Jornalistas Livres

Categoria: LGBT

  • #EleNão X #EleSim no vão do Masp…

    #EleNão X #EleSim no vão do Masp…

    #SP 30.09.2018 Av. Paulista (SP), encerramento do Ato a favor de Bolsonaro o #EleSim.

    A feira habitual se desmontava, a chuva começava a cair. A juventude, que vem cada vez mais ocupando o vão do MASP aos domingos, corria se abrigar sob o museu. Do outro lado, a rua era ocupada por manifestantes em favor de Bolsonaro, que aos poucos chegavam mais perto e logo o teto se dividia entre os dois grupos. Gritos e respostas começam a ganhar força numa provocação entre “ele sim” e “ele não”, um casal chega a frente, entre, e começa a se beijar. Sim, um beijo de dois homens diante de todos eles. Antes de vaiar, olharam… Olharam, fotografaram e começaram a cantar ameaças. Sobre como “a gente” ia se ferrar… era isso que diziam. Logo chega a polícia, eram poucos, mas aquela maioria os apoiava. E, sai dali preso pelos braços um jovem estudante, certamente menor, negro. Apenas por que gritava “ele não”.

    Fascistas começam a gritar “viva a PM” enquanto um jovem estudante era levado na viatura. Aos poucos, enxotados em blocos, mas jovens eram empurrados para a chuva, para o meio da rua. Deixando, sem escolha o teto, para a massa amarela.

     

  • #EleNão em Cuiabá

    #EleNão em Cuiabá

    As manifestações contra o machismo, o racismo, a LGBTfobia coloriram de violeta e arco-íris as ruas das principais cidades do Brasil. Cuiabá, capital do Mato Grosso e também do agronegócio, não podia ficar de fora. Nem a chuva intensa que desabou exatamente na hora marcada para o início do evento foi capaz de impedir uma das maiores manifestações de esquerda já vistas na cidade. Mais de 3.000 pessoas compareceram para gritar #ELENÃO, #ELENUNCA e reafirmar sua existência e resistência. Lideranças feministas, LGBT+s e mulheres de grupos mais ligados à ação político-partidária como a União da Juventude Socialista e o Levante da Juventude se juntaram a artistas locais para dar seu recado no carro de som que animou os manifestantes no início da noite na Praça Ulisses Guimarães. Luisa Lamar, artista trans criadora do LambaTrans e uma das participantes da exposição “Viver é uma ato político: Nossa Arte, Nossa Voz!”, a primeira de temática LGBT+ e que estreiou ontem na cidade, e Camila Fidelis, cantora que normalmente lota as casas de espetáculo com sua voz poderosa em covers de mulheres fortes como Pitty, Adele e Tina Turner, entre outras, marcaram presença. Mesmo com 35% de intenção de voto no estado, conforme pesquisa do Ibope divulgada em 20 de setembro, o “coiso” não vai se eleger sem protestos.

    Texto e fotos por Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá – www.mediatro.com – Especial para os Jornalistas Livres

    Veja abaixo galeria de fotos

    Artista trans Luisa Lamar quebra tudo com a LambaTrans contra o #EleNão

     

    Panorâmica dos manifestantes. Foto Francisco Alves
  • Cuiabá recebe 16ª edição da Parada diversidade LGBT

    Cuiabá recebe 16ª edição da Parada diversidade LGBT

    No último sábado (22), a 16ª Parada da Diversidade LGBT de Cuiabá coloriu as ruas do centro da capital matogrossense. O evento que acontece todos os anos, e percorre algumas das principais avenidas da cidade. O início da concentração aconteceu por volta das 14h na Praça Ipiranga, e desceu até a Orla do Porto. O evento contou com o apoio da Polícia Militar para garantir a segurança dos participantes e, como já é habitual, foi organizado pela Livre-Mente: Conscientização e Direitos Humanos.

    Foto: Francisco Alves

    Estamos em pleno período eleitoral. As eleições são já no próximo mês. Assim, o tema escolhido para este ano foi o “Viver é um ato político: nosso voto, nossa voz.” O que se pretendia, durante o evento, foi que os políticos de Mato Grosso se comprometam com a causa. Foi definido que todos os candidatos poderiam participar do evento. Além desse aspecto, foi permitida a distribuição de material de campanha, tanto na concentração, como na dispersão. Candidatos tiveram fala durante o evento os que somente assinaram um “Termo de Compromisso” com a entidade organizadora, para que quando eleitos, a comunidade LGBT possa ter um político a quem recorrer na busca de suas questões.

    O maior Ato Político e Cultural LGBT do Estado de Mato Grosso (MT) teve como objectivo dizer “sim – que estamos presente, que somos seres políticos com voz e voto e que merecemos melhorias na saúde, educação, segurança e políticas públicas, pois estarmos vivos diante tantas LGBTfobia é um ato político.”

    Foto: Francisco Alves

    Na ordem dia esteve também a frontal oposição da comunidade LGBT ao candidato à presidência da república pelo PSL. Um dos organizadores, Josi Marconi, lembrou da importância de se posicionar contra o candidato Jair Bolsonaro. “Ele nunca, ele não, ele jamais. Um homem que diz que filhos gays precisam levar porrada, além de ter um discurso de ódio, não tem educação. Ele é um homem que faz apologia ao ódio, e isso para as mães são coisas muito dolorosas”.

    Foto: Francisco Alves

    O número de participantes tem crescido de ano para ano. Ao todo, 26 voluntários atuaram nas mais diversas áreas da organização do evento, como, por exemplo, segurança e logística. Outro factor particular deste evento foram as altas temperaturas, da ordem dos 38 graus e umidade muito baixa, sob os quais o participantes estiveram sujeitos.

    Foto: Francisco Alves

    O desfile terminou já de noite junto ao rio Cuiabá com Intervenções e shows e outras atrações culturais que incluíram performances, desfiles, entre outros.
    16ª edição da Parada diversidade LGBT de Cuiabá é organizada por Livre-Mente: Conscientização e Direitos Humanos Acesse a página do grupo em https://www.facebook.com/grupolivremente/

    Por: Livre-Mente: Conscientização e Direitos Humanos com fotos de Francisco Alves

  • Por que cotas para pessoas trans na Federal do ABC?

    Por que cotas para pessoas trans na Federal do ABC?

    O movimento por cotas para  pessoas transgêneras na UFABC – Universidade Federal do ABC teve vitórias importantes desde 2016, quando o caso de uma trabalhadora da limpeza do campus tomou repercussão nacional por sofrer transfobia. Ela era proibida de usar banheiros e vestiários de acordo com a sua identidade de gênero e não tinha o seu nome social respeitado. A questão levou a mobilização do Coletivo LGBT Prisma – Dandara dos Santos  e movimentos LGBTs, mas a mulher, que era contratada em regime de terceirização, foi demitida.
    Agora, a possibilidade de reserva de 36 vagas para costistas trans, sendo 06 por turno e campus de cada curso interdisciplinar da graduação será julgada no próximo dia 02/10, às 14h, no campus de Santo André. O Conselho Superior da universidade, o CONSUNI, que tomará a decisão final possui cerca de 40 docentes conselheiros sendo a grande maioria homens brancos, cisgêneros, héteros, muitos destes  conservadores.
    “Precisamos de todo o apoio possível, inclusive das mídias digitais para que estas Cotas sejam aprovadas. No futuro próximo também pleitearemos cotas em todos os cursos da pós graduação e que haja contratação de pessoas transgêneras tanto de forma direta e como indireta em todas as áreas funcionais da UFABC, inclusive nas terceirizadas”, diz o manifesto lançado pelo Coletivo LGBT Prisma – Dandara dos Santo.
    Veja a Integra do documento que implementa a reserva de vagas (cotas) para as pessoas transgêneras na UFABC no link abaixo:
    ASSINE A PETIÇÃO ONLINE:
    email: prisma.ufabc@gmail.com
  • Caminhada das Lésbicas e Bissexuais de Belo Horizonte homenageou Marielle Franco

    Caminhada das Lésbicas e Bissexuais de Belo Horizonte homenageou Marielle Franco

    Texto e foto Caroline França, para os Jornalistas Livres
    Marchando pela memória de Marielle Franco, mulheres tomaram as ruas de Belo Horizonte no dia 31 de agosto, durante a 14ª Caminhada das Lésbicas e Bissexuais. Com o tema “Marielle vive em nós: no amor, na luta e na política”, o evento teve o objetivo de dar visibilidade às pautas lésbicas e combater o machismo dentro e fora do movimento. A Caminhada é construída coletivamente e é realizada todo ano em agosto, mês em que são comemorados o Dia do Orgulho Lésbico (19) e Dia da Visibilidade Lésbica (29).
    Fotos por Caroline França | Jornalistas Livres
    A caminhada teve início na Praça Sete de Setembro, onde aconteceram atividades artístico-culturais. Frases como “A revolução será lésbica” foram estampadas em cartazes, durante uma oficina de confecção de estandartes. O local também foi palco para a música e o slam, com apresentação de Catarina e Stephanie, Bruna e Fá, Emily Roots, Marias Bonitas, Bruna Gavino e uma das novidades do próximo carnaval belorizontino, o bloco “Truck do desejo”. O ato terminou na Praça Raul Soares.
    Participando pela segunda vez da Caminhada das Lésbicas e Bissexuais, a militante Gabrielle Borghi acredita que a escolha do tema chama a atenção não só para o assassinato político de Marielle Franco, mas também para a forma como sua sexualidade e a de sua companheira, Mônica Benício, foram apagadas pelos meios de comunicação. “A Caminhada serve pra dar visibilidade a essas pautas que a grande mídia esconde. Também é um momento de juntar lésbicas, chamar elas para a construção, para se engajarem politicamente. Também é para lésbicas escondidas se encontrarem. É para gritarmos que existimos”, destaca.
    Fotos por Caroline França | Jornalistas Livres

  • Telecatch eleitoral, JN e Bolsonaro:  o fascismo sem peias

    Telecatch eleitoral, JN e Bolsonaro: o fascismo sem peias

    O segundo dia de entrevistas do Jornal Nacional na terça-feira (28/08), com a participação do candidato Jair Bolsonaro, do PSL, foi de alta voltagem, como era de se esperar. Não escapando do receituário quando se trata do candidato em questão (provocações temperadas por um ambiente ácido), a entrevista, em seu conjunto, consagrou a fala inicial do entrevistado: “Isso aqui está parecendo uma plataforma de tiro. Estou absolutamente à vontade”. Pelo que se viu, Bolsonaro sabia do que estava falando, não prognosticou à toa.

    Conhecedora, por ofício, do ainda enorme potencial da televisão aberta nas campanhas eleitorais (em junho deste ano, Ibope/CNI revelou que 62% dos 2 mil entrevistados apontaram que devem se informar sobre os candidatos pela TV, e 26% por redes sociais e blogs), a produção do jornal de maior audiência da TV brasileira vem investindo já há algum tempo na chamada “entrevista-paredão”. Neste formato, pouco importa a plataforma de governo dos candidatos. O que parece interessar ao roteiro das perguntas é examinar a perícia dos entrevistados face às declarações capciosas feitas por eles recentemente ou em passado que a memória alcança.

    Esta modalidade propicia aos entrevistadores se metamorfosearem em entrevistado: no primeiro dia da série de “sabatina” do JN, as críticas desferidas contra a dupla Bonner-Renata recariam sobre a verborragia dos dois, em especial a de Bonner. Ciro Gomes teve menos tempo do que Jair Bolsonaro, este com 1 minuto e meio a mais para expor suas posições. Os entrevistadores tiveram responsabilidade decisiva nisso (com Ciro, falaram em torno de 11min30s, contra 10 min com Bolsonaro).

    Dessa anomalia derivam tantas outras, entre as quais estão as que beneficiaram o candidato da extrema-direita no duelo com os apresentadores globais. E o benefício não se deve pelo pouco tempo a mais que Bolsonaro usufruiu, mas pela forma do debate, que se avizinha do beligerante, sem dúvida um prato cheio para extremistas.

    Deve-se lembrar, no entanto, que os debates televisivos no Brasil surgiram na ambiência da primeira eleição direta de governadores na ditadura e se impuseram como uma plataforma de esclarecimento dos propósitos reais dos candidatos, um gesto ímpar de civismo. Brizola, Montoro e Tancredo são invariavelmente lembrados como os candidatos que conseguiram galvanizar seus desempenhos na TV. O modelo começou a degringolar com o inolvidável debate entre presidenciáveis em 1989, quando Collor, sob o beneplácito da Globo (ela de novo), decidiu que tinha como missão exterminar os adversários, em especial o então temido (como é hoje) Luiz Inácio Lula da Silva.

     

    Quem saiu vitorioso(a) do Telecatch?

    Ao contrário do que ocorreu em debates anteriores com seus pares, Bolsonaro não saiu chamuscado da entrevista; firmou-se, sim, todo pimpão como o boçal que confronta a Globo em sua própria casa; dá nome aos bois (ou a Roberto Marinho); manda historiadores às favas; reafirma que quem transgride leis não deve ser visto/tratado como gente; vocifera contra o que chama de kit gay com argumentos que são a mais pura fake news; proclama que atos de violência devem ser resolvidos com mais violência ainda – medidas que transbordam de orgulho seus seguidores-admiradores-eleitores. Muitos dos seus adeptos exibiram trechos da entrevista como troféus de uma vitória acachapante sobre os apresentadores no telecatch do JN.

    Mas há, no extremo oposto, nas fileiras dos que repudiam o candidato racista-homofóbico-misógino-neanderthal, quem enxergou uma vitória dos dois apresentadores, com especial ênfase em Renata Vasconcelos. Vivas e foguetório foram dedicados à apresentadora porque falou de seu direito, como cidadã, de saber do salário do candidato no exercício de atividade pública, arrematando, sem seguida, que, como mulher, jamais aceitaria receber menos que um homem exercendo a mesma função.

    Pronto. Uma resposta certeira, embora simples, foi o bastante para que a apresentadora se tornasse, na linguagem das redes sociais, a lacradora real oficial, o “mulherão da porra”.  Até uma jovem candidata a deputada estadual de um partido de esquerda, que recentemente presidia o movimento estudantil, declarou entusiasmada: “Renata Vasconcelos representou… que classe!”. O viés da confirmação foi adotado conforme os prismas das lupas de análise.

    No lamentável ringue televisivo perdemos todos. O sentimento de perda parece ser aplacado pela capacidade que temos em perceber nesses programas o que eles realmente são:  animadores de plateia. É como  um telecatch a que assistimos, na condição de torcedores.

    A título de lembrança, Telecatch foi um programa da extinta TV Excelsior (RJ) que exibia combates de luta-livre misturados com encenação teatral e circo. Mix que as emissoras utilizam para se beneficiarem da antipolítica, da qual Bolsonaro é o símbolo máximo.

     

    Dever cívico versus interesses outros

                Efetivamente, não temos nada a celebrar com as intervenções/respostas de Renata Vasconcelos para além do reconhecimento de que Bolsonaro não suporta ser interpelado por mulheres (na plataforma de tiros do JN, disparava olhares destituidores e mortíferos a ela, o que não foi sentido com William Bonner, com quem manteve certa tolerância). Para quem acompanha as disparidades salariais na comunicação e no jornalismo, a afirmação de Vasconcelos deve ser matizada.

    Os dados mostram como as diferenças salariais são alarmantes na profissão e que as funções de prestígio (leia-se as de visibilidade televisiva) passam por crivos de gênero e raça que prejudicam mulheres e negros. Ocupando um lugar de prestigio, Renata Vasconcelos faz uma afirmação que mesmo nesse lugar não se verifica em muitos casos pelas estratégias sexistas de abordagem e contratação de muitas profissionais que habitam um universo dominado por 71% de homens.

    Outros acréscimos também cabem para esmaecer os ânimos celebrativos em relação à supremacia de Renata Vasconcelos sobre Jair Bolsonaro: assistimos a dois jornalistas, em tom solene, fazerem perguntas sobre o confisco de direitos que a plataforma de Bolsonaro anuncia. Nas evasivas do candidato em relação ao tema, insistiam com o argumento de que era dever cívico esclarecer para o eleitor em quais aspectos essas propostas o afetariam negativamente.

    Mas, pera. Não foi essa mesma emissora que subscreveu a reforma trabalhista, vocalizando por meio de William Bonner e Renata Vasconcelos (que disse jamais aceitar receber menos que um homem) que a CLT era algo anacrônico, dando visibilidade aos argumentos favoráveis e asfixiando os que se mostravam contrário à medida regressiva? Não foi essa emissora que insinuou não haver outra saída se não a reforma da previdência da forma que foi apresentada pelo governo de plantão, dando de ombros a vozes que apresentavam outras propostas para a questão previdenciária e a reforma fiscal?

    Dever cívico com o eleitor-cidadão não se vê por aqui, cara Rede Globo. Ao que tudo indica, a vênus platinada evita aplicar em sua linha editorial, o que prescreve para os candidatos na bancada do JN. Mais do que formar uma opinião pública qualificada, o ringue, que procura dar ares republicanos de transparência para as trocas de farpas, serviu para vitaminar a agenda restrita de um candidato cuja plataforma de governo se reduz ao armamento da população, à  castração química de homens tarados, à  disciplina nos quarteis e à perseguição da “teoria de gênero”.

     

    E o fascismo com isso?

    Mesmo acreditando  que  Bolsonaro não chegará ao segundo turno porque, entre outras coisas, lhe faltará estrada para atingir a porcentagem de que precisa para poder avançar (o candidato terá magérrimos 8 segundos de tempo de TV e não conta com a plataforma da grande imprensa, duas esferas importantes para a consolidação das candidaturas), deve-se ter estratégias para combater a reafirmação fascista que se impõe no mundo.

    O cientista político João Filho, colaborador do site “Intercept Brasil”, adverte que é preciso saber usar argumentos para confrontar as propostas de candidatos da extrema-direita que têm tirado o sono de boa parte do planeta. Segundo ele, nos EUA, Europa e agora no Brasil, jornalistas tentam descobrir a melhor maneira de entrevistar essa turma sem favorecer a difusão de propostas antidemocráticas. “A experiência americana com Trump indica que confrontar os absurdos racistas e homofóbicos, por exemplo, não funciona e só ajuda a alimentar a fúria dos seus seguidores”. Intelectualmente limitados, continua o cientista político, “esses políticos se perdem ao serem convocados a falarem sobre temas que estão fora da sua caixinha moralista”.

    Já que o reinado do telecatch não apresenta sinais de desgaste, as orientações de João Filho reclamam por mais atenção. Priorizar outros assuntos que estão fora da órbita do arsenal de Bolsonaro e de seus seguidores é terapeuticamente salutar para a democracia.

    Não se trata de flagrar a ignorância do candidato em relação a temas fundamentais (disso todos sabemos: os seus adeptos e os seus adversários), mas de imobilizá-lo pela falta de condições de retrucar o que está sendo exposto. Imobilizá-lo a tal ponto de lhe causar angústia, de fazê-lo patético e desnorteado como o meme do Jonh Travolta (imagem evocada por João Filho), brecando a possibilidade da promessa máscula de renovação do vigor nacional ganhar terreno discursivo por meio de clamores emocionais e antirracionais.

    Tudo que um fascista não quer é sentir-se nu, ser pego a contrapelo, é não ouvir o eco de sua voz em outras vozes também silenciadas frente a uma não correspondência com suas crenças e práticas. A energia psíquica que lhe confere superioridade moral advém de uma coesão de grupos que se sentem ameaçados por uma esquerda “degenerada” que abriga os clamores de um tipo de gente “pervertida” que perturba a “boa rotina dos cidadãos de bem”.

    Sob esse ponto de vista, o franco-atirador Jair Bolsonaro se posicionou na plataforma de tiros e atirou para todos os lados, liberando um fascismo que se insinua, até o momento, sem peias.  Infelizmente, a bancada do JN deu-lhe munição.

    *Rosane Borges é jornalista, professora universitária e autora de diversos livros, entre eles “Esboços de um tempo presente” (2016), “Mídia e racismo” (2012) e “Espelho infiel: o negro no jornalismo brasileiro” (2004).