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Categoria: Meio Ambiente

  • Vale S.A. nada fez após cinco anos do crime em Mariana

    Vale S.A. nada fez após cinco anos do crime em Mariana

    Há exatamente cinco anos acontecia o rompimento da barragem do Fundão em Bento Rodrigues, distrito de Mariana, MG, levando 20 vidas, destruindo a vila e jogando toneladas de lama de minério no oceano ao acabar com a vida ao longo do Rio Doce em Minas e no Espírito Santo. A barragem da Vale S.A. e BHP Billiton, mas operada pela mineradora Samarco, rompeu-se na tarde do dia 5 de novembro de 2015.

    Durante todo esse período, mais de 1.800 dias, os responsáveis pelo crime não foram julgados. Em 2019, o crime de homicídio foi retirado do processo. As mortes provocadas pelo rompimento da barragem foram consideradas pela Justiça como simples consequência da inundação causada pelo rompimento, prevalecendo a impunidade. De lá para cá, as comunidades destruídas não foram reconstruídas e não há respostas para a recuperação do meio ambiente e para moradores, que passaram a sofrer de depressão e outras doenças.

    Foto de Aloísio Morais

    “Tudo está por fazer”. Esta é a conclusão da chefe da Força-Tarefa Rio Doce, Silmara Goulart, procuradora do Ministério Público Federal (MPF), sobre o crime cometido pelas empresas Vale S.A., BHP Billiton e Samarco. “A sensação, olhando cinco anos de desastre, é de consternação e profunda tristeza com a desolação, tudo ainda está por fazer”, conclui Silmara. “Nenhum grupo de atingidos foi integralmente indenizado, o meio ambiente também não foi integralmente recuperado e sequer o distrito de Bento Rodrigues foi reconstruído”, afirmou.

    Além disso, um outro bom exemplo que ela aponta é o auxílio emergencial pago aos atingidos, que foi suspenso em plena pandemia. A procuradora ressalta também o fato do caso envolver duas empresas que estão entre as mais ricas do mundo, a Vale e a BHP Billiton, controladoras da Samarco, que atua em Mariana. “Antes do desastre, elas preferiram economizar para não reparar a barragem que estava em risco. Agora, os mesmos responsáveis preferem brigar para economizar centavos às custas da dignidade humana. Nós, do MPF e instituições parceiras, tentamos todas as estratégias possíveis, pedimos recomendações, recorremos de decisões, mas os resultados são frustrantes”, disse Silmara durante entrevista coletiva.

    Na zona rural de Barra Longa as casas e imóveis das comunidades foram parcialmente encobertas pela lama que chegou pelo rio Gualaxo do Norte. Foto de Tânia Rego/ABR

    Na ocasião, MPF, Ministério Público de Minas Gerais e Defensoria Pública de Minas Gerais e do Espírito Santo criticaram a  Fundação Renova, criada pelas mineradoras para reparar os danos ambientais e sociais, pelo descumprimento de acordos feitos ainda em 2016, como a criação das câmaras técnicas para assessorar os atingidos. Apenas cinco das 23 câmaras foram contratadas até agora. “Brumadinho (na Grande Belo Horizonte, onde outra barragem se rompeu há quase dois anos) tem assessoria técnica, embora a Vale lute contra. Lá temos avanços incríveis que, infelizmente, não temos em Mariana, onde o desastre é mais antigo”, apontou o promotor André Sperling.

    As instituições criticam também a atuação da 12ª Vara da Justiça Federal por decisões recentes envolvendo a tragédia de Mariana. “A diferença principal (entre a reparação em Brumadinho e Mariana), além da experiência acumulada de um caso para o outro, é a atuação do Judiciário Estadual, que foi bem superior em comparação com o Judiciário Federal”, completou Sperling.

    Ilustração de Vilé

    O procurador Edilson Vitorelli, do MPF, lembrou que, no meio deste ano, o órgão ficou sabendo pela imprensa que corria na Justiça um processo de reparação de dano que não constava no processo coletivo. “Começamos a fazer pesquisa e descobrimos que a Justiça Federal de Belo Horizonte admitiu a instauração de 13 processos desmembrados do nosso processo federal, os quais não eram conhecidos de nenhumas das instituições da força-tarefa. Desses 13 processos, além do MPF não ter sido intimado, nove foram mantidos em segredo de Justiça. Nem que se tentasse pesquisar não seria viável localizá-los. Quem faz coisa certa não faz escondido. Se fosse coisa boa para os atingidos não seria feito de forma oculta”, afirmou Vitorelli.

    A Fundação Renova, administrada por Samarco, Vale e BHP Billiton, informou que os novos processos indenizatórios, de adesão facultativa, foram implementados a partir de decisão da 12ª Vara Federal, após petições apresentadas pelas Comissões de Atingidos de Baixo Guandu (ES) e Naque, no Vale do Aço. “O papel da Fundação Renova é executar o que está definido pela sentença judicial”, justificou.

    Até setembro, segundo a Renova, foram destinados R$ 10,1 bilhões para as ações de recuperação e compensação. Até 31 de agosto, cerca de R$ 2,6 bilhões foram pagos em indenizações e auxílios para cerca de 321 mil pessoas.

    Ilustração de Janete

    Nota do MAB

    A propósito dos cinco anos do crime da Vale S.A. em Mariana, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) divulgou a seguinte nota:

    Nós, atingidos e atingidas de toda a bacia do Rio Doce e litoral capixaba, somos pescadores e pescadoras tradicionais do rio, do mar e do mangue, marisqueiras. Somos trabalhadores da cadeia de apoio da pesca, comerciantes, pousadeiros e surfistas. Somos ribeirinhos e agricultores familiares e artesãs. Somos povos tradicionais, indígenas e quilombolas, assentados da reforma agrária, moradores das comunidades atingidas. Nós somos homens e mulheres, idosos e crianças que tivemos nossos sonhos e projetos de vida interrompidos há cinco anos, pelo crime das mineradoras Vale, Samarco e BHP.

    Estamos hoje, dia 5 de novembro de 2020, em Regência (ES), reunidos na foz do rio Doce, para dizer às empresas criminosas: Nossas vidas não têm preço! Não daremos quitação geral as empresas! Não estamos quites deste crime!

    Não tivemos de volta nossas vidas, nosso rio, nosso trabalho, nossa renda, nosso lazer, nossa autonomia, nossos sonhos, nem sequer as nossas casas foram concluídas em Mariana e Barra longa, nos três reassentamentos propostos. Somos seres humanos e não mercadoria, não estamos a venda, sem reparação não haverá quitação.

    Temos direito a ter voz e vez nas decisões. Estamos cansados de ter nossos destinos colocados à mercê de empresas, políticos e juízes, poderosos e donos desse sistema, que rouba nossos direitos à luz do dia sem nenhum pudor, e nos afundam cada vez mais nessa lama tóxica de interesses privados.

    Nossos saberes tradicionais e populares, o nosso conhecimento acumulado por meio de gerações sobre nossos territórios e nossos modos de vida deve ser levado em conta. Já estávamos nos territórios antes da lama chegar. Estaremos aqui, e a nossa descendência estará por gerações nos mesmos territórios, mesmo após a Fundação Renova e os governantes que hoje estão à frente da reparação.

    Não permitiremos mais que as nossas vidas sejam resolvidas entre quatro paredes pelas criminosas e seus cúmplices. A solução do problema vira de nós, atingidos e atingidas, povo unido e organizado.

    A verdadeira participação popular virá das ruas, das praias, das escolas, das beiradas de rios e mangues, das vilas e das comunidades atingidas. Virá do povo atingido, em seu espaço de vivência, de afeto e de luta.

    E, por fim, não abriremos mão de nossa saúde e bem-estar. Além das 19 vidas e do aborto em Bento Rodrigues, muitas outras vidas foram perdidas nesses cinco anos. Vidas que se foram, e vidas que nunca mais serão as mesmas.

    Queremos de volta nossa água, nosso rio, nossas praias, nosso lazer e nosso alimento. Aqui está o povo que sempre trabalhou duro para ter o que comer, e sempre produziu alimento saudável para as nossas famílias e comunidades.

    Não pedimos para ser atingidos por esse crime, mas agora que fomos, seremos de cabeça erguida e com a certeza de que estamos do lado certo da história. É hora de o Brasil dar um basta a essas empresas que se orgulham de recordes seguidos de lucro – enquanto negam ao povo humilde a justa reparação aos danos causados aos nossos territórios, aos nossos corpos e as nossas vidas.

    Vale, Samarco e BHP, se preparem, pois estamos aqui para dizer em alto e bom som: saímos do luto, e os próximos cinco anos serão de muita luta!

    Do Rio ao Mar, não irão nos calar! Águas para Vida, Não para Morte!

    Ruínas deixadas pela lama em Bento Rodrigues – José Cruz/Agência Brasil
    Barra Longa (MG) – Rio Gualaxo do Norte poluído pela lama levada pelo rompimento da Barragem de Fundão – José Cruz/Agência Brasil

    Obs. A foto de abertura deste texto é de Antônio Cruz/ABR

  • O fogo na Amazônia é protocolo

    O fogo na Amazônia é protocolo

    Protocolo. Ao chegar nas proximidades da Aldeia Cajueiro, passamos por dois caminhões do exército indo embora por volta das 15h e levantando poeira na estrada sem asfalto. De dentro do carro, vimos a muralha de fumaça típica de qualquer queimada no país. O cheiro de mata queimada é forte. A última vez que senti esse cheiro pesado, foi no Pantanal, no começo do mês.

    As queimadas avançam no Pará

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    Descendo do carro, já com câmera na mão, olho para o lado e vejo um grupo de indígenas no barracão da entrada, sentados, olhando para o fogo. Alguns bebem água. Suados. Cansados. Pergunto para um dos Tembé, o porquê de o exército ter ido embora, se ainda há fogo pra combater. Ele me diz que falaram que às 14h precisam voltar para a base. É o protocolo.

    Ao chegar me apresento para o chefe de operações do Corpo de Bombeiros do Estado do Pará, subcomandante Plínio. Um homem simpático e abatido. Suando e com o olhar fixo na fumaça, ele me diz que o fogo está descontrolado e avisa que “o corpo de bombeiros vai deixar a área às 18h. É Protocolo.”

    Morador da Aldeia Cajueiro dos Tembé Tenetehara

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    Os brigadistas sob o comando do sub Plínio, como eles o chamam, não aparentam só cansaso. Estão desorientados, sem saber o que fazer com a falta de equipamentos e com o calor, que os deixa desnorteados a cada vez que precisam entrar na mata. Tentam se proteger da tiririca – gramínea que corta o rosto e braços – e das tachis, formigas vermelhas e venenosas que entram na roupa e dão choques ao ferroar o corpo. Parece drama de quem vive na cidade, até você ser ferroado por dez formigas de fogo de uma só vez.

    Uma bomba motorizada para puxar água é colocada em uma caixa d’água antiga, em cima de um caminhão; só assim é possível utilizar a mangueira para apagar um foco grande de fogo mata adentro. Tudo improvisado.
    Os bombeiros, suados e gritando palavras de ordem uns para os outros, não parecem saber o que estão fazendo. Não se entendem. Discutem sobre o comprimento certo da mangueira. Esquecem de por os EPIs e pedem para não serem fotografados sem o equipamento. É protocolo.

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    Do outro lado, os Tembé entram na mata mais rapidamente, para acalmar as chamas que vão se formando. São muitos focos de fogo. O chão, em muitos lugares, está em brasa. As copas das árvores estão pegando fogo e é preciso derrubar algumas. É necessário atenção máxima para os pedaços grandes de brasa que caem. Uma sucupira de mais de 100 anos vai ao chão pela motoserra. Tudo nessa situação é perigoso. Alguém pode ser esmagado por esses colossos que queimam por dentro. Os indígenas entram na mata no momento em que a árvore desaba, para apagar as brasas antes que, mais uma vez, o fogo pule para outros pontos; usam mochilas amarelas de água, emprestadas pelo Corpo de Bombeiros do Estado do Pará. A fumaça sobe no meio do mato, mas ainda é preciso esfriar mais a árvore tombada. São 18h e os bombeiros precisam sair. É Protocolo.

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    Lançados à própria sorte, sem equipamento adequado, sem mangueira, sem treinamento e sem EPIs, os Tembé decidem abandonar a briga. Não há mais o que fazer. A noite esconde outros perigos além do fogo. O fogo pode ser visto a olho nu na escuridão. Serpentes como a cascavel e a jajaraca ficam escondidas e atacam, caso sejam pisoteadas. São invisíveis! Consumidos pelo fogo, galhos ficam expostos como espetos afiados, na mata e no chão. Uma espetada nas pernas, pés ou na barriga pode ser fatal, no meio da mata e à cinco horas de distância da cidade mais próxima, Paragominas.

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    Alguns dos Tembé voltam pra Aldeia Cajueiro, mas outros precisam ficar e lidar com a falta de energia e luz. Fios dos postes foram derretidos pelo fogo. O cacique Reginaldo Tembé e outros Tembé Guardiões da Floresta, tentam fazer a emenda de um fio de alta tensão que foi rompido durante a queimada que já dura mais de três semanas.

    O fogo misterioso, que começou de forma estranhamente milagrosa, próximo a uma fazenda, não vai descansar à noite. O fogo não sabe o que é descanso. Vai consumir mais ainda a mata, ao compasso do vento, assim como vai consumir os animais, como o bicho-preguiça, a jibóia e o jabuti. O fogo não sabe o que é protocolo.

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    Amanhã de manhã, na Aldeia Cajueiro, os Tembé Tenetehara, cansados e com fome, irão acordar para batalhar mais uma vez, sem apoio dos bombeiros e do exército. Serão despertados pela fumaça que cobre a aldeia. Terão tosse mais uma vez. É o protocolo.

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    Vejam outras matérias sobre as queimadas na Amazônia e no Pantanal.

    https://jornalistaslivres.org/o-agro-e-pop-e-o-fogo-e-de-mentira/

    https://jornalistaslivres.org/pantanal-em-chamas-arvores-solo-e-animais-dizimados/

    https://jornalistaslivres.org/desinformacao-a-favor-do-fogo-pantanal-em-chamas/

  • FAMQLive – Festival em Defesa do Parque da Fonte

    FAMQLive – Festival em Defesa do Parque da Fonte

    A situação do nosso almejado Parque da Fonte é muito crítica

    Impedidos de entrar na área, temos recebido e encaminhado diversas denúncias de novas contruções dentro do terreno, árvores derrubadas, queimadas, a água que escoava pela Rua da Fonte secou, fotos do Google mostram Córrego da Fonte soterrado e depois, coberto com gramado.

    Parque da Fonte

    A indignação e impotência é imensa

    Na justiça, processo aguarda apenas o deferimento da imissão da Prefeitura na posse. Num primeiro momento, juíza indeferiu, exigindo que a Prefeitura depositasse mais 3 milhões de reais – mas a dívida do proprietário com a prefeitura já ultrapassa o valor do imóvel, por que motivo depositar um dinheiro que o proprietário não poderá receber? Ninguém poderá receber.

    Neste momento, intercedemos para que a excelentíssima juíza reveja sua sentença e, finalmente, esta área volte a ser pública, como históricamente sempre foi. Urge imitir a Prefeitura na posse! Urge que esta área seja pública, que tenhamos direito a entrar, fazer vistorias, participar das medidas de segurança e preservação. E participar da concepção e projeto do Parque da Fonte do Peabiru.

    Parque da Fonte

    Para que todos escutem nosso grito, resolvemos realizar o FAMQ-LIVE EM DEFESA DA FONTE!

    Para entender a situação em que se encontra o Parque da Fonte

    2001 – realizamos a “Festa da Ocupação” – movimentou tanto o Butantã, que nos rendeu conhecer o Peabiru.

    2003 – foi declarada ZEPEC- Zona Especial de Proteção Cultural, pelo Plano Diretor da Cidade.

    2010 – realizamos a ManiFestAção em Defesa da Fonte

    2011 – foi decretada de utilidade pública – DUP.

    2012 – foi tombada como patrimônio ambiental, histórico e cultural pelo CONPREP – Conselho de Preservação do Patrimônio da Cidade. Muitos eventos continuaram a acontecer na Rua da Fonte: o SoMozum pela Fonte, a Lavagem da Pracinha, Carnaval, Capoeira, Mostra de Artes, Hip-Hop.

    2014 – foi declarada ZEPAM – Zona Especial de Proteção Ambiental na revisão do Plano Diretor.

    2015 – nas imediações da Rua da Fonte, realizamos o FAMQ – Fonte de Artes do Morro do Querosene, um festival de expressõess artísticas e culturais das mais diferentes linguagens.

    2016 – realizamos (na mesma rua da Fonte) o II Encontro de Jongueiros do Morro do Querosene – nesse dia a Prefeitura esteve presente e anunciou o depósito, em juízo, de 2 milhões de reais (naquela época a dívida do proprietário ainda não superava o valor do imóvel). Foi dado início ao Processo na Justiça, este mesmo que agora aguardamos o deferimento para a imissão na posse.

    FAMQ-Live em defesa do Parque da Fonte

    Agora, nos dias 2, 3 e 4 de outubro de 2020, realizaremos o FAMQ-LIVE EM DEFESA DA FONTE!

    Abertura: Dia 2/10 – das 19h30 às 22h – Roda de Conversa ONLINE com transmissão pelo facebook e youtube.

    Programação do Festival

    Significado, situação e perspectiva do Parque da Fonte do Peabiru e outros parques.

    Convidados

    Representates do Parque da Fonte do Peabiru, Parque do Jaraguá é Guarani, Parque Augusta, Parque do Bixiga, Parque da Vila Ema, Parque dos Búlfalos, Parque Chácara do Joquéi, Parque do Caxingui, Parque da Àgua Podre, Fórum das Áreas Verdes, Praça das Nascentes, Rios e Ruas, Prefeito de São Paulo, Secretaria do Verde, Secretaria da Cultura, SubPrefeitura do Butantã, Câmara Municipal de São Paulo, vereadores que estão nos acompanhando nesta luta, o atropólogo Paulo Dias, o historiador Júlio Abe, o etnomusicólogo Eric Galm, o indianista Paulo Junqueira do ISA, o representante da SOS Mata Atlântica, o jardineiro do cerrado Daniel Caballero, Daniel Munduruku, e ainda um representando do Parque Estadual Serra do Japi e outro do Parque da Lagoa do Abaeté, de Salvador.

    Dias 03 e 04/10 – das 16h às 19h

    Festival de Artes (músicos, poetas, dançarinos, capoeiras, grafiteiros, pintores, escultores, literatas, brincantes, circenses, contadores de história, mímicos, bonequeiros)

    Acompanhe a programação completa!

    www.youtube.com/associacaoculturalmorrodoquerosene

    www.facebook.com/FontedeArtesdoMorrodoQuerosene

    Parque da Fonte

    ASSOCIAÇÃO CULTURAL DA COMUNIDADE DO MORRO DO QUEROSENE

  • ONU cobra do Governo Brasileiro sobre crime da Vale em Brumadinho

    ONU cobra do Governo Brasileiro sobre crime da Vale em Brumadinho

    Durante a 45º Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU hoje, 17, em Genebra, a relatoria especial responsável pelos temas de resíduos tóxicos e direitos humanos apresentou o informe sobre sua visita ao Brasil. O relator, Baskut Tunkat, esteve na Aldeia Indígena Naô Xohã, em São Joaquim de Bicas, MG, e conversou com lideranças de várias comunidades de Brumadinho em atividade realizada no Parque da Cachoeira, em dezembro de 2019.

    Após a apresentação do relatório, Marina Oliveira, mobilizadora social da Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário (Renser), lembrou à comunidade internacional que, após 20 meses do crime, a população continua sem saber o nível de contaminação a que está exposta. E denunciou que “o Estado permite que a empresa responsável pela tragédia defina a metodologia de análise de contaminação. Como confiar no automonitoramento? Queremos análises independentes da qualidade do ar, solo e água”, disse.

    A porta-voz de Brumadinho pediu ao Conselho de Direitos Humanos da ONU que advirta o governo Brasileiro para que seja garantida a punição exemplar dos responsáveis pelas violações e que uma eventual retomada das operações extrativas em Brumadinho ocorra somente após a
    reparação integral dos danos e se estudos atualizados comprovarem que não há riscos para a segurança hídrica da população. “Queremos parâmetros e sanções internacionais para as empresas. Nós queremos compromissos reais, porque nossas dores são reais”, afirmou Marina.

    A Relatoria da ONU afirma que “os crimes corporativos contra trabalhadores e comunidades são perpetrados com impunidade, e os direitos à informação e participação são reduzidos drasticamente”. “Enquanto o desastre de Brumadinho foi tecnicamente causado pela
    instabilidade estrutural e liquefação, a verdadeira causa reside numa notável falta de fiscalização governamental e numa conduta criminalmente imprudente por parte da Vale”.

    Reconhecendo que o país passa por um momento de profundo retrocesso, o relatório apresenta uma recomendação ao Conselho da ONU para que seja aberta um inquérito internacional sobre a situação de direitos humanos no Brasil, com foco em questões ambientais, de saúde pública, direitos do trabalhador e defensores de direitos humanos. É a primeira vez que o Brasil é alvo de uma investigação como essa desde o início do período democrático.

    “Várias decisões judiciais e parlamentares não são implementadas quando desfavoráveis aos interesses privados. A retórica inflamatória, a rejeição da sustentabilidade e o fracasso em processar tem incendiado outra epidemia, uma de intimidação, ataques e assassinato de defensores dos direitos humanos”, denuncia o relator da ONU.

  • O agro é pop e o fogo é de mentira

    O agro é pop e o fogo é de mentira

    Fogo. O plano é claro. O Governo Federal quer o fim da maior parte dos biomas brasileiros. 58% é a porcentagem cortada para contratação de brigadistas, profissionais qualificados e treinados que trabalham com prevenção e controle de incêndios florestais. Parece um absurdo em um ano em que as queimadas bateram um recorde com mais de 12.000 focos de incêndio e a perda de mais de 2.500.000 hectares, mas não é. O corte genocida e brutal do governo das fake news, infelizmente, é de verdade.

    Pantanal. Os bichos
    Jaguatirica morta à beira da estrada tentando fugir do fogo

    Nesta semana, circulou um vídeo mostrando um grupo de brigadistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) pondo fogo em matéria orgânica de forma controlada na região de Cáceres no Mato Grosso. Não demorou muito para que o vídeo circulasse em grupos de whatsapp e em redes sociais acusando os brigadistas de estarem pondo fogo no Pantanal ao invés de atuarem para a extinção das queimadas. Mais um ataque que põe em dúvida por meio das fake news a atuação de um órgão que está em constante ataque do Ministério do Meio Ambiente sob a mão ditatorial e equivocada do ministro Ricardo Salles.

    Corta-Fogo
    Técnica do Pinga-Fogo

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    Contrafogo. Quando o fogo apaga fogo

    Essa técnica para combater incêndios de grandes proporções em campo aberto chama-se contrafogo. Utilizada como prevenção de alastramento contínuo, criando uma linha de chamas que vai de encontro ao incêndio ou que abre um aceiro para criar uma linha sem material natural inflamável e que faz o fogo se extinguir.

    Em entrevista ao jornal Campo Grande News, o analista ambiental Alexandre Pereira, do Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) do Ibama, explica que é utilizado um equipamento chamado “pinga-fogo” e é manuseado apenas por profissionais que tem conhecimento técnico e treinamento em combate aos incêndios, pelo Ibama, ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e Corpo de Bombeiros.

    Há cerca de um mês, a chefe de assessoria de comunicação (Ascom) do ICMBio foi exonerada, dando lugar a outro militar – predileção de um governo adepto e saudoso de uma Ditadura ainda recente em nosso país.

    Agronegócio x brigadistas

    É importante entender o esforço desse governo em desmerecer o IBAMA e o ICMBio como forma de desarticular a batalha que vem sendo travada no Pantanal, no cerrado e na Amazônia. O agronegócio é peça-chave para o enriquecimento ilícito de fazendeiros e políticos que lucram com o fim desses biomas dando lugar ao pasto para cria e recria de gado.

    Pantaneiros
    Entre a fumaça e a poeira da estrada, o pantaneiro foge do fogo que consome a mata em uma área de fazenda

    Dessa forma, a grande jogada é diminuir a fiscalização assim como a informação para o público menos esclarecido e suscetível a mentiras divulgadas, como o vídeo fora do contexto, dos brigadistas, que viralizou de forma irresponsável.

    Veículo do ICMBio

    Recente também é a morte do brigadista Welington Fernando Peres Silva de apenas 41 anos que teve 80% de seu corpo queimado em uma ação em Goiás. Wellington morreu queimado por um fogo que, de acordo com o Governo Federal, não existe. Em um vídeo exibido pelo governo em um evento, Salles afirma que a Amazônia não está pegando fogo. Em uma das imagens aparece um mico-leão-dourado, espécie característica e exclusiva da Mata Atlântica. Mais mentiras. Mais fake news.

    O Agro não é Pop

    O AGRO não é pop, como narra a propaganda bizarra na emissora campeã de audiência no programa conhecido como o show da vida. O AGRO é implacável. O AGRO ama o fogo.

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    Para conhecer um pouco mais sobre o ICMBio.

    https://www.icmbio.gov.br/portal/

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    Texto e fotos: João Paulo Guimarães, para os Jornalistas Livres

    Veja também: https://jornalistaslivres.org/pantanal-em-chamas-arvores-solo-e-animais-dizimados/

  • Desinformação a favor do fogo: Pantanal em chamas

    Desinformação a favor do fogo: Pantanal em chamas

    Já se vão mais de 2.000 milhões de hectares no Pantanal Matogrossense. Os números da Transpantaneira, Amazônia, Rondônia, Pará e Goiás, se combinados, ultrapassam os 4 milhões de hectares facilmente. Pará, Amazônia e Pantanal somam 60% de todo o fogo no Brasil sendo o Pantanal o bioma mais afetado com 5.935 focos. Os números de focos de incêndio do Pará já superam os do ano passado com quase 30.000 focos, mas o Pantanal sofre mais por ser um território 36 vezes menor.

    A Marinha do Brasil, o IBAMA, ICMBio e o corpo de bombeiros tentam conter os focos de incêndio que se concentram na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) próxima do Sesc, na Transpantaneira e em Porto Jofre que fica na fronteira do Mato Grosso com o Mato Grosso do Sul e em Barão de Melgaço. Essas instituições, juntas, vêm tentando no dia a dia da batalha contra o fogo, articular de forma inteligente ações que reúna suas expertises, mas sempre batem de frente com o mesmo problema: o Governo Federal. Mais precisamente o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que já deixou clara sua posição de alinhamento com os interesses dos latifundiários e fazendeiros locais, responsáveis por praticamente toda a queimada e fogo que consome o Pantanal.

    O Governo Federal mente ao dizer que o fogo é natural, que existe um contingente de 2.000 homens e mais de 70 aeronaves no apoio ao combate.

    Na semana que passamos no Sesc Pantanal visitando o aeródromo do Sesc para acompanhamento de ações, apenas dois helicópteros faziam sobrevoo de reconhecimento nas áreas citadas. Um helicóptero esquilo e um Black Hawk que apresentou problemas elétricos e teve de ser levado para o Aeroporto de Cuiabá em Várzea Grande. O bimotor do Corpo de Bombeiros ainda fazia sobrevoos de observação dos focos sob controle. Apenas duas aeronaves. Não um contingente de 70 como o Governo Federal anuncia em seu site oficial.

    O Corpo de Bombeiros não pode dar informações oficiais por ordem federal e estadual, mas quando questionado em “off” não têm dúvidas quanto à origem das queimadas. É uma ação deliberada de abertura de pasto. Assim que o fogo sai do controle eles são chamados. E o fogo não pode ser controlado como o agronegócio acredita ser possível. Ele parece vivo. Pula de um lado da estrada para o outro lado dando continuidade à sua força.

    Seu Joacir Crovis do Nascimento é do Município de Barão do Melgaço, mora próximo ao Rio Pirigara e foi chamado para trabalhar em uma das fazendas que, de acordo com os bombeiros, foi a responsável pelo início do foco agressivo que se iniciou no dia anterior do lado esquerdo da estrada e pulou para o outro lado. Ele conversou conosco:

    Pantanal em chamas – por João Paulo Guimarães / Jornalistas Livres
    Pantanal em chamas – por João Paulo Guimarães / Jornalistas Livres

    “O Fogo parece que é vivo. Fica debaixo da terra dormindo, aí o pessoal taca gasolina, querosene pra abrir pasto e nem o aceiro resolve. Aí ele acorda e parece que tem raiva. Olha lá ele brigando.”

    Seu Crovis aponta para a beira da estrada a uns trinta metros de nós e podemos ver a “raiva” do fogo. Uma labareda aparece como a força de um lança-chamas. O vento dá vida ao que o homem começou de forma criminosa.

    É possível conseguir informação técnica sobre o Pantanal e as queimadas através do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério da Defesa, mas lá, no foco de tudo, onde a crise realmente acontece, é impossível. O medo de falar é visível e nem chega a ser algo que se faça esforço para esconder.

    Pedimos para acompanhar uma equipe do ICMBio do Sesc Pantanal até o aeródromo e a resposta foi taxativa:

    “Amigo. Se alguém souber que a gente falou com vocês ou com qualquer outra agência ou jornal a gente perde o emprego na hora e o nosso coordenador também cai. Não era nem pra eu estar trocando ideia aqui. Me desculpa. Por mim eu falava, mas não posso. Eu já falei até demais.”

    Pantanal em chamas – por João Paulo Guimarães / Jornalistas Livres
    Pantanal em chamas – por João Paulo Guimarães / Jornalistas Livres

    A “Lei da Mordaça” é real. A exoneração do chefe de Assessoria de Comunicação (Ascom) do Ibama foi um aviso do Governo Federal. A exoneração da chefe da Ascom do ICMBio foi outro aviso aos servidores que colocam a vida em risco e que é um risco de morte de fato. Já aconteceu.

    Um brigadista veio a óbito após ter 80% de seu corpo queimado em uma mudança de direção do fogo que o pegou desprevenido. Welington Fernando Peres tinha 41 anos e morreu tentando salvar animais em Chapadão do Céu em Goiás.

    Pantanal em chamas – por João Paulo Guimarães / Jornalistas Livres
    Pantanal em chamas – por João Paulo Guimarães / Jornalistas Livres

    Welington, assim como seus companheiros brigadistas, não podia falar com a imprensa. O Governo Federal decretou dessa forma.

    O que nós questionamos aqui é, quantos brigadistas, animais e casas precisaram pegar fogo para que o Governo admita que está jogando com a vida de seres humanos além de pôr em risco espécies endêmicas únicas da natureza e do bioma pantaneiro.

    Quando a administração de Salles vai admitir que entrou em campo para perder?

    Veja também: Pantanal em chamas: árvores, solo e animais dizimados