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Categoria: Direitos Humanos

  • Herch Moysés Nussenzveig: Impeachment já para o genocida

    Herch Moysés Nussenzveig: Impeachment já para o genocida

    Nesta terça-feira (5/5), um dos mais destacados cientistas brasileiros publicou na “Folha de S.Paulo” um artigo contundente a respeito do desgoverno atual do País, exigindo a saída imediata e o impeachment de Bolsonaro. Nele, o pesquisador alinha os crimes do monstro que ocupa a Presidência, para concluir que já basta do genocida, basta do obscurantismo. Precisamos de luz. E disso o professor Herch Moysés Nussenzveig entende.

    Moysés Nussenzveig era diretor do Instituto de Física da USP, quando estudei lá. Um homem das luzes, literal e figurativamente, ele fez do arco-íris e da aura seus principais focos de estudo. E destacou-se por isso. Em 1986, recebeu o Prêmio Max Born, outorgado pela Optical Society of America a cientistas que contribuíram de forma decisiva para o estudo da óptica.

    O professor Moysés Nussenzveig foi além e preocupou-se também com a divulgação científica. Foi um entusiasta da coleção “Os Cientistas”, idealizada pelo seu colega, o professor Isaias Raw, que quinzenalmente colocava nas bancas de revistas de todo o Brasil uma caixinha de isopor contendo a biografia de um grande cientista e alguns insumos básicos para montar o aparelho ou o experimento que notabilizou o pesquisador homenageado. Era sensacional. Gerações de cientistas atuais construíram seu primeiro microscópio com a coleção “Os Cientistas”.

    Hoje se vê como a divulgação científica é necessária. A falta dela é em grande medida responsável pelo surto fundamentalista e anti-científico que assola o País, começando por Bolsonaro e seus seguidores terraplanistas, olavetes, fanáticos religiosos e negacionistas do aquecimento global e da letalidade do novo coronavírus. A seguir o texto desse grande físico, que honra a memória de homens como Galileu Galilei (1564-1642), afrontando com a verdade a ousadia dos carrascos. “Eppur si muove” (“contudo, ela se move”) teria dito Galileu, ao sair do tribunal do Santo Ofício, referindo-se à Terra. Sim, ela se movia em torno do Sol. Não estava fixa no centro do Universo com os corpos celestes, inclusive o Sol, girando ao seu redor, como queria a Igreja Católica.

    Que tempos são esses em que temos de lutar para fazer valer conhecimentos adquiridos há quase 400 anos?

    São tempos de luta.

     

     

     

    Moysés Nussenzveig
    Moysés Nussenzveig

    Por Herch Moysés Nussenzveig

    Um editorial do Washington Post de 14 de abril discutiu a conduta de governantes de todo o mundo na pandemia de Covid-19. Jair Bolsonaro foi eleito de longe o maior malfeitor, por “colocar em risco” toda a população do Brasil. O jornal compara os índices de aprovação do ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta com os de Jair, um caso claro de ciúme.

    No dia seguinte, Mandetta foi demitido. Já a demissão de Sergio Moro teve outro motivo. Jair manifestara “preocupação com inquéritos em curso no STF”. Justifica-se o pavor: ele participou de atos de incentivo a um novo AI-5 e de ataques ao Congresso e ao STF. Quer “ter um delegado que eu possa interagir com ele” (sic), recebendo relatórios diários. Emula o Grande Irmão de “1984”.

    Eleito deputado federal, Bolsonaro passou 27 anos como membro obscuro do baixíssimo clero. Ao votar para o impeachment de Dilma, homenageou o torturador-mor Ustra como “herói nacional”. Nos vídeos da campanha eleitoral simulava empunhar dois revólveres. Como Dom Corleone, tem capangas e exige obediência absoluta. Acabou eleito presidente pelo voto contra o PT.

    Em 14 de março de 2018, Marielle Franco foi assassinada. O carro utilizado pelos matadores era guiado pelo ex-PM Élcio Queiroz, que entrou no condomínio onde residem Jair e o filho Carlos pedindo que o porteiro ligasse para “Seu Jair”. Em vídeo gravado à noite, no exterior, Jair, visivelmente apavorado, deu um álibi: estava em Brasília quando do atentado. Não é preciso ser Sherlock Holmes para suspeitar de Jair e dos filhos como cúmplices ou mandantes (ainda não identificados).

    O racismo de Bolsonaro é patente. Em palestra, atacou os quilombolas, dizendo: “Nem para procriar servem mais”. Insultou os indígenas ao afirmar que “são homens como nós”. Como quem, Jair? Parafraseando Primo Levi, “é isto um homem?”. Em relação às mulheres, disse à deputada Maria do Rosário (PT-RS): “Não te estupro porque você não merece”. Invasões a terras indígenas e estímulos para explorá-las dispararam. Também cresce o número de índios assassinados.

    As afinidades com Hitler e o nazismo afloraram quando nomeou Roberto Alvim secretário da Cultura. Em 18 de janeiro, este divulgou um vídeo repetindo frases de Goebbels, de 1933, ao som de Wagner. A repercussão mundial levou à demissão do secretário. Visitando o Chile, Bolsonaro ofendeu o povo chileno ao elogiar o ditador Pinochet.

    Além de vítimas atuais e futuras da pandemia, e das citadas acima, quantas mortes Bolsonaro provocou e virá a provocar? Quantos morrerão nas estradas pelo afrouxamento de regras do trânsito? Quantos bebês vitimará flexibilizando o uso das cadeirinhas?

    Ao estimular o desflorestamento e não combater as queimadas na Amazônia, fomenta o aquecimento em todo o planeta. Jair é o vilão-mor do meio ambiente, com sérios prejuízos à imagem do nosso país.

    Eu acuso Jair Messias Bolsonaro de violações do Código Penal e perjúrio, atentando quase diariamente contra a Constituição que jurou defender! Acuso Jair Messias Bolsonaro de genocídio premeditado! São crimes de responsabilidade, justificando o seu impeachment.

    Já foram encaminhados ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), muitos pedidos de impeachment. Ele foi instado pelo STF a manifestar-se sobre a abertura do processo. Pelo bem de sua biografia e cumprimento da vontade do povo brasileiro expressa nesta época de isolamento, através de panelaços em todas as capitais do país, faço votos de que ele atenda prontamente a essa vontade.

    Fora, Bolsonaro. Impeachment já!

  • Líder Kaingang é agredido violentamente em sua terra no interior de São Paulo

    Líder Kaingang é agredido violentamente em sua terra no interior de São Paulo

    A Rede de Museologia de São Paulo divulgou nota pública em que repudia e denuncia ato de violência praticado contra Zeca Kaingang, da Terra Indígena Vanuíre, em Arco-Íris, São Paulo. Ela tem se mobilizado para tornar público o caso e que o agressor seja identificado e punido.
    A agressão provocou lesões e traumatismos profundos pcomo resultado do ato violento  Kaingang foi  internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) da Santa Casa de Tupã. O ataque aconteceu entre os dias 4 e 5 de abril e ainda não se sabe o que motivou a agressão.

    Rede SP de Memória e Museologia Social também mobilizou grupos e instituições da Museologia Social, nacional e internacional, em uma rede de apoio formada por militantes, ativistas, pesquisadores, estudiosos e colaboradores da causa indígena que têm acompanhado os desdobramentos junto aos movimentos sociais e de direitos humanos. Além disso foi acionado o Conselho Estadual de Direitos Humanos para acompanhar o caso.
    O Movimento Internacional para uma Nova Museologia (MINOM) emitiu nota em repúdio ao atentado cometido contra Zeca Kaingang, ressaltando que “cada vida humana importa, e a vida de um homem que preserva em seu corpo e em seu viver a integralidade da cultura de seu povo merece nosso respeito e proteção. Neste momento em que um valoroso Kaingang mais uma vez resiste e luta pela vida, na UTI da Santa Casa de Tupã, manifestamos nossa solidariedade ao Zeca, à sua família e a todos os que lutam pela existência Kaingang.
    Juntando nosso grito aos que exigem justiça e reparação. Fortalecemos a rede de apoio e solidariedade ao Zeca e demais Kaingangs, para que a paz e o entendimento possam prevalecer na Terra Indígena Vanuíre. Não permitiremos que o silêncio e a invisibilidade estejam, mais uma vez, a serviço do apagamento da memória e da existência de um povo.
    Sangue indígena: Nenhuma gota mais!”

    Quem é

    Filho de Ena e neto de Candire Kaingang, Zeca é herdeiro e continuador da cultura Kaingang, preservada por mulheres gloriosas de uma estirpe que lutou bravamente pela preservação da Terra Indígena Vanuíre. Candire, sua avó, atravessou o século XX como uma brava guardiã das tradições de um povo da terra-mãe estendida sobre o que hoje é o oeste e centro-oeste paulista.
    Quando menina, em 1912, Candire foi testemunha resistente dos violentos processos de expropriação de terras que entraram para a história oficial como a ‘pacificação’ Kaingang. Com coragem, ela educou seus descendentes nas profundas tradições de seu povo: a língua, a dança, os cânticos, a alimentação, a agricultura, os segredos da mata e das ervas e a arte cerâmica, assim como a espiritualidade que sustenta a existência de seu povo.
    Honrando sua ancestralidade, Zeca dá continuidade a esse legado imprescindível não apenas ao povo Kaingang mas à humanidade, que só se constitui no respeito à diversidade cultural.

  • LGBTQIA+. Resistência do Movimento em tempos de COVID-19

    LGBTQIA+. Resistência do Movimento em tempos de COVID-19

    Por Karina Iliescu, para os Jornalistas Livres

    Fotos: Sato do Brasil

    Membros da Frente Parlamentar Em Defesa dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, no dia 08 de abril de 2020, abriram um ofício à Secretaria dos Direitos Humanos e Cidadania da Cidade de São Paulo, cobrando ações emergenciais, frente à crise do coronavírus, para proteção da população LGBTQIA+ em tempo.

    Maria Clara Araújo, educadora em formação/PUC-SP e articuladora política na Mandata Quilombo da Deputada Erica Malunguinho respondeu algumas perguntas sobre a articulação e a prefeitura neste momento de pandemia.

    LGBTQIA+
    Deputada e educadora Erica Malunguinho

    – Existe alguma forma que a população possa estar ajudando para pressionar mais a prefeitura?

    Sim, sem dúvidas. Toda colaboração de outros coletivos, entidades e ativistas é bem vinda – inclusive, convidamos que venham construir a Frente conosco. Como exemplo, ofícios também são construídos pelo associativismo civil e se configuram como um instrumento de pressão institucional.

    A sociedade civil tem se articulado bastante para garantir cestas e produtos de higiene para LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade. São iniciativas importantes, mas que evidenciam a omissão do Estado. Temos equipamentos LGBTI no município, temos uma Secretaria que cuida da pasta e é legítimo que sociedade civil indague e pressione por proposições que incidam objetivamente na garantia de subsídios, atendimento psicológico e acolhimento seguro para indivíduos LGBTQIA+ em um momento de crise como esse.

    Também acredito ser benéfico quando portais jornalísticos visibilizam proposições como essa e questionam a Secretaria sobre as ações que estão sendo pontuadas pela sociedade civil. Ficamos felizes com a procura do Jornalistas Livres e esperamos que outros portais também se engajem. Não só em São Paulo, como em todo Brasil.

    LGBTQIA+
    Intervenção do coletivo casadalapa. Projeto Famílias LGBT no Largo do Arouche, São Paulo.

    – E agora no momento de pandemia, as frentes que cuidam da população LGBTQIA+ estão sofrendo com falta de recurso pela prefeitura para estar viabilizando as ações?

    Tendo em vista que os equipamentos LGBTI do Município são referencia para a população LGBTQIA+, é compreensível que os pedidos de ajuda para se alimentar ou para adquirir produtos de higiene cheguem por via dos Centros. Infelizmente, as OS que administram os Centros não conseguem dar conta sozinhas da grande demanda que vem chegando por conta do Covid-19. É urgente um apoio significativo por parte Secretaria de Direitos Humanos e da Coordenação Municipal para Políticas LGBTI aos Centros de Cidadania LGBTI.

    As OS criaram campanhas e isso é válido, mas enquanto Frente Parlamentar que atua na institucionalidade, nos cabe indagar e exigir ações efetivas que partam da própria Secretaria de Direitos Humanos e da Coordenação Municipal para Políticas LGBTI. Enquanto movimentos, é visível como a vulnerabilidade se acentuou para LGBTQIA+ no Município e no Estado. Portanto, que o Poder Público reconheça as questões postas pela população LGBTQIA+ nesse momento. Os pontos elencados pelo Ofício se baseiam nessas questões.

    LGBTQIA+
    Intervenção do coletivo casadalapa. Projeto Famílias LGBT, no Largo do Arouche, São Paulo.

    As medidas são:
    – A importância de um repasse emergencial para os Centros de Cidadania LGBTQIA+, a fim de suprir a grande demanda de cestas básicas e produtos de higiene;
    – A viabilização, de forma conjunta com a SMADS, do cadastramento no CadUnico dos LGBTQIA+ que constam no cadastro de atendimento dos Centros LGBTQIA+ e dos Centros de Acolhimento da Assistência que atendem LGBTQIA+. E, caso exista algum impasse cadastral, que as Secretarias possam auxiliar juridicamente na efetivação do cadastro da LGBTQIA+;
    A criação de uma campanha nas redes da Secretaria sobre a importância do CadUnico para LGBTQIA+;
    – A criação de um “gabinete” LGBTQIA+ de crise para o enfrentamento do coronavírus, de modo a possibilitar a escuta ativa das demandas e construção de um plano de ação. Nesse gabinete, contaríamos com a Secretaria de DH, SMADS, Coordenações Municipal e Estadual de Políticas LGBTQIA+ e representantes do movimento LGBT com experiência no atendimento a população LGBT vulnerável, como o Coletivo Arouchianos, Projeto Seforas, TransEmpregos;
    – A importância dos psicólogos dos centros de cidadania LGBTI realizarem o acolhimento e o atendimento aos LGBTQIA+ que procurem o serviço diante do aumento de pessoas com vulnerabilidade psíquica em tempos de Covid-19. Caso seja possível, que os atendimentos também possam ocorrer através de videoconferência, visando o cumprimento da quarentena para os residentes da cidade.
    – O acolhimento, por parte dos Centros de Cidadania, de mulheres LBT vítimas de violência doméstica e o acompanhamento dos processos preliminares com essas mulheres, o que inclui registro de ocorrências, exame de corpo de delito e encaminhamento para um abrigo onde a segurança da mulher esteja resguardada;
    – A garantia de espaço seguro, de forma conjunta com a SMADS, às pessoas LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade, sobretudo mulheres trans, travestis, homens trans e pessoas transmasculinas.

    Saiba quais são os membros que formam a Frente Parlamentar Em Defesa dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+ e as informações completas do ofício no link: https://www.professorabebel.com.br/wp-content/uploads/2015/12/OficioLGBTQIA.pdf

     

    LGBTQIA+
    Desfile da Daspu no Festival Verão Sem Censura
  • Estreia a série “Vozes da Floresta”

    Estreia a série “Vozes da Floresta”

    “Vamos ver como que a gente vai seguir daqui pra frente com o ataque contra a floresta e contra o povo da floresta.”

    Está no ar o primeiro episódio da série “Vozes Da Floresta – A Aliança dos Povos da Floresta de Chico Mendes a Nossos Dias” com Ailton Krenak. Nesta entrevista ele fala sobre a ideia da Aliança para os dias de hoje, o que é ser índio no Brasil, a ideia de resgate e identidade, a importância da memória, o modo de gestão territorial indígena, a relação dos movimentos sociais com a política institucional e as contradições e desafios que o atual momento histórico coloca a todos os brasileiros.

    Assista e compartilhe https://youtu.be/KRTJIh1os4w

    “Vozes Da Floresta – A Aliança dos Povos da Floresta de Chico Mendes a Nossos Dias” é uma série composta por entrevistas com lideranças indígenas, extrativistas e militantes refletindo sobre as lutas pela preservação das florestas e dos direitos dos povos que a habitam, lembrando o passado e o presente desta poderosa articulação entre indígenas e seringueiros.

    Conheceremos momentos importantes dessa história, que teve entre suas lideranças Chico Mendes, seringueiro que conseguiu projeção internacional nos anos 1980 discutindo a questão da preservação das florestas brasileiras, e que por sua luta foi covardemente assassinado a mando de fazendeiros em 1988.

    A Aliança dos Povos da Floresta surgiu em meados dos anos 1980, quando algumas das mais importantes lideranças dos povos indígenas e seringueiros do Brasil se uniram para reivindicar demarcações de territórios e a criação de reservas extrativistas. Era o momento de abertura democrática e a assembleia constituinte começava seus trabalhos. O encontro e a pressão destas lideranças foi fundamental para a inclusão na constituição de direitos em defesa dos povos indígenas e proteção do meio ambiente.

    Ao longo de seis semanas faremos uma reflexão sobre os legados da Aliança dos Povos da Floresta para o meio ambiente, os erros e acertos das lutas nos anos 1990 e 2000 e a retomada da Aliança nos dias de hoje, quando vivemos um processo acelerado de destruição das florestas e seus povos, com o incentivo do atual Governo Federal.

    O primeiro episódio é com Ailton Krenak que discutirá a ideia da Aliança para os dias de hoje, o que é ser índio no Brasil, a ideia de resgate e identidade, a importância da memória, o modo de gestão territorial indígena, a relação dos movimentos sociais com a política institucional e as contradições e desafios que o atual momento histórico coloca a todos os brasileiros.

    A série foi filmada no Acre, São Paulo, Brasília e Minas Gerais, conversando com mais de 20 entrevistados. Destas filmagens resultarão 12 video-reportagens que serão exibidas as terças e quintas-feiras no canal do Le Monde Diplomatique posteriormente um webdoc que será lançado no segundo semestre. Este material é parte do documentário “Não verás país nenhum”, que será lançado no início do próximo ano.

    Dirigida e roteirizada pelo cineasta e jornalista Thiago B. Mendonça, autor de diversos filmes premiados entre ficções e documentários como “Jovens Infelizes” (2016), “Entremundo” (2015), “Procura-se Irenice” (2015), “A guerra dos gibis” (2013) e “Piove, il film di Pio” (2012), a série foi produzida com o apoio do Rainforest Journalism Fund, em associação com o Centro Pulitzer. A produção é da Memória Viva, em parceria com o Le Monde Diplomatique e tem o apoio da InfoAmazonia e da Saci Filmes do Acre.

  • Centro Ecológico Yary Ty do Jaraguá. Um sonho possível

    Centro Ecológico Yary Ty do Jaraguá. Um sonho possível

    INFORME 10 abril 2020
    Centro Ecológico YARY TY

    Por: Povo Guarani da Terra Indígena Jaraguá

    Vitória!

    A luta pela criação do Centro Ecológico Yary Ty, em terreno que a Imobiliária Tenda pretende construir 11 torres para 880 unidades de apartamentos inicialmente e projeta mais 10 torres totalizando 1.620 unidades sob alegação de suprir demanda de moradia social, segue vitoriosa.

    Tal construção, como já esclarecido em nossos informes fere, em todas as instâncias, determinações legais, constitucionais e ambientais.

    As obras e manejo arbóreo estavam suspensas até a realização de uma 2a. audiência na 14ª Vara Cível Federal de São Paulo, designada para dia 06 de maio, que visto estado de pandemia COVID-19, foi cancelada.

    Centro Ecológico Yary Ty
    Possível território do Centro Ecológico Yary Ty

    Ademais foram consideradas pela juíza as considerações de entidades especializadas, como IBAMA, FUNAI, CETESB, Conselho Gestor da Reserva de Biosfera – Cinturão Verde, Conselho Consultivo do Parque Estadual do Jaraguá e Fundação Florestal, no sentido de haver fundada dúvida sobre ter sido seguido o correto procedimento de licenciamento ambiental e autorização dos órgãos protetores dos direitos indígenas.

    No decreto expedido em 07 de abril, desta semana, atendendo o pedido das Defensoria Pública da União (DPU) e Defensoria Pública do Estado de São Paulo (DPE), estudo do parecer do Ministério Público Estadual (MPE) e dado ciência dos fatos contestados contra a TENDA pelo Ministério Público Federsl (MPF), ficou entendido, através da Decisão da Justiça Federal que há potencial risco de dano ao meio-ambiente e ao direito indígena posto nos autos.

    Citação:

    “… O princípio da precaução, caro ao Direito Ambiental, ordena que diante de situação potencialmente prejudicial ao meio-ambiente, ainda que seus resultados não sejam de todo conhecidos, sejam tomadas as medidas mais cautelosas e protetivas, de modo a evitar dano irreparável. As manifestações em audiência de entidades especializadas, como IBAMA, FUNAI e CETESB, também foram no sentido de haver fundada dúvida sobre ter sido seguido o correto procedimento de licenciamento ambiental e autorização dos órgãos protetores dos direitos indígenas…

    … Do que a DPU relata, há substancial controvérsia jurídica sobre a possibilidade de realização de empreendimento na área, considerando, entre outras questões, os diplomas que determinam a existência de zona de amortecimento…”

    Da luta e pela vitória, dos desejos atendidos, da fé e rezo do Povo Guarani, da manifestação por acreditar que vale a pena sim o enfrentamento pela garantia dos direitos adquiridos, que vale a pena sim os jovens que estiveram a frente dessa luta serem exemplo de uma nova geração de guerreiros e guerreiras, da união de todos e todas que acreditam nas forças da Mãe Natureza, “… fica determinado que a TENDA se abstenha de realizar quaisquer atividades de manejo ambiental ou qualquer obra para implantação do empreendimento imobiliário na área objeto dos autos, até ulterior deliberação.”

    Vitória!!! A luta segue pela criação do Centro Ecológico Yary Ty e Memorial da Cultura Guarani!!! Aguyjevete a todo povo de luta!!!

    Acompanhe a luta por aqui.

    https://www.facebook.com/existeguaraniemsp/

     

    Fotos: Sato do Brasil/Jornalistas Livres. Video: FalangeAv/Paulo Pereira. Música captada por: Cassandra Melo. Voz: Melina Mulazani. Texto do vídeo: Texto: Blog do ISA (Instituto Sócio Ambiental)

     

  • Primeiro indígena aldeado a morrer por covid-19 é de área próxima a garimpo ilegal

    Primeiro indígena aldeado a morrer por covid-19 é de área próxima a garimpo ilegal

    O jovem de 15 anos da etnia Yanomami Alvanei Xirixana faleceu na noite dessa quinta-feira (9) no Hospital Geral de Roraima, em Boa Vista, em decorrência da covid-19. Esta é a primeira morte de indígena confirmada pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde. Os outros indígenas mortos eram citadinos (que vivem na cidade) e não foram contabilizados como tal de acordo com os critérios do órgão público.

    Xirixana estava internado desde 3 de abril, mas já havia passado pelo hospital com os sintomas do novo coronavírus em 18 de março. Na primeira internação, foi liberado ainda que não tenha sido realizado o teste para saber se estava infectado pela covid-19.

    O médico infectologista Joel Gonzaga, da Sesai, afirmou à reportagem da Amazónia Real, que Alvanei tinha a saúde debilitada por ter contraído, antes do novo coronavírus, “doenças como desnutrição, anemia, malárias repetitivas e foi tratado, mês passado (março), de Malária Falciparum”.

    Segundo informações do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Yanomami, no território localizado entre os estados de Roraima e Amazonas vivem 26.785 pessoas de cinco etnias e 366 aldeias, que contam com 78 unidades básicas de saúde indígena, 37 polos-base e uma Casa de Saúde Indígena.

    Em nota, a DSEI Yanomami afirma ainda que vem realizando as medidas protocoladas e as recomendações do que determina o Ministério da Saúde e a Sesai, mas pontua que “as ações e serviços de saúde prestados aos povos indígenas, pela União, não impedem as ações desenvolvidas pelos Municípios e Estados, no âmbito do Sistema Único de Saúde, uma vez que o SUS adota, dentre outros, os princípios da universalidade, integralidade, equidade”.

    Apesar do indígena ser natural da Aldeia Rehebe-Polo Base Uraricoera, onde estava quando seu estado de saúde piorou, ele estuda e mora em uma aldeia que pertence ao DSEI Leste de Roraima, Comunidade Bouqueirão, onde cursa o ensino fundamental. A informação merece destaque para que se possa fazer conexão com os locais por onde o indígena passou e assim monitorar possíveis outros casos.


    Vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, Dario Yanomami / Foto: Morzaniel Yanomami

    Para o vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, Dário Vitório Kopenawa Yanomami, de 26 anos, quem levou a covid-19 para o seu povo foram os garimpeiros ilegais, que extraem minério das terra indígenas – como ouro –, seja por terra, barco e até avião.

    “Eu tenho muito medo. Tem muitos idosos yanomami, estão vivos ainda. Se contaminar os yanomami, realmente, os yanomamis vão morrer, porque a doença é muito perigosa: não tem cura, não tem remédio, não tem vacina. Isso eu tenho muito medo. Eu não quero que meu povo morra dessa doença que está matando milhares de sociedades não indígenas do mundo”, afirma.

    A Terra Indígena Yanomami (AM/RR) é considerada uma porta de entrada para alguns milhares de garimpeiros ilegais, há décadas, como relata Dário.

    “Esse é um problema muito antigo. Resumidamente, na década de 80, tinham alguns problemas muito sérios. Tinham aproximadamente 40 mil garimpeiros, e a gente lutou muito, fizemos grandes manifestações, e o governo brasileiro conseguia retirar os garimpeiros. E, repetindo [a história], os garimpos estão no território Yanomami de 2015 a 2019 e, agora, 2020 eles estão lá ainda”, conta.

    Dário explica ainda que os yanomami já fizeram uma série de denúncias para o Ministério Público Federal, Polícia Federal e a Fundação Nacional do Índio (Funai), relatando não só o garimpo ilegal, mas a  contaminação dos rios, o uso de mercúrio e o prejuízo à saúde dos indígenas, assim como a contaminação à floresta. “Até agora, o governo federal não tomou decisão para retirar os garimpeiros”, diz o indígena.

    Indígena citadina morta no Pará

    O termo indígena citadino é usado para se referir aos que moram na cidade e não em aldeia. No estado do Pará, a primeira morte registrada da covid-19 foi de uma mulher de 87 anos, que vivia em Alter do Chão, distrito de Santarém, no sudoeste do estado. Até o momento, ainda há uma incompatibilidade nos dados do Ministério da Saúde e da Sesai com relação ao caso. Isso porque a mulher pertencia à etnia Borari e não era aldeada. A Sesai, responsável por contabilizar os dados de saúde indígena trata, apenas, dos indígenas que vivem no meio rural e não daquelas que vivem fora das aldeias.

    Ainda contabilizando indígenas que vivem fora das aldeias há outras mortes no Brasil, no Pará e no Amazonas, no município de Itacoatiara. Um homem, de 55 anos, do povo Mura.

    Segundo informações do governo de Roraima, até a última quarta-feira (8), havia 52 casos confirmados da doença e um óbito. Já o estado do Amazonas, anunciou nessa quinta-feira (9), que há 800 casos confirmados da doença e 40 óbitos.


    Veja também: DANIEL HÖFLING: Lições do COVID-19 — outro mundo é possível