando uma obra aqui, sem antes ter consultado a comunidade, porque esse licenciamento da prefeitura, mesmo sendo ilegítimo, passa a ser criminoso quando fere a Convenção 169 da OIT, quando nos coloca em uma situação de vulnerabilidade e de risco.  

    Entre os dias 7 e 9 de janeiro, levamos essa denúncia ao Ministério Público Federal, com essas alegações da Tenda. O Ministério Público, então, marcou uma audiência de conciliação mais pra frente. Mas, até a gente chegar a esse consenso, pedindo para que não houvesse mais cortes das árvores aqui, acabamos fazendo essa ocupação porque, do dia para a noite, a Tenda começou a derrubar árvores na área…

    Em menos de dois dias cortaram 522 árvores.

    Nossa ocupação é para deixar que nenhuma árvore a mais seja derrubada aqui.

    Que nenhum tipo de empreendimento aconteça aqui de forma ilegal.

    E que um estudo de impacto ambiental e sócio-componente indígena seja feito para podermos chegar a um consenso.

    Desmatamento feito pela Tenda para construção de apartamentos no Jaraguá, próximo a Reserva Indígena Guarani – São Paulo/SP – Fev/2020
    crédito: Nair Benedicto/N Imagens
    Desmatamento feito pela Tenda para construção de apartamentos no Jaraguá, próximo a Reserva Indígena Guarani – São Paulo/SP – Fev/2020
    crédito: Nair Benedicto/N Imagens

    AS MENTIRAS DA TENDA E AS DEFESAS DO POVO GUARANI.

    Quando ocupamos a área descobrimos que eles mentiram – não têm autorização para a derrubada de  4 mil árvores, mas estão pleiteando essa derrubada.

    Falaram na implantação de cinco torres para 800 moradores, mas  quando vimos o projeto da Tenda, descobrimos que estão pleiteando um total de onze torres, divididas entre a parte de frente e de trás do terreno, dividido por um rio. Por isso o total dá 4 mil árvores.  Só que as pessoas da Tenda que vieram falar com a gente chegaram todas desinformadas, mesmo sendo da empresa. E acabaram expondo que seriam 4 mil árvores sem querer. Foi quando nós,  da comunidade Guarani, começamos a entender que a Tenda estava agindo com a mentira.

    O documento que eles dizem ter da FUNAI é, na verdade,  um documento informativo de um setor da FUNAI, dizendo que esse terreno não está dentro da aldeia, com a FUNAI deixando claro que aquele papel não era nenhum tipo de autorização de construção. Mas a Tenda pegou esse documento e tentou usá-lo de má fé, dizendo que a FUNAI tinha autorizado a construir sem o estudo.

    Tudo que a Tenda tem é um documento fraudulento da prefeitura, e essa informação da FUNAI, que o terreno não é um terreno tradicional Guarani. 

    A única coisa que a gente diz para a Tenda é: a partir de agora vocês não vão cortar mais nenhuma árvore, nenhum empreendimento vai ser feito. E o caminho para vocês agora é aceitar o termo de transferência de potencial construtivo da prefeitura e construir em outro lugar e aqui ser feito um parque para a população, visando o meio ambiente, a ecologia, a permacultura, a agrofloresta, a criação de abelhas nativas sem ferrão.

    Decidimos que a nossa luta continua.

    A própria Tenda criou um cemitério de árvores aqui, a partir do momento que derrubou 522 árvores e tem que ser responsabilizada por esse tipo de ação.

    Os impactos já estão aí: Mata Atlântica dizimada, diversas abelhas nativas sem ferrão foram mortas aqui com esse desmatamento, como as arapuás e uruçus amarelas, além de cobras, pássaros… Desde 2016 passamos a criar abelhas sem ferrão em nossa aldeia, pois estavam sumindo e conseguimos expandir essas espécies para o território e aí vem a Tenda e mata também as abelhas que estávamos fortalecendo.

    Para nós, tudo isso é um crime inaceitável”

    Mata Atlântica – Reserva Indígena Guarani – Jaraguá – São Paulo/SP – Fev/2020
    crédito: Nair Benedicto/N Imagens

    OUTRAS AÇÕES EM CURSO

    Como publicado na Folha Noroeste de 26 de fevereiro de 2020,há dois projetos de lei protocolados na Câmara Municipal, ambos de autoria do vereador Eliseu Gabriel. Um deles muda o zoneamento local, hoje classificado como ZEIS (Zona Especial de Interesse Social), para Zona de Preservação Ambiental (ZEPAM). O segundo propõe transformar a área em questão em parque municipal. Já o vereador Gilberto Natalini entrou com duas representações junto aos Ministérios Públicos Federal e Estadual com o objetivo de garantir a integridade física dos índios e impedir que mais árvores nativas sejam derrubadas. No documento, o parlamentar questiona o fato do terreno ser classificado como ZEIS estando ele inserido numa ZEPAM. A área, inclusive, é considerada uma Reserva de Biosfera (instrumento de preservação que incentiva uma gestão integrada e sustentável dos recursos naturais)”.

    O povo Guarani que hoje ocupa a área do sonhado Parque Ecológico Yary Ty (CEYTY) já plantou mudas de novas árvores onde as nativas foram derrubadas, além de estar em curso a limpeza da vegetação e a instalação de jardins filtrantes com plantas macrófitas, para recuperar as águas do lago, que estão sendo analisadas.


    RESUMO – ALERTA DA SITUAÇÃO

    DIA 4 DE MARÇO, 14HSCONVOCAÇÃO – 14a. Vara Federal, Avenida Paulista, 1682.

    Audiência de conciliação na Justiça Federal para tratar sobre essas questões, quando o povo Guarani, através de sua assessoria jurídica – a Comissão Yvyrupa, que representa os povos Guaranis, além de uma representação da OAB e do CIMI (Conselho Indigenista Missionário) – farão os trâmites legais de dizer que a obra é inviável e que, embora os Guaranis não estejam brigando pela posse do terreno, isso não significa que o cinturão verde de São Paulo, assim estabelecido pela UNESCO, deva ser devastado, como a Tenda quer.

    DIA 10 DE MARÇO – MOBILIZAÇÃO GERAL

    Diversos eventos e atividades estão sendo organizadas pelo povo Guarani na área ocupada, junto a coletivos da cidade, no mesmo dia em que a Tenda deve novamente entrar no terreno, depois de ganhar, recentemente, uma reintegração de posse emitida irregularmente por uma juíza estadual, que será executada pela Polícia Militar do Estado de São Paulo, conforme comprova ofício emitido pela própria PM, no qual consta, ainda, a necessidade de uso de armamentos de impacto controlado, como armas de choque e VANT – Veículo Aéreo Não Tripulado, como drones, uma clara declaração de guerra ao povo Guarani e a Ocupação Yary Ty. A reintegração de posse foi emitida apesar de todo o levantamento apresentado, esclarecendo tratar-se de um empreendimento ilegal e o fato de uma juiza estadual ter tomado uma decisão ilegítima, ao atuar sobre uma questão federal, colocando em risco a integridade física da comunidade Guarani, em uma ação na qual a juíza não tem representatividade alguma.

    Reserva Indígena Guarani – Jaraguá – São Paulo/SP – Fev/2020
    crédito: Nair Benedicto/N Imagens
    Reserva Indígena Guarani – Jaraguá – São Paulo/SP – Fev/2020
    crédito: Nair Benedicto/N Imagens
    Reserva Indígena Guarani – Jaraguá – São Paulo/SP – Fev/2020
    crédito: Nair Benedicto/N Imagens

     

    Entrevista e edição: Sonia Maia

    Fotos: Nair Benedicto e Fausto Chermont

     


    Links:

    Participe ativamente dessa luta, que também é nossa.

    Marque presença na ocupação, principalmente no dia 10 de março. Compartilhe, assine petições, impulsione doações.

    Petição pela criação do Parque Ecológico Yary Ty (CEYTY) e o Memorial da Cultura Guarani > https://secure.avaaz.org/po/community_petitions/prefeitura_de_sao_paulo_criacao_do_parque_ecologico_yary_ty_ceyty_e_memorial_da_cultura_guarani/

    Existe Guarani em SP > https://www.facebook.com/existeguaraniemsp/

    Tenonderã Ayvu > https://www.facebook.com/tenonderaayvu/

    Portaria Interministerial 060 de 2015

    http://www.lex.com.br/legis_26632223_portaria_interministerial_n_60_de_24_de_marco_de_2015.aspx

    Convenção 169 da OIT

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/decreto/d5051.htm


     

     

  • Exposição em São Paulo discute consumo e sustentabilidade

    Exposição em São Paulo discute consumo e sustentabilidade

    A arte é o principal instrumento humano de reflexão sobre a realidade desde quando vivíamos nas cavernas. Atualmente, pensar as ações cotidianas e seu impacto sobre o planeta é uma das tarefas dos artistas. Wilton Garcia sabe disso: “experimentar é arriscar, por isso a arte contemporânea torna-se uma enorme aventura de subjetividades, ao prevalecer a produção de efeito. Entre estética, técnica e ética, os trabalhos desta exposição vasculham o resto, a sobra, para debater nossa (re)dimensão representacional de sujeito contemporâneo. Gosto de propor desafios. Provocar reflexão faz parte da minha proposta”.

    Nesse aniversário de São Paulo, sábado 25 de janeiro, às 11 horas, na CAIXA Cultural São Paulo, próximo ao Metrô Sé, a cidade vai ganhar de presente uma exposição com entrada gratuita ao público que aborda arte, meio ambiente e consumo.  A Exposição instalação XXX_, de Garcia, apresenta trabalhos que utilizam técnicas mistas (colagem, desenho, escultura, fotografia, pintura), ao (re)utilizar materiais descartáveis para criar experimentações poéticas. Essas experimentações apostam no exercício criativo de reapropriação e reuso de diversos materiais precários, sensíveis, que exploram o debate sobre sustentabilidade. De fato, são trabalhos estéticos que evidenciam o objeto, sua representação (desenho, fotografia) e colocam em discussão o limiar do consumo.

    Para os interessados em conhecer mais sobre arte contemporânea alinhada ao meio ambiente e ao consumo, o artista e o curador Luciano Maluly (professor de jornalismo na ECA-USP) oferecerão uma visita guiada também no dia 25 de janeiro, às 13 horas; e um workshop criativo no dia 22 de março, às 13 horas.

    Garcia fez mestrado e doutorado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo e, atualmente, é professor e pesquisador na FATEC Itaquaquecetuba e na Universidade de Sorocaba (Uniso). Desde 2000, participa de exposições coletivas e individuais, em São Paulo, Rio de Janeiro e Nova York. Como artista e pesquisador, trabalha com imagem, fotografia e objeto que compreendem estudos contemporâneos. Alguns de seus projetos podem também ser vistos em www.devoradigital.wordpress.com

    Com produção de Rosa Maria Esteves Migotto, a mostra reúne dez conjuntos produzidos pelo reaproveitamento desses materiais. A instalação XXX_, do artista visual Wilton Garcia, estará em exposição até o 22 de março de 2020, das 13 às 19 horas e conta com o apoio da CAIXA Cultural São Paulo e da Fundação para o Desenvolvimento das Artes e da Comunicação (FUNDAC).