Jornalistas Livres

Categoria: Formação Política

  • Poesia contra a barbárie na obra de Lorca e Neruda

    Poesia contra a barbárie na obra de Lorca e Neruda

     

    O que existe em comum entre Federico Garcia Lorca e Pablo Neruda além de estarem entre os poetas mais amados da língua hispânica? A luta contra o fascismo e a morte trágica: Lorca, uma das primeiras vítimas franquismo espanhol, executado por suas idéias e orientação sexual, e Neruda morto no hospital 11 dias depois do golpe contra Allende, no Chile, sob fortes suspeitas de ter sido assassinado com uma injeção letal. Muito dessas histórias, resultado de longa pesquisa do mestre em Filosofia e Letras Neolatinas, Roberto Ponciano, pode ser lido agora no Brasil com o lançamento do livro Neruda e Lorca, dois poetas rojos.

    Comunista e apaixonado por literatura, Ponciano, dono de uma alma ´roja´ latino-americana, destrincha as mútuas influências na arte, na coragem e na militância pelas causas populares de Lorca e Neruda. Já disponível na Editora Martins Fontes e nas livrarias Travessa, Saraiva, Cultura e na Amazon, pela internet por apenas R$ 39, Neruda e Lorca, dois poetas rojos faz o leitor mergulhar num mundo de reflexão e magia, mais do que necessárias, nos tempos sombrios de ascensão das ideias nazi-fascistas, da intolerância e da homofobia. Num tempo em que a arte e cultura, em quase todas as suas nuances, têm sido demonizadas.

    Para Ponciano, “urge ler, reler e debater a obra Lorca, expressão da um dos momentos mais gloriosos da literatura hispânica –a geração de 27– e de Neruda, Prêmio Nobel de Literatura em 1971. Esse novo livro  é o resultado, mais que oportuno, do meu mestrado em Letras Neolatinas, concluído em 2015, na UFRJ, quando me dediquei à pesquisa sobre a confluência entre os dois poetas”.

    Apesar de já estar disponível via internet, Ponciano vai realizar no dia 15 de março, quando acontece o SAMBA PELA DEMOCRACIA, no Baródromo (Lapa), o lançamento oficial de Neruda e Lorca, dois poetas rojos com toda a cultura, resistência e militância que a obra merece.

    Ponciano é ex-presidente do Sindicato dos Servidores da Justiça Federal, no Rio de Janeiro, além de professor, tradutor e filósofo. Outros livros do autor são: Feitiços-contos eróticos (2003), Notas Políticas (2008), Cosmópolis (2012), sobre a utopia comunista e Marxismo e Filosofia Contemporânea (2016).

    O livro está disponível em https://www.martinsfontespaulista.com.br/dois-poetas-rojos-neruda-e-lorca-635795.aspx/p

    E logo estará disponível na Saraiva, Cultura, Travessa e Amazon.

    Veja abaixo o convite para o evento oficial de lançamento:

    Samba pela Democracia!
    Venha festejar a democracia e dizer não ao avanço do fascismo!
    O evento é aberto a tod@s democratas antifascistas.
    Compartilhe, divulgue!
    Lançamento do livro Neruda e Lorca, dois poetas rojos, de Roberto Ponciano.
    Venda do livro e tarde de autógrafos.
    Shows de Dorina e conjunto Zambelê.
    Couvert artístico de 10 reais.
    A casa servirá uma feijoada (não incluída no couvert, paga à parte) e diversas outras opções.
    Quem comprou o livro na pré-venda, receberá, in loco, no dia. https://www.facebook.com/events/614657439298586/?notif_t=plan_user_joined&notif_id=1580074384314271

  • Zumbi Resiste e vive

    Zumbi Resiste e vive

    Texto: Zumbi Resiste. Fotos da marcha: Gabriel de Moura. Outras fotos: Gabriel Carcavalli

    A poucos metros da Faculdade Zumbi dos Palmares, no bairro do Bom Retiro, está localizada a Rua Jorge Velho, ponto de passagem de alguns alunos da instituição. Mas o que muita gente não sabe é que essa rua esconde uma história que torna esse fato um desrespeito com a comunidade negra: Jorge Velho foi o bandeirante que ordenou a morte de Zumbi dos Palmares.

    Após essa descoberta os alunos da Universidade se reuniram para criar o movimento Zumbi Resiste, que tem como objetivo transferir a homenagem de Jorge Velho para Zumbi dos Palmares, além de transformar o local em um espaço de resistência da cultura negra.

    “Uma rua é um pouco de nós e o nome dela não pode ser contra nós. Se é, não devemos mudar de rua, precisamos mudar o nome da Rua. Mudar o nome das ruas, nunca mais mudar de rua.” – disse, José Vicente, reitor da faculdade.

     

    Ocupação da rua

    No dia 20 de Novembro, durante a Marcha da Consciência Negra, um chamamento foi feito pelos alunos da Universidade, em plena Avenida Paulista, promovendo uma ocupação na Rua Jorge Velho para pressionar as autoridades pela mudança do nome da rua.

    A ocupação aconteceu no última dia 23. Os alunos da faculdade interditaram a rua e exigiram, através de discursos e manifestações artísticas, que a mudança seja feita e encarada com urgência pelas autoridades públicas.

    “Acho de extrema relevância a mudança desse nome, por todo processo histórico, pelo assassinato de Zumbi e pela forma que as elites se organizaram para exterminar um líder revolucionário. Essa mudança fará jus ao verdadeiro herói nacional.” – Jupiara Castro, fundadora do Núcleo de Consciência Negra da Universidade de São Paulo.

    Dra. Lazara Carvalho, Profª Najara Costa, Marilice Martins, Profª Hainra Adani Acosta e Dra. Bruna Cândido

     

     

    A história de Jorge e Zumbi

    Zumbi dos Palmares nasceu na Serra da Barriga e se tornou líder do Quilombo dos Palmares, tornando-se símbolo de resistência contra a opressão portuguesa. Denominado “O senhor das guerras”, Zumbi foi responsável pela libertação de um incontável número de escravos, se apoderando também das armas e munições, que posteriormente eram usadas na defesa do quilombo. Zumbi virou assim uma lenda entre os afro-descendentes que viviam no país, criando inclusive o mito de que seria imortal.

    Foi então que Domingos Jorge Velho recebeu a incubência de destruir o Quilombo dos Palmares, em troca de dinheiro e terras. Velho e sua tropa comandaram diversos ataques ao Quilombo dos Palmares com métodos altamente brutais e sendo descrito por pessoas da época como “um dos maiores selvagens que já haviam visto”. Até que em 1694, as tropas de Jorge Velho, com mais de 6 mil homens, obtiveram êxito e promoveram um verdadeiro banho de sangue no Quilombo dos Palmares, assassinando a maior parte da população que ali vivia e prendendo mulheres e crianças.

    Zumbi, mesmo ferido, conseguiu escapar da invasão e em 20 de Novembro de 1695 foi apanhado em seu esconderijo, sendo morto pelas tropas de Jorge Velho que dias depois expressou em ofício a Sua Majestade que Zumbi havia sido morto por um partida de gente do seu terço. Após isso, a cabeça de Zumbi ainda foi cortada, salgada e exposta em praça pública para que fosse usada como exemplo a todos os afro-descendentes da época.

     

    Pressão nas autoridades

     

    Através da #zumbiresiste, uma mobilização está atingindo de forma direta os políticos da cidade de São Paulo, exigindo que a homenagem dessa rua passe a ser de Zumbi dos Palmares. Um petição pública também está disponível para que qualquer pessoa do país possa assinar e reivindicar essa homenagem. Todas as informações estão no site zumbiresiste.com.br.

    “Trazer esse absurdo à tona é mostrar o quanto ainda deve ser corrigido. Essa é uma rua, mas quantos Domingos Jorge Velhos são homenageados por aí?” – Alex André, aluno da faculdade.

  • Zona Sul #SP, renova a luta por uma Periferia possível

    Zona Sul #SP, renova a luta por uma Periferia possível

    Há 24 anos que a zona sul de São Paulo renova suas forças toda vez que a população vestida de branco atravessa o bairro na Caminhada Pela Paz e Pela Vida.

    Desde 1996, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) apontou o bairro do Jardim Ângela, zona sul de São Paulo como o “Bairro Mais Violento do Mundo”, que a população passou a se organizar para buscar caminhos próprios para enfrentar o desafio de romper com a lógica da violência, e introduzir uma cultura de paz.

    O essencial foi a construção de espaços de participação e diálogo. Os 24 anos de organização desta luta passam por eventos simbólicos como a caminhada, o Fórum Social, o abraço à Guarapiranga, mas também uma série de espaços de encontro e articulação de diferentes demandas. 

     24ª Caminhada Pela Vida e Pela Paz, chamou a todos para levantarem sua voz a favor das vidas. Milhares de pessoas vindas de vários pontos do bairro, se unem todas vestidas de branco, e terminam a caminhada com um ato no Cemitério São Luiz.

    24ª caminhada pela Paz, zona Sul #SP. fotos Joana Brasileiro | Jornalistas Livres

     

     

    Santos Mártires e o Fórum em Defesa da Vida

     

    Um dos pontos de partida da caminhada é a paróquia Santos Mártires que desenvolve uma série de trabalhos junto à população na região desde 1987,  muito antes de haver qualquer ideia de política pública para o bairro. 

    A paróquia sedia o Fórum em Defesa da Vida que é a organização de uma rede suprapartidária, inter-religiosa e democrática de organizações que se unem de forma espontânea, para estimular a participação popular em sua plenitude.  

    O Padre Jaime Crowe que é dirigente da paróquia e uma importante liderança, mas não pode comparecer este ano à caminhada por estar se recuperando de problemas de saúde. Mas a população compareceu em peso, inundando as principais vias do bairro de branco, e mostrando que existe um caminho possível para a paz.

     

     

     

    FÓRUM SOCIAL DA ZONA SUL

    Durante os quatro dias, que antecederam a caminhada, (28/10 a 1/11), ocorreu a oitava edição do Fórum Social da Zona Sul, com o tema: “Uma outra periferia é possível, Urgente e Necessária”.  Foram mais de 70 ações espalhadas por todo território, e o encontro foi realizado com integrantes de mais de 10 fóruns e redes da região: Fórum de Defesa da Vida, Fórum da Inclusão, Fórum do Cidadão Idoso, Assistência Social, Fórum do Fundão e das Águas, Fórum de Pesquisadores, Fórum dos serviços contra a Violência na saúde, Rede UBUNTU de cursinhos populares, entre outros. 

    Essa entidades, associações e coletivos são todos da região do M’Boi Mirim, Campo Limpo, Jardim São Luís, Capão Redondo e Jardim Ângela. As atividades culturais, incluíram oficinas, seminários, rodas de conversas, exposições e feira de economia solidária.

     

     

     

     

     

    A intenção do encontro é fortalecer as lutas populares que buscam a ampliação dos espaços de participação democrática e a garantia dos direitos humanos, da justiça social e da sustentabilidade ecológica.

    O Fórum de Defesa da Vida também organiza o Abraço do Guarapiranga, seminários, debates públicos, tribunais populares, e GTs (grupos de trabalho) que realizam ações abordando temas específicos, como: Direitos Humanos; Orçamento Público; e Saúde. 

    O final do ato, no cemitério São Luiz, sempre termina com o plantio de uma árvore por crianças e adolescentes, a leitura de manifestos e agradecimento às pessoas que construíram o evento. Maria Vitória Benevides fez uma fala em apoio a ação, representando a Comissão Arns e foram mencionados os apoios das autoridades presentes como o vereadores Eduardo Suplicy (PT), Alfredinho (PT), Donato (PT), os deputados Paulo Teixeira (PT), Carlos Gianazzi (PSOL), Fernando Notari ( PSOL- Bancada ativista), Alexandre Padilha (PT).

     

     

    + EM:  reportagens sobre a Caminhada pela Paz de Heliópolis

    https://jornalistaslivres.org/como-se-faz-uma-caminhada-20-anos-de-paz-em-heliopolis/

    https://jornalistaslivres.org/heliopolis-pela-paz/

     

     

     

  • Multiplicar Resistências, Semear Esperanças

    Multiplicar Resistências, Semear Esperanças

    O sábado do dia 08 de junho foi para mim e para cerca de 70 pessoas que se reuniram na Ação Educativa, um dia especial.  Representantes de movimentos, coletivos de resistência, ONGs de Formação Política e de Defesa dos Direitos Sociais, cursinhos e universidades populares, Centros de Defesa de Direitos, militantes indignados com o momento de retrocessos que estamos vivendo em nosso país, se reuniram para trocar experiências a partir de suas práticas, aprofundar a análise de conjuntura, definir estratégias de luta e desafios da resistência e da educação popular para fazer frente à conjuntura nacional.

    Coordenado pelo CEAAL Brasil (parte integrante do Conselho de Educação Popular da América Latina e Caribe, que congrega representantes de 21 países e 150 organizações), juntamente com a Ação Educativa (ONG voltada à assessoria e formação política a movimentos populares e  a instituições educativas, com ênfase no trabalho de base com jovens, mulheres, negros…), o encontro teve como objetivo aprofundar o conceito da Educação Popular como Formação Política frente ao atual contexto a partir  das experiências formativas dos participantes,  articular as lutas de resistência e organizar uma campanha de defesa do legado de Paulo Freire fundamento teórico para as estratégias de luta e de resistência e das práticas de formação política com base na educação popular.

    A vivência em grupos possibilitou conhecer a riqueza de práticas ao mesmo tempo em que apontou desafios de toda ordem para fazer frente ao contexto de discriminação, exclusão, aprofundamento das desigualdades e das políticas neoliberais, perda de direitos, retrocessos de conquistas sociais, perda de direitos e das garantias democráticas, dilapidação de nossas riquezas, da soberania nacional e desmonte do Estado. Acresce-se ainda um questionamento dos valores incutidos com o aprofundamento das políticas neoliberais que reforçam o individualismo, o consumismo, a meritocracia individual, a despolitização da vida e descrédito das instituições, a banalização da violência e disseminação do ódio de classe, gênero, raça, em substituição a valores humanos de respeito e de solidariedade ao diferente.

    Múltiplos foram os desafios e práticas de resistência e de educação popular entendida como processo de produção de conhecimento que se dá através da ação, da escuta e do diálogo, da reflexão e da constatação do modo de dominação que produz despolitização. É preciso escutar e fortalecer as lutas das juventudes, a luta anticapitalista no enfrentamento das discriminações de gênero, etnia e raça; descolonizar o pensamento, reinventar a comunicação e linguagens, incentivar e fortalecer as manifestações culturais que se constituem na expressão das identidades. Realizar ações de base nos territórios onde se constroem redes e identidades, enfim preparar, ocupar e transformar; transformar discursos em ações; fortalecer as lutas de grupos de excluídos; articular politicamente as lutas de resistência e os movimentos sociais.

    Pedro Pontual, educador popular e um dos coordenadores do evento, ressaltou a diversidade de processos e práticas de educação popular as quais devem se referenciar no contexto socioeconômico, político, cultural, ambiental em que estamos vivendo de aprofundamento das políticas neoliberais e conservadoras. Além dos aspectos já apontados, o Estado criminaliza os movimentos sociais e de protesto e boicota todas as formas de participação social da população menos favorecida e dos segmentos marginalizados. Vivemos um momento na América Latina de crise multifacetada, decorrente de golpes em vários países: crise da democracia liberal e das instituições políticas. Polarização política das sociedades, em que as forças da direita e da extrema direita aliadas à forte ação da mídia tentam desmontar e desacreditar as alternativas progressistas com o objetivo de aprofundar a hegemonização capitalista, patriarcal, racista; incutir na subjetividade das pessoas valores consumistas e individualistas; implantar a cultura do ódio de classe de várias formas violentas: homofobia, tendências religiosas fundamentalistas.

    Em contrapartida, ressaltou diversas práticas de resistência em espaços nacionais e internacionais, em busca de ações emancipatórias, novos paradigmas de interpretação da realidade, de construção de nossas utopias. Desafio central das lutas de resistência, da luta por direitos é apontar para a construção de uma nova sociedade.

    Pedro Pontual destacou 12 pontos que se constituem em desafios para a formação política:

    • Como sair da bolha? Dialogar com o outro com práticas respeitosas, trabalho de base nos territórios, com atitude ativa, de escuta e de experimentação;
    • Incentivar as formas de ativismo social, desobedecer e ampliar o reconhecimento de práticas existentes libertadoras assim como valorizar novas práticas emergentes. Superar o medo, recuperar o sentido do coletivo e de comunidade, ação política exercida com alegria;
    • Cultura como eixo de articulação das práticas de resistência, a cultura como manifestação e afirmação da sabedoria popular, mobilizar pessoas com o exercício da criatividade e da liberdade, criar círculos de cultura, incentivar rodas de conversa;
    • Economia solidária, como uma nova maneira de pensar a produção e o trabalho humano;
    • Papel central e protagonista das juventudes nas práticas de formação política e nas novas formas de exercício político;
    • Em contraposição à pedagogia capitalista, a pedagogia feminista, anti-racista e libertadora, desconstruir o modo de pensar colonial no continente latino americano;
    • Novas formas de democracia, reinventar a democracia participativa, direta e representativa; incentivar canais institucionais de participação e controle social das políticas públicas (atenção á campanha atual “O Brasil precisa de Conselhos” e a Plataforma dos movimentos Sociais pela reforma política);
    • Re-significar as políticas e programas sociais, face ao desmonte das políticas públicas, educação política e educação para a cidadania, na concepção de direitos, universalidade no atendimento às diversidades e de proteção social.
    • Resgatar os direitos humanos na sua dimensão integral e as diversas formas e instâncias de participação social;
    • Enfrentar a batalha das redes sociais hegemonizadas pelas elites conservadoras, contra fake news e informações incorretas e maldosas;
    • Pedagogia ecológica de respeito à natureza e ao planeta, obrigações humanas, sentido coletivo e de sustentabilidade ecológica;
    • Religião e política, como desenvolver práticas inter-religiosas e enfrentar os diversos tipos de fundamentalismos que se constituíram em estratégia política da direita para intervir nas subjetividades;

    Fechando o encontro o CEAAL e a Ação Educativa, organizadores do evento reforçaram a importância do engajamento dos participantes na Campanha Latino Americana e Caribenha em defesa do legado de Paulo Freire.

    O engajamento dos participantes na Campanha deverá se centrar em torno de questões fundamentais:

    • lutar por bandeiras que ele sempre apoiou como liberdade de pensamento, autonomia do sujeito, democracia plena e respeito às diversidades.

    • lutar para que suas idéias não sejam descaracterizadas e pela preservação, ampliação e divulgação de seu legado;

    • apoiar o reconhecimento internacional de sua obra obtido ao longo das últimas décadas. No Brasil, lutar pela manutenção do título de Patrono da Educação Brasileira, concedido a Paulo Freire por meio da Lei no. 12.612/2012, que os setores obscurantistas do governo e da sociedade tentam revogar.

    Participantes de Belém do Pará ao Rio Grande do Sul, das periferias de São Paulo para o interior do estado, militantes de várias áreas saímos energizados com a riqueza desse encontro e com nova disposição de luta.

    Nosso norte da formação política calcada nos fundamentos metodológicos e na concepção de libertação dos oprimidos segundo Paulo Freire, fortificou-se. Saímos com garra e determinação para multiplicar resistências e semear esperanças na construção de uma nova utopia, como na música de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós:

    “Quando o muro separa uma ponte une
    Se a vingança encara o remorso pune
    Você vem me agarra, alguém vem me solta
    Você vai na marra, ela um dia volta

    E se a força é tua ela um dia é nossa
    Olha o muro, olha a ponte, olhe o dia de ontem chegando
    Que medo você tem de nós, olha aí…

    Você corta um verso, eu escrevo outro
    Você me prende vivo, eu escapo morto

    De repente olha eu de novo

    Perturbando a paz, exigindo troco…”

  • O último professor de jornalismo?

    O último professor de jornalismo?

    Por: Luciano Maluly

    O falecimento do jornalista, professor e pesquisador José Marques de Melo (1943-2018) no ano passado trouxe um vácuo ao ensino do jornalismo no Brasil, sentimento comparado à perda de um pai. Desde lá, vem a memória nomes que mantém a dignidade de um ofício tão lindo; e tão criticado atualmente.

    Esta constante angústia foi intensificada quando recebemos a notícia do problema de saúde de um outro ícone do jornalismo brasileiro: o professor Manuel Carlos Chaparro.
    Junto com minha amiga, a também jornalista e professora Márcia Avanza, fomos visitá-lo no hospital São Camilo, no bairro da Pompéia, em São Paulo.

    Memórias de uma aula infinita

    A emoção do encontro logo foi substituída pela recordação da minha primeira aula como aluno de doutorado no Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM) na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), em 1999, quando o professor Chaparro adentrou à sala de aula e grifou na lousa: O QUE É JORNALISMO?

    O debate foi intenso, com a aula sendo prolongada por mais de duas horas após o término. Um dos alunos perguntou se a publicação de uma imagem sem texto seria jornalismo. Após longa discussão fomentada pelo professor, aprendemos algo simples, mas formidável (e olha que ninguém falava em fake News e Pós-Verdade): “nem tudo o que está publicado em um jornal é jornalismo.”

    Tempos depois, reencontrei esse mesmo professor no corredor do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA-USP. Nesse encontro, voltei a ser aluno e fiquei em silêncio prestando atenção nos ensinamentos do velho mestre. Naquele dia, ele revelou o jornalismo “como o espaço dos conflitos e das ideias”, antecipando uma já visível “revolução das fontes” e, assim, uma mudança no universo da notícia e, por conseguinte, do jornalismo – fato que observamos constantemente com o avanço do digital.

    A eterna pergunta

    Aqueles momentos estavam tão presentes durante a visita no hospital que até fiz um diagnóstico: “a doença daquele homem era ensinar”. Antes de nos despedirmos, ele me confidenciou que estava iniciando uma pesquisa que possibilitava encontrar os problemas do jornalismo atual. Lembrei até do clássico livro “O problema da imprensa” (Edusp/Com Arte, 1988) de Barbosa Lima Sobrinho. Fiquei triste pois não houve tempo para ouvi-lo.


    Esses dias, recebi uma foto dele, por intermédio de sua filha Cristina, no WhatsApp. A legenda revelava a recuperação e a alegria por estar tomando um café expresso. E como eu gostaria de estar presente para compartilhar de mais uma conversa. Assim, teria a honra de fazer minha última e constante pergunta, que já me incomoda há 20 anos, desde quando entrei naquela sala de aula junto com meu amigo e colega de curso de graduação na Universidade Estadual de Londrina e também no PPGCOM-USP, Álvaro Emídio Ferreira: “Professor Manuel Carlos Chaparro, O QUE É JORNALISMO?”

     

    Nota dos Jornalistas Livres: Jornalista desde 1957, o Prof. Chaparro é doutor em ciências da Comunicação, professor de jornalismo da ECA/USP e já conquistou quatro Prêmios Esso de Jornalismo.

  • Ledores no Breu

    Ledores no Breu

    Nestes últimos tempos, a toda hora, só temos notícias ruins: retrocessos de conquistas, perda de direitos, malandragem na política, figuras exemplares da corrupção governando o país, judiciário rasgando as leis, violência ao ser humano, degradação da natureza e entrega de nossas riquezas, censura á liberdade de expressão, extermínio de jovens, mulheres, indígenas e negros, militares avançando…

    Quase nada que diga respeito à democracia, à civilidade, ao desenvolvimento social, cultural e econômico sustentável, do país tão rico que queremos e sonhamos.

    No entanto, para findar e abrir a semana, neste domingo no Teatro Ágora, o Dinho e o Rodrigo participantes da Cia. do Tijolo conseguiram com os “Ledores no Breu”, reunir grupo de pessoas indignadas. Com profundidade, simplicidade e poesia, inspirados em Paulo Freire, Frei Betto, Maria Valéria Resende e o poeta Zé da Luz, nos convidaram a ir fundo na reflexão, no reconhecimento da realidade do país, do homem brasileiro, de nossos dramas cotidianos seja no campo ou na cidade, em busca da vida.  Como sair da lama que estamos vivendo em nosso país? Como sair do analfabetismo não só das letras, mas de palavras desprovidas de sentido ou com significados distorcidos? Como superar o analfabetismo do sentir, do pensar, do agir, do sujeito político que habita em nós? Com o que estamos vivendo hoje em nosso país, estes atores conseguiram chacoalhar nossa consciência, remexer nosso desânimo, reavivar nossa memória de luta e de rebeldia, acolher os indignados, renovar a esperança e o desejo de lutar e de construir a UTOPIA.

    Esta peça é demais, há dias que a gente ganha o dia! Não percam!

    https://www.sympla.com.br/ledores-no-breu__437633

    “Aniquilar uma pessoa é tanto privá-la da comida quanto privá-lo da palavra.”

    Ledores no Breu no Ágora Teatro

    Até 25 de fevereiro de 2019

    Sábado e Segunda às 21h / Domingo às 20h

    Rua Rui Barbosa, 672 (perto do metrô brigadeiro)

    Telefone: (11) 3284-0290