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  • #JusticeForFloyd em Portugal: atos antirracistas tomaram conta do país neste último sábado.

    #JusticeForFloyd em Portugal: atos antirracistas tomaram conta do país neste último sábado.

    por Isabela Moura e Luiza Abi Saab, Jornalistas Livres em Portugal

     

     

    Os atos antirracistas #JusticeForFloyd tomaram conta de Portugal neste último sábado, 06 de junho de 2020. As principais cidades de Portugal foram ocupadas por milhares de manifestantes em atos antirracistas que pediam justiça para George Floyd. Os atos aconteceram principalmente nas cidades de Lisboa, Coimbra, Porto e Braga.

     

    Em LISBOA, a manifestação  levou milhares de pessoas em marcha até à Praça do Comércio – importante espaço de reivindicação política da capital portuguesa. O encontro em Lisboa foi articulado entre diversas organizações, estavam previstos três atos em dias diferentes, mas as iniciativas foram unificadas em apenas um ato.

    O contexto português e a questão da colonização foram abordagens presentes nos cartazes e nas vozes que se fizeram ouvir. José Falcão, da SOS Racismo, afirma que é necessário mudar o currículo escolar para que se possa saber de fato o que foi o passado português. “A história deste país é só a história do colonialismo, não é das vítimas do colonialismo, não é das pessoas que lá estavam a quem não pedimos autorização par ir. Onde ficamos durante 500 anos a escravizar as pessoas e essa história nunca é contada”, justifica o integrante de umas das associações que organizou a manifestação de sábado.

    Mayara Reis, escritora de 25 anos e uma das vozes intervenientes menciona também a importância da educação nesse combate:  “É preciso falar sobre isso nos manuais de história, falar sobre o Tratado de Tordesilhas, porque Portugal não é inocente”.  “Não foi nossa escolha, foi escolhido por nós. O futuro que eu estou a ter agora vem disso”, refere a escritora sobre as decisões históricas que marcaram o passado colonial de países  como  a terra de onde veio – a Guiné-Bissau.

     

    Em Lisboa, 06/06/2020. Foto de Geraldo Monteiro.

     

    Em Lisboa, 06/06/2020. Foto de Geraldo Monteiro.

     

    Em Lisboa, 06/06/2020. Foto de Geraldo Monteiro.

     

     

     

    No PORTO o ato aconteceu na Avenida dos Aliados. Em referência ao norte americano George Floyd, assassinado pela polícia dos Estados Unidos, vários manifestantes trouxeram consigo os dizeres “I Can’t Breathe”, em português, “Não Consigo Respirar”. As reivindicações ecoavam pela avenida com o grito “Nem mais uma morte”, denunciando também os casos de racismo em Portugal.

     

    Porto, 06/06/2020. Foto de Pedro Kirilos.

     

    Porto, 06/06/2020. Foto de Pedro Kirilos.

     

    Porto, 06/06/2020. Foto de Pedro Kirilos.

     

    Porto, 06/06/2020. Foto de Pedro Kirilos.

     

     

     

    Em COIMBRA a manifestação aconteceu na Praça da República, próxima à Universidade de Coimbra e foi organizada por estudantes da cidade. Centenas de pessoas se reuniram no local, seguindo as regras de segurança da Direção Geral de Saúde de Portugal (DGS).
    O ato contou com depoimentos, gritos por reivindicações da luta antirracista e uma performance que representava Jesus negro interpretando trecho do texto “A Renúncia Impossível”, de Agostinho Neto.

     

     

    Coimbra, 06/06/2020. Foto de Daniel Soglia.

     

    Coimbra, 06/06/2020. Foto de Raoni Arraes.

     

    Coimbra, 06/06/2020. Foto de Daniel Soglia.

     

    Coimbra, 06/06/2020. Foto de Raoni Arraes.

     

     

     

    Em BRAGA, a manifestação “Vidas Negras Importam” uniu cerca de 300 pessoas que prestaram sua solidariedade aos atos por George Floyd que acontecem há 10 dias nos Estados Unidos. Os presentes também denunciaram a violência policial contra negros, lembrando os casos de vítimas como Cláudia Simões e Alcindo Monteiro.

     

    Braga, 06/06/2020. Foto de Rafa Lomba.

     

    Braga, 06/06/2020. Foto de Rafa Lomba.

     

    Braga, 06/06/2020. Foto de Rafa Lomba.

     

    Braga, 06/06/2020. Foto de Rafa Lomba.

     

     

     

     

  • Cuiabá nas ruas contra do racismo, o fascismo e o genocídio

    Cuiabá nas ruas contra do racismo, o fascismo e o genocídio

    Da: MediaQuatro especial para os Jornalistas Livres

    Desde de 2019, com as manifestações contra os cortes na educação e a deforma da previdência, Cuiabá não juntava tanta gente nas ruas. E talvez nunca tenha havido tamanho contingente policial, incluindo helicóptero, para o improvável caso de “vandalismo”. Mas era mesmo de se esperar. Afinal, o racismo estrutural brasileiro em uma das capitais mais conservadoras do país exige que se trate os pretos e pretas sempre como potenciais criminosos. BASTA! O país não pode mais conviver e não conseguirá sequer viver como nação integral enquanto houver preconceitos que se refletem em práticas cotidianas e políticas públicas que oprimem e excluem a maior parte da população.

    Texto e fotos: www.mediaquatro.com
    Texto e fotos: www.mediaquatro.com

    Chegamos a um ponto no Brasil que não é mais suficiente não ser racista. É preciso lutar contra o racismo, nas ruas, nas redes, nos campos e nas casas. E a luta antirracista é central na derrubada do governo Bolsonaro e suas políticas genocidas na economia, na segurança pública e na saúde. Foi por isso que, apesar da necessidade de se intensificar o isolamento social, fomos à Praça Alencastro e marchamos pelas avenidas Getúlio Vargas, Marechal Deodoro, Isaac Póvoas e BR 364 para retornarmos à Praça da República sem qualquer incidente.

    Texto e fotos: www.mediaquatro.com

    Assim como em outras cidades e estados por todo o Brasil, em Cuiabá e Mato Grosso os negros e negras são maioria e são exatamente os corpos pretos os mais encarcerados, os pior pagos, os que vivem nos lugares mais distantes, os que mais precisam trabalhar fora de casa durante a pandemia (e muitas vezes sem sequer os equipamentos de proteção adequados) e os que mais são atingidos pela Covid-19. Isso não é uma coincidência. É resultado de quase 400 anos de escravidão formal, que em Mato Grosso também vitimou indígenas em larga escala, e de uma abolição inconclusa que indenizou os “proprietários” de pessoas mas nunca pagou a dívida histórica com quem sente na pele seus efeitos até hoje.

    Texto e fotos: www.mediaquatro.com

    É fato que o assassinato do estadunidense negro George Floyd foi o estopim dos protestos antirracistas em todo mundo e também no Brasil, onde houve atos em pelo menos 20 cidades, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Recife. Mas por aqui, as mortes do menino Miguel, do adolescente João Pedro e dos jovens em Paraisópolis, só pra citar alguns casos mais representativos nos últimos seis meses, demonstram cotidianamente o que significa ser alvo do preconceito, da polícia e das políticas.

    Texto e fotos: www.mediaquatro.com

    Desse modo, derrubar o governo o quanto antes o governo do fascista que ocupa a presidência é indispensável para conseguirmos combater a epidemia de forma minimamente eficiente. E tirar apenas o presidente não é suficiente, porque seu vice e ministério são igualmente racistas, como está provado em entrevistas antes mesmo das eleições, em pronunciamentos em eventos e na fatídica reunião ministerial.

    Texto e fotos: www.mediaquatro.com

    Enquanto não derrubarmos as políticas estúpidas da “guerra às drogas”, do encarceramento em massa, da concentração de renda, do agronegócio acima da agricultura familiar, não há presente para o país. E enquanto não investirmos em políticas públicas de igualdade racial e de gênero, de proteção às minorias e à diversidade, e de promoção dos direitos humanos a TODOS e TODAS, incluindo a punição de policiais assassinos, milicianos e racistas, não haverá futuro também.

     

     

  • Protestos se intensificam contra o assassinato de George Floyd

    Protestos se intensificam contra o assassinato de George Floyd

    Em Miami, Florida, os protestos contra o assassinato de George Floyd por policiais em Minneapolis, estado de Minnesota, continuaram neste fim de semana. Milhares de pessoas sairam às ruas no centro da cidade. Em Coral Gables, periferia de Miami, policiais também participaram dos protestos, se ajoelhando e rezando junto a manifestantes. Brancos e negros carregavam cartazes e gritavam palavras de ordem se levantando contra o racismo e o genocídio negro.

    Coral Gables
    Policiais se unem a protestos
    Coral Gables
    Policiais se unem a protestos

    No sábado e domingo, grandes protestos aconteceram nas ruas de Nova York, Filadélfia, Dallas, Las Vegas, Seattle, Des Moines, Memphis, Los Angeles, Atlanta, Portland, Chicago e Washington D.C, além de Miami.

     

    Camila Quaresma, ambientalista brasileira radicada em Miami há mais de 20 anos, faz um relato sobre a manifestação:

     

    “Se não existe movimentação, nada muda. Assim foi a organização de todos os protestos nos Estados Unidos. Ontem, em Miami, a mensagem era única entre participantes de diferentes cores, crenças, raças e idades: “Enough is enough!”, algo como “Chega!”, “Basta!”, “Passaram dos limites!”.

     

    O que aconteceu com George Floyd foi assassinato. Ponto. E não foi o primeiro… São muitos exemplos: Breonna Taylor, Ahmaud Arbery, Tamir Rice, Trayvon Martin, Oscar Grant, Eric Garner, Philandro Castile, Samuel Dubose, Sandra Bland, Walter Scott, Terence Crutcher… Até quando os negros não se sentirão seguros por serem negros? Até quando a cor da pele, ou as diferenças entre culturas justificam racismo? “Enough is enough.”

    Acho que o mais importante de tudo é continuar a ecoar  essa mensagem tão importante, e com isso, pressionar por mudanças mais drásticas não só no treinamento policial, mas também nas consequências a policiais que não cumprem com seu próprio dever.

     

    Importantíssimo que isso não seja esquecido com as distrações do vandalismo que aconteceu depois. Está errado, mas também não podemos esquecer que tal vandalismo vem de várias fontes: pessoas que querem que a mensagem não seja esquecida, ou pessoas que querem ser ouvidas mas a raiva da injustiça é tao grande que não conseguem gritar, pois o grito está preso na garganta. Errado, mas o buraco é mais embaixo.

     

    Enquanto isso, eu foco na lembrança do arrepio que senti na espinha ao estar cercada de tanta gente diferente com uma energia tão unificada em conquistar o bem. Das centenas de pessoas que estavam comigo na tarde de ontem, brancos, negros, latinos, e tantas outras raças e culturas que dão o significado tão maravilhoso de se viver em Miami: vamos voltar às ruas, gritar mais alto, lutar pelo que é nosso direito e tentar assim, fazer a diferença!

    Protestos em Miami

    Fotos de Coral Gables: @SJPeace/Twitter

    Fotos de Miami: Camila Quaresma

  • Noam Chomsky: Os sociopatas da Casa Branca estão levando o país à destruição

    Noam Chomsky: Os sociopatas da Casa Branca estão levando o país à destruição

    Para o filósofo e linguista Noam Chomsky, a primeira grande lição da atual pandemia é que estamos diante de “outra falha em massa e colossal da versão neoliberal do capitalismo”, que no caso dos Estados Unidos está agravado pela natureza dos “bufões sociopatas que dirigem o governo” liderado por Donald Trump.

    De sua casa em Tucson (Arizona) e longe de seu gabinete no Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), desde que transformou para sempre o campo da linguística, Noam Chomsky repassa em uma entrevista com “Efe” as consequências de um vírus que deixa claro que os governos estão sendo “o problema e não a solução”.

    Que lições positivas podemos extrair da pandemia?

    A primeira lição é que estamos diante de outra falha em massa e colossal da versão neoliberal do capitalismo. Se não aprendemos isso, a próxima vez que acontecer algo parecido vai ser pior. É óbvio após o que ocorreu depois da epidemia do SARS em 2003. Os cientistas sabiam que viriam outras pandemias, provavelmente da variedade do coronavírus. Teria sido possível se preparar naquele ponto e abordá-lo como se faz com a gripe. Mas não se fez.

    As empresas farmacêuticas tinham recursos e são milionárias, mas não o fazem porque os mercados dizem que não há lucros em se preparar para uma catástrofe virando a esquina. E depois vem o martelo neoliberal. Os governos não podem fazer nada. Estão sendo o problema e não a solução.

    Estados Unidos é uma catástrofe pela jogada que fazem em Washington. Sabem como culpar todo mundo exceto a eles mesmos, apesar de serem os responsáveis. Somos agora o epicentro, em um país que é tão disfuncional que nem sequer pode prover de informação sobre a infecção à Organização Mundial da Saúde (OMS).

    Qual sua opinião do gerenciamento da administração Trump?

    A maneira como isto se desenvolveu é surreal. Em fevereiro a pandemia estava já fazendo estragos, todo mundo nos Estados Unidos o reconhecia. Justo em fevereiro, Trump apresenta alguns orçamentos que vale a pena olhar. Cortes no Centro de Prevenção e Controle de Doenças e em outras partes relacionadas com a saúde. Fez cortes no meio de uma pandemia e incrementou o financiamento das indústrias de energia fóssil, a despesa militar, o famoso muro…

    Tudo isso diz algo da natureza dos bufões sociopatas que administram o Governo e porque o país está sofrendo. Agora buscam desesperadamente culpar alguém. Culpam a China, a OMS… e o que têm feito com a OMS é realmente criminoso. Deixar de financiá-la? Que significa isso? A OMS trabalha em todo mundo, principalmente em países pobres, com temas relacionados com a diarreia, a maternidade… Então que estão dizendo? “Ok, matemos um montão de gente no sul porque talvez isso nos ajude com nossas perspectivas eleitorais”. Isso é um mundo de sociopatas.

    Trump começou negando a crise, disse inclusive que era um boato democrata… Pode ser esta a primeira vez que os fatos venceram Trump ?

    A Trump há que lhe conceder um mérito… É provavelmente o homem mais seguro de si mesmo que já existiu. É capaz de sustentar um cartaz que diz “amo vocês, sou seu salvador, confiem em mim porque trabalho dia e noite para vocês” e com a outra mão te apunhalar pelas costas. É assim que se relaciona com seus eleitores, que o adoram independentemente do que faça. E recebe ajuda por um fenômeno mediático formado por Fox News, Rush Limbaugh, Breitbart… que são os únicos meios que assistem os republicanos.

    Se Trump diz em um dia “é só uma gripe, esqueçam dela”, eles dirão que sim, que é uma gripe e que há que se esquecer. Se no dia seguinte diz que é uma pandemia terrível e que ele foi o primeiro a se dar conta, gritarão em uníssono e dirão que ele é a melhor pessoa da história.

    Ao mesmo tempo, ele mesmo olha Fox News pelas manhãs e decide o que supõe que tem que dizer. É um fenômeno espantoso. Rupert Murdoch, Limbaugh e os sociopatas da Casa Branca estão levando o país à destruição.

    Pode esta pandemia mudar a maneira com que nos relacionamos com a natureza?

    Isso depende dos jovens. Depende de como a população mundial reaja. Isto nos poderia levar a estados altamente autoritários e repressivos que expandam o manual neoliberal inclusive mais que agora. Recorde: a classe capitalista não cede. Pedem mais financiamento para os combustíveis fósseis, destroem as regulações que oferecem alguma proteção… No meio da pandemia nos Estados Unidos, eliminaram normas que restringiam a emissão de mercúrio e outros contaminantes… Isso significa matar mais crianças estadunidenses, destruir o meio ambiente. Não param. E se não há contraforças, é o mundo que nos sobrará.

    Como fica o mapa de poder em termos geopolíticos depois da pandemia?

    O que está acontecendo a nível internacional é bastante chocante. Isso que chamam de União Europeia. Escutamos a palavra “união”. Ok, veja a Alemanha, que está gerenciando a crise muito bem… Na Itália, a crise é aguda… Estão recebendo ajuda da Alemanha? Felizmente estão recebendo ajuda, mas de uma “superpotência” como Cuba, que está mandando médicos. Ou chinesa, que envia material e ajuda. Mas não recebem assistência dos países ricos da União Europeia. Isso diz algo…

    O único país que tem demonstrado um internacionalismo genuíno tem sido Cuba, que tem estado sempre sob estrangulamento econômico por parte dos EE.UU. e por algum milagre têm sobrevivido para seguir mostrando ao mundo o que é o internacionalismo.

    Noam Chomsky

    Mas isto não se pode dizer nos Estados Unidos porque o que tens de fazer é culpar Cuba de violações dos direitos humanos. De fato, as piores violações de direitos humanos têm lugar ao sudeste de Cuba, em um lugar chamado Guantánamo que Estados Unidos tomou à ponta de pistola e se nega a devolver.

    Uma pessoa educada e obediente supõe-se que tem que culpar a China, invocar o “perigo amarelo” e dizer que os chineses vêm nos destruir, nós somos maravilhosos.

    Há um chamamento ao internacionalismo progressista com a coalizão que Bernie Sanders começou nos Estados Unidos ou Varoufakis em Europa. Trazem elementos progressistas para contrarrestar o movimento reacionário que se forjou da Casa Branca (…) da mão de estados brutais do Oriente Médio, Israel (…) ou com gente como Orban ou Salvini, cujo desfrute na vida é se assegurar de que as pessoas que fogem desesperadamente da África se afoguem no Mediterrâneo.

    Coloque todo esse “reacionarismo” internacional de um lado e a pergunta é… serão contestados? Eu só vejo esperança no que Bernie Sanders tem construído.

    Que tem perdido…

    Diz-se comumente que a campanha de Sanders foi um fracasso. Mas isso é um erro total. Tem sido um enorme sucesso. Sanders tem conseguido mudar o âmbito da discussão e a política, e coisas muito importantes que não podiam ser mencionados há alguns anos e que agora estão no centro da discussão, como o Green New Deal, essencial para a sobrevivência.

    Não lhe financiaram os ricos, não tem tido apoio dos meios… O aparelho do partido teve que manipular para evitar que ganhasse a indicação. Da mesma maneira que no Reino Unido o ala direita do Partido Trabalhista destruiu Corbyn, que estava democratizando o partido de uma maneira que não podiam suportar.

    Estavam dispostos até a perder as eleições. Temos visto muito disso enos Estados Unidos, mas o movimento permanece. É popular. Está crescendo, são novos… Há movimentos comparáveis na Europa, podem marcar a diferença.

    Que acha que passará com a globalização tal e qual a conhecemos?

    Não há nada de mal com a globalização. É bom viajar à Espanha, por exemplo. A pergunta é: que forma de globalização? A que se desenvolveu tem sido sob o neoliberalismo. É a que se tem desenhado. Tem enriquecido os mais ricos e existe um enorme poder em mãos de corporações e monopólios. Também tem levado a uma forma muito frágil de economia, baseada em um modelo de negócio da eficiência, fazendo as coisas ao menor custo possível. Esse raciocínio leva a que os hospitais não tenham certas coisas porque não são eficientes, por exemplo.

    Agora o frágil sistema construído está colapsando porque não pode lidar com algo que tem saído mal. Quando desenhas um sistema frágil e centralizas a produção em um só lugar como a China… Olha a Apple. Fatura enormes lucros e poucos ficam na China ou em Taiwan. A maior parte de seu negócio vai para onde provavelmente têm localizado um escritório do tamanho de meu estúdio, na Irlanda, para pagar poucos impostos em um paraíso fiscal.

    Como é que podem esconder dinheiro em paraísos fiscais? Isso faz parte da lei natural? Não. De fato nos Estados Unidos até Reagan, era ilegal. Assim como as compras de ações. (…) Eram necessárias? Reagan legalizou.

    Tudo foi projetado, são decisões… que têm consequências que vemos ao longo dos anos e uma das razões que se encontra é o mal chamado “populismo”. Muita gente estava enfadada, ressentida e odiava o governo de forma justificada. Isso tem sido um terreno fértil para demagogos que podiam dizer: sou teu salvador e os imigrantes isso e aquilo, etc.

    Acha que, depois da pandemia, os Estados Unidos estarão mais perto de uma previdência universal e gratuita?

    É muito interessante ver essa discussão. Os programas de Sanders, por exemplo, previdência universal, taxas universitárias gratuitas… Criticam-no em todo o espectro ideológico. As críticas mais interessantes vêm da esquerda. Os colunistas mais liberais do New York Times, CNN e todos eles… Dizem que são boas ideias, mas não para os estadunidenses.

    A previdência universal está em todas as partes. Em toda Europa de uma forma ou de outra. Em países pobres como Brasil, México… E a educação universitária gratuita? Em todas as partes… Finlândia, Alemanha, México… em todos os lados. De modo que o que dizem os críticos na esquerda é que Estados Unidos é uma sociedade tão atrasada que não pode ser colocado à altura do resto do mundo. E isso diz bastante da natureza, da cultura e da sociedade.

    Tradução: Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba

    Foto: Apu Gomez

    Texto original: http://www.cubadebate.cu/especiales/2020/04/22/noam-chomsky-el-unico-pais-que-ha-demostrado-un-internacionalismo-genuino-ha-sido-cuba/#.XqH1_mZKh0w

    Cuba Salva Bloqueio Mata

  • Tóquio. Um relato sobre os tempos de Corona

    Tóquio. Um relato sobre os tempos de Corona

    Por Ione Merino, direto de Tóquio, para os Jornalistas Livres

    Mudamos para Tóquio em julho do ano passado. Apesar do calor infernal do auge do verão, eu já notava um certo número de japoneses fazendo uso da máscara facial. Na época eu achava estranho mas com o tempo entendi que as máscaras fazem parte da cultura japonesa de não disseminar um resfriado ou uma gripe ou qualquer outra doença cujo contágio acontece por via oral.

    Em janeiro, eu e minha família retornamos de uma viagem dos Estados Unidos e já com notícias de que um novo vírus estava matando pessoas na China. A primeira ideia foi já encomendar máscaras faciais pois seria útil em algum momento com ou sem o novo vírus. Para minha surpresa as máscaras comuns descartáveis já estavam esgotadas online e muito menos se encontravam disponíveis em farmácias ou supermercados locais.

    Em fevereiro, com a maior disseminação do COVID-19, os primeiros casos começaram a surgir, primeiro ao norte na região de Hokkaido e consequentemente, as primeiras mortes devido a população mais idosa da região.

    Daí para frente, os alertas ficaram mais frequentes quanto aos cuidados de higiene, e o distanciamento social começou a ser mais cogitado. A partir de 1 de março, as escolas no país fecharam sendo implementado o aprendizado online. No distrito onde moramos, as pessoas começavam a se aglomerar menos e era visível, as ruas mais vazias. Com as crianças em casa, os pais foram obrigados a mudar a sua rotina, tendo que acompanhar o novo programa de ensino com novos horários e conteúdos.

    Em meados de março, com a intensificação e maior disseminação da doença no mundo, algumas pessoas que podiam, começaram a fazer o home office. Mas a vida aparentemente continuava normal. A preocupação com higiene aumentou e se via nas ruas mais pessoas usando máscaras faciais. Mas o comércio em geral continuava aberto. Foi decretado o fechamento de museus, estádios e parques temáticos e atividades turísticas em geral. As famílias cancelavam viagens ao exterior que inicialmente estavam programadas para acontecer durante a última semana de março, quando as escolas tem sua programação interrompida por conta das férias de primavera. E, finalmente, houve o pronunciamento do primeiro-ministro anunciando o cancelamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio.

    Nas duas últimas semanas de março, gradualmente mais serviços, academias de ginástica e esportes em geral, clubes e estúdios, foram fechando ou tendo seus horários reduzidos. Porém na ultima semana de março, com o florescimento das cerejeiras as pessoas saíram às ruas. De repente, o que se via era uma realidade não real. Multidões de jovens em Shibuya e Harajuku, parques lotados de pessoas debaixo das cerejeiras fazendo o famoso “hanami”, ou seja, piqueniques debaixo das árvores para apreciar as flores. Como se o Coronavírus nunca tivesse existido. Aquilo foi surreal. Eu tive que sair para encomendar óculos de leitura e não acreditei no movimento das ruas. Senti que o mundo voltava ao normal e senti uma alegria e felicidade muito grande de ver as pessoas se confraternizando e celebrando a vida.

    Mas obviamente esse surto de normalidade acabou quando os casos de COVID-19 começaram a aumentar em grande velocidade após essa semana. Quando abril chegou, a governadora de Tóquio fez um pronunciamento pedindo para as pessoas ficarem mais resguardadas e evitarem locais fechados e sem ventilação, aglomerações e manter o distanciamento social.

    Estamos agora entrando na segunda semana de abril e somente ontem, o primeiro-ministro declarou Estado de Emergência. Hoje mais medidas serão detalhadas e será divulgada uma lista de locais que deverão fechar por tempo indeterminado incluindo escolas, universidades, lojas de departamento, karaokês, nightclubs, shopping centers, cinemas, teatros, bibliotecas, salões, barbearias etc.

    Serviços essenciais continuam funcionando e incluem, além dos hospitais, farmácias, lojas de conveniência, supermercados, correios, transporte público, táxis e restaurantes com horários reduzidos à noite.

    As restrições aconteceram gradualmente assim como nossa rotina aqui em casa. O meu filho conversa com os amigos da Flórida pelo zoom ou skype até bem tarde da noite. Durante o dia, ele tem as aulas online e o pai ainda sai para trabalhar todos os dias, mas muitos fucionários já estão estão fazendo home office. As crianças se encontram lá fora para jogar bola e se exercitar um pouco a tarde, depois das aulas. Eu tenho ficado mais em casa e saio mesmo somente para fazer compras no supermercado. Eu e o Stefan, meu marido, nos exercitamos em casa ou fazemos uma corrida pela manhã. Passo a maior parte do tempo cozinhando e experimentando novas receitas, o que me ocupa quase todo o meu dia.

    Comecei tambem a costurar máscaras de pano. Passei a usar a máscara com mais frequência quando saio de casa e até para correr, o que é bem sufocante. O meu filho, que saía para se encontrar com os amigos e utilizava o transporte público, passou sair de casa somente a pe, de bicicleta ou quando o levamos de carro e somente para a casa da namorada. Nosso condomínio passou também a não aceitar mais visitantes.

    A vida mudou muito para todos nós em geral, desde bem antes da sombra do Coronavírus chegar e principalmente para o meu filho. Desde que mudamos para Tóquio, a vida dele tem sido um oceano de novos desafios e difíceis ajustes na sua vida social e pessoal. Ele encontra amigos facilmente em toda parte do mundo, mas a transição aqui não tem sido fácil para ele e consequentemente para nós. A escola americana que ele frequenta aqui é extremamente competitiva e o nível de ensino muito superior ao que ele tinha nos Estados Unidos. Os esportes ajudaram bastante no início, quando ele fez parte do time de futebol americano e soccer, porém, academicamente ainda há muito para ser trabalhado. E agora com o distanciamento social para um adolescente de 15 anos com uma personalidade extremamente sociável, é por si só, já um grande desafio.

    Mas a cada dia trabalhamos com o nossos estresses e frustrações de uma maneira onde o convívio familiar se torne possível sem grandes dramas. Cada dia se torna mais um dia e o que antes era estranho e que só se via nos filmes, está acontecendo agora. Tempos difíceis de aprendizado. Tempos de reflexão. Tempos de solidariedade e compreensão. Como será a vida pós-Corona para essa geração? E para o resto de nós? Muitas mudanças ainda estão por vir globalmente e apesar de cada governo decidir o que quer, sinto que as pessoas em qualquer parte do mundo estão passando pelas mesmas fases de insegurança, tristeza, angústia, depressão seguidas de euforia, danças tiktok, confraternizações pelo zoom, troca de receitas, aprendizados, shows e eventos online que fazem as pessoas compartilharem nas redes sociais a cara lavada sem maquiagem, sem pentear o cabelo, sem fazer as unhas, usando a mesma roupa, fazendo faxina, fotografando as ruas vazias quando se sai de casa etc. E depois da euforia, as pessoas voltam ao ciclo de depressão, tristeza, angústia e inseguranças.

    Todos estamos passando pelo mesmo ciclo em qualquer parte do globo. Em Tóquio ou São Paulo. Aqui em casa, em quase sete semanas de semi-confinamento, já enfrentamos muito drama, desespero, choradeira seguidos de períodos de paz e relativo otimismo e esperança. Ups and downs, vai e vem, nascem e morrem diariamente. E a vida continua… Com ou sem Corona…

     

    Tóquio com a pandemia
    Parque em Tóquio

     

  • COVID-19 e a luta de classes

    COVID-19 e a luta de classes

    por Karina Iliescu para os Jornalistas Livres

    Mike Davis traça o histórico de pandemias mundiais e recorda de um familiar próximo da COVID-19, a SARS, seus nomes originais são identificados por SARS-Cov-1 (2002) e SARS-Cov-2 (2020). E voltando em 1976, tivemos o Ebola. Davis traz à tona esses vírus como exemplos para entendermos a COVID-19 e seus efeitos.

    Apesar de já ter sido sequenciado o genoma, alguns problemas fatais são apresentados por Davis: a desinformação e a falta de kits de testes que resultam na falha dos parâmetros e na falta de dados das mutações e das infecções. O vírus se modifica em diferentes locais e, através da experiência com a gripe espanhola e a H1N1, o resultado do contágio nos mais jovens vai ser radicalmente diferente nos países e grupos mais pobres.

    Através da história, Davis relata quais foram os acontecimentos entre diferentes imunológicos (tanto os fortes quanto os fracos), a desnutrição e as infecções existentes das diferentes populações e como o vírus se adapta.

    Com anos de cortes na área da saúde nos Estados Unidos, inclusive no governo Trump, uma resposta à COVID-19 que não fosse lenta, seria quase impossível. Davis também analisa outras consequências: “os hospitais se tornaram estufas para superbactérias resistentes a antibióticos, como S. aureus e C. difficile, que podem se tornar grandes assassinos secundários em unidades hospitalares superlotadas”, além dos asilos que foram revelados como “o primeiro epicentro da transmissão comunitária” em alguns subúrbios dos Estados Unidos.

    Diante destas questões que só são reconhecidas como emergentes durantes as epidemias, Davis enfatiza a desigualdade social exposta. Quem pode se isolar e trabalhar de home office se salvaguarda e cuida de seus próximos, enquanto milhões de trabalhadores e desempregados vivem a escolha injusta e mortal entre comer e se expor dissipando o contágio à desconhecidos e familiares.

    A luta por uma política pública internacional agora se expande durante a atual pandemia em um sistema de globalização capitalista.

    Dona Ritalina, empregada doméstica, recentemente desempregada por conta da COVID-19. Ela trabalhou por anos numa casa e para ter a carteira assinada, precisou aprender a escrever. Dona Ritalina passou meses estudando para ter a carteira assinada, mas não conseguiu a tempo com a chegada da pandemia e seu patrão à demitiu sem nenhum benefício. Por ser budista e ter contato com uma comunidade budista, hoje ela recebe cestas básicas dessa comunidade, mas não sabe o que será no dia de amanhã.

     

    POLÍTICA ANTICAPITALISTA EM TEMPOS DE COVID-19

    David Harvey analisa o sistema capitalista e como se compõe na teoria e na prática. Na prática, o capital tende a quebrar-se diante da desigualdade social, do crescimento tecnológico constantemente está substituindo e reconfigurando e entre outras mutações inevitáveis. O sistema capitalista produz a sua própria contradição.

    Quando Harvey observou o crescente contágio na China, logo viu a crise econômica que estaria por vir. A China, como segunda maior economia do mundo, reflete diretamente nos outros países.

    A natureza quando observada, não é possível encontra-la a parte do social, da cultura e da política. É fato que os vírus altamente contagiosos retornaram consequentes à falta de higiene e de como as relações se consolidam em um modelo neoliberal.

    Harvey nos traz o entendimento que, apesar da demora ao entender o que de fato acontecia na China, logo vimos uma resposta drasticamente rápida de atendimento à saúde e à contenção do vírus através do isolamento social, muito diferente de países com 40 anos de neoliberalismo. Décadas de cortes na área da saúde e uma indústria farmacêutica que lucra escandalosamente com uma população doente, a resposta será violenta e desregular como o próprio sistema. Principalmente quando a resposta ao contágio é atrasada.

    Ao reconhecer que no sistema capitalista o consumo cria a demanda e que sem essa demanda, em tempos de pandemia mundial, Harvey alega que não vai acontecer uma flutuação na economia, e sim uma quebra. Boa parte da economia é abastecida pelo turismo e pelo consumo.

    “As companhias aéreas estão perto da falência, os hotéis estão vazios e o desemprego em massa no setor hoteleiro é iminente. Comer fora não é uma boa ideia e os restaurantes e bares fecharam em muitos lugares. Até mesmo entregas a domicílio parece arriscado. O vasto exército de trabalhadores uberizados ou em outras formas de trabalho precário está sendo dispensado sem nenhum meio visível de apoio. Eventos como festivais culturais, torneios de futebol e basquete, concertos, convenções empresariais profissionais, e até reuniões políticas em torno de eleições foram cancelados. Estas formas de ‘consumismo experiencial baseado em ventos’ foram extintas.”

    Harvey expõe o que vivem os trabalhadores que estão na linha de frente e que não podem parar pois, inclusive, atendem aqueles que estão em quarentena e/ou doentes. Inclui que existe todo um sistema que é altamente sexista, racializado e etnizado nestes trabalhos geralmente informais e altamente precarizados.

    E principalmente neste contexto de pandemia, o aumento de desempregados e assalariados sem benefícios será grande. Por quanto tempo vamos passar por isto?

    “As únicas políticas que funcionarão, tanto econômica quanto politicamente, são muito mais socialistas do que qualquer coisa que Bernie Sanders possa propor e esses programas de resgate terão de ser iniciados sob a égide de Donald Trump, presumivelmente sob a máscara do ‘Make America Great Again’”, cita Harvey com ironia ao final de seu texto.

    Karen e Kelly aguardam por ônibus no centro de Atibaia, interior de São Paulo, após compras no mercado.

    FRANÇA: PELA SOCIALIZAÇÃO DO APARATO DE SAÚDE

    Alain Bihr rebate as teses que vinham sendo defendidas contra uma saúde pública de qualidade. As condições insalubres dos trabalhadores, as “junk foods” e a poluição é responsabilidade daqueles que nos governam. Mas quando realizam cortes na saúde pública e os hospitais privados prosperam (com ajuda do próprio governo) eles passam a idéia de que a responsabilidade a todos estes efeitos e o direito a saúde é exclusivamente individual.

    Agora, mais do que nunca, Bihr convoca as forças anti-capitalistas, associativas, sindicais e políticas para defender arduamente a saúde pública e de qualidade. Após o chamamento, apresenta 12 propostas a serem defendidas na França referente a saúde pública e que podemos usar como estudo, mesmo tendo um sistema de saúde diferente em diversos aspectos.

     

    COVID-19: A MILITARIZAÇÃO DAS CRISES

    Raúl Zibechi analisa o formato de controle da China para conter o vírus e critica todo o método de isolamento e contenção que a China utilizou e traz questões como: E a liberdade das pessoas saudáveis que não podiam sair?

    Zibechi compara o isolamento à campos de concentração e insiste que o medo circula maior do que o próprio vírus. Quando Zibechi faz essas comparações, ele tende a ir para uma orientação sobre controle em massa, como se chamasse nossa atenção para possíveis testes de militarização que está por vir.

    Na contra-mão dos outros autores, Zibechi nos faz lembrar de um inimigo que nunca sumiu: a desnutrição. E também relembra de outras gripes que matam todos os anos meio milhão de pessoas, mas que não são tratadas com a mesma emergência que a COVID-19.

     

    SOBRE A SITUAÇÃO EPIDÊMICA

    Alain Baidou traça o históricos de gripes virais e nos mostra que a pandemia atual não é uma surpresa. O único argumento surpresa é a falta de instrumentos para o combate, justamente por já termos passado por outras pandemias.

    Observa as diferentes reações diante a pandemia e expõe com críticas aqueles que se sujeitam à “misticismo, fabulação, oração, profecia e maldição”. A partir daí, começa a revelar as ideias mais simplistas que podem, de fato, resolver alguns problemas.

    Primeiro, Baidou coloca como essencial o entendimento científico da atual pandemia, para que, inclusive, derrube as falas racistas de que a culpa é dos chineses.

    Segundo, observa o valor econômico do mercado na China e como ele funciona por décadas e traça as contradições deste sistema quando se relaciona ao Estado mundial capitalista.

    Após culpar, verdadeiramente, os países pelo total despreparo, relata que o mundo ocidental não esperava que uma crise e um vírus dessa grandeza fosse afeta-los. Ele critica: “muitos provavelmente pensavam que este tipo de coisa era boa para a África negra ou para a China totalitária, mas não para a Europa democrática”.  Recriminando a atitude da França quando o vírus já estava circulando pela China, Baidou nota: “até muito recentemente, assembleias descontroladas e manifestações ruidosas, o que deveria desqualificá-los hoje, sejam eles quem forem, de denunciar em alto e bom som os atrasos das potências em tomar as medidas necessárias para o que estava acontecendo. Verdade seja dita, nenhuma força política na França tomou realmente esta medida perante o Estado Macroniano.”

    Por fim, Baidou analisa este momento de isolamento (na sua localização francesa), como uma oportunidade de reconfigurar projetos políticos com uma abertura a um possível comunismo, que devidamente sofra críticas mas que a própria epidemia evidenciará.

    “Não demos crédito, mesmo e sobretudo no nosso isolamento, a não ser às verdades controláveis pela ciência e às perspectivas fundadas de uma nova política, das suas experiências localizadas, bem como dos seus objetivos estratégicos.”

    Estabelecimento fechado em tempos de quarentena

    UM GOLPE COMO O DE “KILL BILL” NO CAPITALISMO

    Slavoj Žižek mostra a dualidade entre as ideologias que acreditam em um “novo Chernobyl” e que defendem o capitalismo, e consequentemente, esperam a queda no comunismo chinês. E, por outro lado, uma ideologia muito mais benéfica: a oportunidade de ver, no inevitável golpe ao capitalismo a partir de uma catástrofe, a defesa de uma rede global de saúde pública. Afinal, podemos observar já uma lista de medidas neoliberais que vem sendo destruídas com esta pandemia em curso.

    Žižek, apesar do olhar positivo a novos formatos de higiene e solidariedade, também traz uma triste realidade: um vírus real que vai voltar e provavelmente pior. E um outro vírus ainda desconhecido: o vírus virtual que atua através das redes. “As infecções virais atuam lado a lado, tanto na dimensão real como na virtual.”

     

    SOBRE OS AUTORES

    MIKE DAVIS é um escritor americano, ativista político, teórico urbano e historiador. Ele é mais conhecido por suas investigações de poder e classe social em sua terra natal no sul da Califórnia.

    DAVID HARVEY é um teórico da Geografia britânico formado na Universidade de Cambridge. É professor da City University of New York e trabalha com diversas questões ligadas à geografia urbana. Em 2007 foi classificado como o décimo oitavo teórico vivo mais citado nas ciências humanas.

    ALAIN BIHR é um sociólogo francês ligado à corrente do comunismo libertário. Conhecido por seus estudos acerca da extrema-direita francesa, em especial do Front National, é também utor de vários estudos sobre socialismo e o movimento operário e um dos fundadores e editores da revista À Contre Courant.

    RAÚL ZIBECHI é jornalista, escritor e pensador-ativista, dedicado ao trabalho com movimentos sociais na América Latina.

    ALAIN BADIOU é um filósofo, dramaturgo e novelista francês nascido no Marrocos. É conhecido por sua militância maoísta, por sua defesa do comunismo e do trabalhadores estrangeiros em situação irregular na França.

    SLAVOJ ŽIŽEK é um filósofo, professor do Instituto de Sociologia e Filosofia da Universidade de Ljubljana e diretor internacional da Birkbeck, Universidade de Londres.