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  • Familiares de mortos e desaparecidos poderão retificar registro de óbito de seus entes amados

    Familiares de mortos e desaparecidos poderão retificar registro de óbito de seus entes amados

    Em dezembro de 2014, a Comissão Nacional da Verdade reconheceu 434 mortes durante a ditadura  entre os anos de 1946 e 1988. Entre eles, 210 estão desaparecidos. (A lista está abaixo)

    O número pode ser muito maior se considerado os indígenas e camponeses mortos em “operações” de militares na época, uma dívida histórica ainda não calculada.

    Apesar de toda dor dos familiares que perderam seus entes pelas mãos assassinas do Estado brasileiro, a tortura a que foram submetidos se perpetua seja pela impunidade dos agentes que praticaram a tortura e o desaparecimento de muitos corpos, seja pela dificuldade de lavrar  um simples atestado de óbito.

    Foram mais de 20 anos de espera até que Lei 9.140/95 permitisse que familiares de desaparecidos pudessem requerer os registros de óbito, o que facilitava a vida oficial/burocrática de esposas e filhos.

    Mas foi um alívio momentâneo na vida daqueles que buscam há anos por reparação e justiça. Os termos lavrados nos documentos não refletiam a causa das mortes, usavam termos não convencionais e não passavam de um papel carente de sentido para os familiares de mortos e desaparecidos políticos.

    Agora, mais de meio século depois do começo da história, o Ministério dos Direitos Humanos, através da Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), soltou uma resolução que permite a retificação destes assentos de óbito. (Confira na integra logo abaixo).

    Segundo Amélia Teles, ex-presa política e uma referência para as famílias de mortos e desaparecidos na luta pelo reconhecimento dos crimes do Estado durante a ditadura, a resolução é um passo importante, “mas que não resolve o nosso problema que é a busca por verdade. É um avanço, mas uma pena que não venha acompanhado da abertura dos arquivos militares”.

    Em casos, por exemplo, como de Fernando Santa Cruz (estudante desaparecido em março de 1974) e David Capistrano, avô dessa que reporta, dirigente do Partido Comunista Brasileiro e deputado estadual de Pernambuco, em que a Comissão Nacional da Verdade não chegou a uma conclusão sobre as circunstancias dos assassinatos, para que haja a retificação, há necessidade de consenso de todos os familiares para que seja “escolhida” uma versão para a causa mortis que constará no documento.

    Rosalina Santa Cruz, irmã de Fernando, diz que não conversou ainda com seus familiares, e que existem três versões para a morte do estudante. Seu corpo poderia ter sido enterrado clandestinamente no Cemitério de Perus, por exemplo, ou ter sido incinerado em uma usina de açúcar depois de passar por tortura na Casa da Morte, em Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro.

    Mais uma vez a conquista cobrará um preço dos familiares e para seus algozes (no fim e a cabo, o próprio Estado) nem uma consequencia. Para que as retificações dos atestado de óbitos sejam feitas, o Estado terá que ser provocado pelos familiares. “O ideal seria que o Estado nos entregassem os documentos em que estivesse morreu no dia tal, na hora tal, depois de tortura ou um tiro”, lamenta Amelinha.

    Documentos serão entregues, baús de sofrimentos serão remexidos. E o encontro com a verdade, a reparação e a justiça para muitos ainda estará por vir.


    Ministério dos Direitos Humanos

    COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESPARECIDOS POLÍTICOS

    RESOLUÇÃO Nº 2, DE 29 DE NOVEMBRO DE 2017

    Estabelece o procedimento para emissão de atestados para fins de retificação de assentos de óbito das pessoas reconhecidas como mortas ou desaparecidas políticas, nos termos da Lei nº 9.140, de 4 de dezembro de 1995, e da Lei nº 12.528, de 18 de novembro de 2011.

     

    A COMISSÃO ESPECIAL SOBRE MORTOS E DESAPARECIDOS POLÍTICOS (CEMDP), no uso das atribuições que lhe confere o artigo 4º, da Lei nº 9.140, de 4 de dezembro de 1995, reunida em sua 75ª Reunião Ordinária,

    CONSIDERANDO que, nos termos do art. 7º, § 2º, da Lei nº

    9.140, de 4 de dezembro de 1995, os pedidos de assentos de óbito de pessoas mortas ou desaparecidas no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial de 1964 a 1985 podem ser instruídos com os deferimentos da CEMDP de requerimentos de seus familiares; resolve:

     

    Art. 1º Estabelecer procedimento para emissão de atestados para fins de retificação das anotações da causa e outras circunstâncias de morte nos assentos de óbito das pessoas reconhecidas como mortas ou desaparecidas políticas, nos termos da Lei nº 9.140, de 4 de dezembro de 1995 e da Lei nº 12.528, de 18 de novembro de 2011 – doravante denominadas “mortos e desaparecidos políticos”-, conforme disposto na presente Resolução.

     

    Art. 2º A CEMDP emitirá os atestados de óbito de mortos e

    desaparecidos políticos, de maneira individualizada, após consulta aos familiares respectivos – doravante denominados “familiar(es)”-, sobre seu interesse em proceder à correção dos assentos de óbito.

    Parágrafo único. A presente medida é adotada em cumprimento à Recomendação n. 07, da Comissão Nacional da Verdade CNV), instituída pela Lei nº 12.528, de 2011, e em consonância com o disposto na Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973, a Lei de Registros Públicos (LRP).

     

    Art. 3º A CEMDP consultará o(s) familiar(es), sobre seu in-

    teresse em proceder à correção dos assentos de óbitos, mediante comunicados enviados individualmente, por via digital ou postal, e coletivamente, mediante ampla divulgação, por qualquer meio disponível, via internet e pela imprensa.

    Parágrafo único. Fica criado o endereço eletrônico cemdp.certidao@mdh.gov.br exclusivamente para receber os pedidos de providências para correção de assentos de óbito.

     

    Art. 4º O(s) familiar(es) que tiver(em) interesse na retificação

    deve(m) enviar o pedido respectivo ao endereço eletrônico acima citado, bem como cópia da certidão de óbito, cujo assento deva ser corrigido.

     

    Art. 5º Cada pedido de retificação será autuado como procedimento administrativo no sistema SEI do Ministério dos Direitos Humanos (MDH) no âmbito do qual será emitida uma minuta de atestado, que, por sua vez, será submetida ao(s) familiar(es) interessado(s), em resposta pelo mesmo endereço eletrônico.

    • 1º Os atestados emitidos para fins de retificação de assentos de óbito devem indicar as circunstâncias da morte ou desaparecimento de mortos ou desaparecidos políticos, com base nos procedimentos administrativos da CEMDP e no Volume III do Relatório da CNV.

     

    • 2º Em caso de versões conflitantes entre as fontes acima citadas, prevalecerá a constante do Relatório da CNV, a menos que as circunstâncias apontadas pela CEMDP constituam fato novo apurado após o encerramento dos trabalhos da CNV, em dezembro de 2014.

     

    • 3º O atestado será assinado pela presidência da CEMDP e

    conterá, nos termos do art. 81, da Lei nº 6.015, de 1973 (LRP), com a maior especificidade possível, as circunstâncias da morte, tais como hora, data, local, e que a morte não foi natural, mas violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial de 1964 a 1985.

     

    • 4º Como nome dos atestantes, conforme exigido pelo mesmo artigo da Lei nº 6.015, de 1973 (LRP), deverá constar dos assentos respectivos: “Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos”, com a indicação das páginas do Relatório da CNV ou do procedimento administrativo da CEMDP, de onde as afirmações foram extraídas.

     

    Art. 6º Após a definição do texto final de cada atestado em

    conjunto com o(s) familiar(es) respectivo(s), este(s) deverá(ão) assinar a petição de que trata o art. 111, da Lei nº 6.015, de 1973 (LRP), e a CEMDP providenciará a retificação administrativa junto ao cartório e juízo de registros públicos onde a certidão original tiver sido emitida.

     

    Art. 7º A CEMDP envidará esforços para que o Conselho Na-

    cional de Justiça (CNJ) e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) enviem comunicados aos juízos e  promotorias com atuação junto a cartórios de registros públicos para que determinem que as correções referidas nessa Resolução, sejam feitas de maneira célere e sem

    obstáculos burocráticos, considerada a sua natureza de reparação moral.

     

    Art. 8º De posse da certidão devidamente corrigida, a CEMDP

    providenciará a sua entrega ao(s) familiar(es) respectivo(s), se possível, pessoalmente, em cerimônia previamente agendada.

     

    Art. 9º Esta Resolução entra em vigor na data da sua publicação.

     

    EUGÊNIA AUGUSTA GONZAGA


    LISTA DE MORTOS E DESAPARECIDOS DA DITADURA BRASILEIRA

    Abelardo Rausch de Alcântara

    Abílio Clemente Filho

    Adauto Freire da Cruz

    Aderval Alves Coqueiro

    Adriano Fonseca Filho

    Afonso Henrique Martins Saldanha

    Aides Dias de Carvalho

    Albertino José de Farias

    Alberto Aleixo

    Alceri Maria Gomes da Silva

    Aldo de Sá Brito Souza Neto

    Alex de Paula Xavier Pereira

    Alexander José Ibsen Voerões

    Alexandre Vannucchi Leme

    Alfeu de Alcântara Monteiro

    Almir Custódio de Lima

    Aluísio Palhano Pedreira Ferreira

    Alvino Ferreira Felipe

    Amaro Felix Pereira

    Amaro Luiz de Carvalho

    Ana Maria Nacinovic Corrêa

    Ana Rosa Kucinski Silva

    Anatália de Souza Melo Alves

    André Grabois

    Angelina Gonçalves

    Ângelo Arroyo

    Ângelo Cardoso da Silva

    Ângelo Pezzuti da Silva

    Antogildo Pascoal Viana

    Antônio Alfredo de Lima

    Antônio Bem Cardoso

    Antônio Benetazzo

    Antônio Carlos Bicalho Lana

    Antônio Carlos Monteiro Teixeira

    Antônio Carlos Nogueira Cabral

    Antônio Carlos Silveira Alves

    Antônio de Araújo Veloso

    Antônio de Pádua Costa

    Antônio dos Três Reis de Oliveira

    Antonio Ferreira Pinto

    Antonio Graciani

    Antônio Guilherme Ribeiro Ribas

    Antônio Henrique Pereira Neto

    Antônio Joaquim de Souza Machado

    Antônio José dos Reis

    Antonio Luciano Pregoni

    Antônio Marcos Pinto de Oliveira

    Antônio Raymundo de Lucena

    Antônio Sérgio de Mattos

    Antônio Teodoro de Castro

    Ari da Rocha Miranda

    Ari de Oliveira Mendes Cunha

    Ari Lopes de Macêdo

    Arildo Valadão

    Armando Teixeira Fructuoso

    Arnaldo Cardoso Rocha

    Arno Preis

    Ary Abreu Lima da Rosa

    Ary Cabrera Prates

    Augusto Soares da Cunha

    Aurea Eliza Pereira

    Aurora Maria Nascimento Furtado

    Avelmar Moreira de Barros

    Aylton Adalberto Mortati

    Batista (desaparecido político)

    Benedito Gonçalves

    Benedito Pereira Serra

    Bergson Gurjão Farias

    Bernardino Saraiva

    Boanerges de Souza Massa

    Caiupy Alves de Castro

    Carlos Alberto Soares de Freitas

    Carlos Eduardo Pires Fleury

    Carlos Lamarca

    Carlos Marighella

    Carlos Nicolau Danielli

    Carlos Roberto Zanirato

    Carlos Schirmer

    Carmem Jacomini

    Cassimiro Luiz de Freitas

    Catarina Helena Abi-Eçab

    Célio Augusto Guedes

    Celso Gilberto de Oliveira

    Chael Charles Schreier

    Cilon Cunha Brun

    Ciro Flávio Salazar de Oliveira

    Cloves Dias de Amorim

    Custódio Saraiva Neto

    Daniel José de Carvalho

    Daniel Ribeiro Callado

    Darcy José dos Santos Mariante

    David Capistrano da Costa

    David de Souza Meira

    Dênis Casemiro

    Dermeval da Silva Pereira

    Devanir José de Carvalho

    Dilermano Mello do Nascimento

    Dimas Antônio Casemiro

    Dinaelza Santana Coqueiro

    Dinalva Oliveira Teixeira

    Divino Ferreira de Souza

    Divo Fernandes d’Oliveira

    Djalma Carvalho Maranhão

    Dorival Ferreira

    Durvalino de Souza

    Edgar de Aquino Duarte

    Edmur Péricles Camargo

    Edson Luiz Lima Souto

    Edson Neves Quaresma

    Edu Barreto Leite

    Eduardo Antônio da Fonseca

    Eduardo Collen Leite

    Eduardo Collier Filho

    Eiraldo de Palha Freire

    Eliane Martins

    Elmo Corrêa

    Elson Costa

    Elvaristo Alves da Silva

    Emmanuel Bezerra dos Santos

    Enrique Ernesto Ruggia

    Epaminondas Gomes de Oliveira

    Eremias Delizoicov

    Eudaldo Gomes da Silva

    Evaldo Luiz Ferreira de Souza

    Ezequias Bezerra da Rocha

    Feliciano Eugênio Neto

    Félix Escobar Sobrinho

    Fernando Augusto da Fonseca

    Fernando Borges de Paula Ferreira

    Fernando da Silva Lembo

    Fernando Santa Cruz

    Flávio Carvalho Molina

    Francisco das Chagas Pereira

    Francisco Emanuel Penteado

    Francisco José de Oliveira

    Francisco Manoel Chaves

    Francisco Seiko Okama

    Francisco Tenório Júnior

    Frederico Eduardo Mayr

    Gastone Lúcia Carvalho Beltrão

    Gelson Reicher

    Geraldo Bernardo da Silva

    Geraldo da Rocha Gualberto

    Gerardo Magela Fernandes Torres da Costa

    Gerosina Silva Pereira

    Gerson Theodoro de Oliveira

    Getulio de Oliveira Cabral

    Gilberto Olímpio Maria

    Gildo Macedo Lacerda

    Gilson Miranda

    Grenaldo de Jesus da Silva

    Guido Leão

    Guilherme Gomes Lund

    Gustavo Buarque Schiller

    Hamilton Fernando da Cunha

    Hamilton Pereira Damasceno

    Helber José Gomes Goulart

    Hélcio Pereira Fortes

    Helenira Rezende de Souza Nazareth

    Heleny Teles Ferreira Guariba

    Hélio Luiz Navarro de Magalhães

    Henrique Cintra Ferreira Ornellas

    Higino João Pio

    Hiram de Lima Pereira

    Hiroaki Torigoe

    Honestino Monteiro Guimarães

    Horacio Domingo Campiglia

    Iara Iavelberg

    Idalísio Soares Aranha Filho

    Ieda Santos Delgado

    Iguatemi Zuchi Teixeira

    Inocêncio Pereira Alves

    Íris Amaral

    Ishiro Nagami

    Ísis Dias de Oliveira

    Ismael Silva de Jesus

    Israel Tavares Roque

    Issami Nakamura Okano

    Itair José Veloso

    Iuri Xavier Pereira

    Ivan Mota Dias

    Ivan Rocha Aguiar

    Jaime Petit da Silva

    James Allen da Luz

    Jana Moroni Barroso

    Jane Vanini

    Jarbas Pereira Marques

    Jayme Amorim Miranda

    Jean Henri Raya

    Jeová Assis Gomes

    João Alfredo Dias

    João Antônio Santos Abi-Eçab

    João Barcellos Martins

    João Batista Franco Drummond

    João Batista Rita

    João Bosco Penido Burnier

    João Carlos Cavalcanti Reis

    João Carlos Haas Sobrinho

    João de Carvalho Barros

    João Domingues da Silva

    João Gualberto Calatrone

    João Leonardo da Silva Rocha

    João Lucas Alves

    João Massena Melo

    João Mendes Araújo

    João Pedro Teixeira

    João Roberto Borges de Souza

    Joaquim Alencar de Seixas

    Joaquim Câmara Ferreira

    Joaquim Pires Cerveira

    Joaquinzão

    Joel José de Carvalho

    Joel Vasconcelos Santos

    Joelson Crispim

    Jonas José de Albuquerque Barros

    Jorge Alberto Basso

    Jorge Aprígio de Paula

    Jorge Leal Gonçalves Pereira

    Jorge Oscar Adur

    José Bartolomeu Rodrigues de Souza

    José Campos Barreto

    José Carlos da Costa

    José Carlos Novaes da Mata Machado

    José Dalmo Guimarães Lins

    José de Oliveira

    José de Souza

    José Ferreira de Almeida

    José Gomes Teixeira

    José Guimarães

    José Humberto Bronca

    José Idésio Brianezi

    José Inocêncio Barreto

    José Isabel do Nascimento

    José Jobim

    José Júlio de Araújo

    José Lavecchia

    José Lima Piauhy Dourado

    José Manoel da Silva

    José Maria Ferreira Araújo

    José Maurílio Patrício

    José Maximino de Andrade Netto

    José Mendes de Sá Roriz

    José Milton Barbosa

    José Montenegro de Lima

    José Nobre Parente

    José Porfírio de Souza

    José Raimundo da Costa

    José Roberto Arantes de Almeida

    José Roberto Spiegner

    José Roman

    José Sabino

    José Silton Pinheiro

    José Soares dos Santos

    José Toledo de Oliveira

    José Wilson Lessa Sabbag

    Juan Antonio Carrasco Forrastal

    Juares Guimarães de Brito

    Juarez Rodrigues Coelho

    Juvelino Andrés Carneiro da Fontoura Gularte

    Kleber Lemos da Silva

    Labibe Elias Abduch

    Lauriberto José Reyes

    Leopoldo Chiapetti

    Líbero Giancarlo Castiglia

    Lígia Maria Salgado Nóbrega

    Lincoln Bicalho Roque

    Lincoln Cordeiro Oest

    Lorenzo Ismael Viñas

    Lourdes Maria Wanderley Pontes

    Lourenço Camelo de Mesquita

    Lourival Moura Paulino

    Lúcia Maria de Souza

    Lucimar Brandão Guimarães

    Lucindo Costa

    Lúcio Petit da Silva

    Luís Alberto Andrade de Sá e Benevides

    Luisa Augusta Garlippe

    Luiz Affonso Miranda da Costa Rodrigues

    Luiz Almeida Araújo

    Luiz Antônio Santa Bárbara

    Luiz Carlos Augusto

    Luiz Carlos Almeida

    Luiz Eduardo da Rocha Merlino

    Luiz Eurico Tejera Lisbôa

    Luiz Fogaça Balboni

    Luiz Ghilardini

    Luiz Gonzaga dos Santos

    Luiz Hirata

    Luiz Ignácio Maranhão Filho

    Luiz José da Cunha

    Luiz Paulo da Cruz Nunes

    Luiz Renato do Lago Faria

    Luiz Renato Pires de Almeida

    Luiz René Silveira e Silva

    Luiz Vieira

    Luiza Garlippe

    Lyda Monteiro da Silva

    Manoel Aleixo da Silva

    Manoel Alves de Oliveira

    Manoel Custódio Martins

    Manoel Fiel Filho

    Manoel José Nunes Mendes de Abreu

    Manoel José Nurchis

    Manoel Lisboa de Moura

    Manoel Raimundo Soares

    Manoel Rodrigues Ferreira

    Márcio Beck Machado

    Marco Antônio Brás de Carvalho

    Marco Antônio da Silva Lima

    Marco Antônio Dias Baptista

    Marcos José de Lima

    Marcos Nonato da Fonseca

    Margarida Maria Alves

    Maria Ângela Ribeiro

    Maria Augusta Thomaz

    Maria Auxiliadora Lara Barcelos

    Maria Célia Corrêa

    Maria Lúcia Petit da Silva

    Maria Regina Lobo Leite de Figueiredo

    Maria Regina Marcondes Pinto

    Mariano Joaquim da Silva

    Marilena Villas Boas

    Mário Alves de Souza Vieira

    Mário de Souza Prata

    Massafumi Yoshinaga

    Maurício Grabois

    Maurício Guilherme da Silveira

    Merival Araújo

    Miguel Pereira dos Santos

    Miguel Sabat Nuet

    Milton Soares de Castro

    Míriam Lopes Verbena

    Napoleão Felipe Biscaldi

    Neide Alves dos Santos

    Nelson José de Almeida

    Nelson Lima Piauhy Dourado

    Nelson de Souza Kohl

    Nestor Vera

    Newton Eduardo de Oliveira

    Nilda Carvalho Cunha

    Nilton Rosa da Silva (Bonito)

    Norberto Armando Habeger

    Norberto Nehring

     

    Odijas Carvalho de Souza

    Olavo Hanssen

    Onofre Ilha Dornelles

    Onofre Pinto

    Orlando da Silva Rosa Bonfim Júnior

    Orlando Momente

    Ornalino Cândido da Silva

    Orocílio Martins Gonçalves

    Osvaldo Orlando da Costa

    Otávio Soares Ferreira da Cunha

    Otoniel Campo Barreto

    Paschoal Souza Lima

    Pauline Reichstul

    Paulo César Botelho Massa

    Paulo Costa Ribeiro Bastos

    Paulo de Tarso Celestino

    Paulo Guerra Tavares

    Paulo Mendes Rodrigues

    Paulo Roberto Pereira Marques

    Paulo Stuart Wright

    Paulo Torres Gonçalves

    Pedro Alexandrino de Oliveira Filho

    Pedro Carretel

    Pedro Domiense de Oliveira

    Pedro Inácio de Araújo

    Pedro Jerônimo de Souza

    Pedro Ventura Felipe de Araújo Pomar

    Péricles Gusmão Régis

    Raimundo Eduardo da Silva

    Raimundo Ferreira Lima

    Raimundo Gonçalves Figueiredo

    Raimundo Nonato Paz

    Ramires Maranhão do Vale

    Ranúsia Alves Rodrigues

    Raul Amaro Nin Ferreira

    Reinaldo Silveira Pimenta

    Roberto Cietto

    Roberto Macarini

    Roberto Rascardo Rodrigues

    Rodolfo de Carvalho Troiano

    Ronaldo Mouth Queiroz

    Rosalindo Souza

    Rubens Beyrodt Paiva

    Rui Osvaldo Aguiar Pfützenreuter

    Ruy Carlos Vieira Berbert

    Ruy Frazão Soares

    Santo Dias da Silva

    Sebastião Gomes dos Santos

    Sebastião Tomé da Silva

    Sérgio Roberto Corrêa

    Sérgio Landulfo Furtado

    Severino Elias de Mello

    Severino Viana Colou

    Sidney Fix Marques dos Santos

    Silvano Soares dos Santos

    Solange Lourenço Gomes

    Soledad Barret Viedma

    Sônia Maria Lopes de Moraes Angel Jones

    Stuart Edgart Angel Jones

    Suely Yumiko Kanayama

    Telma Regina Cordeiro Corrêa

    Therezinha Viana de Assis

    Thomaz Antônio da Silva Meirelles Neto

    Tito de Alencar Lima

    Tobias Pereira Júnior

    Túlio Roberto Cardoso Quintiliano

    Uirassu de Assis Batista

    Umberto Albuquerque Câmara Neto

    Valdir Sales Saboya

    Vandick Reidner Pereira Coqueiro

    Virgílio Gomes da Silva

    Vitor Carlos Ramos

    Vítor Luíz Papandreu

    Vitorino Alves Moitinho

    Vladimir Herzog

    Walkíria Afonso Costa

    Walter de Souza Ribeiro

    Walter Kenneth Nelson Fleury

    Walter Ribeiro Novaes

    Wânio José de Mattos

    Wilson Silva

    Wilson Souza Pinheiro

    Wilton Ferreira

    Yoshitane Fujimori

    Zoé Lucas de Brito Filho

    Zuleika Angel Jones

  • Multiplicam-se no no país manifestações em repúdio ao ataque às universidades

    Multiplicam-se no no país manifestações em repúdio ao ataque às universidades

    Logo que a notícia da invasão da Universidade Federal de Minas Gerais foi divulgada na manhã de ontem (6/12), uma enxurrada de manifestações, cartas, moções de apoio tomaram conta do país em repúdio à prisão e à condução coercitiva do reitor Jaime Arturo Ramirez, da vice-reitora Sandra Goulart Almeida, da futura reitora Heloisa Starling e outros três dirigentes na Operação sadicamente chamada de “Esperança Equilibrista”. Grande parte das universidades do país emitiram notas denunciando uma ação orquestrada junto aos aparatos jurídicos e policiais com o propósito de violar a autonomia das instituições públicas de ensino superior para desmoralizá-las e torná-las vulneráveis ao projeto de privatização recomendado pelo Banco Mundial.

    As semelhanças entre a “Operação Ouvidos Moucos”, que trucidou a autonomia da UFSC e levou ao suicídio do reitor são muitas: prisão ilegal, prisão coercitiva, sem direito à defesa e à presunção de inocência, produção de espetáculo midiático e divulgação das denúncias de forma a confundir a opinião pública e tomar suspeitas por condenações. A grande diferença, contudo, é uma só: a UFMG tinha a experiência da UFSC e das consequências trágicas que o seu acovardamento ou omissão representariam à universidade inteira. Valendo-se dessa experiência recente, não titubeou em reagir de modo unificado em defesa dos seus dirigentes e da instituição.

    Suicídio do reitor Luiz Cancellier foi uma experiência muito amarga que serviu de alerta para todas as universidades. Foto: Pipo Quint Agecom/UFSC

    O reitor da Universidade Federal do Paraná, Ricardo Marcelo Fonseca  publicou um contundente manifesto que faz uma recapitulação das agressões sofridas pelas universidades brasileiras, desde a invasão da UFRGS em dezembro de 2016, passando pela prisão abusiva do reitor da UFSC, Luiz Carlos Cancellier, e de outros seis integrantes da universidade, com o seu desfecho traumático, até a ofensiva contra a UFMG . Em todas elas, aparece a denúncia do apelo ao combate à corrupção com o objetivo de insuflar o ódio na população mais desavisada e encobrir o propósito de desmoralização e desmonte de instituições históricas que desfrutam de forte prestígio na comunidade científica e na sociedade como um todo. Esse foi também o teor das notas emitidas pelas agremiações estudantis e diretórios acadêmicos, representados ainda pela nota da presidente da União Nacional dos Estudantes, Mariana Dias, todas elas desmascarando o caráter privatista que paira por trás das prisões e conduções coercitivas consideradas expedientes de governos autoritários.

    Mal a comunidade universitária do país se recuperava dos momentos de terror, a Universidade Federal de Santa Catarina foi novamente invadida na manhã de hoje por cerca de 90 policiais federais e auditores da Controladoria Geral da União e do Tribunal de Contas da União. Até por volta de meio-dia, policiais encapuzados e fortemente armados andavam pelo campus cumprindo 20 mandados judiciais expedidos pela 1ª Vara da Justiça Federal em Florianópolis (SC), sendo 14 de busca e apreensão e seis de condução coercitiva que se referem a indícios de irregularidades no uso de verbas públicas para pesquisas nos períodos de 2003 e 2004. As medidas ainda estão sendo cumpridas em Florianópolis (SC) e Balneário Camboriú (SC), conforme o delegado. O conteúdo político dessas ofensivas está dado claramente: ele é anterior a qualquer outro juízo sobre o mérito de combate à corrupção, uma vez que o direito ao contraditório, a defesa e à presunção de inocência foi negado aos acusados. E, dessa forma, a possibilidade de juízo sobre o teor das investigações foi negada também a toda a comunidade e a toda população.

    Os Jornalistas Livres lançam aqui uma primeira edição de um acervo dessas manifestações que a cada minuto se somam a muitas outras originadas nos mais diversos cantos e setores representativos do Brasil. Para a construção desse dossiê em aberto, os leitores e entidades estão convidados a enviarem contribuições de manifestos já publicados ou ainda por serem publicados, de modo que possam ser consultados por todos em um único endereço. Começamos pelas notas dos Compositores João Bosco e Aldir Blanc falando sobre a barbárie das operações – “Uma violência à cidadania”, segundo Bosco, que desautoriza a apropriação indébita do mote de seu hino contra as torturas praticadas pela Ditadura Militar. “Não autorizo, politicamente, o uso dessa canção por quem trai seu desejo fundamental”.

    Em seu Blog, o jornalista Luiz Nassif dirá que o título sádico da criticadíssima Operação seria uma retaliação à faixa com a qual os estudantes do Centro de Ciências Jurídicas homenagearam o professor Cancellier na cerimônia fúnebre do Conselho Universitário, um dia após o seu falecimento: A faixa fixada em frente ao caixão também citava a canção O bêbado e o equilibrista: “Uma dor assim pungente não há de ser inutilmente”. Como conclui a nota do Coletivo Floripa Contra o Estado de Exceção: “O passado triste e sujo de manchas torturadas, imortalizado pela canção de João Bosco e Aldir Blanc, aviltada pelo sequestro indébito do seu sentido, é o que essas ações pretendem reeditar no nosso país”.

    Uma lista de 28 intelectuais, professores e dirigentes de instituições acadêmicas, publicou um “Manifesto em defesa ao Estado de Direito e da universidade pública no Brasil”. No documento, eles conclamaram todos os democratas a “repudiarem esse ato de agressão à justiça, à universidade pública, ao Estado de Direito e à memória desse país”. Entre eles estão nomes de referência internacional, como Boaventura de Sousa Santos, diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

    Em outra contundente nota de repúdio à ação da PF, a Sociedade Brasileira de Sociologia afirmou: “Lamentavelmente, repete-se a mesma truculência que ocorreu recentemente com a Universidade Federal de Santa Catarina cujo desfecho provocou o suicídio do então Reitor desta Instituição. A recorrência deste ato no interior da Universidade Federal de Minas Gerais atenta claramente contra o principio da autonomia das instituições universitárias assegurada pela Constituição Federal”. A Associação Brasileira de Antropologia também já aprovou uma nota em sua Reunião de Antropologia do Mercosul, realizada em Posadas, Argentina, contra os ataques às universidades de Santa Catarina, Pará, e Minias Gerais. “Manifesto de solidariedade com os acadêmicos brasileiros cujas liberdades básicas estão ameaçadas” também foi divulgado pelo Solidarity.University.Brazil@gmail.com. Acompanhe as atualizações por aqui.

     

    MANIFESTO EM DEFESA DO ESTADO DE DIREITO E DA UNIVERSIDADE PÚBLICA

    MOVIMENTO EM DEFESA DA UFMG RECOLHE ASSINATURAS
    ➡️LINK PARA ADESÃO: https://goo.gl/auM3iQ
     
    Nós, intelectuais, professores, estudantes e dirigentes de instituições acadêmicas, vimos a público manifestar nossa perplexidade e nosso mais veemente protesto contra as ações judiciais e policiais realizadas contra a universidade pública que culminaram na invasão do campus da UFMG e na condução coercitiva de reitores, dirigentes e administradores dessa universidade pela Polícia Federal no dia 6 de dezembro de 2017.
    O Brasil, nos últimos anos, vivencia a construção de elementos de exceção legal justificados pela necessidade de realizar o combate à corrupção. Prisões preventivas injustificáveis, conduções coercitivas ao arrepio do código penal têm se tornado rotina no país.
    Neste momento amplia-se a excepcionalidade das operações policiais no sentido de negar o devido processo legal em todas as investigações relativas à corrupção violando-se diversos artigos da Constituição inclusive aquele que garante a autonomia da universidade.
    É inadmissível que a sociedade brasileira continue tolerando a ruptura da tradição legal construída a duras penas a partir da democratização brasileira em nome de um moralismo espetacular que busca, via ancoragem midiática, o julgamento rápido, precário e realizado unicamente no campo da opinião pública.
    Nos últimos meses, essas ações passaram a ter como alvo a universidade pública brasileira. Cabe lembrar aqui que a universidade pública, diferentemente de muitas das instâncias do sistema político, está submetida ao controle da CGU e do TCU, respeita todas as normas legais e todos os princípios da contabilidade pública em suas atividades e procedimentos. Portanto, não existe nenhum motivo pelo qual devam se estender a ela as ações espetaculares de combate à corrupção.
    A universidade pública brasileira tem dado contribuições decisivas para o desenvolvimento da educação superior, da pós-graduação, da ciência e tecnologia que colocaram o Brasil no mapa dos países em desenvolvimento. Somente universidades públicas brasileiras estão entre as 20 melhores instituições de ensino e pesquisa da América Latina, de acordo com o Times Higher Education Ranking. A UFMG, sempre bem colocada nesses rankings internacionais, possui 33.000 alunos de graduação, 14.000 alunos de pós-graduação, conta com 75 cursos de graduação, 77 cursos de mestrado e 63 cursos de doutorado. Além de sua excelência em educação e pesquisa, a UFMG se destaca por suas ações de assistência e extensão nas áreas de saúde e educação.
    Nesse sentido, intelectuais e membros da comunidade universitária exigem que seus dirigentes sejam respeitados e tratados com dignidade e que quaisquer investigações que se mostrarem necessárias com relação a atividades desenvolvidas na universidade sejam conduzidas de acordo com os princípios da justiça e da legalidade supostamente em vigência no país e não com o objetivo da espetacularização de ações policiais de combate à corrupção. Está se constituindo uma máquina repressiva insidiosa, visando não só coagir, mas intimidar e calar as vozes divergentes sob o pretexto de combater a corrupção. Seu verdadeiro alvo, porém, não é corrupção, mas o amordaçamento da sociedade, especialmente das instituições que, pela própria natureza de seu fazer, sempre se destacaram por examinar criticamente a vida nacional.
    Não por acaso o alvo dessa violência contra a universidade e seus dirigentes foi exatamente um memorial que tenta recompor os princípios da justiça e do estado de direito extensamente violados durante o período autoritário que se seguiu ao golpe militar de 1964. O Memorial da Anistia tem como objetivo explicitar os abusos autoritários perpetrados nesses anos de exceção porque apenas a sua divulgação permitirá que as gerações futuras não repitam o mesmo erro.
    Nesse sentido, intelectuais, professores e estudantes conclamamos todos os democratas desse país a repudiarem esse ato de agressão à justiça, à universidade pública, ao estado de direito e à memória desse país.
    https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdqxrNVFx_y6BcYxAITHkQxQ_7uoj4E4t-n1smSTsRkUS4saQ/viewform

    NOTA OFICIAL DA PROCURADORIA-GERAL FEDERAL

    A Procuradoria-Geral Federal, órgão da Advocacia-Geral da União responsável pela representação judicial e extrajudicial, a consultoria e o assessoramento jurídico das autarquias e fundações públicas federais e de seus dirigentes, inclusive das Instituições Federais de Ensino, recebeu com preocupação as notícias amplamente divulgadas pela imprensa, dando conta de que garantias inerentes ao Estado de Direito teriam sido atingidas em operações que buscam investigar a prática de ilícitos.

    Nesse momento de comoção com os excessos relatados pela imprensa, a Procuradoria-Geral Federal vem a público ratificar o seu compromisso com essas tradicionais instituições e com seus dirigentes.

    A Procuradoria-Geral Federal tem o dever de zelar pelo respeito à legalidade, ao patrimônio e ao interesse público. Esse dever se concretiza em assegurar que o exercício da função pública se dê de forma responsável e juridicamente segura, livre da ameaça de qualquer forma de excesso ou de desrespeito às garantias fundamentais previstas em nosso ordenamento jurídico.

    As Universidades Federais são patrimônio da sociedade brasileira. A defesa dessas instituições e a defesa do Estado Democrático de Direito são dever e compromisso da PGF.

    Publicado : 18/12/2017 – Atualizado às : 15:12:49

    http://www.agu.gov.br/noticia/nota-oficial-da-procuradoria-geral-federal–637404

     

    NOTA EM DEFESA DA UNIVERSIDADE, DA DEMOCRACIA
    E DO ESTADO DIREITO

    O Partido dos Trabalhadores de Florianópolis vem mais uma vez a público manifestar seu repúdio contra as ações policiais e judiciais que têm sido realizadas em diversas universidades e institutos federais de educação, através de prisões preventivas injustificadas, conduções coercitivas, perseguição, humilhação e exposição pública de docentes e gestores.
    Essas ações, que já atingiram diversas instituições de ensino, entre elas a UFRGS, a UFPR, o IFSC de Abelardo Luz, a UFSC e a UFMG, e que culminaram com a morte do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, têm como objetivo desmoralizar a educação pública e destruir a soberania científica do país. Em alguns desses casos, configuram-se claros atos de perseguição política de docentes que têm atuação junto a movimentos sociais. Em outros, o que deveriam ser investigações sobre supostos maus usos do dinheiro público, feitas dentro da legalidade, da constitucionalidade e do respeito aos direitos e à cidadania, transforma-se em um recurso de perseguição, destruição de carreiras e de vidas e de ataque sistemático à autonomia universitária.
    Essas ações se somam aos enormes cortes de recursos da educação e da ciência e tecnologia patrocinado pelo governo golpista e abrem o terreno para a privatização da educação e implantação do ensino pago no país e para a destruição de nossa soberania científica.
    Instalou-se no Brasil um verdadeiro Estado de exceção, em que, em nome de uma genérica “luta contra a corrupção”, jogam-se no lixo todas as garantias constitucionais, a presunção de inocência e o devido processo legal.
    Convocamos toda a militância petista e a sociedade em geral para se engajarem na luta em defesa da universidade e da educação pública, pela democracia e pelo Estado de direito.​

    Executiva Municipal do PT de Florianópolis

    http://www.ptfloripa.org.br/index.php?option=com_acymailing&ctrl=archive&task=view&mailid=97&key=lSZ1Fzpq&subid=1134-NCSYTow0cRkPYu

    Prisão coercitiva é espetáculo fascista e abusivo

    Simone Schreiber – desembargadora Federal, TRF2

    A condução coercitiva é uma violência que não pode ser corrigida por habeas corpus, dada sua instantaneidade. A pessoa é conduzida pela polícia para prestar depoimento e, encerrado o propósito da diligência policial, é liberada. Contudo, é um ato violentíssimo e ilegal. Ilegal, pois a pessoa investigada não está obrigada a prestar depoimento, pode simplesmente invocar seu direito de não responder perguntas. E é evidente que se ainda não sabe nada sobre a investigação, e ainda não conseguiu conversar com um advogado sobre o tema, não deve responder a nenhuma pergunta. Então a condução coercitiva só tem razão de ser por sua dimensão de espetáculo. Espetáculo de humilhação da pessoa investigada. Não serve para rigorosamente mais nada, só para a polícia federal fazer sua propaganda institucional, mostrando sua “eficiência no combate ao crime”.

    Para mim está evidente que essa pretensa “democratização do direito penal, para pegar o andar de cima” sustentada com entusiasmo dentre outros pelo professor Luis Roberto Barroso só se presta à consolidação de uma jurisprudência de flexibilização de direitos fundamentais. Ao invés de avançarmos reforçando os direitos das pessoas “do andar de baixo” (para usar a expressão do Barroso), por exemplo, implementando as audiências de custódia, adotando a prisão preventiva em situações excepcionalíssimas, tornando efetivas as medidas cautelares alternativas, ampliando a atuação das defensorias públicas, etc, estamos adotando um caminho inverso, de desprezo, desamor pelos direitos fundamentais.

    Cada um de nós deve refletir sobre que modelo de processo penal deseja em um Estado Democrático, ao invés de se impressionar com o “escândalo da vez”. Há irregularidades nos contratos firmados por determinada Universidade Pública? Investiga-se sem fazer disso um espetáculo! Caso os fatos sejam confirmados após o processo, após produzidas as provas em contraditório judicial e exercida a ampla defesa, as penas previstas em lei são aplicadas. É assim que a justiça funciona ou deveria funcionar. E nós juízes deveríamos ser os primeiros a zelar pelo devido processo legal.

    É extremamente grave o que está acontecendo, não sei bem como chegamos até aqui, mas é preciso que os juízes façam essa reflexão. O mais impressionante é que pessoas que se tornaram juízes já sob a égide da Constituição de 1988 não aplicam normas de garantia previstas no Código de Processo Penal da ditadura Vargas!

    Nem o suicídio do Reitor Cancellier serviu para fazermos uma autocrítica! Está mais do que na hora de refletirmos sobre nossos atos, sobre o papel que a Justiça Federal tem desempenhado nessa crise institucional e para onde estamos indo!

    Foto: Lucca Mezzacappa | Jornalistas Livres

    CARTA DE REPÚDIO DA REITORIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

    Reitoria da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) vem reiterar sua indignação e manifestar repúdio à ação de condução coercitiva de dirigentes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em operação que apura supostos desvios na construção do Memorial da Anistia. Em 6 de dezembro, o reitor, a vice-reitora e outros servidores foram levados pelos agentes da Polícia Federal para prestar depoimentos, sem mais explicações.

    A UFPB já se pronunciou contra o abuso em documento coletivo, assinado pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), e reforça seu posicionamento em relação a essa nova agressão a gestores de universidades federais, que acontece depois de episódio semelhante envolvendo o reitor Luiz Cancellier de Olivo, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e que teve a consequência trágica de seu suícidio, no começo de outubro.

    A prática da condução coercitiva em fase de investigação, sem prévia notificação ou intimação, é questionada pela sociedade brasileira porque viola direitos e garantias fundamentais. Na sua face mais desrespeitosa e irresponsável, constrange cidadãos e os expõe ao espetáculo midiático e ao julgamento antecipado. No caso das comunidades universitárias vitimadas, é uma violência que atinge a honra, a imagem e a saúde de gestores e servidores que deram relevantes contribuições à sociedade, como manifestou, em nota (link is external), a UFMG.

    Em Minas Gerais e em Santa Catarina, sob o pretexto de apurar irregularidades administrativas, o alvo das investidas parece ter sido o mesmo: a desmoralização e enfraquecimento das universidades públicas federais.

    A UFPB se solidariza com os dirigentes e toda a comunidade acadêmica da UFMG. Com a UFMG e as demais universidades federais brasileiras, está pronta para resistir e para enfrentar as afrontas à nossa dignidade, à nossa capacidade de gestão e às nossas próprias esperanças, que se equilibram, sim, nos esforços que dedicamos à construção de uma realidade melhor para o País.

    Nós não vamos recuar na defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade.

    Margareth de Fátima F. M. Diniz Reitora da UFPB

     

    SUICÍDIO DE CANCELLIER SACUDIU UNIVERSIDADES DO PAÍS

    Luís Felipe Miguel, jornalista, cientista político e professor da UNB

    Quando a Polícia Federal fez aquela operação de guerra para invadir a UFSC e prender o reitor, houve muito espanto, alguma indignação e pouca solidariedade. Por um lado, a ação policial era claramente desproporcional ao que a situação exigiria – mas nós já nos habituamos a isso, uma vez que a Lava Jato transformou a repressão em espetáculo. Por outro lado, havia as manchetes da mídia, falando no colossal desvio de 80 milhões. Manchetes mentirosas, ficaria claro em seguida; no momento, porém, funcionou a dependência cognitiva que faz com que a gente se baseie no jornalismo para saber do que ocorre fora de nosso círculo imediato.

    A fraca reação à agressão à UFSC mostra como mesmo setores mais críticos e melhor informados estão narcotizados pelo discurso do combate à corrupção a qualquer custo, pouco sensíveis à degradação dos direitos individuais e refratários a entender o jogo político que organiza a perseguição seletiva a pessoas e instituições. Seria de investigar o papel dos “isentões” e do “lavajatismo de esquerda” na produção desse estado de coisas.

    O ataque à UFMG já suscitou uma reação bem mais forte, tanto em Minas quanto no resto do Brasil e mesmo no exterior. Não há dúvida de que o suicídio do reitor Luiz Carlos Cancellier foi fundamental para essa mudança. A comoção causada por seu gesto extremo fez aflorar a insensatez da operação policial, sua arbitrariedade, o desrespeito aos preceitos legais e mesmo a banalidade das acusações. As pessoas foram presas e humilhadas sem que fossem rés, antes mesmo de serem convidadas a depor, numa ação cujo custo, para a PF, superou o valor pretensamente desviado. Fica evidente que os motivos por trás dela não eram a defesa da moralidade pública ou a proteção às boas práticas administrativas.

    Quando script similar é seguido em Belo Horizonte, é fácil entender o sentido da operação da PF e suas implicações.

    Cau sempre foi um moderado, um conciliador. A surpreendente radicalidade de seu ato final cumpriu um importante papel político. Não abalou as autoridades no judiciário ou na polícia, que continuam firmes na trilha do arbítrio, amparadas pela impunidade que o retrocesso em curso no Brasil lhes garante. Estão aí a ação na UFMG, a nova ação na UFSC ou mesmo a promoção da delegada da PF de Florianópolis para provar. Mas ele sacudiu a comunidade universitária, quebrou parte de nosso marasmo e fomentou nossa mobilização. A história da resistência ao desmonte dos direitos, no Brasil de hoje, há de guardar seu nome, com destaque.

    Luís Felipe Miguel, publicado na sua página do Facebook

     

    Estado policial, porta de entrada do inferno

    ​​Algo de muito grave ocorre no Brasil. Não falo apenas – apenas? – de tremendos retrocessos sociais, regressão econômica ou cultural. Se isso não fosse suficiente para nos alarmar, a desagregação das instituições de Estado avança rapidamente – ameaçando a existência daquilo que se chama de nação.

    Faz cem anos, o liberal Max Weber definia o Estado a partir do monopólio da coerção legitima. De outro lado do muro, o revolucionário Lenin dizia que o Estado era, em suma, uma rede de tribunais, prisões, polícia. Os dois tinham diante de si, para teorizar, o Estado da época – não muito mais do que repressão organizada, monopólio da lei, da ordem e da defesa. Pouco mais do que espada.

    O Estado mudou ao longo do século XX, mas as “forças da ordem” seguem sendo sua espinha vertebral. Até mesmo as políticas sociais e regulatórias podem ser vistas, tantas vezes, como uma forma enviesada de vigiar e punir.

    Pois é essa espinha vertebral que parece, agora e aqui, atingida por uma doença letal. Faz algum tempo, promotores, juízes e delegados ensaiam movimentos que colocam em dúvida sua identidade. Delegados que dirigem investigações de impacto e ao mesmo tempo se permitem agitação eleitoral explícita. Bem, talvez se pudesse atribuir o descuido à polarização eleitoral. Acontece. Só que não. Um outro se põe  na berlinda escandalizando o país (e o mundo) com a afirmação singela de que a carne industrializada continha veneno – vitamina C. O nome da operação – Carne Fraca – transformou-se no seu objetivo não deliberado. Até hoje a carne brasileira é vista com suspeição no mercado internacional. O delegado trapalhão foi posto na geladeira. Seus modos, porém, seguem procriando.

    Mais recentemente, uma delegada visivelmente desequilibrada e ansiosa por demonstração de poder, manipula informações e induz uma juíza, essa também visivelmente apressada, a promover um espalhafato grotesco e de trágicas consequências, com o suicídio de um reitor de universidade acossado por uma matilha de cães.

    Passa algum tempo e a cena se repete, também com espalhafato e requintes de truculência, se assim podemos dizer. A Universidade Federal de Minas Gerais é exibida, em operação tosca, como antro de perversões, poucos dias depois de ali se ter realizado um protesto contra a pantomima de Florianópolis.

    Mas seria fastidioso listar e descrever as manifestações da praga. Como o estrelismo de um juiz que se faz fotografar portando fuzil e com pose de justiceiro, filme B de uma hollywood suburbana.

    Mas estas cenas, por enquanto, parecem ocorrer em círculos até mesmo favorecidos da escala social. A cena seguinte, igualmente desmoralizante, ocorre em outro quadrante. Ouço no bar a notícia de que o chefe do tráfico da Rocinha fora preso por uma ação combinada das polícias Civil, Militar e Federal, da Guarda Nacional e das Forças Armadas. Só faltou a guarda suíça do Vaticano. Surpreendente que alguém ache que o tráfico seja mesmo comandado por alguém como ele, num barraco do morro. E mais surpreendente que seja necessário essa conjunção de estrelas para capturá-lo. Seria mais razoável verificar a movimentação de algumas contas bancárias. Porém chego em casa e me espanto ainda mais com as imagens do pós-combate. Policiais se fazendo fotografar ao lado da estrela presa. Uma polícia feminina faz uma selfie com o astro capturado. Lembro-me da letra do funk: “Ela não anda, ela desfila, tira foto para botar no facebook”. É a isso que se reduz o braço da lei?

    Nos andares inferiores da sociedade, aqueles com os quais em geral menos nos incomodamos, já é usual ver esse comportamento. Pouca gente se incomoda – muita gente aprova – que a polícia invada barracos aos pontapés, sem mandado e tantas vezes sem outro motivo senão demonstrar a própria forca. Pode demonstrar a força, mas desmancha a autoridade. Deixa de ser vista como a ordem legitimada e passa a ser igualada aos seus adversários (aparentes?), os criminosos.

    Quando indivíduos e mesmo frações organizadas dentro das corporações de segurança assim se comportam, eles não erguem a imagem dessas corporações. Eles a rebaixam. O resultado dessa escalada é a desintegração das instituições da ordem – espinha dorsal do Estado. A quem interessa que um Estado se desmanche e uma nação se desfaça? A quem aproveita? – perguntam os advogados quando diante de um crime sem culpado à vista.

    Os personagens desses atos estapafúrdios podem ser movidos pela sua imaturidade, pela sua ambição desmedida, apenas isso. Ou não. De qualquer modo, com esses atos não promovem a lei. Eles a lançam na sarjeta e no pântano. E ali, ela é disputada pelos crocodilos. Crocodilos que falam – ou não – o idioma nacional. São eles que espreitam, sombrios, salivando para abocanhar o que sobra da operação de desmanche.

    A reversão desse processo exige bem mais do que agentes salvadores – fardados ou não. Um “resgate” dessa natureza seria aprofundar o mal. O quadro exige um reencontro da nação consigo mesma – reorganizando o pacto de convivência em condições mais justas e equilibradas, menos vulnerável ao desespero e à incerteza. Um pacto tutelado foi constituído sob o medo da chamada transição politica. Esse ciclo revela seu limite.

    É preciso um esforço de cidadania, se não quisermos voltar à condição de colônia ou ao estatuto de terra de ninguém e, portanto, alvo de todos os abutres do mundo. Na história contemporânea processos como esses costumam ser chamados de Assembleias Constituintes. O Brasil foi descoberto há pouco mais de 500 anos. Precisa ser refundado. Não por acaso, nem por vontade de um rei. Por uma decisão soberana, do único soberano aceitável em uma democracia.

    Reginaldo Carmello Corrêa de Moraes é professor aposentado, colaborador na pós-graduação em Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. É também coordenador de Difusão do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre Estados Unidos (INCT-Ineu). Seus livros mais recentes são: “O Peso do Estado na Pátria do Mercado – Estados Unidos como país em desenvolvimento” (2014) e “Educação Superior nos Estados Unidos – História e Estrutura” (2015), ambos pela Editora da Unesp.

     

    Ex-reitores manifestam apoio a dirigentes da UFMG

    “Nós, ex-reitores e ex-vice-reitores da Universidade Federal de Minas Gerais, tornamos pública nossa indignação pelos fatos ocorridos no dia 6 de dezembro, quando os atuais dirigentes da UFMG e outros membros da comunidade universitária foram levados, por medida coercitiva, à sede da Polícia Federal, para prestar depoimento em investigação que transcorre em sigilo.

    Repudiamos o uso de medida coercitiva quando sequer foi feita uma intimação para depoimento, em claro descumprimento ao disposto nos artigos 201, 218 e 260 do Código de Processo Penal. Por condução coercitiva, entende-se, na interpretação do Desembargador Cândido Ribeiro, “um instrumento de restrição temporária da liberdade conferido à autoridade judicial para fazer comparecer aquele que injustificadamente desatendeu a intimação e cuja presença seja essencial para o curso da persecução penal, seja na fase do inquérito policial, seja na da ação penal”.

    Diante de tal definição, repudiamos inteiramente o uso da condução coercitiva e mais ainda a brutalidade e o desrespeito com que foram tratados o Reitor e a Vice-Reitora, as ex-Vice-Reitoras e outros dirigentes e servidores da UFMG, em atos totalmente ofensivos, gratuitos e desnecessários.

    A UFMG e seus dirigentes sempre se pautaram pelo respeito à lei e pelo cumprimento de decisões judiciais. Os fatos ocorridos atingem, portanto, esta grande e respeitável instituição: a Universidade Federal de Minas Gerais, um patrimônio de nosso Estado e do país.

    Reiteramos nossa confiança na Universidade Federal de Minas Gerais e na probidade de seus dirigentes, aos quais prestamos nossa total solidariedade e apoio”.

    Reitor Eduardo Osório Cisalpino – Gestão 1974-1978
    Reitor José Henrique Santos – Gestão 1982-1986
    Reitora Vanessa Guimarães Pinto – Gestão 1990-1994
    Reitor Tomaz Aroldo da Mota Santos – Gestão 1994-1998
    Reitor Francisco César de Sá Barreto – Gestão 1998-2002
    Reitora Ana Lúcia Almeida Gazzola – Gestão 2002-2006
    Reitor Ronaldo Tadêu Pena – Gestão 2006-2010
    Reitor Clélio Campolina Diniz – Gestão 2010-2014
    Vice-Reitor Evando Mirra de Paula e Silva – Gestão 1990-1994
    Vice-Reitor Jacyntho José Lins Brandão – Gestão 1994-1998
    Vice-Reitor Marcos Borato Viana – Gestão 2002-2006

     

    Conselho das fundações de apoio vê abuso em mandados

    06/12/2017 19:10

    “O Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica (Confies) vem a público para dizer que acompanha com atenção os acontecimentos em Minas Gerais. Sabe-se que foram convocados a prestar informações à Polícia Federal, sobre dois projetos já encerrados, um ex-reitor e seu ex-vice-reitor, o reitor e vice atual e o nosso colega presidente da Fundep, além de um dos membros da diretoria do Confies.

    Foram mandados de condução coercitiva da PF dados por algum juiz, supostamente.

    Em princípio, esses mandados são abusivos, pois deveriam ser antecedidos por carta convocando-os para prestar esclarecimentos.

    O dano à imagem dos convocados está feito.

    Como em outros casos, isso é irreparável, face ao comportamento estridente da mídia que se nutre financeiramente disso.

    Estamos aguardando o relato dos colegas com quem falamos há pouco na PF por telefone e do colega Bruno Teatrini, advogado da Fundep, para tomar alguma decisão sobre o que o Confies fará em defesa deles e de nossa afiliada. Já comuniquei a Andifes.

    O Confies declara-se em solidariedade aos colegas e continuará sua luta para aperfeiçoar o sistema de controle em um ambiente democrático, que preserve os direitos individuais do cidadão inscritos da Constituição Federal.

    Rio de Janeiro, 6 de dezembro de 2017
    Fernando Peregrino
    Presidente do Confies

     

    NOTA DO CANTOR E COMPOSITOR JOÃO BOSCO EM REPÚDIO À OPERAÇÃO “ESPERANÇA EQUILIBRISTA”

    Recebi com indignação a notícia de que a Polícia Federal conduziu coercitivamente o reitor da Universidade Federal de Minas Gerais, Jaime Ramirez, entre outros professores dessa universidade. A ação faz parte da investigação da construção do Memorial da Anistia. Como vem se tornando regra no Brasil, além da coerção desnecessária (ao que consta, não houve pedido prévio, cuja desobediência justificasse a medida), consta ainda que os acusados e seus advogados foram impedidos de ter acesso ao próprio processo, e alguns deles nem sequer sabiam se eram levados como testemunha ou suspeitos. O conjunto dessas medidas fere os princípios elementares do devido processo legal. É uma violência à cidadania.

    Isso seria motivo suficiente para minha indignação. Mas a operação da PF me toca de modo mais direto, pois foi batizada de “Esperança equilibrista”, em alusão à canção que Aldir Blanc e eu fizemos em honra a todos os que lutaram contra a ditadura brasileira. Essa canção foi e permanece sendo, na memória coletiva do país, um hino à liberdade e à luta pela retomada do processo democrático. Não autorizo, politicamente, o uso dessa canção por quem trai seu desejo fundamental.

    Resta ainda um ponto. Há indícios que me levam a ver nessas medidas violentas um ato de ataque à universidade pública. Isso, num momento em que a Universidade Estadual do Rio de Janeiro, estado onde moro, definha por conta de crimes cometidos por gestores públicos, e o ensino superior gratuito sofre ataques de grandes instituições (alinhadas a uma visão mais plutocrata do que democrática). Fica aqui portanto também a minha defesa veemente da universidade pública, espaço fundamental para a promoção de igualdades na sociedade brasileira. É essa a esperança equilibrista que tem que continuar.

    João Bosco
    07/12/2017

     

    NOTA DE ALDIR BLANC SOBRE A OPERAÇÃO “ESPERANÇA EQUILIBRISTA”

    João Bosco e Adi Blanc: “Lá no mata-borrão do céu”

    Depois da operação “Esperança Equilibrista”, João Bosco e eu esperamos que a Polícia Federal prenda também Temereca, Mineirinho Trilhão157, que foi ajudado pela Dra. Carmen Lúcia, e o resto, aquela escória do Quadrilhão que impera, impune, no Plabaixo.

    A nova Operação se chamaria “De frente pros crimes” dos que sempre ficam impunes, com ajudinhas de Gilmares, Moros, PFs, etc.

    Também esperamos que ninguém se suicide ou seja suicidado nessas operações, o que já é marca registrada das forças repressoras que servem aos direitistas do Brasil.

    Ass. João Bosco/ Aldir Blanc

     

    NOTA DE REPUDIO À AÇÃO DA PF NA UFMG E EM DEFESA DO ESTADO DE DIREITO

    A Sociedade Brasileira de Sociologia vem expressar seu veemente repúdio diante da violência cometida no dia 06/12/2017 contra seus dirigentes e funcionários.

    A condução coercitiva dos dirigentes e professores da UFMG  para depoimento na sede da Polícia Federal representa um ato autoritário e afastado do objetivo de realização da justiça. A Sociedade Brasileira de Sociologia vem expressar seu veemente repúdio diante da violência cometida no dia 06/12/2017 contra seus dirigentes e funcionários.

    Lamentavelmente, repete-se a mesma truculência que ocorreu recentemente com a Universidade Federal de Santa Catarina cujo desfecho provocou o suicídio do então Reitor desta Instituição.

    A recorrência deste ato no interior da Universidade Federal de Minas Gerais atenta claramente contra o principio da autonomia das instituições universitárias assegurada pela Constituição Federal. A Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) expressa sua solidariedade aos docentes, alunos e funcionários da Universidade Federal de Minas Gerais.

    A SBS se junta a demais Associações Científicas existentes no país para defender a autonomia das universidades públicas, para resguardar o exercício do livre pensamento e da liberdade de expressão, princípios estes que vem sendo atacados de forma crescente por determinados setores da sociedade nacional.
    A SBS reafirma com mais esse documento seu firme compromisso em defesa da universidade pública e gratuita e da preservação da democracia no País.

    BRASÍLIA, 07 DE DEZEMBRO DE 2017

     

    Universidades contra privatizacão
    ENTIDADE CHAMA “OPERAÇÃO RESISTÊNCIA”

    Cristina del Papa, coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores nas Instituições Federais de Ensino, faz um vigoroso chamado a todas as entidades de ensino e a toda a população para integrar a #OperacaoResistencia contra a tentativa de desmoralização das universidades públicas pela ofensiva fascista e neoliberal.

    Com clareza e coragem impressionantes, Cristina del Papa traz um relato sobre a reunião do Conselho Universitário da UFMG – Universidade Federal de Minas Geraisapós prisão de seus dirigentes na manhã do dia 7/10. A sindicalista fala dos detalhes brutais da prisão de homens e mulheres inocentes das instituições de ensino que ferem os direitos humanos.

    O interesse dos ataques truculentos da Polícia Federal contra a UFMG e a UFSC são claros, diz ela: desqualificar as universidades perante a opinião pública para privatizar e acabar com o sistema federal de ensino enquanto focos de resistência contra esta ditadura.
    (Raquel Wandelli/Jornalistas Livres)

    Fonte: Sindifes – Sindicato dos Trabalhadores Instituições Federais de Ensino

    Manifesto de solidariedade aos acadêmicos brasileiros cujas liberdades básicas estão ameaçadas

    ESQUERDAS MUNDIAIS – Solidarity.University.Brazil@Gmail.Com

    Na Quarta-feira, 6 de dezembro de 2017, a Polícia Federal Brasileira emitiu um mandato para levar ao lugar de seis colegas da Universidade Federal de Minas Gerais, incluindo o presidente e a vice-presidente desta grande universidade pública. Sem os investigadores terem sido chamados a testemunhar, as forças da ordem intervieram no campus, equipadas com armas de assalto e para alguns rostos mascarados, a fim de levar os nossos colegas sob coacção na esquadra.

    O objecto da operação é a participação destes universitários no memorial da amnistia política de belo horizonte, um monumento de homenagem às vítimas da última ditadura militar cuja construção contraria explicitamente as redes conservadoras em plena ascensão no aparelho de estado brasileiro. A informação divulgada até à data pela polícia não indica qualquer suspeita de irregularidade, mas sim um hipotético emprego de fundos destinados ao memorial em outras atividades de investigação e bolsas estudantis. Para além da óbvia discrepância entre o objecto do inquérito e os meios utilizados, o objectivo deste destacamento de força é intimidar os colegas envolvidos num trabalho de memória dos crimes cometidos sob a ditadura, através do memorial e do A sua participação na Comissão Nacional da verdade (2012-2014). O nome da operação policial, “esperança equilíbrio”, goza, aliás, com um incrível cinismo uma das canções mais famosas de luta pela amnistia e a recuperação de Democracia.

    As detenções no campus da Universidade Federal de Minas Gerais não têm nada a ver com o emprego regular da polícia: São uma operação de terror. Visam intimidar o meio académico brasileiro, desencorajar as tomadas de posição política dos intelectuais, e impedir a continuação das políticas de memória e de justiça transicional sobre a ditadura militar. Não se trata de medidas isoladas: nos últimos meses, os professores e investigadores identificados como hostis ao governo em vigor ou que participaram em projectos memória em torno da ditadura foram objecto de processos judiciais injustificados em todo o país. Há algumas semanas atrás, esta perseguição levou ao suicídio do presidente da Universidade Federal de Santa Catarina.

    Nós, professores e investigadores de todas as nacionalidades, condenamos firmemente o tratamento infligido aos nossos colegas da Universidade Federal de Minas Gerais. Consideramos que a instrumentalização da coerção policial e dos processos judiciais para fins de perseguição política, ou lawfare, é incompatível com o estado de direito. Estes processos afectam dramaticamente a imagem do Brasil no estrangeiro e a sua identificação pela comunidade internacional como uma verdadeira democracia.
    Se quiser associar-se, obrigado por enviar o seu nome, nome, cargo, disciplina e filiação institucional em:

    Solidarity.University.Brazil@Gmail.Com
    Traduzido do Francês

     

    MANIFESTO EM DEFESA DO ESTADO DE DIREITO E DA UNIVERSIDADE PÚBLICA NO BRASIL

    Nós, intelectuais, professores, estudantes e dirigentes de instituições acadêmicas, vimos a público manifestar nossa perplexidade e nosso mais veemente protesto contra as ações judiciais e policiais realizadas contra a universidade pública que culminaram na invasão do campus da UFMG e na condução coercitiva de reitores, dirigentes e administradores dessa universidade pela Polícia Federal no dia 6 de dezembro de 2017.

    O Brasil, nos últimos anos, vivencia a construção de elementos de exceção legal justificados pela necessidade de realizar o combate à corrupção. Prisões preventivas injustificáveis, conduções coercitivas ao arrepio do código penal têm se tornado rotina no país.

    Neste momento amplia-se a excepcionalidade das operações policiais no sentido de negar o devido processo legal em todas as investigações relativas à corrupção violando-se diversos artigos da Constituição inclusive aquele que garante a autonomia da universidade.
    É inadmissível que a sociedade brasileira continue tolerando a ruptura da tradição legal construída a duras penas a partir da democratização brasileira em nome de um moralismo espetacular que busca, via ancoragem midiática, o julgamento rápido, precário e realizado unicamente no campo da opinião pública.

    Nos últimos meses, essas ações passaram a ter como alvo a universidade pública brasileira. Cabe lembrar aqui que a universidade pública, diferentemente de muitas das instâncias do sistema político, está submetida ao controle da CGU e do TCU, respeita todas as normas legais e todos os princípios da contabilidade pública em suas atividades e procedimentos. Portanto, não existe nenhum motivo pelo qual devam se estender a ela as ações espetaculares de combate à corrupção.

    A universidade pública brasileira tem dado contribuições decisivas para o desenvolvimento da educação superior, da pós-graduação, da ciência e tecnologia que colocaram o Brasil no mapa dos países em desenvolvimento. Somente universidades públicas brasileiras estão entre as 20 melhores instituições de ensino e pesquisa da América Latina, de acordo com o Times Higher Education Ranking. A UFMG, sempre bem colocada nesses rankings internacionais, possui 33.000 alunos de graduação, 14.000 alunos de pós-graduação, conta com 75 cursos de graduação, 77 cursos de mestrado e 63 cursos de doutorado. Além de sua excelência em educação e pesquisa, a UFMG se destaca por suas ações de assistência e extensão nas áreas de saúde e educação.

    Nesse sentido, intelectuais e membros da comunidade universitária exigem que seus dirigentes sejam respeitados e tratados com dignidade e que quaisquer investigações que se mostrarem necessárias com relação a atividades desenvolvidas na universidade sejam conduzidas de acordo com os princípios da justiça e da legalidade supostamente em vigência no país e não com o objetivo da espetacularização de ações policiais de combate à corrupção. Está se constituindo uma máquina repressiva insidiosa, visando não só coagir, mas intimidar e calar as vozes divergentes sob o pretexto de combater a corrupção. Seu verdadeiro alvo, porém, não é corrupção, mas o amordaçamento da sociedade, especialmente das instituições que, pela própria natureza de seu fazer, sempre se destacaram por examinar criticamente a vida nacional.

    Não por acaso o alvo dessa violência contra a universidade e seus dirigentes foi exatamente um memorial que tenta recompor os princípios da justiça e do estado de direito extensamente violados durante o período autoritário que se seguiu ao golpe militar de 1964. O Memorial da Anistia tem como objetivo explicitar os abusos autoritários perpetrados nesses anos de exceção porque apenas a sua divulgação permitirá que as gerações futuras não repitam o mesmo erro.
    Nesse sentido, intelectuais, professores e estudantes conclamamos todos os democratas desse país a repudiarem esse ato de agressão à justiça, à universidade pública, ao estado de direito e à memória desse país.

    ATUALIZAÇÃO

    Recebemos mais de 3.500 assinaturas só no dia de 08 dezembro. Agora já somos quase 5 mil apoiadores!

    Continuem compartilhando nosso manifesto!

    ➡️LINK PARA ADESÃO: https://goo.gl/auM3iQ

     

    Nota da Universidade Federal de São João del Rey pela Democracia

    É com consternação que tomamos conhecimento do espetáculo criado pela Polícia Federal na manhã de hoje, ao conduzir coercitivamente os últimos três reitores e vice-reitores da Universidade Federal de Minas Gerais, para prestar informações em uma operação nomeada “Esperança Equilibrista”, sem que houvesse qualquer resistência prévia destas mesmas autoridades para colaborar em qualquer processo judicial ou administrativo acerca do projeto de implantação do Memorial da Anistia em Minas Gerais.

    Cientes da importância inafastável da transparência dos serviços públicos, condenamos o que se apresenta como uma operação para esclarecer eventuais problemas na execução orçamentária de um programa acadêmico mas que, ao se utilizar de um hino da resistência à ditadura militar como título, busca desqualificar a importância dos estudos de resgate da memória e da história desse país, já tão vilipendiadas nas inúmeras tentativas de apagamento perpetradas por governos autoritários como o atual.

    O momento da ação soma-se, oportunamente, aos ataques à liberdade de pensamento e à autonomia universitária que vêm ganhando solo neste país. Em um claro processo de criminalização da atividade acadêmica, do pensamento crítico e do livre pensar, nos últimos meses deparamo-nos com um crescente número de ações judiciais e denúncias que visam acuar e amedrontar professores e pesquisadores que desenvolvem estudos e ações progressistas em suas Universidades. São vários os casos de colegas que respondem a acusações infundadas de doutrinação e desvio ideológico em suas atividades.

    Ainda neste quadro de ataque à autonomia universitária, vivenciamos a trágica perseguição e achincalhamento moral ao reitor da Universidade Federal de Santa Catarina quando, excedendo a busca da Justiça e ocupando um papel persecutório, a Polícia Federal e o Poder Judiciário precipitaram um quadro depressivo que levou ao suicídio de Luiz Carlos Cancellier de Olivo. Tais ações de investigação, marcadas por um caráter inquisitório em clara tentativa de marginalização social das autoridades universitárias, acontecem em paralelo ao esvaziamento financeiro dos orçamentos e repasses ao ensino superior federal e às tentativas de desmonte das universidades estaduais.

    Tais cortes orçamentários seguem a cartilha e recomendações do Banco Mundial que, fazendo coro a parcela da sociedade, considera que a universidade pública não deve continuar a exercer suas atividades de forma gratuita. Tal relatório e tal visão social visam retroceder o acesso ao ensino superior a apenas um grupo privilegiado da população brasileira, aqueles com condições de financiar seus estudos sem comprometer a liquidez do orçamento familiar.

    Trata-se de um projeto de desmonte do ensino público superior. Da restrição ao acesso à universidade. Da subordinação do povo que, sem acesso à formação, tem restringida também a sua soberania.

    Estendemos a toda a comunidade da UFMG, aos envolvidos no Projeto Memória e na instalação do Memorial da Anistia o nosso apoio.

    Continuaremos juntos na luta pela autonomia universitária plena.

    São João del-Rei, 06 de dezembro de 2017

    Comitê UFSJ Pela Democracia, contra o Golpe e Pelos Direitos

     

    NOTA DO CONSELHO UNIVERSITÁRIO DA UFMG

    O Conselho Universitário da UFMG reuniu-se nesta quinta-feira, dia 7, e emitiu comunicado em que agradece o apoio da sociedade, destaca a mobilização da comunidade acadêmica e garante estar a Universidade preparada para prestar os esclarecimentos necessários sobre a implantação do Memorial da Anistia.

    A sessão contou com a presença dos professores Clélio Campolina Diniz (reitor na gestão 2010-2014), Ronaldo Tadêu Pena (reitor na gestão 2006-2010), Ana Lúcia Gazzola (reitora na gestão 2002-2006) e Tomaz Aroldo da Mota Santos (reitor na gestão 1994-1998). Leia a íntegra da nota:

    “O Conselho Universitário da Universidade Federal de Minas Gerais, em sessão realizada em 7 de dezembro de 2017, vem a público agradecer à comunidade universitária pelas manifestações espontâneas de solidariedade a seus dirigentes e de repúdio às ilegalidades perpetradas contra os membros desta Casa. Este Conselho lamenta as consequências incalculáveis produzidas pela espetacularização midiática para a honra, a imagem e a saúde mental de gestores e servidores que deram relevantes contribuições à sociedade.

    As manifestações mostram de maneira inequívoca a coesão e a prontidão desta comunidade na defesa intransigente dos valores e propósitos permanentes desta Instituição. A designação da operação desrespeita nossa comunidade ao fazer uma alusão debochada a um símbolo da superação de um período sombrio de nossa história recente, o que desvirtua o propósito de homenagear as vítimas da ditadura expresso na criação do Memorial da Anistia.

    A UFMG está pronta. Ela está pronta, como sempre esteve e sempre estará, a prestar qualquer esclarecimento à sociedade, como é seu dever. Ela está pronta, como sempre esteve e sempre estará, a cooperar com as autoridades. Ela está pronta, como sempre esteve e sempre estará, a defender as instituições federais de ensino contra qualquer ataque.

    A condução coercitiva sem prévia intimação é prática sem respaldo jurídico e, além de vulnerar a ampla defesa, a dignidade da pessoa humana e a presunção de inocência, caracteriza constrangimento ilegal. A UFMG exige a plena observância dos direitos e garantias fundamentais contemplados na Constituição brasileira. A UFMG nunca se curvará ao arbítrio.

    Belo Horizonte, 7 de dezembro de 2017″
    A nota também pode ser lida neste arquivo em pdf:
    Maquete Memorial da Anistia

    NOTA DA ADMINISTRAÇÃO CENTRAL DA UFSC

    Administração Central da UFSC se manifesta sobre mais uma operação policial no campus
    A Administração Central da UFSC, por meio da presente nota, torna público seu posicionamento diante de operação policial que promoveu conduções coercitivas de servidores e busca e apreensão em locais do campus Trindade na manhã desta quinta feira, 07 de dezembro.

    1. Não houve, de parte das autoridades envolvidas, qualquer comunicado à instituição quanto à ação levada a cabo na data de hoje, na UFSC e em outros locais;
    2. Não houve, até o presente momento, qualquer notificação formal à instituição, a respeito do objeto das investigações, das pessoas investigadas ou dos motivos da operação;
    3. As menções de que as denúncias teriam sido encaminhadas pela administração da UFSC, conforme consta de algumas notícias veiculadas pela mídia, não se referem oficialmente a nenhuma ação que a atual gestão tenha praticado;
    4. As conduções coercitivas de servidores mostraram-se, como as prisões e outras conduções ocorridas em setembro, desnecessárias, considerando, ao que tudo indica, que não haveria resistência ou negativas em prestar todos os esclarecimentos às autoridades por parte dos envolvidos.
      Assim, manifestamos novamente nossa surpresa diante de outra operação policial, com ampla cobertura midiática, afetando diretamente a comunidade universitária sem que tenha sido respeitada a relação institucional entre os responsáveis pela operação e a Universidade Federal de Santa Catarina.

    Reafirmamos, por fim, nossa convicção de que todo e qualquer ato que configure irregularidade deva ser rigorosamente apurado, desde que seguidos os princípios da presunção de inocência, do direito à ampla defesa e ao contraditório, com base no devido processo legal, rejeitando qualquer ação apenas espetaculosa e midiática, a exemplo do que vivemos recentemente e cujo trágico desfecho é de conhecimento de toda a sociedade.

    Administração Central da UFSC
    07 de dezembro de 2017

     

    NOTA DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE DIRIGENTES DE INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR

     

    *UM ANO DE ATAQUES CONTRA AS UNIVERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS* 

     (Nota do reitor da UFPR Ricardo Marcelo Fonseca)
    Há quase um ano, no dia 9 de dezembro de 2016, a polícia federal irrompeu na UFRGS, em vista de uma suspeita de fraude em um programa de extensão. A polícia federal batizou todo o movimento de “Operação PhD”. Pouco tempo depois, em 13 de fevereiro de 2017, algo similar aconteceu na nossa universidade: numa operação (batizada de “Research”), foram envolvidos mais de 180 agentes federais, cumprindo vários mandados de prisão e oito conduções coercitivas.
     
    Mas o pior estava por vir: no dia 14 de setembro de 2017, numa operação batizada de “Ouvidos moucos” (em alusão direta à suposta falta de respostas da Universidade aos órgãos de controle), a polícia chega na UFSC para cumprir sete mandados de prisão temporária e cinco de condução coercitiva. Mais de 115 policiais foram envolvidos na operação – que vieram inclusive de outros estados. Nesse caso, porém, houve um fato grave adicional: o próprio Reitor da UFSC – Luiz Cancellier de Olivo – foi preso “por obstruir investigações”. Os supostos desvios (ainda em fase de investigação e apuração) teriam ocorrido na gestão anterior a dele. Levado a um presídio, algemado, submetido à revista íntima e solto logo depois, mas impedido por ordem judicial de colocar os pés na universidade que o elegeu, Cancellier cometeu suicídio no dia 02 de outubro de 2017.
     
    Para quem imaginava que esta tragédia serviria para que a escalada contra as universidades fosse objeto de reflexão e cuidado, hoje, dia 6 de dezembro de 2017, vem outro grande choque: o alvo foi a UFMG. Outra operação policial, com 84 policiais federais, 15 auditores da CGU e dois do TCU cumpriu oito mandados de condução coercitiva e onze de busca e apreensão. A operação – não sem certo mal gosto irônico – foi intitulada “Esperança equilibrista” (numa referência direta a uma canção símbolo da época da redemocratização brasileira, “O bêbado e o equilibrista”). Foram conduzidos coercitivamente os atuais reitor e vice-reitora da UFMG (Jaime Ramirez e Sandra Almeida), além de servidores e dirigentes das gestões anteriores.
     
    Como se viu, em pouco menos de um ano, 4 das maiores universidades federais do Brasil (UFMG, UFRGS, UFSC e UFPR), sofreram impactantes operações policiais, com quantidade de agentes (geralmente também acompanhados de auditores de órgão de controle) suficientes para um conflito armado. Todas com imensa e desmedida repercussão midiática. Em alguns desses casos, com prisão ou condução coercitiva das autoridades máximas – no planos administrativo e simbólico – das instituições universitárias. Nunca se viu um cenário desses antes.
     
    As universidades, seus professores, servidores técnicos e pesquisadores teriam se pervertido tanto assim em um ano? Teriam se transformado de repente em ninhos de bandidos? E se perceba: se está falando de instituições tradicionais – a nossa UFPR é centenária – que durante décadas foram vistas como celeiros do conhecimento brasileiro e da formação de gerações. As universidades não são perfeitas, como nenhuma instituição pública ou privada o é, mas seguramente não são esse antro de corrupção, descontrole e ineficiência que as ações policiais sugerem e que a mídia propaga.
     
    Se é assim, é melhor olhar com certa frieza para o que há de comum nesse triste contexto. Primeiro, operações policiais e órgãos de controle têm elegido as universidades públicas como principais focos de sua atenção. Não são os ministérios, autarquias ou os demais órgãos federais – seguramente nenhum deles berços infalíveis de virtudes infinitas; agora os olhos do controle e da repressão se voltam para as universidades públicas.
     
    Segundo: de repente – mais do que em qualquer outro tempo – a imprensa se concentra no que acontece nas Universidades. Mas não para falar sobre os milagres cotidianos que operamos (na formação das pessoas, na ciência, na tecnologia, na inovação ou na inclusão social), mas naquilo que, aos seus olhos, lhe parece suspeito, mesmo que ainda não haja investigação ou decisão definitiva sobre o que se noticia.
    Terceiro: todas essas confusões – todas – são feitas sem que haja um juízo condenatório definitivo: o escarcéu repressivo e midiático acontece antes e a apuração de responsabilidades vem depois.
     
    Quarto: parece que houve uma suspensão de alguns direitos no Brasil, como a presunção de inocência, o devido processo legal e a dignidade da pessoa humana. O clima policialesco e a mentalidade inquisitória parecem ter definitivamente suplantado uma cultura de direitos que valorizava a liberdade. Em nome de um certo moralismo administrativo e de uma sanha punitivista, garantias e direitos individuais são colocados como detalhes incômodos e inconvenientes.
    Quinto: o princípio da autonomia universitária (prevista no art. 207 da Constituição), por todas as razões antes já mencionadas, hoje foi reduzido a pó e a letra morta.
     
    O momento é de fato grave: enquanto deputados ou senadores filmados em flagrante delito por graves desvios são soltos pelos seus pares, reitores têm sua liberdade cassada. A sociedade deve, com muita premência, pensar que tipo de mundo pretende construir quando instituições como as universidades públicas (responsáveis por cerca de 90% da ciência e tecnologia do Brasil) são demonizadas, expostas, desrespeitadas e quando seus dirigentes são imolados publicamente.
     
    O Brasil precisa pensar em que tipo de futuro quer apostar. E para mim a resposta só pode ser essa: é momento de resistir e defender a Universidade Pública. Viva a UFRGS! Viva a UFSC! Viva a UFMG! Viva a UFPR!
    Ricardo Marcelo Fonseca
    Reitor da UFPR
    6 de dezembro de 2017

    MENSAGEM DE REPÚDIO DO PROFESSOR BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS PELA CONDUÇÃO COERCITIVA DO REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

    Na minha qualidade de Director do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, quero manifestar o mais vivo repúdio pela despropositada e ilegal condução coercitiva de que foi vítima o Reitor e a equipa reitoral da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

    Quero ao mesmo tempo testemunhar a mais veemente solidariedade a estes académicos íntegros e quero pedir-lhes, em nome da comunidade académica internacional, que não se deixem intimidar por estes actos de arbítrio por parte das forças anti-democráticas que tomaram conta do poder no Brasil.

    Eles sabem bem que nada disto tem a ver pessoalmente com eles enquanto indivíduos, pois sabem que não há nenhuma razão jurídica que justifique tais acções. Os actos de que são vítimas visam, isso sim, desmoralizar as universidades públicas e preparar o caminho para a sua privatização.

    Estamos certos que estes desígnios não se cumprirão, pois a resistência da comunidade académica e do conjunto da cidadania democrática brasileira a tal obstarão.

    O Reitor da UFMG e a sua equipa reitoral estão agora na linha da frente dessa resistência e merecem por isso não apenas a nossa solidariedade, mas também todo o nosso respeito.

    Coimbra, 6 de Dezembro de 2017
    Boaventura de Sousa Santos
    Director do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra

     

    NOTA DE SOLIDARIEDADE ÀS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS E DE REPÚDIO AOS ATAQUES DO ESTADO DE EXCEÇÃO

    O Coletivo Floripa Contra o Estado de Exceção e o Coletivo Catarinense Memória, Verdade e Justiça vêm a público manifestar seu repúdio ao violento  ataque sofrido pela UFMG no dia 6 de dezembro de 2017, bem como aos novos ataques sofridos pela UFSC na manhã deste dia 7 no âmbito da “Operação Torre de Marifim”. Eles representam uma grave violação ao Estado de Direito e à autonomia constitucional universitária que ofende todas as instituições democráticas do país. Ao mesmo tempo, os coletivos prestam inteira solidariedade ao seu corpo de dirigentes, professores e servidores agredidos pela prisão ilegal, condução coercitiva e humilhação de homens e mulheres de conduta ilibada e de contribuição largamente reconhecida à comunidade científica e à sociedade em geral.

    Forjadas num vexaminoso conluio entre Corregedoria Geral da União, Polícia Federal, Justiça Federal e Ministério Público Federal, essas operações reiteram expedientes abusivos, característicos de um Estado de Exceção. Assim como os ataques anteriores e novos impostos à UFSC, a intervenção militar sofrida pela UFMG denuncia seu verdadeiro propósito no bojo da ofensiva neoliberal sofrida pelo Brasil: promover a desmoralização e o desmonte de instituições de ensino de lisura e qualidade inabaláveis.

    Na sequência do show de horrores patrocinado pela famigerada Operação “Ouvidos Moucos” na UFSC, que culminou com a morte traumática do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, a comunidade universitária nacional assiste à caluniosa operação “Esperança Equilibrista” dar seu bote contra a segunda maior universidade do país. O mesmo padrão de conduta abusiva, violenta, espetaculosa e difamatória dos agentes da Polícia Federal desmascaram uma única operação nacional de caráter fascista. Não restam dúvidas sobre sua real finalidade: criar as condições de implantação do projeto neoliberal privatista das instituições públicas de ensino superior, a começar pelas que desfrutam de largo prestígio por sua contribuição histórica à sociedade brasileira.

    Estamos confiantes de que a reação nacional e internacional fará com que os canhões desses atentados à imagem e ao corpo das instituições se voltem contra o próprio governo que os agasalhou. É de amplo conhecimento a pauta neoliberal que está em curso por trás dessas ofensivas, com a tarefa de destruir as condições de educação pública de qualidade para abrir caminho à privatização do ensino recomendada pela cartilha do Banco Mundial. Elas ocorrem no bojo de outras ofensivas desencadeadas a partir da tomada do poder pelo Governo Temer, como a destruição das leis trabalhistas, a entrega criminosa dos recursos naturais, a privatização de setores essenciais para a soberania nacional e, finalmente o desmonte da Previdência Social e do sistema público de saúde. Humilhando, constrangendo e aviltando a dignidade dos seus dirigentes, essas operações difamatórias revelam seu claro propósito de incitar o ódio da opinião pública ignara, apelando para a falsa bandeira do combate à corrupção.

    Diante do devastador cenário nacional, assistimos hoje, contudo, ao crescimento da compreensão do povo brasileiro sobre a armadilha dessa bandeira marcada pela hipocrisia, que serve como um cavalo de troia para a retirada dos seus direitos e anulação das políticas públicas. Forjadas na calúnia, no abuso de autoridade e na ilegalidade de prisões que aviltam os direitos humanos e jurídicos dos representantes eleitos das comunidades universitárias, essas intervenções denunciam um mesmo modus operandi. O grande dispêndio de recursos para mobilizar contingente excessivos de policiais, superior ao desvio de recursos que essas operações colocam sob suspeita, por si só desmentem o seu caráter moralista.  Conforme demonstram as contas da UFSC e da UFMG, rastreadas e aprovadas por todos os órgãos federais de controle e fiscalização, não há recursos públicos a recuperar que possam justificar os danos ao Estado Democrático de Direito e à vida comunitária causados por essa onda de violações.

    O Coletivo Floripa Contra o Estado de Exceção se une a todas as forças democráticas do país no levante em defesa das nossas universidades. Nosso mais veemente repúdio à Operação “Esperança Equilibrista”, que desde seu nome expressa a afronta e o deboche deste governo não só pelo patrimônio material e imaterial da educação pública, como também pela memória histórica e cultural do nosso país. Não à toa, seu alvo é um símbolo democrático como o Memorial da Anistia, dedicado à documentação dos crimes cometidos pela Ditadura Militar contra artistas, intelectuais, estudantes, educadores e operários brasileiros, que em grande medida partiram de ataques idênticos às nossas instituições universitárias. O passado triste e sujo de manchas torturadas, imortalizado pela canção de João Bosco e Aldir Blanc, aviltada pelo sequestro indébito do seu sentido, é o que essas ações pretendem reeditar no nosso país. Não conseguirão, contudo, nos intimidar: os atentados fascistas só servirão para acordar os incautos e nos tornar mais fortes e mais coesos.

    NÃO PASSARÃO! DITADURA NUNCA MAIS, SUICÍDIO NUNCA MAIS!

    Assina

    Floripa Contra o Estado de Exceção e Coletivo Catarinense Memória, Verdade e Justiça
    Florianópolis, 07 de dezembro de 2017.

     

    A Trincheira Simbólica contra o Estado de Exceção

     

    Fonte das fotos: https://www.ufmg.br/online/arquivos/005910.shtml
    O General João Figueiredo foi o responsável por sujar de tinta e limpar o sangue do papel que portava a lei n° 6.683, que anistiava todos que cometeram crimes políticos e eleitorais e funcionários públicos no descumprimento das leis entre setembro de 1961 e agosto de 1979.

    Fruto de forte pressão popular, como resultado, trouxe de volta ao Brasil exilados políticos, entre eles artistas e políticos. Uma onda de otimismo e esperança encheram as ruas e deu força para movimento das eleições diretas. O “Bêbado e o Equilibrista” de Aldir Blanc e João Bosco na voz de Elis Regina marcou uma época e virou hino da abertura política.

    Quem poderia imaginar que a lei da Anistia, a despeito de seu valor simbólico, alimentou o parasita fascista no seio da democracia e criou escola. Centenas de presos políticos contrários ao regime militar, cumpriram suas penas integralmente mesmo após a vigência da lei por crimes imputados pela justiça dos generais, acusados de terrorismo e mortes, sem possibilidade de recurso. Quanto aos agentes da repressão estatal, ficaram impunes pela mesma lei dos crimes de sequestro, estupro, tortura, assassinato, terrorismo e ocultação de cadáveres.

    Que tipo de exemplo você sinaliza a jovens que acompanharam a abertura política, a constituinte de 1988, a primeira eleição e toda a história política até o golpe de 2016 com os generais criminosos e torturadores do DOI-CODI gozando de liberdade, curtindo sua aposentadoria com total liberdade, enquanto famílias das vítimas tentam se recuperar após serem destroçadas pelas mãos de ferro do estado fascista. Ainda que o estado posteriormente tenha indenizado filhos, esposas ou mães, recuperado aposentadorias das antigas funções públicas ou o mero reconhecimento público de crimes dos agentes da repressão de estado pela comissão da verdade, nada disso foi capaz dissipar a materialização do ideal opressor incentivado pelo valor simbólico de sua história.

    Hordas de mancebos de gerações alienadas, movidos pelo estigma individualista do ideal propugnado pelo “American way of life” e que hoje ocupam cargos públicos no ministério público, polícia federal e justiça federal são candidatos ideais a herdarem o fenótipo fascista, moldado pelo eloquente simbolismo que a impunidade de seus antecessores alforriados. Eles só precisam de um pouco de ódio para florescerem.

    Sob a batuta do mercado, o golpe de 2016 que serve de terra prometida para as novas oportunidades, criam-se também novas demandas para tais mercenários dispostos a polir o ódio e alimentar o ego. Se a fome por petróleo, energia elétrica e água potável é tão implacável quanto a fome de uma tempestade de gafanhotos, porque ignoraríamos o grande potencial econômico que a educação é capaz de oferecer para um país com mais de 50 milhões de estudantes, 8 milhões dos quais, estudantes do ensino superior. Seria plausível desconfiar dos recentes ataques policiais-midiáticos à universidades federais como a UFSC e UFMG? Porque ignorar o poder letal da desmoralização pública de instituições respeitáveis e com grandes orçamentos?

    Sem sombra de dúvida as universidades e as escolas agregam uma resistência ao golpe de estado, como foi com os “Ocupa Escola” de 2016.  Já no golpe de 1964, a repressão voltou seu olhar para as universidades, celeiro de “subversivos” como eram chamados pelos colaboracionistas e golpistas.

    Independente do mérito das respectivas investigações, impossível justificar missões policiais com mais de cem agentes públicos compostos por políciais federais e auditores federais nas duas universidades e que despenderam gastos astronômicos. O que justificaria passar por cima da lei e sequestrar o reitor Cau Cancelier e mantê-lo em cárcere? O que justificaria a condução coercitiva do reitor e vice-reitora, ex-reitor e ex-vice-reitora da UFMG sem terem sido intimados anteriormente?

    A “guerra contra o terror” de George W. Bush geraram as leis patrióticas no pós onze de setembro para aplacar a ameaça do oriente médio e que tiraram a liberdade de milhares de muçulmanos sem julgamento. Criou-se um precedente para o Estado de Exceção para justificar a “liberdade” dos cidadãos estadounidenses. Seria a “guerra contra a corrupção” uma cópia mal feita para justificar o retorno à estabilidade das elites e o domínio da senzala? Hoje é fato consumado que os desastres das missões no Afeganistão e Iraque escondiam interesses privados de grandes corporações. Porque aqui no Brasil a guerra contra a corrupção seria diferente? Interesses poderiam acobertar tais operações? É preciso que Brasil tome providências urgentemente contra o avanço do Estado de Exceção e abusos de autoridades. Não bastou o precedente do reitor Cancellier?

    Sobre o nome da operação na UFMG “Esperança Equilibrista” envolvendo o memorial da Anistia, não há ironia, que melhor forma de transformar simbolicamente os sonhos revolucionários que atingi-los diretamente. Não é de hoje que as apropriações culturais deformam o simbolismo original, mas “O Bêbado e o Equilibrista” é maior do que qualquer ameaça fascista e nunca deixará de ser hino.

    Chico Caprario
    Estudante UFSC

     

    CARTA ENTREGUE PELO COLETIVO FLORIPA CONTRA O ESTADO DE EXCEÇÃO AO REITOR PRÓ-TEMPORE DA UFSC

    NOTA DA ADUFC-SINDICATO CONTRA A INVASÃO DA POLÍCIA FEDERAL À UFMG

    NOTA DA ADUFC-SINDICATO CONTRA A INVASÃO DA POLÍCIA FEDERAL À UFMG

    A diretoria da Adufc-Sindicato vem a público repudiar de forma veemente a invasão patrocinada pela Polícia Federal, na manhã de quarta-feira (06), à Reitoria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

    Numa ação autoritária e injustificada, aos moldes dos regimes de exceção, e ferindo a autonomia universitária, os agentes da PF levaram coercitivamente para prestar depoimento na sede da Polícia Federal, em Belo Horizonte, o Reitor Jaime Arturo Ramírez, a vice-reitora Sandra Goulart (eleita para a reitoria a partir de 2018), além de três ex-reitores e ex-vice-reitores.

    A ação intolerável da PF, denominada “Esperança Equilibrista coincide com o lançamento, na próxima semana, do relatório da Comissão da Verdade em Minas Gerais e às vésperas da votação da Reforma da Previdência.

    É importante lembrar que o atual superintendente da Polícia Federal, responsável pela operação na UFMG, foi recentemente indicado pelo presidente ilegítimo Michel Temer. Na posse afirmou não ser “uma única mala cheia de dinheiro, indício de corrupção”.

    A invasão desta quarta-feira na Universidade Federal de Minas Gerais é parte de uma estratégia que visa desmoralizar e enfraquecer o ensino superior público, com o claro objetivo de entregá-lo à iniciativa privada.

    Enquanto o governo de Michel Temer conspira contra o povo brasileiro, buscando aprovar a reforma da Previdência, juntamente com um Congresso Nacional venal, a Polícia Federal cumpre um papel deplorável de servir como instrumento para tentar desestabilizar a Universidade Pública Brasileira.

    Nos solidarizamos com a comunidade da UFMG e conclamamos os que fazem a universidade pública a reagir às arbitrariedades e violências praticadas pelo governo de Michel Temer e a Polícia Federal.

    PELA UNIVERSIDADE PÚBLICA, GRATUITA, INCLUSIVA E DE QUALIDADE!

    FORA MICHEL TEMER!

    A DIRETORIA

     

    Nota da Frente Brasil Popular sobre a operação da PF na UFMG*

    Em uma ação intolerável e inconstitucional na manhã desta quarta-feira, 6 de dezembro a Polícia Federal invadiu a UFMG. Na sequência conduziu coercitivamente os três últimos reitores e vice-reitores da universidade.

    Em clara demonstração do avanço do estado de exceção a operação foi denominada “Esperança Equilibrista”, ocorrendo há menos de uma semana do lançamento do relatório da Comissão da Verdade em Minas Gerais e as vésperas da votação da Reforma da Previdência, como tem sido prática das forças do golpe.

    A atual direção da Policia Federal indicada pelo governo do golpe preserva os corruptos e persegue os honestos. A atual operação, conduzida pela PF com apoio de Ministério e da CGU do atual governo federal, tem claro objetivo de desmoralizar a universidade pública, o pensamento crítico, a educação e a pesquisa acadêmica brasileira.

    É preciso lembrar que após o impeachment o governo ilegítimo sequer nomeou novo presidente para a Comissão da Anistia responsável por lançar o projeto em 2008, paralisando os trabalhos.

    Demonstra claro recado ideológico e ataca uma obra fundamental para defesa da democracia e a cultura democrática brasileira. O Memorial da Anistia visa dignificar os que lutaram contra o regime militar, assim como os memoriais existentes da Alemanha nazista, do apartheid na África do Sul, e da ditadura Pinochet de Allende.

    Exigimos a imediata destituição do diretor da Policia Federal e a paralisação do processo tamanha a extensão da arbitrariedade.

    Abaixo o estado de exceção e ao ativismo judicial e policial persecutório seletivo!

    Ditadura nunca mais!

    Em defesa da universidade pública, da autonomia universitária e do pensamento crítico!

    Pelo direito a memória, a verdade e a justiça!

    *Frente Brasil Popular MG*

     

    CARTA DE MINAS GERAIS

    Nem é possível dizer bom dia em Minas Gerais hoje.
    O fascismo cresce quando ficamos calados! Nós não ficaremos calados! A UFMG sofre o mesmo ataque que a Universidade de Santa Catarina sofreu! Nossos reitores foram levados coercitivamente no início desta manhã, daqui a pouco uma entrevista coletiva tornará tudo um “espetáculo” de promoção pessoal dos agentes que estão atuando nisso, poucas perguntas serão feitas pela mídia comercial, as pessoas serão condenadas, antes sequer de serem acusadas e julgadas.
    Não haverá o contraditório!

    Nós faremos o contraditório!

    Para quem tem compromisso com a democracia convidamos para um ato que começa AGORA na porta da Polícia Federal (Rua Nascimento Gurgel, 30, Gutierrez)

    À imprensa, coletiva às 14 horas na sala de imprensa da Assembleia Legislativa

    Texto presente nas páginas de Rudá Guedes Ricci e Beatriz Cerqueira.

     

    CARTA DA UNE

    “A UFMG não tem medo de investigação, tem medo é de perseguição política!”

    Presidente da UNE, Marianna Dias: “Querem dar a sensação que a universidade é corrupta para poder justificar a falta de investimento público”

    É um ultraje. A Polícia Federal extrapolou da provocação para a indignidade ao nomear a operação que conduziu coercitivamente os reitores da UFMG nesta quarta-feira (06/12) de “Esperança Equilibrista” nome da música de João Bosco & Aldir Blanc, hino do Brasil na época da ditadura e da anistia. Pior do que utilizar uma letra simbólica em uma operação que ameaça uma obra que homenageia os perseguidos políticos é fazer referência aos cartazes que defenderam o ex-reitor da UFSC, professor Luiz Carlos Cancelier que depois de ser levado ao escárnio público, não conseguiu lidar com a situação de injustiça e acabou se suicidando em Outubro. Na época estudantes, professores e funcionários utilizaram a letra da música em protestos contra a prisão de Cancelier. A PF achou que podia achincalhar a defesa de um professor honrado com histórico de luta pela sua instituição. Não pode! Não vamos tolerar que zombem da nossa luta!

    Temos visto o Estado brasileiro e suas instituições abusarem do poder para perseguir novamente defensores da educação pública e da democracia brasileira. É uma repetição infeliz de um dos períodos mais tristes da nossa história, o estado de exceção está batendo na nossa porta.

    Querem dar a sensação que a universidade é corrupta para poder justificar a falta de investimento público, os cortes no essencial para que elas funcionem, fazer com que bolsas para pesquisadores sejam suspeitas de desvio de dinheiro, assim como acontece agora no Memorial da Anistia que vem sendo construído pela UFMG.

    Para a UNE é emblemático que esta operação da Polícia Federal seja justamente sobre a pesquisa desenvolvida para memória daqueles que lutaram contra os abusos da Ditadura Militar. Uma nova onda de perseguição política e patrulhamento ideológico que se assemelha com aquele período está em curso.

    O espetáculo, as conduções coercitivas sem necessidade, o julgamento midiático, fotos intencionalmente vazadas de cidadãos investigados, tudo está sendo usado para deslegitimar o óbvio: ninguém é culpado até que se prove.

    O Memorial da Anistia, ao que sabemos, teve todas as suas contas aprovadas. A UFMG resiste e a sua comunidade acadêmica sai em sua defesa.

    O reitor da UFSC deixou em carta póstuma que começou a morrer no dia que foi preso. A nossa democracia também segue doente deste o golpe que tirou a primeira mulher à frente da República e agora espalha morte por onde passa.

    Não temos medo de investigação, temos medo de injustiças continuadas, de abusos sistemáticos, perseguições políticas, de governos sem representatividade, de presidentes levados ao poder sem voto.
    Estaremos de pé para defender a soberania do voto popular, o Estado Democrático de Direito, e as nossas universidades públicas que desde as cotas estão mais próximas da cara do povo brasileiro. Como profetizou nosso presidente ilustre, Honestino Guimarães, que perdeu a vida na luta: “Podem nos prender, podem nos matar, mas um dia voltaremos, e seremos milhões”!

    *Marianna Dias é presidenta da União Nacional dos Estudantes.
    Manifesto organizado por professores da UFMG e da USP e assinado por intelectuais de diversas partes do país e do exterior em defesa da universidade pública e em repúdio aos atos de violência cometidos hoje em Belo Horizonte. Os que quiserem aderir enviar email para avritzer1@gmail.com

    MANIFESTO EM DEFESA DO ESTADO DE DIREITO E DA UNIVERSIDADE PÚBLICA NO BRASIL

    Nós, intelectuais, professores, estudantes e dirigentes de instituições acadêmicas, vimos a público manifestar nossa perplexidade e nosso mais veemente protesto contra as ações judiciais e policiais realizadas contra a universidade pública que culminaram na invasão do campus da UFMG e na condução coercitiva de reitores, dirigentes e administradores dessa universidade pela Polícia Federal no dia 6 de dezembro de 2017. O Brasil, nos últimos anos, vivencia a construção de elementos de exceção legal justificados pela necessidade de realizar o combate à corrupção. Prisões preventivas injustificáveis, conduções coercitivas ao arrepio do código penal tem se tornado rotina no país.
    Neste momento amplia-se a excepcionalidade das operações policiais no sentido de negar o devido processo legal em todas as investigações relativas à corrupção violando-se diversos artigos da Constituição inclusive aquele que garante a autonomia da universidade. É inadmissível que a sociedade brasileira continue tolerando a ruptura da tradição legal construída a duras penas a partir da democratização brasileira em nome de um moralismo espetacular que busca, via ancoragem midiática, o julgamento rápido, precário e realizado unicamente no campo da opinião pública.
    Nos últimos meses, essas ações passaram a ter como alvo a universidade pública brasileira. Cabe lembrar aqui que a universidade pública, diferentemente de muitas das instâncias do sistema político, está submetida ao controle da CGU e do TCU, respeita todas as normas legais e todos os princípios da contabilidade pública em suas atividades e procedimentos. Portanto, não existe nenhum motivo pelo qual devam se estender a ela as ações espetaculares de combate à corrupção.
    A universidade pública brasileira tem dado contribuições decisivas para o desenvolvimento da educação superior, da pós-graduação, da ciência e tecnologia que colocaram o Brasil no mapa dos países em desenvolvimento. Somente universidades públicas brasileiras estão entre as 20 melhores instituições de ensino e pesquisa da América Latina, de acordo com o Times Higher Education Ranking. A UFMG, sempre bem colocada nesses rankings internacionais, possui 33.000 alunos de graduação, 14.000 alunos de pós-graduação, conta com 75 cursos de graduação, 77 cursos de mestrado e 63 cursos de doutorado. Além de sua excelência em educação e pesquisa, a UFMG se destaca por suas ações de assistência e extensão nas áreas de saúde e educação.
    Nesse sentido, intelectuais e membros da comunidade universitária exigem que seus dirigentes sejam respeitados e tratados com dignidade e que quaisquer investigações que se mostrarem necessárias com relação a atividades desenvolvidas na universidade sejam conduzidas de acordo com os princípios da justiça e da legalidade supostamente em vigência no país e não com o objetivo da espetacularização de ações policiais de combate à corrupção. Está se constituindo uma máquina repressiva insidiosa, visando não só coagir, mas intimidar e calar as vozes divergentes sob o pretexto de combater a corrupção. Seu verdadeiro alvo, porém, não é corrupção, mas o amordaçamento da sociedade, especialmente das instituições que, pela própria natureza de seu fazer, sempre se destacaram por examinar criticamente a vida nacional.
    Não por acaso o alvo dessa violência contra a universidade e seus dirigentes foi exatamente um memorial que tenta recompor os princípios da justiça e do estado de direito extensamente violados durante o período autoritário que se seguiu ao golpe militar de 1964. O Memorial da Anistia tem como objetivo explicitar os abusos autoritários perpetrados nesses anos de exceção porque apenas a sua divulgação permitirá que as gerações futuras não repitam o mesmo erro.

    Nesse sentido, intelectuais, professores e estudantes conclamamos todos os democratas desse país a repudiarem esse ato de agressão à justiça, à universidade pública, ao estado de direito e à memória desse país.

    Assinam:

    Paulo Sérgio Pinheiro (ex ministro da secretaria de estado de direitos humanos)
    Boaventura de Sousa Santos (professor catedrático da Universidade de Coimbra)
    André Singer (professor titular de ciência política usp e ex-secretário de imprensa da presidência)
    Ennio Candotti (ex-presidente e presidente de honra da SBPC)
    Newton Bignotto (professor do Departamento de Filosofia da UFMG)
    Leonardo Avritzer (ex-presidente da Associação Brasileira de Ciência Política)
    Fabiano Guilherme dos Santos (presidente da ANPOCS)
    Maria Victória Benevides (professora titular da Faculdade de Educação da USP)
    Roberto Schwarz (professor titular de Literatura da Unicamp)
    Renato Perissinoto (presidente Associação Brasileira de Ciência Política)
    Fábio Wanderley Reis. (Professor Emérito da UFMG)
    Cícero Araújo (Professor do Departamento de Ciência Política da USP)
    Sérgio Cardoso (Professor do Departamento de Filosofia da USP)
    Marilena de Souza Chauí (Professora titular do Departamento de Filosofia da USP)
    Fábio Konder Comparato (Professor Emérito da Faculdade de Direito da USP)
    Ângela Alonso (professora do Departamento de Sociologia da USP)
    Juarez Guimarães (professor do Departamento de Ciência Política da UFMG)
    Michel Löwy. (Pesquisador do CNRS, França)
    Adauto Novaes (Arte e Pensamento)
    Maria Rita Kehl (psicanalista)
    Thomás Bustamante (Professor da Faculdade de Direito da UFMG)
    Lilia Moritz Schwarcz (Professora do Departamento de Antropologia da USP)
    Gabriel Cohn (ex-diretor da Faculdade de Filosofia da USP)
    Marcelo Cattoni (professor da Faculdade de Direito da UFMG)
    Amélia Cohn (professora do Departamento de Medicina Preventiva da USP)
    Dulce Pandolfi (Historiadores pela Democracia)
    Oscar Vilhena Vieira (Diretor e professor a Faculdade de Direito da FGV-SP)
    Alfredo Attié (Presidente da Academia Paulista de Direito Titular da Cadeira San Tiago Dantas)

    CARTA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS (UFPel)

    A administração da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) vem a público manifestar sua indignação com o tratamento dispensado as Universidades Federais brasileiras nos últimos meses. Os fatos ocorridos ontem na UFMG, e amplamente noticiados, representam mais um ataque a esse patrimônio da sociedade brasileira. Devemos lembrar que ataques similares já ocorreram na UFRGS, na UFPR e na UFSC, sendo que esse último culminou inclusive no suicídio do Reitor.

    O financiamento das Universidades Federais tem sido severamente reduzido, embora as propagandas oficiais tentem noticiar o contrário. Ao longo do ano, os recursos foram repassados num ritmo “conta gotas” inédito, sendo que cada nova liberação do recurso, já deficitário, gerava uma peça publicitária como se representasse incremento de financiamento. Na verdade, nossos recursos de investimentos, para obras e equipamentos, diminuíram quase a zero. Nossos recursos de custeio, para manutenção da Universidade, são insuficientes e diminuem a cada ano.

    A alta cúpula do Ministério da Educação defende publicamente a cobrança de mensalidade em Universidades Públicas, atacando mais uma vez esse patrimônio histórico da sociedade brasileira. Aliás, quem deveria por ofício nos defender, nos ataca. O Plano Nacional de Educação é solenemente ignorado, tendo em vista que suas metas jamais serão atingidas com o corte drástico de recursos vivenciado pelas Universidades Federais. Nossa autonomia, um direito constitucional conquistado com muita luta, é diariamente ferida.

    Apoiamos que irregularidades sejam analisadas e corrigidas, mas jamais de modo truculento. Esse descaso e desrespeito com as Universidades Federais brasileiras deve ser motivo de indignação para toda a população. A administração da UFPel manifesta sua solidariedade a nossa coirmã UFMG e nosso repúdio ao modo como as Universidades Federais vêm sendo tratadas num país que tanto carece de educação de qualidade.

     

    NOTA CONJUNTA SOBRE A AÇÃO DA POLÍCIA FEDERAL NA UFMG

    ADUFU, SINTET, DCE E APG-UFU repudiam, veementemente, a ação orquestrada pela Polícia Federal (PF) na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na manhã desta quarta-feira (06). A ação, denominada “Esperança Equilibrista”, que visa a apurar desvios de recursos nas obras do Memorial da Anistia, conduziu coercitivamente o reitor, a vice-reitora e outras seis pessoas. Operação de mesma natureza ocorreu na Universidade Federal de Santa Catarina, no último setembro, e teria levado o então reitor Luiz Carlos Cancellier, em 2 de outubro deste ano, ao suicídio.

    O reitor Jaime Arturo e a vice-reitora Sandra Goulart são docentes de pensamento democrata e progressista, defensor e defensora da universidade pública e, por isso, a ADUFU se solidariza com todas as pessoas levadas coercitivamente, repudiando a ação truculenta da PF que, mesmo após a morte de Cancellier, não procurou modificar a sua abordagem, capaz de destruir ou manchar a imagem dessas pessoas e da universidade.

    Vale ressaltar que não entendemos essas ações como isoladas, mas fruto de uma tentativa de desqualificação das gestões públicas e de abertura para o debate sobre a privatização das universidades públicas, uma vez que, no atual contexto, o governo veio à público defender a cobrança de mensalidade nas instituições de ensino superior brasileiras.

    Sendo assim, a ADUFU e demais entidades reafirmam o seu compromisso com a defesa incansável da educação pública, gratuita e de qualidade e reiteram a importância do direito ao contraditório e da presunção de inocência para todos e todas indistintamente, direitos garantidos pela constituição de 1988.

    Diretoria Executiva da ADUFU, Gestão Resistir e Lutar, Seção Sindical do ANDES
    Sindicato dos Trabalhadores Técnico – Administrativos em Instituições Federais de Ensino Superior de Uberlândia – SINTET UFU
    Diretório Central dos Estudantes da UFU, Gestão Todos os Cantos – DCE UFU
    Associação de Pós-Graduandos da UFU – Gestão 2016-2017 – APG UFU
    Uberlândia, 06 de dezembro de 2017

     

    ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA

    Via Professora Sonia W Maluf

    Caros/as, estou na XII Reunião de Antropologia do Mercosul, em Posadas, Argentina, e acabamos de aprovar uma nota apresentada pela ABA (Associação Brasileira de Antropologia) em repúdio aos ataques à universidade pública brasileira e às ações da PF e do MPF que ferem a autonomia universitária e representam um ataque ao ensino público, sobretudo no casos recentes da UFPA (invasão, patrocinada por um prefeito e seus capangas, de uma atividade da profa. Rosa Acevedo sobre a ação da mineradora Belo Sun na região), UFMG (prisão de reitor, vice-reitora e outros docentes) e UFSC (ação anterior e ação feita hoje). A nota ainda não foi publicada, mas logo que for envio. A RAM reunião mais de 2000 antropólogos e estudantes de antropologia do Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, e outros paises da América Latina.

     

    CANCELLIER Vol. 2: AGORA MEGANHAGEM LEVA EM CONDUÇÃO COERCITIVA REITOR DA DA UFMG!

    A tática é de intimidação da academia, especialmente a da universidade pública. Claro: ela constitui um dos pontos nodais da resistência da sociedade brasileira ao(s) golpe(s). Tanto golpe o político (Temer e demais ladrões), quanto o econômico (desmonte do Estado e da soberania), o social (fim dos direitos), o jurídico (“República da meganhagem”) e o cultural (neo-fascimo ultraliberal “de rede social”).

    Se precisar desenhar para os mais lentinhos:

    (1) Foi na UFMG que o MPF instaurou investigação contra grupo de estudos que abordava “marxismo” em 2017;
    (link: https://www.ocafezinho.com/2017/08/03/mpfmg-arquiva-pedido-de-investigacao-de-grupo-de-estudos-marxistas-da-ufmg/)
    (2) O alegado desvio de dinheiro na UFMG é relativo à construção de um Memorial da… ANISTIA (!);
    (link: https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2017/12/06/interna_gerais,922419/pf-faz-operacao-contra-desvio-de-dinheiro-em-obra-da-ufmg.shtml)
    (3) Em 2016, a professora italiana Maria Rosaria Barbato, da Faculdade de Direito da UFMG, foi intimada a depor na PF após “denúncia anônima” de que participara de ato contra o golpe, o que violaria o (antigo) Estatuto do Estrangeiro.
    (link: https://www.ufmg.br/online/arquivos/043530.shtml)
    (4) O Banco Mundial recomenda privatização das universidades públicas brasileiras (2017).
    (link: https://www.em.com.br/app/noticia/economia/2017/11/21/internas_economia,918285/banco-mundial-sugere-fim-do-ensino-superior-gratuito-no-brasil.shtml)
    (5) A (minha) UERJ seguiu na frente, como o projeto piloto do fim da universidade pública.
    (“Meirelles exige fim da UERJ para ajudar o Rio” – link: https://www.ocafezinho.com/2017/09/05/meirelles-exige-fim-da-uerj-para-ajudar-rio/)
    (6) O martírio do Reitor Cancellier, da UFSC, é o exemplo (literalmente) lapidar do que pode esperar quem, na academia, ousar se insurgir.

    Abaixo, relato do professor da UFMG Carlos Alberto Ávila Araújo:

    “Todo apoio ao reitor da UFMG Jaime Ramirez e vice-reitora Sandra Goulart levados coercitivamente pela polícia hoje. Não havia necessidade. Bastava convocá-los. Não há corrupção. Basta verificar os fatos para ver o que de fato ocorreu. Mas o papel da polícia federal no Brasil hoje é o de proteger os corruptos (Aécio, Perrella, Geddel, Temer, Globo, Moro) e perseguir todos os que lutam contra o golpe. E também convencer a população que é preciso privatizar tudo”.

    Pegos de surpresa, não hesitamos, Miguel Do Rosario, Wellington Calasans, Tássia Camargo, Tadeu Porto e eu, em tornar este o tema do Programa Cafeína, de O Cafezinho, desta semana. Hoje, ao vivo, (excepcionalmente) às 19h, horário de Brasília. Receberemos a ex-Professora da UFMG e atual Professora da UnB Beatriz Vargas Ramos, Professora de direito penal e de criminologia.

    Não nos intimidarão! Abaixo o golpe! Abaixo a meganhagem!

    Jornalista Rômulus Maya, do Blog O Cafezinho

    É HORA DE DEFENDER A UNIVERSIDADE

    André Singer
    9/12/2017

    Na quarta (6), três meses depois do episódio que levou o então reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) ao suicídio, a Polícia Federal (PF) resolveu repetir a dose com o da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O procedimento foi o mesmo. Agentes chegam de surpresa à casa da vítima, que nunca fora intimada a depor, cedo de manhã, e a levam, sob vara, para alguma instalação policial.

    O engenheiro Jaime Arturo Ramirez teve mais sorte do que o advogado catarinense Luiz Carlos Cancellier, sendo liberado após algumas horas. O segundo, submetido à humilhação de algemas, correntes nos pés, desnudamento, revista íntima, uniforme de presidiário e a cela onde teve que dormir, matou-se 15 dias mais tarde.

    Ao deixar as dependências da PF, Ramirez, levado ao mesmo tempo que outros seis quadros da UFMG, fez uma declaração sucinta: “Fomos conduzidos de forma coercitiva e abusiva para um depoimento à Polícia Federal. Se tivéssemos sido intimados antes, evidentemente teríamos ido de livre e espontânea vontade”. Alguém duvida?

    Segundo os documentos disponíveis, o Ministério Público foi contrário à condução coercitiva. Mas a PF insistiu, e a juíza encarregada acatou a demanda, alegando “possibilitar que sejam ouvidos concomitantemente todos os investigados, (…) impedir a articulação de artifícios e a subtração de provas”. Sem qualquer justificativa consistente, a direção da universidade, tal como havia ocorrido em setembro na UFSC, foi tratada como uma quadrilha de assaltantes, justificando o aparato —84 policiais— destinado a capturá-los.

    Na realidade, de acordo com o reitor de uma instituição congênere, a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a onda de criminalização dos campi começou no final de 2016, quando “a Polícia Federal irrompeu na UFRGS [a federal do Rio Grande do Sul], em vista de uma suspeita de fraude em um programa de extensão”. Em fevereiro de 2016, a própria UFPR foi atingida: 180 agentes cumpriram vários mandados de prisão e oito conduções coercitivas. Depois veio a prisão de Cancellier, a condução de Ramirez e, para cúmulo, mais uma incursão semelhante, na quinta, de novo na UFSC.

    Reparem nos nomes das operações sequenciais da PF: “Research”, “PhD”, “Ouvidos moucos”, “Esperança equilibrista” e “Torre de Marfim”. É óbvio que estamos diante de uma ação orquestrada e arbitrária, usando os mecanismos de exceção abertos pela conjuntura política, com o objetivo de desmoralizar o sistema público de ensino superior no Brasil.

    Se a sociedade civil não for capaz de superar divergências e se unir na defesa da universidade, teremos perdas irreparáveis. Não só na educação como na democracia.

    Publicado na Folha de S. Paulo/UOL

    É por isso que a sugestão da presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos (CEMD), Eugênia Gonzaga, tem um sentido especial. Sugere ela que a UFMG assuma de vez o Memorial, defina o Coleginho como o local para a exposição das memórias da ditadura, e transforme o prédio ao lado em um enorme memorial em defesa das liberdades, dos direitos humanos, incluindo um Memorial das Músicas em Defesa das Liberdades.

    As violências cometidas contra a Universidade Federal de Santa Catarina, a Universidade Federal de Minas Gerais e o Memorial da Anistia, podem ter uma resposta à altura: a campanha para ampliar o escopo do memorial, incluindo no prédio anexo um Memorial das Músicas em Favor das Liberdades Civis, uma maneira de juntar as lembranças da ditadura com o papel inestimável da música popular, em uma cidade fundamentalmente musical, como Belo Horizonte.

    Seria a maneira retumbante, musical, de responder aos desaforos da Polícia Federal, de batizar a operação com pedaço da letra de uma das músicas símbolos da anistia.

    Todo país que passou por ditadura militar tratou de celebrar os mortos, montar memoriais, museus, como maneira de registrar a violência, impedindo sua repetição.

    Faltava um memorial no Brasil.

    O Memorial da Anistia, em Belo Horizonte, foi pensado dessa maneira. No início, o espaço a ser ocupado era o Coleginho, construção antiga que simbolizava a resistência dos estudantes contra a ditadura. Constatou-se que as fundações não suportariam as obras. Decidiu-se por um prédio maior, bancado pelo Ministério da Justiça, mas que ficaria sob a responsabilidade da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

    A nova concepção obviamente encareceu o projeto. E as sucessivas interrupções no envio de verbas federais, com o posterior desinteresse do MJ, gerou despesas adicionais, como a manutenção de equipes de segurança, guardando o local antes das obras serem completadas.

    É possível que haja desvios. E, constatados, que os responsáveis sejam punidos.

    Mas a operação deflagrada pela Polícia Federal, Advocacia Geral da União, Controladoria Geral da União, com a cumplicidade de uma juíza irresponsável, tem alvo maior: a desmoralização da ideia de Memorial da Anistia.

    Na audiência pública realizada em 6 de setembro, em Belo Horizonte, representantes da AGU já manifestavam interesse em ocupar o prédio, alegando que a AGU estava mal instalada na cidade. A extinta Comissão da Anistia também se candidatou ao local.

    Da parte da PF de Minas Gerais – a mais partidarizada, depois de Curitiba – o empenho em conspurcar a obra em si, e não em apurar desvios.

    As violência cometidas, da violência com que acadêmicos foram conduzidos, até o batismo da operação, somado ao fato precedente, do suicídio do reitor Luiz Carlos Cancellier, exigem uma posição imediata contra o arbítrio. E a melhor maneira, seria a música, a mesma música que foi sequestrada pelos milicianos para batizar a operação.

    É por isso que a sugestão da presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos (CEMD), Eugênia Gonzaga, tem um sentido especial. Sugere ela que a UFMG assuma de vez o Memorial, defina o Coleginho como o local para a exposição das memórias da ditadura, e transforme o prédio ao lado em um enorme memorial em defesa das liberdades, dos direitos humanos, incluindo um Memorial das Músicas em Defesa das Liberdades.

    Se a UFMG sair à frente, não haverá dificuldades em convocar os maiores artistas brasileiros para eventos em BH, visando arrecadar recursos para completar a obram, honrar os mortos e os artistas da resistência.

    O novo edifício permitirá festivais anuais de canções que celebrem os direitos sociais e esse enorme país.

    Que a resistência em torno do Memorial seja um marco da luta contra a nova ditadura.

    Luis Nassif (Publicado no GGN em 9/12/2017)

     

    Carta Aberta à comunidade científica brasileira e internacional

    Para estancar as veias abertas da Volta Grande do Xingu

    Com os sentimentos de repúdio, alerta e indignação denunciamos à comunidade científica brasileira e internacional a violência institucionalizada por meio da invasão do prefeito do município de Senador José Porfírio (PA), Dirceu Biancardi, a um seminário de pesquisa acadêmica na Universidade Federal do Pará (UFPA), na tarde da última quarta-feira, 29 de novembro de 2017.
    Na ocasião, um grupo de pesquisadores, professores, estudantes e integrantes de movimentos sociais foi duramente hostilizado e impedido, por mais de 30 minutos, de sair do auditório em que seria realizado o seminário “As Veias Abertas da Volta Grande do Xingu – Uma análise dos impactos da mineradora Belo Sun sobre a região afetada por Belo Monte”, ato que se configura como crime de cárcere privado. Para cercear o debate e forçar a abertura de uma sessão não programada e controlada por ele, o prefeito contou com o apoio de uma comitiva de mais de 40 pessoas, entre as quais se encontravam vereadores, funcionários públicos locais, garimpeiros, assentados, indígenas Juruna, comerciantes e moradores do município, aparentemente incitados à defesa do empreendimento Belo Sun, assim como a presença do deputado estadual Fernando Coimbra.
    O evento consistia no segundo dia da programação promovida pela UFPA, em parceria com a Universidade do Estado do Pará, a Fundação Rosa Luxemburgo e o Movimento Xingu Vivo para Sempre. Não fosse a violenta interrupção, a agenda permitiria a discussão dos resultados de pesquisas e informações levantadas sobre o maior projeto de mineração de ouro a céu aberto do Brasil. A intenção da empresa responsável pelo empreendimento, a canadense Belo Sun, é de operar a poucos quilômetros da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.
    De acordo com dados levantados pelas organizações envolvidas, a exploração mineral sob a forma industrial na região deve aprofundar ainda mais os problemas causados pela usina, cujos graves impactos sociais, ambientais e econômicos para as populações, ecossistemas e redes de relações locais são frequentemente reportados no Brasil e internacionalmente.

    AMEAÇAS A OPOSITORES AO PROJETO DE BELO SUN
    Nos cenários de atuação das grandes mineradoras no interior da Amazônia, são recorrentes as denúncias de que as empresas atuam, por meio de constrangimentos diretos e indiretos, cooptação de pessoas ou recompensas individualizadas, para desfazer os laços comunitários, colocando membros e grupos uns contra os outros nos processos de negociação das condicionantes associadas à realização dos empreendimentos.
    Além disso, direitos territoriais são constantemente violados pelo deslocamento compulsório de moradores, provocando danos irreparáveis aos modos de vida, de relações sociais, de formas de relação com a natureza, de sustento material e de práticas culturais nos espaços atingidos.
    As ameaças de contaminação ambiental, em proporções catastróficas, por resíduos altamente poluentes também estão associadas ao projeto.
    Nesse contexto, requerem urgente investigação e medidas protetivas as ameaças diretas e indiretas a opositores do projeto Belo Sun, cujos direitos constitucionais à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade se encontram sob riscos.

    CENSURA À PESQUISA
    Um dos realizadores do encontro, o projeto de pesquisa “Nova Cartografia Social da Amazônia” tem como prática comum o debate crítico, aberto, plural e inclusivo com populações locais, a exemplo de grupos quilombolas, indígenas, extrativistas e outros tantos que representam a diversidade social da Amazônia.
    Entre as organizações proponentes da pesquisa se encontra o Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da UFPA (Naea/UFPA), reconhecido nacional e internacionalmente por realizar há mais de quatro décadas atividades de formação, pesquisa e debate sobre o desenvolvimento e os impactos de grandes projetos relacionados às realidades específicas e situações marcadas por conflitos socioambientais.
    Nesse sentido, também exigem providências imediatas as intimidações à comunidade acadêmica e a própria invasão ao espaço universitário, que ameaçam a produção e socialização do conhecimento crítico e de qualidade, fundamentado em pesquisas rigorosas para subsidiar políticas com fins de interesse público, inclusão socioambiental, ampliação e defesa dos direitos sociais e democráticos.

    Sendo assim, convocamos a todas e a todos em defesa:

    – Da autonomia das universidades públicas brasileiras, a partir da investigação e responsabilização processual dos autores da interrupção do seminário;
    – Da defesa das pessoas ameaçadas, especialmente as lideranças locais e os opositores do projeto Belo Sun, a partir da abertura de inquéritos policiais e medidas protetivas que assegurem os seus direitos constitucionais à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade;
    – Da defesa da democracia e da liberdade de expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença, especialmente num contexto de tensões como o amazônico;
    – Do respeito ao debate e à divergência de posições como princípio fundamental também ao campo da ciência e da tecnologia e das atividades de produção do conhecimento e compartilhamento da informação.

     

    Open letter to the Brazilian and international scientific community

    To staunch the open veins of the Volta Grande do Xingu

    With feelings of repudiation, alarm, and indignation, we report to the Brazilian and international scientific community the institutionalized violence committed by the mayor of the municipality of Senador José Porfírio (Pará), Dirceu Biancardi, by means of invasion on an academic research seminar at the Federal University of Pará (Universidade Federal do Pará, or UFPA), last Wednesday afternoon, November 29, 2017. At the time, a group of researchers, professors, students, and members of social movements were harshly harassed and impeded, for more than 30 minutes, from leaving the auditorium in which the seminar “The Open Veins of Volta Grande do Xingu – An analysis of the impacts of the Belo Sun mining company on the region affected by Belo Monte,” an act that constitutes a crime of false imprisonment.
    In order to close the debate and force the opening of an unplanned and controlled session, the mayor was supported by a delegation of more than 40 people, including city councilmembers, local public officials, prospectors, settlers, individuals from the Juruna indigenous group, businesspeople, and residents of the municipality, apparently encouraged to defend the Belo Sun venture, as well as the presence of the state representative Fernando Coimbra.
    The event comprised the second day of the program promoted by UFPA, in partnership with the State University of Pará, the Rosa Luxemburg Foundation, and the Xingu Forever Alive Movement (Movimento Xingu Vivo Para Sempre). If there hadn’t been a violent interruption, the schedule would have allowed for a discussion of research results and information collected on the largest open-pit gold mining project in Brazil. The intention of the company responsible for the project, the Canadian company Belo Sun, is to operate a few kilometers from the Belo Monte hydroelectric plant in Pará.
    According to data collected by the organizations involved, industrial mineral exploration in the region ought to further deepen problems caused by the plant, whose grave social, environmental, and economic impacts on populations, ecosystems, and networks of local relations are frequently reported in Brazil and internationally.

    Publicado pelo GGN 9/12/2017

    THREATS AGAINST OPPONENTS OF THE BELO SUN PROJECT

    In the case of large mining companies in the interior of the Amazon region, there are recurring complaints that companies act, through direct and indirect constraints, the cooptation of individuals, or individual payoffs, to undo community ties, placing members and groups against one another in negotiation processes around the constraints associated with the realization of business ventures.
    Additionally, territorial rights are constantly violated by the forced displacement of residents, provoking irreparable damages to ways of life, social relations, forms of relating to nature, material livelihood, and cultural practices in the spaces affected.
    Threats of environmental contamination in catastrophic proportions through highly polluted waste also are associated with the project.
    In this context, direct and indirect threats to opponents of the Belo Sun project, whose constitutional rights to life, liberty, equality, security, and property are under threat, require urgent investigation and protective measures.

    CENSORSHIP OF RESEARCH
    One of the organizers of the meeting, the research project “New Social Cartography of the Amazon,” has as a common practice of critical, open, plural, and inclusive debate with local populations, for example quilombola, indigenous, extractive, and other groups that represent the social diversity of the Amazon.
    Among the organizations proposing the research is the Center for Advanced Amazonian Studies at UFPA (Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, or NAEA), recognized nationally and internationally for more than four decades of training, research, and debate on the development and impacts of large projects related to specific realities and situations marked by socioenvironmental conflicts.
    In this sense, the intimidation of the academic community and the invasion of university space, which threaten the production and socialization of critical and quality knowledge based on rigorous research that supports policies geared towards public interest, socioenvironmental inclusion, and the expansion and defense of social and democratic rights, requires immediate action.

    Therefore, we call on all in the defense of:
    -The autonomy of Brazilian public universities, through the investigation and charging of those who organized the interruption of the seminar;
    -The protection of the threatened persons, especially local leaders and the opponents of the Belo Sun project, through the opening of police investigations and protective measures that ensure their constitutional rights to life, liberty, equality, security, and property;
    -The protection of democracy and of liberty of expression of intellectual, artistic, scientific and communicative activity, irrespective of censorship or license, especially in a context of tensions such as the Amazon;
    -The respect for debate and the divergence of positions as a fundamental principle in the field of science and technology, and of activities of knowledge production and sharing of information.

     

    Carta abierta a la comunidad científica brasileña e internacional

    Para parar las venas abiertas de Volta Grande do Xingu

    Con sentimiento de repudio, de alerta y de indignación denunciamos a la comunidad científica brasileña e internacional, la invasión del señor Dirceu Biancardi, alcalde del municipio Senador José Porfirío, en el estado de Pará, Brasil, al seminario de investigación académica en la Universidad Federal de Pará (UFPA), en la tarde del miércoles 29 de Noviembre del 2017. Calificamos este hecho como un acto de violencia institucional.

    El impedimento a que el grupo de profesores, investigadores, estudiantes e integrantes de movimientos sociales presentes salieran del auditorio donde seria realizado el seminário “Las Venas abiertas de Volta Grande do Xingu: Un análisis de los impactos de la minera Belo Sun sobre la región afectada por Belo Monte”, constituye y es entendido como retención ilegal de personas.

    Para reprimir el debate y controlar la apertura de una sesión que no había sido programada, el alcalde tuvo apoyo de una comitiva de cuarenta personas, entre las que se encontraban concejales, funcionarios públicos locales, mineros, colonos, indígenas de la nación Juruna, comerciantes y algunos habitantes del municipio. Ellos fueron aparentemente presionados para defender el proyecto Belo Sun. El diputado estadual Fernando Coimbra también estuvo presente en la comitiva.

    El ataque al evento académico se llevó a cabo en el segundo día de la programación. El seminario fue promovido por la UFPA, en cooperación con la Universidad do Estado do Pará, la fundación Rosa Luxemburgo y el movimiento Xingu Vivo para Siempre. Si no fuera por la interrupción violenta, la programación hubiera permitido la discusión de los resultados de investigaciones sobre el proyecto de minería de oro a cielo abierto más grande en Brasil. La intención de la empresa dueña del proyecto, la canadiense Belo Sun, es operar a pocos kilómetros de la hidroeléctrica de Belo Monte, en el estado de Pará.

    De acuerdo con los datos levantados por las organizaciones involucradas, la exploración de minerales sobre la forma industrial en la región debe profundizar todavía más los problemas ya causados por la planta hidroeléctrica de Belo Monte, cuyos graves daños sociales, ambientales, y económicos para las poblaciones, para los ecosistemas y para las redes sociales locales ya fueron registrados y denunciados tanto en Brasil como ante la comunidad internacional.

    AMENAZAS A LOS OPOSITORES AL PROYECTO BELO SUN

    En los escenarios da acción de las grandes mineras presentes en la Amazonia, son recurrentes las denuncias de presión, violenta o indirecta, captación de personas o dádivas de recompensas individuales, con el fin de deshacer lazos comunitarios y poner a las personas y grupos en confrontación cuando se realizan los procesos de concertación asociados a la realización de tales proyectos extractivistas.

    Además de la violación constante a los derechos sobre el territorio por el desplazamiento obligado de los habitantes, hecho que causa daños irrecuperables a los modos de vida, a las relaciones sociales y comunitarias, a la relación con la naturaleza, y al sustento tanto material como de las prácticas culturales en la regiones afectadas. Así como las amenazas al medio ambiente en proporciones catastróficas por los residuos altamente contaminantes que también están asociados al proyecto.

    En este contexto, se hace urgente investigar y tomar medidas que protejan a los opositores del proyecto Belo Sun, ya que sus derechos constitucionales a la vida, a la libertad, a la igualdad, a la seguridad e a la propiedad están en riesgo.

    CENSURA A LA INVESTIGACIÓN ACADEMICA

    Uno de los organizadores del encuentro, el proyecto de investigación “Nueva Cartografía Social de la Amazonia”, tiene como objetivo promover el debate crítico, abierto, plural e incluyente con las comunidades locales tales como grupos quilombolas, indígenas y otros que representan la diversidad de la Amazonia.

    Igualmente, dentro de las organizaciones que proponen la investigación está el Núcleo de Altos Estudios Amazónicos de la UFPA (Naea/UFPA), que cuenta con reconocimiento nacional e internacional por realizar hace más de cuatro décadas actividades de formación, investigación y debate sobre el desarrollo e impactos de mega proyectos, y su relación con las realidades específicas y situaciones marcadas por conflictos socioambientales.

    En este sentido, también se hace urgente tomar acciones inmediatas contra las intimidaciones a la comunidad académica y contra la invasión a un espacio universitario, ya que estos hechos amenazan la producción y socialización del conocimiento crítico y de calidad, fundamentado en estudios rigorosos para subsidiar políticas públicas cuyo fin es el interés colectivo, la inclusión socioambiental y la ampliación y defensa de los derechos sociales y democráticos.

    Siendo así, convocamos a todos y todas a defender:

    – La autonomía de las universidades públicas brasileñas, a través de la investigación judicial y responsabilización de los autores de la interrupción del Seminario.

    -A las personas amenazadas, especialmente a los y las líderes locales y a quienes hacen oposición al proyecto Belo Sun, a través de la apertura de procesos policiales y de medidas protectoras que garanticen los derechos constitucionales a la vida, a la igualdad, y a la propiedad privada.

    -La democracia y la libertad de expresión de la actividad intelectual, artística, científica y de comunicación, independiente de las censuras o de los permisos, considerando las tensiones características del contexto amazónico.

    -El respeto al debate y a la divergencia de posiciones como principio fundamental del campo de la ciencia y de la tecnología, y de las diferentes actividades de producción del conocimiento y divulgación de la información.

  • A HORA DA VERDADE PARA A ESQUERDA E OS MOVIMENTOS SOCIAIS

    A HORA DA VERDADE PARA A ESQUERDA E OS MOVIMENTOS SOCIAIS

    Chegou a hora de assumirmos os novos desafios colocados por um país humilhado pelo golpe, pela ganância das suas elites, mas também pela timidez, medo, fraqueza e falta de criatividade e ousadia dos partidos, sindicatos e vários movimentos sociais, a quem caberia a organização das ações de resistência dos trabalhadores e do povo pobre e oprimido.

     

    Entre os possíveis antônimos do substantivo “ousadia” estão as palavras atenção, cautela, circunspecção, cuidado, método, moderação, ponderação, prudência, reflexão, sensatez, respeito, comedimento, modéstia.

    Pois é. Parece que isso há em excesso e o resultado é que o debate político nunca esteve tão truncado, fechado, interditado. Ouso dizer que nem mesmo nos tempos da Ditadura vivemos, enquanto esquerda, um tal embotamento da inteligência criativa e transformadora. Os reflexos disso na discussão sobre a democratização da mídia são imediatos.

    É esse estado de coisas dentro da esquerda que tem permitido, autorizado e legitimado o incrível processo de “social washing” operado pela Rede Globo, a mesma que dirigiu as esquadras golpistas e incensou os monstros que mataram a democracia. A mesma que mereceu gritos de “Fora Rede Globo” entoados em uníssono por estádios inteiros, entre outros imensos protestos contra a manipulação da informação operada pelo Grande Irmão da mídia.

    “Social washing” é um anglicismo que indica apropriação auto-proclamada de virtudes “sociais” por empresas, governos ou pessoas, mediante o uso de técnicas de marketing e relações públicas. Tal prática tem como objetivo criar uma imagem positiva, diante da opinião pública, sobre o grau de comprometimento social dessas organizações ou pessoas (bem como de suas atividades e seus produtos), ocultando ou desviando a atenção dos impactos sociais negativos reais gerados por elas.

    A Rede Globo que tem, como poderoso chefão do seu jornalismo (e ele continua!), Ali Kamel, o negacionista-mór do racismo brasileiro, o autor do livro “Não somos racistas – uma reação aos que querem nos transformar numa nação bicolor” (Nova Fronteira), afastou William Waack por racismo. Uau! Ainda bem que a gente tem a Globo!

    Pedro Cardoso, o arguto ator que se tornou persona non grata na emissora da Família Marinho, desmascarou o mecanismo perverso do “social washing” Global. Em entrevista na Record, ele criticou uma mini-série da Globo, “Verdades Secretas”, nos seguintes termos:

    “Você faz algo sobre modelos que se prostituem e isso vira um sem número de cenas eróticas. Parece que você está tratando seriamente desse assunto, que está preocupado em salvar a vida dessas moças. Quando, na verdade, você está apenas vendendo conteúdo erótico disfarçado de interesse intelectual”.

    E, então, aquela Globo que produziu e produz o consumo do corpo da mulher, que invisibiliza a tragédia do genocídio nas periferias pretas e pobres, que usa o corpo nu da mulher negra para promover seu big business do Carnaval, degola em praça pública o galã acusado de assédio sexual. Ufa! Sorte que a Globo está ao nosso lado neste momento de ascenso do obscurantismo fascista.

    Os roteiristas do programa de Fátima Bernardes já sabem que não podem mais compor um bate-papo sem negros e sem que se mencione o fenômeno pop do momento, Pablo Vittar, para ficar de bem com o mundo Queer e LGBT.

     

    E dois atores globais de olhos azuis agora são linha de frente da luta anti-racista, em que pese o sacrifício diário e a resistência de milhões de afrodescendentes discriminados de todas as maneiras possíveis. Apropriação cultural é o nome disso.

     

    Como é bom um espantalho de ultradireita como Bolsonaro para legitimar a Pax da Globo e de Geraldo Alckmin!

     

    Enfim, eles podem posar de equilibrados, gentis, educados, civilizados.  Já tem gente honesta no campo da esquerda cogitando votar no tucano assassino de São Paulo para evitar o mal maior… Vai ser louco ver esse voto piedoso no cara que massacrou os movimentos sociais, que cegou e mutilou jornalistas com bombas, balas de borracha e gás de pimenta. Será o cúmulo da capitulação apoiar o chefe dos assassinos fardados nas periferias; o inimigo das escolas públicas.

     

    “Mas o que você quer? Eleger o nazista?”, perguntará o defensor do voto útil, tapando o nariz para não sentir o cheiro da carne morta.

     

    O debate está embotado porque a esquerda brasileira não aceitou ainda encarar suas responsabilidades nos fatos que geraram o impeachment, o golpe, os ataques contra o povo pobre e a vitória do discurso neoliberal de estrangulamento do Estado.

     

    Talvez precisemos desafinar os mantras desenvolvimentistas e modernizadores, além, é claro, da narrativa autoindulgente dos “pactos de governabilidade” a todo custo, que caracterizam a parte ainda hegemônica da esquerda brasileira e abrir um debate mais qualificado, mais inteligente, mais corajoso, mais focado nos valores humanos da liberdade, do trabalho, da solidariedade, do amor, da fraternidade, da igualdade, dos direitos humanos. Na defesa apaixonada da natureza. Na crítica ao fetiche da mercadoria, das grifes e da ostentação. Na defesa dos povos ancestrais e de sua sabedoria.

     

    Porque o que estamos vivendo é a demonstração cabal de como desenvolvimentismo, modernização e governabilidade, em suas decorrências práticas, contraditoriamente se transformaram em “desvalores em seu trajeto até as zonas marginalizadas” (cf.  Carolina Silva Mercês). A especulação imobiliária nas periferias gentrificadas pelos mega-projetos da Copa e Olimpíadas; a substituição da ideia de cidadão pela de consumidor com carnê das casas Bahia; a JBS como maior empresa do mundo na produção de proteína animal (e foda-se o meio-ambiente); o agronegócio pop construído sobre as terras indígenas, o consumismo dos lixos capitalistas em shopping centers que se reproduziram como cogumelos pelo país; a “paz” transformada em discurso vazio, “conservador e abusivo”. 

     

    (A paz das UPPs armadas até os dentes da caveira do Bope, que o PT abençoou em companhia de Sérgio Cabral e Pezão, é a paz dos cemitérios).

     

    Precisamos pensar sobre tudo isso. E abrir as páginas, e todos os sentidos, para os lutadores que possam falar “de dentro” sobre nossas dificuldades, sobre os erros e acertos, apontar saídas, redesenhar os horizontes da utopia. Porque chegou a hora da verdade.

     

    (As imagens são do querido Helio Carlos Mello©, a quem agradeço a escolha primorosa)

     

    Sobre esse e outros assuntos, envio a vocês o poema “Da Paz”, do escritor Marcelino Freire, recitado pela Naruna Costa. Peço que o assistam.

  • ESPECIAL: Postagens inverídicas que levaram ao linchamento moral do reitor da UFSC continuam nas páginas oficiais da PF

    ESPECIAL: Postagens inverídicas que levaram ao linchamento moral do reitor da UFSC continuam nas páginas oficiais da PF

    Família apresentou ao Ministério da Justiça requerimento de abertura de inquérito para apurar a responsabilidade administrativa, cível e penal da delegada Érika Marena nos abusos de poder que culminaram com a prisão, afastamento da universidade, linchamento moral e suicídio de Cancellier

    Passados dois meses da prisão do reitor da UFSC Luiz Carlos Cancellier de Olivo e 48 dias do seu suicídio, as informações comprovadamente inverídicas do anúncio da Polícia Federal sobre o seu envolvimento na Operação Ouvidos Moucos permanecem inalteradas nas páginas oficiais do órgão. A mesma postagem que levou ao linchamento moral e midiático do reitor continua no dia de hoje (19/11) alimentando julgamentos e informações caluniosas nas redes sociais e nos meios de comunicação. Uma representação contra a delegada da Superintendência da Polícia Federal em Santa Catarina, Érika Mialik Marena, foi protocolada e entregue ao ministro da Justiça e Segurança Torquato Jardim, no dia 31 de outubro, pelo irmão Acioli, em nome do irmão Júlio e do filho do reitor, Mikhail Vieira Cancellier de Olivo, mas até agora os advogados da família não obtiveram qualquer resposta. A denúncia requer a abertura de procedimento investigativo para “apurar com rigor responsabilidade administrativa, cível e penal da delegada pelos abusos e excessos cometidos no trágico desfecho e prevenir a ocorrência de novos episódios”.

    Representação contra a delegada federal assinada por Acioli Cancellier (ao centro), ladeado pelo irmão Júlio Cancellier e o o reitor (de branco).     Foto: Arquivo Pessoal

    Na postagem do dia 14 de setembro, a Polícia Federal anuncia que estava deflagrando uma batida no Brasil, com a prisão de sete integrantes da UFSC (incluindo o reitor), como suspeitos pelo desvio de verbas de R$ 80 milhões do Ensino a Distância dentro da autodenominada “Operação Ouvidos Moucos”. Essas informações induziram a mídia e seus leitores a tomarem a verba total repassada pela Capes ao Programa Universidade Aberta do Brasil (UAB) e aplicada em cursos, projetos e bolsas do Ensino a Distância no período de dez anos como o valor de recursos sob suspeita de desvio. No entanto, o valor investigado está, conforme amplamente esclarecido no dia seguinte pela universidade e reconhecido pela própria juíza Janaína Cassol, restrito a duas listagens de valores das bolsas supostamente transferidos indevidamente, uma no montante de R$ 300 mil e outra de R$ 200 mil. O valor sob suspeição não passa, portanto, de R$ 500 mil.

    Na representação, os familiares denunciam que no dia da deflagração da operação a delegada convocou coletiva de imprensa e deu entrevista ao vivo, divulgada pelo canal do Youtube da Polícia Federal para “denunciar” o suposto desvio de mais de 80 milhões de reais na UFSC, “antes mesmo de concluir a oitiva de Luiz, que durou mais de 5 (cinco) torturantes horas”.

    Essa informação oficial, seja na coletiva ou nas páginas do órgão, foi decisiva para o julgamento público que defenestrou a reputação pública de Cancellier, conforme argumenta o pedido de inquérito. Durante o velório do professor, no dia 2 de outubro, uma universitária deu a maior prova disso, ao interromper a cerimônia fúnebre para esmurrar o caixão em frente aos familiares e amigos ainda compungidos de dor gritando: “Ladrão, ladrão, devolva os R$ 80 milhões que roubou da universidade!”

    O documento mostra que as postagens e a entrevista coletiva da Polícia Federal no dia da prisão produziram uma segunda distorção, igualmente grave e incriminadora: a de que Cancellier, jornalista por profissão, graduado, mestre e doutor em Ciências Jurídicas, e professor de Direito Administrativo, havia sido indiciado por envolvimento nas suspeitas de desvio. (Veja aqui a coletiva convocada pela delegada da PF e publicada no seu canal do Youtube: http://(https://www.youtube.com/watch?v=n8nIa-NKcVU&feature=youtu.be)

    Veículos de comunicação que tomaram esses dados oficiais como verídicos e definitivos, sem ouvir o contraditório, tiveram que esclarecer na sequência que o reitor não era indiciado, nem sequer citado nas investigações da operação que apurava possíveis desvios praticados num período de seis anos atrás, fora, portanto da sua administração, iniciada em maio de 2016. Conforme foi retificado na sequência pela Reitoria da UFSC e pela juíza, a prisão se referia à denúncia de tentativa de interdição das investigações da Polícia Federal, levantada pelo titular da Corregedoria Geral da UFSC, Rodolfo Hickel do Prado, hoje afastado para licença de saúde de 61 dias. O processo da operação foi avocado pela Corregedoria Geral da União, que também responde pelo pedido de investigação da sua conduta, encaminhado pela reitoria da UFSC.

    A arguição mostra que a delegada extrapolou suas funções institucionais, acolhendo sem o menor cuidado denúncia infundada de um declarado desafeto político do reitor, contra o qual fez diversos pronunciamentos na imprensa local, inclusive o acusando de redução salarial. Soube-se mais tarde que o corregedor, ao contrário de Cancellier, não era mais um homem público de ficha limpa desde 2013. No momento em que fez a acusação, Hickel respondia a seis processos na justiça envolvendo crime de trânsito contra a coletividade, com tentativa de carteiraço e crime de calúnia e difamação com abuso de autoridade, pelo qual foi condenado na instância cível e penal. Além disso, respondeu a duas ações de indenização movidas pela ex-mulher e ex-noiva por tortura psicológica e física, conforme reportagem investigativa publicada pelos Jornalistas livres em 30 de outubro. https://jornalistaslivres.org/2017/10/exclusivo-corregedor-que-denunciou-reitor-a-pf-ja-foi-condenado-por-calunia-e-difamacao/

    O primeiro a observar a permanência da notícia caluniosa foi o próprio irmão do reitor, Acioli Cancellier de Olivo, matemático, pesquisador e professor de pós-graduação aposentado do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais do MCTI em São José dos Campos, provocado pela insistência do erro de alguns veículos de imprensa, mesmo depois de amplamente corrigidos. A postagem da PF, que consta da representação da família, foi printada pelos denunciantes no dia 31 de outubro, com 789 curtidas e 159 compartilhamentos. Chama atenção o grau de ódio, proporcional ao grau de desinformação dos comentários:

    Vera Trancoso: “Parabéns, guerreiros, vocês são os heróis desta nação, pena que não há leis severas para eles e nem cadeias comuns para pagar as punições, abraços”.

    Selma Cabulon: “Parabéns PF. O povo só pode contar com vcs pra acabar com esse bando de corruptos sem vergonha o Brasil não tolera mais isso chega e enquanto isso o povo morre por falta de recursos”.

    Acompanhados sempre da hashtag de cunho promocional #EuconfionaPF, o texto das postagens da PF começa com o número de agentes mobilizados pela operação: “105 policiais federais para cumprir 16 mandados de busca e apreensão, 7 de prisão temporária e 5 de condução coercitiva, além do afastamento de 7 pessoas de funções públicas que exercem”. Informa ainda que a Operação Ouvidos Moucos, também sempre citada em formato de hashtag, “contou com o apoio do Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União – CGU e do Tribunal de Contas da União – TCU para desarticular organização criminosa que desviou recursos para curso de Educação a Distância (EaD) da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC”. O texto é assinado também por hashtags promocionais da PF #euconfionapf e #issoaquiépf.  Abaixo do texto, a imagem-símbolo da campanha com a manchete sobreposta e acesa por detalhes em amarelo:

    #OpOuvidosMoucos

    Combate desvio de mais de R$ 80 milhões de recursos para EaD

    Com base nessas afirmações, o reitor foi acusado de ser o chefe da quadrilha e a UFSC, uma universidade com largo renome no país, um antro de corrupção, de acordo com o próprio desabafo que ele assinou , em artigo publicado em 28 de setembro, no jornal O Globo, quatro dias antes do suicídio.

    “A humilhação e o vexame a que fomos submetidos — eu e outros colegas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) — há uma semana não tem precedentes na história da instituição. No mesmo período em que fomos presos, levados ao complexo penitenciário, despidos de nossas vestes e encarcerados, paradoxalmente a universidade que comando desde maio de 2016 foi reconhecida como a sexta melhor instituição federal de ensino superior brasileira… Nos últimos dias tivemos nossas vidas devassadas e nossa honra associada a uma “quadrilha”, acusada de desviar R$ 80 milhões. E impedidos, mesmo após libertados, de entrar na universidade.” https://oglobo.globo.com/opiniao/reitor-exilado-21879420

    Em busca da uma informação atualizada ou revisada em outros canais da Polícia Federal, encontramos no seu site oficial, o release sobre a operação, com as seguintes afirmações comprometedoras:

    “As investigações começaram a partir de suspeitas de desvio no uso de recursos públicos em cursos de Educação à Distância oferecidos pelo programa Universidade Aberta do Brasil – UAB na UFSC. A operação policial tem como foco repasses que totalizam cerca de R$ 80 milhões. Foi identificado que docentes da UFSC, empresários e funcionários de instituições e fundações parceiras teriam atuado para o desvio de bolsas e verbas de custeio por meio de concessão de benefícios a pessoas sem qualquer vínculo com a Universidade. O programa UAB foi instituído em 2006 pelo Governo Federal com o objetivo de capacitar prioritariamente professores da rede pública de ensino em regiões afastadas e carentes do interior do país”.

    “Os alvos da operação são investigados pelos crimes de fraude em licitação, peculato, falsidade documental, estelionato, inserção de dados falsos em sistemas e organização criminosa. Também chamou a atenção dos policiais a pressão que a alta administração da UFSC exerceu sobre integrantes da Corregedoria da universidade que realizavam internamente a apuração administrativa, o que resultou na prisão de um integrante da alta gestão da instituição.” http://www.pf.gov.br/agencia/noticias/2017/09/pf-desarticula-organizacao-criminosa-que-desviava-recursos-da-ufsc

    Nota-se que o release oficial da PF revela a data de implantação do programa UAB na UFSC (2006), mas omite um dado fundamental, que poderia denunciar o próprio caráter ilógico e descabido da prisão: o período dos desvios, naturalmente bem conhecidos pela delegada e pelo corregedor que alimentou a operação. Eles eram anteriores à gestão de Cancellier, referentes aos anos de 2011 e 2015, conforme nota divulgada pela Administração Central nda UFSC no mesmo fatídico 14 de setembro.  Da forma como foi divulgado pela PF, o release leva ao engano de que os supostos desvios aconteceram na gestão atual.  Depois de disseminada a informação, não houve quem conseguisse conter a calúnia e difamação nas redes sociais e convencer os ardorosos fãs da PF e correligionários de Bolsonaro de que o reitor não tinha qualquer envolvimento pessoal com os alegados desvios de verbas. 

    A manutenção do erro na fonte oficial de informação explica, na avaliação de Acioli, porque a Folha de S. Paulo, por exemplo, persiste na divulgação do desvios de R$ 80 milhões, mesmo depois de uma errata do próprio jornal que chamou a atenção da ombudswoman Paula Guimarães e a levou a fazer uma vigorosa crítica à redação em sua coluna dominical.  Ainda assim, o erro continuou se repetindo, mesmo em artigos francamente favoráveis ao reitor e críticos dos desmandos da operação, como o de Élio Gaspari. (Leia aqui a coluna: http://m.folha.uol.com.br/colunas/paula-cesarino-costa-ombudsman/2017/10/1925311-jornalismo-de-ouvidos-moucos.shtml)

    Na denúncia, os irmãos alegam que Cancellier era réu primário, sem registro de nenhum antecedente criminal. “Nunca foi processado, sequer administrativamente, tendo fixado residência em Florianópolis nas proximidades da UFSC, que era a extensão de sua casa até o dia em que, como relatou em seu bilhete de despedida, foi defenestrado e banido daquele espaço público”. O documento também denuncia a “larga e instantânea cobertura da imprensa local e nacional, que, apesar do sigilo, contou com o fornecimento de informações processuais privilegiadas, a exemplo da exato momento de cumprimento dos mandados de prisão”. Essa espetacularização midiática foi confirmada durante entrevista coletiva ao reitor pró-tempore Ubaldo Balthazar pelo jornalista Carlos Damião, blogueiro e colunista do Notícias do Dia, que disse ter recebido o aviso da prisão do reitor no seu e-mail pessoal às 7:20 do dia 14 de setembro, antes portanto, da operação ser deflagrada. O requerimento de Aciolli copia a decisão que deferiu as medidas de prisão, busca e apreensão pela juíza Janaína Cassol, na qual foi determinado sigilo da operação, nos seguintes termos:

    De acordo com a Lei 4.898, de 1965, que regulamenta a representação nos casos de abuso de autoridade, dispõe, em seu artigo 4º, constitui abuso “submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei” e praticar “ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal”, segundo enfatiza o requerimento. Alega a denúncia ainda que a autoridade policial “não só submeteu o falecido reitor à imensurável vexame ao conduzir sua prisão, em local inadequado (penitenciária), como causou mácula irreparável à sua honra, ao divulgar a informação de que ele estaria envolvido em suposto desvio milionário, quando o próprio caderno investigativo afirma que seu envolvimento estaria restrito à alegada interferência administrativa”.

    Coletiva convocada pela delegada para discutir reitor morto quebrou o sigilo determinado por lei

    A ausência do necessário sigilo garantido por lei, com a divulgação excessiva de informações equivocadas pela PF, foi decisiva na produção do discurso de ódio que viralizou como ato contínuo à prisão, avaliam os irmãos. “Todos os investigados foram estigmatizados, mas especialmente o reitor, em cuja figura a participação em um falso desvio milionário foi atribuída pela autoridade presidente do inquérito e, posteriormente, pela mídia”, argumenta Acioli. A divulgação de sua imagem de forma espetaculosa em primeiro plano pelos jornais e veículos de televisão personalizou e sintetizou na figura de Cancellier a representação máxima de um país onde a corrupção descontrolada teria tomado conta até das instituições universitárias.

     

    O pedido de inquérito afirma nas primeiras linhas: “Luiz Carlos Cancellier de Olivo não resistiu à pressão de ser humilhado publicamente pela injusta acusação por um fato anômalo jamais praticado (tentativa de obstrução administrativa), tendo este fato sido determinante para a prática do ato extremo que culminou em seu falecimento precoce e que tem acarretado danos irremediáveis aos familiares”. E conclui, ao final de seis páginas, afirmando: “Agora, além da imensurável tristeza para os familiares e amigos por esta insuperável perda, fica a reputação manchada por inverdades indevidamente divulgadas pela representada aos meios de comunicação, que se estendem a todos da família de Luiz Cancellier”.

    A Justiça brasileira levou 38 anos para reconhecer a culpa da Ditadura Militar pelo assassinato do jornalista Vladmir Herzog, por “tortura e maus tratos”. Quanto tempo a República de Temer e Mouro levará para admitir perante a comunidade universitária e perante todo o país a culpa pelo suicídio de Luiz Cancellier?

    Prestes a completar dois meses da tragédia que consternou o país, o Estado finge ignorar os escandalosos erros, abusos e excessos nesse caso, já denunciados pela Ordem dos Advogados do Brasil, bem como por renomados juristas e cientistas políticos. É notória “a ilegalidade, arbitrariedade, a forma absolutamente desproporcional como as duas medidas, a de prisão e de afastamento do cargo foram incorporadas”, diz o criminalista Fábio Simantob, presidente do Instituto de Defesa do Direito Democrático (em entrevista ao jornalista Fernando Morais, do Nocaute). Mas a resposta da sociedade civil organizada vem crescendo como uma avalanche que tende a tornar o sacrifício de Cau um grande levante contra o Estado de Exceção.

    Essas manifestações extravasam da política para a linguagem artística, provocando apresentações teatrais, como Luz em Einstein, da diretora Carmem Fossari, que terminou sua estreia com a projeção de uma tela dedicando a obra, que fala do estado de exceção na ciência, ao reitor suicidado. “A peça remete ao tema da intolerância política e étnica que levou ao fascismo europeu nos anos anteriores à Segunda Guerra Mundial e que hoje retorna no Brasil e no cenário mundial em formas ainda mais sofisticadas, representando um profundo recuo civilizatório”, analisa o professor de arquitetura e vereador Lino Peres (PT).

    Um grito silencioso cortou a escuridão do campus universitário no dia 9/11 à noite, durante o Projeto Experimenta, da Secretaria de Cultura e Arte, quando a professora e “artivista” Clélia Mello exibiu uma montagem com todos os textos, manchetes, imagens de jornais, sites e páginas que ela foi capaz de recolher pela internet. Partindo da pergunta “Quem matou o reitor Cancellier?”, projetada ao centro, e a palavra “Silêncio” nas laterais, a intervenção impactou a comunidade universitária com a projeção dos recortes de mídia em ritmo motocontínuo, como ela explica. Cinco aparelhos simultâneos projetaram os textos e imagens em alta velocidade nas paredes da Reitoria da UFSC, “único lugar onde o reitor pôde adentrar na UFSC depois da invasão policial, já morto, para ser velado dentro de um caixão”, ela anota.

    Intervenção “artivista” de Clélia Mello, projetada à noite nas paredes da universidade

    Com as luzes da universidade completamente apagadas, seguiram-se 12 vídeos editados em frequências diferentes com fotofilmes dos protagonistas da operação, entre eles o corregedor, a delegada, a juíza, a delatora, a vice-reitora, os policiais que prenderam, algemaram e acorrentaram o reitor etc. “A partir da invasão da UFSC pela Polícia Federal, eu me centrei no estado policialesco que vai culminar com a morte de Cancellier como uma vítima de toda essa caça esdrúxula”. A professora do Curso de Cinema esclarece que não filtrou as mensagens, nem impôs um posicionamento a priori. O efeito de arrancar a comunidade universitária do silêncio causado pelo trauma surge da própria afecção e sensibilidade provocadas no inconsciente imagético das pessoas. “Cada um é despertado a fazer seu próprio balanço e sua própria síntese dos elementos que se interligam na tragédia”.

    Já são também pelo menos três documentários produzidos sobre o caso, um deles lançado na abertura do XXVI do Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito (Conpedi), realizado na capital do Maranhão, São Luís, entre os dias 15 a 17 de novembro de 2017. O documentário CAU provoca uma profunda reflexão crítica sobre o papel e as ações que autoridades públicas e a mídia desempenham ao ferir as garantias fundamentais do direito.

    Em nome da Inocência: JUSTIÇA, outro documentário, é assinado por Jailson Lima da Silva, Lédio de Rosa Andrade e Sérgio Graziano. Será lançado junto com o livro homônimo,  em Sessão Especial proposta pelo deputado Rodrigo Minotto (PDT). A homenagem ocorrerá no plenário deputado Osni Régis da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, no dia 21 de novembro, às 19 horas.

    O terceiro documentário está sendo dirigido pelo cineasta Eduardo Paredes, autor do premiado Novembrada, que será exibido no Palácio Cruz e Sousa, no dia 30 de novembro, data do aniversário do célebre levante organizado por estudantes da UFSC e trabalhadores no apagar das luzes do governo do general Figueiredo em visita a Florianópolis. A sessão igualmente homenageia a memória do reitor, que participou desse protesto contra a ditadura militar quando era um jovem líder estudantil, em 1979.

     

    Sem provar nada contra seus indiciados, sem retificar as informações distorcidas que inflamaram o ódio na opinião pública e midiática, sem pedir desculpas aos familiares pela perda traumática de um irmão e de um pai inocente, a “hollywoodiana” operação Ouvidos Moucos, como é qualificada pela denúncia, conseguiu apenas arrancar do franciscano reitor o único bem que ele tinha, além de um apartamento de classe média: sua vida e sua reputação. A Justiça levou 38 anos para reconhecer a culpa da Ditadura Militar pelo assassinato do jornalista Vladmir Herzog, divulgando um novo laudo que comprova a sua morte por “lesão e maus tratos” no “II Exército (DOI-CODI)”. Quantos tempo a República “Ordem e Progresso” de Temer e Mouro levará para admitir perante a comunidade universitária e perante todo o país a culpa pelo suicídio de Luiz Cancellier?

    Sobre Vladmir Herzog https://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/09/herzog-morreu-torturado-justica.html

     

    NO SENADO

    A Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado realiza audiência pública na terça-feira (21), às 9 horas, para analisar as circunstâncias que levaram à morte do reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo. O requerimento para a audiência pública é da senadora Regina Sousa (PT-PI), atendendo ao pedido de investigação entregue no dia 31 de outubro por uma rede de mais de cem juristas brasileiros. Foram convidados para o debate Claudio Lamachia, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); José Sérgio da Silva Cristóvam, conselheiro estadual da OAB-SC; Diana Dias Sampaio, secretária-geral da Associação Nacional dos Técnicos de Nível Superior; Luis Eduardo Acosta, vice-presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior; e Juliano Scherner Rossi, procurador federal junto a UFSC.

    Senadora acatou pedido de instauração de inquérito e já começa na terça, 21/11, a investigar episódios que levaram o reitor ao suicídio. Foto: Senado

    Antes, no dia 31 de outubro  já havia sido realizado uma sessão solene no Senado em homenagem ao reitor que se tornou um grande manifesto político multipartidário que tomou o caso do reitor da UFSC como um vigoroso exemplo de combate aos abusos de poder e ao Estado de Exceção. A título de ser uma homenagem ao professor suicidado, a cerimônia ocupou o espaço na tribuna para uma sucessão de discursos vigorosos contra as condições da prisão e afastamento do reitor da universidade, que revezaram ao microfone vozes de vários partidos, que vão do deputado Armindo Chinaglia (PT), o senador Roberto Requião (MDB histórico), o desembargador catarinense Lédio Rosa de Andrade, o ex-senador Nelson Wedekin (MDB histórico), o deputado Esperidião Amin (PP), até a ex-senadora e líder do governo Lula e Dilma Ideli Salvatti (PT). https://www.facebook.com/lediorosa/videos/10203996144980494/

    AULA PÚBLICA:

    SC se levanta contra Estado de Exceção na UFSC e no Brasil

    A partir da aula pública em Florianópolis deve se articular uma Frente Nacional de Luta contra o Estado de Exceção

    A Universidade Federal de Santa Catarina realiza a Aula Pública: “Resistência ao abuso de poder e ao fascismo: em defesa dos fundamentos do Estado Democrático de Direito e da Autonomia Universitária”, por iniciativa do Coletivo Floripa contra o Estado da Exceção, com aclamação unânime do Conselho Universitário. O evento ocorrerá no Teatro Garapuvu, no dia 27 de novembro, às 14 horas, com a participação do desembargador catarinense Lédio Rosa de Andrade, senador da República Roberto Requião, autor do projeto de Lei Cancellier contra o Abuso de Autoridade, o jurista e deputado Patrus Ananias, o ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, o procurador de Estado João dos Passos Martins, o Padre Vilson Groh, da União Arquidiocesana das Comunidades Eclesiais de Base e o Coletivo Catarinense Memória, Verdade e Justiça.

    O Coletivo Floripa Contra o Estado de Exceção conclama todos os cidadãos que defendem a verdade e a justiça a divulgarem esse evento que se projeta como um marco nacional na defesa do Estado Democrático e de Direito. Toda a comunidade mais ampla está convidada a vir participar, compreender e debater o significado dos episódios de abuso de poder que violaram a autonomia da universidade, levaram à prisão ilegal de seis dos seus integrantes no dia 14 de setembro, humilharam e baniram o reitor Luiz Carlos Cancellier da UFSC, culminando com a sua perda trágica. O convite para a Aula Pública registra:

    “Que o suicídio do professor Cancellier, encarcerado no Presídio de Florianópolis sem a constituição de denúncia, nem direito à defesa, algemado nas mãos e acorrentado nos pés, alvo de uma acusação infundada e caluniosa agasalhada sem a devida verificação pela Polícia e pela Justiça Federal, sirva para levantar o Brasil contra a afirmação de um estado policialesco que tende ainda a vitimar muitos outros inocentes.”

     

     

     

    Senador Roberto Requião e Patrus Ananias estarão em Florianópolis no mesmo dia 27, junto com os deputados Pedro Uczai, Celso Pansera e Décio Lima para o lançamento da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Eletrosul. O ato que se insurge contra a privatização e entrega do setor estratégico de energia, ocorrerá às 9 horas no auditório Deputada Antonieta de Barros, na Assembléia Legislativa do Estado de Santa Catarina. Participam parlamentares federais, estaduais e municipais, Frente Brasil Popular, Intersul, Intercel e outras entidades que defendem a soberania nacional.

  • Canudos: cento e vinte anos de solidão

    Canudos: cento e vinte anos de solidão

     

    Belo Monte renasce a cada Romaria para ensinar ao povo brasileiro que é preciso ter fé e coragem

    Quatro anos depois, diante da iminente invasão do exército brasileiro, o Conselheiro Antônio Vicente Mendes Maciel havia de recordar aquela manhã remota em que chegou acompanhado de seus mais fiéis peregrinos. Canudos era então um pequeno vilarejo de cinquenta casebres de taipa, construídos à margem de um rio de águas diáfanas e intermitentes que se precipitavam ao redor de uma velha capela, de uma fazenda decrépita e de alguns pequenos pontos comerciais. Nem o mais otimista andante da caravana sonharia que aquele lugar seria um dos maiores núcleos populacionais do Nordeste brasileiro. É provável que só soubesse disso o próprio Conselheiro¹.

     

    Tanto assim que, ao se assentar naquele chão pedregoso e fértil, cercado de umbuzeiros, macambiras, xiquexiques, faveleiras, bromélias, catingueiras, caroás e coroas de frade, ele logo tratou de renomear a localidade. Ao invés do canudo-de-pito, uma planta muito usada para fabricar cachimbo e que emprestava o nome ao lugar, o Conselheiro palmilhou a beleza das elevações geográficas e, apontando o dedo para o mundo denso e profundo que se anunciava no horizonte sertanejo, chamou aquilo tudo de Belo Monte.

     

     

    Um território livre da extorsão do Estado e da exploração dos latifundiários

     

     

    A notícia se espalhou pelos mais recônditos povoamentos da região. Mais do que os 26 meses de travessia de José Arcadio Buendía em busca de uma saída para o mar, Antônio Conselheiro acumulara 20 anos de peregrinação, catando pedras para restaurar e construir igrejas, açudes e cemitérios, colecionando prédicas, perseguições e pelejas, espalhando conselhos, afilhados e esperanças. Era chegada a hora de fundar “a aldeia mais organizada e laboriosa que qualquer das conhecidas até então pelos seus 300 habitantes”². Um território livre da extorsão do Estado e da exploração dos latifundiários. Uma comunidade solidária, que planta, colhe, cria, edifica e reza. Era chegada a hora de uma nova experiência sobre a terra.

     

    Afinal, a recém-proclamada República, que completa 128 anos no próximo dia 15, parecia pior que a encomenda. A impressão é que, no Brasil, os regimes políticos mudam para manter privilégios, na exata medida de todos os golpes de Estado da nossa história: reacionários, conservadores e antipopulares. Trocam-se as peças do tabuleiro para retroagir ou, quando muito, ficar tudo como dantes no quartel de Abrantes. Para os peões que se moviam em revoada a cada estiagem prolongada, a República, que não garantia o mínimo direito à dignidade, passou a fazer absurdas exigências fiscais. Autorizou os municípios a editar a cobrança de impostos, ampliando “a roça de milho cercada de formiga”³, como o Conselheiro se referia à carestia. Os preços dos alimentos subiram 118% entre 1891 e 1894, acompanhando a maior inflação monetária que se tinha notícia. A crise econômica assolava o país e era chegada a hora de reagir.

     

     

    A fogueira com os editais de cobrança de impostos

     

     

    Foi em um movimentado dia de feira na cidade de Bom Conselho (atual Cícero Dantas) que aconteceu a grande reação popular contra o ajuste fiscal republicano. Insubmissos à extorsão, os conselheiristas arrancaram os editais de cobrança de impostos e fizeram uma fogueira em praça pública. Outras manifestações se espalharam pelo estado e, para rechaçá-las, um destacamento da polícia baiana formado por cerca de 30 soldados foi enviado com a missão de prender o Conselheiro e dispersar os revoltosos. O confronto aconteceu no povoado de Masseté, pertencente ao município de Quijingue-BA. Liderados por João Abade, os sertanejos repeliram a polícia e, duas semanas depois, chegaram à “terra que ninguém lhes havia prometido”.

     

    Conta-se que pisaram o chão canudense na manhã triunfal do dia 13 de junho, sob uma revoada de foguetes que festejava Santo Antônio, o padroeiro da comunidade. Convencidos das prodigiosas perspectivas de Belo Monte e confiantes na liderança de Antônio Conselheiro, camponeses, artífices e até fazendeiros, dos mais distintos grupos étnicos e estratos sociais, aportaram no arraial. Ali reunidos, demonstravam que o sertanejo é, antes de tudo, diverso. E a variedade extravasava nos pomares e criações, nas redes e utensílios fabricados, nos celeiros fartos e no caixa comum para os doentes e necessitados. A autogestão camponesa combinada à disciplina espiritual fazia as águas do Rio Vaza-Barris se transmutarem em leite e mel, banhando os barrancos de cuscuz.

     

    A nova “Canaã” crescia com seus casebres de barro que mais lembravam as tradicionais comunidades de fundos e fechos de pastos do que as vilas simétricas da urbanização colonial e, na mesma proporção, aumentava também o incômodo dos coronéis pela migração da mão de obra, antes abundante. O barão de Jeremoabo, maior latifundiário baiano daquela época, cujo nome de batismo era Cícero Dantas Martins (sim, o mesmo que hoje nomeia o antigo Bom Conselho), se queixava do “aluvião de famílias que subiam para Canudos”. Missivista inveterado, foi ele quem mais leu as queixas dos amigos, correligionários e fazendeiros incomodados pela presença do “povo 13 de maio” no novo Quilombo brasileiro. Belo Monte ameaçava a opressão sem limites sobre o campesinato despossuído, constituído da grande massa de sem terras. De quebra, escapava à gestão política das oligarquias regionais fortalecidas pelo federalismo republicano e, numa audácia sem precedentes, substituía a moeda circulante por um vale amplamente aceito nas comunidades. Era mais do que uma ameaça, era assustador!

     

     

    Caminhada da Romaria

     

    Aproveitando o caráter religioso do arraial, o governador da Bahia, Rodrigues Lima, fez uma jogada genial: movimentou o arcebispo dom Jerônimo Tomé. Pediu a ele para organizar uma missão que convencesse os devotos a desertarem dali. Era maio de 1895, um mês antes do segundo aniversário de Belo Monte, quando o frade João Evangelista do Monte Marciano, cansado de ser questionado pela audiência crítica à sua postura doutrinária, explica a Antônio Conselheiro: “Se é católico, deve considerar que a Igreja condena as revoltas, e, aceitando todas as formas de governo, ensina que o poderes constituídos regem os povos, em nome de Deus”. As pregações do missionário capuchinho em nada alteraram a fluidez do Vaza-Barris. Mas revelaram uma dolorosa constatação: para destruir aquilo seria preciso mexer em mais de uma peça. Seria preciso mobilizar todo o tabuleiro.

     

    E, para isso, seria preciso um bom pretexto. A arapuca não poderia ser mais emblemática. Envolveu um dos coronéis que mantinha relações comerciais com Belo Monte e que, por sua condição aristocrática, sabia exatamente a sua posição na hora do xeque-mate. Se seu prenome lembrava o frade italiano, João Evangelista, seu sobrenome não deixava dúvidas: Pereira e Melo, duas das famílias mais tradicionais de Juazeiro-BA. Comerciante, fazendeiro e político, o coronel Janjão devia a Antônio Conselheiro um carregamento de madeira que seria utilizada na finalização da Igreja Nova do Bom Jesus. Embora já estivesse paga, a mercadoria não foi entregue, segundo a tradição, por falta de quem levasse a encomenda. Conselheiro disse que mandava buscar.

     

    A partir daí, entra na jogada o dono do xadrez: o jovem e promissor juiz de Direito recém-nomeado para Juazeiro, Arlindo Leoni. Coincidências ou não, era o mesmo representante da lei que atuava em Bom Conselho quando os conselheiristas fizeram a famigerada fogueira com os editais de impostos. Convicto de seu dever cívico, republicano e genealógico, o juiz não precisou reunir provas de que Juazeiro seria invadida pelo “perverso Antônio Conselheiro”. Telegrafou para o governador da Bahia, o recém-empossado vizinho casanovense Conselheiro Luís Viana, e, em tom alarmista, selou o futuro do arraial. Depois de duas expedições estaduais fracassadas, Viana solicita a ajuda do Governo Federal, dirigido naquele momento por um representante das oligarquias cafeeiras do sudeste, o paulista Prudente de Morais. Era hora de o Exército selar o grande acordo nacional.

     

     

    A ficção do jornalismo

     

    Os jornais, mais eficientes veículos de comunicação de massa no Brasil do final do século 19, cumpriram o papel que até hoje é reservado à imprensa hegemônica: construíram a unidade discursiva a serviço dos interesses do patronato. Para criminalizar e negar a importância social da experiência, chamaram os belomonteses de monstros, bandidos, fanáticos, ignorantes, desordeiros e outros tantos rótulos ainda em voga, transmutando os sertanejos em inimigos da pátria e os militares em heróis. Para insuflar o combate ao arraial, convenceram a opinião pública de que “os fanáticos do Conselheiro, com armamento moderníssimo e abundante munição, comandados pelo conde d’Eu, pretendiam restaurar a monarquia”, novelizando a vida na eterna luta entre o bem e o mal.

     

    As vozes falando em nome do bom senso”, afirma Walnice Nogueira Galvão, “podiam ser contadas nos dedos das mãos”. Não por acaso, a necessidade atual de recorrer a periódicos estrangeiros “para uma apreciação equilibrada dos eventos da guerra e sua inserção no processo histórico geral do país”. O resultado foi lastimoso: “Com uma mobilização geral da opinião feita pelos jornais, acompanhando as operações bélicas, a Guerra de Canudos foi afinal ganha, o arraial arrasado a dinamite e querosene juntamente com quem não quis se render, os prisioneiros todos degolados, restando apenas algumas poucas centenas de mulheres e crianças que foram dadas de presente ou vendidas. A república estava salva”¹. A lição também é lastimosa: no calor da hora do jornalismo nosso de cada dia há muito mais ficção do que julga a nossa vã crença na verdade dos fatos.

     

    Que o diga o jornalista míope do livro “A Guerra do Fim do Mundo”, de Mario Vargas Llosa. Inspirado em Euclides da Cunha, o personagem do escritor peruano é uma triste metáfora da atividade jornalística. Com seus óculos quebrados durante a debandada da terceira expedição, chefiada pelo corta-cabeças Moreira César, o jornalista míope confessa que não viu nada, a não ser sombras, vultos e fantasmas. “Mas, embora não tenha visto, senti, ouvi, apalpei, cheirei as coisas que aconteceram lá. E o resto, adivinhei”. Interlocutor do barão de Canabrava (inspirado no barão de Jeremoabo), o jornalista explicaria páginas à frente. “Os correspondentes podiam ver mas não viam. Só viram aquilo que foram ver. Mesmo que não estivesse ali”¹¹. Mais tarde, Vargas Llosa diria que umas das coisas que mais o fascinou, “ao investigar a história da Guerra de Canudos, foi ver como a imprensa desempenhou um papel tão importante na deformação da realidade”¹².

     

     

    O enviado de Padre Cícero

     

     

    Belo Monte rascunhou a tão eficaz e usual ação combinada entre a elite econômica, a mídia e o aparato jurídico-policial do Estado. Os poderes instituídos só não esperavam que a resistência fosse tão visceral. Padrinho de tantas crianças desde o início da sua peregrinação, Conselheiro contou com o reforço de muitos afilhados vindos de Sergipe e de todo o noroeste e litoral norte da Bahia. Milhares de camponeses, negros, povos tradicionais e soldados desertores em defesa da própria sobrevivência depositaram o seu sangue naquele chão¹³. Até mesmo o representante de outro famoso padrinho sertanejo, o Padre Cícero, teria presenciado um dos conflitos, um ano após o atentado que quase tira a vida do padre que, naquele momento de reboliço da história eclesiástica brasileira, havia desafiado as ordens da Diocese e do Vaticano.

     

    Segundo Honório Vilanova¹, que ao lado de seu irmão Antônio conseguiu furar o cerco do exército e fugir pro Ceará, antes da primeira expedição chegar à cidade de Uauá-BA, palco da batalha inaugural, ocorrida no dia 21 de novembro de 1896, o padim Ciço enviou um sujeito de nome Herculano. Ao chegar no arraial, levaram-no à presença de Antônio Conselheiro, que logo lhe perguntou: “Que mandou dizer o Padre Cícero?”. “Mandou dizer que está esperando uma guerra”, respondeu o rapaz. “Pois quando voltar ao Juazeiro, diga ao padre que o fogo do inferno vai cercar este lugar. Haverá quatro fogos: os três primeiros são meus, o quarto eu entrego nas mãos do Bom Jesus. A minha guerra é federal, a dele será estadual”, profetizou, tal qual o cigano Melquíades. Ao saber que os soldados já estavam a caminho de Belo Monte, Herculano quis ir embora. Conselheiro pediu que ele assistisse ao primeiro fogo para contar ao Padre Cícero. “Conta tudo o que viu, sem faltar uma palavra”.

     

    Durante o último fogo sobre o arraial, no segundo semestre de 1897, o maior medo das autoridades era que o Padre Cícero levasse seus seguidores para combater em Belo Monte. Naqueles idos, ele estava refugiado no sertão pernambucano, em Salgueiro, após ter sido intimado a cumprir o decreto da Congregação do Santo Ofício que o expulsou de Juazeiro do Norte, já que ele se negava a refutar o milagre da hóstia que vertera sangue na boca da beata Maria de Araújo. Certamente, os “exércitos” dos mais notórios seguidores da prática pastoral do Padre Ibiapina seriam imbatíveis, como são em termos de religiosidade popular no semiárido nordestino. Mas o Padre Cícero, como destaca seu biógrafo Lira Neto, estava mais interessado em garantir a sua ameaçada sobrevivência como líder espiritual, “na engenhosa composição de predicados aparentemente antagônicos – a dedicação pastoral aos mais humildes e o diálogo estratégico com os poderosos e abastados”¹.

     

    Entretanto, quando veio a sua “guerra estadual”, em 1914, o Padre Cícero e seu fiel escudeiro Floro Bartolomeu recorreram a um famoso sobrevivente de Belo Monte: o comerciante Antônio Vilanova, que naquele momento residia no município caririense de Assaré. O velho guerreiro, com viva lembrança das estratégias utilizadas na defesa do arraial, desenhou um plano certeiro: a construção de uma imensa vala em torno de Juazeiro do Norte, com nove quilômetros de extensão, oito metros de largura e cinco metros de profundidade. O “Círculo da Mãe de Deus”, como o Padim batizou aquela engenhosa trincheira, impediu que as tropas do governador Franco Rabelo invadissem a cidade, no episódio conhecido como Sedição de Juazeiro. Mas essa já é outra história…

    A “Terra Santa do Beato Santo Antônio”

    O certo é que muitos episódios, histórias, romances e metáforas magistrais cabem em Belo Monte. Alegoria socioreligiosa capaz de esculpir obras de diferentes linguagens artísticas: do cinema de Glauber Rocha ao teatro de José Celso Martinez Correa, da literatura de Mario Varga Llosa à fotografia de Evandro Teixeira, da poesia de Patativa do Assaré às artes plásticas de Gildemar Sena. Belo Monte esculpiu Euclides da Cunha e sua obra vingadora, incluindo no cânone literário brasileiro um barroco grito de protesto, em que “a consciência da impunidade, do mesmo passo fortalecida pelo anonimato da culpa e pela cumplicidade tácita dos únicos que podiam reprimi-la, amalgamou-se a todos os rancores acumulados, e arrojou, armada até aos dentes, em cima da mísera sertaneja, a multidão criminosa e paga para matar”¹.

     

    Belo Monte continua sendo esculpido, especialmente por aqueles, como o professor José Calasans, que escutaram os sobreviventes e seus descendentes, mergulharam nas águas diáfanas das lembranças inundadas pelo Açude de Cocorobó, onde desde 1969 repousa a Canudos dos que voltaram depois do maior massacre da nossa história. Aqueles que também revisitam a experiência à luz dos desafios sempre atualizados pelo correr da vida, que embrulha tudo. “A vida é assim”, ensina Riobaldo: “esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”¹. Aqueles, enfim, que fazem da sua vida um permanente ato de fé e coragem, reacendendo a cada Romaria a chama imortal do ideal ardente que mantém viva a “Terra Santa do Beato Santo Antônio”¹.

     

     

    O sol brilha com alegria, são 30 anos de Romaria”

     

     

    Nem bem o sol havia nascido e o trio Chapolin parou em frente à casa paroquial de Canudos. O Padre José Alberto Gonçalves já estava à espera para embarcar e iniciar a primeira peregrinação do dia pelas ruas da cidade. Com sua voz de locutor e seu tom cerimonioso, assumiu o microfone do trio e, em alto e bom som, saiu convocando a população para a missa que seria celebrada às 6h. “Bom dia romeiros e romeiras, vamos acordando. O sol brilha com alegria, são 30 anos de Romaria”, dizia ele, intercalando os apelos com uma música cujo refrão expressava a simbologia do momento: “Eu também sou a imagem do guerreiro, sou filho de nordestino, da terra do Conselheiro”.

     

    Filho de Uauá, cidade-irmã de Canudos, o Padre Alberto assumiu a paróquia de Santo Antônio há quatro anos e nove meses. Mas participa das Romarias de Canudos desde 1993, quando ainda era seminarista na Paraíba. “Estamos sempre em Romaria, em busca da promissão, da esperança, da dignidade, da terra livre. E nessas buscas paramos de vez em quando para celebrar”, afirmou, resumindo o sentido daquela peregrinação de fieis da causa conselheirista que desde 1987 é realizada às margens do Açude de Cocorobó em recordação ao martírio do povo de Belo Monte.

     

    Longe de ser uma romaria como as de Juazeiro do Norte, que três vezes ao ano reúnem milhares de pessoas de todos os rincões do Nordeste, a peregrinação de Canudos tem atraído algumas dezenas de pesquisadores, professores, estudantes, militantes cristãos e de movimentos sociais, pastorais, cooperativas, associações, ONGs e comunidades eclesiais de base. “Pedagogicamente”, explica o Padre Alberto, “a Romaria de Juazeiro do Norte tem uma diferença da nossa, porque lá tem uma perspectiva do simbólico, da prosperidade, do milagre em si, e a nossa traz a tônica da reflexão e da celebração das experiências concretas de convivência com o semiárido”.

     

    É o caso da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc), que esteve representada por sua presidente Denise Cardoso na mesa de abertura da Romaria, realizada na noite do último dia 21 de outubro, véspera da caminhada. Fundada em 2003 por um grupo de 44 agricultoras, hoje a entidade reúne 271 cooperadas/os e é pioneira em beneficiamento e comercialização de frutos nativos da caatinga, a partir dos princípios da economia solidária e do comércio justo. “A Coopercuc é resultado de uma proposta de convivência com o semiárido de geração de renda para a autonomia das mulheres. É uma história de desafios, em que a gente sobrevive todos os dias”, afirmou Denise.

     

    Ao seu lado na mesa que discutiu o tema da 30ª Romaria: “Memória, caatinga e vida”, estava o diretor do Campus Avançado de Canudos da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Luiz Paulo Neiva. Desde 1986, a Uneb atua na salvaguarda da epopeia conselheirista. Atualmente mantém dois importantes equipamentos: o Parque Estadual de Canudos, uma área de 1.321 hectares que preserva o cenário das últimas batalhas, e o Memorial Antônio Conselheiro, que reúne museu, biblioteca e jardim temático. No dia 5 de outubro deste ano a Universidade inaugurou em Canudos o primeiro núcleo de robótica da Bahia e até o final do ano será lançada por lá a primeira Universidade Livre do estado.

     

     

    A história dos vencidos

     

     

    Nada mais apropriado para uma cidade que está historicamente ligada ao nascedouro de “um modelo social de organização popular, do poder, da produção, da comercialização e da convivência humana”, como afirmou o Padre José Wilson Andrade, vigário da paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Feira de Santana-BA. Presidente do Instituto Popular Memorial de Canudos (IPMC), ONG responsável por salvaguardar a memória de Belo Monte e das Romarias, o Padre Wilson foi o terceiro componente da mesa de debate. Discorreu sobre o tema que lhe ocupa há quase 30 anos: “a história dos vencidos”.

     

    Durante esse tempo, concluiu uma especialização, um mestrado e um doutorado sobre os aspectos religiosos e políticos de Belo Monte. Suas pesquisas relevam os princípios teológicos que guiavam as pregações de Antônio Conselheiro e se confundem com as do professor Pedro Vasconcellos, que este ano trouxe dos escombros do arraial os “Apontamentos dos preceitos da Divina Lei de Nosso Senhor Jesus Cristo, para a salvação dos homens”, ditados e escritos pelo Conselheiro em 1895. “Ele era muito culto para o seu tempo e reinterpretava livros do catolicismo popular, como a Missão Abreviada, as Práticas Mandamentais e as Horas Marianas, à luz das necessidades do povo”, lembrou o Padre Wilson.

     

    Segundo ele, um dos novos campos de pesquisa sobre a história de Belo Monte é justamente o caráter teológico do arraial. É a nova oportunidade de “exumar o cadáver do homem que tremeu a jovem República”, como afirma Leandro Karmal no prefácio do livro “Arqueologia de um monumento: os apontamentos de Antônio Conselheiro”, de Pedro Vasconcellos¹. “Pela primeira vez e de forma impactante, entramos na cabeça do homem santo de Canudos”, complementou Karmal. Algo que destoa do perfil delineado por Euclides da Cunha para o Conselheiro, enquadrando-o “no âmbito da loucura carismática e de expectativas escatológicas de teor milenarista”.

     

     

    A inteireza moral e intelectual de Antônio Conselheiro

     

     

    Foram 120 anos de desinformação. Nesse ínterim, apenas as prédicas e discursos de Antônio Conselheiro tinham sido publicados na década de 1970, por esforço do pesquisador Ataliba Nogueira. Escritas no último ano do arraial, em janeiro de 1897, as palavras do Conselheiro são as mais nítidas expressões de sua inteireza moral e intelectual e, de algum modo, um testamento legado à posteridade. O manuscrito finaliza em tom saudoso: “Adeus povo, adeus aves, adeus árvores, adeus campos, aceitai a minha despedida, que bem demonstra as gratas recordações que levo de vós, que jamais apagará da lembrança deste peregrino, que aspira ansiosamente a vossa salvação e o bem da Igreja. Praza aos céus que tão ardente desejo seja correspondido com aquela conversão sincera que tanto deve cativar o vosso afeto”².

     

    Agora, o desafio é que esses e outros testamentos que revelam o Conselheiro professor primário, leitor ávido, intelectual e interlocutor de santos eruditos, como Agostinho, Jerônimo, Pedro Damião e Tomás de Aquino, sejam conhecidos pelo grande público e reconstituídos nos livros didáticos que abordam a história de Belo Monte/Canudos. Para a Irmã Verônica Ribeiro, que há mais de 30 anos iniciou os trabalhos de organização do povo canudense com outras missionárias da congregação do Sagrado Coração de Jesus, as novas revelações podem concretizar o sonho da canonização do líder religioso de Belo Monte. “O Papa Francisco acabou de canonizar os mártires católicos²¹. Antônio Conselheiro também foi um mártir, teve a cabeça decepada”, afirmou ela, que durante seus anos de peregrinação na década de 1980 foi ameaçada por fazendeiros da região “que não queriam que a gente falasse em fundo de pasto, reforma agrária, direitos humanos…”. Como para ser canonizado é necessário provar um milagre ocorrido por sua intercessão, perguntei à Irmã Verônica se já havia algum evento milagroso na conta do Conselheiro. Ela respondeu prontamente: “O milagre da resistência”

    Encerramento da Romaria
    Encerramento da Romaria

     

     

    É esse milagre que tem sustentado as três décadas de caminhada da conselheira tutelar Edileuza Ramos. Nascida no Trabubu, nas proximidades de uma das principais trincheiras conselheiristas, a Serra do Cambaio, ela esteve presente em todas as Romarias, sempre compondo a equipe de animação. Tem na ponta da língua um rosário de cantos religiosos e de significados profundos sobre a atualidade da experiência de Belo Monte: “Essa luta de Conselheiro não foi em vão, principalmente para nós canudenses que lutamos por dias melhores, pela igualdade e pela partilha”, afirmou.

     

    Depois dos quatro quilômetros de percurso entre a praça da Capela do Cruzeiro²², onde foi celebrada a missa das 6h, e o Mirante do Conselheiro²³, ponto de encerramento da Romaria, o Padre Alberto já estava flamejante dos raios solares, que àquela altura brilhavam com nostalgia. Em sua sala de estar paroquial, aguardei que ele sentisse a brisa suave do dever cumprido para lançar a questão derradeira: “O que Belo Monte tem a nos ensinar hoje?”. A resposta veio como um sopro: “Em tempos de crise e perda de direitos, o grande ensinamento é manter viva a chama que fumega. Belo Monte nos ensina a valorizar os saberes do nosso povo e do nosso bioma caatinga, nos inspira a não deixar que roubem a nossa esperança, a nossa fé e a nossa capacidade de servir e de amar”.

     

    Belo Monte, que se tornou um pavoroso rodamoinho de poeira e escombros, centrifugado pela cólera da República no século 19 e da Ditadura Militar no século 20, poderia ter tido o mesmo destino de Macondo e ser arrasado pelo vento e desterrado da memória dos homens e mulheres, na impossibilidade de se repetir tudo o que está escrito nos pergaminhos/testamentos do Melquíades/Conselheiro. Mas, com licença a García Márquez e ainda sentindo o aroma da Romaria, só me resta desejar profundamente: que as estirpes condenadas a cento e vinte anos de solidão tenham sempre oportunidades sobre a terra.

     

     

    * Luis Osete é natural de Cardeal da Silva (BA) e radicado em Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) desde 2005. É jornalista, pesquisador e garimpador de memórias. 

     

     

    Notas

     

    ¹ Livremente inspirado no livro “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez;
    ² “Cem Anos de Solidão”;
    ³ “Calasans, um depoimento para a história”, de Marco Antonio Villa;
    “Cem Anos de Solidão”;
    “Canudos: a luta pela terra”, de Edmundo Moniz;
    “Canudos: Cartas para o Barão”, de Consuelo Novais Sampaio;
    “Belo Monte: uma história da guerra de Canudos”, de José Rivair Macedo e Mário Maestri;
    Telegrama do juiz Arlindo Leoni para o governador Luís Viana;
    “Antônio Conselheiro e Canudos”, de Ataliba Nogueira;
    ¹
    “No calor da hora: a guerra de canudos nos jornais, 4ª Expedição”, de Walnice Nogueira Galvão;
    ¹¹ “A Guerra do Fim do Mundo”, de Mario Vargas Llosa;
    ¹² Entrevista concedida por Mario Vargas Llosa a Ana María Moix;
    ¹³ “Cangaceiros e Fanáticos”, de Rui Facó;
    ¹
    “Universos em confronto: Canudos versus Belo Monte”, de Sérgio Guerra;
    ¹
    “Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão”, de Lira Neto;
    ¹
    “Os Sertões”, de Euclides da Cunha;
    ¹
    “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa;
    ¹
    “Ladainha pra Canudos”;
    ¹
    Os livros “Apontamentos dos preceitos da Divina Lei de Nosso Senhor Jesus Cristo, para a salvação dos homens” e “Arqueologia de um monumento: os apontamentos de Antônio Conselheiro” compõem a obra “Antônio Conselheiro por ele mesmo”, organizada pelo pesquisador Pedro Vasconcellos.
    ²
    “Antônio Conselheiro e Canudos”, de Ataliba Nogueira;
    ²¹ No último dia 15 de outubro, o Papa Francisco canonizou 30 mártires católicos que foram brutalmente assassinados no Rio Grande do Norte em 1645, durante a ocupação holandesa no Nordeste brasileiro.
    ²² A Capela do Cruzeiro abriga duas relíquias: o Cruzeiro da Igreja Velha de Belo Monte e a madeira que deveria ter sido entregue para a finalização da Igreja Nova do Bom Jesus;
    ²³ O Mirante do Conselheiro fica no topo de uma serra. Por lá, podem ser vistas a estátua de Antônio Conselheiro e uma panorâmica do Açude de Cocorobó.

     

     

  • Gastronomia é no Mercado do Povo

    Gastronomia é no Mercado do Povo

    Gastronomia uma relação necessária entre a arte da culinária e a ciência do preparo dos alimentos e não surgiu do apelo da mídia por uma melhor qualidade de vida.

     

    Ela foi se formando ao longo da cultura alimentar de povos e comunidades tradicionais, na relação com a natureza e na curiosidade sábia do povo em vários cantos do mundo.

    No sertão brasileiro, os Mercados Municipais que também são conhecidos como mercado do povo são o ponto de encontro desta cultura que mistura em um mesmo espaço as raízes, plantas medicinais, cheiros e diversos temperos além da música e dos alimentos frescos para o consumo.

    E nos vem uma pergunta. Como ao longo do tempo resiste estes espaços meio ao apelos dos supermercados, shoppings, televendas e comidas rápidas, os fastfoods. É nesta resistência que Mercados Municipais como o de Itamarandiba recebe aos sábados além de pessoas de toda região da Serra Negra ou mesmo turistas interessados pelo famoso requeijão moreno e da farinha de mandioca moída na hora.

    Não se faz comida sem história e não pode contar uma história sem colocar o povo e a natureza como protagonistas do sentimento que os faz ser vivos e vida em sua origem e tradição.

    Fotos e Texto: Leonardo Koury, especial para os Jornalistas Livres.