Jornalistas Livres

Categoria: Formação Política

  • Existir e Resistir

    Existir e Resistir

    Chegar na USP hoje (12.11.18) me despertou fortes emoções.

    Cursei Pedagogia nesta Universidade de 1967 a 1970. Vivíamos a Ditadura que se aprofundou na Universidade com a invasão do Exército em 1968: fechamento do CRUSP, residência estudantil, prisão de estudantes e professores, perseguição política, expurgo de professores, exílio, desaparecimentos. Terminar a Faculdade para mim neste período exigia um esforço e um convencimento pessoal cotidiano de que era importante naquele momento conseguir o “canudo”. Com a morte de meu pai precocemente em 1968, tive que me transferir para a noite para ajudar no sustento da família. Arrumei 2 empregos. Eram muitos deslocamentos, desgaste e quase nenhuma compensação do ponto de vista de minha formação profissional que se forjou muito mais pelos desafios do trabalho do que pela formação acadêmica. Tinha aula à noite, muitas vezes nos barracões improvisados das Ciências Sociais, da Psicologia.

    Na Faculdade de Educação embora o que me tivesse movido a escolha da profissão tivesse sido Paulo Freire, ele não entrava no currículo, centrado em Administração Escolar em que tínhamos que decorar as leis, Filosofia apenas dos filósofos gregos, História da Educação em que diante da reivindicação de estudarmos educadores mais recentes, nos forçaram a ler a “Educação do Príncipe” de Maquiavel, com apenas 2 exemplares na biblioteca. Em Psicologia Social, o programa que versava sobre comunicação, formação política e consciência crítica, foi revisto para estudarmos o comportamento social das focas e das formigas, muito mais oportuno e importante para o momento… Quase todas as noites os espaços do campus estavam tomados por cavalarias e militares que nas janelas de vidro das portas das salas de aula, vigiavam professores e alunos.

    Afinal que conteúdos e reflexões estavam propondo nas salas de aula?

    Nos finais da década de 80 e início de 90, a USP já era outra, com professores comprometidos, centros de estudos voltados para inserção e compromisso com a construção de uma sociedade mais digna e justa.

    Lembrei-me hoje de trabalhos apresentados na década de 90 em espaços acadêmicos da USP, a partir de minha vivência profissional na Prefeitura, acolhidos na História e Geografia pelo Professor Milton Santos e no Centro de Estudos Rurais e Urbanos CERU pela professora Maria Isaura Pereira de Queirós.

    Diante da conjuntura que estamos vivendo não pude deixar de fazer memória: a quebra da democracia, a perda de direitos, a onda de conservadorismo, o desrespeito às diferenças e a violência institucionalizada, o ataque às universidades e o cerceamento à liberdade de ensino e de pesquisa, os retrocessos em todas as áreas, me remeteram ao tempo da ditadura.

    Confesso que ao chegar no auditório da História e Geografia, fiquei emocionada. A convocatória para eventos de 2 dias “Existir e Resistir”, por professores e lideranças de institutos de pesquisa e de movimentos sociais de diversas áreas, fez acionar o motor da esperança!

    Na mesa sobre o Ódio, conduzida pelos professores Tessa Lacerda e Renan Quinalha, com apoio de outras áreas, senti o afirmar o compromisso da Universidade com a sociedade, situar a pesquisa e o conhecimento como instrumento e apropriação da realidade para poder transformá-la.

    ESCOLA SEM PARTIDO, NÃO!

    No que podemos contribuir para enfrentar essa realidade? Vivemos em tempos sombrios em que atônitos queremos entender o que se passa e o que se passou para que Bolsonaro, deputado federal há 28 anos, sem ter aprovado nenhum projeto de importância para o país, um capitão do exército despreparado, temperamental, truculento e sem nenhuma compostura para ser Chefe de Estado, obteve 59 milhões de votos. Sua campanha não tinha propostas, suas falas agressivas, anunciando perda de direitos e destilando ódio, ganharam adesão e tiveram écos em milhões de corações brasileiros.
    Tessa Lacerda, professora da Faculdade de Filosofia da USP, filha cujo pai foi torturado e morto pela Ditadura Militar com sua reflexão e depoimento, mexeu na ferida: nosso país foi o único que não quis investigar e penalizar os responsáveis pelas torturas, mortes e desaparecimentos.
    Temos que lembrar dos vivos e temos que lembrar dos mortos. Este não é um trabalho perdido. Ainda em 2014 foram descobertas valas de Perus, a tortura, desaparecimento e morte ainda é uma prática e lembra Brecht em seu poema “Porque meu nome ainda será lembrado?” Em maio deste ano, uma nota questiona a Lei da Anistia aos presos políticos. É difícil falar em um país que não nos deixa falar que mais de 200 mil pessoas foram torturadas…

     

    Em 06.11.18 a ponte de Brasília que no governo do PT passou a se chamar Honestino Guimarães, volta a se chamar General Costa e Silva.

    Porque lembrar o passado não vivido? A memória faz parte do passado para buscar o sentido para o presente. Como fazer para que o olhar do passado extrapole a dimensão individual para o sentido coletivo. A memória dos sem nome (Benjamin) é que deve ser relembrada, a história dos oprimidos que ganhariam alguma voz com a Comissão da Verdade e outros, passou a ser sufocada a partir de agosto de 2016. Conhecer o passado para interferir no presente. Falar tem um sentido não apenas terapêutico mas um sentido político. Muitos das novas gerações e das pessoas que nestas eleições defenderam e defendem a ditadura militar, não tem ideia do que ela foi.

    A história do século XX é de que muitos que viram o horror, já não podem falar. A descoberta do documento da CIA denunciando o extermínio é segundo Jean Marie uma história que não deixou túmulos, ossos e rastros.

    Porque a ditadura se perpetua? A negação dos agentes da repressão como política de Estado, mesmo após a Comissão da Verdade é uma maneira de se relacionar com o passado que sanciona a opressão e o extermínio de minorias e lideranças. Hoje a prática da tortura se naturalizou, permitindo incêndio de aldeias indígenas, assassinato de pessoa que se pronunciou diferente e lideranças do campo, Marielles, morte de LGBTs entre o 1o e o 2o turno, extermínio cotidiano de jovens negros.

    Segundo o Professor de Direito da UNIFESP, Renan Quinalha, o Brasil é o único país do mundo que após a Ditadura e a Comissão da Verdade, articulou o golpe.

    Para ele, a LGBTfobia faz parte da ideologia de gênero que sempre segregou a sociedade. Esta divisão binária provocou o desequilíbrio, a submissão e a estigmatização do feminino. 2% da população mundial é de população intersexo, hermafrodita. A fobia é fruto de uma ordem compulsória de sexo, gênero e desejo. Nos dias de hoje há 1 assassinato de LGBTs a cada 19 hs, dado que é subestimado e o Brasil é um dos países que mais matam LGBTs. A violência é algo constitutivo do nosso estado de direito, faz parte da hegemonia biopolítica em que impera a dominação de uma minoria sobre a grande massa da população. Exemplo disso é Dandara no Ceará, olham o deslocamento da violência como algo “natural” da sociedade.

    O que estamos vivendo hoje no Brasil, a violência e o ódio, é reação a conquistas recentes: ao direito a mudar o nome no cartório conforme orientação sexual, casamento homossexual, maior acesso à educação, abertura de novas universidades e política de cotas, conquistas de espaços públicos. Esses novos costumes e direitos que mudaram provocaram cruzadas morais como resposta as conquistas em que a Escola Sem Partido é um exemplo. Esta onda conservadora é cíclica, e hoje estamos no olho do furacão. Temos a obrigação de barrar esta onda conservadora, estamos vivendo um ciclo de degradação institucional. É necessário sair do pânico, olhar com certa serenidade novas formas de resistência e luta. Desde já o governo Bolsonaro se aponta como um bate cabeça generalizado entre diferentes atores Paulo Guedes, Moro, Alexandre de Moraes… O governo do Bolsonaro não tem nenhum compromisso político, não há clima de unanimidade, a crise econômica não será superada facilmente. Esse é nosso pano de fundo.

    É importante repensar quais eram os limites dessa democracia pois só algumas parcelas da população tinham direitos. A dimensão identitária não foi pensada, é preciso e urgente a esquerda se abrir.Momento de repensar e acumular forças e ver uma perspectiva mais generosa das esquerdas. É aí e nos movimentos sociais que nasce a esperança!

    Aberto o debate algumas pessoas reforçaram a importância de retomar o trabalho de base junto ao povo, às periferias, fortalecer e organizar a resistência da sociedade civil. Falou-se dos Coletivos da Resistência que envolvem vários grupos da cultura e outros: Linhas de Sampa, midias independentes como Jornalistas Livres, Flores pela Democracia, Lulaço, Flores da Resistência, Camisa 13, e tantos outros. São novos desafios, nova realidade, novos costumes, novos contornos. Precisamos ser criativos, valorizar as diversas formas de manifestação da cultura, reforçar laços de solidariedade, criar novas linguagens, estar junto, escutar, seguir, avançar…

    Nossos desafios não poderiam ser explicitados de maneira mais clara mediante a intervenção de um professor da História, quando um grupo de Maracatu iria se apresentar como parte da programação. Chegou com muita arrogância, indignado, furioso com o barulho da música.O barulho atrapalharia as aulas, ele tem razão, mas era preciso tanta truculência? Disseram que é um professor de esquerda, dialogar e escutar o outro é um dado fundamental do EXISTIR E RESISTIR.

    Há disposição e compromisso: professores, alunos e coletivos na luta! Estamos juntxs!

  • Quatro parágrafos sobre o Comunismo

    Quatro parágrafos sobre o Comunismo

    Graffiti: Andrés Piqueras

    Por: Leonardo Koury* | Especial para os Jornalistas Livres

    Nos últimos tempos me senti provocado quando ao falar que acredito no comunismo tornou-se algo assustador ou abominável para quem escutasse. Uma amiga, por sua vez, me encorajou em descrever sobre esta escolha.  Em quatro parágrafos tentarei trazer elementos do nosso cotidiano que reforçam a necessidade de construir o comunismo como alternativa à barbárie do lucro sobre as pessoas.
    Os comunistas são mais antigos do que o próprio conceito. Jesus era comunista, não assuste! Aquele que divide o pão em partes iguais procurando a fraternidade e a solidariedade ao invés de ganhar algo em troca de sua atitude não é capitalista. No século passado, um importante filósofo francês Deleuze descreve a principal diferença entre a esquerda (comunistas, socialistas, etc.) e os capitalistas (em suma os ricos) é que aos capitalistas é necessário primeiro crescer o bolo (a economia) para depois repartir. Quanto aos da “esquerda” é necessário o contrário, só se cresce o bolo dividindo.
    Dom Pedro Casaldáliga, conhecido por sua generosidade e suas visões políticas,  dizia que na dúvida fique com os pobres. É necessário esclarecer que a economia é uma ciência e por sua vez sua construção se difere do conceito de finanças. Assim como é fundamental reconhecer que os pobres não são culpados por sua pobreza e nem por estarem sobre esta condição os mesmos não terão forças para supera-la. Aos economistas do capital  a pobreza é natural e só é superada apenas pelo mérito. Que mérito é esse? Nascemos presos nas correntes da escravidão do dinheiro sem ter o direito de termos oportunidades iguais. Claro se quiserem argumentar sobre a economia de Cuba, primeiro vejam os dados sobre a pobreza no Brasil e nos Estados Unidos e depois falaremos sobre meritocracia e oportunidades.
    Mas vamos terminar este breve texto falando de amor. O modelo do amor no capitalismo esta vinculado ao que se têm (e não o que somos) como a propriedade, condição econômica, bens materiais e aparência. E nisso, não tenho dúvidas, o amor no comunismo é lindo porque não tem preço, não somos mercadoria. Sou comunista porque amo gratuitamente toda forma de vida, e por crer que nenhuma vida vale mais que a outra. O planeta, o povo, nossas cores e diversidade não podem servir para a usurpação do interesse dos poderosos. Amor não é interesseiro, pois quando o amor é comum, é coletivo, é gratuito não será o pão ou o bolo que ao se repartir se acabará, ao contrário ao repartir ele cresce. Que o amor seja uma expressão do nosso comum.
    Leonardo Koury* Professor, Assistente Social e militante da Frente Brasil Popular.
  • A manipulação midiática e seus efeitos na política

    A manipulação midiática e seus efeitos na política

    A premiada jornalista Eliane Brum postou hoje em sua página no Facebook uma foto da manifestação #EleNão de ontem (29/09) no Largo da Batata em São Paulo criticando a imprensa nacional por não repercutir adequadamente, em capas, manchetes, editoriais e tempo de TV e rádio, o fato jornalístico mais importante do dia.

    E assim passamos a compreender melhor porque boa parte da parcela que teoricamente seria a “mais bem informada” da população decide votar numa candidatura que representa o atraso, a misogenia, o racismo, a LBTfobia… uma candidatura que segue enaltecendo assassinos e torturadores. Na verdade, essa parcela da população NÃO está bem informada. Ela tem se alimentado de uma mídia oligopolizada e partidarizada que finge uma isenção inexistente. Estão saturados do veneno que consomem em doses mais ou menos homeopáticas diariamente há décadas. Primeiro, acreditam no que leem, em fábulas hiperbólicas como o “maior escândalo de corrupção da história do mundo”. Em seguida, percebem que algumas “informações” são distorcidas, e passam a desacreditar dos grandes meios de comunicação e a apontá-los como tendenciosos de posições políticas às vezes totalmente contrárias às provadas historicamente.

    Revista britânica que defende o capitalismo e o liberalismo econômico há 175 anos tem sido chamada de comunista pelos bolsominions

    Nessa fase, o jornalismo e os jornalistas perdem a posição histórica de mediador confiável entre os fatos e os leitores. A terceira fase é a que vivemos atualmente: somente as “notícias” e “informações” que combinam com minha visão de mundo, com meus preconceitos, com a minha própria ideologia são válidas. Não importa de onde venham, quem produza e se têm ou não a mínima conexão com a realidade objetiva. Podem vir do grupo de WhatsApp da família, da Veja ou do MBL. Da The Economist, Le Monde, Estadão, Globo ou Folha. Quando se chega nesse nível, é inútil mostrar atos, falas e mesmo vídeos de agressões do “coiso” a mulheres, negros, LGBTs e à própria democracia, por exemplo. Tudo passa a ser uma “invenção da mídia comunista”. Do mesmo modo, é impossível convencer com fatos, dados, números, que o Brasil cresceu, se desenvolveu, distribuiu renda e riqueza, diminuiu o desemprego e se tornou importante ator global por 12 anos seguidos em meio à maior crise no coração do capitalismo desde a quebra bolsa de Nova Iorque em 1929, a quebra do Lehman Brothers em 2008 (Mas não acredite em mim, veja o que a BBC publicou em 2016, já em meio ao processo de golpe de estado: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/05/160505_legado_pt_ru ou o Nexo https://www.nexojornal.com.br/especial/2016/09/02/10-%C3%ADndices-econ%C3%B4micos-e-sociais-nos-13-anos-de-governo-PT-no-Brasil ). Se você tenta, é acusado de “cego-doutrinado-idiota-seguidor-de-um-bandido-que-deve-mamar-nas-tetas-do-estado-mas-essa-boquinha-vai-acabar”.

    Muito desse cenário é, de fato, responsabilidade dos governos petistas que NUNCA tiveram a coragem de enfrentar os oligopólios midiáticos na crença vã de que com o crescimento econômico também dos mais ricos a elite perceberia que poderia lucrar mais, mesmo com a diminuição da miséria. Os governos petistas ignoraram que a luta de classes não é apenas econômica, é também ética e cultural. A classe média remediada só pode se sentir elite (o que não é) se houver uma distância cada vez maior das classes abaixo dela. Não adianta poder ir pra Paris em classe econômica pagando em 10 vezes no cartão. É preciso que o porteiro, a empregada, a filha do pedreiro NÃO POSSAM usar o mesmo avião, o mesmo saguão do aeroporto, a mesma sala de aula na universidade (esse “fantástico” texto da Danuza Leão, em 2012, não me deixa mentir https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/80046-ser-especial.shtml).

     

    Obviamente, se você disser isso a um já adepto do coiso, provavelmente vai receber como resposta um meme com a frase “é bom jair se acostumado”, ou algo do tipo. Não há argumentação. Não se discute os fatos. Não se mostra comprovações. Mas há, sim, um antídoto para isso. É possível vencer a manipulação midiática saindo das bolhas das redes sociais e indo pras ruas conversar com quem sente, na ponta, os efeitos das políticas públicas. Oxalá os jornalistas voltem a fazer isso. E os veículos entendam a armadilha que montaram para si próprios com a oligopolização. “A resistência à manipulação é construída a partir da informação anterior, vinda da vivência, da memória ou do conhecimento do contexto. Sem a instalação dessas imunidades na consciência do receptor da comunicação, sua contaminação pela versão manipuladora é instantânea” (Ciro Marcondes Filho – Ser jornalista – Paulus 2009)

  • Resistência e Formação Política: Dom Paulo e Paulo Freire

    No dia do aniversário de Paulo Freire, a Exposição Dom Paulo Evaristo Arns: 95 anos faz roda de conversa com 
    Frei Betto, Paulo Maldos, Paulo Vannuchi e Pedro Pontual sobre educação popular no Brasil 
    A educação popular durante o período de dom Paulo frente à Igreja de São Paulo e os ensinamentos para os dias de hoje é o tema da roda de conversa que acontece na próxima quarta-feira, 19 de setembro, às 11h, com Frei Betto, Paulo Maldos, Paulo Vannuchi e Pedro Pontual. O evento será realizado dentro da Exposição Dom Paulo Evaristo Arns: 95 anos. Nesse mesmo dia comemora-se o aniversário do educador Paulo Freire, que completaria 97 anos.
    Frei Betto, Paulo Maldos, Paulo Vannuchi e Pedro Pontual integraram o Cepis (Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientiae), entidade criada em 1977 e voltada para projetos de educação junto aos movimentos populares. Um dos principais objetivos desse centro foi o fortalecimento dos movimentos sociais, fornecendo aos trabalhadores informações e análises históricas, econômicas e sociológicas que lhes permitissem criar uma autonomia de classe e um projeto político próprio. O educador Paulo Freire  – figura de maior reconhecimento do campo – foi colaborador do Cepis e é o Patrono da Educação Brasileira.
    Exposição Dom Paulo Evaristo Arns: 95 anos fica aberta à visitação até o próximo domingo, 23 de setembro, entre 11h e 17h.
    Centro Cultural dos Correios de São Paulo recebe
    Exposição Dom Paulo Evaristo Arns: 95 anos
     
    A exposição de uma das personalidades mais expressivas do país acontece até o próximo domingo, 23 de setembro, no Centro Cultural dos Correios de São Paulo. Composta por seis eixos temáticos, a mostra traz elementos lúdicos, interativos e multimídia, somando cerca de 1200 metros de espaço expositivo
     
     
    Cardeal da liberdade, da cidadania e guardião dos direitos humanos, dom Paulo Evaristo Arns foi figura central no processo de redemocratização do país. Sua trajetória foi constantemente marcada pela justiça social, defesa dos excluídos e dos trabalhadores. Tudo isso o credencia para a alcunha pela qual escolheu ser lembrado, segundo suas próprias palavras, como “cardeal do povo”. Tamanha personalidade recebe agora uma homenagem a altura. Trata-se da Exposição Dom Paulo Evaristo Arns: 95 anos, que acontece no Centro Cultural dos Correios de São Paulo até o dia 23 de setembro, com entrada franca. A exposição é uma realização da Mirar Lejos em parceria com a Cáritas Brasileira Regional São Paulo, com coordenação-geral das jornalistas e biógrafas de dom Paulo, Evanize Sydow e Marilda Ferri.
    A exposição foi concebida, prioritariamente, pensando no público jovem e estudantes. Por isso contará com vários elementos interativos, lúdicos e multimídia dispostos em vários ambientes do Centro Cultural dos Correios, somando cerca de 1200 metros de espaço expositivo. A mostra faz um passeio pela trajetória do cardeal, centrando atenção em assuntos como Democracia, Política, Sociedade, Legado Intelectual, Igreja e Comunicação. Por esses eixos serão enfocados temas como dom Paulo e o povo da rua; sua contribuição para a justiça social; a importância dele para os perseguidos políticos brasileiros e do Cone Sul; dom Paulo e os operários; o papel da mulher na Igreja e na sociedade; o legado para os movimentos sociais, entre outros.
    Dentre as ambiências, no Átrio do Centro Cultural, é montada uma reprodução de cerca de 400 metros quadrados da Praça da Sé e Catedral da Sé, com a representação de momentos históricos que ali aconteceram, como os cultos em memória de Alexandre Vannucchi Leme, Vladimir Herzog, Santo Dias, Manoel Fiel Filho e as missas de Primeiro de Maio, Dia do Trabalhador. Além do Átrio, outras salas contêm farto material a respeito da trajetória de dom Paulo, com dezenas de depoimentos, imagens inéditas ao público e muita interatividade.
    Na Sala 2 é retratado o período de regime militar e a atuação de dom Paulo contra os desmandos ocorridos. Numa reprodução do Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo), um dos centros de tortura na capital paulista, o público é convidado a participar da peça interativa Lembrar é Resistir, adaptada e dirigida por Izaías Almada, ex-preso político e autor do texto em co-autoria com Analy A. Pinto. Encenada por Tin Urbinatti, Neusa Felipe, Euzébio Simioni e Cléo Moraes, o público é convidado a voltar aos anos 1960/70, sendo conduzido de cela em cela, como presos políticos da época. As apresentações são diárias, de terça a domingo, às 14h30 e 15h30, em duas sessões. No mesmo espaço há ainda uma versão gigante do livro Brasil: Nunca Mais, além de um grande vale remontando à vala clandestina do cemitério de Perus, onde foram encontradas mais de mil ossadas humanas, muitas delas de presos políticos desaparecidos, que serão lembrados com um memorial.
    A interatividade também está presente numa linha do tempo com temas como os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que está sendo comemorada este ano. Em vídeo, os 30 artigos da Declaração serão lidos por 30 pessoas de origens diferentes, entre elas refugiados, moradores de rua e artistas, como Criolo, Martinho da Vila e Paulinho da Viola. Outros pontos relevantes da trajetória de dom Paulo, como as redes de solidariedade no Cone Sul que ele ajudou a criar; a origem de alguns partidos políticos no Brasil pós 1980; a figura de São Francisco de Assis e a influência franciscana na vida simples que levava; o protagonismo que deu aos leigos; a divisão da arquidiocese no final dos anos 1980; a venda do palácio episcopal para comprar mais de mil terrenos na periferia e distribuir para as comunidades se organizarem, entre outros, estarão retratados na Ocupação.
    No caminho entre o Átrio e a Sala 2, uma reprodução do campo do Corinthians, fotos históricas e depoimentos de ícones desportivos sobre a Democracia Corintiana, como Casagrande e Basílio, lembrarão o time do coração do arcebispo. Também um espaço totalmente dedicado às crianças, com jogos, desenhos, montagens lúdicas e contação de histórias propiciarão às crianças o contato com temas que dom Paulo defendeu, como a justiça social, a democracia e os Direitos Humanos.
    A curadoria da exposição é de Evanize Sydow, Marilda Ferri, Maria Angela Borsoi e Paulo Pedrini. O evento conta com o apoio das seguintes instituições: Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, Confederação Nacional dos Metalúrgicos, Fundação Maurício Grabois, Fundação Lauro Campos, Apeoesp – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, Fundação Leonel Brizola, Fundação Perseu Abramo, Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal do Estado de São Paulo, O Autor na Praça, Federação dos Trabalhadores do Ramo Químico da CUT no Estado de São Paulo e Central Missionária dos Franciscanos da Alemanha.
    A Exposição Dom Paulo Evaristo Arns: 95 anos é voltada para todas as idades e trata de temas fundamentais para os tempos atuais, tendo esse gigante da história brasileira como fio condutor.
  • Juventude do PT em Mato Grosso faz moção em defesa da candidatura própria

    Juventude do PT em Mato Grosso faz moção em defesa da candidatura própria

    Moção em defesa da candidatura própria do PT em Mato Grosso
    O golpe liderado pelas forças reacionárias do país vem submetendo o povo brasileiro a um violento processo de empobrecimento e perdas de direitos. Desde a fraude do impeachment que tirou da presidência nossa companheira Dilma Rousseff, presidenta eleita e legítima do país, o governo golpista vem desmontando o Estado, dilapidando nossa soberania e destruindo todas as conquistas populares conseguidas através de lutas históricas e das políticas dos nossos governos.
    O golpe jurídico, parlamentar e midiático suspendeu nossa democracia, cassando direitos e garantias fundamentais e mergulhando o país num Estado de Exceção já conhecido pela população periférica, especialmente pela juventude negra, hoje materializado na perseguição infame e autoritária ao presidente Lula.
    A juventude brasileira é uma das principais vitimas desse golpe. Os golpistas interromperam um ciclo histórico de acesso a emprego, educação e a uma vida mais digna para as juventudes.
    Hoje voltamos aos recordes de desemprego entre os jovens; hoje as universidades fecham novamente as portas aos jovens trabalhadores, negros, indígenas; hoje voltam subempregos e precarização extrema da vida das juventudes na periferia. A geração de hoje e a da próxima década poderão estar submetidas a um sucateamento nunca antes visto da educação, da saúde e ao fim, na prática, da previdência.
    Aqueles que empenharam todas as suas forças para referendar o impeachment fraudulento da presidenta Dilma elegeram ali, conscientemente, o projeto criminoso derrotado nas urnas que hoje arrasa a vida dos brasileiros e das brasileiras.
    Em Mato Grosso assim como na conjuntura política nacional, aqueles que em 2016 foram entusiastas do golpe, não conseguem se aglutinar em somente uma candidatura. O que não significa na prática que todos esses setores pertencentes ao agronegócio genocida têm interesse direto na continuidade e consolidação da Ponte para o Retrocesso.
    Enquanto Pedro Taques (PSDB) foi o primeiro governador do Brasil a se posicionar favorável publicamente no decorrer do processo de impeachment da Presidenta Dilma, Wellington Fagundes (PR) foi um dos principais articuladores entre os parlamentares mato-grossenses na comissão do golpe, instaurada no Senado Federal. Posteriormente, ambos aplicaram na íntegra a cartilha do Imperialismo contra nossos direitos. Emenda Constitucional que congela os investimentos nas áreas sociais (tanto nacional, quanto estadualmente), contrarreforma trabalhista, lei da terceirização irrestrita, reforma do Ensino Médio e assim por diante.
    É notável a movimentação desses setores golpistas (que no fim das contas são todos farinha do mesmo saco) uma estratégia de inviabilizar o PT-MT eleitoralmente. Afinal, em nosso estado, cerca de ⅓ do eleitorado diz que vota no candidato a governador(a) que o Lula apontar.
    A juventude do PT em Mato Grosso considera inconcebível uma aliança com setor que aplicou o golpe nos direitos da juventude e de toda classe trabalhadora.
    Tal fato destruiria todo o esforço de reaproximação da nossa base social e política no estado, esvaziando a possibilidade de reaglutinação do campo popular em torno do PT, e saúda com muito entusiasmo militante as pré-candidaturas ao governo do estado da Professora Edna Sampaio e da Professora Enelinda Scala ao Senado, pois são pré-candidaturas percebidas como legitimas candidaturas das forças que enfrentaram o golpe e defendem a volta de Lula à presidência da República. Abrir mão disto em nome de uma aliança com setores que não tem compromisso algum com nossa defesa de Lula Livre e Lula Presidente significaria trocar a possibilidade de excepcional protagonismo pela condição de partido vazio de significado político, convertido em legenda palaciana por um bom tempo.
    A juventude do PT em Mato Grosso entende que qualquer aliança que não se enquadre com as apontadas no último PED (setores antiimperialisatas, anti-latifundiários, anti-monopolistas e radicalmente democráticas) nos diluiria numa coligação que em nada se comunica com nossa base social e que jamais terá como prioridade a defesa de Lula e a luta contra o golpe em suas mais profundas dimensões.
    A juventude do PT em Mato Grosso acredita que a vontade política da base do partido deve ser respeitada. Não compreendemos a insistência de setores do partido numa aliança que nos rebaixa politicamente no estado sem oferecer nenhum ganho político consistente ao PT, contraposta a uma pré-candidatura petista que defenda Lula Presidente como uma verdadeira saída política contra o golpe, tendo consequentemente reais chances de vitória. Não aceitamos qualquer tipo de veto ao exercício da liderança política por parte de jovens filiados e filiadas, compreendemos que a juventude petista tem autonomia política de ter posição.
    O Partido dos Trabalhadores não tem dono, pertence à sua militância e aos sonhos dos bravos e bravas trabalhadores e trabalhadoras que o constroem diariamente com a força de seus sonhos.
    Convocamos toda a juventude petista para seguir mobilizada e firme em defesa da candidatura própria do PT ao governo do estado, atualmente posta na pré-candidatura de Professora Edna Sampaio, para enfrentarmos no nosso estado as forças golpistas com seus diversos palanques e garantirmos aquilo que para nós é central: a defesa de Lula, do nosso projeto, para mudar, novamente, o Brasil e a vida da juventude mato-grossense.
    XXXXXXXXXXX
    Resolução do Congresso Extraordinário da JPT (ocorrido em junho, em Curitiba)
    1) Dois anos de golpe arremessaram o Brasil no caos social e ameaçam o presente e o futuro da juventude e dos trabalhadores.
    2) Lula é há mais de 100 dias é um preso político, numa prisão oriunda de um processo sem provas, organizado pela operação lava jato com a anuência do STF e as ameaças do exército. O mesmo acontece com nossos companheiros presos injustamente, José Dirceu, João Vaccari Neto e Delubio Soares, vítimas de processos fraudulentos, alimentados pela indústria da delação premiada.
    3) Essas prisões aprofundaram o Estado de Exceção no Brasil e se combinam com a política do governo golpista de Michel Temer. Ambos atendem diretamente aos interesses do capital financeiro internacional, do Imperialismo (principalmente dos EUA) que, frente a crise do capital para garantir a sobrevivência do sistema, desenvolve uma ofensiva contra todos os povos ao redor do globo.
    4) São estes mesmos interesses do capital financeiro que estão por trás dos bombardeios à Síria, do inaceitável massacre de crianças palestinas – e o impedimento ao retorno de seu povo.
    5) É o que está por trás da manutenção da miséria no continente africano, da ofensiva contra os direitos trabalhistas na Europa, da ofensiva estadunidense contra a China e Rússia e suas tensões com a Coréia do Norte, das tentativas de ingerência na Venezuela, com um bloqueio econômico, enfrentado bravamente pelo povo venezuelano que reelegeu Maduro recentemente, além da assembleia constituinte.
    6) É o que está por trás do golpe no Brasil. Um golpe parlamentar, jurídico, midiático, que retirou do governo a presidenta Dilma e o Partido dos Trabalhadores, mas foi muito além, avançando o desmonte da soberania nacional, a manutenção do caráter dependente da economia aprofundando, a precarização do trabalho e a desindustrialização, o ataque as liberdades democráticas e a retirada dos direitos da classe trabalhadora, que são objetivos estratégicos que unificam a coalizão golpista.
    7) Começou por reverter a lei do Pré Sal, importante conquista dos governos Lula e Dilma, cujos royalties estavam destinados à saúde e educação, para entregar o Petróleo brasileiro para as multinacionais e visa ainda atacar a soberania nacional com projetos de privatização da própria Petrobras, da Eletrobras e demais empresas públicas estratégicas.
    8) Acabou com a sequência de ampliação dos investimentos em saúde e educação nos anos de governos do PT para aprovar a emenda Constitucional 95 que congela os investimentos em áreas sociais, deixando estranguladas as universidades públicas, paralisando a expansão de universidades e escolas técnicas, diminuindo as verbas para o FIES e, mais recentemente, colocando fim ao programa Farmácia popular.
    9) Acabou com a valorização do salário mínimo. Aprovou uma reforma trabalhista que rasga direitos dos trabalhadores e com a queda no investimento social provocou a ampliação do desemprego que já chegou a casa dos 13%, que na juventude já alcança os 30%, enquanto 1 em cada 4 jovens está sem trabalhar e sem estudar, o que é demonstrado pela ampliação da evasão em escolas, os quase 200 mil jovens que deixaram as faculdades privadas, os 2 milhões a menos de candidatos no ENEM e a enorme e revoltante volta da fome e da miséria que vem assolando o país, colocando novamente no cenário social o trabalho infantil.
    10) A lista do pacote de maldades do governo golpista não termina por aí, ameaça reverter cada conquista da classe trabalhadora em décadas de luta.
    11) É da subserviência desse governo ao capital internacional que deriva a atual política de preços da Petrobras e a preparação de sua privatização, o que resultou em aumentos consecutivos do preço do combustível e do gás de cozinha, levando milhares de pessoas a cozinhar com lenha e gerando a mobilização dos caminhoneiros que desabasteceu o país e, agora, a dos petroleiros, que acertadamente exigem uma mudança dessa política.
    12) É importante salientar, que em meio a essa ofensiva o povo brasileiro busca resistir de diversas maneiras.
    13) Ainda em 2016 os estudantes secundaristas brasileiros protagonizaram o importante movimento de ocupação das escolas. Estudantes universitários realizam constantemente greves e manifestações, como recentemente na UNB e na UFMT.
    14) Os trabalhadores, organizados por seus sindicatos, a CUT e demais centrais, realizaram a maior greve geral da história desse país – com apoio enfático da juventude – que conseguiu impedir a aprovação da reforma da previdência e dividir os golpistas.
    15) Vem dessa resistência do povo brasileiro a necessidade deles de prender Lula e perseguir o PT e seus dirigentes históricos.
    16) Afinal, passados dois anos, liderando a resistência popular contra o golpe e suas consequências, o PT voltou a ter a preferência de 20%, enquanto Lula chega aos 40% e pode vencer as eleições no primeiro turno. Nesse processo milhares de jovens participaram das manifestações, compareceram às caravanas de Lula pelo país e diariamente dezenas de jovens se filiam ao Partido dos trabalhadores.
    17) A Juventude do PT tem uma enorme responsabilidade pela frente. Nascido da força da juventude sindical, estudantil, militante rural e das comunidades eclesiais de base, o PT ainda se depara hoje proporcionalmente com níveis muito menores de filiados jovens, fruto não apenas do envelhecimento da população, como também da dificuldade objetiva de absorver as demandas e as organizações de juventude atuais.  Nós temos a obrigação de organizar amplamente essa juventude que se dirige ao PT e com ela, ajudar os jovens brasileiros a se ligar às lutas da classe trabalhadora para resistir e virar esse jogo!
    18) Nesse caminho não podemos repetir erros do passado. A situação exige reafirmar a candidatura de Lula. Não há plano B. Eleição sem Lula é fraude!
    19) Lula é o único que pode derrotar a coalizão golpista e todos os seus representantes e as falsas saídas que representam.
    20) A intervenção militar não é solução como bradam grupos de extrema direita ou pessoas manipuladas. A ditadura militar perseguiu trabalhadores, prendeu, torturou e matou. Dilapidou o patrimônio nacional, arrancou direitos e precisou ser vencida com o suor e sangue de milhares de militantes que dedicaram suas vidas à democracia em meio a um processo que resultou na criação do próprio PT e da CUT.
    21) O fracasso da intervenção militar no Rio, com prisões ilegais, ataque as liberdades democráticas, a incapacidade de solucionar a execução de Marielle (Mais de três meses depois!) são outra expressão disso. É preciso, aliás, por um fim nessa intervenção e impedir a constante utilização do exército como meio de repressão do povo, como se viu novamente na greve dos caminhoneiros.
    22) A única solução para a crise do país passa por Fora Temer e pela realização de eleições livre e democráticas, com Lula Livre e candidato, para que o povo possa escolher quem deseja.
    23) Nessas eleições buscaremos eleger os candidatos do PT para assembleias, câmara e senado, além dos governos do Estado. Mas acima de tudo vamos eleger Lula pois ele é o único capaz de impulsionar um programa e uma estratégia de transformações políticas sociais e econômicas profundas no país, em favor da classe trabalhadora. Para isso é necessário revogar as medidas do golpe através da convocação de uma Assembleia Constituinte Soberana (pois com um congresso com as atuais regras não dá), como afirma a resolução do 6° Congresso do PT e como afirmou Lula no histórico discurso de São Bernardo do Campo: “A prioridade é garantir a que este país volte a ter cidadania. Não vão vender a Petrobras! Vamos fazer uma Constituinte! Vamos revogar a lei do Petróleo que eles tão fazendo!” (Lula)
    24) De fato é preciso revogar a lei do Petróleo, recuperar a Petrobras e outras empresas privatizadas a preço de banana, voltar a financiar a saúde e a educação com o Pré Sal.
    25) É preciso combater o genocídio e o encarceramento da juventude. Este genocídio que aflige a juventude negra brasileira tem como base o racismo estrutural que é marca da nossa sociedade. Ele se alimenta da vulnerabilidade extrema na qual se encontram nossos jovens. Para enfrentar essa situação é preciso ter a juventude negra como centro das políticas públicas dos governos petistas, especialmente na Educação, e construindo perspectivas de bem viver para essa população. Precisamos ainda, apresentar um projeto alternativo de segurança pública que passe por desmilitarizar a polícia militar e mude a política punitiva de hiperencarceramento que lota nossos presídios com jovens.
    26) É preciso legalizar o aborto, cuja proibição mata mulheres todos os dias.
    27) É preciso revogar a emenda constitucional 95, voltar a investir em educação, expandir universidades e escolas técnicas, aprofundar o debate sobre federalizar o ensino médio como prometeu Lula, combatendo as falsas soluções da militarização de escolas civis ou de terceirização de escolas públicas.
    28) É preciso colocar um freio no obscurantismo crescente, acabar com os projetos de escola sem partido, enfrentar o machismo e a LGBTFobia crescentes.
    29) É preciso revogar a reforma trabalhista, recuperar direitos dos trabalhadores e empregos para o povo brasileiro.
    30) É necessário um programa de reformas democráticas e populares capazes de superar este modelo econômico conservador e neoliberal em curso no país. E garantir um desenvolvimento com soberania nacional, democracia e garantia dos direitos para a classe trabalhadora, com a reforma agrária, urbana, a reforma tributária progressiva, reforma política, do sistema judiciário (estabelecendo controle social) e democratização da mídia.
    31) Para isso é necessária uma política de alianças com os movimentos sociais e com setores que aglutinem quem partilhe de uma perspectiva anti-imperialista, anti-monopolista, anti-latifundiária e radicalmente democráticas. O PT não deve se aliar com os setores golpistas que são os responsáveis por colocar o país na condição de exceção democrática e pelos retrocessos que afligem a classe trabalhadora.
    32) Essa conjuntura coloca a necessidade de reafirmar o nosso projeto político e nossa identidade partidária. Por isso a JPT defende a centralidade em lançar e fortalecer candidaturas próprias ou a aliança eleitoral que defenda a liberdade e eleição presidencial de Lula. Repudiamos movimentações que busquem abrir mão de nossas candidaturas por acordo que não contribuem para a disputa programática tampouco para os resultados eleitorais e a defesa da candidatura do Lula.
    33) Para garantir Lula Livre, Lula presidente e voltarmos a garantir um futuro para a juventude e os trabalhadores brasileiros temos uma enorme luta pela frente. Temos o desafio de transformar uma luta que até agora foi de milhares numa luta de milhões de homens e mulheres. Precisamos ter firmeza e ousadia!
    34) Buscando enfrentar esse desafio a JPT resolve:
    Organização e lutas
    35) Construir uma grande campanha de filiação para apresentar a militância partidária às jovens e aos jovens dispostos a enfrentar o neoliberalismo e o desmonte de direitos.
    36) Incentivar a organização de atividades de recepção para jovens filiados, principalmente os recentes filiados online.
    37) Organizar e impulsionar núcleos de jovens petistas em bairros, faculdades, escolas e locais de trabalho!
    38) Apresentar a unidade na ação para aprofundar relações entre a JPT e a juventude dos movimentos sociais ou que tem referência no PT e Lula, discutindo os métodos adequados para aprofundar tais ações.
    39) Criar uma plataforma que unifique as candidaturas jovens do PT para contribuir com as campanhas. Deste modo, saudamos as pré-candidaturas da companheira Ana Carolina a Deputada Estadual e do companheiro Adriano Plácido a Deputado Federal, bem como a de qualquer outro jovem que venha disponibilizar seu nome.
    40) Organizar uma campanha de auto financiamento da JPT e manter a defesa de 5% do fundo partidário para a juventude.
    41) Orientar o acompanhamento sistemático da frente Brasil Popular em todos os níveis.
    42) Promover intercâmbios de experiencias com os movimentos sociais e sindicais sobre as diferentes táticas de luta.
    43) Organizar a parceria com a mídia alternativa e popular.
    44) Buscar organizar que todas as candidaturas majoritárias do PT tenham uma coordenação de campanha de juventude.
    45) Organização a jornada de formação da juventude do PT, junto da secretaria nacional de formação.
    46) Buscar organizar os jovens petistas do movimento sindical, em especial da CUT.
    47) Orientar a impulsão e ação de comitês Lula Livre, Lula presidente por todo o país
    48) Organizar uma grande Marcha da Juventude à Brasília no dia 15 de agosto para registrar a candidatura de Lula como candidato a presidente do país.
    49) Organizar uma campanha permanente pela Liberdade dos nossos presos políticos, Lula, José Dirceu, Vaccari e Delubio.
    50) Organizar, enquanto Lula estiver preso, em todo dia 13 de cada mês um dia nacional de mobilização da JPT, com orientação para que secretarias estaduais, municipais, núcleos da JPT organizem panfletagens e manifestações (com panfleto próprio da JPT a ser produzido pela executiva nacional da JPT)
    51) Garantir a realização do 4° congresso da juventude do PT no primeiro semestre de 2019 com etapas municipais, estaduais e nacional, propiciando discussão e participação democrática com a eleição de delegados na base garantindo ampla mobilização, a legitimidade e representatividade na renovação das instâncias da direção da JPT, cujo cronograma e regimento será divulgado até dezembro de 2018.
  • A dialética antropológica de Darcy Ribeiro

    A dialética antropológica de Darcy Ribeiro

    por Henrique Matthiesen

    Parte da intelectualidade brasileira sofre os efeitos de nosso complexo do colonizado; embutida em seu pensamento a condição periférica do pensamento humano, são subordinadas às conceituações europeias incapazes de algum senso de altivez ou qualquer ação de protagonismo ideário.

    Contrário a esse pensamento mediocrizante e adotando o exercício dialético em uma antropologia de vanguarda, Darcy Ribeiro mergulhou na tarefa herculana de decifrar a alma brasileira e suas contradições.

    Neste cenário, compreendeu a gênese da antropologia fazendo a singular divisão entre antropologia e sociologia; porquanto, nos aspectos sociológicos se investigam os movimentos e estruturas sociais de uma forma macro; já a antropologia tem um olhar para dentro, onde os aspectos e as questões culturais que envolvem o homem, como por exemplo: seus costumes, mitos, crenças, rituais e língua são fundamentais para o entendimento na construção civilizatória.

    Daí que surge o estudo “darcyniano” sobre “O Povo Brasileiro” e o “Processo Civilizatório” como um exercício antropológico de teorizar – sobre o humano e sobre suas variantes minúcias – a fim de compreender suas mais essenciais feições.

    Um anticolonialista convicto buscou uma teoria singular, materialista e dialética onde esquadrinhou os povos orientais, os povos árabes e também os latino-americanos; com suas identidades culturais em uma nova perspectiva ideológica emancipadora.

    Inconformado com o julgamento preconceituoso e predatório de que um intelectual do mundo subdesenvolvido tenha a sina de um pensamento tal como subdesenvolvido, Darcy rompe o estereótipo do incivilizado, do selvagem e consagra sua teoria no grande debate intelectual.

    Para Darcy: “A história opera, de fato, como uma sucessão de interações competitivas destes componentes dos modos de produção, cada um dos quais, ao se alterar, afeta os demais e lhes impõe transformações paralelas, configurando situações complexas que nunca são rigidamente deterministas nem linearmente evolutivas. Uma produtividade humana acrescida, que torne o homem capaz de produzir excedentes sobre o consumo, não conduz à liberdade, mas à escravidão e às guerras de dominação. Estes efeitos sociais constritivos, operando, por sua vez, como um incentivo à criação de formas ampliadas de mutualidade, permite estruturar unidades sociais cada vez maiores, ativadas por dois processos básicos. Primeiro a estratificação da sociedade em classes e, mais tarde, sucessivas reordenações das relações de produção e a correspondentes transfigurações das classes sociais. Segundo a interação conflitiva entre sociedades tendentes a conduzir à dominação das mais avançadas sobre as mais débeis ou atrasadas e a conversão destas últimas em proletariados externos dos núcleos cêntricos.”

    Nesta contextualização Darcy visualiza a clássica luta de classes, conceituada por Karl Marx. Entretanto, segundo os paradigmas da antropologia de Darcy, há novas formas de luta de classe por meio da contínua desculturação dos povos subordinados, seja pelo desenraizamento de suas matrizes étnicas, dialeticamente num processo de transfiguração e expansão civilizatória de formação de novos aspectos socioculturais, ou pela destruição física.
    Paralelamente, verifica-se o aprisionamento intelectual refém de uma narrativa eurocentrista, incapaz de vislumbrar ou conjeturar outra perspectiva.
    Ao mergulhar na narrativa de uma nova teoria global, Darcy cria sua dialética antropológica.