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Categoria: Lula

  • Lula continua um gigante: foi o assunto mais comentado na internet nos últimos dias

    Lula continua um gigante: foi o assunto mais comentado na internet nos últimos dias

     

    Do Diário do Centro do Mundo

    ​O cientista político Renato Dolci, que é analista de rede social e hoje trabalha para uma grande instituição financeira que faz pesquisas, escrutinou a repercussão da notícia da morte do neto do Lula no Facebook e no Twitter.

    O resultado é animador: existem monstros como Eduardo Bolsonaro, aos milhares, talvez milhões, mas a maioria não se comportou como o filho de Jair Bolsonaro.

    Outra constatação: Lula continua sendo um gigante na internet: foi o assunto mais discutido nos últimos dois dias, com quase o dobro de menções em relação aos blocos de Carnaval.

    Entre os dias 1 e 2 de Março, Dolci coletou 768.254 menções no Facebook e Twitter.

    Também analisou as buscas  Google Trends. Veja os resultados:

    – 77.8% apoiaram que o ex-presidente pudesse sair da cadeia para ir ao funeral de seu netinho, incluindo grupos da esquerda radical anti-PT e a direita mais radical;

    – Entre os comentários, há muito mais solidariedade do que pessoas desejando dor à Lula: para cada 86 comentários de força, 1 de escárnio;

    – Lula continua sendo um “agitador” digital implacável: é o assunto mais discutido da internet brasileira há dois dias, com quase o dobro de menções do que os bloquinhos de Carnaval;

    – A trágica do menino causou um surto de buscas sobre meningite e vacinas, sendo neste momento, o quarto assunto mais buscado no Google;

    – Se somadas todas as pesquisas realizadas sobre os jogos da tabela neste sábado, tema sempre frequente no digital, a morte do neto de Lula é 8 vezes maior em termos de buscas;

    – Por fim, matérias falsas sobre o assunto não renderam praticamente nenhuma repercussão expressiva. O alcance do assunto foi de quase 77 milhões de usuários, enquanto as fake news chegaram a pouco mais de 6 milhões.

    “Não nos apeguemos ao show de horrores de perfis que não se compadecem com a dor de um avô perdendo seu neto. A inversão da ordem da vida é sempre um choque para os que tem um coração dentro do peito. Ao menos na internet, a ignorância sussurrou perto do sentimento de consolo. E não, nada disso tem a ver com política. Ainda há esperanças, Brasil”, diz o cientista político.

  • Querem ver a ferida

    Querem ver a ferida

     

    Sobre o muro da viela, sob erva daninha de rua, resiste colado um ato casto, um protesto que não cessa.

    Roda mundo, roda gigante, canta Chico Buarque na rádio do quarto, entre o computador e o televisor. Na tv sem som, vou alterando os canais, vendo as grandes emissoras mostrando o Galo da Madrugada entre outros blocos.  No computador a mídia livre aguarda um avô a velar seu neto, e outros jornalistas se empurram querendo delatar atos de rebelião, cortar cabeças. Mas é de paz o líder e seu povo em comunhão no triste momento.

     

    Não sou um pintor valentão, como me chamam, mas sim um pintor valente, isto é, que sabe pintar bem e imitar bem as coisas naturais, disse Caravaggio, em certo tempo distante.

     

    Perversa é a engrenagem das coisas, mói apreço, rói caráter, macula a face.

     

    Desperto em luto, não por ser cantor ou pintor, mas humano, homem também. Morreu um menino, me trouxe esse mundo de fora pra dentro, me pune.

     

     

    Alguns se alegram com a morte, ratos da noite. Mundo injusto, de botas e arma em punho sobre o pranto de muitos. Lula não chegou liberto aqui, nem livre seguirá seu rumo, dizendo aos homens o que pensa.

     

    Ora a perda, abraça os seus, chora entre parentes.

    Há um corte na pele, ferida que não sela. Essa vida é caatinga, não se iluda, fura o couro. Cego são os outros. Há monstros no horizonte, sertão na alma e a visão turva.

    O bruxo de Caetés, nossa viga, avança, fé cega, faca amolada. Luiz Inácio é foda.

    Além dos oceanos desenham a face internacional do comandante, incauta mancha exposta.

     

     

    Acaso a pele vermelha que cobre a alma branca também é verde, amarela, preta. Vós, que urra, proíbe, berra, boi de pasto, não entendem esse pranto.

     

     

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/412972639272657/

  • “Vi lagrimas do meu avô pingarem no rosto de Arthur”

    “Vi lagrimas do meu avô pingarem no rosto de Arthur”

    Por Bia Lula

    Ele era luz. Arthur encantava por onde passava. Ele comandava a turma da bagunça da família. Ele jogava futebol como ninguém da idade dele. Desafio da garrafa era moleza pra ele, ensinou todo mundo, desde Analua até o vovô. Ele era o primo preferido da Analua, acho que ela se identificava com ele por causa da bagunça, Analua certamente se inspira nele para cada aprontada que ela faz.

    Hoje foi um dos dias mais tristes da minha vida. NUNCA imaginei ter que enterrar um primo, ainda mais sendo de 7 anos. Nunca vi meu avô do jeito que ele estava hoje. Destruído. Acabado. Tentou segurar, mas não deu. No final as palavras já não se encaixavam nas frases, só ouvíamos soluços, choros, gritos e promessa. Promessa essa que eu sei que meu avô fará questão de cumprir, afinal Arthur era o menino dos olhos, não por gostar mais, isso nunca. Mas por estar mais próximo, mais presente.

    Assim que Marisa morreu, Arthur junto com seu pai e sua mãe se “mudaram” para a casa do meu avô e não permitiram que ele ficasse sozinho nem por um instante. Arthur deixou de ser convidado para festas de amigos da escola, da idade dele por ser neto do meu avô. E ele questionava, do modo dele, mas sempre buscando entender, apesar de ser quase incompreensível atitudes como essa.

    Arthur tinha começado a entender o fato do meu avô estar longe e se queixava de saudade, mas sabia, que qualquer dia o vô bateria na porta, e voltaria para casa. Mas Arthur não pôde esperar. Deus não quis. Ainda não consigo entender o porquê, acho que ninguém consegue. Dói. Vi lagrimas do meu avô pingarem incansavelmente no rosto de Arthur. Queria não ter visto. Queria não ter passado por isso. Mas não foi possível.

    Aos pais desse ser iluminado, não existem palavras que consolem essa dor, mas saibam que estamos juntos, até o fim. Como disse hoje pra Marlene, que é madrinha da Analua, minha comadre, Analua é metade sua. Sei que jamais substituirá, afinal ela vivia para Arthur, mas talvez de uma distraída,não sei.

     

  • Lula está preso e Moro é ministro, babacas!

    Lula está preso e Moro é ministro, babacas!

     

    Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia, com charge de Bacellar

     

    Ora ou outra aparece no Brasil alguém defendendo o “Estado mínimo”. Pura bravata! Na verdade, na verdade mesmo, ninguém quer Estado mínimo. Os ricos não querem. Os pobres também não. Todos querem mesmo é o “Estado Máximo” para si, o que significa impor Estado mínimo ao outro. Não existe Estado mínimo em sociedades complexas. O que existe é a disputa pelo Estado. Temos aí a síntese da crise brasileira contemporânea: um período de radicalização das disputas pelo Estado.

    Este cenário fica muito claro quando lançamos luz sobre programa ultraliberal de Paulo Guedes, que pretende extinguir a vocação assistencialista do Estado moderno brasileiro. O projeto de desmonte do Estado brasileiro é muito antigo e sempre foi rejeitado pela opinião pública. Por isso, o sucesso de Paulo Guedes depende da confusão mental da maioria da população.

    O governo precisa de uma nuvem de fumaça densa, capaz de confundir os sentidos daqueles que mais precisam da ação protetora do Estado. Por isso, Sérgio Moro é o ministro da Justiça. Por isso, Lula está preso. Uma coisa está diretamente ligada à outra.

    Moro quer aumentar o tamanho do poder punitivo do Estado. O projeto do Ministro da Justiça pretende dar carta branca para a polícia matar um certo tipo social, exatamente aquele que é visto pelas classes proprietárias como a representação perfeita do crime: o homem jovem, preto, vestindo bermuda, calçando chinelo de dedos e envolvido com o tráfico varejista de drogas.

    Se Guedes quer Estado mínimo na assistência social, Moro quer Estado máximo na repressão e na violência.

    A sociedade civil, acuada pela violência nos grandes centros urbanos e tomada por um certo sentimento hobbesiano, apoia a iniciativa e aplaude o projeto do Ministro da Justiça. Este é o capital político necessário para fortalecer o governo e preparar terreno para outra pauta, essa nada popular: a reforma da previdência e a radicalização da reforma trabalhista propostas por Paulo Guedes.

    Moro sob os holofotes e Guedes nas sombras. Essa é a estratégia.

    Todas as pesquisas de opinião mostram que a população não apoia a agenda ultraliberal de Paulo Guedes. É que ainda sobrevive no imaginário popular a ideia de que o Estado deve atuar como provedor de direitos sociais. Por isso, Paulo Guedes foi silenciado durante a campanha. Por isso, antes de ser eleito, Bolsonaro se manteve distanciado de Michel Temer, de quem não é apenas sucessor, mas também herdeiro.

    As pessoas ainda não entenderam que aquilo que elas reprovam é exatamente o que o governo pretende fazer. Para que elas continuem não entendendo, Lula precisa permanecer preso, completamente incomunicável. Lula é uma ameaça a esse projeto de desmonte do Estado. Talvez seja a única.

    Antes de tudo, Lula é um pedagogo.

    É exatamente a sobrevivência da imagem do Estado provedor que explica a força política de Lula, mesmo preso e alvo de uma campanha negativa com grau de agressividade nunca antes visto na história do Brasil.

    Mas o PT perdeu as eleições. Jair Bolsonaro, o mesmo que nomeou Paulo Guedes para a chefia do Ministério da Fazenda, venceu por uma diferença expressiva de votos. Será que Lula continua sendo tão forte assim?

    A derrota do PT não significa a derrota de Lula. A força política de Lula não está vinculada ao PT.

    Como já demonstrou André Singer, a partir de 2006, as bases da sociedade passaram a votar no PT porque queriam votar em Lula (ou com Lula, no caso das eleições de Dilma). Quando os brasileiros e brasileiras mais pobres apertavam “13” na urna, não estavam querendo votar na esquerda, tampouco no PT. Queriam votar em Lula. Hoje, o grande desafio do Partido dos Trabalhadores é formar uma nova liderança que seja capaz de herdar o capital político de Lula e sensibilizar os afetos da população mais pobre. Não é nada fácil. Não nasce um Lula do dia para noite. Sequer nasce um Lula a cada geração.

    Em 22 de agosto de 2018, o Instituto Data Folha publicou a última pesquisa eleitoral que apresentava o nome de Lula na lista dos presidenciáveis. Lula liderava com 39%. Muito atrás vinha Bolsonaro, com 19%. Na simulação de segundo turno, Lula batia Bolsonaro por 52 a 32.

    Definitivamente, não foi Lula que perdeu as eleições. Foi o PT. Lula estava preso. Lula está preso.

    E está preso porque o atual regime de poder sabe perfeitamente o tamanho do seu capital político. Eles sabem que Lula, personificando a imagem do Estado provedor, é a única liderança capaz de confrontar o governo de Jair Bolsonaro.

    Imaginem, leitor e leitora, Lula saindo por esse país em caravana explicando pras pessoas o que é o projeto de Reforma da Previdência de Paulo Guedes. Lula dizendo pras pessoas que o governo quer que elas deixem de comer coxa e peito e voltem a assobiar o pescoço e chupar o pé. Lula tem uma capacidade única de traduzir a luta de classes na anatomia do frango.

    O Estado mínimo de Guedes, na prática, significa o Estado máximo para os proprietários e rentistas. A viabilidade política desse projeto depende da distração da sociedade. Os brasileiros e brasileiras mais pobres precisam continuar não entendendo o que significa esse tal de “Estado mínimo”. Se entenderem, não vão querer, não vão apoiar o governo. Os pobres podem até estar confusos e mal informados, mas não são burros.

    É por isso que o populismo penal de Sérgio Moro é tão estratégico quanto o desaparecimento de Lula. Afinal, Lula tá preso porque Sérgio Moro é ministro da Justiça, e vice-versa.

     

  • LULA: Perguntas e respostas que não querem calar

    LULA: Perguntas e respostas que não querem calar

     

    Perguntas e respostas elaboradas por Valter Pomar, professor da Universidade Federal do ABC, com recortes de painel do artista plástico paraibano Flávio Tavares usados como ilustrações

     

     

     

    1. Quantos procedimentos judiciais há contra Lula?
    Centenas!

    2. Por qual motivo há tantos procedimentos judiciais contra Lula?
    Os inimigos dizem que Lula “fez por merecer”. A verdade é que, incapazes de derrotar Lula eleitoralmente, seus inimigos montaram uma farsa judicial com o objetivo de condenar e prender a maior liderança popular da história do Brasil. E quanto mais processos existirem, mais forte é a impressão de que “onde há fumaça, há fogo”.

    3. Quantos procedimentos judiciais já foram totalmente concluídos?
    Nenhum. O mais avançado é o referente ao apartamento no Guarujá, que já foi julgado em segunda instância. Depois vem o processo referente ao Sítio de Atibaia, cuja sentença de primeira instância saiu no dia 6 de fevereiro de 2019. Em seguida há o processo sobre o Terreno do Instituto Lula, que está para ser julgado em primeira instância.

    4. Se nenhum procedimento judicial foi concluído, Lula não deveria estar solto?
    Com certeza! Segundo a Constituição brasileira, Lula deveria estar respondendo em liberdade.

    5. Se a Constituição diz que Lula deveria estar solto, por qual motivo ele está preso?Lula está preso porque, por maioria de um voto (6 contra 5), o Supremo Tribunal Federal autorizou que Lula fosse preso, mesmo que ele só tenha sido condenado em segunda instância.

    6. Por qual motivo o Supremo Tribunal Federal autorizou a prisão de Lula?
    A maioria dos juízes do Supremo Tribunal Federal sofreu chantagem dos meios de comunicação e do Alto Comando do Exército. Foram pressionados para que votassem contra o ex-presidente Lula, para que ele continuasse preso.

    7. Mas por quê Lula foi condenado em segunda instância?
    Porque os desembargadores que fazem parte do 4º Tribunal Regional Federal aceitaram a sentença escrita pelo juiz de primeira instância, embora ela não trouxesse qualquer prova contra o Lula. Ele foi condenado por “atos indeterminados”!

    8. Quem era o juiz de primeira instância?
    Naquele momento, era o Sérgio Moro, o atual ministro da Justiça do governo Bolsonaro! Sim: o juiz que primeiro julgou e condenou Lula, o juiz que contribuiu decisivamente para tirar Lula da disputa eleitoral, este mesmo juiz aceitou ser ministro da pessoa que foi a maior beneficiada pelo julgamento: Jair Bolsonaro. Que só ganhou a eleição porque Lula foi impedido de concorrer.

    9. Se Lula mora em São Paulo, por qual motivo ele foi julgado por um juiz do Paraná?
    Porque foi cometida uma fraude processual.

    10. Que fraude foi essa?
    Moro era responsável por julgar os processos envolvendo a Petrobrás. Para fazer Lula ser julgado por Moro, o Ministério Público incluiu, em diversos procedimentos judiciais contra Lula, acusações envolvendo a Petrobrás.

    11. Esse envolvimento existia ou não existia?
    Não existia e nunca existiu. Quem confirma isso é o próprio Moro, que na sentença de condenação contra Lula escreveu o seguinte: “Este juízo jamais afirmou, na sentença ou em lugar algum, que os valores utilizados pela construtora nos contratos com a Petrobrás foram utilizados para pagamento de vantagem indevida para o ex-presidente”.

    12. Mas se o próprio Moro reconheceu que a acusação contra Lula não envolvia a Petrobrás, então ele não deveria ter transferido o caso para outro juiz, abrindo mão de julgar Lula?
    Deveria. Mas se ele fizesse isso, a condenação não existiria ou pelo menos demoraria mais para sair. E eles queriam condenar Lula rapidamente, em tempo de impedir que ele fosse candidato à Presidência da República, nas eleições de 2018.

    13. Mas afinal de contas, Moro condenou Lula com base em qual acusação?
    Com a acusação de que ele teria ganho um apartamento no Guarujá, em troca de favores que ele concedeu a uma empreiteira.

    14. Lula ganhou esse apartamento?
    Não. Lula não é proprietário de nenhum apartamento no Guarujá. Lula nunca morou no Guarujá. Lula não tem as chaves de nenhum apartamento no Guarujá. Ninguém da família de Lula é proprietário de nenhum apartamento no Guarujá.

    15. Mas Moro afirmou que o apartamento foi reformado para que Lula pudesse morar nele, não foi?
    Afirmou. Acontece que é mentira do Moro. Essa reforma nunca existiu. O Movimento dos Sem Teto ocupou o tal apartamento e comprovou, com fotografias, que nunca foi feita reforma alguma. A equipe de reportagem do UOL filmou o apartamento e mostrou que a história da reforma era uma farsa inventada para ferrar o Lula.

    16. De quem é o apartamento, afinal?
    Segundo os registros em cartório, o apartamento é da empreiteira.

    17. Mas se é assim, com base em que provas Moro condenou Lula?
    Com base em uma delação premiada do dono da tal empreiteira.

    18. O que é uma delação premiada?
    Na delação premiada, um criminoso colabora com a polícia ou com o Ministério Público. Se as revelações que ele fizer forem do interesse da força tarefa da chamada Operação Lava Jato, então o delator pode obter prêmios: grande redução de pena, usufruir parte do dinheiro que roubou etc.

    19. Mas se foi utilizada como prova, então a delação do dono da empreiteira foi confirmada?
    Foi confirmada por outra delação premiada. Noutras palavras: dois criminosos se juntaram para fabricar provas contra um inocente. O inocente foi condenado, o juiz virou ministro e os delatores estão livres.

    20. Mas isto não deveria ter sido levado em conta no julgamento em segunda instância?
    Sim, deveria. Mas os desembargadores da 8ª Turma do 4º Tribunal Regional Federal já haviam decidido que o juiz Moro tinha o direito de julgar “no limite da lei”. Ou seja, Moro podia, no caso de Lula, “interpretar” a lei. E quando chegou a vez deles, os desembargadores fizeram o mesmo. Violaram assim um princípio constitucional: o da impessoalidade.

    21. Quando o caso de Lula será julgado em terceira instância?
    A qualquer momento, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) poderá julgar o recurso feito pela defesa de Lula no caso do apartamento no Guarujá.

    22. Existe alguma chance de absolvição ou de revisão da pena?
    Há uma maioria no STJ decidida a manter a condenação. Entretanto, pode existir alguma alteração na pena que foi aplicada pelo Tribunal Regional Federal.

    23. Caso o STJ reduza a pena, Lula pode ser solto?
    Em tese sim. Mas só pode ser beneficiado por progressão de pena, quem pagar as multas. E Lula foi condenado não apenas à prisão, mas também a pagar uma multa imensa. Além disso, há outros processos contra Lula que estão para ser concluídos.

    24. Qual foi a acusação no caso do Sítio de Atibaia?
    É parecida com a do apartamento. Lula foi acusado de ter sido beneficiário de reformas feitas num sítio. As reformas teriam sido feitas por uma empreiteira, em troca de supostos favores concedidos por Lula.

    25. O sítio é de Lula?
    Não, o sítio não é de Lula. Neste caso, nem mesmo Moro teve coragem para inventar isto.

    26. Lula encomendou as reformas?
    Não. Neste caso, pelo menos até agora, nem mesmo o delator premiado teve coragem de inventar isto.

    27. Mas se o sítio não era de Lula, nem foi ele que encomendou as reformas, ele é acusado do quê?
    De ter sido o beneficiário final das reformas. Ou seja: a acusação é que Lula presidiu o Brasil por 8 anos, durante seu governo uma empreiteira ganhou muito dinheiro, em troca esta empreiteira fez uma reforma num sítio que não era de Lula, mas que Lula frequentava.

    28. Lula frequentava este sítio?
    Sim. O sítio pertence a uma família de quem Lula é amigo desde 1978.

    29. Lula também foi condenado neste processo do sítio?

    Sim. No dia 6 de fevereiro de 2019, a juíza Gabriela Hardt (substituta escolhida a dedo por Sérgio Moro, agora ministro da Justiça) condenou Lula a 12 anos e 11 meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Neste caso usaram os mesmos procedimentos adotados no caso do apartamento no Guarujá, especialmente a delação premiada.

    30. E qual é a acusação no caso do terreno do Instituto Lula?
    A de que uma empreiteira teria favorecido o Instituto Lula com um terreno, em troca de favores concedidos por Lula quando ele era presidente.

    31. O Instituto Lula recebeu este terreno?
    Não, nunca!

    32. Certo. Então, se o Instituto Lula nunca recebeu este terreno, Lula é acusado do quê?
    Na real? De ter pretendido cometer um crime.

    33. Você está de gozação?
    Não. Quem está de gozação é o Ministério Público. Mas é uma gozação perversa, sem graça, porque tudo caminha para que Lula também seja condenado neste caso.

    34. Com base em que provas?!?
    Novamente, com base em delações premiadas, segundo as quais Lula pretendia cometer o crime de receber o tal terreno de uma empreiteira.

    35. Então nas próximas semanas, Lula poderá ser novamente condenado?
    Sim. Inclusive poderá ser condenado, em terceira instância, naquele primeiro processo, o do apartamento no Guarujá.

    36. Além dos processos do Apartamento, do Sítio e do Terreno, há algum outro processo contra Lula que seja mais relevante?
    Há sim. Há uma ação penal que afirma que Lula era chefe de uma “organização criminosa”, atuante entre 2002 e 2016, que tinha como objetivo controlar o governo federal para praticar seus ilícitos.

    37. Que “organização criminosa” era essa?
    Segundo a tal ação penal, a organização criminosa chefiada por Lula chama-se Partido dos Trabalhadores, o PT. Portanto, segundo a força tarefa da Operação Lava Jato, o PT não é um partido, mas uma “orcrim”. O objetivo desta ação penal é muito clara: não apenas condenar Lula, mas condenar também o PT. E se o PT for condenado, eles pretendem cassar a legenda do Partido.

    38. É por esses motivos que muita gente afirma que Lula é inocente?

    Sim. Quem tiver a paciência de ler as milhares de páginas dos processos, especialmente a sentença de Sérgio Moro no primeiro processo, vai se dar conta de não existem provas para condenar Lula. E na ausência de provas, ninguém pode ser condenado. Como diz o ditado: todo mundo é inocente, até prova em contrário. E no caso de Lula, a prova em contrário não apareceu. Nem vai aparecer. É por isso que juristas renomados do mundo todo, e até a Comissão de Direitos Humanos da ONU, já protestaram contra a maneira como estão sendo conduzidos esses processos contra Lula.

    39. De onde você tira tanta certeza de que não vai aparecer prova alguma?
    Simples: Lula é investigado desde 1980. Nunca apareceu nenhuma prova de que ele tivesse cometido nenhum crime. Já contra seus adversários, basta investigar um pouquinho que as provas aparecem. Veja o caso da família Bolsonaro.

    40. Mas mesmo que não existam provas, eu não posso achar que Lula tem “culpa no cartório”?
    Qualquer um pode achar o que quiser. E se você está convencido, com provas ou sem provas, de que Lula cometeu erros gravíssimos, você tem o direito de votar contra ele e contra o partido dele, o PT. Mas sem provas ninguém pode ser condenado e preso! Esta é a diferença entre política e justiça.

    41. Explique melhor esta diferença.
    Na disputa política, nas eleições, eu posso acreditar que alguém é um perigo para o país. Nesse caso, eu posso votar contra este alguém. Não preciso de provas para chegar a esta conclusão. Basta convicção. Mas quando se trata de um julgamento na justiça, então não basta eu ter convicção. É preciso provar. E no caso de Lula, não existe nenhuma prova.

    42. Ora, se não existe nenhuma prova e ainda assim Lula foi condenado, então quem descumpriu a lei foram os promotores e juízes?
    Exatamente. Por isso é que Lula é um preso político. Ele está sendo perseguido e foi preso por motivos políticos. Como seus inimigos não conseguiram derrotar Lula politicamente, fizeram isto de outro modo: usando os caminhos do poder judiciário.

    43. Mas se é assim, então ele está sendo injustiçado. Como libertar Lula?
    Como Lula é um preso político, sua libertação e a anulação de sua pena dependem da luta política. No momento em que a maioria do povo estiver convencida de que a condenação foi injusta e ilegal, a pressão popular tornará impossível manter Lula preso.

    44. E você acha que isto vai acontecer?
    Sim, isto vai acontecer. Cedo ou tarde, a justiça e a verdade acabam vencendo. Nosso desafio é fazer com que isto aconteça rapidamente. Queremos anular a sentença e colocar Lula em liberdade, para que ele ajude o povo brasileiro na luta contra o governo de extrema direita que está destruindo nossos direitos sociais, nossas liberdades democráticas e nossa soberania nacional.

    8 de fevereiro de 2019

     

  • Lula é condenado novamente e defesa recorre mais uma vez à ONU

    Lula é condenado novamente e defesa recorre mais uma vez à ONU

    A juíza Gabriela Hardt, da 13ª Justiça Federal de Curitiba, condenou nesta quarta-feira, 6, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a 12 anos e 11 meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, referentes a obras realizadas por empreiteiras em um sítio em Atibaia (SP), no processo da Operação Lava Jato. Lula ainda foi condenado ao pagamento de R$ 423.152,00, equivalente a 212 dias-multa no valor de 2 salários mínimos por dia, e proibido de exercer cargo público ou integrar a direção de empresas pelos próximos 24 anos e 2 meses. Outros 10 réus também foram condenados.

    Em nota, o advogado de Defesa do ex-presidente, Cristiano Zanin, afirmou que a decisão é totalmente arbitrária, e só reforça, mais uma vez, o uso perverso das leis e dos procedimentos jurídicos para fins de perseguição política, prática reputada como “lawfare”. E disse ainda que vai levar, mais uma vez, ao conhecimento do Comitê de Direitos Humanos da ONU em Genebra, na Suíça, que poderá julgar o comunicado ainda neste ano — e eventualmente auxiliar o país a restabelecer os direitos de Lula. Como ele vem fazendo desde 2016.

    Segundo Zanin, a sentença segue a mesma linha proferida pelo ex-juiz Sérgio Moro, que condenou Lula por convicção e delação premiada, sem ele ter praticado qualquer ato de ofício vinculado ao recebimento de vantagens indevidas, ou seja, sem ter praticado o crime de corrupção que lhe foi imputado. “Novamente, a Justiça Federal de Curitiba atribuiu responsabilidade criminal ao ex-presidente tendo por base uma acusação que envolve um imóvel do qual ele não é o proprietário, um “caixa geral” e outras acusasões referenciadas apenas por delatores generosamente beneficiados”.

    O advogado explica que a decisão, mais uma vez desconsiderou as provas de inocência apresentadas pela defesa de Lula nas 1.643 páginas das alegações finais protocoladas há menos de um mês, no dia sete de janeiro desse ano, — com exaustivo exame dos 101 depoimentos prestados no curso da ação penal, laudos técnicos e documentos anexados aos autos. “Chega-se ao ponto de a sentença rebater genericamente a argumentação da defesa de Lula fazendo referência a “depoimentos prestados por colaboradores e co-réus Leo Pinheiro e José Adelmário” (p. 114), como se fossem pessoas diferentes, o que evidencia o distanciamento dos fundamentos apresentados na sentença da realidade”, cita em outro trecho da nota.

    O fato de Lula ter sido condenado “pelo recebimento de R$ 700 mil em vantagens indevidas da Odebrecht” mesmo a defesa tendo comprovado, por meio de laudo pericial elaborado a partir da análise do próprio sistema de contabilidade paralelo da Odebrecht, que tal valor foi sacado em proveito de um dos principais executivos do grupo, o presidente do Conselho de Administração, é um absurdo para Zanin. “Esse documento técnico foi elaborado por auditor e perito com responsabilidade legal sobre o seu conteúdo, e comprovado por documentos do próprio sistema da Odebrecht, mas foi descartado sob o censurável fundamento de que “esta é uma análise contratada por parte da ação penal, buscando corroborar a tese defensiva” — como se toda demonstração técnica apresentada no processo pela defesa não tivesse valor probatório”. Ou seja, não valesse como prova.

    Em outro trecho da nota, Zanin diz que Lula foi condenado pelo crime de corrupção passiva por afirmado “recebimento de R$ 170 mil em vantagens indevidas da OAS” no ano de 2014, quando ele não exercia qualquer função pública, e que a despeito do reconhecimento já exposto, não foi identificado pela sentença qualquer ato de ofício praticado pelo ex-presidente em benefício das empreiteiras envolvidas no processo. “Foi aplicada a Lula uma pena fora de qualquer parâmetro das penas já aplicadas no âmbito da própria Operação Lava Jato — que segundo julgamento do TRF4 realizado em 2016, não precisa seguir as “regras gerais” — mediante fundamentação retórica e sem a observância dos padrões legalmente estabelecidos” finaliza.