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Categoria: Meio Ambiente

  • Mudanças climáticas: a influência das ações do homem nesse processo no Brasil

    Mudanças climáticas: a influência das ações do homem nesse processo no Brasil

     

    Uma pesquisa recentemente divulgada pelo Greenpeace, em parceria com o Datafolha, afirma que os brasileiros, num geral, acreditam que as mudanças climáticas já afetam o país. No entanto, apesar da maioria responder que já ouviu falar sobre o assunto, a parcela que se declara pouco informada em relação às mudanças climáticas é maioria.

    Enquanto um total de 88% respondeu que já tinha ouvido falar sobre mudanças climáticas, apenas 28% se consideram bem informados.

    Para Alexandre Gross, gestor de projetos no Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV, esses 88% podem abranger pessoas com profundo conhecimento sobre o tema e outras que apenas “ouviram falar”. “As pessoas estão mais informadas sobre as mudanças climáticas muito por causa da crise hídrica e do setor elétrico. Nesse sentido, a grande mídia e algumas figuras públicas também estão pautando o assunto”, comenta.

    Foto: Mídia NINJA

    Entre os possíveis fatores responsáveis pela mudança climática, o desmatamento lidera como principal para 95% dos entrevistados. Em seguida, está a queima de petróleo (93%), atividades industriais (92%), queima de carvão mineral (90%) e tratamento de lixo doméstico (87%). Entre os últimos da lista, está o comportamento do sol (83%), as hidroelétricas também (80%), a agropecuária (77%) e por último o el niño (64%).

    O professor da FAAP e teórico ecossocialista, José Correia Leite, considera que a principal causa das mudanças climáticas no Brasil é a agropecuária.

    “O grande vilão [do ecossistema] não é a indústria, é a agropecuária. Ela é a atividade mais predatória desenvolvida no território brasileiro”, diz.

    Para Alexandre, em uma escala global, é a queima de combustíveis fósseis a grande responsável. No Brasil, por outro lado, historicamente foi o que é chamado de uso da terra, categorização que engloba o desmatamento. Em segundo lugar, a agropecuária que foi ultrapassada pelo setor de energia recentemente.

    “É interessante que as pessoas não tenham a percepção de que esse setor é altamente prejudicial. Mas, ao mesmo tempo, é um setor que pode inverter a jogada facilmente. Tem uma metáfora que aponta a agropecuária como o vilão, por contribuir com as mudanças climáticas, a mocinha também, porque sofre com elas. E, além disso, pode ser o herói pelo potencial de diminuir essa emissão”, conta.

    Para José, além de influenciar as mudanças climáticas, a atividade agropecuária contribui com o desmatamento, perda da biodiversidade e destruição do sistema hídrico. “Isso tem um impacto devastador sob os biomas”, completa o especialista.

    Foto: Greenpeace/Gilvan Barreto

    A pesquisa aponta que 66% dos entrevistados considera que o Brasil deveria assumir uma liderança no enfrentamento do problema das mudanças climáticas. O professor da FAAP diz que o país tem potencial para enfrentar o assunto. No entanto: “O Brasil poderia gerar energia elétrica, basicamente, pela solar e eólica. Além das hidroelétricas que já existem, sem construir mais. Me parece que não vai liderar esse enfrentamento, porque não há nenhuma sensibilidade por parte dos dirigentes dos partidos políticos e do setor empresarial nesse sentido”.

    Para ele, o financiamento de partidos políticos por empresas de agronegócio compromete políticas públicas de caráter ambiental. Ainda segundo José, é preciso uma alteração radical da estrutura de poder da política brasileira. “A Dilma faz do Pré-sal seu principal projeto estratégico para o país. Além disso, grande parte das bancadas dos outros partidos, e também o PT, estão vinculadas ao agronegócio. Como essas pessoas vão combater o desmatamento, se elas mesmas estimulam o desmatamento?”, questiona.

    Pesquisa realizada por Antônio Nobre, no final do ano passado, aponta que existe uma mudança no regime de chuvas da Amazônia. Com a devastação, a floresta joga menos umidade no ar, e isso pode estar vinculado com a seca no sudeste.

    “Se isso é verdade, as consequências são enormes, por que o sistema Cantareira pode jamais se recuperar”, alerta. José aponta que essas mudanças não tem a ver apenas com a temperatura do planeta e fatores naturais, e sim com ações do homem.

    Desse ponto de vista, a aprovação do novo código florestal (2012), que reduz a preservação das matas ciliares (vegetação ao redor dos rios) de 50 para 15 metros, contribui para o desmatamento. “A aprovação foi um sinal verde para destruir em uma escala jamais vista no sistema hídrico brasileiro. E isso foi aprovado pelo governo, ou seja, isso foi referendado pela presidente Dilma”, conclui o ecosocialista.

    O Estado do Acre viveu uma cheia histórica de seus rios, com uma elevação de mais de 18m do curso normal, deixando mais de 7 mil pessoas desabrigadas na capital. — Foto: Mídia NINJA

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  • Índios de todas as tribos se unem em abraço à Represa do Guarapiranga

    Índios de todas as tribos se unem em abraço à Represa do Guarapiranga

    A Assembleia Estadual da Água deixou seu recado: “Água não se vende, é um direito!!”. Índios Guaranis cantaram seu rap em defesa da represa do Guarapiranga e impressionaram pelo gingado. Por volta das 13 horas do domingo (31) chuvoso e frio em São Paulo, um grande número de ativistas, ecologistas, professores, membros da sociedade civil, crianças, tribos de todas as idades e origens deram-se as mãos e abraçaram a represa. A décima edição do Abraço à Guarapiranga foi registrada pela filmagem de um drone, numa parceria entre Mídia Ninja e Greenpeace, que participavam do grande pool de apoiadores e organizadores do Abraço.

    Foto: Imagéns aéreas realizadas pelo drone do Contadagua.org

    Uma intervenção do grafiteiro Mundano presenteou o parque da Guarapiranga. Ele explicou que a intervenção foi pensada para ser vista do alto. Reuniu rapidamente 20 pessoas que ajudaram a realizar o trabalho. Mundano conta que foi convidado pela Sabesp, a companhia responsável pelo abastecimento de água e saneamento do estado, para realizar uma intervenção para o Dia do Meio Ambiente, mas declinou o convite.

    Foto: Mídia NINJA

    O artista tem atuado ativamente em questões relativas à crise da água, com destaque para uma intervenção na represa da Cantareira, quando grafitou um carro que emergiu do fundo da represa durante a seca do ano passado. Esse grafite repercutiu na imprensa tradicional e provocou a remoção de 21 carros que estavam submersos no fundo do leito exposto pela seca. Mundano afirmou esperar que seu trabalho “inspire as pessoas e traga consciência para a questão da crise hídrica”.

    A Bicicletada Zona Sul também marcou presença com suas bicicletas e bandeiras com o símbolo do Abraço. A Associação de Moradores Movimento Anchieta estava fortemente representada, e entidades como Slow Food e Cáritas também participaram do Abraço coletivo.

    “A água do Guarapiranga tem pouca poluição industrial. Sua poluição vem de esgoto não tratado”, afirmou o coordenador do Movimento Garça Vermelha, Eduardo Melander Filho. Segundo ele, a qualidade da água da represa ainda é boa. “São dez anos de Abraço para conscientizar a população e o poder público sobre a importância da água e da sua preservação”. Ele sublinhou:

    “O movimento avisava sobre a iminência de uma crise de abastecimento havia muitos anos, e nada foi feito pelo poder público”.

    O deputado estadual Enio Tatto (PT-SP), que participa do Abraço à Guarapiranga desde a primeira edição, ressaltou que um avanço importante para a preservação do manancial é a Lei Específica do Guarapiranga (Lei 12.233/2006), aprovada “com alguns avanços”.

    Foto: Mídia NINJA

    “A importância do Abraço é a conscientização, já que mais de 50% do esgoto que é coletado não é tratado e volta para a represa”, disse Tatto em entrevista aos Jornalistas Livres. “Com a crise do Sistema Cantareira, quem socorreu diversas regiões da cidade de São Paulo e da região metropolitana foi a Guarapiranga, daí a necessidade de preservar o manancial, principalmente por parte da Sabesp e do Governo do Estado. Depois de 20 anos, o governo não trata o esgoto. Temos que lutar o tempo todo para preservar esse manancial.”

    Questionado pela reportagem, Tatto afirmou não ver perspectiva de que seja constituída uma CPI na Assembléia Legislativa do Estado para investigar a Sabesp, devido à dificuldade de conseguir o número de assinaturas necessárias. Disse acreditar que existem outros mecanismos de fiscalização da companhia atualmente controlada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB): “Mobilização, denúncia, representação e outras atividades”.

    Edson Aparecido da Silva, coordenador do Coletivo de Luta pela Água, nos contou que o coletivo foi organizado no começo de 2015 e é um espaço de articulação entre as várias entidades que o compõem, dos movimentos sindical, popular e de luta por moradia. O objetivo é o de construir propostas para minimizar os efeitos da falta de água em São Paulo, queafeta principalmente a população da periferia da cidade.

    Foto: Mídia NINJA

    Edson informou que o Coletivo está organizando um Curso de Formação de Formadores sobre a Crise da Água, cujo objetivo é socializar a compreensão sobre a crise para lideranças do movimento popular. O curso acontecerá dia 27 de junho, na sede da Vila Mariana (R. Machado de Assis, 150). O Coletivo também formará um Tribunal Popular da Água, com o objetivo de “julgar o governador Geraldo Alckmin pelo que não fez para evitar que a crise atingisse a situação que atingiu”, explicou. Uma fanpage contém as informações e a agenda de atividades do Coletivo de Luta pela Água.

    O Abraço à Guarapiranga foi pensado depois de três dias de um seminário realizado em 2006, que reuniu várias organizações e especialistas para discutir propostas para a Guarapiranga, no ano do seu centenário. A coordenadora da Aliança pela Água, Marussia Whately, disse que as primeiras edições do Abraço foram de apresentação de uma agenda positiva para a recuperação da represa e de um placar de ações no qual cada entidade apresentava suas iniciativas. “O propósito era de que as pessoas pudessem se reconectar com as fontes de água e pudessem demonstrar seu carinho e respeito pela represa, além da indignação pela poluição nela depositada”, relatou Marussia.

    Foto: Mídia NINJA

    Além da organização do Abraço, são diversas ações desenvolvidas pela Aliança, que é composta por mais de 50 entidades da sociedade civil, com uma intensa agenda de atividades. Segundo Marússia, um relatório que comprova a violação dos direitos humanos será entregue ao Relator da ONU para o Direito à Água e Saneamento, Léo Heller, em julho, e deve conter uma série de denúncias além da negação do direito à agua, o acesso à informação e ao meio ambiente.

    O secretário paulistano de Cultura, Nabil Bonduki, foi levar seu abraço à represa e destacou: “O ato chama a atenção para a importância dos nossos recursos hídricos. A região metropolitana de São Paulo consome mais água do que produz, e a Guarapiranga é o manancial mais importante da região”. Segundo o secretário,são necessárias ações de conscientização do uso da água, “com adoção de medidas como reuso, cisternas e captação de água da chuva”.

    Mauro Scarpinatti, um dos idealizadores do Abraço à Guarapiranga e coordenador da Rede De Olho nos Mananciais, se disse surpreso com a grande adesão deste ano em virtude da chuva fina e fria que caiu pela manhã e ainda assim reuniu 1.500 pessoas em torno na represa.

    Foto: Mídia NINJA

    Para Mauro, a edição de 2015 ficará marcada por conta da participação dos movimentos de moradia, que estiveram em grande número no Abraço. Essa aproximação deve ser tratada “com um carinho enorme, pois abre uma nova perspectiva de diálogo mais profundo para construir alternativas de desenvolvimento juntos”.

    Segundo Mauro, há setores do movimento ambientalista que “muitas vezes satanizam e estigmatizam” os movimentos de moradia por causa das ocupações que acontecem nas áreas de mananciais, mas essas ocupações são “resultado de processos de negação e exclusão de direitos”. O processo de aproximação com os movimentos de moradia vem sendo construído ao longo dos anos, e pode ser considerado um marco histórico o movimento de moradia ter assumido o Abraço à Guarapiranga.

    Mauro festejou também a participação dos índios Guaranis na décima edição. “São pequenas vitórias, mas são vitórias”, disse, lembrando a conquista da demarcação das terras do Jaraguá e a luta antiga pela demarcação das terras dos Guaranis em Parelheiros.

    Encerrando a cobertura da décima edição do Abraço à Guarapiranga, e rompendo a barreira do formalismo de um relato convencional apresentado por esta repórter, o fotógrafo e cinegrafista Christian Braga, da Mídia Ninja, pediu a palavra e questionou: “Posso fazer uma pergunta?”. Foi prontamente atendido por Mauro Scarpinatti, que além de militante da defesa do Guarapiranga é professor e pessoa de rara sensibilidade: “Claro!”.

    Christian: “Por que a palavra ‘Abraço’?

    Mauro: “Abraço, porque… A gente costuma dizer que a gente abraça… Aliás, eu nunca falei isso… A gente costuma dizer que a gente abraça aquilo que a gente gosta…..A gente abraça…. O abraço é um gesto de carinho… Ninguém abraça aquilo que não gosta… É um gesto de carinho!!!”.

    Mauro foi pego de surpresa com uma pergunta simples, perdeu o fôlego para uma palavra que carrega essa forte energia do cuidado e da atenção, elementos essenciais para realizar o trabalho a que ele se dedica ao longo de tantos anos. O abraço que alguém teve a curiosidade de tentar entender.

    Sem ter muito mais o que explicar, terminamos a cobertura com um abraço, o nosso abraço à represa e o nosso abraço a Mauro, por sua crença nesse projeto de defesa das águas. Oxalá essa energia de carinho e cuidado com o meio ambiente e com o manancial, compartilhada por todas as pessoas que ali estiveram, contagie outros. Pelo futuro e saúde das águas da represa e por que não?, pelo futuro do planeta.

    Foto: Mídia NINJA

     

  • Trabalhadores da Sabesp paralisam atividades por direitos iguais

    Trabalhadores da Sabesp paralisam atividades por direitos iguais

     

    Categoria recebeu apenas 50% do valor do Participação nos Lucros e Resultados (PLR), enquanto diretores ganham bônus e trocam de carro

    O Sindicato dos Trabalhadores em Água Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema) realizou uma paralização na manhã desta quinta-feira (30) nas superintendências da Sabesp para protestar contra a diferença no tratamento entre os funcionários. No início do mês, a empresa pública pagou dividendos aos acionistas e há quinze dias realizou a transferência dos valores referentes à Participação no Lucro e Resultados (PLR) aos diretores. Para trabalhadores, porém, a empresa pagou apenas metade do PLR.

    “A gente está reivindicando o pagamento de 100% da PLR porque a culpa da crise não é nossa. Se faltou matéria-prima é porque a empresa não investiu”, afirma um dos trabalhadores da companhia do estado de São Paulo.

    As superintendências regionais da Sabesp foram paralisadas até às 11hs da manhã. O objetivo é mobilizar os trabalhadores para a assembleia geral da categoria, marcada para segunda-feira (4), que decidirá se os trabalhadores da empresa entram em greve geral já na terça-feira (5), conforme deliberado na assembléia do dia 27 de abril.

    “Os diretores não perderam o bônus. Ganharam mais de R$ 70 mil em bônus e trocaram o carro, para o qual têm motorista! E para nós? A empresa cortou metade da PLR, que já é baixa”, afirmou o trabalhador indignado.

    O pagamento do PLR aos trabalhadores passará pelo crivo da Comissão de Políticas Salariais (CPS) do Governo do Estado de São Paulo, conforme decisão do Conselho de Administração da empresa de saneamento, processo considerado absurdo pela categoria.

    No ato, os trabalhadores da Sabesp se posicionaram contra o projeto de lei que amplia a possibilidade de terceirizações para atividades fim da empresas (PL 4330), contra as demissões na empresa de saneamento e defenderam o PLR igualitário para todos os funcionários, além de uma reforma política para o País.

    No último dia 26 de março, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) divulgou um lucro líquido de R$ 903 milhões no ano de 2014 e efetuou o pagamento de R$ 252, 3 milhões em dividendos aos acionistas.

    Estimativas feitas com base nos dados oficiais da companhia divulgados apontam que, entre 2003 e 2013, cerca de um terço do lucro líquido total da Sabesp foi repassado aos acionistas. O montante é da ordem de R$ 4,3 bilhões, o dobro do que a Sabesp investe anualmente em saneamento básico.