“A economia global parece travada em seu caminho para a recuperação”, aponta novo estudo das Nações Unidas, Para além da austeridade, que contradiz grande parte do que advogam membros do governo do Temer e os economistas brasileiros conservadores que palpitam diariamente na mídia tradicional. A austeridade fiscal é apontada como o principal entrave à retomada mais vigorosa da economia mundial.
O estudo carrega pouco mais nas tintas e decreta que “a prosperidade para todos não pode ser proporcionada por políticos com fixação na austeridade, por empresas que buscam ganhos monopolistas (rent-seeking) e por banqueiros especuladores”. Em outro termos, o relatório afirma que as promessas, de sociedades mais justas e de menor desigualdade, entre as nações não foram cumpridas.
Rentismo e rent-seeking estão entre as causas. Mas o que querem dizer esses termos?
O termo rentista é, normalmente, usado no Brasil para designar aqueles que obtêm renda por emprestar seu capital financeiro a terceiros, especialmente ao governo. “Viver de renda”, dizia-se. Renda astronômica de R$ 428 bilhões é a que o Brasil pagou sob a forma de juros, nos últimos 12 meses terminados em julho de 2017, àqueles rentistas que emprestaram seu capital para o governo.
Rent-seeking é usado no texto, não somente para designar ganhos derivados da simples propriedade ou controle de ativos, mas também ganhos de posições monopolistas. O feirante não consegue cobrar o preço que quiser pela dúzia de bananas, pois a concorrência o destruiria. No entanto, há empresas monopolistas, ou quase monopolistas, que têm capacidade de fixar seus preços acima do que conseguiriam em um mercado concorrencial. Rent-seeking é a busca dessa renda extra para engordar os lucros.
As privatizações, muitas vezes, não aumentam a eficiência
A busca por essa renda extra não para por aí: “outros [ganhos são] conquistados pela predação do setor público, inclusive por privatizações de larga escala – que simplesmente deslocam recursos dos contribuintes para administradores e acionistas de empresas privadas – e subsídios a grandes empresas, frequentemente sem resultados para a eficiência econômica ou geração de renda”. Saliente-se que essa conclusão do estudo é oposta ao discurso privatizante do grupo no poder no país hoje.
“Fortemente encorajada por muitas instituições internacionais, esperava-se que as privatizações melhorassem as práticas administrativas, aumentassem a eficiência e quebrassem monopólios, gerando, assim, ganhos de bem-estar. Todavia, ao invés disso, muitos programas de privatização foram altamente eficientes em promover ganhos extras (rent) para empresas monopolistas.” É preciso ressaltar que essa renda extra se dá em detrimento de outras empresas e, especialmente, às custas dos consumidores, com forte impacto na concentração de renda.
O relatório sublinha esse ponto pois, embora a atenção tenha, corretamente, ido para as empresas do mercado financeiro, “cujo retorno é absurdamente desproporcional ao retorno social que geram”, as empresas não-financeiras também se adaptaram à busca desse tipo de renda e “surgiram como fonte disseminada de desigualdade”. Essa atitude das empresas, financeiras ou não, e o apego extremado pela austeridade fiscal, inibem a retomada do crescimento econômico e aprofundam a desigualdade de renda.
Quais são as medidas-chave propostas no relatório?
Para tentar corrigir as graves consequências da hiperglobalização (“desigualdade e instabilidade estão conectadas à hiperglobalização”), da retirada de controle dos fluxos financeiros, das privatizações, da precarização do trabalho, entre outros efeitos perversos da cartilha econômica ortodoxa, o relatório sugere as seguintes medidas-chave:
• Pôr fim à austeridade por meio de investimento público, maior e melhor, com uma forte dimensão assistencial, incluindo vultosos programas que aprimorem a infraestrutura e gerem emprego.
• Aumentar a receita governamental: um maior recurso a impostos progressivos (inclusive sobre a propriedade e outras formas de renda).
• Dar mais voz ao trabalho (os salários precisam subir em linha com a produtividade; a insegurança no emprego precisa ser corrigida por meio de ações legislativas e medidas ativas no mercado de trabalho).
• Domar o capital financeiro: regular de forma apropriada o setor financeiro.
• Melhorar a capitalização dos bancos de desenvolvimento multilaterais e regionais.
• Manter o controle sobre o “rentismo” empresarial.
Seriam heresias?
Como “heresia” final, há um trecho sobre a importância dos bancos públicos: “Um sistema financeiro que harmonize um papel significativo para bancos públicos de diversos tipos e bancos privados menores com influência política limitada e com fiscalização mais dura, estará menos sujeito a gerar excessos especulativos, ciclos de grande expansão seguidos por colapsos e austeridade.” Música para meus ouvidos!
Nota
As citações estão em: UNCTAD, Trade ad Development Report, 2017: Beyond Austerity – Towards a Global New Deal (
Representantes do Comitê Internacional Paz, Justiça e Dignidade aos Povos estão visitando o Congresso Nacional em Brasília, desde o início da semana, em busca de apoio. O objetivo é angariar adesões dos parlamentares brasileiros ao pedido de levantamento do bloqueio, que será encaminhado à Washington.
O TheIntCom (na sigla em inglês) realiza anualmente a Jornada Contra o Bloqueio a Cuba. A atividade consiste em percorrer gabinetes de parlamentares estadunidenses, no Capitólio, levando a reivindicação de se levantar o bloqueio imposto pelo governo dos EUA contra Cuba há mais de 50 anos, considerando que a atribuição para suspender a injusta medida pertence atualmente ao legislativo daquele país.
Comitê Internacional – Paz, Justiça e Dignidade aos Povos
Em outras Jornadas, integrantes do Comitê de vários países se incorporavam aos demais em Washington D. C., para reuniões em conjunto. Este ano, o evento ocorre entre os dias 11 a 16 de setembro e foi decidido que, além dos EUA, cada país realizaria a jornada em seus respectivos parlamentos.
Carmen Diniz, à frente do grupo no Brasil, explica que “nessas conversas, o Comitê entrega um material informativo atualizado sobre o bloqueio à Cuba, cópias da carta que será entregue nos EUA, incluindo a lista com os pouco mais de 100 parlamentares brasileiros que já aderiram em 2015 à causa, além de um material audiovisual que foi elaborado pelo Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba.
Este ano, o foco principal da jornada contra o bloqueio é a saúde pública. Carmen lembra que, “a saúde é um direito humano básico e o prejuízo imposto pelo bloqueio inclui outros países, além de Cuba, uma vez que a ilha conta com medicamentos eficazes, mas que encontram muitas dificuldades de comercialização fora de seu território”.
Dentre os parlamentares que aderiram à carta este ano, está o Deputado Paulão (PT-AL), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, que afirmou que pretende tomar algumas iniciativas no sentido de questionar a prorrogação do bloqueio dos EUA a Cuba, assinado por Trump. Paulão vai enviar aos membros do Congresso dos Estados Unidos um ofício solicitando que ouçam as vozes dos povos da América Latina e votem pela eliminação do bloqueio tão logo seja possível, além de solicitar informações ao presidente da Anvisa, agência brasileira que regula a autorização para medicamentos no país, sobre o impedimento da liberação de patentes de remédios produzidos em Cuba que trazem notáveis progressos a doenças que atingem os brasileiros, como o Heberprot-P, contra o pé diabético. Por fim, o deputado alagoano também adiantou que vai articular com a presidenta da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado, Regina Sousa (PT-PI), para que assinem juntos o documento organizado pelo Comitê Internacional Paz Justiça e Dignidade aos Povos.
Professora Dora (Nescuba-UnB), Rolando Gomez (Encarregado de Negócios da Embaixada de Cuba) e a ativista e ex-guerrilheira Marília Guimarães.
Em dezembro de 2014 o ex-presidente dos EUA, Barack Obama, fez o surpreendente discurso em que reconheceu que o investimento em mais de meio século de agressões contra Cuba havia falhado. A histórica abertura das embaixadas em ambas as capitais, Washington e Havana, em julho de 2015, foi um passo gigantesco para o fim de uma política genocida que já durava 5 décadas. Mas ao contrário do que vem sendo dito pela mídia, o bloqueio não foi derrubado depois da reaproximação diplomática entre os dois países. Ainda que a melhoria nas relações tenha possibilitado a abertura de uma série de acordos comerciais, acadêmicos e outros, não resultou no fim do bloqueio. E a Jornada capitaneada este ano no Brasil, vem mostrando que o bloqueio também afetou o povo norteamericano (e de outros países).
Matéria publicada pelo Resumem Latinoamericano de 2015, informa que quase 30 milhões de estadunidenses diabéticos (e milhares de outros países) são vítimas do bloqueio à medicamentos cubanos. Em torno de 70.000 a 80.000 diabéticos, por ano, sofrem com amputações devido a uma das complicações mais nefastas da doença: a chamada úlcera do pé diabético. O texto especulava, então, a possibilidade de sobrevida dos diabéticos estadunidenses a partir da reabertura das relações:
“O produto (não licenciado nos EUA, Brasil e outros países), teve autorização de comercialização negada para ensaios e vendas em 2010 pelo Departamento de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC), órgão encarregado de fazer cumprir o bloqueio dos EUA contra Cuba. (…) a indústria da biotecnologia cubana está em seu auge, já que na década de 1980 a ilha se converteu em uma das “três grandes” do sul global (com Brasil e Índia). Seu último grande avanço em Investigação mais Desenvolvimento (I + D) é um medicamento denominado Heberprot-P, que já vem tratando 165.000 pacientes diabéticos em 26 países, reduzindo o risco de amputação em cerca de 75% dos casos. O tratamento passou por ensaios clínicos em 5 países inclusive na Europa, onde é conhecido como Epiprot. Os resultados em matéria de segurança e eficácia têm sido divulgados em International Wound Journal, Diabetes Caree MEDICC Review, entre outras publicações científicas, com documentação de dez anos de experiência clínica.”
Cine Debate – Bloqueio, A Guerra Contra Cuba
Nesta terça-feira (12), o Comitê realizou ainda um cine-debate na Universidade de Brasília (UnB) com apoio do NESCUBA – Núcleo de Estudos Cubanos, coordenado pela professora Maria Auxiliadora, a participação de estudantes, professores e de representantes da Embaixada de Cuba no Brasil.
Dora, como é conhecida, viveu anos em Cuba, onde fez seu doutorado em políticas sociais na Universidade de Havana, e é idealizadora e coordenadora do NESCUBA, que desde 2007 oferece aos alunos de graduação da UnB o curso de extensão sobre Cuba. Com vários módulos, o curso abrange temas como “Política Social” (ministrado pela própria prof. Dora); “História de Cuba” (professor Tirso Saenz, cubano radicado no Brasil, foi vice-ministro de Che Guevara); “Sistema Político-Eleitoral” (jornalista e escritor Hélio Doyle); “Imprensa em Cuba” (Beto Almeida, jornalista e membro da TeleSur) e “Saúde Pública em Cuba” (Wesley Caçador, médico formado em Cuba).
Na abertura do evento, Dora disse como se sentia sobre seu trabalho frente ao NESCUBA, “é a tal batalha das ideias, da qual falava Fidel Castro, já que em média cerca de 25 alunos concluem a disciplina (optativa) anualmente e essa é uma oportunidade de ouvir o outro lado, muito diferente do que a mídia informa sobre Cuba. O bloqueio é algo que nós discutimos durante todo o curso, porque é transversal a todos os temas que se referem a Cuba”.
Convidado a fazer uma saudação aos presentes, o Encarregado de Negócios da Embaixada de Cuba no Brasil, Rolando Gomez, acabou oferecendo um importante relato da situação do país, atingido nos últimos dias pelo Furacão Irma: “acabamos de sentir o impacto desse que já é considerado o mais terrível furacão da história recente do Oceano Atlântico e que atingiu nosso país com categoria 5 (a maior na escala de furacões) por 72 horas. Nos golpeou desde a ponta extrema oriental, até a capital, Havana, sendo 14 províncias atingidas. Foram arrasados os principais polos turísticos do país e infelizmente tivemos 10 pessoas falecidas, apesar de todo o esforço mundialmente reconhecido de nosso sistema de Defesa Civil. O mar penetrou como jamais havia ocorrido, chegando ao primeiro andar de edifícios distantes da orla em todo o território. E quando ainda estávamos sentindo o impacto deste furacão, o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou esta medida que determina a prorrogação das leis que regem o bloqueio. É importante lembrar que documentos oficiais dos EUA de 1961, recém-desclassificados, deixam claro que o objetivo do bloqueio, assinado primeiramente por John F. Kennedy, era fazer o povo cubano ‘se render, a partir da fome e causando o maior sofrimento possível’. A boa notícia é que mais uma vez a vontade inabalável de nosso povo, depois dessa última tragédia, é de dar o seu melhor para recuperar os serviços básicos de nosso país. E essa solidariedade que existe entre nós, também temos recebido de nossos amigos, de vários países, como o Brasil”.
Carmen Diniz fala aos estudantes, na atividade realizada na UnB
Carmen Diniz – que na Jornada brasileira esteve acompanhada da ativista Viviane Mendes, do Movimento Paulista de Solidariedade a Cuba – explicou, pouco antes da exibição do documentário que a principal atividade do Comitê (TheIntCom) – que reúne 300 núcleos em todo o mundo e começou com a luta pela libertação dos 5 cubanos (presos por mais de 15 anos nos EUA e que voltaram à Cuba com a reaproximação entre os dois países) – é o levantamento do bloqueio. “Mas temos outras reivindicações, como a devolução do território onde se encontra a base ilegal dos EUA em Guantánamo, o fim das atividades subversivas que os EUA ainda mantêm contra Cuba (cessar o financiamento de grupos como as Damas de Branco, encerrar atividades de mídias como a Rádio/TV Martí). Já são 11 presidentes norteamericanos tentando, sem sucesso, derrubar a Revolução Cubana e até Obama precisou vir a público reconhecer que não funcionou. Se a solidariedade é o que você precisa, não o que eu quero fazer, então nosso objetivo é sempre tentar identificar quais são as prioridades de Cuba e, nesse momento, é o fim do bloqueio”, conclui.
No encerramento do debate, a ativista política e ex-guerrilheira Marília Guimarães – que em 1969 sequestrou um avião comercial no Brasil, acompanhada de seus dois filhos pequenos e conseguiu pousar em Cuba, onde exilou-se por 10 anos – emocionou os presentes ao dizer o que aprendeu em sua experiência na ilha “devemos implantar em nosso coração a esperança, a esperança de que sim, lutando, dando o melhor de si, estudando, sendo solidários uns com os outros, é que Cuba resistiu todos esses anos à esse bloqueio cruel, diário, em que coisas mínimas [se possuírem qualquer componente dos EUA], são proibidas para Cuba. Mas o povo cubano soube buscar o conhecimento e criou esse gigante. Se a Coca-Cola é famosa, Cuba é muito mais” e concluiu, sob aplausos “nós temos muito do povo cubano, o que falta é a gente se sacudir por dentro, para ficarmos mais parecidos com eles. Temos que semear amor, como diz Silvio Rodriguez, e não acreditar no imperialismo nem um tantinho, como disse Che Guevara. E temos que seguir o exemplo do nosso eterno comandante em chefe, Fidel Castro, que passou toda sua vida ensinando ao mundo inteiro que sim, é possível um mundo melhor”.
Ontem, dia 26 de agosto de 2017, o Partido Verde realizou a tradicional “festa de rua” na cidade de Frankfurt. E pela primeira vez o ABÁ – grupo de trabalho pelos direitos humanos no Brasil – participou dessa festa.
Muita gente estava lá e o tempo ajudou muito. Fez calor e o Sol apareceu o tempo todo!
O grupo montou uma barraquinha onde foram vendidos coxinhas (não golpistas), paçoquinha, bolo de fubá, guaraná etc. Aproveitaram para informar sobre a luta que realizam pelos direitos das minorias, como dos indígenas, no Brasil.
O desastre contabilizou (parcialmente) 500 pessoas mortas e 600 desaparecidas. As fotografias mostravam caminhões transportando corpos, equipes de socorro e homens cavando sepulturas rasas, além de um amontoado de caixões a espera de corpos. A cronista divulgou as duas últimas fotografias no afã de contribuir para a documentação de uma tragédia ocorrida em África que pouca atenção merecia da imprensa brasileira.
Uma foto em especial, a de corpos enfileirados, muitos deles semi-nus, aguardando sacos mortuários, identificação, certidão de óbito e enterro numa das valas comuns, como aquelas das 4.000 pessoas vitimadas pelo vírus Ebola, entre 2014 e 1026, a cronista recusou-se terminantemente a divulgar. Existe um voyerismo em torno dos corpos negros em exposição e decomposição com o qual não se pode compactuar.
No vídeo, uma mulher trajando roupas próprias de sua região e cultura, cantava seu desespero e as televisões mandaram a imagem para o mundo. Algumas pessoas locais evitavam olhar para ela, que parou de cantar por alguns segundos, mas manteve os braços erguidos e parecia suplicar por alguma coisa. Depois fez gestos pouco compreensíveis. Alguns vizinhos de infortúnio a evitavam ainda mais. Pareciam dizer “ela é louca, não deem atenção a ela”, como se assim pudessem impedir a materialização de uma dor que era de todos. A cronista pensa que a senhora de Serra Leoa teria todos os motivos para enlouquecer.
Quem seria aquela mulher? Tem uma foto dela na BBC News, na qual chora muito. Outra no International Business Times, abraçada a um homem jovem, também muito consternado. Ali ela parece já ter chorado todo o sangue de suas perdas. O olhar é marcado pela raiva dos injustiçados que ainda estão vivos. A legenda da fotografia informa que ela perdeu um filho no deslizamento de terras. E quem é que sabe quantos outros entes queridos a senhora pode ter perdido em tragédias anteriores? É um somatório de perdas a vida de quem sobrevive a tanto desenredo.
Como disse a jornalista Alimatu Dimonkene, toda ajuda dos países africanos, da diáspora negra e de outros países a Serra Leoa é bem-vinda. Também a contribuição das pessoas que fazem doações individuais e mobilizações pela internet, contudo, é preciso assegurar apoio integral e de longo prazo para os sobreviventes. Algo que inclua suporte material, de saúde e psicológico para que possam refazer a vida depois do desastre.
A cronista não divulgou o vídeo que documenta o desespero da senhora de Serra Leoa porque isso lembra muito a foto viralizada de Seu Jorge Penha. Lembram-se dele? O Pai de Roberto Penha, menino de 16 anos, fuzilado pela polícia quando ele e quatro amigos voltavam para casa, no Morro da Lagartixa, depois de comemorar o recebimento do primeiro salário de Roberto.
Seu Jorge Penha era aquele homem negro de olhar austero e rosto endurecido, no qual o fotógrafo flagrou uma lágrima seca e seu rastro de sal na pele. A cronista duvidava de que o grosso do pessoal que viralizou a foto o tenha feito em solidariedade ao pai, órfão do filho. Talvez tenha sido apenas a propagação de uma imagem da dor negra, plasticamente bonita.
A Venezuela, desde sua revolução bolivariana iniciada pelo comandante Hugo Rafael Chávez Frias, sentiu profundas mudanças econômicas e principalmente sociais em sua nação, mudanças que alteraram totalmente o rumo do país que antes era um dos mais desiguais da América do Sul. Porém, hoje a Venezuela se encontra a beira de uma guerra civil, ameaçada e desejada pela oposição que quer tomar o poder a qualquer custo.
Para entender o caos e o contexto que se vive hoje na pátria de Bolívar, é preciso se ter conhecimento de como era o país antes dos anos 2000. A elite venezuelana, sempre representada pelos governantes, era beneficiada exclusivamente pelos lucros que a alta reserva de Petróleo do país gerava. Os pobres não eram incluídos no orçamento, e quase 70% das pessoas viviam na pobreza, sendo 25% na miséria extrema. A taxa de desemprego nos anos prévios a eleição do então militar Hugo Chávez era de 14% , para se ter uma noção, número que caiu para 8% ao fim de seu governo como presidente.
Na era Chávez, que foi iniciada em 1999, a pobreza caiu em mais de 20% de acordo com a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe) e o país passou a registrar a menor desigualdade social entra nações latino-americanas, de acordo com relátorio da ONU, com 0,41 no índice de Gini que mede o grau de desigualdade na distribuição de renda domiciliar per capita entre os indivíduos de um país. Para se ter uma comparação concreta, o PIB total da Venezuela em 1998 era estimado pelo FMI em 91,339 bilhões de dólares, e em 2012, ano do último mandato de Chávez antes de sua precoce morte, era de 337,433 bilhões de dólares. A inflação, que antes de 1999 era em cerca de 29,90% ao ano, chegou a alcançar 12% em 2001, número que infelizmente voltou a crescer após a tentativa de golpe mal sucedida vindo da direita financiada pelo imperialismo ianque e pela CIA em 2002, que dividiu o país desde então. Portanto, estes números irritaram profundamente a alta burguesia, que era beneficiária única dos retornos econômicos do investimento petroleiro.
O fato é que os números prósperos do “chavismo”, foram fortemente abalados após a morte do comandante. A ofensiva imperialista, apoiada pela burguesia venezuelana, partiu para cima como nunca antes. Empresas capitalistas (como a Herrera S.A., empresas Polar, entre outras) são acusadas de acumularem intencionalmente seus produtos alimentícios para revendê-los mais caros prejudicando o governo do atual presidente chavista Nicolás Maduro, que hoje é duramente sancionado de diversas maneiras pelas grandes potências ocidentais que querem colocar a mão no petróleo venezuelano.
Como aconteceu durante o golpe parlamentar contra a presidenta Dilma Rousseff no Brasil em 2016, há uma campanha intensa para se denegrir a imagem da esquerda na Venezuela. A grande imprensa no mundo inteiro, influenciada pela cultura americana como formadora de opinião, vende hoje a imagem do presidente Nicolás Maduro como um ditador sanguinário, sem mencionar as enormes manifestações do povo bolivariano em seu favor, e sem falar dos assasinatos cometidos pelos manifestantes da oposição. Há também uma tentativa de “igualar” o caos em que se encontra a Venezuela hoje com os anos de governo do líder Hugo Chávez, que na verdade foram tratados como os “anos de ouro” para as camadas que eram excluídas da política e do orçamento público.
Antes de se criticar, é preciso entender o contexto histórico em que o país venezuelano se encontra, a ofensiva dos setores golpistas e capitalistas desde 2013, financiados pelos norte-americanos. A oposição de direita não quer de fato garantir a paz da nação e o simples afastamento do presidente (eleito democraticamente). Querem vender as riquezas do país para os gringos, querem de volta os privilégios para as velhas oligarquias, a exclusão dos pontos POSITIVOS e dos ganhos sociais do chavismo, e estão dispostos a conseguirem isto mesmo que tenham que continuar praticando atos terroristas diariamente. Os que acusam Maduro de ser um ditador, são justamente os que financiaram e financiam as maiores ditaduras ao redor do mundo (como a do Brasil em 1964, Chile em 1973, Argentina em 1966 e 1976, Panamá 1989, entre outros muitos países.)
O presidente Trump está enfrentando críticas generalizadas por seus últimos comentários sobre o protesto mortal de supremacistas brancos em Charlottesville, Virgínia. Falando na Trump Tower na terça-feira, Trump disse que a violência foi em parte causada pelo que ele chamou de “esquerda alternativa” (alt-left). O comentário do presidente Trump foi amplamente criticado. O ex-candidato presidencial republicano Mitt Romney escreveu no Twitter: “Não, não [são] o mesmo. Um lado é racista, intolerável, nazista. O outro se opõe ao racismo e à intolerância. Universos moralmente diferentes”. Focaremos em um dos grupos que enfrentaram os supremacistas brancos nas ruas: os antifascistas conhecidos como antifa. Nós falamos com Mark Bray, autor do novo livro, “Antifa: O Guia Antifascista”.
AMY GOODMAN: Este é o relatório Paz e Guerra do Democracy Now!, democracynow.org. Sou Amy Goodman, com Juan González.
JUAN GONZÁLEZ: O presidente Trump está enfrentando críticas generalizadas por seus últimos comentários sobre o protesto mortal de supremacistas brancos em Charlottesville, Virgínia. Falando na Trump Tower, terça-feira, Trump disse que a violência foi em parte causada pelo que ele chamou de “esquerda alternativa”.
PRESIDENTE DONALD TRUMP: OK, e a esquerda alternativa que veio atacar, desculpe. E a esquerda alternativa? Eles vieram atacando a, como você diz, “direita alternativa”1? Eles têm algum sinal de culpa? E – deixe-me perguntar-lhe isso: e o fato de que eles vieram atacando – que eles vieram carregando bastões em suas mãos, balançando bastões? Eles têm algum problema? Eu acho que sim. Então, você sabe, no que me diz respeito, foi um dia horrível e horrível. Aguarde um minuto, não terminei. Não terminei, “notícias falsas”2. Foi um dia horrível.
1 N. do T. Veja nota no final do texto sobre essa “direita alternativa”, “alt-right” em inglês.
2 N. do T. Trump chama a imprensa de “notícias falsas”.
REPÓRTER: Sr. Presidente, o senhor está colocando o que chama de esquerda alternativa no mesmo plano moral que os supremacistas brancos?
PRESIDENTE DONALD TRUMP: Não estou colocando ninguém em plano moral. O que estou dizendo é o seguinte: você tinha um grupo de um lado, e você tinha um grupo do outro, e eles se apresentavam com porretes, e isso foi detestável, e foi horrível, e foi uma coisa horrível de se ver. Mas há outro lado. Havia um grupo desse lado – você pode chamá-los de esquerda, você acabou de chamá-los de esquerda – que veio atacando violentamente o outro grupo. Então, você pode dizer o que quiser, mas é assim que é.
AMY GOODMAN: Os comentários do presidente Trump foram amplamente criticados. O ex-candidato presidencial republicano Mitt Romney publicou no Twitter: “Não, não é o mesmo. Um lado é racista, intolerante, nazista. O outro se opõe ao racismo e à intolerância. Universos moralmente diferentes,” fecha aspas. No início desta semana, Cornel West3 esteve no Democracy Now!. Ele pintou um quadro muito diferente de Charlottesville do que o presidente Trump, dizendo que anarquistas e antifascistas salvaram sua vida.
3 [N. do T. professor de filosofia na Universidade de Harvard]
CORNEL WEST: Com certeza. Você tinha vários estudantes corajosos, de todas as cores, na Universidade da Virgínia que protestavam contra os próprios neofascistas. Os neofascistas tinham sua própria munição. E é muito importante ter esse fato em mente, porque a polícia, em sua maior parte, recuou. No dia seguinte, por exemplo, estávamos em 20 pessoas de pé, muitos clérigos, teríamos sido esmagados como baratas se não fossem os anarquistas e os antifascistas que se aproximavam, mais de 300, 350 antifascistas. Nós tínhamos somente 20 pessoas. E nós estamos cantando “This Little light of Mine” [“Esta minha pequena luz”], você sabe o que quero dizer? Então,
AMY GOODMAN: “Antifa” significa antifascista.
CORNEL WEST: Os antifascistas, e então, crucial, os anarquistas, porque eles salvaram nossas vidas, de verdade. Nós teríamos sido completamente esmagados, e nunca vou esquecer isso.
AMY GOODMAN: Para focar mais no movimento antifascista, conhecido como antifa, estamos na companhia de Mark Bray, professor do Dartmouth College. Seu novo livro, “Antifa: O Guia Antifascista”.
Primeiro, pronuncie para nós, Mark, e depois fale sobre antifa.
MARK BRAY: Sim, bem, é pronunciado on’-tee-fah. A ênfase está na primeira sílaba, e é pronunciada mais como on do que an, então on’-tee-fah. É geralmente pronunciada errado. Mas antifa, é claro, é uma forma curta para os antifascistas.
E, sabe, os comentários do presidente Trump que “esquerda alternativa” e “direita alternativa” são forças morais equivalentes são historicamente mal-informados e moralmente falidos.
O movimento antifascista tem uma história global que remonta há cerca de um século.
Você pode detectá-los na oposição italiana contra os Blackshirts de Mussolini, na oposição alemã contra os Brownshirts de Hitler, nos antifascistas de todo o mundo que viajaram para a Espanha para lutar na Guerra Civil Espanhola. Mais recentemente, as antifas modernos podem, em grande parte, ter suas raízes identificadas no movimento antifascista na Grã-Bretanha nos anos 70 e no período do pós-guerra em geral, que respondia a uma reação xenófoba contra a migração predominantemente vinda do Caribe e do Sul da Ásia, também para o movimento autônomo alemão dos anos 80, que, na verdade, após a queda do Muro de Berlim, teve que responder a uma onda neonazista sem precedentes – sem precedentes no período do pós-guerra, é claro.
E então, nos Estados Unidos, podemos olhar a ação antirracista na década de 1980, de 1990 e início dos anos 2000, que adotou alguns desses métodos para confrontar neonazistas e fascistas onde quer que eles se reunissem, fechando sua organização e, como diziam, indo para onde eles vão. Hoje, em um artigo que escrevi para The Washington Post chamado “Quem são os antifa?”, explico isso e mostro como os antifa de hoje nos Estados Unidos estão realmente adotando a tradição onde esses grupos deixaram.
E seu movimento realmente se acelerou com a infeliz ascensão da direita alternativa seguindo o Presidente Trump.
A outra nota menor que eu quero fazer antes de continuar é que antifa é realmente apenas uma facção de um movimento maior contra a supremacia branca que remonta há séculos e inclui um grande número – há um grande número de grupos que lutam contra inimigos similares, às vezes usando os mesmos métodos, que não são necessariamente antifascistas. Então, é importante não assumir todo o movimento antirracista dentro desse tipo de categoria.
JUAN GONZÁLEZ: E, Mark Bray, em seu livro – e eu quero citar algumas linhas dele – você diz: “A maioria das pessoas tem uma compreensão “do tudo ou nada” do fascismo que os impede de levar os fascistas a sério até que tomem o poder… Muito poucos realmente acreditam que há alguma possibilidade séria de um regime fascista se materializar na América”. E eu gostaria de saber sobre isso e sobre a importância de entender esse conceito seu, para aqueles que estão olhando o que está acontecendo hoje nos Estados Unidos.
MARCO BRAY: Certo. Então, a forma como as pessoas entendem o fascismo, ou a forma como elas foram ensinadas, é geralmente exclusivamente em termos de regimes. Desse modo, pensa-se que enquanto tivermos um governo parlamentar, estamos a salvo. Mas, podemos olhar para trás, para os exemplos históricos da Itália e da Alemanha, e ver que, infelizmente, o governo parlamentar foi insuficiente para evitar a parada – para impedir o surgimento do fascismo e do nazismo e, na verdade, ofereceu um tapete vermelho para o seu avanço. Então, por essa razão, as pessoas pensam no fascismo em termos de tudo ou nada, regime ou nada.
Mas, podemos ver em Charlottesville que qualquer tamanho de organização neonazista, qualquer tamanho de presença fascista, é potencialmente fatal. E, infelizmente, Heather Heyer pagou o preço por isso.
Então, é por isso que os antifascistas argumentam que o fascismo deve ser cortado na raíz, que qualquer tipo de organização precisa ser confrontada e contestada.
Mesmo quando, você sabe, as pessoas estão passando a maior parte do tempo no Twitter fazendo piadas, ainda assim é muito sério e precisam ser confrontadas.
AMY GOODMAN: Você pode – você pode falar – quero dizer, muito interessante, durante os protestos da Carolina do Sul contra os supremacistas brancos, havia bandeiras de Republicanos na Espanha da luta contra Franco.
MARK BRAY: Certo. Assim, um dos momentos mais emblemáticos da história antifascista é a Guerra Civil Espanhola e, do ponto de vista internacional, o papel das Brigadas Internacionais, valentes antifascistas que vieram de dezenas de países ao redor do mundo para enfrentar as forças de Franco. Franco tinha o apoio institucional da Alemanha nazista e da Itália de Mussolini, enquanto o lado republicano realmente só tinha apoio à União Soviética, que, como eu discuto no meu livro, tinha muitos aspectos problemáticos. Então, se olharmos para o papel das Brigadas Internacionais, podemos ver que os antifascistas veem sua luta como transnacional e trans-histórica. E assim, hoje, se você for a uma manifestação antifascista na Espanha, por exemplo, a bandeira das Brigadas Internacionais, a bandeira da República Espanhola é onipresente. E esses símbolos, mesmo as bandeiras duplas do antifascismo que as pessoas frequentemente verão em demonstrações, muitas vezes sendo uma vermelha e outra preta, foram originalmente desenvolvidas como um símbolo alemão, que, em sua primeira versão, remontam aos anos 1930.
Então, é importante olhar para o movimento antifa não apenas como uma espécie de experimento de pensamento aleatório que alguns garotos malucos criaram para responder à extrema direita, mas sim uma tradição que remonta há um século.
JUAN GONZÁLEZ: Você também fala, nos seus exemplos de outros países, não apenas o período dos anos 30 e 40, mas períodos mais recentes, na Inglaterra nos anos 80 e na Grécia, ainda mais recentemente, e a importância da ação direta dos antifascistas para cortar na raiz ou para fazer recuar a ascensão dos movimentos fascistas.
MARK BRAY: Certo. Então, parte do que eu tento fazer com o meu livro, Antifa, é retratar algumas lições históricas do início da luta antifascista que podem ser aplicadas na luta hoje. Uma deles é que não é necessário haver muitos fascistas organizados para, às vezes, desenvolverem um movimento realmente poderoso. Podemos ver isso recentemente com a ascensão do Golden Dawn, o partido fascista na Grécia, que, antes da crise financeira, era realmente um pequeno micropartido e considerado piada pela maioria. Posteriormente, eles se tornaram um grande partido na política grega e uma ameaça importante, uma ameaça violenta e mortal para migrantes e esquerdistas e pessoas de todas as partes da sociedade grega. Isso também foi verdade no início do século 20, quando o núcleo fascista inicial de Mussolini era de cem pessoas. Quando Hitler participou, pela primeira vez, do seu primeiro encontro do Partido dos Trabalhadores Alemães, que mais tarde se transformou no Partido Nazista, eles tinham 54 membros. Então, precisamos entender que sempre há um potencial para que os pequenos movimentos se tornem grandes.
E uma outra lição do início do século 20 é que as pessoas não levaram o fascismo e o nazismo a sério até que fosse tarde demais.
Esse erro nunca será cometido novamente pelos antifas, que reconhecerão que qualquer manifestação dessas políticas é perigosa e precisa ser confrontada como se fosse o núcleo de algum tipo de movimento ou regime mortal do futuro.
AMY GOODMAN: Eu queria que você comentasse, Mark Bray, sobre a presença de Stephen Bannon e Sebastian Gorka e Stephen Miller na Casa Branca e o que isso significa para antifa, para o movimento antifascista.
MARK BRAY: Certo. Bem, o outro lado disso é que a questão não é apenas do número de pessoas que fazem parte dos grupos fascistas ou neonazistas. É também sobre o fato de que a política de extrema direita tem a capacidade de se infiltrar e influenciar e direcionar a política dominante. E podemos ver isso com o movimento de direita alternativa. O movimento não tem realmente muita gente em termos de números, mas eles tiveram uma influência desproporcional sobre a administração Trump e certos aspectos do discurso público. Então, a presença de Bannon e Gorka e Miller na Casa Branca realmente apenas dá uma espécie de dica sobre por que é que Trump ontem, basicamente, disse que há pessoas boas em ambos os lados desse conflito, naquela noite de sexta-feira, quando havia neonazistas empunhando tochas no estilo nazista e eles atacaram os estudantes da UVA [University of Virginia] que protestavam pacificamente, o que ele disse foi: “Oh, bem, você sabe, estas são boas pessoas”. Então, parte disso é a presença organizada de rua, mas, como vimos, ao confrontar a presença organizada de rua em Charlottesville, isso criou a questão de como essas pessoas são más, porque – você mostrou anteriormente, Mitt Romney condenando o fato de que poderia haver culpa atribuída a ambos os lados. Bem, antes de Charlottesville, essa era a narrativa de mídia dominante. A maioria dos principais meios de comunicação estava dizendo: “Oh, bem, nós temos, aspas, ‘‘violência’’ em ambos os lados. Acusação entregue. Quem vai dizer quem está certo ou errado?”
Mas, ao confrontá-los, colocando a questão no centro das atenções, iluminando o que essas pessoas realmente pensam, deslocou-se o discurso público e retirou-se a capacidade de algumas dessas figuras da direita alternativa de tentar ocultar seu fascismo.
JUAN GONZÁLEZ: E o que você diz, por exemplo, para aqueles que talvez se oponham aos pontos de vista dos nacionalistas brancos e supremacistas brancos, mas também tentam condenar qualquer tentativa de fechá-los – cessar suas ações ou não permitir que eles falem? Ou – e, obviamente, a União Americana das Liberdades Civis (American Civil Liberties Union – ACLU) lutou pelo direito de Charlottesville – dos nacionalistas brancos de terem sua reunião em Charlottesville.
MARK BRAY: Certo. Bem, a questão de como combater o fascismo, penso eu, sempre precisa voltar às discussões das décadas de 1930 e 1940. Então, claramente, podemos ver que o discurso racional e o debate eram insuficientes. Claramente, podemos ver que os mecanismos do governo parlamentar eram insuficientes. Precisamos ser capazes de encontrar uma maneira de dizer: “Como podemos garantir que nunca mais?” Por qualquer meio necessário, isso nunca pode acontecer novamente. E as pessoas que testemunharam essas atrocidades se comprometeram com isso. Então, a questão é: OK, se você não acha que é apropriado enfrentar fisicamente e ficar na frente de neonazistas que estão tentando organizar outro genocídio agora, você muda de opinião depois que alguém morreu, como eles acabaram de fazer?
Você achará adequado enfrentá-los depois da morte de uma dúzia de pessoas? Você só o fará uma vez que eles estejam às portas do poder? Em que ponto?
Em que ponto você diz: “Basta” e desiste da noção liberal de que o que precisamos fazer, essencialmente, é criar algum tipo de regime que permita aos neonazistas e suas vítimas coexistirem, aspas, “pacificamente”, e reconhece que os neonazistas não querem isso e que também os antifascistas estão certos em não olhar para isso através dessa lente liberal, mas, ao contrário,
ver o fascismo não como uma opinião que precisa ser respondida respeitosamente, mas como um inimigo da humanidade que precisa ser interrompido por qualquer meio necessário?
AMY GOODMAN: Esta é a Parte 1 da nossa conversa, Mark Bray. Vamos fazer a Parte 2 e publicá-la online em democracynow.org. Mark Bray é o autor de um livro que vem nas próximas semanas chamado “Antifa: O Guia Antifascista”. Ele é conferencista no Dartmouth College.
Notas
1 Segundo o New York Times:
“A ‘direita alternativa’ (alt-right) é um movimento racista, de extrema direita com base em uma ideologia de nacionalismo branco e anti-semitismo. Muitas organizações de notícias preferem não usar o termo, preferindo termos como “nacionalismo branco” e “extrema direita”.
O objetivo auto-professado do movimento é a criação de um estado branco e a destruição do “esquerdismo”, que chamam de “uma ideologia da morte.” Richard B. Spencer, um dos líderes do movimento, descreveu o movimento como “política de identidade para pessoas brancas. “
É, além disso, anti-imigrante, anti-feminista e opositor à homossexualidade e aos direitos de homossexuais e transgêneros. É altamente descentralizado, mas têm uma ampla presença online, onde sua ideologia é transmitida através de memes racistas ou sexistas com uma borda satírica.
Eles acreditam que o ensino superior é “apropriado apenas para uma elite cognitiva” e que a maioria dos cidadãos devem ser educados em escolas de negócios ou estágios.”