Jornalistas Livres

Categoria: Lula em Curitiba

  • Lula está solto, mas ainda não livre

    Lula está solto, mas ainda não livre

    Por Ricardo Melo*, especial para os Jornalistas Livres

     

    Pode soar incrível. Saíram da boca do usurpador Bolsonaro duas palavras úteis além de bravatas escatológicas de padrão fascista: Lula está “momentaneamente solto”.

    Mais do que despeito diante do revés imposto aos golpistas, a definição guarda significado estratégico. O grande capital e seus associados na mídia, judiciário, executivo e legislativo insistem no objetivo de eliminar Lula e o que ele representa. A decisão do Supremo é sintomática: cederam-se alguns anéis para tentar outro bote para recuperá-los (com lucro) mais à frente. Sobretudo mantiveram-se os dedos que apertam gatilhos simbólica e literalmente, como aconteceu com Marielle/Anderson.

    Os elogios derramados ao presidente do STF pelo voto de minerva mal abafaram o constrangimento. Nem bem terminou a sessão, Toffoli saiu a dizer que o Congresso pode mudar o decidido pouco antes. “Basta uma emenda”. Quanta hipocrisia. Nenhuma das chamadas cláusulas pétreas pode ser modificada exceto por outra Assembleia Constituinte. Nenhuma. Entre elas, as relativas a direitos e garantias individuais, como a do direito à defesa até o último recurso ser julgado. A Constituição é inequívoca a respeito –assim como inequívoco é o percurso tortuoso de Toffoli nos tribunais.

    Ato em São Bernardo, para receber Luiz Inácio Lula da Silva, depois de 580 dias de prisão na sede da Polícia Federal de Curitiba - Foto de Bacellar/Jornalistas Livres
    Ato em São Bernardo, para receber Lula – Foto de Bacellar

    É indiferente então que Lula tenha saído da solitária? Nem um tolo pensaria isto. Trata-se de uma vitória tática da maior importância. Deixe-se em papelada o raciocínio malabarista de que Lula fora da cadeia favorece a direita, disposta a se reaglutinar com receio do fantasma petista. Pensamento tão razoável quanto imaginar que o inimigo solto, mesmo momentaneamente, é mais seguro do que preso!

    Dúvida? Com a palavra Steve Bannon, um dos gurus da extrema direita, conselheiro de todas horas da famiglia Bolsonaro e ex-queridinho de Donald Trump: “Lula é uma figura trágica […] ele é alguém que foi corrompido por dinheiro e poder. É evidente e, para mim, isso agora vai causar uma enorme perturbação política no Brasil”.

    Bannon sabe do que fala. Já para o povo pobre do Brasil, para os democratas de verdade, o alcance da liberdade provisória de Lula ficou expresso nas demonstrações incontidas de alegria, satisfação e esperança. Impossível para quem deseja um país decente ficar imóvel diante da recepção a Lula tanto em Curitiba como em São Bernardo. Se Lula ainda não está livre das acusações que pesam sobre ele, é fato que o recuo imposto aos golpistas tornou-se um combustível pronto a incendiar-se diante de um governo interventor.

     

    Agenda de ruínas

    Lições da história demonstram que o Brasil reúne as chamadas condições objetivas para entrar nos trilhos da democracia. Os de baixo não podem mais viver como agora. A miséria se alastra a toda velocidade; direitos trabalhistas e previdenciários viraram pó; o setor público vem sendo desmantelado impiedosamente; a soberania nacional sofre ataques sucessivos; estatais são vendidas na bacia das almas; os parcos ganhos salariais dos anos pré-golpe começam a ser revertidos. E o desemprego permanece nas alturas, mesmo com as maquiagens estatísticas de “informalidade”, “intermitência” e outros eufemismos abjetos. O esmagamento das liberdades e das minorias, a entrega do poder a milicianos e o desprezo pelo povo equivalem à expressão política necessária para o êxito da agenda de ruínas.

    Só que no topo da pirâmide o ambiente está longe de ser tranquilo. Mesmo o mais cínico dos extremistas de direita sabe que a “vitória” de Bolsonaro emergiu da fraude e da manipulação descaradas, a começar pelo banimento de Lula das eleições. O capitão medíocre foi o que restou aos tubarões assustados com o desmoronamento das candidaturas de direita tidas como “civilizadas”. Há, porém, um desconforto inquietante nessa esfera em face da brutalidade da gangue aboletada no Planalto. Também medo de que a implosão do PSL exponha mazelas muito maiores e fétidas além da fronteira do partido.

    A divergência não é de fundo, claro. Preocupa esta “gente limpinha”, alinhada desde sempre com os golpistas, que a desfaçatez bolsonarista multiplique a oposição às contrarreformas, cuja aprovação é objetivo maior da elite apodrecida. O pano de fundo internacional não ajuda, com as grandes potências travando uma batalha encarniçada para assegurar fatias crescentes do mercado. Isto num momento em que os próprios teóricos neo-liberais do FMI, Banco Mundial e Cia. admitem que a economia mundial patina e o horizonte se torna mais e mais sombrio.

    Não à toa Trump faz gato e sapato do “grande aliado” Bolsonaro, transformado o Brasil em chacota mundial. As multinacionais esnobam Guedes e seus asseclas nos leilões de petróleo e exigem benefícios ainda mais indecentes. Em resposta, Guedes providencia mais contrarreformas para chilenizar o Brasil a toque de caixa antes que aventureiros de outros países o façam. O golpe na Bolívia que derrubou Evo Morales –responsável por um dos maiores índices de crescimento e inclusão social em seus governos– prova que o grande capital não está para brincadeira. Ele compreende muito bem a origem da onda de revoltas espalhadas mundo afora.

    Ninguém se engane: neste cenário, a artilharia contra Lula de forma alguma arrefeceu. Seu nome está associado à ideia de conquistas sociais, de liberdade, democracia, menos desigualdade e limites à exploração desenfreada. Tudo o que contradiz a cartilha do grande capital. Obrigados a recuar um pouco, os donos do dinheiro já anunciam nova ofensiva em todas as instâncias. Provocadores esparramados em redes sociais também não pensarão duas vezes em passar das palavras à ação. Contam com a mesma impunidade que cerca, por exemplo, a famiglia Bolsonaro, os assassinos de Marielle/Anderson e o poder miliciano infiltrado no Estado. O reforço da segurança do ex-presidente Lula é questão de honra para o movimento popular, assim como a anulação de todos os processos mentirosos abertos contra ele.

    A melhor defesa é o ataque. Como bem disse Lula, o combate imediato é contra a agenda de destruição do Brasil colocada em prática desde a derrubada de Dilma Rousseff. Algo muito maior que uma guerra de palavras parlamentar ou batalha de twitters. A disputa, mais do que nunca, ocorre na ação: nas ruas, nos bairros, nas escolas, nas empresas, nas estatais, no comércio, nos movimentos sociais, nos agrupamentos de desempregados, nas caravanas pelo Brasil –na recusa permanente a todos os atos, leis e decretos que atentam contra a dignidade, sobrevivência e livre manifestação.

    Lula é insubstituível como alavanca dessa contraofensiva progressista. Instrumento necessário para organizar os pobres e democratas, tanto quanto para construir uma frente política à altura das urgências do Brasil. O sucesso ou fracasso desse confronto cotidiano vai ditar o prazo de validade de Bolsonaro no poder.

     

     

    *Ricardo Melo é jornalista, ex-presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) e apresentador do programa ‘Contraponto’ na rádio Trianon de S.Paulo (AM 740)

    Ato em São Bernardo, para receber Luiz Inácio Lula da Silva, depois de 580 dias de prisão na sede da Polícia Federal de Curitiba - Foto de Ricardo Stuckert
    Ato em São Bernardo, para receber Luiz Inácio Lula da Silva, depois de 580 dias de prisão na sede da Polícia Federal de Curitiba – Foto de Ricardo Stuckert
  • Lula livre: “Eles não prenderam um homem, eles tentaram matar uma ideia”

    Lula livre: “Eles não prenderam um homem, eles tentaram matar uma ideia”

    O ex-presidente Lula atravessou o portão da Polícia Federal, em Curitiba, às 17h32 desta sexta-feira (8), e como ele mesmo já havia prometido, foi abraçar os manifestantes da vigília que permaneceram acampados durante os 580 dias em que o petista esteve preso. Num discurso de menos de 20 minutos, o primeiro em liberdade, Lula agradeceu o apoio, brincou com o público e distribuiu críticas ao presidente Jair Bolsonaro e, principalmente, ao ex-juiz e atual ministro da Justiça Sérgio Moro e ao chefe da força-tarefa da Lava Jato Deltan Dallagnol.

    – Há muito tempo não vejo um microfone na minha frente. Vocês não tem dimensão do significado de estar aqui junto com vocês. Eu que a vida inteira estive conversando com o povo brasileiro, não pensei que no dia de hoje eu poderia estar aqui conversando com homens e mulheres que durante 580 dias gritaram aqui “bom dia, Lula”, “boa tarde, Lula”, “boa noite, Lula” não importa se estivesse chovendo, que fizesse 40 graus, se fizesse 0 graus, todo santo dia vocês eram o alimento da democracia que eu precisava para resistir à safadeza e a canalhice que o lado podre do Estado brasileiro fez comigo e com a sociedade brasileira”, afirmou.

    Segundo o ex-presidente, o objetivo de sua prisão política era a criminalização da esquerda, do Partido dos Trabalhadores e dele mesmo:

    – O lado podre da Justiça, do Ministério Público, da Polícia Federal, da Receita Federal trabalhou para tentar criminalizar a esquerda, criminalizar o PT, o Lula”, afirmou.

    Assim como no último discurso feito na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em 7 de abril de 2018, data em que foi preso, Lula afirmou que não Sérgio Moro não mandou prender uma pessoa, mas uma ideia:

    – Fiquei fortalecido, fiquei corajoso. Além de continuar lutando para melhorar a vida do povo brasileiro. Além de lutar pra impedir que esses caras não entreguem país. Mas o lado podre da Polícia Federal, do Ministério Público, da força tarefa e o Moro têm que saber: eles não prenderam um homem, eles tentaram matar uma ideia. E uma ideia não se mata, uma ideia não desaparece. Vou lutar pra provar que uma quadrilha e um bando de mafiosos nesse país, liderados pela Rede Globo criou a imagem que o PT precisava ser criminalizado”, enfatizou.

     “Meu coração só tem espaço para o amor”

    Ex-presidente faz seu primeiro discurso em liberdade e agradece apoio da vigília Lula Livre (foto: Gibran Mendes)

    Dona Lindu, mãe do ex-presidente, foi citada como a grande referência de vida. Segundo Lula, foi ela quem lhe ensinou os valores da dignidade e da honestidade. E anunciou que vai percorrer o Brasil em defesa do povo brasileiro:

     – Eu adquiri tudo que tenho na vida de uma mulher que nasceu e morreu analfabeta, que me ensinou a ter dignidade, que é dona Lindu, que me faz dizer para essa gente que tentou me condenar: meu coração só tem espaço paro amor porque o amor vai vencer nesse país. Eles têm que saber que um nordestino que nasceu Garanhuns, que só foi comer pão aos 7 anos de idade, que passou fome… vai ter um encontro amanhã no Sindicato dos Metalúrgicos e, a partir de agora, vou percorrer esse país”, disse o ex-presidente, lembrando que a vida piorou depois que o prenderam e que Fernando Haddad perdeu a eleição:

     – Ontem eu vi na televisão que depois que fui preso e roubaram do Haddad, o povo está passando fome, não tem mais trabalho com carteira assinada, o povo está trabalhando de uber, de bicicleta, o povo está trabalhando sem o menor respeito. E ainda ouvi que não vai ter aumento para o salário mínimo. Mas estou aqui com o maior sentimento de agradecimento que um ser humano pode ter com outro. Não guardo mágoas dos policiais federais, dos carcereiros, de ninguém. Não tenho como pagar a vocês, a não ser dizer que serei eternamente grato”, disse encerrou.

     Lula fará pronunciamento à nação neste sábado na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo

    O comitê Lula Livre divulgou a programação do ex-presidente Lula assim que ele deixar a carceragem da Polícia Federal. Depois do primeiro discurso de agradecimento aos manifestantes da vigília Lula Livre, o ex-presidente seguirá para São Paulo, onde encontrará familiares. Está confirmado também um pronunciamento oficial na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo, entidade que Lula presidiu quando era metalúrgico e onde ele fez seu último discurso antes de seguir para Curitiba em 7 de abril de 2018.

    O Jornalistas Livres vai cobrir a manifestação em São Bernardo dos Campos. Acompanhe a nossa cobertura pelo portal e em nossas redes sociais.

  • Lula avisa: “Tenho muita coisa para fazer ainda”

    Lula avisa: “Tenho muita coisa para fazer ainda”

    “Não vou deixar a solidão tomar conta de mim, não vou deixar o ódio tomar conta de mim, não vou desanimar, não vou ficar deprimido. Não conheço a palavra depressão. Se já tive, não sei. Tenho muita coisa para fazer ainda”, relatou ex-presidente Lula em entrevista ao jornal “Brasil De Fato”. Confira a seguir o que contou o ex-presidente:

    “Uma coisa que me interessa muito é ler sobre a escravidão. Estou aprendendo porque o Brasil é do jeito que é, porque ainda existe preconceito. Sempre gostei muito de música e estou ouvindo bastante, recebo um pendrive com músicas. Gosto muito de samba, ouço Chico, ouço Caetano, o Gil, ouço muitas músicas daquelas, como chama, cânticos gregorianos. Às vezes, eu durmo com cantos gregorianos.
    Eu recebo muita coisa. E muito debate também. Peço a alguns companheiros que gravem análises de conjuntura para mim. Então, às vezes o João Paulo (do MST) grava uma análise de conjuntura, às vezes o Genoíno me grava, a [Marilena] Chauí me grava, o [Luiz] Dulci me grava, a Gleisi [Hoffmann] me grava, o Jessé [de Souza], o Eduardo Moreira, o Aloízio Mercadante. Eu vou pedindo às pessoas, que vão gravando.
    Como não tem o que fazer, sento para ler, ou sento e fico vendo as pessoas falarem, fico discutindo sozinho com as pessoas, discordando das pessoas. Às vezes, fico puto como as pessoas falam bobagens a meu respeito. E não estou lá para dizer: “Não é assim, rapaz”. Assim vou vivendo.
    Eu vou dormir por volta de meia-noite, 1h da manhã. Acordo todo dia às 6h30, faço meu café, faço um café de qualidade. Acho que não tem ninguém que faça um café melhor do que eu.

    Quero que vocês saibam que essa história de eu falar que vou casar é verdade. Na verdade, encontrei uma meia cara que está me ajudando a vencer essa barreira aqui. Então, não vou deixar a solidão tomar conta de mim, não vou deixar o ódio tomar conta de mim, não vou desanimar, não vou ficar deprimido. Não conheço a palavra depressão. Se já tive, não sei. Como fui corintiano e fiquei 23 anos sem ganhar um título, perdendo para o Santos 15 anos consecutivos, vendo Pelé humilhando o Corinthians – eu ia ao estádio, chegava lá e dava 3 a 0, 4 a 0 –, então acho que não vou ter depressão. Tenho certeza, posso dizer para vocês comunicarem o pessoal lá fora, que vou sair mais maduro, mais preciso naquilo que quero fazer. Vou sair mais lutador do que fui. Estou bem fisicamente. Obviamente que sei que a natureza é implacável, mas como me decidi que vou viver até os 120 anos, que a “Caetana” não venha bater na minha porta, que não tem espaço para ela entrar [referência ao livro “A Moça Caetana – A Morte Sertaneja”, de Ariano Suassuna]. Tenho muita coisa para fazer ainda.
    Então, estou assim, nesse momento da minha vida. Obviamente, fico sonhando em sair daqui, decidir onde vou morar. Quando deixei a Presidência, tinha vontade de morar no Nordeste, vontade de voltar para meu Pernambuco, vontade de morar não perto da praia, mas num lugar em que pudesse ir à praia. Pensava em ir para Bahia, Rio Grande do Norte, mas a Marisa não quis ir porque ela nasceu em São Bernardo [do Campo], e o mundo dela era São Bernardo. Eu não tenho mais o que fazer em São Bernardo. Não sei para onde ir, mas quero me mudar para outro lugar. Quero viver. Espero que o PT me utilize, espero que a CUT me utilize, espero que os sem-terra me utilizem, espero que os LGBT me utilizem, espero que os quilombolas me utilizem, espero que as mulheres me utilizem, espero que todo mundo me utilize para fazer com que eu tenha utilidade nessa minha passagem pelo planeta Terra. Vou sair daqui tranquilo. Não vou dizer que cumpri minha missão, mas vou sair daqui tranquilo, como cidadão consciente do seu papel na história.
    Sou muito agradecido às manifestações dos artistas. Tenho visto pelo pendrive shows no mundo inteiro. Aliás, acho que o PT e os movimentos sociais deveriam fazer da questão cultural uma das bandeiras mais importantes. A gente não pode deixar que esses caras destruam a cultura. A cultura não tem propriedade do Estado. A cultura é uma prioridade da sociedade – ela que se aproveite da cultura e a criatividade que o nosso povo tem nesse país. Não podemos abdicar disso.
    É isso que vocês vão levar daqui. Quero que vocês digam para todo mundo que estou bem, estou muito disposto a brigar. Tenho certeza de que o Moro não dorme com a consciência tranquila como durmo. Tenho consciência de que o Dallagnol está precisando tomar remédio para dormir, talvez tarja preta, porque ele sabe que é mentiroso, ele sabe que foi canalha no meu processo. Estou aqui, para a raiva deles. Porque acho que eles ficam com mais raiva quando eles percebem que estou bem.
    Então, muito obrigado. Quero que vocês transmitam um abraço a todo mundo. Quando sair daqui, espero que a gente faça uma boa entrevista – e um churrasco. Há um livro que li que me impressionou muito, chamado “Um Defeito de Cor”, de uma moça chamada Ana Maria Gonçalves. Eu li “Escravidão”, do Laurentino Gomes, muito bom. Eu tenho lido muito. Li, da escravidão, “O Alufá Rufino” [de Flávio dos Santos Gomes, João José Reis e Marcus J. M. de Carvalho]. É muito bom. É um tema que me apaixonou, porque nunca consegui entender.
    Não sei se vocês lembram, quando eu era presidente, a gente tentou, foi aprovada uma lei, o Fernando Haddad [então ministro da Educação] deve se lembrar disso, para ensinar a história africana no Brasil, que era umas formas que eu achava que a gente iria vencer o preconceito nesse país. Não sei se aconteceu. Pelo que estou vendo, até universidade afro-brasileira está sendo destruída lá em Redenção (CE). Acho que eles estão desmontando isso. Mas estou aprendendo muito.
    As pessoas são muito generosas, as pessoas mandam muitos livros, muito material importante. Esses dias, recebi uma cartinha bonita daquela menina que está em Oxford e participou da equipe daquele médico que ganhou um prêmio Nobel de Medicina; uma menina do Rio Grande do Norte que está com ele, é brasileira. Ela mandou uma cartinha bonita. Eu recebo muita coisa bonita, muita gente generosa. Eu não sei se vou ter força para abraçar todo mundo quando eu sair daqui. Se a minha bursite não voltar…”

     

  • POR QUE A LAVA JATO QUER LULA LIVRE?

    POR QUE A LAVA JATO QUER LULA LIVRE?

    ARTIGO

    RODRIGO PEREZ OLIVEIRA, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia

     

    Não é novidade pra ninguém que desde 2014 a Lava Jato é a mais poderosa força em atuação na cena política brasileira. A fonte desse poder todo é a energia política liberada em junho de 2013. À esquerda e à direita se disseminou um consenso anti-sistêmico que denunciava os limites e as deficiências do regime de poder forjado na redemocratização.

    Corrupção, baixa qualidade de vida nas grandes cidades, precariedade nos serviços públicos, violência urbana. Ecoava um desejo de mudança, de rejeição aos partidos políticos tradicionais. Tudo isso influenciou diretamente os resultados das eleições municipais de 2016, o golpe parlamentar que, também em 2016, derrubou Dilma e as eleições presidenciais de 2018.

    Essa atmosfera anti-sistêmica pariu dois filhos gêmeos, potencialmente rivais entre si, como Esaú e Jacó: o lavajatismo e o bolsonarismo, que durante algum tempo foram aliados. Não mais. Acabou o amor.

    Bolsonarismo e lavajatismo entenderam que, hoje, seu grande adversário não é o PT.

    Bolsonarismo e lavajatismo estão disputando o controle da energia disruptiva que foi liberada em 2013. Nessa disputa, Lula é trunfo estratégico para ambos. Vale mais solto, fazendo política, do que preso.

    No começo do ano, o lavajatismo era o fiador do bolsonarismo. Moro era o superministro, maior que o próprio Bolsonaro. O jogo mudou. Muita coisa aconteceu nos últimos meses. Nas crises, o tempo passa mais rápido.

    Pela primeira vez na cronologia da crise, a Lava Jato está nas cordas.

    O inferno astral da Lava Jato começou em junho, com os vazamentos feitos pelo “The Intercept Brasil”. Não foram pequenos os efeitos da “Vaza Jato” na crise brasileira. Sérgio Moro perdeu capital político, tornando-se uma espécie de elefante branco, sendo diariamente desautorizado por Bolsonaro.

    Bolsonaro é ingrato, não reconhece dívida com o homem que pavimentou seu caminho rumo ao Palácio do Planalto.

    Na última quinta-feira, 26 de setembro, o STF impôs uma grande derrota à Lava Jato: por 7 votos a 3, a corte decidiu que o rito mobilizado pela Lava Jato é inconstitucional porque não permite que o réu conheça o conteúdo das delações premiadas antes de apresentar suas alegações finais.

    Os processos que não cumpriram o devido rito devem ser anulados, o que pode beneficiar todos que foram condenados no âmbito da Lava Jato, incluindo o ex-presidente Lula.

    Mas esse não foi o único revés sofrido pela Lava Jato: no Congresso Nacional há quem queira organizar a CPI da Lava Jato. A defesa de Lula pede ao STF que julgue a suspeição de Moro. Bolsonaro peitou o MP para nomear Augusto Aras para a chefia da Procuradoria Geral da República (PGR) com o objetivo explícito de colocar um freio nos bacharéis de Curitiba.

    A sabatina de Aras no Senado, realizada em 25 de setembro, traduziu perfeitamente a força dessa aliança: a classe política e o bolsonarismo se uniram pra confrontar um inimigo comum. A classe política quer reparação, vingança mesmo. O bolsonarismo quer reinar sozinho como força organizadora da energia anti-sistêmica liberada por junho de 2013. Cabe a Aras coordenar o projeto por dentro do MP. A ver se o plano vai dar certo.

    A Lava Jato reagiu e, com a ousadia de sempre, dobrou a aposta. Em 27 de setembro, Deltan Dallagnol, Roberto Pozzobon e Laura Tessler solicitaram ao STF a progressão da pena de Lula para o regime semiaberto.

    Sim, leitor e leitora, os mesmos que há pouco tempo tentaram mandar Lula para um presídio comum, agora querem que ele vá pra casa. O pretexto ganha forma de argumento jurídico formal: como Lula já cumpriu 1/6 da pena tem direito à progressão. Como se a Lava Jato respeitasse os direitos fundamentais.

    É óbvio que a soltura de Lula é gesto político, assim como a prisão foi gesto político. Tudo que envolve Lula é gesto político. Lula é a mais importante instituição política da história do Brasil.

    Na guerra fratricida entre o bolsonarismo e o lavajatismo vencerá aquele que conseguir ser a mais radical antítese de Lula. Pra isso, é fundamental que Lula esteja solto, fazendo política, agrupando sua base. No outro polo do espectro político, lavajatistas e bolsonaristas disputarão na unha quem consegue capitalizar mais o ódio que parte da sociedade brasileira nutre por Lula.

    Polarização total. Sem centro mediador. Lula é ativo político também pro lado de lá.

    Cabe ao PT não permitir que Lula seja pintado como o representante do sistema, como o líder da “velha política”. Lula precisa ser visto como o símbolo do Estado provedor de direitos sociais. Nesta narrativa, ele é imbatível.

    É óbvio que Lula percebeu a estratégia e, simplesmente, se recusou a deixar a cadeia. Bolsonaristas e lavajatistas que se matem primeiro, enquanto a crise econômica e social se avoluma, deixando a população cada vez mais mal-humorada.

    Hoje, para Lula, o melhor é ficar onde está: recebendo lideranças mundiais, vencedores de prêmio nobel, dando entrevistas, lendo e assistindo Netflix. A bomba tá na mão deles. Eles governam o Brasil.

    Lula só sai da cadeia por condução coercitiva, arrastado, talvez até algemado. Vai resistir mais pra não sair do que resistiu pra entrar. Definitivamente, o Brasil não é para principiantes.

     

  • O TEATRO DE LULA É UM ESPETÁCULO

    O TEATRO DE LULA É UM ESPETÁCULO

    ARTIGO

    ALEXANDRE SANTOS DE MORAES, professor do Instituto de História da Universidade Federal Fluminense

     

    Na última semana, o promotor Deltan Dallagnol defendeu que Lula cumprisse o restante da pena em regime semiaberto. Reunido com advogados e companheiros de partido, o ex-presidente recusou o pedido de progressão de pena. Em carta, repetiu a frase que já se tornou célebre: “Não troco minha dignidade pela minha liberdade”. Tem início um debate que envolve não apenas as mixórdias da jurisdição, mas reflexões que o caráter excepcional da recusa provocam. A liberdade é um direito que pode ser livremente recusado por quem dela se beneficiaria ou um dever que, na contramão da própria noção de liberdade, deve ser exercido a despeito da vontade?

    Não é um tema novo na Filosofia, mas raras são as oportunidades em que essas reflexões se materializam na vida comum. De todo modo, a decisão inusual de Lula abriu espaço para discussões políticas. Pelas redes sociais, vi pessoas da direita fascista e da esquerda cirista acusarem-no de “estar fazendo teatrinho”. No primeiro momento, achei uma crítica rasa e medíocre, mas agora decidi acolher a metáfora.

    A peça está aberta. Muitos aguardam e lutam pelo final que gostariam de assistir. A plateia está exultante, como Brecht gostaria de ver: à direita do palco, aqueles que defendem o encarceramento perpétuo; à esquerda, os que gritam pela libertação apoteótica. Essa divisão também parece envolver a disputa pelo protagonismo e antagonismo.

    Alguns querem que Deltan Dallagnol seja o personagem principal. Eles defendem o menino cristão de Curitiba, de face rosada, que viveu seus melhores anos trancado no quarto estudando para concursos públicos e que da vida não conhece nada. Outros defendem o protagonismo de Lula, o imigrante nordestino que conheceu o amargo da vida, que lutou pela via sindical, fundou o maior partido de esquerda da América Latina, foi o presidente mais bem avaliado da História e se tornou vítima de uma tenebrosa farsa judicialesca.

    Seria uma competição muito naturalmente injusta, mas o cenário dessa tragédia política não foi o palanque em que Lula sempre atuou, mas os tribunais nos quais Dallagnol passou parte da vida adulta ensaiando. O ex-presidente sabia que a disputa seria difícil, mas resolveu bancar essa peça que começou há mais de 500 dias.

    Primeiro Ato. É exarada a condenação de Lula. Tem início a ilusão dramática e o público se vê diante do impasse: ele se entregará ou fará a opção pelo exílio? É bem provável que muitas pessoas próximas a Lula tenham recomendado a fuga, mas isso, de alguma forma, encerraria o espetáculo. Distante do palco, não teria como atuar e disputar as flores ao final da peça.

    Lula decide se entregar, mas não sem preparar uma cena monumental: monta um palco em São Bernardo do Campo, no Sindicato dos Metalúrgicos, e faz um discurso inflamado. Era uma missa ecumênica. No palco, aliás, além dos políticos, muitos artistas famosos fizeram fala. As músicas foram escolhidas a dedo pelo próprio Lula. Seu monólogo foi particularmente inspirado e levou a plateia ao delírio. Não faltou quem colocasse o próprio corpo entre ele e a Polícia Federal. As câmeras da televisão transmitiam do alto de prédios ou helicópteros. Após muita resistência, e fora do prazo legal estabelecido, Lula consegue se entregar e vai pra Curitiba. Ele controlou o tempo.

    Segundo ato. Começam as entrevistas. Alguns coadjuvantes, como a juíza federal Carolina Lebbos, tentam impedir que Lula permaneça em cena. A decisão é por censurar sua fala. Não tarda, porém, para que as movimentações políticas denunciem o regime de excepcionalidade jurídica. Esse não era o roteiro que o Judiciário esperava, mas são obrigados a ceder. Ainda que fora do cenário que gosta de atuar e sem a presença do povo que nunca cansou de aplaudi-lo, Lula começa a falar para a imprensa. Tentaram ganhar protagonismo isolando o competidor, mas ele voltou à cena em excelente forma física e com figurino impecável. Suas falas permanecem pontuais e envolventes, resultado da experiência que acumulou nos palcos da política. Os debates continuam e Deltan Dallagnol sabe que um power point não será mais suficiente para que os holofotes o iluminem.

    Terceiro Ato. Tem início a “Vaza Jato”. A série de reportagens que começaram com o The Intercept Brasil renovaram a disputa cênica. Deltan Dallagnol e Sérgio Moro (não podemos esquecê-lo!) tentam ficar na ribalta, escondidos. O primeiro foge feito galinha dos convites feitos pelo Congresso Nacional; o segundo, que não pode fugir, pois se assumiu político, vai e não diz nada. Suas falas são monótonas, pouco criativas, sem emoção. Não encantam ninguém. Mais do que isso, o enredo da tragédia começa a se desenhar tal como Lula, desde o início de preparação do espetáculo, previa.

    Estava claro que o núcleo da narrativa era o uso político do sistema de Justiça. O Ministério Público, como se sabe, só tinha convicções; agora, há provas que mostram que o único que conhecia o enredo era exatamente quem tentaram fazer de algoz. Só por isso é que as matérias da imprensa não funcionaram como um deus ex-machina, aquela solução abrupta celebrizada no teatro clássico de Eurípides. De alguma forma, Lula deu um spoiler, quase como um oráculo, e fez com que a tragédia toda se desenrolasse como também os gregos faziam muito bem: antecipando o final e atribuindo os rumos à Moira, ou seja, ao Destino.

    Quarto Ato. Deltan pede a Liberdade de Lula. Percebendo que o enredo caminha para um desfecho trágico, o ator faz uma tentativa desesperada de controlar os rumos da peça. Acuado, tenta decidir como será a vida de seu adversário, como se fosse ele a controlar um títere para manter-se no centro do palco. Acontece que Lula inverte o jogo e assume os pauzinhos da marionete, deixando Dallagnol envolvido pelos movimentos que ele próprio faz. Lula recusa a liberdade (quem recusaria?) para aumentar a tensão dramática e inverter o foco da ação. Tem início a disputa, a contenda, o agón: de um lado, aquele que encarcerou lutando pela liberdade do condenado para conseguir protagonismo; do outro, o encarcerado recusando a liberdade para constranger o carrasco. Cria-se uma abertura no drama. Não há solução fácil.

    O Brasil e o mundo aguardam os próximos atos. Dallagnol tentou ser o ator principal de uma tragédia que ele próprio se propôs a dirigir. O problema é que, como dizia o saudoso Antônio Abujamra, “há uma zona negra no palco que é do ator e que o diretor não entra”. O cenário burlesco foi montado por eles para ser hostil a Lula, mas ainda que os elementos cênicos envolvam as características de um tribunal, o conteúdo da peça é político, e disso o rapazote de Curitiba, com sua pele lisa e rosada, não entende absolutamente nada. Quem sabe mesmo é o barbudo nordestino, que se sente confortável nesse palco. Agora, os procuradores se tornaram reféns do processo penal do espetáculo que eles mesmos criaram.

    No início, poderíamos pensar que tudo isso seria um típico teatro do absurdo, que deixaria Beckett e Ionesco morrendo de inveja, mas Lula fez virar uma comédia de vaudeville, fazendo os procuradores de palhaços que caem, rolam e gritam numa tentativa miserável por algum riso da plateia. Os bastidores são terríveis e cada ato aumenta nossa angústia, mas a estética teatral é espetacular. Não há Shakespeare nesse mundo que produzisse obra de tamanha grandeza, e o final só pode ser um: Lula Livre!

  • Folha não teve coragem de publicar manchete real: “Lava Jato induziu Léo Pinheiro a mudar versão duas vezes até incriminar Lula”

    Folha não teve coragem de publicar manchete real: “Lava Jato induziu Léo Pinheiro a mudar versão duas vezes até incriminar Lula”

    Yuri Silva*

    A Folha de S. Paulo publicou neste domingo, 30, em parceria com o site The Intercept Brasil, a reportagem até agora mais impactante e contundente da Vaza Jato, sem sombra de dúvida.

    O conteúdo é incisivo ao mostrar que os procuradores da operação Lava Jato induziram o empresário baiano Léo Pinheiro, da construtora OAS, a incriminar o ex-presidente Lula.

    O jornal mostra como a delação da empreiteira, até hoje não homologada, foi sendo postergada (e ameaças de prender o empresário foram sendo feitas) para forçar que ele citasse Lula como participante de esquema de corrupção, a fim de condenar o líder petista.

    Somente após fazer isso, Léo Pinheiro passou a ter a “credibilidade” entre os procuradores da força-tarefa, mostram as trocas de mensagens entre os prepostos do Ministério Público.

    A manchete do jornal da família Frias, contudo, é pura vacilação jornalística.

    Na reportagem mais relevante desde que fechou parceria com o The Intercept para analisar as conversas conjuntamente com profissionais do site, a Folha saiu nas suas primeiras páginas dominicais (tanto no jornal impresso quanto na versão digital) com a tímida manchete “Lava Jato via com descrédito empreiteiro que acusou Lula”.

    Nas páginas internas, dizia o diário paulista: “Lava Jato desconfiou de empreiteiro que acusou Lula, indicam mensagens”. Em outra versão, esta no portal digital do veículo, o enunciado para a notícia mais bombásticas do País em muitos anos diferiu levemente do anterior: “Lava Jato desconfiou de empreiteiro pivô da prisão de Lula, indicam mensagens”.

    Em nenhum momento, a Folha de S. Paulo trouxe a manchete “correta”, aquela que cabia ao conteúdo revelado, embora tenha construído lastro para isso no corpo da sua matéria.

    Possivelmente sob o argumento de um pseudo equilíbrio jornalístico, quase sempre evocado nas redações como forma de ‘passar pano’ para poderosos imbricados em denúncias comprometedoras, o jornal fugiu de publicar que a “Lava Jato induziu Léo Pinheiro a mudar versão duas vezes até incriminar Lula”.

    Trata-se de um erro difícil de justificar para quem leu a matéria completa.

    Vários trechos deixam nítido o que a manchete não publicada pela Folha diz/diria.

    Já no segundo parágrafo, sub-lead da reportagem, seus autores dizem: “Enviadas por uma fonte anônima ao The Intercept Brasil e analisadas pela Folha e pelo site, as mensagens indicam que Léo Pinheiro, ex-presidente da construtora OAS, só passou a ser considerado merecedor de crédito após mudar diversas vezes sua versão sobre o apartamento tríplex de Guarujá (SP) que a empresa afirmou ter reformado para o líder petista.”

    Poucas linhas mais à frente, os repórteres Ricardo Balthazar, Flávio Ferreira e Wálter Nunes (da Folha) e Rafael Moro Martins e Rafael Neves (do The Intercept Brasil) fazem a levantada derradeira, que termina de consolidar tanto a força noticiosa da reportagem quanto o erro cometido ao não adotar uma manchete mais precisa em relação ao que diz a reportagem.

    “Léo Pinheiro só apresentou a versão que incriminou Lula em abril de 2017, mais de um ano depois do início das negociações com a Lava Jato, quando foi interrogado pelo então juiz Sergio Moro no processo do tríplex e disse que a reforma do apartamento era parte dos acertos que fizera com o PT para garantir contratos da OAS com a Petrobras. Os diálogos examinados pela Folha e pelo Intercept ajudam a entender por que as negociações da delação da empreiteira, até hoje não concluídas, foram tão acidentadas —e sugerem que o depoimento sobre Lula e o tríplex foi decisivo para que os procuradores voltassem a conversar com Pinheiro, meses depois de rejeitar sua primeira proposta de acordo.”

    A contextualização que segue faz a reportagem ganhar em qualidade e inteligibilidade, deixado bem cristalizado para quem a leu: a Lava Jato induziu Léo Pinheiro a mudar versão duas vezes até incriminar Lula. Uma pena que a Folha tenha optado pela covardia.

     

    Nota: A defesa do ex-presidente Lula publicou nota sobre a reportagem da Folha, que pode ser lida abaixo

    [aesop_document type=”pdf” src=”https://jornalistaslivres.org/wp-content/uploads/2019/06/Nota-Leo-Pinheiro-Folha.pdf”]

     

    *Yuri Silva é jornalista, editor-chefe do portal Mídia 4P (@midia4p e www.midia4p.com), ex-correspondente do Estadão na Bahia e ex-repórter de ‘Cidade’ e ‘Política’ do jornal A Tarde