Jornalistas Livres

Categoria: mulheres negras

  • Dia da Consciência Negra é marcado pela luta contra a intolerância e desigualdade

    Dia da Consciência Negra é marcado pela luta contra a intolerância e desigualdade

    Centenas de pessoas ocuparam as ruas centrais da cidade no Dia da Consciência Negra. O feriado de 20 de novembro tornou-se um dia marcado por  luta e resistência contra a invisibilidade que oprime e população negra. E também um dia de homenagear os que lutaram por liberdade e igualdade para o povo negro.

    Nomes como os de Zumbi, que dá o nome a marcha em Campinas, e  Dandara são constantemente lembrados e homenageados como símbolos de luta, liberdade e igualdade.

    Movimentos sociais, culturais , religiosos e a população se concentram na Estação Cultura Antônio da Costa Santos, tocando seus tambores e cantando. Seguiram em cortejo  pelas ruas 13 de Maio,  Praça José Bonifácio, Barão de Jaguara, Francisco Glicério até o Largo do Rosário.

    Durante o trajeto  falas de representantes dos movimentos faziam reflexão sobre  desigualdade racial no nosso país.

     

    A desigualdade social

    Números oficiais sobre a desigualdade social, os inúmeros  episódios de violência e racismo nas periferias do Brasil colocam ainda os negros entre os mais pobres do país e muito distantes da conquista pela igualdade.

    A população negra é a mais afetada pela desigualdade e pela violência no Brasil, de acordo com o alerta da ONU ( Organização das Nações Unidas). No mercado de trabalho, os afrodescendentes enfrentam mais dificuldades na progressão da carreira, na igualdade salarial e são mais vulneráveis ao assédio moral.

    A população negra também corresponde a maioria (78,9%) dos 10% dos indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios, segundo o Atlas da Violência 2017,

    O feminicídio também tem cor no Brasil: atinge principalmente as mulheres negras. Entre 2003 e 2013, o número de mulheres negras assassinadas cresceu 54%, ao passo que o índice de feminicídios de brancas caiu 10% no mesmo período de tempo. Os dados são do Mapa da Violência 2015, que comprova   a necessidade de olhar para o componente racial nos avanços nas políticas de enfrentamento à violência de gênero.

     

    Jovens e negros: as maiores vítimas da violência

    As informações contidas no  Atlas da Violência 2017 revela ainda que os, jovens do sexo masculino, negros e de baixa escolaridade são as principais vítimas de mortes violentas no País. A população negra corresponde a maioria (78,9%) dos 10% dos indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios, de acordo com informações do Atlas da Violência 2017.

    Atualmente, a cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. De acordo com informações do Atlas, os negros possuem chances 23,5% maiores de serem assassinados em relação a brasileiros de outras raças, já descontado o efeito da idade, escolaridade, do sexo, estado civil e bairro de residência.

     

    Intolerância Religiosa

    Crescem assustadoramente os ataques às casas religiosas de matriz africana no Brasil, agressões verbais, destruição de imagens sacras, e até ataques incendiários, ou tentativas de homicídio. A situação preocupa integrantes das diversas religiões. Em vários estados, o Ministério Público investiga ocorrências recentes de intolerância religiosa. Segundo o Ministério dos Diretos Humanos, 1.486 casos foram relatados ao Disque 100 entre janeiro de 2015 e o primeiro semestre deste ano, uma denúncia a cada 15 horas.

    Educação é uma saída

    Ações afirmativas e de inclusão são caminhos para minimizar  e tentar corrigir desigualdades raciais presentes na sociedade, acumuladas ao longo de anos.

    A necessidade de políticas públicas que garantam a inclusão da temática da igualdade racial no âmbito escolar, a importância da cultura negra e a história africana e a capacitação dos professores, com certeza é um caminho para a equidade social.

     

    por Fabiana Ribeiro

     

     

     

  • A seletividade no caso da Ministra Luislinda Valois, por Gabriel Nascimento

    A seletividade no caso da Ministra Luislinda Valois, por Gabriel Nascimento

    Luslinda Valois é uma juíza negra brasileira, filiada ao PSDB.

    Em alguma medida ela deve saber o que é integrar os menos de 18% de juízes negros que existem no país. Se botar chocalho, tirar os que se dizem pardos e/ou são pardos de pele clara, ela talvez reconheça mais de perto a solidão.

    Quando ela embarcou nessa aventura, que é o governo Temer, eu acho que eu estava com a ex-ministra Nilma Lino, em Dourados-MS. Todos dizíamos, à época, que ela estava indo sozinha e que nenhuma entidade do movimento negro iria apoiá-la.

    Prova disso é que, hoje, mais do que apoiá-la ou não, o maior dilema do movimento negro é a construção de uma Conferência Nacional da Igualdade Racial no meio de do regime de exceção em que estamos.

    Nossas pautas devem ser e são maiores do que legitimar ou não negros que estão abraçados à direita escravocrata de sempre. A maioria dos negros brasileiros, como confirmam as pesquisas de intenção de voto, e as próprias eleições, votam em governos mais populares para o país no âmbito presidencial. Por isso é bom que fique claro que não batemos palma e nem demos biscoito para Luslinda e quem quer que seja.

    Ela foi só, por sua conta e risco.

    Quando, ainda nesse governo empedernido, dos homens brancos e ricos, ela disse que Temer era o padrinho das mulheres negras, as mulheres negras se levantaram. Ninguém se calou às suas idiotices.

    Agora, comparando a impossibilidade de concentrar os salários de ministra com o de magistrada à escravidão, não vejo o motivo do incômodo que, nas últimas 3 horas, desponta das redes sociais nas bolhas algorítmicas da esquerda e da grande imprensa. Talvez pela nossa compreensão que temos dos meios de comunicação, deveríamos entender rápido quando a grande imprensa propositalmente divulga essas matérias quando se trata de grupos minoritários, como mulheres e negros, ainda muito mais quando estão em espaços de poder.

    Muitíssimos homens brancos (e nem vou colocar mulheres brancas porque, de fato, elas nem existem na maioria desses lugares também) sempre fizeram esse tipo de trapézio e malabarismo e nos acostumamos a rir e ridicularizar, mas com uma dada naturalidade e bom folclore.

    Falamos, mas não movemos nenhuma peça crucial quando, ainda no governo Dilma, convidamos um ex-CEO do Bradesco para cuidar da Fazenda, ou insistentemente colocamos o mesmo Meirelles (a chamada Tia Meirelles do Bank of Boston) para cuidar da economia, coadunando todos eles de tarefas bastante orgânicas para o mercado. O fato infeliz de Luslinda merece toda a reflexão de como a trajetória de uma pessoa brilhante pode ir para o lixo em segundos, mas a nossa seletividade também pode estar indo junto.

    Texto de: Gabriel Nascimento – Professor, pesquisador e autor de dois livros “O Maníaco das onze e meia” e “Este fingimento e outros poemas”. É mestre em Linguística Aplicada pela UnB e doutorando pela USP.
  • AS MANAS, AS MINAS E AS MONAS SE REÚNEM PELA VISIBILIDADE FEMININA ATRAVÉS DA ARTE

    AS MANAS, AS MINAS E AS MONAS SE REÚNEM PELA VISIBILIDADE FEMININA ATRAVÉS DA ARTE

    DJ Raquel no Sarau das Manas

    Uma vez por mês a praça Bento Quirino, localizada no centro de Campinas (SP) recebe o “Sarau das Manas”, o público ocupa as mesas dos bares para ver as apresentações artísticas.
    Aline, 22 anos, constata: “ É bom ver as garotas se apresentarem em local público acessível a todos”, Luiza, 26 anos completa; “ Tomamos a nossa cerveja curtindo ótimas apresentações. Lugar de mulher é onde ela quiser estar. Cantando, tocando, ou apenas tomando a sua cerveja”.
    No Sarau das Manas as mulheres são as protagonistas, são elas que fazem toda a produção desde os alvarás até a parte técnica de som e iluminação, a grade de programação, estão na frente do microfone ou atrás da mesa de discotecagem.
    A Dj Raquel tem comandado a arte das mixagens.
    Surgido em dezembro de 2016, o Sarau das Manas contribui para o empoderamento feminino nas artes por meio do protagonismo das mulheres. O Sarau é um mecanismo de visibilidade instrumentalização das mulheres pois a produção e sustentação do evento é exclusivamente feminina.
    Escritoras, dançarinas, cantoras, instrumentistas, produtoras, jornalistas, jongueiras, sambistas, DJ e articuladoras do movimento hip-hop são algumas das frentes artísticas presentes no sarau.
    A Mc Nega Maay ressalta a importância do fortalecimento da cena da arte, do RAP e da poesia, a Mc Mina Min acrescenta que “ os homens são bem-vindos sim, estão convidados a vir assistir. É tudo democrático e com respeito, só que o microfone é das mulheres, somos nós mulheres que temos que ter nossas vozes ouvidas e a cada dia conquistar o nosso espaço”.
    Participam da rede de realização do Sarau das Manas; Coletivo Aos Brados Campinas , Comunidade Jongo Dito Ribeiro , Coletivo de Mulheres Negras Lélia Gonzalez , Quilombo Urbano O.M.G. , Associação de Promotoras Legais Populares CIDA DA TERRA de Campinas e Região, Frente de Mulheres Negras de Campinas e Região, “AsMinaÉZika”, Coletivo TransTornar, Coletivo NINA e Estúdio Jabuticaba.

    DJ Raquel no Sarau das Manas
    A cantora e compositora Marilia Correa solta a voz no Sarau das Manas

     

     

     

     

     

     

     

     

    Por Fabiana Ribeiro

     

  • DIA DOS EXCLUÍDOS: Militantes sociais e religiosos sobem o morro para pedir coragem contra a violência do Estado

    DIA DOS EXCLUÍDOS: Militantes sociais e religiosos sobem o morro para pedir coragem contra a violência do Estado

    O feriado do 7 de setembro em Florianópolis não foi comemorado nem repudiado pelos movimentos sociais nas áreas nobres da cidade, como de costume. Neste ano, o Grito dos Excluídos deixou as avenidas planas para as autoridades desfilarem em seus carros fechados e os militares exibirem seus aparatos de opressão das minorias. O movimento preferiu gritar contra a exclusão do alto do Morro da Cruz e celebrar o amor à pátria junto com os jovens e comunidades assolados diariamente pela violência e pela ausência de políticas públicas.

    Com o aumento da pobreza e do assassinato de jovens, entidades sociais, políticas e religiosas decidiram se reunir na sede das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), no Monte Serrat, para fazer um grito verdadeiro ao lado dos excluídos. Foi uma manhã ensolarada de quase verão, que encheu esse lugar perto do céu de esperança e fraternidade. O manifesto enfocou a luta contra a criminalização e extermínio dos jovens negros das periferias: foram 60 mil jovens assassinados pelos aparatos de repressão no ano passado no Brasil, conforme o Mapa da Fome.

    Crianças, adolescentes e jovens tiveram um dia de acolhimento e valorização

    De janeiro a junho deste ano, 115 jovens já foram assassinados somente na capital catarinense, tanto pela violência policial quanto pela ausência do Estado, acentuou o padre Vilson Groh, que acolhe cinco mil jovens em situação de risco em um instituto social de Florianópolis. “O Estado não tem políticas públicas juvenis e o resultado disso é a tragédia do extermínio”, afirmou o padre, que integra a coordenação das CEBs. “Se continuarmos assim, em 2050 serão 2 mil 750 jovens assassinados”, alertou, criticando o Estado por apostar mais no encarceramento e na punição do que em ações de educação e valorização do jovem.

    Em oposição ao que o padre chama de processo histórico de marginalização, que só faz alastrar a violência e o tráfico, as entidades conseguiram criar no terreno da Caixa d’água, um momento onírico de fraternidade. Ali, num dos pontos mais altos da cidade, onde se tem a vista magnífica da Ilha banhada pelas Baías Sul e Norte, realizaram a Oração do Pai Nosso dos Mártires, ou extra-oficialmente, o Pai Nosso dos Pobres e Marginalizados, pedindo coragem contra a violência e as injustiças sociais. Da oração, os manifestantes passaram ao grito do Fora Temer, mostrando que a atitude religiosa não se separa do gesto político.

    Marcos Pinar, da União Florianopolitana de Entidades Comunitárias anunciou a fundação da Rede de Direitos Humanos pelo Fim da Violência e pela Construção das Políticas Públicas, criada em 19 de agosto, que vai dar amparo, solidariedade, apoio psicológico às pessoas que sofrem violência do Estado e também exigir o cumprimento das políticas públicas: “Estamos passando por uma ditadura oficiosa, sem políticas para a juventude das periferias, em que o trabalhador está perdendo todos os seus direitos, incluindo o de se aposentar. Então precisamos nos unificar. São os excluídos gritando literalmente para não serem engolidos, exigindo a volta da democracia e das políticas públicas no país”.

    Uma grande tenda coberta de toldo branco protegia os participantes do sol e servia de palco para apresentações de poesia, teatro, artes plásticas. Todos trouxeram guloseimas para café da manhã solidário, que começou às 9 horas e foi até às 14 h, com a participação de cerca de 200 representantes de entidades. Servido em uma grande mesa sobre a grama, o lanche foi embalado por música popular e samba de raiz com o Grupo Tradição. Orientadas pelo arquiteto popular Loureci Ribeiro, as crianças e adolescentes foram estimulados a confeccionar faixas em que pediram reforma urbana, o fim da violência e do feminicídio. E também Fora Temer. O Grupo Teatro do Oprimido, integrado por mulheres,  apresentou uma esquete desmascarando os interesses escusos da Reforma da Previdência.

    Grupo Teatro do Oprimido apresenta sátira da Reforma da Previdência

    Entre as manifestações artísticas, a palavra ficou livre para o discurso político. A poeta e professora Nana Martins, que dá aula na rede pública estadual na Casa de Acolhimento a Adolescentes de Florianópolis e no Colégio Humanitas, aproveitou para ler seus poemas de resistência e ao mesmo tempo explicar o sentido do Dia dos Excluídos. Segundo Nana, o 7 de setembro não significa nada para os moradores das áreas periféricas. É um fato mentiroso que só trouxe a exclusão, a morte e a pobreza, analisa. “Nós não precisamos de mentira, nós precisamos de nossa história real, aquela de luta que o povo negro fez no Brasil”. Em contrapartida, o Dia dos Excluídos é “uma oportunidade para as mulheres negras denunciarem a exclusão histórica que sofrem, sempre ameaçadas pela morte de seus filhos, companheiros e irmãos”

    As manifestações do 23° Dia dos Excluídos em Florianópolis foram fruto da união entre a Frente Brasil Popular, União Florianopolitana de Entidades Comunitárias, Tenda da Democracia, Movimento Ponta do Coral e Rede de Resistência e Lutas. Enquanto no morro ocorria essa aliança amorosa entre trabalhadores, militantes e minorias, lá embaixo, na Passarela Nego Quirido,  as autoridades e militares celebravam, no espaço do Carnaval, a falaciosa independência de um país que tem sua soberania eternamente sabotada. Algumas faixas penduradas no aterro da Baía Sul pediam intervenção militar. Mas no Morro do Céu, uma chuva de balões brancos com os nomes dos jovens assassinados encerrava o Pai Nosso Revolucionário, simbolizando a luta pela paz e pela volta da democracia.

    (Raquel Wandelli – Jornalistas Livres)

  • DILMA ROUSSEFF: LEI MARIA DA PENHA, 11 ANOS

    DILMA ROUSSEFF: LEI MARIA DA PENHA, 11 ANOS

    Por Dilma Rousseff

    O enfrentamento à violência contra as mulheres foi tratado como prioridade em meus governos e no do Presidente Lula que, em 2006, criou a Lei Maria da Penha, hoje fazendo 11 anos.

    O caráter machista do governo golpista está evidente no abandono das políticas para as mulheres. O governo ilegítimo retirou as mulheres do orçamento, abandonou o enfrentamento à violência, cortou os recursos destinados às políticas de fortalecimento econômico e social como o bolsa família, o Minha Casa Minha Vida, o Prouni, a educação e o Mais Médicos.
    As Casas da Mulher Brasileira, centros de combate à violência contra as mulheres nos estados, que estão prontas para serem abertas, não tem, no entanto, recursos para funcionar . O retrocesso que está sedo imposto pelo governo golpista é muito grave pois a violência de gênero ainda coloca o país entre aqueles onde mais se matam mulheres e, onde os estupros são vistos com descaso. Foi para combater a violência de gênero que nos empenhamos, trabalhando incansavelmente, no meu governo e no do Presidente Lula, para mudar a visão patriarcal e misógina, aprovando leis e implantando políticas públicas.

    Um grande passo, sem dúvida, foi a Lei Maria da Penha, que tornou crime a violência contra mulher pelo fato de ser mulher. Usamos de todos os meios para acelerar a implantação da Lei Maria da Penha, tornando disponível serviços de denúncia como o disque 180, os núcleos contra o tráfico de mulheres nas áreas de fronteira seca e a interiorização nas áreas rurais dos serviços de enfrentamento à violência contra a mulher.
    A Casa da Mulher Brasileira, em cada capital e no Distrito Federal, soma-se a essas políticas com o objetivo de integrar num só lugar os serviços especializados como a delegacia da mulher, o juizado especializado em violência contra a mulher, a defensoria pública, o acesso a emprego e renda e a assistência psicossocial. Além disso, aprovamos a Lei do Feminicídio, tornando crime inafiançável o assassinato de mulheres e os decretos que impõem a obrigatoriedade no atendimento às vítimas de estupro pelos hospitais e a realização das cirurgias reparadoras às mulheres vítimas de violência.

    Ao sair, em 2016, tínhamos inaugurado três Casas – em Campo Grande, Brasília e Curitiba. Deixamos cinco em construção, em São Paulo, Fortaleza, São Luiz, Boa Vista e Salvador, que já estão prontas à espera de funcionamento. Mas o governo golpista que me sucedeu não as abriu porque não tem compromisso com os direitos humanos das mulheres.

    O desmonte das políticas, com o corte do orçamento da SPM, a suspensão de repasses de recursos aos estados e municípios, o abandono da rede de atendimento, a redução de direitos trabalhistas, mostra que para os usurpadores as mulheres não importam.

    A Emenda Constitucional 55/2016, que congela investimentos nas áreas sociais por 20 anos e o desperdício do governo ilegítimo com a distribuição de emendas com o objetivo de comprar votos e sair ileso de graves denúncias, deixa de fora as prioridades dadas por políticas aprovadas em conferências, virando as costas para quem mais precisa das políticas públicas: mulheres, pobres, negras, indígenas, do campo e da floresta, moradoras das periferias. Mulheres brasileiras trabalhadoras e batalhadoras.

    Hoje, quando faz 11 anos da sanção pelo Presidente Lula da Lei Maria da Penha, uma vez mais é preciso afirmar o caráter misógino do golpe à democracia de 2016. E chamar toda a sociedade para resistir e retomar o caminho democrático, com a participação ativa das mulheres brasileiras.

    A democracia, o lado certo da história, se faz com participação das mulheres e a luta por igualdade de gênero.

  • Cidinha da Silva: Ainda, Melodia. Para sempre, Melodia!

    Cidinha da Silva: Ainda, Melodia. Para sempre, Melodia!

    Fui à Concha acústica para ouvir a voz de Deus plantada como Semente da Terra em Minas. O Yuaretê, Milton Nascimento. Só a música e a poesia para acalentar a alma diante das artimanhas de Iku. Milton rateou em duas letras, atordoado pela perda do amigo Pérola Negra.

    Tanta gente ruim, boa de morrer. Gente desonesta, desleal. Tanta temeridade à solta pela aí e Iku nos leva o Negro Gato. É por isso que a gente sente raiva e desentende as regras de funcionamento do mundo. Parece mesmo que “o tudo que se tem não representa nada. O tudo que se tem não representa tudo.”

    E pode torcer o nariz quem quiser, mas as pessoas vão, sim, disputar pelo troféu de melhor título de texto para falar sobre Luiz Melodia. O mote é bom. O homem cantava como uma deidade, levava a voz para onde queria, fazia duo com Elza Soares, coisa reservada aos imensos, apenas. E se chamava Melodia, nome de batismo artístico herdado do pai, maior influência. Nome próprio e apropriado.

    Todo mundo quer fazer jus à genialidade dele, quer mostrar que a fagulha da criação germinou depois de décadas a fio acalentada pela música inventiva e autoral de Melodia. Música popular que quiseram tornar maldita para afastá-lo das massas.

    Vai ter fotinha do Poeta do Estácio substituindo o perfil de muita gente nas redes sociais. São múltiplas as formas de agradecer: “você me fez, Melodia, sua obra me atravessa”; “sou quem sou, porque ouvi você”; “sua música me salvou naquele dia de melancolia que perdi um amor e foi como se perdesse a vida, você me manteve viva”; “você amava como eu e entendia minha dor, e você ainda cantava, enquanto eu só chorava”.

    Antes do passamento não havia como dizer isso a Melodia, que depois dos shows queria estar no quintal dos amigos e reinventar o São Carlos querido. A gente diz agora, mostra o quanto sua obra foi fundamental para nossa existência e acreditamos que de alguma forma, essa energia deve se conectar ao coração do Magrelinho mais elegante da MPB.

    Que bom quando um artista se vai e as pessoas reverenciam sua obra, lembram-se dele, sabem quem foi. Agostinho dos Santos, Jhony Alf, Antonio Pompeo, Itamar Assumpção não experimentaram essa reverência. Quem é que sabe que Luiz Carlos da Vila compôs o samba campeão da Vila de 1988, que todo mundo canta: “valeu Zumbi / o grito forte dos Palmares / que correu terra, céus e mares / influenciando a abolição / valeu, Zumbi! E os que ainda estão entre nossos, esquecidos: Lady Zu, Cláudio Zóli, Cassiano, Hildon, só para ficar no universo da Black Music.

    E, se alguém perguntar por ti, Melodia, fique tranqüilo. Responderemos que você foi por aí levando um violão debaixo do braço, mas como bom camarada, deixou canções para alimentar a saudade e a memória.