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Categoria: Lula em Curitiba

  • A historic day, for Brazil and for Lula

    A historic day, for Brazil and for Lula

    Lula, from the top of Santos de Andrade Square, in Curitiba, expressing gratitude to those who had come from far-flung places like the state of Acre in the North of Brazil, proclaimed excitedly:

    “I have already taken part in demonstrations with a million people […],

    with all kinds and amounts of people you can imagine,

    but none, none is as rewarding as

    knowing that you trust someone who is being crushed […] “.

    May, 10th 2017 certainly was a historic day, for Brazil and for Lula, not only for the fifty thousand people and 700 caravans that had endured a 12 hour struggle in Curitiba, despite of the pressure by the Judiciary, by Curitiba municipal government and by a fascist attack on a MST (Landless Workers Movement) camp.

    This gathering, under current circumstances, would, by itself, be part of the country’s history. Moreover, this moment in history represents the apex of a slow changing process in the correlation of Brazilian political forces, to which we can add the increased resistance to Temer’s neoliberal reforms and the popular inauguration of the San Francisco River channeling.

    This week, therefore, will be a milestone regarding the resistance to the coup and to Lula’s political imprisonment. But it is not just about this. May 10 will also belong to Lula’s personal history. Not the one that will be told once this period of democratic rupture enters the books. But for Lula himself, when going to sleep, as he rests for another struggling day.

    Lula has never been a militant because of his beliefs on Marxist, Leninist or Gramscian lessons. Although seeking equality among people is an important part of socialist ethics for the left-wing militant Lula, his political combat is clearly linked to his principles, values and history. And today he can sleep in peace for he knows that, if Dona Marisa were alive, she would be proud of his husband.

    Not only did he respond with proper self-esteem to a five hour testimony; not only did he accuse Globo, Veja, Estadão and other mainstream media companies of persecuting him, in combination with young prosecutors who have little or no understanding of life. He did all this. But he did more. Face to face for five hours, after a long torture process initiated two years ago and now imposed to a 71-year-old man – a survivor, who has lost brothers to Brazil’s Northeastern drought, his first wife to a failed health system, Dona Marisa for political persecution and his mother under military dictatorship – Lula spoke to the country, taking a load off his mind:

    “Moro, you may have accidentally entered this process, do you know why?

    Because the leak of my conversations to my wife and hers to my children,

    it was you who authorized it.

    It was not right to have my house disturbed

    without being summoned to an audience.

    No one had invited me to testify and, suddenly,

    I see a platoon of Federal Police officers at my door.

    And when I got out they even lifted the mattress of my bed,

    thinking I had money in there, doctor.”

    Perhaps all this went through his mind when, addressing the tens of thousands on the square, he wept over and over again. And, perhaps unintentionally, he did something unusual for rallies like this: after finishing his speech, when he saw the young Ana Júlia, leader of Paraná state students, he returned to the stage to restart the rally and ask people to hear her speech. The students’ resistance, which occupied highschools last year, spoke to a tired and touched giant.

    Lula might have slept in peace. On May 10 he wrote one of the most important chapters in his history and honored Dona Marisa and his entire family.

    Daniel Araújo Valença, Law Professor at UFERSA – Federal Rural University of the Semi-Arid, PhD in Legal Sciences at UFPB and contributor of Jornalistas Livres.

    Translation by Ricardo Gozzi and César Locatelli, jornalistas livres.

  • Lula em Curitiba: Reinaldo Azevedo e o cagaço da direita

    Lula em Curitiba: Reinaldo Azevedo e o cagaço da direita

    Antes de qualquer coisa, preciso esclarecer que este texto não é uma ameaça ao colunista da Veja e da Folha de São Paulo que acumula um histórico persecutório de acusações de ameaças de morte. Nunca fui pessoalmente ofendido por ele, a não ser em meu intelecto. Então, caso o próprio Azevedo leia este texto, deixo de pronto: não é nada pessoal!

    O Brasil acompanhou atento o primeiro depoimento do presidente Lula em Curitiba – PR. Milhares de brasileiros e brasileiras compareceram de vários lugares do país para uma demonstração de carinho e apoio a Lula, e às conquistas sociais feitas e às verdadeiras reformas populares que tanto esperamos. Os Jornalistas Livres estiveram no meio da multidão fazendo mais uma das grandes demonstrações de jornalismo decente e honesto [e não é porque faço parte da equipe, pois não faria se assim não fosse!].

    Não pude ir e, como muitos brasileiros, tive que me deparar com a cobertura predatória desta grande mídia que não perde por esperar… POR UMA REFORMA DEMOCRÁTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO!!!… Enfim, recompondo-me dos meus arroubos progressistas… Entre tantos canais de televisão que comentavam a audiência de hoje (sem efetivamente terem tido tempo de assistir à íntegra), a presença de uma certa figura me chamou a atenção: Reinaldo Azevedo.

    Perto de Boris Casoy, “que comunistão da p***” ele nos parece! Entre um comentário ou outro disse que desejava ver o Lula preso, mas que para isto deveriam haver uma condenação em juízo pautada em provas que, por sua vez, ainda não existem. Sim, ele falou que não há provas de que o Tripléx é do Lula!

    Foi o REI-NAL-DO A-ZE-VE-DO!

    Estou impressionado?! Não! Até um relógio parado acerta as horas duas vezes por dia.

    Não satisfeito (para horror dos âncoras cujas caras afundavam na bancada), seguiu afirmando que Lula saiu vitorioso nas ruas e da audiência; e que a condução coercitiva de Lula foi ilegal e ainda sugeriu que o juiz Sérgio Moro agiu de forma política, inclusive ao perguntar a opinião do Lula sobre a AP 470 (mensalão!).

    [Fontes não oficiais disseram que Azevedo pegou da mesma gripe de Olavo de Carvalho. Mas admito: tenho apenas convicção, não posso provar!]

    Não se enganem com estes picaretas ex-trotskistas. Eles não estão voltando às fileiras da Internacional. Apenas estão se dando conta do perigo devastador que o proto-fascismo de MBL e companhia representa para as instituições democráticas que uma parte da direita jura defender. Numa série de ataques coordenados, da qual são vítimas midiáticas, estão perdendo espaço para o que há de mais perigoso no atual cenário político.

    A direita, como há muito tempo percebemos, não é coesa. Ponto para nós! [Mas a esquerda também não: ponto para eles!]. As soluções mágicas para a economia não estão vindo; os abusos do aparato penal só se agravam [agora que não pega apenas pobres não está tudo bem!]. Eu não duvido que ALGUNS estejam com medo do monstro que eles mesmos engordaram nos últimos anos. A extrema-direita ameaça destruir a existência de setores mais moderados – ou covardes- da direita. Medo legítimo para conservadores defensores do status quo. Infelizmente, a maior parte da direita prefere continuar cavando a sua própria cova.

    E o Lula nesta história?

    Lula segue se defendendo e sendo defendido, por valorosos advogados nos tribunais e por valorosos trabalhadores nas ruas. Mas nada será como antes neste país. Lula ainda não é o presidente que a cada dia se espera que ele se torne em 2018. Ele é o acúmulo de forças que tencionam o PT, e ele mesmo, mais e mais para a Esquerda. Esta força são os trabalhadores e trabalhadoras; os movimentos sociais; os sindicatos; e até parte da Igreja.

    A cada discurso do presidente Lula este acúmulo se apresenta. Ataca o fascismo de Bolsonaro; as mentiras dos grandes meios de comunicação burguesas; a violência contra os povos indígenas; o projeto Escola Sem Partido… E se coloca contra as reformas burguesas e ao lado das reformas populares.

    O Brasil segue se transformando (por enquanto para pior). Lula se coloca como a única alternativa concreta contra o projeto de extrema-direita que emerge no mundo. Sei que ele não é o que uma parte da esquerda sonha, mas sejamos pragmáticos: não podemos permitir que o segundo turno entre 2018 seja entre a direita e a extrema direita. A esquerda não pode ser voyer num segundo turno entre direito e extrema-direita, como ocorreu na França. Não por moralismo: mas não curto este tipo de safadeza. A situação é grave demais para ficarmos de manha: abrace o Lula para não recebermos o “beijo da morte” da extrema-direita!
    A política, segundo Hannah Arendt, em A Condição Humana, está atrelada aos princípios da “irreversibilidade” e “imprevisibilidade”. Cada ação política desencadeia uma série de reações impossíveis de prever e reverter. No nosso contexto, o Golpe contra o governo Dilma foi a ação central que englobou tudo o que a esquerda não pôde reverter, mas que por outro lado setores da direita não podem controlar. O “Governo de Salvação Nacional” se mostra incapaz de prestar contas pelos próprios “pecados”, se usarmos suas próprias metáforas teológicas. A extrema- direita cresce a partir deste caos e descontrole que assolam as instituições políticas nacionais e internacionais. As consequências se revelam no nosso presente impondo um pessimismo quase generalizado. Mas não podemos adivinhar o futuro.

    A única possibilidade diante da “imprevisibilidade” das ações políticas é, segundo a própria filósofa, o “poder de promessa”. Pensar no que queremos para o futuro e estabelecer um pacto – não entre políticos, mas cidadãos – a fim de ter algum controle sobre a direção das nossas ações, que por sua vez devem ser feitas em conjunto. Pacto é relação!

    Atualmente, quem oferece esta “promessa” (não propaganda eleitoral!) é o projeto a qual Lula está inserido. As promessas não são invenções dele, mas o acúmulo de reivindicações de base, a respeito do futuro que queremos para nós. O que queremos a partir de 2018? Mais do que construir uma candidatura, é necessária a construção de um programa de governo popular.

    A direita sabe que seus direitos e garantias fundamentais estarão muito mais bem resguardados com a Esquerda no poder, mas jamais vai admitir para si mesma. A Extrema-Direita não oferece segurança para ninguém, pois se rege pela lógica do Terror. Direitistas não podem confiar na própria estirpe (e com razão)! Isto não significa que a esquerda pode dar a mão para a direita “moderada”. Aqueles que querem lutar apenas pela própria sobrevivência não podem governar segundo princípios de liberdade política, pois a necessidade é o caminho para a violência. O medo na direita é algo a se atentar: pode ser um sinal de lucidez ou de perigo. Tudo depende das escolhas que tomamos diante de situações que não podemos controlar. Michel Temer e seu governo segue desgovernado rumo ao precipício, e o “precipício fascista” o chama para si.

    Os ratos acordaram e estão desesperados pelo convés. Não vamos ser a banda que toca em enquanto o país afunda!

  • Um dia para a história do Brasil e de Lula

    Um dia para a história do Brasil e de Lula

    Lula, do alto da Praça Santos de Andrade, agradecendo a quem chegou de locais longínquos como o Acre, bradou emocionado:

    “Eu já participei de manifestações com um milhão de pessoas […],

    com todo tipo e quantidade de gente que vocês possam imaginar,

    mas nenhuma, nenhuma é tão gratificante quanto saber

    que vocês confiam em alguém que está sendo massacrado […]”.

    E realmente foi um dia histórico, para o Brasil e para Lula. Não se trata apenas dos cinquenta mil e das 700 caravanas que suportaram mais de 12 horas de luta em Curitiba, mesmo com Judiciário, Prefeitura de Curitiba e ataque fascista ao acampamento do MST. Isto, por si só, frente a toda a conjuntura atual, já entraria para a história do país. Para além, este momento representa o ápice de um lento processo de alteração na correlação de forças , em cujo caldo entra desde o aumento da resistência às reformas neoliberais de Temer à inauguração popular do São Francisco.

    Hoje será, portanto, um marco quanto à resistência ao golpe e à prisão política de Lula.

    Mas não se trata apenas disto. Hoje também terá sido um dia para a história de Lula. Não a que contarão, quando este período de ruptura democrática houver de entrar para os livros. Mas para o próprio Lula, ao dormir, ao descansar de mais um dia de luta.

    Lula nunca militou devido a convicções marxistas, leninistas, gramscianas. Se uma ética socialista, de busca de igualdade entre as pessoas, é importante ao militante político de esquerda, em Lula, a luta política é claramente ligada a seus princípios, seus valores, sua história. E hoje ele poderá dormir em paz por ter a crença de que, se Dona Marisa estivesse viva, se orgulharia de seu companheiro.

    Ele não apenas respondeu altivamente a cinco horas de interrogatório; não apenas denunciou para todo o país a perseguição que promovem Globo, Veja, Estadão e demais empresas de comunicação, ao lado de jovens procuradores que pouco ou nada entendem da vida. Ele fez tudo isto. Mas ele fez mais.

    Cara a cara, após cinco horas de uma longa tortura que há dois anos submetem a um senhor de 71 anos de idade – sobrevivente, que já perdeu irmãos para a seca nordestina, sua primeira mulher para a saúde brasileira, Dona Marisa para a perseguição política e sua mãe durante a ditadura – ele falou para o país, mas também para o “desencargo de sua consciência”:

    “Moro, o senhor sem querer, talvez, entrou nesse processo, sabe por quê?

    Porque o vazamento de conversas minhas com minha mulher e

    dela com meus filhos, foi o senhor que autorizou.

    Não tinha o direito de ver minha casa molestada

    sem que eu fosse intimado para uma audiência.

    Ninguém nunca me convidou,

    de repente vejo um pelotão da Polícia Federal

    e quando saí levantaram até o colchão achando que tinha dinheiro, doutor”.

    Talvez tudo isto tenha passado em sua cabeça quando, discursando para as dezenas de milhares, incorreu em choro repetidas vezes. E, talvez sem querer, fez algo atípico para comícios: após terminar sua fala, ao encontrar-se com Ana Júlia, líder secundarista do Paraná, retornou ao palco, para reiniciar o comício e dar a ela direito de fala. A resistência que ocupa as escolas falou perante um gigante cansado e emocionado.

    Hoje Lula dormirá tranquilo. Hoje ele escreveu um dos capítulos mais importantes de sua história e honrou a Dona Marisa e toda sua família.

    Daniel Araújo Valença, professor de Direito da UFERSA – Universidade Federal Rural do Semi-Árido, doutor em Ciências Jurídicas pela UFPB e colaborador dos Jornalistas Livres.

     

  • ÍNTEGRA: Depoimento de Lula 10.05.2017

    ÍNTEGRA: Depoimento de Lula 10.05.2017

    Os Jornalistas Livres separaram alguns trechos, acompanhe:

     

    MORO: Senhor ex-presidente, preciso lhe advertir que talvez sejam feitas perguntas difíceis para você.
    LULA: Não existe pergunta difícil pra quem fala a verdade.

     

    MORO: Esse documento em que a perícia da PF constatou ter sido feita uma rasura, o senhor sabe quem o rasurou?
    LULA: A Polícia Federal não descobriu quem foi? Não? Então, quando descobrir, o senhor me fala, eu também quero saber.

     

    MORO: O senhor não sabia dos desvios da Petrobras?
    LULA: Ninguém sabia dos desvios da Petrobras. Nem eu, nem a imprensa, nem o senhor, nem o Ministério Público e nem a PF. Só ficamos sabendo quando grampearam o Youssef.
    MORO: Mas eu não tinha que saber. Não tenho nada com isso.
    LULA: Tem sim. Foi o senhor quem soltou o Youssef. O senhor deve saber mais que eu [referindo-se ao escândalo do Banestado].

     

    LULA: O Dallagnol não tá aqui. Eu queria o Dallagnol aqui pra me explicar aquele PowerPoint.

     

    MORO: Saíram denúncias na Folha de S. Paulo e no jornal O Globo de que…
    LULA: Doutor, não me julgue por notícias, mas por provas.

     

    LULA: Esse julgamento é feito pela e para a imprensa.
    MORO: O julgamento será feito sobre as provas. A questão da imprensa está relacionada a liberdade de imprensa e não tem ligação com o julgamento.
    LULA: Talvez o senhor tenha entrado nessa sem perceber, mas seu julgamento está sim ligado a imprensa e os vazamentos. Entrou nessa quando grampeou a conversa da presidente e vazou, conversas na minha casa e vazou, quando mandou um batalhão me buscar em casa, sem me convidar antes, e a imprensa sabia. Tem coisas nesse processo que a imprensa fica sabendo primeiro que os meus advogados. Como pode isso? E, prepare-se, porque estes que me atacam, se perceberem que não há mesmo provas contra mim e que eu não serei preso, irão atacar o senhor com muito mais força.

     

    MORO: Senhor ex-presidente, você não sabia que Renato Duque roubava a Petrobras?
    LULA: Doutor, o filho quando tira nota vermelha, ele não chega em casa e fala: “Pai, tirei nota vermelha”.
    MORO: Os meus filhos falam.
    LULA: Doutor Moro, o Renato Duque não é seu filho.

     

    LULA: Doutor Moro, o senhor já deve ter ido com sua esposa numa loja de sapatos e ela fez o vendedor baixar 30 ou 40 caixas de sapatos, experimentou vários e no final, vocês foram embora e não compraram nenhum. Sua esposa é dona de algum sapato, só porque olhou e provou os sapatos? Cadê uma única prova de que eu sou dono de algum tríplex? Apresente provas doutor Moro?

     

    MORO: O senhor solicitou à OAS que fosse instalado um elevador no tríplex?
    LULA: O senhor está vendo essa escada caracol nessa foto? Essa escada tem dezesseis degraus e é do apartamento em que eu moro há 18 anos em São Bernardo. Dezoito anos a Dona Marisa, que tinha problema nas cartilagens do joelho passou subindo e descendo essa escada. O senhor acha que eu iria pedir um elevador no apartamento que eu não comprei, ao invés de pedir um elevador no apartamento em que eu moro, para que a Dona Marisa não precisasse mais subir essa escada?

     

    LULA: O vazamento das conversas da minha mulher e dela com meus filhos foi o senhor quem autorizou.

     

    MORO: Tem um documento aqui que fala do tríplex…
    LULA: Tá assinado por quem?
    MORO: Hmm… A assinatura tá em branco…
    LULA: Então, o senhor pode guardar por gentileza!

     

  • Lula nega todas as acusações e reafirma determinação para disputar eleição

    Lula nega todas as acusações e reafirma determinação para disputar eleição

    Por Maria Carolina Trevisan
    Foto: Leandro Taques

    Ao pedir que manifestantes a favor da Lava Jato não fossem a Curitiba, o juiz Sergio Moro alegou que seria um interrogatório comum ao processo e que “nada de diferente da normalidade” aconteceria. Mas normalidade foi o que não houve em Curitiba.

    A rotina da cidade foi modificada, quarteirões no entorno do prédio da Justiça Federal foram fechados e só moradores e jornalistas credenciados tinham acesso ao espaço cercado por barricadas.

    O depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mobilizou um contingente de cerca de 3 mil agentes de segurança. A Polícia Militar divulgou ter abordado uma parte dos 168 ônibus de manifestantes a favor de Lula. A maioria, 92 deles, viajou de outros estados. Apenas um veículo tinha irregularidades. Curitiba recebeu pelo menos 6,7 mil pessoas de ônibus.

    O ato de apoio a Lula juntou 30 mil manifestantes, de acordo com os organizadores. O grupo que apoiou a Lava Jato estava composto por 100 pessoas, segundo a Polícia Militar (ou 300, de acordo com organizadores).

    Os partidários do ex-presidente Lula ficaram na Praça Santos Andrade, no Centro de Curitiba, a cerca de 2,5 km de distância dos partidários da Lava Jato, que ficaram em frente ao Museu Oscar Niemeyer, no Centro Cívico.

    Em vídeo divulgado nas redes sociais, o juiz Sergio Moro alegou que seria um depoimento corriqueiro, dentro da normalidade. Porém, o interrogatório com Lula durou quase 5 horas. É um dos mais longos de toda a Operação Lava Jato.

    Usando uma gravata com as cores da bandeira brasileira, que Lula considera um acessório de sorte, o ex-presidente respondeu exclusivamente a Moro por 3 horas e 20 minutos. Ele prestou depoimento sobre o triplex do Guarujá e o acervo presidencial.

    Moro compareceu de camisa branca e gravata vermelha. Deixou de lado a tradicional camisa preta. Depois do magistrado, foi a vez de o Ministério Público Federal fazer perguntas. Ao final, a defesa fez considerações.

    As primeiras imagens divulgadas pela Justiça Federal mostraram que Moro insistiu diversas vezes vezes sobre o pertencimento do triplex ao ex-presidente. Lula negou ser dono do imóvel. Também negou que tenha pedido a Leo Pinheiro, da OAS, que apagasse as provas contra ele. “A verdade é a seguinte, doutor Moro: não recebi, não solicitei, não paguei e não tenho um triplex”, afirmou.

    Por volta das 19 horas, com o fim do depoimento, Lula foi ao encontro de seus apoiadores, entre eles, movimentos sociais, parlamentares e a ex-presidenta Dilma Rousseff.

    “Se não fossem vocês, eu não suportaria o que eles estão fazendo comigo”, disse Lula. “Eu não quero ser julgado por interpretações, quero ser julgado por provas. E eu queria dizer às pessoas mais velhas e às pessoas mais jovens. Eu queria que vocês olhassem no meu olho. Eu, quando pedi para que fosse transmitida ao vivo é porque a minha mãe nasceu, como todo mundo nasce, analfabeta. E a minha mãe morreu analfabeta. Mas ela dizia: Ô Lula, a gente conhece quando uma pessoa está falando a verdade não é pela boca. É pelos olhos. É por isso que eu queria que fosse transmitido ao vivo, para que as pessoas que vão assistir vejam os olhos de quem está perguntando e os olhos de quem está respondendo.”

    O ex-presidente nega todas as acusações e reafirma sua inocência. “Se um dia eu tiver que mentir para vocês, eu prefiro que um ônibus me atropele em qualquer rua deste País. Eu estou vivo”, concluiu, emocionado. Ele afirmou que  pretende se candidatar à Presidência da República.

    Em entrevista coletiva, os advogados de Lula disseram que “você não está diante de um processo jurídico, mas contra o Estado Democrático de Direito”.

  • Eu tenho um político de estimação

    Eu tenho um político de estimação

    Nathaly Munarini em Brasília – novembro de 2016 na manifestação contra a PEC 55.

    Aos 8 anos eu me vi inserida na política. Meus pais eram da articulação do PT aqui na cidade e eu era aquela criança que corria entre vereadores, professores, sindicalistas, prefeito e pessoas do partido. Ia a todos os comícios, reuniões, enxerida desde pequena, eu queria saber o porque do porque do porque e quem é. E todos me falavam. Me ensinavam. Meu pai, professor, sempre com a orientação política de esquerda, me dizia como aconteciam as coisas e era muito honesto quanto suas posições políticas.

    Um fato me marcou muito. Antes do Lula ganhar em 2002, eu ouvi meus pais dizerem ”a Nathaly infelizmente não fará faculdade, a não ser que ela estude muito, a gente nunca vai conseguir pagar os estudos pra ela, vai ser difícil.” Eles não sabiam que eu estava atrás do armário brincando. Até hoje acho que eles não sabem. Eu nunca vou me esquecer daquilo.

    Eu era, definitivamente, uma criança nascida e criada no seio político. E eu me apaixonei pelo Lula. Quem me conhece, sabe. Sabe como eu gosto dele por N motivos. É claro que em relação a sua passagem como presidente, eu tenho inúmeras críticas. Muitas mesmo. Algumas delas, coloca em cheque a minha crença de que de fato, ele governou pra esquerda. Isso é doloroso de admitir, mas é um exercício necessário pra nossa formação crítica-ideológica sobre política. Mas há enormes recortes e análises a serem feitos. E agora eu vou falar, pessoalmente, sobre eles.

    Numa entrevista da Dona Marisa em 2002, ela disse que ao chegarem em Brasília pela primeira vez, ela disse ao Lula: ”Querido, tem certeza de que você quer isso? Que quer enfrentar esses caras? Eles vão engolir você!”. Ela disse ao entrevistador, que Lula estava com uma camiseta do sindicato, uma calça simples e um sapato que usava para trabalhar, muito simples, como sempre andava. Mas ela também disse, que quando falou isso pra ele, ela olhou nos olhos dele e ele não disse nada. Os olhos dele estavam brilhando, como nunca haviam brilhado antes. Ele nem sequer escutou o que ela disse. Com toda certeza, era óbvio que ele não iria desistir. Ele continuou, e todo o resto, nós sabemos.

    Não estou aqui para falar sobre as minhas críticas ao seu governo e sobretudo sobre o PT. Isso eu deixo pra outra oportunidade. Sou humana, e hoje o que me toma, é a emoção e o sentimento.

    É, eu amo o Lula. Aquele cara que quase me fez fugir de casa quando veio para Dourados. Minha mãe sabia que eu era muito maluquinha e não me deixou ir no acampamento Itamarati com os colegas da família. Eu chorei o dia inteiro.

    Eu nasci numa época que meus pais não tinham nem ideia de quando poderiam ter um carro. A gente não viajava, não comia coisas gostosas, não tinha pequenos luxos. A gente não passava necessidade, mas sabíamos muito bem do nosso lugar na sociedade.

    Eu queria estudar na Universidade, eu queria muito fazer faculdade. E quando ele ganhou, tudo que era muito difícil e inacessível, se tornou real, se tornou possível. Se tornou verdade. Conseguimos ter o que a gente nem sonhava em ter. Um carro. Um terreno comprado com dinheiro ”vivo”. Eu na escola com esperança nas Universidades que estavam sendo construídas. O Brasil saindo do mapa da fome. As mulheres conquistando direitos, com tanta dificuldade. Eu nunca vi minha família tão feliz. As minhas vontades, é claro que continuavam, a gente nunca foi rico.
    Mas agora a gente se sentia parte de uma sociedade que era nossa. A gente era gente de verdade.

    Eu sempre fui privilegiada por estudar em escolas particulares. Eu ganhava bolsa de estudos porque sempre fui atleta e tinha notas muito altas. Mérito? Não pra minha concepção.
    Eu simplesmente tive uma oportunidade que condizia com minha educação, que mesmo sem luxos, era a necessária.

    Eu era agradecida por tudo isso. Eu não entendia nada sobre política. Nada mesmo. Nada do que entendo hoje. Eu nem sequer compreendia a questão de direita/esquerda. Mas eu sabia quem eu era na sociedade. E sabia que era de uma classe baixa. Eu tinha consciência de que pra ter o que os meus colegas tinham, era preciso muito mais esforço. E eu sabia que naquele momento, algo estava caminhando para que essas diferenças não fossem mais tão discrepantes.

    Tudo isso, eu compreendi no governo do Lula. Falem o que quiserem, não existiu governo que mais olhou pra nós, pobres, classe média, classe média alta. Nós saímos do mapa da fome. Nós conseguimos ter Universidades. Nós conseguimos viajar de avião e ter um carro. Isso ninguém vai conseguir me convencer do contrário. NINGUÉM.

    É claro que não consigo ultrapassar minha noção de justiça e jamais passaria a mão na cabeça dele se tudo isso que dizem fosse verdade. Eu só acho que do jeito que as coisas procederam, há algo muito errado. Há uma nítida perseguição. Há um desespero intenso em incriminar um ser humano. E isso eu jamais vou aceitar.

    ”Mas ah, e se conseguirem provar?” Se conseguirem de fato provar, sem utilizar desses mecanismos fajutos e sórdidos, pode ter certeza, eu serei uma das primeiras a chorar. E levando em conta toda a atual conjuntura política, judiciária e do nosso executivo, ainda que consigam provar algo, eu vou duvidar. Porque só estão perseguindo ele. E a Justiça é cega. Não perseguidora.
    A Marisa disse na entrevista, que quando eles chegaram em Brasília, nos anos 80, muitos falavam ”quem ele pensa que é?”

    ”Um sindicalista, nordestino e analfabeto!”

    E hoje só consigo pensar, quem ele pensou que era? Quando sua própria companheira advertiu-o sobre o risco que corria. Quando todos os calhordas da elite acusavam de comer criancinhas, quando ele sabia de onde estava vindo e da luta que começava a solidificar a partir de seus impulsos. Quem o Lula pensou que era para quebrar a lógica da extrema direita e colocar um cara como ele no Congresso Nacional? Na Presidência?

    Eu só queria dizer essas coisas no dia de hoje. Não quero ataques, nem ofensas. Adotem o político de vocês e escrevam textões sobre eles.
    A diferença é que eu tenho um político de estimação e tenho coragem de me posicionar de maneira clara e concisa. Deixo os bandidos de estimação pra vocês!

    *Nathaly Munarini é formada em Direito na UFGD – Universidade Federal da Grande Dourados, militante e ativista de esquerda.