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  • Lula fala ao povo: quando o discurso funda a História

    Lula fala ao povo: quando o discurso funda a História

    Por Rosane Borges***, especial para os Jornalistas Livres

     

    Dos discursos e seus ecos

    Seja pela vocação que têm para suscitar outros/novos modos de existência, seja por instituírem novas configurações da política, seja por inventarem novas bússolas para a travessia de nossas vidas, alguns discursos se consagraram na História como prenúncio ou advento de um “novo tempo, apesar dos perigos”.

    Num amplo arco, recordemos, entre tantas, algumas falas de repercussão sísmica, como o audacioso discurso “E eu não sou uma mulher”?, da estadunidense Sojourner Truth, ex-escravizada que demoliu a Women’s Rights Convention, em Ohio. Na ocasião, 1851, Truth questionou porque as mulheres brancas eram privilegiadas e as mulheres negras vistas como inferiores, intelectual e fisicamente, úteis somente para o trabalho braçal.

    Menção obrigatória deve ser feita também ao discurso de posse de Nelson Mandela (“Nosso maior medo não é sermos inadequados. Nosso maior medo é que nós somos poderosos além do que podemos imaginar. É nossa luz, não nossa escuridão, que mais incomoda…”). No mesmo diapasão, está o discurso memorável de Martin Luther King (“Eu tenho um sonho”).

    O celebrado “Saio da vida para entrar na História”, redigido na última linha da carta-testamento de Getúlio Varga endereçada ao povo brasileiro, é outro fragmento discursivo com desdobramentos importantes, especialmente para o próprio presidente, que escreveu o documento horas antes de se matar, em 24 de agosto de 1954.

    Com a missiva, Getúlio refunda a História, opera um movimento no sentido anti-horário em sua biografia, tonifica a memória sobre ele, convertendo significantes negativos em signos que favoreceram a reprojeção da imagem, então ameaçada, de estadista.

    Na atmosfera do golpe, compõe a galeria de exemplos a defesa da presidenta Dilma Rousseff em agosto de 2016, no Senado Federal. Embora Dilma não tenha proferido necessariamente um discurso, mas elaborado argumentos e contra-argumentos para sua defesa, pode-se destacar da sabatina a sua coragem em cair de pé, num jogo que já estava jogado. A presidenta não foi convencer as “Suas Excelências” de que era inocente, mas dizer a eles e ao povo brasileiro que tinha dignidade para olhar frontalmente em quem não tinha estatura, nem elementos, para efetuar sua condenação. Com a defesa, Dilma preparou uma memória futura para uma história que se encerraria de maneira infausta para ela.

     

    “A partir de agora minhas ideias vão se misturar com as ideias de vocês”

     

    Eis que em mais uma volta do parafuso do golpe de 2016, Moro decreta, em velocidade inédita, a prisão do presidente Lula logo depois de o recurso do habeas corpus ter sido negado pelo STF, na última quinta-feira, 5.

    Reafirmando que é dono do seu destino, Lula definiu, com altivez e serenidade, o momento de sua apresentação, deixando frustrada a turma de Curitiba, a mídia hegemônica (a Globo teve que engolir a única possibilidade de transmitir os acontecimentos pelas imagens da TVT) e os paulistanos agressores de panelas, no crepúsculo desta sexta-feira, 6. Em suma, colocou todos eles no bolso. Coisa de gênio!

    Mas o ponto alto da mobilização no Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo, que recebeu um mar de gente nestes dois dias (foi tudo muito lindo, há que se dizer), foi o discurso antológico de Lula, que pode ser comparado a um rio com múltiplos afluentes, por ser indutor de esperanças várias. Lula provocou estímulos inabarcavelmente amplos. De sua fala surgiram vários rebentos de maternidade/paternidade coletiva: assim como Luther King ele também sonhou (e realizou), falou do que assusta os inimigos, como mencionou Mandela, e não se curvou na derradeira hora, seguindo a atitude exemplar de Dilma Rousseff.

    O pronunciamento de Lula guarda semelhanças com a carta-testamento de Getúlio. Ambos nos ensinaram, a partir de ângulos diferentes, que é o discurso que funda a História e não o contrário. Tema espinhoso que habita os arredores da filosofia da linguagem, das teorias do discurso e da enunciação, o par discurso X história é próprio da luta política. Manejá-lo bem, é saber estabelecer parâmetros precedentes para o que se diz e, pela fala, restaurar a história e o movimento do mundo.

    A psicanálise nos ensinou que a realidade é o discurso, que o seu habitat natural é a linguagem. Mas os discursos e, portanto, as realidades que fundam e definem, não são quaisquer coisas: são articulações (relações) determinadas, estruturam o mundo histórico-social e são por ele estruturadas. Além disso, são passíveis de transformações e têm funções.

    Pode-se insistir, com razão, que ao contrário de Getúlio Vargas, Lula não opera um movimento anti-horário para dignificar o seu passado. Não. Ele não precisa disso. O seu pronunciamento exerce uma função indispensável num presente que prepara dias cada vez mais difíceis para todos nós: ele possibilita que voltemos a sonhar com um futuro em que prosperidade, justiça e igualdade sejam cimentos para a edificação de um outro país.

    Num mundo e num país poliperspectivamente partido, quando Moro anuncia que “já era” para Lula, eis que ele inverte, com o pronunciamento, os elementos dessa equação e anuncia que na verdade tudo só está começando. “A partir de agora minhas ideias vão se misturar com as ideias de vocês.”

    Vindo de onde veio, é um homem forte, audacioso que, na condição de prisioneiro político, coloca o judiciário brasileiro no subsolo da História, ao passo que o pé direito de sua edificação política ficou mais alto (mas as mãos que a construíram seguiram certamente à esquerda). Lula mitou again!

     

    veia neste link a transcrição, na íntegra, do discurso de Lula

    #LulaLivre

     

    ***Rosane Borges, 42 anos, é jornalista, professora universitária e autora de diversos livros, entre eles “Esboços de um tempo presente” (2016), “Mídia e racismo” (2012) e “Espelho infiel: o negro no jornalismo brasileiro” (2004).

  • #SouLULA

    #SouLULA

    #SouLula

    Por: Vinicius Souza – www.mediaquatro.com – Jornalistas Livres

    Nunca fui petista de carteirinha. Ainda assim, tenho votado majoritariamente em candidatos do PT desde a primeira eleição em que votei (e que pude cobrir ainda estudante de jornalismo) em 1989 (abaixo, comício na Praça Charles Miller com um Serra e um FHC que ainda sabiam de que lado se colocar na história).

    Lula, Serra e FHC em comício final da campanha petista de 1989. Foto: www.mediaquatro.com

    Em 2002 comemorei a vitória de Lula como a maior parte da população, apesar de não perdoar a expulsão da Luiza Erundina do partido. Lembro do meu pai chorando enquanto assistia o discurso de posse. De lá pra cá, fui lentamente me afastando do partido, frustrado com as políticas de alianças com a direita e a quebra de compromissos históricos como a auditoria da dívida e a democratização dos meios de comunicação, ao mesmo tempo em que via, trabalhando profissionalmente em 2006, os resultados de políticas como o Fome Zero. Apesar dos pontos altos, como a política de ampliação dos investimentos em educação que permitiram minha formação como professor, houve também pontos extremamente baixos nessa relação, como a desconsideração absoluta das Conferências da Comunicação em 2009 (nas quais também trabalhei) e a famosa foto do aperto de mão entre Haddad e Maluf patrocinada por Lula em 2012.

    Em 2014 não estava no Brasil pra votar na Dilma. Apesar de torcer por ela, o único candidato para quem pedi explicitamente votos aos parentes e amigos foi o Suplicy. Mas quando vi o palanque da vitória repleto de velhos canalhas com Lula meio que de escanteio, percebi que não ia dar boa coisa e não tive estômago para comemorar. O golpe tão injusto e misógino contra uma presidenta honesta, no entanto, me fez rever a posição que havia declarado publicamente de nunca mais votar no PT se uma ex-guerrilheira torturada durante a ditadura aprovasse uma lei antiterrorismo em um país onde não havia, ainda, terrorismo. Eu já havia coberto (e sofrido com bombas, gás e balas de borracha) manifestações de todos os lados entre 2012 e 2014, tinha visto o Pinheirinho, o Moinho, a Cracolândia e sabia o que significaria deixar solta a coleira da cadela do fascismo. Uma delas, em 15 de março de 2014, com seguranças skinheads, faixas de “nossa bandeira jamais será vermelha” e Comando de Caça aos Comunistas (ops, Corruptos) prenunciava o que viria um ano mais tarde, infelizmente com alegre e equivocada presença de muitos amigos vestindo a camisa da mais que corrupta CBF achando que lutavam contra a corrupção . Em 2015, de volta ao Brasil, me junto aos Jornalistas Livres para tentar oferecer ao público um lado diferente da manipuladora cobertura da grande mídia.

    manifestante com o logo do DOPS na camiseta ao lado dos racistas skinheads fazendo a “segurança” da Marcha com Deus e a Família de 2014 em São Paulo

    Acompanhando a cobertura ontem da prisão de Lula pelo Jornal Nacional e vendo hoje a capa do Estadão, tenho certeza de ter tomado a decisão correta. A foto do dia, se é que entendo alguma coisa disso, não é a escura e granulada imagem do Lula chegando a Curitiba, mas a colorida repleta de povo em São Bernardo do Campo tirada pelo muito jovem Francisco Proner Ramos (abaixo).

    Manifestantes carregam Lula nos braços depois de discurso no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. 07/04/2018. Foto: Francisco Proner Ramos

    Em 1989 tive de convencer minha saudosa avó Zilda que, se ganhasse, o Lula não iria botar outra família na casa dela. Em 2002 acreditei na promessa, afinal cumprida, de garantir três refeições por dia a todo brasileiro, mesmo sabendo que só isso não era o suficiente. Em 2018, assim como a velha militante Erundina, que voltou a apoiar o ex-presidente, e os jovens ativistas como o Guilherme Boulos (a quem já tive o prazer de fotografar e ouvir), também eu escolhi, novamente, um lado da história. E escolhi acreditar na nova promessa de Lula: a tão adiada democratização dos meios de comunicação. Assim como fui em 1989, 1994, 1998, 2002 e 2006, em 2018 novamente #SouLULA.Porque Lula somos muitos. Porque, se quisermos e lutarmos por isso, O Lula é muitos de nós. E NÓS somos a maioria do povo. E por isso para poucos é tão importante calar o homem Lula, da forma que for.

  • EM NOME DA MORAL E DOS BONS COSTUMES – A justiça não é para todos

    EM NOME DA MORAL E DOS BONS COSTUMES – A justiça não é para todos

    Em baixo de uma espécie de altar à “Justiça”, um velho de 67 anos desnuda uma mulher em público, força um beijo e, enquanto tapa sua boca com a mão, expõe sua genitália para uma massa de homens o aplaudindo. Os tais homens “de bem”, que comemoram a prisão de Lula como se ela solucionasse toda a corrupção brasileira, deixam as esposas em casa para frequentar o recinto, que já foi caracterizado como uma boate de prostituição e inocentado pelo Tribunal de Justiça em 2013.

    Fantasiado de prisioneiro, Oscar Maroni, proprietário da boate Bahamas em São Paulo e conhecido como “magnata do sexo”, aparece na imagem cercado pela “Justiça”, que é personificada por quadros de Sérgio Moro e Cármen Lúcia, e concretizada pela prisão da maior liderança popular na história do Brasil: o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva.

    A fotografia feita pelo celular, divulgada com os créditos de Túlio Vidal, expõe a barbárie e o pão e circo dos torcedores pela prisão de Lula.

    Desde 2016, Maroni promete cervejas gratuitas caso Lula seja preso. Dois anos após o golpe que retirou Dilma da presidência, ele finalmente pode pagar a promessa ontem, 07 de Abril. Convocou seus empregados, garçons e DJs, para servir e divertir a platéia de machos que o louva como “mito”. No cardápio, um corpo feminino objetificado, exposto como a carne promocional do mercado.

    Vale lembrar que em 2011, Maroni foi condenado em primeira instância a uma pena próxima a de Lula: 11 anos e oito meses de prisão. Na primeira instância, ele foi considerado culpado por favorecimento à prostituição e manutenção de local destinado a encontros libidinosos, atividade que é muita vezes ligada ao tráfico de mulheres. Ele recorreu em liberdade. Demorou dois anos para que o Tribunal de Justiça o inocentasse.

    A Justiça não é para todos.

  • DISCURSO DE LULA NA ÍNTEGRA

    DISCURSO DE LULA NA ÍNTEGRA

    Queridas companheiras e queridos companheiros,

    Querido companheiro Wagner, presidente da CUT,

    Querido companheiro Aloísio Mercadante, ex-Senador, ex-Deputado Federal, ex-Ministro da Ciência e Tecnologia, ex-Ministro da Educação, ex-Ministro da Casa Civil da presidenta Dilma, porra se eu tivesse tantos títulos assim eu seria Presidente da República

    Companheiro Guilherme Boulos, nosso companheiro que está iniciando uma jornada sendo candidato a Presidente da República pelo Psol, mas é um companheiro da mais alta qualidade que vocês têm que levar em conta a seriedade desse menino. Eu digo menino porque ele só tem 35 anos de idade e quando eu fiz a greve de 78, eu tinha 33 anos de idade e consegui, através da greve, chegar a criar um partido e virar Presidente. Você tem futuro meu irmão, é só não desistir nunca.

    Quero cumprimentar essa garota [Manuela Davila], essa garota bonita, garota militante do PCdoB, que também está fazendo a sua primeira experiência como candidata a Presidenta da República pelo PCdoB, porque eu acho um motivo de orgulho e uma perspectiva de esperança para esse país ter gente nova se dispondo a enfrentar a negação da política, assumindo a política e dizendo nós queremos ser Presidente da República para mudar a história do país.

    Quero agradecer a companhia dessa mulher[Dilma Rousseff]. Possivelmente a mais injustiçada das mulheres que um dia ousaram fazer política nesse país. A injustiçada pelo jeito de governar, acusada de não saber conversar, acusada de não saber fazer política, mas eu quero ser testemunha de vocês: a Dilma foi a pessoa que me deu a tranquilidade de fazer quase tudo que eu consegui fazer na Presidência da República pela confiança, pela seriedade, e pela qualidade e competência técnica da Dilma. Eu sou….eu sou grato, grato de coração porque não teria sido o que foi se não fosse a companheira Dilma. Portanto Dilma você sabe que eu serei profundamente, para o resto da vida, repartirei o meu sucesso na Presidência com Vossa Excelência, independentemente do que aconteça nesse mundo.

    Quero cumprimentar o meu querido companheiro Fernando Haddad que viveu o melhor período de investimento na educação brasileira.

    Quero cumprimentar o meu companheiro Celso Amorim. Companheiro que certamente foi o mais importante Ministro das Relações Exteriores que esse país já teve, que colocou o Brasil como protagonista mundial durante todo nosso governo.

    Quero parabenizar o nosso companheiro Ivan Valente, deputado pelo Psol, companheiro que está aqui.

    Quero cumprimentar o nosso valoroso, o nosso extraordinário João Pedro Stédile, presidente e coordenador do Movimento Sem Terra.

    Quero cumprimentar, eu não sei o nome, mas o companheiro presidente do Psol, o Juliano, jovem presidente do Psol.

    Quero cumprimentar o nosso querido escritor Fernando de Moraes que está escrevendo a biografia do meu governo que nunca termina, porra. Eu estou quase para morrer e ele não termina minha biografia.

    Quero cumprimentar o nosso querido companheiro Paulo Pimenta, líder do PT. O homem que tem o blog dos deputados mais importante em Brasília e o cidadão que melhor tem enfrentado o Moro e a operação Lava Jato, naquilo que são os defeitos dela. Parabéns, companheiro Pimenta.

    Quero cumprimentar o índio mais esperto do Brasil o Presidente do Piauí, o Governador do Piauí, o companheiro Wellington, que está cumprindo o terceiro mandato e pelo andar das pesquisas ele está a caminho de cumprir o quarto mandato como governador do Estado do Piauí.

    Quero, aqui, cumprimentar o companheiro Emídio, tesoureiro do PT e ex-prefeito de Osasco, que tem trabalhado incansavelmente para a gente recuperar o papel do PT na história desse país.

    Quero cumprimentar o companheiro Orlando Silva, presidente, ou melhor, deputado do PCdoB.

    Quero cumprimentar o nosso companheiro Índio, que é da Intersindical, é um companheiro de muita qualidade.

    Quero cumprimentar o Presidente da CTB que está aqui, que é companheiro Adílson, que é um companheiro também muito importante no movimento sindical.

    Quero cumprimentar a nossa companheira Gleisi Hoffmann, a nossa querida Presidenta do nosso partido.

    Quero cumprimentar, quero cumprimentar o companheiro Luiz Marinho, presidente do PT, Ministro do Trabalho, Ministro da Previdência. Quero contar duas coisas do Marinho: o Marinho foi catador de algodão, catador de café e catador de amendoim em Santa Fé. O Marinho foi pintor na Volkswagen. O Marinho foi presidente desse sindicato. O Marinho foi presidente da CUT. O Marinho foi certamente o mais importante Ministro do Trabalho no meu governo. E o Marinho foi o melhor Ministro da Previdência, que foi o ministro que acabou com as filas da Previdência. E o Marinho foi o melhor prefeito que São Bernardo teve e agora é nosso Presidente estadual.

    Quero cumprimentar o nosso Senador, o nosso querido Lindbergh, grande Lindbergh, que eu conheci ainda na campanha para derrubar o Collor, tentei tirá-lo do PCdoB para levar para o PT, mas a minha relação de amizade com o João Amazona era tão forte que eu não tive coragem de conversar com ele.

    Quero cumprimentar aqui, gente, eu não tenho o nome de todo mundo. Quero cumprimentar e chamar aqui o Wagner, Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e o companheiro Moisés. É que está ali atrás e eu não estou vendo o nosso companheiro Senador da República, não, Vereador, mas futuro Senador, Eduardo Suplicy. Eu não posso falar que ele teve uma tontura porque isso não é recomendável para quem está sendo candidato, viu. Eu vou dizer que você estava sentado ali conversando com eleitores, está bem?

    Eu pedi para vir aqui o companheiro do Sergipe, vice-presidente do PT. Companheiro que tem a incumbência de coordenar as Caravanas da Cidadania por todo território nacional e vocês têm acompanhado pela internet o companheiro Márcio.

    Eu pedi para vir aqui dois sindicalistas porque eu acho… eu nasci nesse Sindicato. Quando eu cheguei aqui esse sindicato era um barraco. Esse prédio foi construído já na nossa diretoria. Aqui, para vocês saberem, eu fui diretor de uma escola de Madureza, que tinha 1.800 alunos. Vocês pensam que eu sou só torneiro mecânico? Podem dizer: diretor de escola com 1.800 alunos. Pois bem, e a minha relação com esse sindicato… aqui está o Paulão que é vice-presidente do sindicato e é presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos e é da Secretaria do Movimento Sindical do PT. Bem, eu não tenho nominata, eu estou chutando tudo de improviso que eu estou vendo. Mas eu queria, Wagner, aproveitar sua presença aqui para que esse pessoal soubesse que, na minha consciência, parte das conquistas da democracia brasileira a gente deve a esse Sindicato dos Metalúrgicos a partir de 1978. Aqui foi minha escola. Aqui eu aprendi sociologia, aprendi economia, aprendi física, química e aprendi a fazer muita política porque, no tempo que eu era presidente desse sindicato, as fábricas tinham 140.000 professores que me ensinavam como fazer as coisas. Toda vez que eu tinha dúvida eu is na porta da fábrica perguntar para a peãozada como fazer as coisas nesse país. Na dúvida não erre, na dúvida pergunte e, se você perguntar, a chance de você acertar é muito maior. E o Wagner é o companheiro que está cedendo esse prédio para a gente fazer toda a nossa campanha. Quero agradecer ao Moisés. O Moisés é companheiro do Wagner, é diretor financeiro do sindicato e é um companheiro que nunca se negou a contribuir com o movimento social, a contribuir com outras tarefas da democracia. Não para partido político, mas para o movimento social esse sindicato nunca negou absolutamente nada. Então eu quero uma salva de palmas para esses companheiros que são um sustentáculo da nossa luta. Esse sindicato, diferente de outros sindicatos, esse sindicato tem quase 283 diretores. Para ser diretor desse sindicato, as pessoas têm que ser eleitas pelo chão da fábrica para um comitê. Se não estiver no chão da fábrica não é eleito. E, depois de eleito membro do comitê, se escolhe os que vão ser diretores do sindicato e tem a diretoria executiva, mas tem 283 pessoas que são diretores e que são conselheiros. Se a gente fizesse isso em todo sindicato do Brasil certamente a gente teria muito menos pelegos no movimento sindical brasileiro.

    Pois bem, eu fiz questão de citar ele porque às vezes o cara compra o alimento, lava o alimento, cozinha o alimento, leva para a gente comer e a gente sai sem saber quem nos deu o alimento. Então foram esses guerreiros aqui que deram essa possibilidade extraordinária da gente estar aqui fazendo isso.

    A segunda coisa é que…. Eu confesso que vivi meus melhores momentos políticos nesse sindicato. Eu nunca esqueci a minha matrícula do sindicato. A minha matrícula é 25.986 de outubro, de setembro de 1968. E, de lá para cá, eu mantenho uma relação com esse sindicato que eu acho que é uma relação mais forte porque qualquer presidente que tenha aqui, Vicentinho já foi presidente, Meneghelli já foi presidente, Guiba já foi presidente, Zé Nobre já foi presidente, Feijóo já foi presidente, quem mais? O Guiba já falei, agora o Wagnão e, por todos eles, eu sou tratado como se fosse ainda Presidente desse sindicato, pela relação que nós ficamos. Mas aqui… o Rafael, foi o penúltimo presidente aqui.

    Eu queria dizer para vocês que eu estou contando isso para tentar chegar ao que eu quero dizer para vocês.

    Em 1979, esse sindicato fez uma das greves mais extraordinárias. Nós conseguimos fazer um acordo com a indústria automobilística que foi, talvez, o melhor. E eu tinha uma comissão de fábrica com 300 trabalhadores. E o acordo era bom. Eu resolvi levar o acordo para a assembleia. E resolvi pedir para a comissão de fábrica ir mais cedo para conversar com a peãozada. E eu fazia a assembleia de manhã para evitar que o pessoal bebesse um pouquinho à tarde. Porque quando a gente bebe um pouquinho, a gente fica mais ousado. Mesmo assim não evitava porque o cara levava litro de conhaque dentro da mala e eu passava ainda tomava uma “dosinha” para a garganta ficar melhor, coisa que não aconteceu hoje.

    Pois bem, nós começamos a colocar o acordo em votação e cem mil pessoas, no estádio da Vila Euclides, não aceitavam o acordo. Era o melhor possível. A gente não perdia dia de férias, não perdia décimo terceiro salário e tinha 15% de aumento. Mas a peãozada estava tão radicalizada que queria 83 ou nada. E nós conseguimos. E aí passamos um ano sendo chamados de pelegos pelos trabalhadores.
    A gente, Guilherme, ia na porta de fábrica e a peãozada … o Jorge Viana, está aqui meu querido senado do Acre, que eu não vi, ele é baixinho. Nosso querido companheiro, foi governador, foi prefeito, agora é senador do Acre. Obrigado pela presença, companheiro. Olha para falar em nome dos artistas aqui, eu queria falar todos, eu queria que o nosso Osmar Prado viesse aqui. Ele é o decano. Olha, tem muita gente aqui. E tem a mulherada do Pará também que está aqui. Mas eu citei o Osmar Prado porque o Osmar Prado é um artista de uma qualidade irrepreensível. O que Deus não deu de tamanho para ele, deu de inteligência e de capacidade artística. E ele já fez papéis extraordinários. Mas tem um que nunca esqueço que ele era o motorista e era tratado como se fosse chamado de Tabaco. E o Tabaquinho marcou a minha vida e eu fico mais feliz porque ele tem uma posição política extraordinária. E eu acho que esse aqui tem lado, esse tem lado, esse tem lado [apontando para os artistas que o rodeavam] e é com essa gente que a gente vai construir a nova política desse país.

    Marco Aurélio, e a minha água Marco Aurélio? Olha eu vou dar para ele dizer uma coisinha sobre o Tabaco.

    [Osmar Prado: O Tabaco tinha três mulheres e ainda as que tinha por fora. Aí eu pedi ao escritor que desse o final que desse o final ele sendo traído, porque todo traidor um dia é traído. E aí aparece a mulher do Tabaco, com uma penca de filhos, grávida. Ele diz: mulher como você está grávida? Faz mais de um ano que eu não vou lá.]

    Isso é vingança das mulheres. Vingança, porque o homem pensa que só ele é esperto, mas as mulheres também são espertas.

    Então, companheiros e companheiras … nós conseguimos, nós conseguimos … os trabalhadores não aprovaram o acordo … tem uma pessoa passando mal ali na frente, ali perto da escada, nessa direção … chegou o médico aí? Olha gente, se tiver um médico aqui, por favor. Tem uma médica, que vai passar e chega aí. Segura ela aí que tem uma médica que está indo para aí. Ela está ali perto daquelas câmeras de televisão ali. Olha lá, aquele pessoal que está levantando a mão. Muito bem … Espero que não tenha sido a minha voz porque se for eu tenho que para de falar.

    Mas eu ia dizendo para vocês que nós não conseguimos aprovar a proposta que eu considerava boa e o pessoal, então, passou a desrespeitar a diretoria do sindicato. E eu ia na porta de fábrica e ninguém parava. E a imprensa escrevia: Lula fala para os ouvidos moucos dos trabalhadores. Nós levamos um ano para recuperar o nosso prestígio na categoria. E eu fiquei pensando com ar de vingança: os trabalhadores dizem que podem fazer cem dias de greve, quatrocentos dias de greve, que eles vão até o fim. Pois eu vou testá-los em 1980. E fizemos a maior greve da nossa história, a maior greve. Quarenta e um dias de greve, com dezessete dias de greve eu fui preso e os trabalhadores começaram, depois de alguns dias, a furar a greve e nós então … eu sei que o Tuma, eu sei que o Dr. Almir, eu sei que Teotônio Vilela ia dentro da cadeia e dizia para mim: ô Lula, você tem que acabar com a greve, você precisa dar um conselho para acabar com a greve. E eu dizia: eu não vou acabar com a greve, os trabalhadores vão decidir por conta própria. O dado concreto é que ninguém aguentou quarenta e um dias porque na prática o companheiro tinha que pagar leite, tinha que pagar conta de luz, tinha que pagar gás, a mulher passou a cobrar dele o dinheiro do pão e ele então começou a sofrer pressão não aguentou. Mas é engraçado porque na derrota a gente ganhou muito mais, sem ganhar economicamente, do que quando a gente ganhou economicamente. Significa que não é dinheiro que resolve o problema de uma greve. Não é 5%, não é 10%, é o que está embutido     de teoria política, de conhecimento político e de tese política numa greve.

    Agora nós estamos quase que na mesma situação, quase que na mesma situação. Eu estou sendo processado e, eu tenho dito claramente, o processo do meu apartamento, eu sou o único ser humano que sou processado por um apartamento que não é meu. E ele sabe que o Globo mentiu quando disse que era meu. A Polícia Federal da Lava Jato quando fez o inquérito mentiu que era meu. O Ministério Público, quando fez a acusação, mentiu dizendo que era meu e eu pensei que o Moro ia resolver e ele mentiu dizendo que era meu. E me condenou a nove anos de cadeia. É por isso que eu sou um cidadão indignado, porque eu já fiz muita coisa com meus 72 anos, mas eu não os perdoo por terem passado para a sociedade a ideia de que eu sou um ladrão. Deram a primazia dos bandidos fazerem um pixuleco pelo Brasil inteiro. Deram a primazia dos bandidos chamarem a gente de petralhas. Deram a primazia de criar quase que um clima de guerra negando a política nesse país. E eu digo todo dia, nenhum deles, nenhum deles tem coragem ou dorme com a consciência tranquila da honestidade e da inocência que eu durmo. Nenhum deles.

    Eu não estou acima da Justiça. Se eu não acreditasse na Justiça eu não tinha feito um partido político. Eu tinha proposto uma revolução nesse país. Mas eu acredito na Justiça. Numa Justiça justa. Numa justiça que vota um processo baseado nos autos do processo, baseado nas informações das acusações, das defesas, na prova concreta que tem a arma do crime.

    O que eu não posso admitir é um procurador que fez um Power Point e foi para a televisão dizer que o PT é uma organização criminosa que nasceu para roubar o Brasil. E que o Lula, por ser a figura mais importante desse partido, o Lula é o chefe. E portanto, se o Lula é o chefe, diz o procurador: “eu não preciso de provas, eu tenho convicção”. Eu quero que ele guarde a convicção dele para os comparsas deles, para os asseclas deles e não para mim. Não para mim. Certamente um ladrão não estaria exigindo provas. Estaria de rabo preso, de boca fechada, torcendo para a imprensa não falar o nome dele.

    Eu tenho mais de 70 horas de Jornal Nacional me triturando. Eu tenho mais de 70 capas de revista me atacando. Eu tenho mais de milhares de páginas de jornais e matérias me atacando. Eu tenho mais a Record me atacando. Eu tenho mais a Bandeirantes me atacando. Eu tenho mais as rádios do interior, rádios de outros estados. E o que eles não se dão conta é que quanto mais eles me atacam, mais cresce a minha relação com o povo brasileiro.

    Eu não tenho medo deles. Eu até já falei que gostaria de fazer um debate com o Moro sobre a denúncia que ele fez contra mim. Eu gostaria que ele me mostrasse alguma coisa de prova. Eu já desafiei os juízes do TRF4 que eles fossem para um debate na universidade que eles quisessem, no clube que eles quisessem para provar qual é o crime que eu cometi nesse país. E eu, às vezes, tenho a impressão e tenho a impressão porque eu sou um construtor de sonhos, eu há muito tempo atrás, eu sonhei que era possível governar esse país envolvendo milhões e milhões de pessoas pobres na economia, envolvendo milhões de pessoas nas universidades, criando milhões e milhões de empregos nesse país. Eu sonhei que era possível um metalúrgico, sem diploma da universidade, cuidar mais da educação do que os diplomados e concursados que governaram esse país e cuidar da educação. Eu sonhei que era possível a gente diminuir a mortalidade infantil, levando leite, feijão e arroz para que as crianças pudessem comer todo dia. Eu sonhei que era possível pegar os estudantes da periferia e colocá-los nas melhores universidades desse país para que a gente não tenha, para que a gente não tenha juízes e procuradores só da elite. Daqui a pouco nós vamos ter juízes e procuradores nascidos na favela de Heliópolis, nascido em Itaquera, nascido na periferia. Nós vamos ter muita gente dos Sem Terra, do MTST da CUT formada. Esse crime eu cometi. Eu cometi e é esse crime que eles não querem que eu cometa mais. É por conta desse crime que já tem uns dez processos contra mim. E se for por esse crime de colocar pobre na universidade, negro na universidade, pobre comer carne, pobre comprar carro, pobre viajar de avião, pobre fazer sua pequena agricultura, ser microempreendedor, ter sua casa própria. Se esse é o crime que eu cometi, eu quero dizer: eu vou continuar sendo criminoso nesse país porque vou fazer muito mais. Vou fazer muito mais.

    Companheiros e companheiras, eu em 1990, em 1986 eu fui o deputado constituinte mais votado na história do país e nós ficamos descobrindo que dentro do PT, Manuela, companheiros, o Ivan era do PT na época, havia uma desconfiança que só tinha poder no PT quem tinha mandato. Quem não tinha mandato …

    Puts, eu não citei o senador Humberto Costa que eu vi aqui, Humberto Costa Senador de Pernambuco e eu esquecei de citar para vocês, ninguém me deu nominata. A Fátima [Bezerra}será a nova governadora do Rio Grande do Norte. Esse aqui [Wadih Damous], junto com o Paulo Pimenta, é o companheiro que mais briga e mais denuncia a Lava Jato. O Rosseto [Miguel] foi Ministro do Trabalho e da Previdência e talvez será o governador do Rio Grande do Sul nessas eleições agora. Está aqui nossa companheira Jandira Feghali que é uma companheira extraordinariamente combativa. O Glauber Rocha, é Braga, é Braga pô. Ô gente,  vai pegando e trazendo para mim. Alguém prepara uma nominata para mim que eu vou citando as pessoas.

    Então companheiros, quando eu percebi que o povo desconfiava que só tinha valor no PT quem era deputado, Manuela e Guilherme, sabe o que eu fiz? Deixei de ser deputado. Porque eu queria provar ao PT que eu ia continuar a ser a figura mais importante do PT sem ter mandato, porque se alguém quiser ganhar de mim no PT só tem um jeito é trabalhar mais do que eu e gostar do povo mais do que eu, porque se não gostar não vai ganhar.

    Pois bem, nós agora estamos num trabalho delicado. Eu talvez viva o momento de maior indignação que um ser humano vive. Não é fácil o que sofre a minha família. Não é fácil o que sofrem os meus filhos. Não é fácil o que sofreu a Marisa e eu quero dizer que a antecipação da morte da Marisa foi a safadeza e a sacanagem que a imprensa e o Ministério Público fizeram contra ela. Tenho certeza. Porque essa gente eu acho que não tem filho, não tem alma e não tem noção do que sente uma mão ou um pai quando vê um filho massacrado, quando vê um filho sendo atacado. E eu, então, companheiros, resolvi levantar a cabeça.

    Não pensem que eu sou contra a Lava Jato, não. A Lava Jato, se pegar bandido, tem que pegar bandido mesmo, que roubou, e prender. Todos nós queremos isso. Todos nós, a vida inteira, dizíamos, só prende pobre não prende rico. Todos nós dizíamos. E eu quero que continue prendendo rico. Eu quero. Agora, qual é o problema? É que você não pode fazer julgamento subordinado à imprensa, porque no fundo, no fundo, você destrói as pessoas na sociedade, na imagem das pessoas e depois os juízes vão julgar e falam: “eu não posso ir contra a opinião pública porque a opinião pública está pedindo para cassar”. Quem quiser votar com base na opinião pública, largue a toga e vá ser candidato a deputado. Escolha um partido político e vá ser candidato. Ora, a toga ela é um emprego vitalício. O cidadão tem que votar apenas com base nos autos do processo. Aliás, eu acho que ministro da Suprema Corte não devia dar declaração de como vai votar. Nos Estados Unidos termina a votação e você não sabe em quem o cidadão votou exatamente para que ele não seja vítima de pressão. Imagine um cara sendo acusado de suicídio [assassinato] e não tenha sido ele o assassino. O que que a família do morto quer? Que ele seja morto. Que ele seja condenado. Então o juiz tem que ter, diferentemente de nós, a cabeça mais fria, mais responsabilidade de fazer acusação ou de condenar.

    O Ministério Público é uma instituição muito forte por isso esses meninos que entram muito novos, fazem um curso de direito, depois faz três anos de concurso porque o pai pode pagar. Esses meninos precisam conhecer um pouco da vida. Conhecer um pouco de política para fazer o que eles fazem na sociedade brasileira. Tem uma coisa chamada responsabilidade. E não pensem que quando eu falo assim eu sou contra. Eu fui presidente e indiquei quatro procuradores e fiz discurso em todas as posses e eu dizia, quanto mais forte for a instituição, mais responsáveis os seus membros têm que ser. Você não pode condenar as pessoas pela imprensa para depois você julgá-las. Vocês estão lembrado que quando eu fui prestar depoimento lá em Curitiba eu disse para o Moro: você não tem condições de me absolver porque a Globo está exigindo que você me condene e você vai me condenar.

    Pois bem, eu acho que tanto do TRF4 quanto Moro, a Lava Jato e a Globo, elas têm um sonho de consumo. O sonho de consumo é que, primeiro, o golpe não terminou com a Dilma. O golpe só vai concluir quando eles conseguirem convencer que o Lula não possa ser candidato a Presidente da República em 2018. Eles não querem, não é porque eu vá ser eleito. Eles não querem que eu participe. Apenas porque existe a possibilidade de cada um de nós se eleger. Eles não querem o Lula de volta porque pobre, na cabeça deles, não pode ter direito. Pobre não pode comer carne de primeira. Pobre não pode andar de avião. Pobre não pode fazer universidade. Pobre nasceu, segundo a lógica deles, para comer e ter coisas de segunda categoria.

    Então, companheiros e companheiras, o outro sonho de consumo deles é a fotografia do Lula preso. Eu fico imaginando a tesão da Veja colocando a capa minha preso. Eu fico imaginando a tesão da Globo colocando uma fotografia minha preso. Eles vão ter orgasmo múltiplos.

    Eles, eles decretaram a minha prisão. E deixa eu contar uma coisa pra vocês: eu vou atender o mandado deles. E vou atender porque eu quero fazer a transferência de responsabilidade. Eles acham que tudo que acontece neste país acontece por minha causa. Eu já fui condenado a 3 anos de cadeia porque um juiz de Manaus entendeu que eu não preciso de arma, eu tenho uma língua ferina, então era preciso fazer o Lula calar, porque se ele não calar, ele vai continuar falando frases como eu falei: “está chegando a hora da onça beber água” e os camponeses mataram um fazendeiro e eles acharam que essa frase minha era a senha.

    O que que eu quero transferir de responsabilidade? Eles já tentaram me prender por obstrução de justiça, não deu certo. Eles agora querem me pegar numa prisão preventiva, que é uma coisa mais grave, porque não tem habeas corpus. O Vaccari já tá preso há três anos. O Marcelo Odebrecht gastou 400 milhões e não teve habeas corpus. Eu não vou gastar um tostão. Mas eu vou lá com a seguinte crença: eles vão descobrir, pela primeira vez, o que eu tenho dito todo dia. Eles não sabem. Eles não sabem que o problema deste país não chama-se Lula, o problema deste país chama-se vocês, a consciência do povo, o Partido dos Trabalhadores, o PCdoB, o MST, o MTST, eles sabem que tem muita gente. E aquilo que a nossa pastora diz, e eu tenho dito todo discurso, não adianta tentar evitar que eu ande por este país, porque tem milhões e milhões de Lulas, de Boulos, de Manuela, de Dilma Rousseff para andar por mim. Não adianta tentar acabar, sabe, com as minhas ideias, elas já estão pairando no ar e não tem como prendê-las. Não adianta tentar parar o meu sonho, porque quando eu parar de sonhar, eu sonharei pela cabeça de vocês e pelos sonhos de vocês. Não adianta achar que tudo vai parar o dia que o Lula tiver um enfarte, é bobagem, porque o meu coração baterá pelo coração de vocês e são milhões de corações.

    Não adianta eles acharem que vão fazer com que eu pare, eu não pararei porque eu não mais sou um ser humano, sou uma ideia, uma ideia misturada com a ideia de vocês, e eu tenho certeza que companheiros como os sem-terra, o MTST, os companheiros da CUT e do movimento sindical sabem, e esta é uma prova, esta é uma prova, eu vou cumprir o mandado e vocês, vocês vão ter que se transformar, cada um de vocês, vocês não vão mais se chamar Chiquinha, Joãozinho, Zezinho, Albertinho. Todos vocês, daqui pra frente, vão virar Lula e vão andar por este país fazendo o que você tem que fazer. E é todo dia! É todo dia! Eles têm que saber que a morte de um combatente não para a revolução. Eles têm que saber. Eles têm que saber que nós vamos fazer, definitivamente, uma regulação dos meios de comunicação para que o povo não seja vítima das mentiras todo santo dia. Eles têm de saber que vocês, quem sabe, são até mais inteligentes do que eu, e poderão queimar os pneus que vocês tanto queimam, fazer as passeatas que tanto vocês queiram, fazer as ocupações no campo e na cidade. Parecia difícil a ocupação de São Bernardo, e amanhã vocês vão receber a notícia de que ganharam o terreno que vocês invadiram.

    Portanto companheiros, eu tive chance agora. Eu estava no Uruguai, entre Livramento e Rivera, e as pessoas diziam assim: “Lula, você dá uma voltinha ali. É só atravessar a rua. Finge que vai comprar um ‘‘uisquizinho’’, você está no Uruguai com o Pepe Mujica e vai embora e não volta mais, pede asilo político. Ô Lula, você pode ir na embaixada da Bolívia, você pode ir na embaixada do Uruguai. Ô Lula, vai na embaixada da Rússia. Ô Lula vai na embaixada, de lá você fica falando.”

    Eu falei: “eu não tenho mais idade”. Minha idade é de enfrentá-los de olho no olho e eu vou enfrentá-los aceitando, aceitando cumprir o mandado. Eu quero saber quantos dias eles vão pensar que tão me prendendo e quantos mais dias eles me deixarem lá, mais lulas vão nascer neste país e mais gente vai querer brigar neste país, porque a democracia, a democracia não tem limite, não tem hora para a gente brigar. Por isso eu estou fazendo uma coisa muito consciente, mas muito consciente. Eu falei para os companheiros: se dependesse da minha vontade eu não iria, mas eu vou porque eles vão dizer a partir de amanhã que o Lula tá foragido, que o Lula tá escondido. Não! Eu não estou escondido, eu vou lá na barba deles para eles saberem que eu não tenho medo, para eles saberem que eu não vou correr e para eles saberem que eu vou provar minha inocência. Eles têm que saber disso. E façam o que quiserem. Façam o que quiserem.

    Eu vou terminar com uma frase que eu peguei em 1982 de uma menina de 10 anos em Catanduva, que eu não sei quem é, e essa frase não tem autor. A frase dizia: “os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a chegada da primavera”. E a nossa luta é em busca da primavera. Eles tem de saber que nós queremos mais casa, mais escola, nós queremos menos mortalidade, nós não queremos repetir a barbaridade que fizeram com a Marielle no Rio de Janeiro. Não queremos repetir a barbaridade que se faz com meninos negros nas periferias desse país. Não queremos mais que volte a desnutrição, a mortalidade por desnutrição neste país. Não queremos mais que um jovem não tenha esperança de entrar numa universidade, porque este país é tão cretino, que ele foi o último país do mundo a ter uma universidade. O último! Todos os países mais pobres tiveram, porque eles não queriam que a juventude brasileira estudasse. E falaram que custava muito fazer escola. É de se perguntar quanto custou não fazer há 50 anos atrás.

    Então, eu quero que vocês saibam que eu tenho orgulho, profundo orgulho, de ter sido o único Presidente da República sem ter um diploma universitário, mas sou o Presidente da República que mais fiz universidade na história deste país para mostrar para essa gente que não confunda     inteligência com a quantidade de anos na escolaridade. Isso não e inteligência, é conhecimento. Inteligência é quando você sabe tomar decisão. Inteligência é quando você tem lado. Inteligência é quando você não tem medo de discutir com os companheiros aquilo que é prioridade, e a prioridade desse país é garantir que este país volte a ter cidadania. Não vão vender a Petrobras! Vamos fazer uma nova constituinte! Vamos revogar a lei do petróleo que eles tão fazendo! Não vamos deixar vender o BNDES, não vamos deixar vender a Caixa Econômica, não vamos deixar destruir o Banco do Brasil! E vamos fortalecer a agricultura familiar, que é responsável por 70% do alimento que nós comemos neste país.

    É com essa crença companheiros, de cabeça erguida, como eu estou falando com vocês, que eu quero chegar lá e falar para o delegado estou à sua disposição e a história, a história daqui a alguns dias vai provar que quem cometeu crime, foi o delegado que me acusou, foi o juiz que me julgou e foi o Ministério Público que foi leviano comigo, por isso, companheiros, eu não tenho lugar no meu coração para todo mundo, mas eu quero que vocês saibam se tem uma coisa que eu aprendi a gostar neste mundo é da minha relação com o povo, quando eu pego na mão de um de vocês, quando eu abraço um de vocês, quando eu beijo… agora estou beijando homem e mulher igualzinho, não mistura mais, quando eu beijo um de vocês, eu não estou beijando com segundas intenções, eu estou beijando porque quando eu era presidente eu dizia eu vou voltar para onde eu vim e eu sei quem são meus amigos eternos e quem são os amigos eventuais, os de gravatinha que iam atrás de mim, agora desapareceram, e quem está comigo é aqueles companheiros que eram meus amigos antes de eu ser Presidente da República, é aqueles que comiam rabada aqui no Zelão, é aqueles que comiam frango com polenta ali no Demarchi, é aquele que tomava caldo de mocotó no Zelão, esses continuam sendo os nossos amigos, é aqueles que têm coragem de invadir um terreno para fazer casa, é aqueles que têm coragem de fazer uma greve contra a Previdência, é aqueles que têm coragem de fazer alguma greve ocupar um campo para fazer uma fazenda produtiva, é aqueles que na verdade precisam do Estado. Então, companheiros, eu vou dizer uma coisa a vocês, vocês vão perceber que eu sairei dessa maior, mais forte, mais verdadeiro e inocente porque eu quero provar que eles cometeram um crime, um crime político de perseguir um homem que tem 50 anos de história política, e por isso eu sou muito grato, eu não tenho como pagar a gratidão, o carinho e o respeito que vocês têm dedicado por mim nesses tantos anos, quero dizer a você, Guilherme e a Manuela, quero dizer a vocês dois, para mim é motivo orgulho pertencer a uma geração que está no final dela vendo nascer dois jovens disputando o direito de ser Presidente da República deste país. Por isso, companheiros, uma grande abraço, pode ficar certo que esse pescoço aqui não baixa minha mãe já fez o pescoço curto para ele não baixar e não vai baixar porque eu vou de cabeça erguida e vou sair de peito estufado de lá porque vou provar a minha inocência. Um abraço, companheiros. Obrigado, mas muito obrigado a todos vocês pelo que vocês me ajudaram.

    Um beijo queridos e muito obrigado!

  • Movimentos sociais pedem que Lula resista

    Movimentos sociais pedem que Lula resista

    A Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, representando os principais partidos e movimentos progressistas do país, repudiam o mandato ilegal de prisão contra o presidente Lula.

    A decisão tomada pelo juiz Sérgio Moro expressa mais uma etapa do golpe de Estado contra a democracia, as conquistas do povo brasileiro e a soberania de nossa nação.

    Prender o histórico líder da classe trabalhadora para impedi-lo de participar do processo eleitoral é o objetivo que mobiliza os setores mais reacionários do sistema de justiça, dos meios monopolistas de comunicação e das elites brasileiras.

    O bloco golpista, ao rasgar a Constituição de 1988 e recorrer à perseguição judicial contra o ex-presidente, tem como intenção implantar, a ferro e fogo, sua agenda antipopular, antinacional e antidemocrática.

    Seus porta-vozes forjaram um clima de intolerância e ódio, animando grupos neofascistas e incentivando a violência contra a esquerda e os movimentos sociais.

    A única resposta digna e patriótica contra essas agressões é a resistência.

    Desde a histórica cidadela dos trabalhadores brasileiros, em São Bernardo do Campo, convocamos todos os democratas a cerrarem fileiras em defesa da liberdade do presidente Lula e contra o arbítrio.

    Estamos ao lado do presidente Lula nessa batalha decisiva, juntos na luta por suas prerrogativas constitucionais, dispostos a resistir contra a truculência e a mesquinharia dos que tomaram as instituições de assalto.

    Estradas estão sendo bloqueadas. Mobilizações despontam nas principais cidades e regiões. Vários governos denunciam ao mundo os atropelos em curso.

    Convocamos todos a se somarem aos atos unitários programados para hoje e nos próximos dias em todo Brasil. E todos que puderem se dirigir imediatamente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

    Também orientamos a que sejam organizados comitês populares em defesa da democracia e da liberdade do presidente Lula.

    Não nos calaremos diante da injustiça.

    Contra as armas da tirania, os povos e os cidadãos têm o direito à desobediência e à rebelião.

    São Bernardo do Campo, 6 de abril de 2018

    Frente Brasil Popular

    Frente Povo Sem Medo

  • MST tranca rodovias em todo país em desagravo a Lula

    MST tranca rodovias em todo país em desagravo a Lula

    Assessoria MST

    Com muita indignação ao saberem da iminente prisão do ex-presidente e companheiro Lula, milhares de trabalhadores rurais Sem Terra participam de bloqueios de BR e outras rodovias de Norte a Sul do país. As mensagens “Lula Livre!” e “Globo Golpista!” também foram vistas nos muros de grandes cidades, como Salvador. A própria emissora foi alvo da indignação popular, no Rio Grande do Sul.

    Já são registrados bloqueios de rodovias nas diversas regiões do país. Na Paraíba, as duas principais rodovias foram fechadas, a BR-101 e a BR-230, principal ligação entre João Pessoa e Campina Grande. Em Sergipe o MST fecha a rodovia SE-270 (Rodovia Lourival Batista), na altura do povoado Taboca, em Itaporanga.

    Na Bahia, desde as primeiras horas da manhã, a BR 235 está bloqueada na altura de Casa Nova. Os manifestantes utilizaram galhos e pneus para atear fogo e impedir o trânsito na rodovia.

    A população mostra sua indignação com a prisão de Lula e queima pneus também em frente ao Diário de Santa Maria, no coração do Rio Grande do Sul. O veículo de comunicação pertence ao grupo RBS, da Rede Globo, que, segundo os camponeses, é central na condução do golpe.

    No estado do Paraná, já são três pontos fechados pelos Sem Terra: em Quedas do Iguaçu, Laranjeiras do Sul e Porecatu.

    Também no Norte, o MST fechou a BR 155, em Marabá. Na região Sudeste, o Movimento fechou a BR 101 no Espírito Santo. No Centro Oeste, já se indicam bloqueios no estado do Mato Grosso do Sul.