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Categoria: Índios

  • Invasores são eles, diz líder indígena sobre nota da Funai

    Invasores são eles, diz líder indígena sobre nota da Funai

    Por Tatiana Scalco |Parceria com Ciranda net

    No dia 05 de maio de 2020, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) publicou nota assinada pela sua assessoria de comunicação onde diz que “nos últimos anos a política indigenista brasileira restringiu-se ao assistencialismo subserviente e ao paternalismo explicito com aplauso das ONGs (…)”
    As declarações contidas na nota repercutiram. O Movimento Indígena se posicionou, repudiando-a. No dia 06 de maio a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) publicou nota pública rebatendo veementemente as acusações falaciosas da FUNAI (link http://apib.info/2020/05/06/nota-publica-contra-as-falaciosas-acusacoes-da-funai/).
    A APIB destaca que ao contrário do que está escrito na nota, “a Constituição Brasileira de 1988, especialmente em seus Artigos 231 e 232 rompeu com a lógica tutelar, assimilacionista, integracionista, portanto genocida e etnocida, vigente desde o ano de 1500 na relação do Estado brasileiro para com os povos originários de nosso país”.

    “Quem são os estranhos a essa terra são eles” Kahu Pataxó (MUPOIBA)

    O coordenador executivo do Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba), Kahu Pataxo, repudiou a declaração da FUNAI em nome dos povos indígenas. Kahu fala que o repudio se dá primeiro pela FUNAI por chamar os indígenas de invasores. “(…) Invasores são eles! Quem são os estranhos a essa terra são eles”, reforça. Ele continua destacando que há muito tempo acontece a luta dos indígenas pelo seu território. “Aqui (o Brasil) se dizia parte da Coroa Portuguesa e nós já existíamos enquanto movimento e já fazíamos a resistência”, diz. E completa, “o que temos visto aqui é uma luta muito mais religiosa, do que de fato por entendimento do direito estabelecido pela Constituição. A gente repudia esse posicionamento”.

    Kahu continua comentando que o Mupoiba estuda entrar com uma ação contra a FUNAI. Pois consideram que a posição apresentada pelo órgão na nota “é uma posição extremamente discriminatória contra os povos indígenas. Chamar os índios de invasores é exatamente fazer aquilo que os de fora e aqueles que são contra os povos indígenas têm feito”. Ele continua destacando que essa forma de ação da FUNAI “se posicionado contra os povos indígenas” demonstra que “ela não tem cumprido o papel dela”. E conclui dizendo que “essa nota da FUNAI é uma nota descarada, sem vergonha e sem respeito nenhum aos povos indígenas”.

    Para a APIB o “governo Bolsonaro é subserviente aos interesses das grandes corporações empresariais transnacionais do agronegócio e da mineração, afronta o texto Constitucional de nosso país e tenta impor a ideologia da tutela, do assimilacionismo, inclusive religioso, do integracionismo, a negação dos direitos fundiários, a negação do direito de usufruto exclusivo das terras, favorecendo as invasões, a grilagem e a exploração das mesmas por terceiros não-indígenas.”

    A cacica Maria Pataxó repudia as palavras do presidente da Funai. Ela destaca que “queremos respeito”. Sobre o atual presidente da FUNAI fala que “nós não precisamos que alguém (…) que vêm desfazendo dos nossos direitos (e) não respeita os direitos dos nossos tradicionais”. Xawâ Pataxó, jovem liderança indígena, complementa que a nota publicada é um “ato enganoso desse presidente militar, que não tem algum sobre as pessoas. Que não tem pensamento algum, competência alguma, para estar a frente de um órgão como a Funai”

    Agnaldo Tupinambá, coordenador regional do MUPOIBA na região Sul, também reforça o repudio às declarações feitas na nota publicada pela FUNAI. Destacando que “iremos reagir a altura, dentro da justiça, procurar os mecanismos legais para fazer a defesa dos nossos direitos”.

    “essa declaração do atual presidente da Funai, apesar da absurda, não nos surpreende mais” Vladimir Correa (DRDH/BA e ANADEF)

    O Defensor Regional de Direitos Humanos na Bahia (DRDH/BA) e vice-presidente da Associação Nacional dos Defensores Públicos Federais (ANADEF), Vladimir Correa, comenta que “essa declaração do atual presidente da Funai, apesar da absurda, não nos surpreende mais. Pois temos visto (que) no atual governo, principalmente, os órgãos que visam defender direitos humanos e populações tradicionalmente excluídas são ocupados por pessoas despreparadas. Ou melhor, pessoas que são contrárias até a própria causa que o órgão que elas se enquadram procuram defender”.

    “a nota da Funai é um reflexo do governo Bolsonaro” Marcelo Bloizi (UFBA).

    Segundo o prof. Marcelo Bloizi da Universidade Federal da Bahia “a nota da Funai é um reflexo do governo Bolsonaro”. Bloizi destaca a importância da participação dos atores sociais responsáveis pelo aperfeiçoamento e criação da política pública indigenista (ou seja, os indígenas). E completa dizendo que eles (indígenas) não estão protagonizando essa discussão. E finaliza perguntando: quem são os indígenas que estão participando desta construção (no atual governo federal)?

    Resposta do CIMI às denúncias feitas pela NOTA da FUNAI

    Procurado pela reportagem, o secretário executivo do CIMI, Antônio Eduardo C. Oliveira declarou que:

    “A nota da FUNAI é desprovida da verdade, sem cabimento, sem sentido algum. A FUNAI tenta se eximir da responsabilidade, nesse período da Pandemia. Responsabilidade essa que cabe a ela dar assistência às comunidades indígenas, proteger os direitos indígenas e proteger os territórios indígenas. Isso ela tem que fazer.

    (A FUNAI) recebeu os recursos para poder comprar as cestas básicas para as comunidades indígenas e até hoje não deu retorno, não deu resposta, como está sendo gasto esse dinheiro, como está sendo ofertado às comunidades indígenas, esse direito básico para essas comunidades que estão isoladas e se protegendo do Coronavírus. Ela deveria se colocar para a sociedade dando essa satisfação, e principalmente para os povos e comunidades indígenas.”

    Áudio 1: Antônio Eduardo C. Oliveira – Secretário Executivo do CIMI

     

    Ele continua comentando sobre o descompromisso da atual gestão da FUNAI em relação ao interesse público, na defesa da própria FUNAI, dos direitos indígenas e da soberania do povo brasileiro. Oliveira fala que essa gestão da FUNAI se pauta por um discurso colonialista, retrogrado e assimilacionista, sem compromisso com a verdade, a ética e os direitos conquistados em favor dos povos indígenas.

    Áudio 2: Antônio Eduardo C. Oliveira – Secretário Executivo do CIMI

    Em relação às denúncias e a citação à CPI, o coordenador executivo do CIMI, fala que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) citada aconteceu no Mato Grosso anos atrás. Ele comenta que era uma “CPI era contra a FUNAI e o INCRA. E o CIMI foi denunciado nessa CPI”. Continua explicando que por serem órgãos federais (Incra e Funai) a Assembleia Legislativa do Mato Grosso não tinha competência para ser instalada e por isso foi extinta pela justiça. Ele lembra que o atual presidente da FUNAI Marcelo Augusto Xavier Da Silva na época da CPI “atuava a favor dos ruralistas, contra a FUNAI”.

    Oliveira informa que “as denúncias feitas não foram provadas” e ressalta que o CIMI à época “se colocou à disposição da CPI, e (…) também a favor dos povos indígenas, dos direitos indígenas e das comunidades indígenas, porque várias lideranças indígenas foram também criminalizadas nessa CPI. Nós temos orgulho, de naquela época e hoje, estamos a favor dos povos indígenas e não contra os povos indígenas, não mudamos de lado”.

    Áudio 3: Antônio Eduardo C. Oliveira – Secretário Executivo do CIMI

    Antônio Oliveira conclui destacando que “O CIMI vai continuar sua luta no sentido de dar apoio aos povos e comunidades indígenas. Vai continuar no controle social do órgão indigenista oficial do governo federal. Enfim vamos continuar na nossa por um Brasil melhor. Na nossa por uma sociedade onde exista um respeito às leis vigentes no país. Vamos continuar nos somando à sociedade civil organizada, nos somando a todos aqueles que lutam por uma sociedade melhor.”

    Áudio 4: Antônio Eduardo C. Oliveira – Secretário Executivo do CIMI

    A importância e contribuição da ação do CIMI em apoio à causa indígena foi comentada:

    “O CIMI tem dado apoio jurídico para a nossa luta, além do apoio político”, Kahu Pataxo – coordenador executivo do MUPOIBA
    “Nós vamos lutar sempre a favor dos nossos direitos, e vamos estar sempre em parceria com a sociedade civil do nosso país, e por isso o Conselho Missionário está de parabéns pela defesa que faz dos nossos povos, repudiamos a nota publicada pelo ASCOM da FUNAI”, Agnaldo Tupinambá, coordenador regional sul do MUPOIBA

    Vídeo 1: Agnaldo Tupinambá

    “Não é hoje que vamos nos deixar dominar pelo CIMI ou demais ONG. As forças se juntam, então a gente não pode ir para um lado que a gente vê que é contra a gente. No caso esse governo maldito. Esse governo de extrema direita de Jair Bolsonaro. Mas o CIMI sempre elevou os povos indígenas através do direito ao seu território”, Xawâ Pataxó.
    “Não aceitamos essas palavras que ele vem colocando contra nós, contra o CIMI”, cacica Maria Pataxó
    “O CIMI tem um papel histórico aqui no Brasil, no fortalecimento e construção dos direitos dos povos indígenas. Vinculado sim a uma ala da igreja católica, da teologia da libertação. Mas isso não legitima de forma nenhuma que o governo ataque o papel desempenhado pela CIMI esse tempo todo”, Marcelo Bloizi – professor da Universidade Federal da Bahia

    Campanha internacional pelos direitos e territórios indígenas
    O fotografo Sebastião Salgado organizou exposição denunciando os ataques aos direitos dos povos e territórios indígenas. Ao final, foi construído documento denúncia onde seis ex-presidentes da FUNAI denunciam a situação e pedem ação imediata para proteção dos povos indígenas mediante os perigos da pandemia do Covid 19. Uma petição online foi criada. Setores da sociedade brasileira e internacional se uniram na campanha. Até o momento mais de 233 mil pessoas assinaram a petição, dentre eles famosos como o cientista Carlos Nobre, o cantor Caetano Veloso, a modelo Gisele Bündchenm, a atriz americana Meryl Streep, o ator americano Brad Pitt, a cantora Madonna, o cantor Chico Buarque e o príncipe Albert 2º, de Mônaco.

  • Boaventura de Sousa Santos: “Bolsonaro produz genocídio dos povos indígenas”

    Boaventura de Sousa Santos: “Bolsonaro produz genocídio dos povos indígenas”

    Por Bruno Falci  (Jornalistas Livres) e Mariana Mollica – Portal Favelas em parceria com o povo KAMBEBA

     

    O sociólogo e professor português Boaventura de Sousa Santos revela através de gesto ético e surpreendente no Programa “Lugar de Escuta” (assista abaixo), no dia 1º de maio, que assim como o vírus invisível traz à tona a incapacidade do Estado neoliberal de valorizar a dignidade e a sustentabilidade da vida humana, a inaudibilidade da voz da cacique Omagua-Kambeba, porta-voz dos povos indígenas da Amazônia, mostra o genocídio dos índios pelo governo Bolsonaro e a tendência à omissão de grande parte da esquerda brasileira em relação ao extermínio dos povos originários. Diferentemente de povos tradicionais de outros países da América Latina, que encontram mais ressonância e apoio, os povos indígenas brasileiros tem sido praticamente ignorados, inclusive pelos partidos de esquerda.

    O debate promovido pela TV 247, em parceria com os Jornalistas Livres, entre a linguista e cacique Omagua-Kambeba Eronildes Fermun Omagua, mestranda no Museu Nacional/UFRJ, e Boaventura de Sousa Santos, coordenador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, se tornou, em tempo real, um exemplo vivo do que é o processo de descolonização. A presença inaudível e invisível da cacique Kambeba, em função da instabilidade da conexão da internet, que impedia que ela fosse escutada por um público de aproximadamente 4.000 pessoas ao vivo, pedindo socorro para sua aldeia ameaçada de extermínio no interior do Amazonas, não foi, contudo, ocupada pelo ilustre convidado europeu com teorias.

    veja Abaixo:

    O professor Boaventura, que acaba de publicar um livro no Brasil intitulado “A cruel pedagogia do vírus”, nos mostra que de nada adiantaria ele ocupar aquele espaço ausente com conceitos acadêmicos sem que pudéssemos escutar a própria cacique, já que sua voz é insubstituível e que nossa dificuldade de ouvi-la torna sua voz mais forte:

    “Sua inaudibilidade é uma metáfora do que se passa no mundo da invisibilidade dos povos indígenas. Trata-se do descaso e do abandono dos povos indígenas, que Eronildes está a nos relatar. Esta é uma velha questão do governo brasileiro, de não considerar os indígenas urbanizados. Só são indígenas aqueles que vivem em regiões remotas. É a situação das dificuldades em que está Eronilde, que não tem sequer internet. É muito grave também, em Manaus, onde existem 1.255 famílias, indígenas urbanas, cujos meios de vida é vender artesanato nas ruas”.

    Enfatizando que o dia do trabalhador não é apenas o dia das lutas sindicais, mas também da resistência e sobrevivência dos povos que vivem do seu artesanato, Boaventura chega a dizer que não estamos acostumados e nem predispostos a escutar os povos indígenas e quilombolas, assim como os negros e pessoas que vivem nas periferias. Mesmo quando estamos dispostos a ouvi-los, há algo como uma linha abissal que separa visíveis de invisíveis, “como essa experiência está nos mostrando através de uma aula empírica”, há um abismo radical “que nos impede de chegar a eles”.

    Os entrevistadores, então, passam a tentar encontrar novos dispositivos para ouvir Eronildes. Numa tela de WhatsApp filmada pela tela do dispositivo que transmitia o Programa, com o esforço de todos, a conexão falha acaba por fazer parte da transmissão do conhecimento a ser obtido pelos ouvintes; considerar toda a precariedade permite que possamos finalmente escutar seu pedido de socorro: “Tem invasores entrando nas nossas terras, nos ameaçando de morte. Eles estão aproveitando o silêncio da quarentena. Aqui no alto do Solimões, comunidade de Santa Terezinha, Município de São Paulo de Olivença, Amazônia, não tem exames, não tem protocolo, não tem medicina da saúde indígena que chega até nós. Não chega a informação para que os nossos povos não saiam, porque sair e ter contato com outras pessoas pode nos infectar. Além do Coronavírus, estamos morrendo de fome. Vivemos no meio da floresta, mas como fomos dados como índios urbanos, sofremos discriminação. Falo aqui em nome de todos os povos da Amazônia.”

    A cacique pede que escutem a sua dor com uma palavra na língua Kambeba – Asemúyta  – “somos parentes pela dor”. Ela retoma um conhecimento de seus ancestrais, que foi alçado à categoria de conceito apreendido pelos pesquisadores, educadores e lideranças populares no último congresso da ANPED (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação), durante a apresentação da oficina da Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS), no dia 22 de outubro de 2019, na UFF de Niterói. Naquela ocasião, a plenária de cientistas e educadores, que contavam com a presença de Boaventura, interrogavam o que fazer diante do desmonte da Universidade e da Educação brasileira e aprenderam com a sabedoria dos movimentos sociais que a pergunta sobre como transformar medo em esperança pode extrair uma resposta do conhecimento Kambeba primoroso: “cada golpe que sofremos, nos permite um laço de parentesco que nos anima para a luta!” No momento atual de pedido de ajuda, a UPMS lança uma nota em apoio ao povo Kambeba.

    As infecções do Coronavírus estão acontecendo entre os povos indígenas, provocadas por invasores como garimpeiros e criadores de gado, e, principalmente, por missionários de confissões evangélicas que insistem em invadir territórios indígenas em polemicas missões de evangelização e espalham doenças. A saída dos médicos cubanos, 90 por cento dos quais atuavam em áreas periféricas, com pouca infraestrutura, incluindo as populações indígenas e tradicionais, segundo o Conselho Indigenista Missionário, e a chegada da pandemia criam um cenário caótico.

    O professor da Universidade de Coimbra conclui afirmando que a última palavra deve ser da cacique:

    “Quem mais sofre com isso são os povos indígenas, os mais invisibilizados. Eu, neste momento, estou aqui a tentar ser porta voz da Eronilde, que é minha parenta e eu tenho orgulho de estar aqui com ela, com a cacique do povo Kambeba.  É realmente um dia extraordinário, ela nos traz força extraordinária. O contato com ela é uma fonte de vida. Estou aqui a esperar por ela para que ouçam o que ela tem a dizer”.

    “Em nome dos indígenas do Brasil e da Amazonia Legal”, a cacique Kambema nos pede ajuda: “Queremos uma solução imediata. Pedimos às autoridades do Ministério Público Federal, que dê resposta aos documentos sobre a nossa educação diferenciada que foi retirada pelo poder municipal, protocolados pelo nosso povo desde 2017, ainda hoje sem resposta, o que deixou o povo Kambeba vulnerável diante dos ataques dos invasores, que estão nos perseguindo e nos ameaçando de morte. Pedimos que o DSEI do Alto Solimões faça o cadastro do nosso povo, que na nossa língua  era chamada AKARIWAZAU. Com a chegada da igreja católica trocaram o nome sem nos consultar e atualmente se chama “Santa Terezinha”. Quando pedimos ajuda à CTL que representa a FUNAI de São Paulo de Olivença, o coordenador fala não poder resolver nada. Estamos atualmente sem direitos sociais. Diante da situação de pandemia pdeios apoio para que cobrem das autoridades nossos direitos e para agilizar com urgência cestas básicas e material de higiene e limpeza. Nós temos direitos à  saúde, à informação e a educação. Pedimos a demarcação urgente das nossas terras Tuyuka Omagua Kambeba que estão sem providências no setor Reginal e Federal da FUNAI. Quero agradecer a todos vocês que estão nos ouvindo, à UPMS, aos jornalistas livres, ao 247, ao Boaventura que me ouve lá de Portugal e a todos que possam nos ouvir: somos raízes dos nossos ancestrais, que enfrentaram todo tipo de doença e que resistem há mais de 500 anos. Nós vamos sofrer, mas vamos seguir em frente. Direto do Amazonas, avante parentes, Assemúyta!”.

    Clique aqui e apoie o povo Kambeba através de uma vaquinha que será recebida pela cacique Eronildes, faça a sua parte para a sobrevivência dos povos indígenas brasileiros.

     

    Via Brasil 247

     

  • Em meio à pandemia, STF suspende reintegração de posse em terras indígenas

    Em meio à pandemia, STF suspende reintegração de posse em terras indígenas

    Todos os processos e recursos judiciais de reintegração de posse e de anulação de demarcação de territórios indígenas em tramitação no Brasil foram suspensos pelo Superior Tribunal Federal, na noite desta quarta-feira (6).

    O ministro Edson Fachin, considerou que os indígenas, secularmente, são vítimas  de doenças que já dizimaram etnias inteiras,  e que reintegrações de posse, poderiam piorar a já grave situação dos povos indígenas, no cenário sombrio trazido pela covid-19.

    “[Eles] podem se ver, repentinamente, aglomerados em beiras de rodovias, desassistidos e sem condições mínimas de higiene e isolamento para minimizar os riscos de contágio pelo coronavírus.” (Edson Fachin)

    Sônia Guajajara, coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), e candidata na chapa à Presidência da República com Guilherme Boulos pelo PSOL, comemorou nas redes sociais a decisão do STF.

  • Herch Moysés Nussenzveig: Impeachment já para o genocida

    Herch Moysés Nussenzveig: Impeachment já para o genocida

    Nesta terça-feira (5/5), um dos mais destacados cientistas brasileiros publicou na “Folha de S.Paulo” um artigo contundente a respeito do desgoverno atual do País, exigindo a saída imediata e o impeachment de Bolsonaro. Nele, o pesquisador alinha os crimes do monstro que ocupa a Presidência, para concluir que já basta do genocida, basta do obscurantismo. Precisamos de luz. E disso o professor Herch Moysés Nussenzveig entende.

    Moysés Nussenzveig era diretor do Instituto de Física da USP, quando estudei lá. Um homem das luzes, literal e figurativamente, ele fez do arco-íris e da aura seus principais focos de estudo. E destacou-se por isso. Em 1986, recebeu o Prêmio Max Born, outorgado pela Optical Society of America a cientistas que contribuíram de forma decisiva para o estudo da óptica.

    O professor Moysés Nussenzveig foi além e preocupou-se também com a divulgação científica. Foi um entusiasta da coleção “Os Cientistas”, idealizada pelo seu colega, o professor Isaias Raw, que quinzenalmente colocava nas bancas de revistas de todo o Brasil uma caixinha de isopor contendo a biografia de um grande cientista e alguns insumos básicos para montar o aparelho ou o experimento que notabilizou o pesquisador homenageado. Era sensacional. Gerações de cientistas atuais construíram seu primeiro microscópio com a coleção “Os Cientistas”.

    Hoje se vê como a divulgação científica é necessária. A falta dela é em grande medida responsável pelo surto fundamentalista e anti-científico que assola o País, começando por Bolsonaro e seus seguidores terraplanistas, olavetes, fanáticos religiosos e negacionistas do aquecimento global e da letalidade do novo coronavírus. A seguir o texto desse grande físico, que honra a memória de homens como Galileu Galilei (1564-1642), afrontando com a verdade a ousadia dos carrascos. “Eppur si muove” (“contudo, ela se move”) teria dito Galileu, ao sair do tribunal do Santo Ofício, referindo-se à Terra. Sim, ela se movia em torno do Sol. Não estava fixa no centro do Universo com os corpos celestes, inclusive o Sol, girando ao seu redor, como queria a Igreja Católica.

    Que tempos são esses em que temos de lutar para fazer valer conhecimentos adquiridos há quase 400 anos?

    São tempos de luta.

     

     

     

    Moysés Nussenzveig
    Moysés Nussenzveig

    Por Herch Moysés Nussenzveig

    Um editorial do Washington Post de 14 de abril discutiu a conduta de governantes de todo o mundo na pandemia de Covid-19. Jair Bolsonaro foi eleito de longe o maior malfeitor, por “colocar em risco” toda a população do Brasil. O jornal compara os índices de aprovação do ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta com os de Jair, um caso claro de ciúme.

    No dia seguinte, Mandetta foi demitido. Já a demissão de Sergio Moro teve outro motivo. Jair manifestara “preocupação com inquéritos em curso no STF”. Justifica-se o pavor: ele participou de atos de incentivo a um novo AI-5 e de ataques ao Congresso e ao STF. Quer “ter um delegado que eu possa interagir com ele” (sic), recebendo relatórios diários. Emula o Grande Irmão de “1984”.

    Eleito deputado federal, Bolsonaro passou 27 anos como membro obscuro do baixíssimo clero. Ao votar para o impeachment de Dilma, homenageou o torturador-mor Ustra como “herói nacional”. Nos vídeos da campanha eleitoral simulava empunhar dois revólveres. Como Dom Corleone, tem capangas e exige obediência absoluta. Acabou eleito presidente pelo voto contra o PT.

    Em 14 de março de 2018, Marielle Franco foi assassinada. O carro utilizado pelos matadores era guiado pelo ex-PM Élcio Queiroz, que entrou no condomínio onde residem Jair e o filho Carlos pedindo que o porteiro ligasse para “Seu Jair”. Em vídeo gravado à noite, no exterior, Jair, visivelmente apavorado, deu um álibi: estava em Brasília quando do atentado. Não é preciso ser Sherlock Holmes para suspeitar de Jair e dos filhos como cúmplices ou mandantes (ainda não identificados).

    O racismo de Bolsonaro é patente. Em palestra, atacou os quilombolas, dizendo: “Nem para procriar servem mais”. Insultou os indígenas ao afirmar que “são homens como nós”. Como quem, Jair? Parafraseando Primo Levi, “é isto um homem?”. Em relação às mulheres, disse à deputada Maria do Rosário (PT-RS): “Não te estupro porque você não merece”. Invasões a terras indígenas e estímulos para explorá-las dispararam. Também cresce o número de índios assassinados.

    As afinidades com Hitler e o nazismo afloraram quando nomeou Roberto Alvim secretário da Cultura. Em 18 de janeiro, este divulgou um vídeo repetindo frases de Goebbels, de 1933, ao som de Wagner. A repercussão mundial levou à demissão do secretário. Visitando o Chile, Bolsonaro ofendeu o povo chileno ao elogiar o ditador Pinochet.

    Além de vítimas atuais e futuras da pandemia, e das citadas acima, quantas mortes Bolsonaro provocou e virá a provocar? Quantos morrerão nas estradas pelo afrouxamento de regras do trânsito? Quantos bebês vitimará flexibilizando o uso das cadeirinhas?

    Ao estimular o desflorestamento e não combater as queimadas na Amazônia, fomenta o aquecimento em todo o planeta. Jair é o vilão-mor do meio ambiente, com sérios prejuízos à imagem do nosso país.

    Eu acuso Jair Messias Bolsonaro de violações do Código Penal e perjúrio, atentando quase diariamente contra a Constituição que jurou defender! Acuso Jair Messias Bolsonaro de genocídio premeditado! São crimes de responsabilidade, justificando o seu impeachment.

    Já foram encaminhados ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), muitos pedidos de impeachment. Ele foi instado pelo STF a manifestar-se sobre a abertura do processo. Pelo bem de sua biografia e cumprimento da vontade do povo brasileiro expressa nesta época de isolamento, através de panelaços em todas as capitais do país, faço votos de que ele atenda prontamente a essa vontade.

    Fora, Bolsonaro. Impeachment já!

  • Líder Kaingang é agredido violentamente em sua terra no interior de São Paulo

    Líder Kaingang é agredido violentamente em sua terra no interior de São Paulo

    A Rede de Museologia de São Paulo divulgou nota pública em que repudia e denuncia ato de violência praticado contra Zeca Kaingang, da Terra Indígena Vanuíre, em Arco-Íris, São Paulo. Ela tem se mobilizado para tornar público o caso e que o agressor seja identificado e punido.
    A agressão provocou lesões e traumatismos profundos pcomo resultado do ato violento  Kaingang foi  internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) da Santa Casa de Tupã. O ataque aconteceu entre os dias 4 e 5 de abril e ainda não se sabe o que motivou a agressão.

    Rede SP de Memória e Museologia Social também mobilizou grupos e instituições da Museologia Social, nacional e internacional, em uma rede de apoio formada por militantes, ativistas, pesquisadores, estudiosos e colaboradores da causa indígena que têm acompanhado os desdobramentos junto aos movimentos sociais e de direitos humanos. Além disso foi acionado o Conselho Estadual de Direitos Humanos para acompanhar o caso.
    O Movimento Internacional para uma Nova Museologia (MINOM) emitiu nota em repúdio ao atentado cometido contra Zeca Kaingang, ressaltando que “cada vida humana importa, e a vida de um homem que preserva em seu corpo e em seu viver a integralidade da cultura de seu povo merece nosso respeito e proteção. Neste momento em que um valoroso Kaingang mais uma vez resiste e luta pela vida, na UTI da Santa Casa de Tupã, manifestamos nossa solidariedade ao Zeca, à sua família e a todos os que lutam pela existência Kaingang.
    Juntando nosso grito aos que exigem justiça e reparação. Fortalecemos a rede de apoio e solidariedade ao Zeca e demais Kaingangs, para que a paz e o entendimento possam prevalecer na Terra Indígena Vanuíre. Não permitiremos que o silêncio e a invisibilidade estejam, mais uma vez, a serviço do apagamento da memória e da existência de um povo.
    Sangue indígena: Nenhuma gota mais!”

    Quem é

    Filho de Ena e neto de Candire Kaingang, Zeca é herdeiro e continuador da cultura Kaingang, preservada por mulheres gloriosas de uma estirpe que lutou bravamente pela preservação da Terra Indígena Vanuíre. Candire, sua avó, atravessou o século XX como uma brava guardiã das tradições de um povo da terra-mãe estendida sobre o que hoje é o oeste e centro-oeste paulista.
    Quando menina, em 1912, Candire foi testemunha resistente dos violentos processos de expropriação de terras que entraram para a história oficial como a ‘pacificação’ Kaingang. Com coragem, ela educou seus descendentes nas profundas tradições de seu povo: a língua, a dança, os cânticos, a alimentação, a agricultura, os segredos da mata e das ervas e a arte cerâmica, assim como a espiritualidade que sustenta a existência de seu povo.
    Honrando sua ancestralidade, Zeca dá continuidade a esse legado imprescindível não apenas ao povo Kaingang mas à humanidade, que só se constitui no respeito à diversidade cultural.

  • Estreia a série “Vozes da Floresta”

    Estreia a série “Vozes da Floresta”

    “Vamos ver como que a gente vai seguir daqui pra frente com o ataque contra a floresta e contra o povo da floresta.”

    Está no ar o primeiro episódio da série “Vozes Da Floresta – A Aliança dos Povos da Floresta de Chico Mendes a Nossos Dias” com Ailton Krenak. Nesta entrevista ele fala sobre a ideia da Aliança para os dias de hoje, o que é ser índio no Brasil, a ideia de resgate e identidade, a importância da memória, o modo de gestão territorial indígena, a relação dos movimentos sociais com a política institucional e as contradições e desafios que o atual momento histórico coloca a todos os brasileiros.

    Assista e compartilhe https://youtu.be/KRTJIh1os4w

    “Vozes Da Floresta – A Aliança dos Povos da Floresta de Chico Mendes a Nossos Dias” é uma série composta por entrevistas com lideranças indígenas, extrativistas e militantes refletindo sobre as lutas pela preservação das florestas e dos direitos dos povos que a habitam, lembrando o passado e o presente desta poderosa articulação entre indígenas e seringueiros.

    Conheceremos momentos importantes dessa história, que teve entre suas lideranças Chico Mendes, seringueiro que conseguiu projeção internacional nos anos 1980 discutindo a questão da preservação das florestas brasileiras, e que por sua luta foi covardemente assassinado a mando de fazendeiros em 1988.

    A Aliança dos Povos da Floresta surgiu em meados dos anos 1980, quando algumas das mais importantes lideranças dos povos indígenas e seringueiros do Brasil se uniram para reivindicar demarcações de territórios e a criação de reservas extrativistas. Era o momento de abertura democrática e a assembleia constituinte começava seus trabalhos. O encontro e a pressão destas lideranças foi fundamental para a inclusão na constituição de direitos em defesa dos povos indígenas e proteção do meio ambiente.

    Ao longo de seis semanas faremos uma reflexão sobre os legados da Aliança dos Povos da Floresta para o meio ambiente, os erros e acertos das lutas nos anos 1990 e 2000 e a retomada da Aliança nos dias de hoje, quando vivemos um processo acelerado de destruição das florestas e seus povos, com o incentivo do atual Governo Federal.

    O primeiro episódio é com Ailton Krenak que discutirá a ideia da Aliança para os dias de hoje, o que é ser índio no Brasil, a ideia de resgate e identidade, a importância da memória, o modo de gestão territorial indígena, a relação dos movimentos sociais com a política institucional e as contradições e desafios que o atual momento histórico coloca a todos os brasileiros.

    A série foi filmada no Acre, São Paulo, Brasília e Minas Gerais, conversando com mais de 20 entrevistados. Destas filmagens resultarão 12 video-reportagens que serão exibidas as terças e quintas-feiras no canal do Le Monde Diplomatique posteriormente um webdoc que será lançado no segundo semestre. Este material é parte do documentário “Não verás país nenhum”, que será lançado no início do próximo ano.

    Dirigida e roteirizada pelo cineasta e jornalista Thiago B. Mendonça, autor de diversos filmes premiados entre ficções e documentários como “Jovens Infelizes” (2016), “Entremundo” (2015), “Procura-se Irenice” (2015), “A guerra dos gibis” (2013) e “Piove, il film di Pio” (2012), a série foi produzida com o apoio do Rainforest Journalism Fund, em associação com o Centro Pulitzer. A produção é da Memória Viva, em parceria com o Le Monde Diplomatique e tem o apoio da InfoAmazonia e da Saci Filmes do Acre.