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Categoria: Escolas em Luta

  • Impasse sobre Enem 2020 reflete desigualdades brasileiras na educação

    Impasse sobre Enem 2020 reflete desigualdades brasileiras na educação

    Por: Beatriz Passos – do Com_Texto

    Entrar em uma universidade pública é o sonho de muitos estudantes brasileiros. Mesmo com diversos fatores que tornam complicadas as vivências na universidade, milhares de alunos em todo Brasil se inscrevem no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para tentarem uma vaga no ensino superior. Mas essas instituições estão preparadas para receber esses alunos? Quais são os obstáculos desses jovens? Quem os ajuda nessa caminhada? São questões como essas que fizeram o Com_Texto investigar um pouco dessa trajetória, em 2020, no cenário inédito de pandemia mundial causada pela Covid-19.

    Em maio de 2019, a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) divulgou que a maioria dos seus estudantes era mulher, parda, com idade entre 18 e 24 anos e com renda per capita familiar de até um salário mínimo. Tais dados foram levantados a partir da V Pesquisa Nacional de Perfil dos Graduandos das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes), promovida pelo Fórum Nacional de Pró Reitores e Assuntos Estudantis (Fonaprace) da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Para a coleta de informações foram entrevistados 28.481 estudantes dos cinco campi da UFMT, consultando 68,6% da sua comunidade estudantil.

    Cerca de um ano depois, em meio à pandemia causada pelo novo coronavírus, estudantes com perfis parecidos com a realidade da UFMT correm o risco de não terem a oportunidade de pleitear uma vaga no ensino superior. Afinal, a edição 2020 do Enem, principal meio de entrada nas universidades, ainda não tem sequer uma data certa para ocorrer, apesar do governo ter gasto muito dinheiro numa propaganda onde atores com mais de 20 anos interpretavam secundaristas com pleno acesso a computadores, smatphones importados, quartos individuais e livros nas estantes. Esse cenário utópico está muito longe da realidade da maioria dos estudantes brasileiros.

    DEMOCRATIZAÇÃO DO ENSINO

    A UFMT foi uma das primeiras universidades a aderir o sistema de cotas sociais, em 2011, antes mesmo da consolidação da Lei 12.711 de 2012, a Lei das Cotas. Ocasionando um quadro de 69% de seus estudantes pertencentes à categoria de baixa renda, além de ter 55% vindos de escolas públicas. Segundo Vinicius Brasilino, Conselheiro de Estado de Educação, representante dos estudantes do ensino superior na Câmara de Educação Profissional e Ensino Superior e também graduando de Saúde Coletiva pela UFMT, essa realidade ampliou o processo de democratização da universidade. “A maior participação de estudantes das redes públicas garantiu que mais jovens das classes populares tivessem acesso ao ensino superior, podendo dar continuidade ao seu processo de formação e escolarização formal”, afirma.

    Brasilino ressalta, contudo, que a manutenção desse acesso não basta. É preciso também garantir a permanência dos alunos no ensino superior. “O fato desta democratização ter dado acesso à universidade aos diferentes perfis de estudantes, ocasionou na demanda pela permanência estudantil, o que a gente chama de assistência estudantil: garantia de benefícios para que o estudante possa estudar com qualidade”, explica. “Esses meios podem ser, por exemplo, bolsas alimentação e moradia. Foi por isso que o Brasil criou o Programa Nacional de Assistência Estudantil, para dar conta de atender a esses estudantes que têm especificidades e demandas emergentes dentro das universidades”.

    Porém, especialmente por conta dos cortes de verbas desde 2014, as políticas de assistência não conseguem garantir tais benefícios a todos os que necessitam. No caso da UFMT, em 2020 o orçamento total de custeio é 21% menor do que no ano passado, e da assistência estudantil foram retirados cerca de 40% da verba. “Os principais obstáculos que estudantes em vulnerabilidade social enfrentam estão relacionados às políticas de permanência e assistência estudantil. Afinal, a educação vem sofrendo nos últimos anos vários cortes, como a Emenda Constitucional nº 95 , de 2016, que congelou os investimentos em educação, saúde e outras áreas do desenvolvimento social do país por 20 anos”, comenta o Conselheiro de Estado de Educação.

    Vinicius Brasilino também vê como prática perigosa aos cidadãos o possível agendamento da prova do Enem ainda em 2020. “Observando o movimento da pandemia no Brasil e as ações que o Governo Federal vem tomando, que são muitas vezes contrárias ao que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem proposto, a realização do Enem não só coloca em vulnerabilidade sanitária milhares de estudantes, como também se transforma em instrumento de ampliação das desigualdades educacionais e sociais do Brasil”, analisa.

    Em razão da pandemia do Covid-19, o Enem 2020, incialmente marcado para os dias 1 e 8 de novembro, provavelmente será adiado de 30 a 60 dias, de acordo com Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) que aplica a prova. A contragosto do Ministro da Educação, Abraham Weintraub, e do Governo Federal, o Senado aprovou um projeto de adiamento o exame por 74 votos a 1 (do senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente da República). No dia seguinte, o presidente do Congresso, deputado Rodrigo Maia, informou ao presidente o projeto teria placar semelhante na Câmara dos Deputados, forçando o mudança.

    Sem dúvida essa foi uma grande vitória das pressões de organizações como a União Nacional dos Estudantes (UNE). Mas ainda não é o suficiente. “O adiamento do Enem de 30 até 60 dias, mantém o processo perverso desse governo de privilégios, assim como a anuncida modalidade virtual do exame. Quem realmente tem acesso à internet para fazer o Enem digital? Quem fará virtualmente poderá fazer a prova de sua casa com um conjunto de livros e conteúdos ao lado, com condições de ter um melhor resultado na prova? Para mim, o Enem digital reforça ainda mais uma falsa meritocracia e condições desiguais de acesso à universidade. É um equívoco”, afirma Vinicius Brasilino.

    Alunos da UFMT em manifestação contra o projeto Future-se, em 2019 (Foto: Com_Texto)

    FUTURO E INCERTEZAS

    Luiz Antônio está no quinto semestre do ensino médio integrado ao curso técnico em edificações, no Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT) – campus Várzea Grande. Com 18 anos, seus planos no início de 2020 eram prestar o Enem e concorrer a uma vaga na UFMT. “Eu costumava passar em torno de 35 a 40 horas semanais na escola, tudo isso entre aulas, projeto de pesquisa e extensão e grupo de estudo. Esse ano seria o meu último ano do ensino médio, mas agora já estamos nos encaminhando para o terceiro mês de aulas interrompidas por causa da pandemia do novo coronavírus”, conta.

    Sem aulas desde o dia 17 de março, o estudante declarou que sua rotina mudou bastante. Como passava muito tempo na escola, se organizava para estudar no colégio, e em casa dedicava-se às outras responsabilidades domésticas. Diferente de outros alunos da sua escola, Luiz Antônio tem acesso à internet em casa, mas ainda assim preferiu fazer a prova na modalidade física, por segurança. “Eu tenho acesso à internet em casa, o que tem me ajudado bastante nesse processo de adaptação. E devido aos problemas da correção da edição passada do Enem, eu optei pela versão impressa da prova, porque tenho um pouco de incerteza com essa experimentação”, assume.

    Apesar do ministro dizer que foi “o melhor Enem de todos os tempos”, a edição de 2019 teve erros de correção, além do vazamento de uma das páginas da prova durante o dia do exame, em 3 de novembro. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), foi divulgada uma foto da folha de redação antes do final do exame, já no momento da correção. E quem fez a prova com uma determinada cor de gabarito, teve suas respostas corrigidas com base em um gabarito de cor diferente.

    Diante de tantas dúvidas, Luiz comenta que, assim como ele, seus colegas estão muito inseguros. “Tudo isso tem sido muito comentado nos grupos de turmas sobre o Enem, e tudo é uma grande incerteza. Ninguém sabe como vai ser ou o que pode acontecer. Está todo mundo muito apreensivo porque o ano está correndo e já perdemos o final de semestre todo. Então estamos ficando para trás sim, comparado aos alunos de escola particular”, revela.

    Sobre os próximos acontecimentos com relação ao Enem, o estudante acredita que o melhor é o cancelamento da aplicação da prova em 2020. “Eu acho as discussões sobre o adiamento do Enem muito pertinentes, porém, ao meu ver, o correto nesse momento seria o cancelamento dessa edição. Porque já foi praticamente todo o primeiro semestre do ano e as escolas estaduais de Mato Grosso não chegaram nem a começar o ano letivo de 2020, enquanto as escolas particulares já estavam praticamente no fim do primeiro semestre”.

    OBSTÁCULOS DIFERENTES

    Para uma professora de biologia que atua há 20 anos em escolas estaduais de Mato Grosso, que preferiu não ter a identidade revelada, os alunos da rede pública e da rede particular têm condições intelectuais iguais para prestar o Enem. A diferença entre os dois perfis está nas oportunidades sociais que acabam por privilegiar apenas um dos lados. “Os alunos de escola pública têm que trabalhar mais para conseguir uma vaga na universidade. Então, quando eles conseguem, é muito gratificante porque é todo um universo que eles conseguiram vencer. Por isso que, intelectualmente, eles têm condições tanto quanto um aluno de escola particular, porém em relação à estrutura social eles saem perdendo”, comenta a professora.

    Com experiência no ensino também em escolas particulares, a professora ressaltou a diferença dos perfis dos alunos que frequentam escolas pagas daqueles matriculados em instituições públicas. “Quando dei aulas em escolas particulares, no começo da carreira, os alunos, em sua maioria, eram classe média ou classe média alta. As escolas tinham boas estruturas, como lousa mágica, internet veloz e salas climatizadas. Além do que, grande parte dos estudantes de escolas particulares não trabalhavam. Já os meus alunos do ensino público normalmente têm duplas jornadas. Se estudam de manhã, trabalham à tarde, e se estudam à tarde, trabalham de manhã, em sua maioria em empregos com carga horária pesada”, conta.

    A professora defende a educação pública, acredita que apesar das dificuldades enfrentadas por alunos e até mesmo por professores, o ensino gratuito garante o atendimento a demandas às quais as escolas particulares não se comprometem.

    “Outra grande diferença entre a escola particular e pública é que são poucas as escolas pagas que têm, no meu conhecimento, ensino inclusivo com alunos PcD (Pessoas com Deficiência). Na escola pública, esses estudantes são inclusos em salas regulares. E falando do estado de Mato Grosso, existem também as escolas quilombolas, indígenas e rurais com logísticas diferentes”, salienta.

    Atenta à diversidade de perfis, a educadora também se preocupa com o lado psicológico dos estudantes que pretendem realizar o Enem. “Como todos que estão passando por essa pandemia, os estudantes estão assustados e com medo, de certa forma sem condições psicológicas para fazerem uma prova densa como o Enem”, acredita a professora. “E nesse momento, o aluno de escola pública estadual soma a essas inseguranças a angústia de não ter iniciado o ano letivo devido à greve realizada ano passado. E o que a Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (Seduc-MT) disponibilizou para eles, que são aulas online e/ou pelo canal da TV Assembleia, não é o ideal. Eu sei disso porque participo de grupos de conversas com eles e eles dizem que não têm condições porque não entendem os conteúdos devido aos problemas de conexão”, revela.

    As transmissões das videoaulas acontecem via TV ALMT (canal 30.2), com aulas inéditas e reprises durante a semana. As aulas são sobre as quatro áreas do conhecimento exigidas no Enem: matemática; linguagem e suas tecnologias; ciências sociais aplicadas; e ciência da natureza e suas tecnologias. O projeto foi apresentado pelo deputado estadual Delegado Claudinei (PSL), no dia 8 de maio, pela indicação de n.º 1.572/2020, na qual propunha à Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (Seduc-MT) a aplicação de método de ensino a distância para promover aulas virtuais para alunos da rede pública estadual durante a pandemia do novo coronavírus.

    Estudante segurando cartaz “Em defesa da educação pública” durante as manifestações contra os cortes no setor em 2019 (Foto: Com_Texto)

    DIMINUINDO BARREIRAS

    A Rede de Cursinhos Populares Podemos+ formada pelo Levante Popular da Juventude ajudou a aprovar em 2019 mais de 100 alunos no Enem. Criada em 2017, em São Paulo, a rede está presente em 50 cidades, distribuídas em 21 estados do Brasil, e tem em sua organização 1600 educandos e 800 educadores. Com componentes voluntários a Podemos+ reúne pessoas que buscam ajudar jovens brasileiros que são afastados ou excluídos do ensino superior a ingressar em universidades federais ou estaduais.

    “As experiências na nossa rede de cursinho estão vinculadas aos jovens da classe de trabalhadores, que são moradores de periferias, jovens estudantes de escolas públicas, jovens mães, e aos que não têm possibilidade de pagar mensalidades absurdas em cursos preparatórios. Nosso objetivo é com as questões de igualdade mesmo, de facilitar o acesso à universidade, como é o caso do cursinho de escrita acadêmica que serve justamente para aqueles que têm dificuldades em desenvolver trabalhos com critérios acadêmicos”, explica a Coordenadora da Rede de Cursinhos Populares Podemos+ e da Frente Territorial do Levante Popular da Juventude, Lorhana Lopes.

    Outra ação neste sentido foi o mutirão de ajuda na realização das inscrições no Enem. “A gente precisava fazer com que o máximo de pessoas tivesse acesso. Por isso, movimentamos mais de 800 pessoas, em ação voluntária, para contribuírem nesse processo que é extremamente burocrático. Então, passamos por processo formativo, lemos todas as informações da plataforma do Inep, e depois entramos em contato por telefone com pessoas que preencheram o formulário básico para solicitar a ajuda, além dos outros educandos já inscritos”, conta Lorhana. Em Mato Grosso, a Podemos+ atua desde 2019 em Cuiabá e conta com 42 educadores voluntários. No primeiro ano de curso foram aprovados três alunos na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Em 2020, o processo de mobilização foi interrompido pela pandemia do Covid-19, e até o momento da pausa cerca de 60 jovens já estavam inscritos para participarem das aulas.

    Questionada sobre o porquê de não continuar com as aulas no formado de Ensino a Distância (EaD), a coordenadora da Rede de Cursinhos Populares Podemos+ em Mato Grosso, Amandla Sousa, revela que a modalidade seria incompatível com as realidades dos educandos que a rede atende. “Nós da Podemos+ não podíamos pensar na manutenção das aulas do cursinho em uma modalidade EaD. Essa não é a realidade da população brasileira. Essa não é a realidade dos sujeitos com os quais estamos contribuindo para que acessem a universidade e essa também não é a realidade de Mato Grosso. Nós temos bairros do município de Cuiabá, onde é a situação de vulnerabilidade dos trabalhadores é tamanha que falta por vezes alimentação para essas pessoas. O que dirá internet”, esclarece.

    Segundo a coordenadora, a Podemos+ utiliza uma metodologia da educação popular e justamente por isso considera mais importante acompanhar os educandos e suas famílias neste período de fragilidade causada pela crise sanitária e econômica mundial. “Neste momento nós temos que nos preocupar com a vida do nosso povo. Temos que nos preocupar em garantir condições de vida digna, e o Enem deve se adaptar a esse processo para que ele não seja mais excludente. Na realidade do nosso povo que é tão diverso, que tem tantas dificuldades, adiar o Enem com base no ano letivo de 2020 é fazer justiça social”, afirma Amandla Sousa.

     

    NOTA OFICIAL DIVULGADA NO PORTAL DO INEP

    Atentos às demandas da sociedade e às manifestações do Poder Legislativo em função do impacto da pandemia do coronavírus no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e o Ministério da Educação (MEC) decidiram pelo adiamento da aplicação do exame nas versões impressa e digital. As datas serão adiadas de 30 a 60 dias em relação ao que foi previsto nos editais.

    Para tanto, o Inep promoverá uma enquete direcionada aos inscritos do Enem 2020, a ser realizada em junho, por meio da Página do Participante. As inscrições para o exame seguem abertas até as 23h59 desta quarta-feira, 27 de maio.

     

    SAIBA MAIS:

     

    V Pesquisa Nacional de Perfil dos Graduandos das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes): https://noticias.paginas.ufsc.br/files/2019/05/VERSAO_MESTRA_DO_RELATORIO_EXECUTIVO_versao_ANDIFES_14_20h52_1.pdf

    NOTA OFICIAL | Adiamento do Enem 2020: http://portal.inep.gov.br/artigo/-/asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/nota-oficial-adiamento-do-enem-2020/21206

    Rede de Cursinhos Podemos+: @cursinhospode

    Matéria original no site do Com_Texto: https://com-texto.wixsite.com/comtexto/post/impasse-sobre-enem-2020-reflete-desigualdades-brasileiras-na-educa%C3%A7%C3%A3o

  • Suspensa em Campinas votação para implantar escola cívico-militar

    Suspensa em Campinas votação para implantar escola cívico-militar

    A juíza 2ª Vara da Fazenda Pública de Campinas, Fernanda Silva Gonçalves,    suspendeu o processo de implantação do projeto escola cívico-militar, ao acatar o pedido de liminar do promotor de Justiça da Infância e Juventude,m Rodrigo Oliveira. Ele alegou “incompatibilidade de projeto municipal com os princípios que regem o sistema constitucional de educação, no sentido de instalar escolas cívico-militares na rede escolar municipal, com possível desvio de funções de militares”.

    A suspensão ocorreu momentos antes do início da audiência de consulta em que a comunidade decidiria, em votação, sobre a implantação ou não do modelo de projeto escola cívico-militar na Escola Municipal Odila Maia Rocha Brito, no bairro Jardim São Domingos, em Campinas. A irregularidade  no processo de consulta à comunidade também foi abordada pela promotoria.

    Todo o processo era marcado pela falta de debate amplo com a comunidade, ausência de informações, muitas delas equivocadas, que causaram ainda mais confusão na população.  Cerceamento às pessoas contrárias ao programa prejudicou a discussão (a CUT chegou a emitir uma nota em repúdio, confira abaixo). 

     A administração do prefeito Jonas Donizette  (PSB) aderiu ao projeto escola cívico-militar de forma equivocada, não consultando a Secretaria de Educação, o Conselho Municipal de Educação, o Conselho das Escolas, o Fórum Municipal da Educação e a própria escola de forma antidemocrática,  pois desrespeitou todas as instâncias previstas pela legislação.

     A ausência de um papel efetivo, transparente e informativo da Secretaria de Educação colaborou para transformar o processo em caótico, confuso. Em alguns debates participaram pessoas de viés político que não tinham o mínimo embasamento técnico do processo pedagógico e de funcionamento da rotina escolar.

     A votação, na qual participariam funcionários, professores e pais de alunos e alunos  com mais de 16 anos, chegou a ser iniciada, mas foi suspensa cerca de meia hora depois, após a notificação pela suspensão sua votação.

     

    A Guarda Municipal foi acionada, devido aos tumultos provocados por um movimento a favor da implantação, ocorrendo tentativas invasão da escola à força, ameaças a educadores, professores, alunos e ex-alunos da escola. Vários participantes do movimento pró-militarização não pertenciam à comunidade local e nem eram ligados a área de educação. Eles tentaram coagir professores, educadores, alunos e ex-alunos da escola Odila Maia Rocha Brito que eram contrários ao projeto de militarização da escola pública. O vereador Gustavo Petta (PcdoB), presidente da Comissão de Educação e Esporte da Câmara Municipal, também foi ameaçado fisicamente por integrantes pró-militarização.

     

     

    Entenda o processo em Campinas pelas palavras de uma educadora

    Por Guida Calixto

     

    O pronunciamento feito pelo prefeito de Campinas Jonas Donizette, ocorrido no 9/10, de que Campinas irá aderir ao projeto do Governo Federal das escolas cívico-militar me motivou a destacar alguns pontos sobre o que está por trás desse modelo de governança. 

    Primeiro ponto que destaco é que esse projeto político de entregar a gestão do ensino municipal de Campinas a setores que não se pautam pela defesa da educação pública, não é novo. 

    Há pouco tempo, mais precisamente em 2013, o mesmo prefeito firmou convênio com a empresa COMUNITAS, que é uma organização social, criada em 2000 por Ruth Cardoso e que atua como articuladora de institutos e empresas e, no caso de Campinas, essa articulação contou também com a empresa de consultoria FALCONI. 

    Segundo ponto importante a ser lembrado é que esse contrato de 2013 foi firmado sem nenhum debate, seja com a sociedade ou com os profissionais da educação, da mesma forma como ocorre agora com o anúncio da adesão às escolas cívico-militares.

    A mesma falácia utilizada em 2013 quando a SME firmou o convênio com as empresas para ocuparem a gestão das escolas municipais, foi utilizada agora; “melhoria no ensino público”. Porém, sabemos bem que o real motivo é privilegiar setores que têm interesses em transformar a educação pública em mercadoria e por isso defende a sua privatização para assim lucrar vultosos recursos através desses convênios com as administrações públicas. Essas empresas têm “apetites insaciáveis” na constante tentativa de transformar o ensino público como algo rentável. Agora, mais uma vez nós educadores somos ameaçados com a invasão de setores que não tem comprometimento com a escola pública, mas querem se utilizar desse espaço para interesses particulares. 

    Temos que diferenciar as escolas militares atuais que são geridas pelas Forças Armadas e com recursos próprios, das escolas cívico-militares (do atual governo federal) que são escolas públicas, de ensino fundamental e médio que terão as gestões transferidas para instituições militares, como a Polícia Militar. Porém, os recursos ali investidos serão aqueles oriundos do orçamento público para a educação pública. 

    Em terceiro destaco o que está preconizado no artigo 206 da Constituição Federal Brasileira que são os princípios basilares do ensino, a saber: 

    1. I) Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola. 
    2. II) Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber. 

    III) Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino

    1. IV) Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais
    2. V)  Valorização dos profissionais do ensino garantidos na forma da lei, planos de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos.
    3. VI)  Gestão democrática do ensino público na forma da lei.

    VII)  Garantia de padrão de qualidade. 

    Com a transformação da escola pública em um espaço militar, tendo a presença de um gestor fardado teremos o rompimento desses princípios basilares constitucionais acima citados. Será a destruição do espaço democrático, público, laico, plural, de respeito às liberdades, às diferenças e ao pensamento crítico. Estaremos submetidos a um processo de domesticação, de pensamento único, de submissão de ideias e de rompimento com a democracia. 

    Por último, um projeto que se pauta no rompimento com o debate democrático, que reafirma a ideia de homogeneidade e de uniformização, traz consigo a negação das manifestações culturais e da diversidade presente no ambiente escolar. Podemos assim definir que o projeto da escola cívico-militar se contrapõe à luta que o movimento negro brasileiro, bem como a dos educadores que trabalham contra a invisibilidade e o apagamento dos negros e negras no Brasil. Um exemplo disso é a padronização do corte de cabelos para meninos, cabelos presos e domados para as meninas e a obrigatoriedade do uso de fardas para todos (as). Regras como essas rompem principalmente com um elemento de extrema importância na luta antirracista que é a construção e valorização da identidade dos (as) alunos (as) negros (as). 

    O convênio assinado em 2013 pelo prefeito Jonas Donizette foi derrotado pelos valorosos educadores do município, que mais uma vez estão sendo convocados a defender a educação pública, laica, de qualidade e democrática em nosso município.

     

    (*) Guida Calixto é monitora de educação infantil na SME em Campinas e também advogada.

     

     

     

    Nota da CUT

    DENÚNCIA GRAVE

     

    No dia 18/12 será votada a proposta de Militarização da Escola Pública em Campinas. Nessa segunda feira dia 16/12, ocorreu uma audiência pública na câmara, onde a truculência na defesa das opiniões favoráveis à proposta fica evidente. Mas o mais grave não é isso. Os tempos sombrios de um governo federal fascista tem seu braço nas ruas de Campinas também. Com esses, de terno e gravata no púlpito das casas do povo a gente vem lidando desde 2016.

    Também nessa segunda feira, o carro de som do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil começou a rodar  os bairros com o informe (que é de interesse público e de direito da população o conhecimento) sobre essa pauta e nesse mesmo dia, por volta de 13h, no bairro São Domingos, o carro foi abordado de forma truculenta por policiais, sob a alegação de estar divulgando inverdades, sendo convidado a se retirar de circulação. Este convite foi feito acompanhado de arma em punho ameaçando o motorista.

    Vale ressaltar que essa ação ocorreu dentro de um período de no máximo uma hora do início do seu percurso, sendo que os autores desse projeto estão com os seus carros de som desde de domingo levando suas inverdades a toda a população da região.

    Esta denúncia é grave e precisa de respostas.  Não podemos aceitar a violência gratuita daqueles que tem interesse nesse modelo de Estado que cerceia as liberdades democráticas e o direito do povo de liberdade de manifestação e do direito a educação crítica e livre. As comunidade locais, as famílias e aqueles que mais serão atingidos por mais este desastre político, devem se manter mobilizadas e se somar a esta luta  que é de todos que defendem um ensino público de qualidade com senso crítico e democrático. O que ocorreu com o carro de som e o motorista, trás a luz o principal objetivo desse projeto que é censurar e oprimir o seu direito de se expressar.

    Vamos resistir para barrar mais este desmando pra nossa cidade, denunciando e combatendo todo e qualquer abuso que tente nos calar.

     

    Campinas, 17 de dezembro de 2019

    Subsede CUT Campinas”

  • Secundaristas ocupam escola contra fechamento de cursos

    Secundaristas ocupam escola contra fechamento de cursos

    Estudantes do ensino fundamental e médio da Escola Estadual Lênio Vieira de Moraes, em Barueri, ocuparam no final da tarde de hoje o prédio da escola em repúdio à decisão do Estado de transferir alunos sem qualquer diálogo. Os estudantes secundaristas tiveram a informação apenas quando as transferências começaram a ocorrer e as matrículas foram canceladas. Os funcionários da escola eram obrigados a dar a notícia aos que seriam remanejados. Alunos, pais e toda a comunidade escolar não foram ouvidos durante o processo.

    Por Cadu Bazilevski, Lucas Martins e Martha Raquel Rodrigues, dos Jornalistas Livres 

    A gestão atual da escola é compartilhada entre a prefeitura do município de Barueri, responsável pelas turmas do ensino fundamental, e pelo governo do Estado de São Paulo, que mantém as turmas de ensino médio e da Escola de Jovens e Adultos (EJA).

    Acontece que, a partir de 2020, o Estado deixará de compartilhar a gestão da escola com o município e alunos secundaristas do ensino médio e da EJA estão sendo transferidos para escolas de outros bairros, mais longes. A ocupação-protesto acontece com o intuito de lutar pela permanência destes alunos que, além de ter uma ligação com a escola, também terão muita dificuldade de locomoção para outros bairros para estudar.

    Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, a PnadC, do IBGE, em 2018 quatro em cada dez brasileiros de 19 anos não haviam concluído o ensino médio ainda, uma realidade ignorada pelo governo estadual de São Paulo.

    Cem pessoas, entre professores, pais, alunos secundaristas e do EJA e funcionários, foram até a frente da escola declarar apoio aos estudantes.

    A Polícia Militar de João Doria foi chamada e um policial agrediu a professora e conselheira do Sindicato dos Professores de Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP), Angela Soares. Neste vídeo é possível ver a ação descontrolada do policial:

    Em entrevista exclusiva aos Jornalistas Livres, Angela disse que veio até a escola em solidariedade aos alunos e decidiu intervir quando um policial tentava invadir o prédio.

    “Eu vi que o policial ia entrar e poderia fazer alguma coisa com os alunos. A gente sabe como os policiais agem nessas situações. Aí eu só falei para ele que ele não podia fazer daquela forma porque os alunos eram menores e eles precisavam que os pais estivessem presentes. Que ele tinha que conversar com eles [os alunos] na presença dos pais e aí ele já veio pra cima de mim perguntando quem eu era, dizendo que eu estava sendo abordada, que eu ia ser presa, que eu ia ser detida. Ele chegou a colocar a mão no meu braço”.

    Estudantes secundaristas e da EJA dizem que não conseguirão se manter estudando 

    Gabriel tem 21 anos e é aluno do EJA. Ele esteve em frente ao colégio em apoio à luta dos estudantes porque sabe da importância da escola para a comunidade. “Eu estudei nesse colégio desde a sexta série e ele foi muito importante pra mim porque eu parei de estudar e quando eu voltei, ele me acolheu. São muitos alunos, e fechando essas turmas, com certeza haverá superlotação em outras escolas. E com essa superlotação os alunos vão parar de estudar”.

    O jovem trabalha como estoquista e diz que, se transferido, não conseguirá se manter estudando. “Mesmo que eles disponibilizem vale-transporte, ainda assim não conseguirei estudar porque eu levaria uma hora até a outra escola e meu horário de trabalho combinado com o horário de entrada na escola não daria certo. Eu teria que pegar dois ônibus”.

    Mariana é secundarista, tem 16 anos e ano que vem cursará o segundo ano do ensino médio. “A gente ficou sabendo pelos funcionários. Teve aluno que foi transferido pra Cotia, outros pra Carapicuíba. Eu estudo aqui há uns 10 anos e essa escola faz parte da minha vida. Sair daqui seria perder um pedaço de mim. Aqui eu formei laços, fiz amizades, eu me criei aqui dentro. Ir pra outra escola, de repente, no penúltimo ano escolar seria como arrancar um pedaço de mim”.

    Márcia é mãe de Mariana e contou que a filha e os demais alunos secundaristas da sala dela enfrentam a dupla jornada de trabalho e estudo. Elas moram bem-próximas à escola e, se transferida, a menina teria que andar pelo menos 35 minutos até a nova unidade de ensino. “Essa ainda é a escola mais próxima, mas ainda não disseram pra onde ela vai. Tem escola que não tem nem quadra”, disse indignada. “Aqui fica naquele disse me disse, ninguém foi informado de nada. Eu apoio muito os estudantes secundaristas que ocuparam a escola e acho que eles só tem que sair de lá de dentro quando tiver um papel oficial com assinatura do governador dizendo que eles não serão transferidos. Caso contrário eles não tem que sair. Ela [a filha] só não tá aí dentro porque foi de última hora a assembleia. Se com ela aqui fora eu já veio declarar apoio, imagina lá dentro”, completou a mãe orgulhosa da luta da filha.

    Um ato de apoio aos alunos foi chamado para amanhã, 17 de dezembro, às 10h, em frente à Escola Estadual Lênio Vieira de Moraes. Para mais informações sobre o ato, CLIQUE AQUI.

    Veja outras reportagens sobre a luta dos estudantes por melhores condições de estudo:

    MINHA ESCOLA, MINHA VIDA – sobre o movimento secundarista de ocupação no Paraná

    MINHA ESCOLA, MINHA VIDA – Não tem conforto, só tem perrengue!

     

  • Cortes e crueldade colocam educação em Mato Grosso a um passo do abismo

    Cortes e crueldade colocam educação em Mato Grosso a um passo do abismo

    Há apenas quatro anos, a Universidade Federal de Mato Grosso era umas instituições públicas de ensino superior que mais cresciam no país. Com os investimentos realizados nos governos petistas, a UFMT chegou aos atuais 25 mil alunos em 133 cursos de graduação e 66 de pós-graduação. São incontáveis as pesquisas realizadas e as diversas iniciativas de extensão que atingem toda a comunidade matogrossense, como foi provado no evento #BalbúrdiaUFMT. Mas, desde as restrições orçamentárias iniciadas em 2014 e principalmente a partir do corte de 30% nas verbas de custeio realizadas em março desse ano, chegou-se a uma situação sem precedentes.

    https://www.facebook.com/pamela.saunders.7/videos/2665189320160502/

    Vídeo: @ferpakkj

    Hoje, por volta das 10:00, enquanto as aulas corriam normalmente, a concessionária de energia do estado, Energisa, simplesmente cortou a luz dos cinco campi mais importantes da instituição, incluindo o de Cuiabá. Alunos, professores e funcionários sabiam que havia contas pendentes de pagamento e uma negociação aberta com a empresa que já havia ameaçado realizar o corte em junho. Mas ninguém foi avisado sobre o dia e o horário, havendo, inclusive, uma reunião marcada para essa tarde entre os gestores das duas instituições. Professores e alunos foram pegos de surpresa no meio da aula, o que aumentou ainda mais a ansiedade geral da comunidade acadêmica já afetada pelo anúncio da reunião dos reitores no MEC, realizada essa tarde, cuja pauta era confusa e não resultou efetivamente em nada. Amanhã pela manhã (9:00hs) faremos um ato em defesa da Universidade, do ensino público gratuito e contra os cortes:

     

    A verdadeira balbúrdia na educação, no entanto, não está restrita às universidades públicas. O ensino estadual, especialmente o secundário, também tem sido alvo de embate, e crueldade, pelo poder público, como relata abaixo o colaborador dos Jornalistas Livres, Francisco Miguel:

    GOVERNO DE MT MANDA CORTAR EMPRÉSTIMO CONSIGNADO PARA PROFESSORES GREVISTAS QUE JÁ PEDEM NOS SINALEIROS

    Os grevistas, que tiveram o ponto ilegalmente cortado por determinação do governador Mauro Mendes (DEM) – e que ilegitimamente foi autorização pelo Poder Judiciário -, também não estão conseguindo mais acesso ao crédito consignado. A medida é mais uma retaliação do Governo aos grevistas que já estão há cerca de 55 dias em greve. Ao entrarem em contato com a Coordenadoria de Controle e Fiscalização das Consignações, os profissionais foram informados que a margem de empréstimo foi zerada para todos os servidores que tiveram o ponto cortado.


    “Fomos informados que o corte aconteceu apenas para os servidores da Educação. Isso caracteriza claramente a perseguição aos professores e o esforço pessoal dele de humilhar e deixar os professores em situação de fome”, afirmou uma servidora.
    O corte de ponto deixou 15.211 profissionais da educação que estão em greve desde 27 de maio sem salários neste mês. O número inclui professores, técnicos e profissionais de apoio das escolas públicas estaduais de Mato Grosso.

    CAMPANHA DE DOAÇÃO SOLIDÁRIA AOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO, SUA CONTRIBUIÇÃO FAZ TODA DIFERENÇA PARA OS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO EM GREVE
    Os profissionais da Educação da rede estadual e o seu sindicato – Sintep MT, têm-se mobilizado, diariamente, na área central de Cuiabá, fazendo pedágio em frente ao Banco do Brasil de manhã e, posteriormente, na Praça Ipiranga. Além de pedirem nos sinaleiros, este ato de arrecadação mais ativo por parte destes profissionais, é composto por outras duas formas, um primeiro designado de ‘alimente quem te alimenta de conhecimento’ no qual a comunidade pode contribuir em dinheiro diretamente no Banco do Brasil, e um outro, em que todos podem doar alimentos não perecíveis junto do Sintep.


    GRANDE ATO, PRÓXIMA QUARTA-FEIRA, ‘PELA EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO
    Sob o lema: ‘A Nossa Luta Unificou! É o Estudante, Funcionário e Professor!’, um Grupo de Estudantes da Baixada Cuiabana, estão organizando e marcaram já para a próxima quarta-feira, mais um grande ato, às 14 h, no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) em frente ao Shopping Pantanal, aqui em Cuiabá. Todas as semanas, depois das Assembleias Gerais – geralmente lotadas, que têm deliberado seguidamente pela continuidade da greve dos trabalhadores na Educação da rede estadual, têm acontecido passeatas pelas as ruas de Cuiabá com milhares de pessoas. Todas as semanas essas passeatas têm sido muito grandes e todas as semanas a imprensa de MT as tem ignorado veementemente.

     

    NOTA DE SOLIDARIEDADE À UFMT

    O Movimento Enfrente se solidariza aos estudantes e servidores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) em razão do corte no fornecimento de energia elétrica, que causa diversos prejuízos, sobretudo, a perda de materiais e amostras de importantes pesquisas realizadas pela instituição.

    Entendemos como muito grave a situação que as Universidades estão chegando diante da austeridade praticada pelo governo Bolsonaro e lembramos que desde o anúncio do corte de verbas a reitora Myrian Thereza havia informado que a Universidade só teria condições para funcionar até o mês de julho, assim como em outros estados esse fato deve se repetir.

    Repudiamos, mais uma vez, o projeto de desmonte das políticas sociais e os cortes de verbas na educação pública que visam o sucateamento e, por fim, a privatização.

    No dia 13 de agosto estaremos novamente nas ruas resistindo pela Educação pública, gratuita e de qualidade, democrática, popular, inclusiva e emancipadora, e defendendo que o quadripé ensino, pesquisa, extensão e permanência seja o caminho de um futuro melhor para os e as estudantes!

    #MovimentoEnfrente #ME #EnfrentePelaEducacao #NaoMateNossoFuturo #DevolvaNossoFuturo #UNE #13A

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  • Greve Geral em São Paulo termina com repressão violenta da Tropa de Choque

    Greve Geral em São Paulo termina com repressão violenta da Tropa de Choque

    Começou às 13 horas com algumas pessoas concentradas no Masp que ajudaram a fechar a Avenida Paulista, pois até aquele momento continuava aberta para os carros. Após o fechamento a população ocupou a avenida e assim apareceu o colorido da multidão.

    O dia era simbólico, 14 de Junho, comemoração de nascimento de Ernesto Guevara, um dos maiores líderes dentre os revolucionários do mundo conhecido como Che Guevara, dia da Greve Geral no Brasil, dia de lutar contra a Reforma da Previdência e o desmonte da educação no país.

    Metrô, trem, ônibus, em sua maioria não circularam, foi possível assistir trabalhadores nas portas das indústrias pedindo para que seus direitos garantidos em constituição fossem respeitados. Escolas públicas e privadas aderiram e fecharam suas portas, ensinando a verdadeira história e cidadania para seus alunos, a aula foi nas ruas.

    De acordo com as entidades 45 milhões de pessoas paralisaram a economia do país. Portos e bancos foram fechados, trabalhadores de indústrias fabris e de montadoras do ABC aderiram ao movimento.

    As ruas de São Paulo estavam vazias, sem trânsito, em plena sexta-feira. A proposta de greve bem-sucedida era confirmada pelo trânsito fluído em uma cidade que vive caótica de carros.

    Com o passar das horas, a Avenida Paulista foi tomada por manifestantes, que levantavam suas bandeiras e cartazes contra a Reforma da Previdência, Bolsonaro, desmonte da educação, da saúde e dos programas de moradias populares.

    E assim começou o ato pacífico, colorido por jovens e adultos, com muita música e poucas bandeiras partidárias, a luta central não eram os partidos e sim o direito humano do cidadão brasileiro de viver com dignidade.

    O que começou de forma pacífica, terminou com a polícia militar e a tropa de choque violentando os direitos da população paulistana.

    Quando o ato chegou no início da Avenida Paulista com intuito de descer a Consolação, policiais sem motivos para truculência, se acharam no direito de jogar bombas de gás lacrimogêneo nos jovens que estavam na linha de frente da manifestação.

    Policiais mandados como ratos, que não entenderam até o momento que também são funcionários públicos, que recebem salários miseráveis e que estão sendo tomados dos seus direitos, ainda sim, revidaram na população que estava lá, lutando por eles e pelos seus filhos.

    Logo a fumaça do terror, tomou conta do local. Centenas de jovens foram atingidos pelo horror de uma ditadura disfarçada de democracia, impedidos de apenas caminhar num protesto legal e previsto em constituição. A linha de frente do ato, como uma forma de proteção, criou barreiras e atearam fogo para que a polícia não se aproximasse das pessoas com seus cruéis cassetetes.

    Não foi possível descer a Consolação, mas ainda assim, o ato persistiu e seguiu pelas ruas paralelas com destino ao centro de São Paulo. Mais tropas de choque chegaram à Praça da República para esperar a manifestação que seguia adiante.

    O movimento se dividiu como uma alternativa a represália, metade seguiu até o Teatro Municipal, outra parte se dirigiu para a Praça da República. Todos chegaram, objetivo cumprido apesar da força tarefa da polícia, comandada pelo Governador João Dória, de destruir o que estava lindo.

    Na Praça da República mais de cem policiais esperavam os manifestantes, em uma postura clara de violência e repressão por quem lutava pelos direitos dos cidadãos.

    Naquele momento as mulheres foram as protagonistas, de mãos dadas fizeram um cordão para que a polícia não continuasse a agir com truculência e mesmo ameaçadas pelas bombas que se via claramente nas mãos da tropa de choque resistiram e gritaram “Violência não”.

    A pergunta que não quer calar!

    Fica a pergunta, quão legítima é uma Reforma da Previdência, proposta por um presidente que se aposentou aos 33 anos e por um governo que votou a favor de uma aposentadoria especial para eles?

    O Brasil não precisa da Reforma da Previdência

    É de extrema importância que entendam que a Previdência Social tanto como política pública quanto como uma ferramenta jurídico-estatal foi conquistada após uma longa luta travada entre a classe trabalhadora, composta pela maioria da população e a burguesia, composta pela minoria da população detentora dos meios de produção e da exploração à mão de obra do trabalhador, os donos do capital.

    E desde então a elite ainda alimenta em cadeia cíclica todas as relações sociais presentes sejam por interesses individuais de cada classe ou segmento social, como também por interesses coletivos (no caso de vocês, a bancada favorável à Reforma) e a Previdência Social foi elaborada, proposta e aprovada para garantir o mínimo de equilíbrio e ordem social como um acordo de paz pública.

    A Previdência Social garante ao trabalhador e seus dependentes menores, amparo quando ocorre a perda, permanente ou temporária de sua capacidade colaborativa, ela está inserida em um conceito mais amplo que o da Seguridade Social, Saúde, Assistência Social e Previdência Social, é um fator muito importante no combate à pobreza e à desigualdade, que promove aos idosos e as pessoas por ela beneficiadas uma relativa estabilidade social.

    Nesse contexto a população entende que, para que continue a existir é necessário que cada trabalhador contribua com um percentual do seu salário, fato que ocorre mensalmente em toda a classe trabalhadora, eles pagam a sua parte. Mas por força de interesses individuais ou coletivos em favorecimento de grandes empresários a parte deles não é repassada.

    Segundo relatório datado de 2017 da CPI da Previdência, foi constatado que empresas privadas sonegaram, até aquela presente data, mais de R$ 450 bilhões à Previdência e conforme a Procuradoria da Fazenda Nacional, somente R$ 175 bilhões correspondem a débitos recuperáveis, isto quer dizer que, além de não repassarem para a Previdência as contribuições dos trabalhadores, esses empresários também embolsam recursos que não lhes pertencem.

    Desta forma, o fato da corrupção exercida entre alguns políticos e empresários, colocam o povo trabalhador brasileiro a pagar uma conta que não é dele. Assim estão dispostos a abrir mão da forma amistosa e romântica a qual a relação burguesia e proletariado tomou nos últimos anos e não mais se colocaram em função da submissão popular em prol de interesses pessoais, que é continuar a elevar cada vez a corrupção político-empresário no país.

    Um recado aos políticos favoráveis a Reforma da Previdência

    Aos senhores políticos favoráveis a Reforma da Previdência, existe uma oportunidade de repensar seus próximos passos, em uma análise que demonstrará o quanto é inconstitucional a aprovação da medida, na certeza de que não será interessante para o governo uma ruptura completa de paz entre o capital e o proletariado.

    Melhor escolherem pelo justo e pela paz entre a nação, única forma para que o sangue do povo brasileiro não suje vossas mãos e marque o sobrenome de cada um dos políticos favoráveis a Reforma e de seus familiares por todo o futuro da história.

    Abaixo motivos pelos quais você não deve apoiar essa Reforma

    • A Reforma da Previdência fere o Art. 6º da Constituição que prevê como direito a todos os trabalhadores brasileiros a proteção social e a Previdência pública.
    • A Reforma da Previdência fere o Art. 60º que define o princípio do “não retrocesso” de direitos e garantias individuais.
    • Exigir 40 anos de contribuição para se ter acesso ao benefício integral em um país que findou sua legislação trabalhista é transformar a classe trabalhadora em escravos.
    • Rebaixar o BCP para menos da metade de um salário mínimo é colocar em seres humanos em situação de pobreza extrema.
    • A Reforma favorecerá os mesmos bancos que devem a previdência, obrigando cidadãos a contribuição privada.
    • O problema do país são os juros da dívida pública e não a Previdência, em 2018 pagamos R$ 380 bilhões de juros.
    • 1% da população, os verdadeiros privilegiados, não pagam tributo sobre a renda que recebem. É preciso findar a lei que garante isenção para lucros e dividendos de acionistas, só em 2018 foram R$ 50 bilhões gerados entre lucros e dividendos que deveriam ser taxados.
    • Antes de qualquer Reforma da Previdência é preciso de uma Reforma Tributária. Nossa tributação é taxada sobre o consumo e o certo seria taxá-la sobre a renda e a propriedade da classe mais rica. É muita desigualdade cobrar do pobre a mesma taxa de imposto que é cobrado do rico, que se utiliza da mão de obra trabalhadora para enriquecer cada vez mais, assim desestabilizando a desigualdade social do nosso país.
    • De acordo com o relatório emitido pela CPI da Previdência não há déficit. Segundo cálculos da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Anfip) citados no relatório da CPI, a Seguridade Social apresentou média de saldo anual positivo de R$ 50 bilhões entre 2005 e 2016.
    • Ainda segundo o relatório emitido pela CPI da Previdência os analistas foram categóricos: “As inconsistências nos modelos de projeção do governo descredenciam qualquer avaliação séria sobre esses números”. Isso quer dizer que vocês não possuem capacidade para realizar estimativas populacionais e financeiras adotadas pelo governo para definir o déficit da Previdência Social.
    • Em um país tão desigual se tornará impossível para os trabalhadores pobres comprovarem a idade mínima e o tempo de contribuição. Eles serão jogados para a assistência e isso tornará nosso país a maior população de idosos miseráveis.
    • Para que a economia do nosso país gire é preciso que a população tenha dinheiro para gastar, conceito básico aprendido no ensino fundamental. Se os senhores cortam a verba da população a mesma não terá a renda necessária para consumir, levando a economia brasileira ao colapso.
    • A Reforma deve ser igualitária, para todos a mesma reforma, por que militares e políticos terão privilégios, o que difere os senhores de nós? Senhores sinto informar, mas somos todos Seres Humanos.
    • Essa Reforma vai custar caro para o país, pois durante a transição estima-se que a Previdência gaste mais de R$ 6,6 trilhões, pois quando os trabalhadores migrarem para o novo sistema, deixarão de contribuir com o atual, causando um rombo financeiro para pagar os já aposentados.
  • Lição de coragem e Democracia: dois alunos do Colégio Bandeirantes exigem Lula Livre bem ao lado de Bolsonaro

    Lição de coragem e Democracia: dois alunos do Colégio Bandeirantes exigem Lula Livre bem ao lado de Bolsonaro

    Por Laura Capriglione e Lina Marinelli, dos Jornalistas Livres

     

    “E este movimento do pessoalzinho aí que eu cortei verba, o que vocês acharam?”, indagou Jair Bolsonaro a um grupo de 36 alunos do Colégio Bandeirantes, o Band, como a escola é carinhosamente chamada, que faziam uma excursão pela Capital Federal neste sábado (18).

    “Um lixo. A gente é estudante de verdade. A gente estuda”, respondeu um dos alunos.

    A imprensa deu destaque para a frase do aluno chamando seus colegas das escolas públicas e de várias particulares de “lixo”. Deu voz para os estudantes gritando “Ô Bolsonaroooo, cadê você, eu vim aqui só pra te ver”.

    Seria a prova de que, ali, onde se pratica um ensino hiper-competitivo, todos os alunos e professores endossam os cortes de 30% nos orçamentos das universidades e institutos federais de ensino. Só que não.

    O que não se mostrou, o que a assessoria de imprensa de Bolsonaro escondeu e o Colégio Bandeirantes convenientemente deletou foi a “foto pra posteridade” do encontro de Bolsonaro com os alunos. Por quê?

    Porque ali, no meio de tanta festa, de tanta balbúrdia, de tantos sorrisos perfeitos de estudantes brancos, 15-16 anos, frequentadores de uma escola de elite, que cobra mensalidades de R$ 4.000… Ali, bem pertinho de um Bolsonaro “simplão” na medida certa, de sandália, short amarelo e a camisa do segundo uniforme da Seleção Brasileira, feliz por ainda receber algum apoio quando até mesmo os entusiastas de sua candidatura pulam do barco… Bem, ali, no meio da festa, dois estudantes tiveram a coragem de destoar da farra, conscientes de que não há o que comemorar no Brasil dos nossos dias.

    Trata-se de Ivan, de 15 anos, e G., de 16 anos, que corajosamente, no meio da euforia juvenil do presidente e seus fãs, ousaram desafinar o coro dos contentes e fazer um “L” perfeito, “L” de Lula Livre, contra o desmanche da Educação e a destruição de direitos, que Bolsonaro representa.

    Tem mais: quatro alunas não quiseram sair na foto-felicidade e retiraram-se, chorando.

    Mauro de Salles Aguiar, diretor presidente do Colégio Bandeirantes, apoiou o presidente Jair Bolsonaro nas últimas eleições (fez campanha contra Fernando Haddad e o PT), além de explicitamente endossar a candidatura da atual senadora Mara Gabrilli, do PSDB de São Paulo, enviando propaganda aos pais.

    Para ele, os Jornalistas Livres enviaram o seguinte questionamento:

    Prezado professor Mauro Aguiar,

    Estamos escrevendo uma reportagem sobre o encontro do presidente Jair Bolsonaro com os estudantes do Colégio Bandeirantes, neste sábado (18).

    Segundo uma mãe de aluno essa atividade de visita a Brasília é realizada todos os anos. Havia outros colégios visitando o palácio no mesmo momento, mas o presidente resolveu conversar apenas com os seus alunos. Por quê?

    O senhor apoiou o presidente Jair Bolsonaro nas últimas eleições (fez campanha contra Fernando Haddad e o PT), além de apoiar a candidatura da atual senadora Mara Gabrilli, do PSDB. Qual a sua opinião sobre a Escola Sem Partido, projeto tão caro ao presidente Jair Bolsonaro?

    Gostaríamos de entrevistar o estudante que trava o diálogo a seguir com o presidente. Claro que isso seria feito com a anuência dos pais ou responsáveis. O senhor poderia intermediar esse contato?

    Aqui o diálogo:

    “E este movimento do pessoalzinho aí que eu cortei verba, o que vocês acharam?”, indagou Jair Bolsonaro a um grupo de 36 alunos do Colégio Bandeirantes, uma das escolas mais caras de São Paulo, que faziam uma excursão pela Capital Federal neste sábado (18).
    “Um lixo. A gente é estudante de verdade. A gente estuda”, respondeu um dos alunos.”

     

    Hoje, domingo (19), os meninos e meninas do Band chegarão a São Paulo, vindos de avião de Brasília. No saguão do desembarque, a mãe de Ivan, Fabiana Kelly, estará com outras mães, para levar uma mensagem de tolerância e amor a todos os alunos, e de solidariedade a Ivan e aos demais membros da comunidade escolar que se sentiram usados e ultrajados pela propaganda pró-Bolsonaro.

    “Eles não autorizaram que tivessem suas imagens juvenis usurpadas pela máquina de campanha do presidente.”

    “Mas nossos cartazes são de amor e de ênfase no diálogo. O bullying com quem pensa diferente de nós é um caminho sem volta para a barbárie”, diz Fabiana.

     

    Nesta segunda-feira (20), o Colégio Bandeirantes enviou à imprensa a seguinte nota, que reproduzimos na íntegra:

    “Há 6 anos, os estudantes do ensino médio do Colégio Bandeirantes fazem uma viagem para Brasília. Acompanhados de professores de história e geografia, os alunos têm a oportunidade de conhecer o Palácio da Alvorada, o Senado, a Catedral Metropolitana de Brasília, entre outros espaços. A proposta é promover uma vivência em lugares onde a política brasileira acontece, saber mais sobre personagens da história do Brasil e, ainda, desfrutar da arquitetura e da arte presentes na capital. Para a surpresa da equipe pedagógica e dos próprios jovens, pela primeira vez, um Presidente da República  recepcionou-os de forma não programada e casual. Sem restrição ideológica, a instituição valoriza a pluralidade, o pensamento crítico e a liberdade de expressão de sua comunidade de estudantes.”