Breno Castro Alves (@trocavales), especial para os Jornalistas Livres Fotos: Thias Haliski (@tatinhahaliski)
Durante a última semana, brasileiros despertos tiveram pesadelos com tanques sitiando avenida Paulista. A tensão explodiu domingo 31/05, quando a escrete fascista, jogando em casa, apanhou de Gaviões e aliados. Em resposta, Messias bateu na mesa dizendo chega enquanto sociólogos estudados anunciavam: novo conflito seria a brecha que o sistema queria, pretexto para autogolpe do presida miliciano. São Paulo sabadou sob céu terrível, literal tempestade elétrica.
Acordou domingo para o azul derramado do outono paulistano. Céu celeste, sol agressivo na cara da manifestação, marcada para duas da tarde.
DRIBLE: ELÁSTICO DE LETRA
Após meses jogando sozinhos, onde derramaram defesas ilegais de intervenção militar e ruptura democrática, em 31/05 os fascistas finalmente receberam adversário a altura. Se apresentou o catadão antifascista ponta de lança, convocado pela SomosDemocracia, grupo autorganizado que nasceu na Gaviões e humilhou o adversário. A nítida vitória simbólica, apoiada inclusive pela velha mídia, abriu a porteira para a retomada das ruas.
No Facebook, sociólogos alertando iminente golpe de Estado e rappers no sofá levantando as necessárias contradições sanitárias de se manifestar em meio à ascendente e maior pandemia da geração. Um juiz proibiu as manifestações antagônicas na mesma avenida e o vice presidente usava pijamas quando escreveu artigo escorrendo saliva rábica e o desejo inequívoco de ruptura democrática.
Ainda assim, chega 07/06 e uma multidão de grupos autorganizados de todos os matizes está pronta para novamente fazer frente à manifestação fascista, que desidratou por justificado medo de apanhar na cara.
O circo pronto para treta, vem Corintia e dribla geral. Jogariam no Largo da Batata, longe da treta, longe dos tanques, perto do povo. Apontou para um lado e tocou para o outro: drible elástico de letra.
Em São Paulo, os campos do Corintia são: Itaquerão, Pacaembu, Fazendinha, Largo da Batata. E, sabendo ou não, seguiram a máxima de Sun Tzu, mestre chinês da Arte da Guerra: usar seu terreno é ganhar a batalha.
Ao longo da semana toda, a equipe antifascista recebeu reforços. Uma centena de grupos organizados compareceram ao Largo da Batata, provando que daqui pra frente os Gaviões não mais enfrentarão o fascismo sozinhos.
Meio dia, duas horas antes do protesto, o largo bonito de manifestantes concentrando sua participação. Euforia palpável quando membros da UJS compartilham olhares e tubos de álcool gel, 100g. O MTST autofinanciou uma cooperativa têxtil, distribuiu 4.000 máscaras durante o evento. Brigadas de saúde, movimento indígena, coletivos jurídicos, partidos políticos, palhaços da linha de frente, mídia-livristras, anarco primitivistas, feministas radicais e moderadas, tantas siglas que cansariam este texto, o sheik da mesquita da Penha e, principalmente, o movimento negro.
Esta luta, que nasceu antifascista, decididamente se assumiu antirracista neste 07/06.
ENFRENTAR A MORTE HOJE PARA NÃO MORRER AMANHÃ
Do alto do caminhão de som (que exibia o logo da Central dos Trabalhadores do Brasil), um ativista negro fez fala tão forte e pesada que supera a equalização do equipamento, sua voz grave e distorcida foi ouvida longe, exigindo:
Brancos, abaixem. Pretos, se olhem. Se reconheçam.
Velha guarda do rap e do hiphop presente, Thaide sobe ao caminhão e canta o drible corintiano: Eles esperam treta, hoje não terão.
Mano Brown na galera bate palmas e reforça a constatação de que Racionais > Emicida – que segue muito respeitado por este coração.
O ato organizado não durou duas horas. O caminhão de som ligou 14h e pouco e desligou não dava 16h. O recado dado, a foto aérea provando: neste domingo 07/06 São Paulo produziu
5.000 antifas x 50 fascistas na rua.
Disseram para ficar em casa, que manifestar seria pior, abrir a guarda para o golpe. Dividida, a equipe foi para a rua. Ganhou de lavada, 100 x 1.
As consequências pandêmicas desta aglomeração são sim terríveis e um preço invisível a ser pago em vidas pela sociedade, produzido exclusivamente pelos que ali se apresentaram.
PORÉM daqui para frente a milícia genocida que ora desgoverna sabe que perdeu as ruas. E isto vale, muito. Avaliação pragmática: acelerar sua queda é o melhor que um pode fazer para diminuir nossa mortalidade estúpida.
Hoje, todos os brasileiros sabem. Os fascistas são minoria.
Pra cima deles seus putos, em todas as arenas.
Cresci na Vila Belmiro e ontem usei minha primeira a camisa do Corintia, cortesia da namorada com passado Ronaldo9. Descobri que minha afiliação futebolística é política e hoje tomo sol orgulhoso do time do meu avô, disposto a louvar suas cores mas não o suficiente para escrever corretamente o nome:
Por Jacqueline Muniz, Ana Paula Miranda e Rosiane Rodrigues
Imagens de autoria dos Jornalistas Livres, capturadas em protestos, no último final de semana, em São Paulo e na França
A advertência de não realização de manifestações políticas, fundada no medo e na promoção do pânico social, é um atentado à democracia, uma forma de extorsão de poderes, de dirigismo monopolista das pautas plurais e das reivindicações divergentes de sujeitos que são diversos em cor, classe, renda, gênero, orientação sexual, instrução, etc. A advertência sob a forma de ameaça produz paralisia decisória de lideranças, imobilismo social e lugares resignados de fala, que seguem aprisionados nas redes sociais, na política emoticon do “estamos juntos” até o próximo bloqueio, diante da comunhão de princípios com diferença de opiniões: “você deve ir ao shopping, mas não a passeata”.
A fabricação de conjecturas apocalípticas e suposições catastróficas com roupagem analítica é um recurso de persuasão de via única, impositiva, que aponta para um sentido hierárquico e, até mesmo autoritário, de quem se acha portador de uma verdade ‘revelada’ sobre os atos políticos e de uma razão superior sobre os fatos da política. A fala profética é uma fala moralista, ilusionista, que, por meio do uso da fé e do afeto, inocula nas pessoas uma culpa antecipada por suas escolhas para desqualificar seus arbítrios e fazê-las rebanho dependente de um guia despachante do juízo final. Este projeto de poder necessita fazer crer que o pessimismo visionário e proselitista é mais real que a própria realidade vivida e que deve fazer parte do cálculo das ovelhas boas e más, dos aliados e opositores de ocasião. A fala profética serve aos senhores da paz, da guerra e do mercado, sem distinção. É um jogo ardiloso do ganha ou ganha em qualquer circunstância ou resultado obtido.
A quem interessa ser o profeta do caos? Ao próprio profeta que, inventor do jogo do quanto pior melhor, sacrifica seus seguidores feito gado, gasta a tinta das representações com seu próprio manifesto e promove a tensão entre espadas para se manter como o grande conselheiro conciliador.
Os profetas do caos são como uma fênix que ressurgem da crise que criam. Eles se apresentam como proprietários das representações políticas, à direita ou à esquerda, em cima e embaixo. Eles se oferecem como mediadores dos conflitos que provocaram, como tradutores intérpretes na Torre de Babel que criaram entre nós. A ameaça (do caos, da morte e do cerceamento da liberdade) não serve como advertência. Os profetas do caos produzem o medo, moeda de troca fundamental para a construção de milícias, para vender os seus remédios (previsíveis, amargos e inócuos). Para eles, não importa se os doentes morrem ou vivem, o que importa é que, doentes ou não, consumam suas previsões do passado.
É notório que as polícias no Brasil têm tradição em policiar eficazmente o entretenimento lucrativo dos blocos de carnaval, shows e aglomerações em campeonatos de futebol. Nesses casos, sua atuação se dá na manutenção do status quo dos públicos, constituída a partir das atividades de contenção e dispersão das multidões. Já para o controle de pessoas que ocupam o espaço público sob a forma de protestos de todos os matizes políticos, apesar de ser um fenômeno relativamente recente e não haver protocolos policiais escritos e validados, sabemos que esses eventos se tornam encenações, nas quais janelas são abertas para oportunistas de todas as ordens, para acertos de contas da polícia dos bens com a polícia do bem, incluindo os ‘caroneiros’ de manifestação que comparecem por motivos completamente alheios às pautas dos protestos.
Nesses espetáculos públicos que encenam os jogos da política aprendemos coisas muito básicas, sejamos nós manifestantes ou espectadores: sempre haverá a presença de agentes infiltrados (que ajudam na contenção) e de provocadores, para providenciar a dispersão. A infiltração de agentes de inteligência por dentro dos movimentos sociais remonta uma antiga estratégia estadunidense da década de 1960. Ou seja, muito antes do surgimento dos Black Bloc. Nos últimos 60 anos, acumulou-se um aprendizado sobre o uso do espaço
público relativo ao círculo do protesto (aglomeração, deslocamento, ato de encerramento e dispersão) que permite que os movimentos saibam lidar com esses elementos internos.
Neste mesmo período aprendemos, também, que o que torna legítimo um protesto não é a quantidade de indivíduos reunidos em um território específico por um período de tempo determinado, mas os modos de ocupação do espaço público e a construção coletiva de uma agenda política que os mobilize e tenha impacto na sociedade. A produção de dossiês intimidatórios, com a participação de agentes públicos, também não é novidade. Os constrangimentos da exposição de dados acabam por jogar na lama do “tribunal digital” os adversários, fortalecendo a promoção de linchamentos virtuais, de direita ou de esquerda.
O governo Bolsonaro não é o único que tem disseminado o medo para sabotar os mecanismos de cooperação e mobilização sociais, substituindo práticas de coesão por coerções e cruzadas moralistas vindas de cima, de baixo e ao redor. Discursos do medo contra ou a favor de Bolsonaro são péssimos conselheiros porque dão a #Elenão um tamanho e uma agilidade política irreal, retirando-o do isolamento político em que se encontra para nos fazer acreditar que, quando chegarmos às ruas, imediatamente um cabo e um soldado fecharão o Congresso, o STF e tirarão as emissoras e os portais de internet do ar. O medo transforma Bolsonaro num bicho papão, num monstro mítico incontrolável que atira hordas de zumbis (com cabelos tingidos de acaju) contra todos nós.
O medo disseminado faz com que as pessoas vejam gigantes onde há sombras e abram mão de seus direitos e garantias em favor de um ‘libertário do agora’ que prometa proteção. Mas o profeta-liberador de hoje será o seu tirano de amanhã!
O rigor científico não permite que nós, pesquisadores, determinemos como os movimentos sociais devem se comportar, nem que sejam pautados por oráculos que anunciam profecias que se autorrealizam. A contemporaneidade produziu os ativismos acadêmicos, mas eles não devem substituir jamais a liberdade dos sujeitos de decidir suas agendas, nem servir de chofer dos movimentos sociais em direção à “Terra sem Males”, um mundo idílico sem conflitos e, por sua vez, sem a política. A ciência pode contribuir com diagnósticos da realidade e oferecer alternativas que considerem, inclusive, que a negação dos conflitos monopoliza o debate e as representações, obscurecendo as negociações dos interesses em disputa. Quando a decisão científica está acima da pactuação social ela deixa de ser ciência e passa a ser doutrina, retira da sociedade a responsabilidade pelas escolhas que faz, para o bem e para o mal.
Ao olharmos a história vemos que os discursos de “lei e ordem” são utilizados sempre a serviço dos interesses do Estado e seus grupos de poder. Viver sob o jugo da espada não é novidade para as pessoas para quem o isolamento social é uma prisão histórica dos direitos de cidadania, e não um privilégio de classes. A juventude, principalmente a negra, conhece de perto a violência policial, e sabe que nem em casa está protegida.
Sobre as autoras do texto:
JACQUELINE MUNIZ,antropóloga, professora da UFF.
ANA PAULA MIRANDA, antropóloga, professora da UFF
ROSIANE RODRIGUES, antropóloga, pesquisadora do INEAC/UFF.
Entrar em uma universidade pública é o sonho de muitos estudantes brasileiros. Mesmo com diversos fatores que tornam complicadas as vivências na universidade, milhares de alunos em todo Brasil se inscrevem no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para tentarem uma vaga no ensino superior. Mas essas instituições estão preparadas para receber esses alunos? Quais são os obstáculos desses jovens? Quem os ajuda nessa caminhada? São questões como essas que fizeram o Com_Texto investigar um pouco dessa trajetória, em 2020, no cenário inédito de pandemia mundial causada pela Covid-19.
Em maio de 2019, a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) divulgou que a maioria dos seus estudantes era mulher, parda, com idade entre 18 e 24 anos e com renda per capita familiar de até um salário mínimo. Tais dados foram levantados a partir da V Pesquisa Nacional de Perfil dos Graduandos das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes), promovida pelo Fórum Nacional de Pró Reitores e Assuntos Estudantis (Fonaprace) da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Para a coleta de informações foram entrevistados 28.481 estudantes dos cinco campi da UFMT, consultando 68,6% da sua comunidade estudantil.
Cerca de um ano depois, em meio à pandemia causada pelo novo coronavírus, estudantes com perfis parecidos com a realidade da UFMT correm o risco de não terem a oportunidade de pleitear uma vaga no ensino superior. Afinal, a edição 2020 do Enem, principal meio de entrada nas universidades, ainda não tem sequer uma data certa para ocorrer, apesar do governo ter gasto muito dinheiro numa propaganda onde atores com mais de 20 anos interpretavam secundaristas com pleno acesso a computadores, smatphones importados, quartos individuais e livros nas estantes. Esse cenário utópico está muito longe da realidade da maioria dos estudantes brasileiros.
DEMOCRATIZAÇÃO DO ENSINO
A UFMT foi uma das primeiras universidades a aderir o sistema de cotas sociais, em 2011, antes mesmo da consolidação da Lei 12.711 de 2012, a Lei das Cotas. Ocasionando um quadro de 69% de seus estudantes pertencentes à categoria de baixa renda, além de ter 55% vindos de escolas públicas. Segundo Vinicius Brasilino, Conselheiro de Estado de Educação, representante dos estudantes do ensino superior na Câmara de Educação Profissional e Ensino Superior e também graduando de Saúde Coletiva pela UFMT, essa realidade ampliou o processo de democratização da universidade. “A maior participação de estudantes das redes públicas garantiu que mais jovens das classes populares tivessem acesso ao ensino superior, podendo dar continuidade ao seu processo de formação e escolarização formal”, afirma.
Brasilino ressalta, contudo, que a manutenção desse acesso não basta. É preciso também garantir a permanência dos alunos no ensino superior. “O fato desta democratização ter dado acesso à universidade aos diferentes perfis de estudantes, ocasionou na demanda pela permanência estudantil, o que a gente chama de assistência estudantil: garantia de benefícios para que o estudante possa estudar com qualidade”, explica. “Esses meios podem ser, por exemplo, bolsas alimentação e moradia. Foi por isso que o Brasil criou o Programa Nacional de Assistência Estudantil, para dar conta de atender a esses estudantes que têm especificidades e demandas emergentes dentro das universidades”.
Porém, especialmente por conta dos cortes de verbas desde 2014, as políticas de assistência não conseguem garantir tais benefícios a todos os que necessitam. No caso da UFMT, em 2020 o orçamento total de custeio é 21% menor do que no ano passado, e da assistência estudantil foram retirados cerca de 40% da verba. “Os principais obstáculos que estudantes em vulnerabilidade social enfrentam estão relacionados às políticas de permanência e assistência estudantil. Afinal, a educação vem sofrendo nos últimos anos vários cortes, como a Emenda Constitucional nº 95 , de 2016, que congelou os investimentos em educação, saúde e outras áreas do desenvolvimento social do país por 20 anos”, comenta o Conselheiro de Estado de Educação.
Vinicius Brasilino também vê como prática perigosa aos cidadãos o possível agendamento da prova do Enem ainda em 2020. “Observando o movimento da pandemia no Brasil e as ações que o Governo Federal vem tomando, que são muitas vezes contrárias ao que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem proposto, a realização do Enem não só coloca em vulnerabilidade sanitária milhares de estudantes, como também se transforma em instrumento de ampliação das desigualdades educacionais e sociais do Brasil”, analisa.
Em razão da pandemia do Covid-19, o Enem 2020, incialmente marcado para os dias 1 e 8 de novembro, provavelmente será adiado de 30 a 60 dias, de acordo com Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) que aplica a prova. A contragosto do Ministro da Educação, Abraham Weintraub, e do Governo Federal, o Senado aprovou um projeto de adiamento o exame por 74 votos a 1 (do senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República). No dia seguinte, o presidente do Congresso, deputado Rodrigo Maia, informou ao presidente o projeto teria placar semelhante na Câmara dos Deputados, forçando o mudança.
Sem dúvida essa foi uma grande vitória das pressões de organizações como a União Nacional dos Estudantes (UNE). Mas ainda não é o suficiente. “O adiamento do Enem de 30 até 60 dias, mantém o processo perverso desse governo de privilégios, assim como a anuncida modalidade virtual do exame. Quem realmente tem acesso à internet para fazer o Enem digital? Quem fará virtualmente poderá fazer a prova de sua casa com um conjunto de livros e conteúdos ao lado, com condições de ter um melhor resultado na prova? Para mim, o Enem digital reforça ainda mais uma falsa meritocracia e condições desiguais de acesso à universidade. É um equívoco”, afirma Vinicius Brasilino.
Alunos da UFMT em manifestação contra o projeto Future-se, em 2019 (Foto: Com_Texto)
FUTURO E INCERTEZAS
Luiz Antônio está no quinto semestre do ensino médio integrado ao curso técnico em edificações, no Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) – campus Várzea Grande. Com 18 anos, seus planos no início de 2020 eram prestar o Enem e concorrer a uma vaga na UFMT. “Eu costumava passar em torno de 35 a 40 horas semanais na escola, tudo isso entre aulas, projeto de pesquisa e extensão e grupo de estudo. Esse ano seria o meu último ano do ensino médio, mas agora já estamos nos encaminhando para o terceiro mês de aulas interrompidas por causa da pandemia do novo coronavírus”, conta.
Sem aulas desde o dia 17 de março, o estudante declarou que sua rotina mudou bastante. Como passava muito tempo na escola, se organizava para estudar no colégio, e em casa dedicava-se às outras responsabilidades domésticas. Diferente de outros alunos da sua escola, Luiz Antônio tem acesso à internet em casa, mas ainda assim preferiu fazer a prova na modalidade física, por segurança. “Eu tenho acesso à internet em casa, o que tem me ajudado bastante nesse processo de adaptação. E devido aos problemas da correção da edição passada do Enem, eu optei pela versão impressa da prova, porque tenho um pouco de incerteza com essa experimentação”, assume.
Apesar do ministro dizer que foi “o melhor Enem de todos os tempos”, a edição de 2019 teve erros de correção, além do vazamento de uma das páginas da prova durante o dia do exame, em 3 de novembro. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), foi divulgada uma foto da folha de redação antes do final do exame, já no momento da correção. E quem fez a prova com uma determinada cor de gabarito, teve suas respostas corrigidas com base em um gabarito de cor diferente.
Diante de tantas dúvidas, Luiz comenta que, assim como ele, seus colegas estão muito inseguros. “Tudo isso tem sido muito comentado nos grupos de turmas sobre o Enem, e tudo é uma grande incerteza. Ninguém sabe como vai ser ou o que pode acontecer. Está todo mundo muito apreensivo porque o ano está correndo e já perdemos o final de semestre todo. Então estamos ficando para trás sim, comparado aos alunos de escola particular”, revela.
Sobre os próximos acontecimentos com relação ao Enem, o estudante acredita que o melhor é o cancelamento da aplicação da prova em 2020. “Eu acho as discussões sobre o adiamento do Enem muito pertinentes, porém, ao meu ver, o correto nesse momento seria o cancelamento dessa edição. Porque já foi praticamente todo o primeiro semestre do ano e as escolas estaduais de Mato Grosso não chegaram nem a começar o ano letivo de 2020, enquanto as escolas particulares já estavam praticamente no fim do primeiro semestre”.
OBSTÁCULOS DIFERENTES
Para uma professora de biologia que atua há 20 anos em escolas estaduais de Mato Grosso, que preferiu não ter a identidade revelada, os alunos da rede pública e da rede particular têm condições intelectuais iguais para prestar o Enem. A diferença entre os dois perfis está nas oportunidades sociais que acabam por privilegiar apenas um dos lados. “Os alunos de escola pública têm que trabalhar mais para conseguir uma vaga na universidade. Então, quando eles conseguem, é muito gratificante porque é todo um universo que eles conseguiram vencer. Por isso que, intelectualmente, eles têm condições tanto quanto um aluno de escola particular, porém em relação à estrutura social eles saem perdendo”, comenta a professora.
Com experiência no ensino também em escolas particulares, a professora ressaltou a diferença dos perfis dos alunos que frequentam escolas pagas daqueles matriculados em instituições públicas. “Quando dei aulas em escolas particulares, no começo da carreira, os alunos, em sua maioria, eram classe média ou classe média alta. As escolas tinham boas estruturas, como lousa mágica, internet veloz e salas climatizadas. Além do que, grande parte dos estudantes de escolas particulares não trabalhavam. Já os meus alunos do ensino público normalmente têm duplas jornadas. Se estudam de manhã, trabalham à tarde, e se estudam à tarde, trabalham de manhã, em sua maioria em empregos com carga horária pesada”, conta.
A professora defende a educação pública, acredita que apesar das dificuldades enfrentadas por alunos e até mesmo por professores, o ensino gratuito garante o atendimento a demandas às quais as escolas particulares não se comprometem.
“Outra grande diferença entre a escola particular e pública é que são poucas as escolas pagas que têm, no meu conhecimento, ensino inclusivo com alunos PcD (Pessoas com Deficiência). Na escola pública, esses estudantes são inclusos em salas regulares. E falando do estado de Mato Grosso, existem também as escolas quilombolas, indígenas e rurais com logísticas diferentes”, salienta.
Atenta à diversidade de perfis, a educadora também se preocupa com o lado psicológico dos estudantes que pretendem realizar o Enem. “Como todos que estão passando por essa pandemia, os estudantes estão assustados e com medo, de certa forma sem condições psicológicas para fazerem uma prova densa como o Enem”, acredita a professora. “E nesse momento, o aluno de escola pública estadual soma a essas inseguranças a angústia de não ter iniciado o ano letivo devido à greve realizada ano passado. E o que a Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (Seduc-MT) disponibilizou para eles, que são aulas online e/ou pelo canal da TV Assembleia, não é o ideal. Eu sei disso porque participo de grupos de conversas com eles e eles dizem que não têm condições porque não entendem os conteúdos devido aos problemas de conexão”, revela.
As transmissões das videoaulas acontecem via TV ALMT (canal 30.2), com aulas inéditas e reprises durante a semana. As aulas são sobre as quatro áreas do conhecimento exigidas no Enem: matemática; linguagem e suas tecnologias; ciências sociais aplicadas; e ciência da natureza e suas tecnologias. O projeto foi apresentado pelo deputado estadual Delegado Claudinei (PSL), no dia 8 de maio, pela indicação de n.º 1.572/2020, na qual propunha à Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (Seduc-MT) a aplicação de método de ensino a distância para promover aulas virtuais para alunos da rede pública estadual durante a pandemia do novo coronavírus.
Estudante segurando cartaz “Em defesa da educação pública” durante as manifestações contra os cortes no setor em 2019 (Foto: Com_Texto)
DIMINUINDO BARREIRAS
A Rede de Cursinhos Populares Podemos+ formada pelo Levante Popular da Juventude ajudou a aprovar em 2019 mais de 100 alunos no Enem. Criada em 2017, em São Paulo, a rede está presente em 50 cidades, distribuídas em 21 estados do Brasil, e tem em sua organização 1600 educandos e 800 educadores. Com componentes voluntários a Podemos+ reúne pessoas que buscam ajudar jovens brasileiros que são afastados ou excluídos do ensino superior a ingressar em universidades federais ou estaduais.
“As experiências na nossa rede de cursinho estão vinculadas aos jovens da classe de trabalhadores, que são moradores de periferias, jovens estudantes de escolas públicas, jovens mães, e aos que não têm possibilidade de pagar mensalidades absurdas em cursos preparatórios. Nosso objetivo é com as questões de igualdade mesmo, de facilitar o acesso à universidade, como é o caso do cursinho de escrita acadêmica que serve justamente para aqueles que têm dificuldades em desenvolver trabalhos com critérios acadêmicos”, explica a Coordenadora da Rede de Cursinhos Populares Podemos+ e da Frente Territorial do Levante Popular da Juventude, Lorhana Lopes.
Outra ação neste sentido foi o mutirão de ajuda na realização das inscrições no Enem. “A gente precisava fazer com que o máximo de pessoas tivesse acesso. Por isso, movimentamos mais de 800 pessoas, em ação voluntária, para contribuírem nesse processo que é extremamente burocrático. Então, passamos por processo formativo, lemos todas as informações da plataforma do Inep, e depois entramos em contato por telefone com pessoas que preencheram o formulário básico para solicitar a ajuda, além dos outros educandos já inscritos”, conta Lorhana. Em Mato Grosso, a Podemos+ atua desde 2019 em Cuiabá e conta com 42 educadores voluntários. No primeiro ano de curso foram aprovados três alunos na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Em 2020, o processo de mobilização foi interrompido pela pandemia do Covid-19, e até o momento da pausa cerca de 60 jovens já estavam inscritos para participarem das aulas.
Questionada sobre o porquê de não continuar com as aulas no formado de Ensino a Distância (EaD), a coordenadora da Rede de Cursinhos Populares Podemos+ em Mato Grosso, Amandla Sousa, revela que a modalidade seria incompatível com as realidades dos educandos que a rede atende. “Nós da Podemos+ não podíamos pensar na manutenção das aulas do cursinho em uma modalidade EaD. Essa não é a realidade da população brasileira. Essa não é a realidade dos sujeitos com os quais estamos contribuindo para que acessem a universidade e essa também não é a realidade de Mato Grosso. Nós temos bairros do município de Cuiabá, onde é a situação de vulnerabilidade dos trabalhadores é tamanha que falta por vezes alimentação para essas pessoas. O que dirá internet”, esclarece.
Segundo a coordenadora, a Podemos+ utiliza uma metodologia da educação popular e justamente por isso considera mais importante acompanhar os educandos e suas famílias neste período de fragilidade causada pela crise sanitária e econômica mundial. “Neste momento nós temos que nos preocupar com a vida do nosso povo. Temos que nos preocupar em garantir condições de vida digna, e o Enem deve se adaptar a esse processo para que ele não seja mais excludente. Na realidade do nosso povo que é tão diverso, que tem tantas dificuldades, adiar o Enem com base no ano letivo de 2020 é fazer justiça social”, afirma Amandla Sousa.
NOTA OFICIAL DIVULGADA NO PORTAL DO INEP
Atentos às demandas da sociedade e às manifestações do Poder Legislativo em função do impacto da pandemia do coronavírus no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e o Ministério da Educação (MEC) decidiram pelo adiamento da aplicação do exame nas versões impressa e digital. As datas serão adiadas de 30 a 60 dias em relação ao que foi previsto nos editais.
Para tanto, o Inep promoverá uma enquete direcionada aos inscritos do Enem 2020, a ser realizada em junho, por meio da Página do Participante. As inscrições para o exame seguem abertas até as 23h59 desta quarta-feira, 27 de maio.
Gestão democrática do CEU Heliópolis – Arlete Persoli, foi exonerada na canetada, sem qualquer diálogo pela gestão Bruno Covas, em meio à pandemia de Covid. Um trabalho pioneiro, que vem sendo construído nos últimos 11 anos, por pessoas que fazem uma gestão participativa, cidadã e democrática, com reconhecimento internacional acaba de ser interrompido, por motivos políticos e sem qualquer possibilidade de diálogo.
As 7 pessoas que trabalhavam na gestão democrática do CEU Heliópolis foram exoneradas nesta terça-feira 12.05.2020, exerciam seus cargos com apoio e vínculo com a comunidade. Muitas delas são moradores e lideranças, e outras vieram para a gestão por amor a uma experiência única na cidade de São Paulo. Este duro golpe desferido pela administração Covas, em uma das comunidades mais organizadas, e que vive a prática da gestão democrática e cidadã à 40 anos, deixa claro que a gestão do PSDB não é democrática, nem tão pouco uma boa gestão.
As lideranças da UNAS (União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região), e todas as pessoas que conhecem e apoiam o projeto acordaram de luto, não apenas pelo terror da pandemia de covid, mas pela maneira como isso se deu, sem qualquer chance de diálogo.
Entrevistamos 3 lideranças na manhã de hoje (terça 13.05.2020) #aovivo pelas páginas dos Jornalistas Livres:
CEU Heliópolis, um lugar que pode ficar vazio
O lugar onde fica o CEU Heliópolis, antes de ser um Centro de Educação Unificado (projeto criado no governo Marta Suplicy, 2001-2004), era uma espaço conquistado pela comunidade, hoje a maior favela vertical da Cidade de São Paulo, com cerca de 220.000 moradores.
Diferente dos outros espaços culturais da cidade como ele, a comunidade de Heliópolis foi quem se apropriou do espaço e por meio da UNAS e da luta de suas lideranças, depois de muita negociação com o poder público, conseguiram transformar em Centro de Convivência Educativa e Cultural de Heliópolis, em 2015 na gestão de Gilberto Kassab e também durante a breve gestão de José Serra do PSDB.
Com o disse Reginaldo Gonçalves, um jovem que viveu toda essa transformação:
“Pra nós nunca foi fácil”
Reginaldo hoje, coordena diversas ações, articula o grupo de jovens no projeto Fala Jovem, atua na Rádio Heliópolis, na coordenação do Helipa Fest entre outras ações culturais e educacionais que acontecem no Bairro Educador. Essa ações, entre tantas outras que acontecem nessa comunidade, são exemplo de como enfrentar questões que o poder público não consegue nem chegar perto de resolver, com a experiência do baile funk sem álcool e drogas que dá oportunidade para novas configurações, do entretenimento dos jovens da comunidade.
Para a comunidade de Heliópolis a prática da cidadania plena só existe tendo a educação como a principal arma. Por isso os projetos surgem, com diversos tipos de iniciativas, envolvem a comunidade, as lideranças, a rádio, e o espaço físico do CEU, além de outros aparelhos públicos, como uma FATEC, o projeto Uniceu entre outros. Mas a diferença está nas pessoas que amam, e fazem destas práticas referências nacional e mundial. Por isso o luto, de quem cuida com muito carinho para esse projeto não seja distorcido por retóricas sem ações na prática.
LEIA MAIS SOBRE HELIÓPOLIS E O PROJETO DO BAIRRO EDUCADOR NESTE ARTIGO:
Em 2018, acompanhamos por 3 meses como é feita a construção da Caminhada pela Paz, que vai completar 22 anos de existência este ano, e que além de ser um evento que mobiliza a comunidade para lutar contra violência, é também uma lembrança de como ela causa vítimas todos os dias.
O Luto das lideranças, não é apenas pela exoneração de pessoas que estavam envolvidas todos esses anos ao projeto que envolve toda a comunidade, mas é também uma indignação pela atitude da gestão Bruno Covas, que desrespeitou os processos democráticos que são os principais instrumentos de conquista desta comunidade. A gestão democrática e participativa é resultado da prática e da luta, além de acumular inúmeros prêmios e reconhecimento, não apenas simbólicos, representa um modelo de gestão que otimiza e distribui melhor os gastos da gestão municipal nesse espaço cultural. Apesar dos governos do PSDB falarem muito em modelos de gestão, ele parecem não se importar com os que já existem e que são um sucesso reconhecido, pelo contrário, preferem destruir a aprender com eles.
LEIA UM TRECHO DA NOTA DE REPÚDIO publicada no site da UNAS
“Durante esses onze anos diversas gestões estiveram à frente do poder executivo municipal (José Serra, Gilberto Kassab, Fernando Haddad e João Dória), todas as transições respeitaram a história que construímos e o modelo de educação inovadora e democrática implantado no equipamento, e mantiveram o grupo gestor, que vem desde então consolidando um trabalho de reconhecida qualidade no atendimento à população.
Por isso repudiamos a ação desumana da Prefeitura de São Paulo, que não respeitou toda a história de luta e construção coletiva desse local, que é referência de educação e cultura em nosso território e é um importante centro de formação para educadores de todo o Brasil.!”
Exauridos pela ação constante de distribuição de mais de 10.000 cestas, e o monitoramento dos casos de covid na comunidade, as lideranças da UNAS falam indignadas das sensação de abandono e de traição. Ele [Bruno Covas], conhece nosso trabalho. “Veio aqui nos comprimentar diversas vezes”, afirma Cleide liderança da UNAS. Como é que num momento como esse que a morte nos ronda, ele faz esse desmonte, e não aceita conversar, afirmou Solange, outra liderança da comunidade.
Tendo o isolamento social como única política para evitar a contaminação da população, e com evidentes dificuldades de propor ações práticas para o enfrentamento da pandemia na cidade, o governo municipal do PSDB demonstra com essa ação, que dentro da política neoliberal, vai aproveitar a crise do covid, para fazer mais um desmonte e atingir a população mais pobre da cidade. Desmontando um projeto que é um exemplo pra todo o país, para fazer arranjos políticos para as eleições municipais.
Nós do Coletivo Negro Universitário da UFMT lançamos esse vídeo “Realidades das Populações Negras sobre o coronavírus (COVID-19)” com a intenção de refletir sobre esse momento de pandemia e isolamento social, considerando nossas realidades enquanto população negra. Nosso objetivo é pensar uma maneira mais eficaz de combater o Covid-19, tendo como centro a experiência de nosso povo.
No dia 18 de março o CNU lança e envia uma nota para canais de comunicação de MT na qual pedimos que quando tais veículos realizassem matérias sobre as consequências do vírus e da pandemia, considerassem aqueles e aquelas que devido às desigualdades raciais e sociais existentes no Brasil estão mais expostos ao vírus.
É necessário pensarmos informes que considerem as realidades tanto da população negra quanto das demais populações em situação de vulnerabilidade a fim de que possamos encontrar uma forma de seguir as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS). Para suprir esta demanda por informação, elaboramos este material logo após a publicação da referida carta.
Neste vídeo contamos com os relatos de Frederic Nozil, pastor em Porto Príncipe capital do Haiti e de Iracena Marques Vieira, estudante de Administração e Gestão de Recursos Humanos, de Guiné-Bissau. Recebemos o vídeo de Frederic no dia 26 de março e de Iracema no dia 02 de maio de 2020. O link da matéria com novas informações do Haiti do site “O Globo” é do dia 03 de maio de 2020.
Portanto, esperamos que este material possa ajudar a dar mais atenção para aqueles e aquelas que pensam na realidade vivida pelos povos africanos e por seus descendentes em meio à pandemia.
Agradecemos a parceria com a Associação de Defesa dos Haitianos Imigrantes e Migrantes em Mato Grosso (ADHIMI-MT), com a página Cultura, História e Língua Haitiana (@culturahistorialinguahaitiana ) e o apoio do Coletivo Negro Audiviosual Quariterê (@quaritere ) pela edição deste material.
Por Bruno Falci e Luiza Abi Saab, de Portugal, especial para o Jornalistas Livres
Este e outros temas atuais que envolvem a grave situação política e sanitária do Brasil são abordados por Tarso Genro, um dos quadros históricos mais importantes do PT desde a sua fundação. Arquiteto do Fórum Social Mundial de Porto Alegre, Tarso foi deputado constituinte e federal, sendo duas vezes prefeito de Porto Alegre e governador do Rio Grande do Sul. Durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva foi ministro da Educação, das Relações Institucionais e da Justiça, tendo presidido também o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Ocupou interinamente a presidência do PT em 2005.
A Internacional Progressista é uma iniciativa de mais de 40 políticos e intelectuais de todos os continentes, entre os quais se destacam o norte-americano Noam Chomsky, a canadense Naomi Klein e políticos em atividade como a primeira-ministra da Islândia, Katrín Jakobsdóttir, o deputado e ex-ministro de Finanças da Grécia Yanis Varoufakis, e a ministra argentina de Mulheres, Gênero e Diversidade Elizabeth Gómez Alcorta. O movimento conta com a presença de líderes latino-americanos como o ex-presidente equatoriano Rafael Correa, o ex-vice-presidente boliviano Álvaro García Linera, o ex-prefeito de São Paulo e candidato do Partido dos Trabalhadores à presidência em 2018 Fernando Haddad, O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim e o ex-ministro da Justiça Tarso Genro.
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Na ultima vez que estivemos com Fernando Haddad e Tarso Genro foi aqui em Lisboa para cumprir agenda, em janeiro de 2019,em uma das suas viagens internacionais visando a fundação da Internacional Progressita. Veja abaixo a cobertura dessa visita em Portugal feita pelo Jornalistas Livres.
Segundo Tarso Genro, a questão do internacionalismo está encravada na ideia clássica, marxista, que vem dos eventos do século passado, como também na socialdemocracia, que foi uma alternativa política forte contra o sistema do capital.
“Da minha parte, esta ideia foi concebida não propriamente como uma organização, como foi feito agora, que é uma novidade lançada pelo Sanders e alguns outros intelectuais europeus e americanos.Mas a ideia que nenhuma questão local, questão regional, questão global importante deixa de ser também uma questão internacional. Todos os fatos, por exemplo, o Fórum Social Mundial de Porto Alegre, ocorre em um município. Todas as questões relacionadas com a inserção soberana do país ou da região na globalização econômica para disputar o seu espaço e estabelecer as suas alianças, é sempre uma questão que transcende as fronteiras políticas e as fronteiras geográficas e as fronteiras geopolíticas onde este lugar está situado. Trabalhamos muito esta ideias a partir da administração popular em Porto Alegre.
O ministro acrescenta:
“Eu fui o primeiro prefeito do Rio Grande do Sul – e, quem, sabe do Brasil – que tomou duas iniciativas importantes. Primeiro, organizar em um terreno local uma instituição comunitária de crédito. Através dela, o municio se comunicava com as agencias internacionais privadas e públicas para financiar projetos do Estado. Depois, criamos uma secretaria municipal de relações internacionais, Nesta, estabelecemos uma profunda relação com a Itália, Espanha, França e Portugal. Assim, estendemos os laços políticos do nosso governo para um conjunto de países, inclusive latino-americanos. Fundamos aqui também uma entidade de prefeitos do Mercosul, estabelecida a partir desses critérios de solidariedade internacional progressista e que, inclusive, existe até hoje”.
Para Tarso Genro, essa novidade agora da formalização da Internacional Progressista é um avento extraordinário.
“Eu estava tratando desse assunto agora mesmo com o Fernando Haddad, através de e-mails. Aquela questão que nos estruturava no plano socialista do século passado está sendo substituída agora por internacionalismo que vai além da ideia socialista, que vai da solidariedade humana, da justiça social, intercâmbio democrático entre os países e da sustentação mútua de projetos democráticos e progressistas, em países que estão sendo avassalados, atacados duramente pela fúria fascista, como no Brasil.
Tarso afirma que tem como projeto fazer tudo para que essa ideia – a Internacional Progressista – vingue, pois ela não é somente uma ideia generosa, uma ideia transformadora das relações internacionais – é também uma ideia necessária. E conclui: “Ninguém vai mais conquistar um projeto democrático, moderno, avançado, participativo sem que haja essa solidariedade internacional e no campo progressista em geral”.