Jornalistas Livres

Categoria: Internacional

  • Rui Costa Pimenta lança livro, em Lisboa, sobre o golpe no Brasil

    Rui Costa Pimenta lança livro, em Lisboa, sobre o golpe no Brasil

    Rui Costa Pimenta, jornalista formado pela Faculdade Casper Líbero e presidente do Partido da Causa Operária (PCO), fez uma turnê pela Europa, promovendo seu novo livro, “Golpe de Estado no Brasil: Balanços e Perspectivas”, onde realiza uma análise dos governos capitaneados pelo PT desde 2002 até o golpe de 2016, bem como da organização da resistência ao golpe e as perspectivas dessa resistência.

    Foto: Bruno Falci
    Foto: Bruno Falci

    Em Lisboa, Rui falou sobre os problemas do golpe de Estado no Brasil contra a presidenta Dilma Rousseff, contextualizou a prisão do Lula dentro desse processo de intesinficação do golpe e perspectivas futuras para restabelecimento da democracia.

    Estiveram presentes dezenas de participantes , entre brasileiros e estrangeiros portugueses e de outras nacionalidades, que ao final fizeram perguntas. Também marcou presença o presidente da Associação Vasco Lourenço, um dos líderes da revolução de 25 de abril de 1974 – Revolução dos Cravos, que pôs fim a 41 anos da ditadura salazarista. A mesa foi mediada por Maurício Moura, membro do Coletivo Andorinha.

    Antes de Lisboa, Rui Costa Pimenta passou por várias cidades europeias, entre elas Londres, Paris, Amsterdã, Vigo, Barcelona, Frankfurt, Copenhague, Hamburgo, entre outras.

    O evento foi organizado pelo Coletivo Andorinha e transmitido ao vivo pela página dos Jornalistas Livres e pelo canal do PCO, no Youtube.

     

    Texto: Bruno Falci e Maíra Santafé

    Fotos: Aparecido Lima e Bruno Falci

     

    Foto: Bruno Falci
    Foto: Bruno Falci
    Foto: Aparecido Lima
    Foto: Aparecido Lima

     

     

  • CHAVISMO OBTÉM VITÓRIA ESMAGADORA NAS ELEIÇÕES REGIONAIS NA VENEZUELA

    CHAVISMO OBTÉM VITÓRIA ESMAGADORA NAS ELEIÇÕES REGIONAIS NA VENEZUELA

    Por Juliana Medeiros para os Jornalistas Livres

    O PSUV, partido que reúne as forças chavistas, obteve uma vitória incontestável nesse domingo (15), nas eleições regionais ocorridas na Venezuela.

    Os candidatos a governador chavistas conquistaram 17 dos 23 estados, 54% da votação nacional, frente à 45% da oposição.

    A presidenta do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Tibisay Lucena, informou em comunicado na sede do órgão em Caracas que a tendência já era irreversível, com 95,8% de urnas apuradas.

     

    A MUD – Mesa da Unidade Democrática (aliança que reúne os partidos de oposição) conquistou 5 estados e apenas 1, o estado de Bolívar, ainda não tinha o cenário irreversível no momento do anúncio. O resultado deixa a MUD em uma situação difícil, especialmente por terem perdido o estado de Miranda, tradicionalmente opositor.

    A participação eleitoral foi de 61,14%, cifra superior aos 53.94% das eleições regionais de 2012.

    Depois dos resultados divulgados, os venezuelanos saíram às ruas para celebrar o fortalecimento de sua democracia e o encerramento de mais uma jornada eleitoral, que transcorreu com normalidade.

    Para estas eleições 18.099.391 venezuelanos estavam habilitados a votar em 13.559 centros de votação instalados en todo o país. Só os habitantes do Distrito Capital não participaram do pleito por ser Caracas.

    A jornada eleitoral começou às 6h da manhã de hoje e a votação contou com Acompanhamento Internacional integrado por um grupo de mais de 60 convidados, entre acadêmicos, ativistas sociais, parlamentares e jornalistas, oriundos dos EUA, América Latina e Europa, sendo 8 brasileiros.

    A Revolução Bolivariana venceu em um cenário de imensa tensão. O chavismo foi derrotado nas últimas eleições para a Assembleia Nacional e desde então, a Venezuela vive um estado de conflagração permanente. No entanto, a decisão de Nicolás Maduro de convocar uma Assembleia Constituinte, demonstra haver sido acertada. A oposição tentou impedir a realização da Constituinte, concluída em 30 de julho, com muita violência. A resposta do povo, portanto, foi sábia. O voto de hoje nas eleições regionais foi um voto contra a violência, um voto pela paz.

  • DITADURA VENEZUELANA – “MAIOR FAKE NEWS DA HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA”

    DITADURA VENEZUELANA – “MAIOR FAKE NEWS DA HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA”

    Por Juliana Medeiros para os Jornalistas Livres

    Neste domingo (15), a Venezuela realiza suas Eleições Regionais, para governadores, em 23 Estados nesta que é sua 22ª eleição em 18 anos de chavismo, o que de pronto classifica o país como a “ditadura” que mais realizou sufrágios na história contemporânea.

    Toda a imprensa mundial acompanha de perto a disputa, ávida por encontrar evidências de fraude ou captar imagens para sua narrativa de impacto sobre a diariamente pautada “crise econômica e política” do país.

    No entanto, ao mesmo tempo em que a presidenta do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Tibsay Lucena, informa em coletiva de imprensa que todas as etapas para o pleito vem sendo cumpridas com a participação de observadores internacionais e membros de TODOS os partidos, que também fiscalizam o processo, os correspondentes credenciados no país tratam unicamente de noticiar as supostas “fraudes” cometidas pelo governo Maduro, ainda que representantes de cada corrente política estejam validando o mesmo processo que a oposição (e a mídia) procuram deslegitimar.

    Mas do que se trata essa tal crise na Venezuela? Essa é a pergunta que muitos se fazem nesse momento. Para responder, é preciso antes se perguntar o que faz com que um pequeno país caribenho de repente se torne o assunto dos almoços de domingo de boa parte dos países do mundo, onde seus cidadãos muitas vezes sequer conhecem seu cenário local mas sabem o nome de políticos venezuelanos e falam sobre a tal “crise” como se fossem conhecedores profundos do tema.

    Charge do Latuff

    Antes ainda, é necessário perguntar se Nicolás Maduro – ao invés de denunciar constantemente a ingerência norteamericana e se recusar terminantemente a seguir suas ordens – fosse um amigo de Washington, será que o país continuaria nos noticiários?

    O mais provável é que ele poderia ser de fato o “ditador” que querem que ele seja, por exemplo, oprimindo cruelmente as mulheres como o rei Abdullah bin Abdul Aziz Al-Saud da Arábia Saudita; ou deixando mais de 1 milhão de pessoas morrerem de fome, cólera e bombardeios de aviões aliados em seu próprio solo, como Addrabbuh Mansour Hadi do Yemen; ou ainda usando de maneira violenta e extremada sua polícia contra manifestações pacíficas pelo direito de votar, como Rajoy da Espanha; ou inaugurando uma nova era de presos e desaparecidos políticos como Macri, na Argentina; ou mantendo sob barbárie a última colônia do mundo em um campo murado e minado no meio do deserto do Sahara, como o Rei Mohamed VI do Marrocos; ou pior, fazendo tudo isso, com direito a malas de dinheiro em contas ilegais no exterior e mais uma série de delitos (com Supremo com tudo) como naquele país, vocês sabem onde. Bastaria à Maduro ser menos “guapero” em linguagem latina, aceitando condições comerciais injustas, acordos políticos nefastos e uma ou outra base militar em seu território e tudo estaria resolvido.

    Ou seja, no fundo o mundo inteiro sabe que não se trata de motivos humanitários e que a OEA ou o (atual) Mercosul, just don’t give a damn para o que acontece realmente na Venezuela. Se assim fosse, as “guarimbas” – espécie de barricada montada pela oposição como estratégia recorrente de ataque – seriam tão conhecidas quanto todos os outros fatores que parecem fazer com que simples eleições regionais na Venezuela sejam mais importantes para a mídia do que, por exemplo, a possibilidade cada dia mais real dos EUA iniciarem uma nova guerra mundial.

    Sem precisar recorrer à estatísticas, é muito provável que você, leitor(a), jamais tenha ouvido falar sobre as tais “guarimbas” com homens armados até os dentes com fuzis e bombas caseiras, fios de arame que decapitam motoqueiros, ou os “poopootov” (lançamento de garrafas cheias de excremento humano), ou ainda pessoas sendo queimadas vivas nas ruas e filmadas enquanto agonizam até o fim. Ou pior, você até já ouviu falar em tudo isso, mas acredita na versão de que foram crimes cometidos pela Guarda Nacional Bolivariana.

    A verdade é que a ditadura (ou a crise) na Venezuela, como bem definiu seu Ministro das Comunicações, Ernesto Villegas, não passa do “maior fake news da história contemporânea”.

    Por mais que a própria oposição venezuelana declare publicamente em suas páginas oficiais que todas as estratégias citadas acima (e outras) são aceitáveis, ninguém lê porque é invisível até para os pauteiros da grande mídia. E ainda que muitas vezes as críticas à violência do governo Maduro não tenham sequer uma imagem para fundamentar, essas são as notícias que interessam ao mainstream.

    Aliás, muitas vezes há imagens sim, como as que a imprensa espanhola produziu horas depois de uma guarimba explodir cerca de 8 policiais em suas motos no meio de uma avenida de Caracas. O frame convertido em instantâneo, foi retirado de um vídeo produzido por uma das câmeras dos próprios policiais que vinham atrás dos que foram atingidos. A mesma imagem foi reproduzida nas capas de vários veículos, sem crédito, com títulos que criticavam a “repressão” de Maduro. Uma notável e descarada manipulação.

    Nesse mesmo dia, o jornalista venezuelano Luis Hugas, que acompanhava o grupo de militares em uma das motos (e quase foi atingido também), flagrou em video produzido para o Canal La Iguana TV, os correspondentes de meios internacionais escondidos atrás de uma das barricadas, ou seja, já preparados, poucos antes da explosão, no melhor estilo “se por acaso acontecer algo aqui”.

    Não se trata de dizer que não há problemas, a Venezuela vem sofrendo uma pesada guerra econômica precisamente por um equívoco do próprio projeto chavista. Quando Hugo Chávez chegou ao poder, todo o recurso bilionário do petróleo venezuelano era destinado unicamente à elite que controlava o país. A radical transferência de renda iniciada por ele, produziu uma mudança profunda em uma sociedade miserável. A questão é que Chávez não só reduziu drasticamente a desigualdade no país, levando educação ou saúde gratuitos para a população, mas também iniciou um processo de conscientização política. No entanto, a manutenção da dependência econômica sobre uma única commoditie, fez com que a nação caribenha continue precisando importar quase todos os produtos que consome, porém usando como moeda os mesmo barris de petróleo que agora estão em baixa no mercado mundial. E são justamente os comerciantes – boa parte estrangeiros – a usarem a estratégia de retirar os produtos das prateleiras ou colocá-los a preços surreais, como única ferramenta política da direita que tradicionalmente não possui habilidade para construir bases de outra maneira.

    Em uma série de vinhetas produzidas pelo canal venezuelano VTV, uma jornalista fala de sua indignação pelas últimas declarações do Depto de Estado norteamericano acerca da lisura das eleições venezuelanas e finaliza dizendo: “Venezuela é garantia de paz na América Latina”. De fato, esse é o ponto.

    Depois de passar décadas com pouco interesse sobre o que ocorria na América Latina (mais concentrados em regiões como o Oriente Médio e o Norte da África), os EUA sob Trump decidiram redirecionar seus canhões para nosso continente. Não é coincidência que, ao mesmo tempo em que o mundo está tremendamente interessado em saber qual será o novo governador de Táchira, os EUA tenham reiniciado sua política de bloqueio econômico-financeiro impondo o chamado “Nica Act” à Nicarágua, sob o batido pretexto de promover a “democracia” no país centro-americano. O problema dos EUA com a Nicarágua, Venezuela, Bolívia, ou Cuba é o mesmo: controle dos recursos e combate ideológico.

    E a Venezuela parece ser a peça que pode colocar em xeque toda a região, agora que Trump vem ameaçando com uma intervenção armada, que aliás, parte da oposição venezuelana tem a indecência de pedir textualmente em canais de TV privados pelo país. Subserviência e vira-latismo que mais parecem a nova epidemia desses tempos.

    Foto: Guilherme Imbassahy

    O fato é que mudam os presidentes mas a estratégia yankee não muda. Num primeiro momento, financiam grupos opositores protofascistas na tentativa de promover golpes parlamentares que permitam um alinhamento à sua geopolítica de interesse para a região, como é o caso do Brasil ou Paraguai (que por casualidade tinham nesses momentos a mesma embaixadora norteamericana, que também por acaso foi por anos quem esteve à frente da USAID para América Latina).

    E assim como ocorrido no Iraque ou na Líbia, quando a intervenção via “revoluções laranjas” não é suficiente e torna-se necessário recorrer às armas, a primeira a atingir o país-alvo da vez é sempre a propaganda, difundida com muita eficiência (e cumplicidade) pela imprensa internacional.

    Convencida a opinião pública de que é preciso intervir, não há problema caso depois alguém se dê conta de que se equivocou ou “pesou a mão”, basta recorrer à indústria Hollywoodiana e produzir algum enlatado (com cara de mea culpa e jeito de planejado) ou apenas, como é o caso da Líbia, jogar no limbo do esquecimento midiático o país que estava todos os dias no noticiário enquanto era importante convencer a todos de que era necessário destruí-lo, sob o irônico pretexto de “salvá-lo”. O problema com essa estratégia em relação à Venezuela (para aqueles que desde fora defendem essa absurda possibilidade), é que um ataque ao país certamente vai ter consequências regionais graves e cuja extensão é difícil de prever, inclusive para o Brasil e todos os países que lhe fazem fronteira.

    O mais curioso, é observar como a narrativa hegemônica faz com que qualquer país que demonstre ter um forte sentido de soberania enraizado em sua cultura, passa a ser ridicularizado e seus líderes tratados como loucos. O mundo parece mesmo convencido bovinamente de que o único país ao qual é permitido esse sentimento é aquele que por décadas vem tentando controlar todos os outros.  Resta saber se vamos mais uma vez assistir impassíveis a tudo isso.

  • JORNALISTAS LIVRES NA COBERTURA DAS ELEIÇÕES REGIONAIS VENEZUELANAS

    JORNALISTAS LIVRES NA COBERTURA DAS ELEIÇÕES REGIONAIS VENEZUELANAS

     

    Por Juliana Medeiros para os Jornalistas Livres

    No próximo domingo a Venezuela escolhe governadores de 23 estados em eleições marcadas por um passado recente de tensão e atos de violência por parte de organizações ligadas à oposição que tentaram, sem sucesso, impedir a realização da eleição para a Assembleia Constituinte em 30 de julho deste ano (veja em nosso site a cobertura especial dos Jornalistas Livres sobre o tema).

    O nível extremado de violência perpetrado pelos partidos que integram a chamada MUD (Mesa de Unidade Democrática), parecem ter surpreendido até mesmo aqueles cidadãos que se posicionavam contra o governo de Nicolás Maduro. O fato ficou evidenciado depois que se verificaram os números de votantes em estados tradicionalmente dominados pela oposição (na Venezuela o voto não é obrigatório) indicando que apesar de não terem reconhecido oficialmente, não puderam impedir que suas bases legitimassem o processo constituinte.

    Para esse pleito, também o discurso dos candidatos oposicionistas se modificou, já que passaram a chamar o povo a votar, ao contrário do que fizeram no anterior. O ex-candidato à presidência, Henrique Capriles, é um dos mais frequentes a convocar na TV, seus eleitores a saírem de casa.

    A antecipação da convocação para essas eleições (a 22ª em 18 anos de chavismo), prevista inicialmente para dezembro, foi uma decisão justamente dos membros da Assembleia recém-eleita, como destacou nesta sexta-feira a presidenta do órgão constituinte Delcy Rodríguez.

    Segundo ela, com isso se pretendia consolidar a paz lograda quase que imediatamente depois de 4 de agosto, quando tomaram posse os membros eleitos da Assembleia Constituinte.

    “Para nós é muito importante, como poder constituinte, sermos vigilantes sobre a garantia de paz na Venezuela. Nossas últimas eleições, como se sabe, foram marcadas por muita violência e também pela negativa da oposição em participar, tentando impedir que suas bases fizessem parte desse exercício pacifico e democrático”, acentuou Rodríguez.

    Apesar dos protestos iniciais, a estratégia de fato serviu para uma espécie de trégua geral, já que candidatos de direita e de esquerda precisaram se concentrar em suas campanhas.

    Além disso, os líderes opositores parecem ter se dado conta de que não foi uma boa estratégia ter optado por ficar fora do processo e, apesar de terem tentado desde sempre deslegitimar o CNE, inscreveram seus candidatos imediatamente após o início do prazo para registro eleitoral.

    Em todos os canais (a esmagadora maioria, privados e de oposição), foi possível ver os spots de propaganda eleitoral obrigatória – encerrada nesta quinta-feira (12) – de candidatos das várias correntes políticas e partidos. Com destaque para os de oposição que concentram os discursos não em suas regiões, mas na disputa ideológica presente no cenário político nacional, com frases como “abaixo a esquerda”.

    Além disso, 1.200 observadores nacionais e 67 acompanhantes internacionais, de 22 países, participam de todo o processo para garantir a transparência.

    O pleito, marcado para o próximo domingo, vai eleger governadores em todas as regiões da República Bolivariana, exceto na capital, Caracas. Isso se deve à Constituição do país que considera o presidente a maior força política do chamado “Distrito Capital” – sede de todos os órgãos do Poder Nacional – e que por isso, não possui governador, sendo a função acumulada pelo presidente.

    No entanto, com o objetivo de evitar que se repitam os atos de violência ocorridos durante a eleições anteriores, o Ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, afirmou nesta sexta-feira (13) em coletiva de imprensa que será garantida a tranquilidade do país, “não importa qual seja o resultado eleitoral”.

    Já a Presidenta da Assembleia Constituinte, Delcy Rodriguez, chamou a oposição à razoabilidade: “para os que buscam refúgio em poderes antinacionais ou imperiais, novamente lhes dizemos que esta é a via, o caminho eleitoral, o caminho democrático, tal como está contemplada em nossa Constituição”

    Na coletiva de imprensa realizada hoje, as autoridades venezuelanas também aproveitaram para rechaçar completamente a declaração do Departamento de Estado norteamericano que questiona a transparência do CNE.

    “Preocupa os Estados Unidos que uma série de ações por parte do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) questionem a imparcialidade do processo eleitoral”, afirmou Heather Nauert, porta-voz do Departamento de Estado.

    A resposta veio forte da presidenta do CNE, Tibsay Lucena: “essa agressão coincide com uma campanha de permanentes agressões ao poder popular, fundamentada em mentiras e manipulações”.

    Nas últimas eleições regionais em 2012, o PSUV conquistou 20 dos 23 governos estaduais, mas a derrota na composição da Assembleia Nacional abalou o chavismo e abriu caminho para a crise que vem sendo aos poucos, controlada pelo presidente Nicolás Maduro.

    A grande pergunta no ar, em razão da aparente calmaria, contrastante com o último período eleitoral, é sobre qual será a reação popular refletida nas urnas, em um país onde o povo está culturalmente habituado a participar de consultas, referendos e processos eleitorais e evidentemente, cansado de guerra.

  • Che Guevara: um homem movido pelo amor

    Che Guevara: um homem movido pelo amor

    Por Elaine Tavares, jornalista e documentarista do IELA (Instituto de Estudos Latino Americanos da UFSC)

    Sempre que se fala em Che Guevara a primeira coisa que vem a mente é a imagem do soldado, do revolucionário. Essa era uma das facetas do Che. Mas não a única. Desde bem garoto ele inventou de andar pela América Latina, gostava de conhecer as gentes e, com elas, estabelecia vínculos de amor. Formou-se em medicina e ainda estudante voltou a percorrer os caminhos da América do Sul. Seu coração de jovem médico era apaixonado por essa América profunda, pelos trabalhadores, pelos empobrecidos.  Ele não queria que a realidade fosse assim, tão dura, com os trabalhadores.  E foi esse amor pela sua gente latino-americana que o levou a ser um soldado da revolução cubana. Com seus companheiros cubanos ele empunhou o fuzil para derrubar uma ditadura, mas também cuidou dos caídos, dos doentes, dos feridos. Médico e soldado, coração e razão, sempre andando junto.

    Quando a revolução foi vitoriosa ele acabou sendo Ministro da Indústria e Comércio. Mas, seu trabalho nunca foi só de gabinete. Ele andava pela ilha, vendo as coisas com os próprios olhos, trabalhando junto com os trabalhadores no corte da cana, no carregamento dos grãos. Vivia como pensava. Ele acreditava que um homem e uma mulher revolucionários precisavam  ser perfeitos, éticos, pautados pelo bem comum. Ele dizia: “temos de ser o melhor marido, o melhor filho, o melhor pai, o melhor estudante, o melhor trabalhador, o melhor tudo. Temos de ser perfeitos, para ser exemplo. Tudo aquilo que formulamos como moral para o outro, temos de ser”.  A palavra para ele não era coisa vã. Era a escritura de uma ação concreta na vida.

    Tanto que não conseguiu aquietar-se num cargo de ministro da recém liberta nação cubana. Aquela gente sofrida da América que ele conhecera nas suas andanças continuava amargando dores, misérias e exploração. Então, para ele não podia haver acomodação na vitória. Seu desejo era voltar e iniciar uma revolução na parte sul do continente. Mas, naqueles dias, outros povos clamavam por libertação. Eram as gentes do continente africano que começavam suas lutas de independência das colônias europeias e do racismo fomentado por elas. Che não pensou duas vezes. Largou a pasta de ministro e foi se fazer soldado de novo. Ele era movido por profundos sentimentos de amor. “Enquanto houver um irmão injustiçado, somos companheiros”, era seu lema.  Como poderia descansar se outros companheiros e companheiras estavam em luta. E lá se foi para o Congo e Angola, batalhando contra o apartheid e o colonialismo.

    Na volta da África, de novo, seu coração decidiu por fazer valer a ética que o caracterizava: o amor pelo outro, pelo caído, pela vítima do sistema capitalista, pelo que se levantava em rebelião. E, mais uma vez recusou cargos ou honrarias. Não haveria de descansar enquanto toda a América Latina não avançasse para um tempo de justiça. Foi quando viajou para a Bolívia, onde iria combater outra ditadura. Lá, por conta das diferentes condições históricas e erros de estratégia, foi capturado. Um dia depois, assassinado friamente por um soldado boliviano, mas a mando de agentes estadunidenses que foram chamados para documentar a morte do revolucionário. Não contentes em executar o então prisioneiro, desarmado e indefeso, os agentes lhe cortaram as mãos. Um toque de sadismo. Era preciso tripudiar do homem que ousara sair do comodismo de uma boa vida de médico burguês, e abraçara a causa dos trabalhadores, dos oprimidos.

    A última imagem que temos do Che é a de um homem morto, deitado numa mesa fria, com os olhos bem abertos, mirando o infinito. Nem na morte os seus carrascos conseguiram apagar a luz que emanava do seu ser.

    Obedecendo aos preceitos éticos que pregava, el Che foi o homem perfeito. Amou as mulheres, amou seus filhos, amou Cuba, amou o conhecimento, amou os cubanos, amou os africanos, amou os latino-americanos, e por conta desse amor incondicional entregou sua vida.  Ele curou vidas, produziu teoria, dirigiu uma revolução, comandou um ministério, morreu por seus ideais.

    Esse é seu maior legado. Viveu o tempo todo, na prática, aquilo que apontava como teoria, como moral e como ética. Morreu de pé, olhando o inimigo no olho. Seu exemplo de ser humano é sua maior herança.

    E hoje, quando lembramos os 50 anos do seu assassinato, é isso que nos conforta. Che Guevara ainda é um caminho.

    Do Jornal  Che vive!  50 anos

    Associação José Martí e Instituto Arco Íris

  • LIMPEZA ÉTNICA: Aung San Suu Kyi: do Nobel da Paz ao ódio internacional

    LIMPEZA ÉTNICA: Aung San Suu Kyi: do Nobel da Paz ao ódio internacional

    Por Igor Zahir estecial para os Jornalistas Livres

    – Aung San Suu Kyil

    Em agosto de 1995, logo após ser temporariamente libertada da prisão domiciliar, Aung San Suu Kyi, líder de fato do Mianmar (antiga Birmânia), fez um discurso inspirador na Conferência Internacional de Mulheres em Pequim, sobre como “a tolerância genuína requer um esforço ativo para tentar entender o ponto de vista dos outros; isso implica uma mente aberta e visão, bem como a confiança na própria capacidade de enfrentar novos desafios sem recorrer a intransigência ou violência”. Durante os anos seguintes, ela manteve essa mensagem pacificadora, inclusive quando foi presa novamente – tornando-se a prisioneira política mais famosa do mundo naquela época – e seu partido foi perseguido.

    Finalmente libertada pelo regime militar, ao falar para mais de quatro mil pessoas em novembro de 2010, Suu Kyi garantiu “estar preparada para conversar por igual com qualquer pessoa e não guardar ressentimento por ninguém”. Ali, a ativista daria lugar à líder política que, desde 2016, ocupa o cargo de Conselheira de Estado – por ter dois filhos com nacionalidade britânica, a Constituição birmanesa proíbe que Suu Kyi assuma a presidência, mas devido à sua importância no movimento de redemocratização do país, ela é considerada a líder de fato de Mianmar.

    Ela entrou também para uma seleta lista de dissidentes políticos que fizeram história em seus países como símbolos de liberdade perante a autocracia e ditadura militar. Nomes como Nelson Mandela, que após quase 30 anos atrás das grades, foi o responsável pelo fim do apartheid na África do Sul e assumiu a presidência do país; Václav Havel, o dramaturgo que lutou e se tornou o primeiro presidente pós-comunista da Checoslováquia; e Corazon Aquino, viúva de um líder da oposição do governo Ferdinando Marcos, e que se tornou posteriormente presidente das Filipinas – a primeira mulher a ocupar a chefia de estado de um país asiático.

    Em comum entre esses líderes, além dos valores democráticos, estão as tentativas da oposição de envolvê-los em golpes ou escândalos de corrupção. Alguns escapam ilesos, mas nem todos têm sucesso ao provar sua inocência. Lech Walesa, ex-presidente da Polônia, passou de herói na luta contra o comunismo, para comprovado espião do próprio regime que combatia. Boris Yeltsin, primeiro presidente da Rússia após o fim da União Soviética, ficou marcado pela era repleta de desemprego, deterioração, conflitos e desastres econômicos no país. Agora, uma polêmica reviravolta ameaça a popularidade e reputação da carismática Aung San Suu Kyi, que em 1991 recebeu o prêmio Nobel da Paz por sua resistência pacifica contra o regime ditatorial, teve um filme sobre sua vida, uma música do U2 em sua homenagem e, quando em prisão domiciliar, recebeu apoio público de políticos como Barack Obama e Hillary Clinton.

    Desde agosto passado, o caos tomou conta de Mianmar, quando um grupo de insurgentes rohingyas atacou cerca de 20 delegacias da polícia birmanesa em Rakhine, no oeste do país, onde se encontra a minoria muçulmana rohingya. Em contrapartida, o exército deu início às “operações de limpeza”, com o objetivo de deter “terroristas extremistas” e proteger a população civil. Cerca de 700 aldeias foram queimadas, centenas de moradores foram mortos e, até o fechamento desta reportagem, mais de 480 mil refugiados rohingya passaram para Bangladesh, antes de serem perseguidos até a fronteira. De maioria budista, Mianmar é dominado pela influência religiosa de monges radicais que apontam os muçulmanos como uma ameaça e os rohingya (que vivem por lá há gerações) como imigrantes ilegais de Bangladesh desde 1982. A eles, é negado o direito a usufruir de serviços básicos como educação e saúde.

     

    Mais da metade dos refugiados rohingya é formada por menores de idade – só de crianças, o número ultrapassa seis mil integrantes. O Ministério da Segurança Social de Bangladesh divulgou nota afirmando que vai construir 14 mil novos abrigos para elas ficarem separadas dos adultos. De acordo com o governo bengali, os jovens entre os 13 e os 18 anos são os mais necessitados, já que muitos foram separados dos seus pais e podem, futuramente, se revoltar e adquirir tendências a atividades criminais. A primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, declarou total apoio aos rohingya, mas exigiu que o governo Mianmar acolhesse com segurança os seus cidadãos refugiados.

    Após ser criticada por líderes e ativistas no mundo todo, Aung San Suu Kyi rompeu o silêncio ao fazer um discurso nacional afirmando “condenar todas as violações dos direitos humanos e a violência ilegal” e “se comprometer com a restauração da paz em todo o Estado”. Tais palavras, por um lado agradaram aos seus eleitores birmaneses, mas por outro geraram maior desconforto e decepção entre os aliados internacionais, visto que em momento algum a líder do país admitiu a grave postura dos seus militares. A questão é evidente: o que aconteceu com aquele belo discurso de Suu Kyi de recusar a “intransigência, intolerância e a violência”? Onde foi parar sua visão e mente aberta, que ela pregou por tantos anos?

    Politicamente falando, é irrelevante se ela compartilha ou não do mesmo ponto de vista birmanes de que a minoria rohingya não é bem-vinda em seu país. Isso porque é de conhecimento público que, independente de suas opiniões, Suu Kyi sabe que não tem mais autoridade do que os militares de Mianmar, que podem derrubar novamente seu governo caso haja uma indisposição entre as duas partes. Quem domina as fronteiras e as armas são os generais. Nessa complexa relação, Suu Kyi é a líder, mas quem governa de maneira independente é o exército fundado por seu próprio pai.

    vídeo da primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, e da situação dos rohingya:

    Enquanto isso, instituições pacificadoras internacionais cobram da líder birmanesa um posicionamento maior perante a catástrofe humanitária. Na ONU, o secretário-geral, Antonio Guterres, e o alto comissário para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein, compartilham da opinião de que o tratamento de Mianmar com os rohingyas corresponde a uma verdadeira limpeza étnica. Para Adama Dieng, assessor especial das Nações Unidas para prevenção do genocídio, quando os rohingya são mortos e transferidos forçadamente, de forma generalizada ou sistemática, isso pode constituir limpeza étnica e pode constituir crimes contra a humanidade – ou seja, um genocídio. “Ainda não estamos lá, mas é hora de agir”, declarou Dieng.

    Recentemente, a paquistanesa Malala Yousafzai, mais jovem laureada com o Nobel da Paz, cobrou em seu Twitter: “Venho condenando reiteradas vezes nos últimos anos esse tratamento trágico e vergonhoso. Espero que a minha colega laureada Aung San Suu Kyi faça o mesmo. O mundo aguarda e os muçulmanos rohingya aguardam”.

    Além de Malala, outros ganhadores do Nobel da Paz demonstraram sua consternação diante do caos que atingiu Mianmar. “Apelo a você e aos seus colegas do poder para que estendam a mão a todas as partes da sociedade a fim de tentar restabelecer relações amigáveis com toda a população num espírito de paz e de reconciliação”, disse o Dalai Lama em correspondência endereçada a Suu Kyi. “Os questionamentos que me fazem levam-me a crer que são inúmeros os que têm dificuldade em compreender que o que está acontecendo aos muçulmanos se passa num país budista como a Birmânia. Como seu colega budista e prêmio Nobel, eu venho até você e seus colegas mais uma vez para encontrar uma solução duradoura e humana para este problema grave”, concluiu o principal líder espiritual tibetano, que já havia discutido o ocorrido com ela em junho de 2016, e agora se diz “decepcionado ao ver que a situação parece piorar e a violência está aumentando”.

    Cinco mulheres que também foram laureadas enviaram carta formal através da Nobel Women’s Initiative: “Como colega de Prêmio Nobel, um ícone mundial para a Liberdade Universal e Direitos Humanos, agora Conselheira de Estado e líder de fato da Birmânia, você tem a responsabilidade pessoal e moral de defender os direitos dos seus cidadãos. Quantos Rohingya têm que morrer? Quantas mulheres Rohingya serão estupradas? Quantas comunidades serão arrasadas antes de você levantar sua voz em defesa daqueles que não têm voz? Sua indiferença não está de acordo com a visão de ‘democracia’ para o seu país que você nos descreveu e para o qual todas nós a apoiamos ao longo dos anos”. A carta foi assinada pelas ativistas Mairead Maguire, da Irlanda do Norte; Jody Williams, dos Estados Unidos; Shirin Ebadi, do Irã; Leymah Gbowee, da Libéria; e Tawakkol Karman, do Iêmen.

    Até o fechamento desta edição, a petição online “Retirem o Prêmio Nobel da paz de Aung San Suu Kyi” já havia recolhido quase 430 mil assinaturas, com a justificativa de que ela não fez praticamente nada para impedir esse crime contra a humanidade em seu país. Contudo, o diretor do Instituto Nobel, Olav Njølstad, divulgou um texto no site oficial explicando que “nem o testamento de Alfred Nobel nem os estatutos da Fundação Nobel em Oslo ou Estocolmo [que escolhem os indicados] contemplam a possibilidade de que um Prêmio Nobel seja retirado”.

    Há quem diga que, diante da sua passividade política, Aung San Suu Kyi não deve ser responsabilizada pela limpeza étnica em Mianmar e que o Exército, detentor do poder, é quem tem que ser pressionado pelas autoridades ao redor do mundo. Para os defensores desse ponto de vista, é uma questão de enfrentar os que mandam mais. Antes de tudo, é preciso lembrar que, em meio a toda essa catástrofe, existe um povo à beira do genocídio. Quando assumiu o cargo, Suu Kyi declarou que seu país estava com sede de paz. Se a líder de fato pensa dessa forma, imagine o que passa pela cabeça dos rohingya que, sob seu governo, perderam qualquer direito mínimo à dignidade?

     

    Igor Zahir é escritor e jornalista. Após ter feito reportagens sobre ativismo e Direitos Humanos para as principais revistas femininas do Brasil durante anos, atualmente está focado no noticiário estrangeiro e colabora, semanalmente, como correspondente internacional deste portal.