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Categoria: Porto Alegre

  • Homem com adesivo ‘Lula Livre’ tem o braço deslocado após filmar ação da BM em Porto Alegre

    Homem com adesivo ‘Lula Livre’ tem o braço deslocado após filmar ação da BM em Porto Alegre

    Do Sul 21- por Luís Eduardo Gomes

    Um vídeo ao qual o Sul21 teve acesso (ver abaixo) gravado na manhã desta terça-feira (30) mostra um homem tendo o braço deslocado por policiais militares durante uma abordagem no Centro de Porto Alegre. A reportagem conversou com o indivíduo que aparece nas imagens. Trata-se de um homem de 52 anos, agrônomo e estudante de Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que pediu para ter a identidade preservada.

    Ele diz que estava indo fazer um crachá na Prefeitura referente a um estágio para o ensino de artes em turmas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e, no meio do caminho, viu um policial “ameaçando” uma senhora que estava vendendo cigarros entre a Esquina Democrática e o Mercado Público — a Brigada Militar e Guarda Municipal realizaram uma ação de combate ao comércio irregular nesta terça-feira. Ao ver a truculência da abordagem, o homem diz que puxou o celular para fazer fotos, quando ele então passou a ser abordado por um policial militar. Ele acredita que foi abordado com violência porque tinha colado em suas roupas um adesivo com a expressão “Lula Livre” e outro com o símbolo do PT. “Eu me incomodei com a situação e fui registrar. Aí ele partiu para cima de mim. Quando ele viu o adesivo Lula Livre, enlouqueceu”.

    As imagens mostram que, após o homem não se identificar, policiais militares o cercam e tentam algemá-lo. O homem diz que um PM o interpelou pedindo que ele se identificasse, mas sequer teria deixado ele apresentar a identidade, que estava em uma pasta que carregava embaixo do braço. “Ele tentou me algemar e eu não aceitei, mas só na paz. Eles me encostaram na viatura de costas. Depois me colocou no chão, colocou o joelho em cima e deslocou o meu braço”, relata, acrescentando que o policial justificou a ação porque ele estaria em desacato e em resistência.

    O homem também relata que, após ser enfim algemado, foi levado para as proximidades do Mercado Público, onde foi xingado de “burro, ignorante e analfabeto” pelo policial. “Ele disse que eu ia preso igual ao Lula e ia ver o que era bom”, diz. Ele relata ainda que o policial tentou combinar com ele a gravação de um vídeo em que iria admitir que deslocou o braço ao cair no chão sozinho. A abordagem só foi interrompida quando uma ambulância do Samu chegou à região do Mercado Público para atender a outra ocorrência — um incidente de trânsito — e uma funcionária do serviço ficou sabendo do caso do agrônomo, e de que estava com o braço deslocado, e resolveu encaminhá-lo para o Hospital de Pronto Socorro (HPS). “Acho que eles iam me torturar, mas o pessoal da Samu disse para eu ir junto”, conta.

    O homem recebeu atendimento do HPS, teve diagnosticada uma luxação no braço e foi liberado no início da tarde.

    O advogado Ramiro Goulart, da Rede Nacional de Advogados Populares, que atua em casos de violência policial, foi acionado durante a ocorrência e acompanhou o agrônomo após ele ser levado para o hospital. Goulart diz que o homem foi ameaçado de ser indiciado por desacato e resistência, mas que nenhum policial militar se encaminhou ao HPS para custodiá-lo. “Ao que tudo indica, ele não será indiciado por crime nenhum”, deduz o advogado.

    O presidente municipal do PT, Rodrigo Dilelio, também foi ao HPS acompanhar o caso e depois de o agrônomo ser liberado do hospital o encaminhou para a sede da Corregedoria da Brigada Militar, na Rua dos Andradas, para registrar a denúncia contra a abordagem violenta. Ele conta que as imagens de celular feitas pelo homem foram apagadas por um dos policiais. Dilelio diz que o caso o remeteu a outro que aconteceu em março, quando um dirigente municipal do PT de Atibaia (SP) teve o braço quebrado por policiais militares quando já estava imobilizado.

    A reportagem tentou contato com o 9º Batalhão de Polícia Militar, responsável pelo policiamento do Centro de Porto Alegre, mas ainda não obteve retorno. A matéria será atualizada assim que obtiver um posicionamento do 9º BPM.

  • Ato em Porto Alegre denuncia ataques a comunidade indígena Mbya Guarani

    Ato em Porto Alegre denuncia ataques a comunidade indígena Mbya Guarani

    Caminhada em defesa da tribo Mbya Guarani começou às 13h, em frente ao INCRA, no Centro Histórico da cidade e reuniu centenas de manifestantes.

    Centenas de pessoas, entre indígenas, quilombolas e apoiadores, caminharam pelo Centro de Porto Alegre em defesa dos direitos dos povos originários e de sua terra nesta quarta-feira (16). O ato teve início às 13h, em frente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e seguiu em marcha, às 15h, até o prédio do Ministério Público Federal, onde encontrou o Procurador da República do 15° ofício, Pedro Nicolau,  representante do caso da Ponta do Arado. Na semana passada no bairro Belém Velho, entre os municípios de Porto Alegre e Viamão, capatazes de fazendeiros entraram em território Guarani Myba e dispararam contra a aldeia como forma de intimidação.

    O Procurador da República recebeu os manifestantes no saguão do prédio do Ministério Público Federal, onde foi entregue a representação feita pelos povos indígenas e quilombolas.

     

     

     

    A representação apresentada pelos indígenas trata também da transferência da Funai para o Ministério da Agricultura, retirando os poderes de justiça do órgão e deixando-o à mercê de um grupo de interesse expressamente contrário à demarcação de terras.

    No saguão do Ministério Público Federal representantes do Quilombo Machado fizeram uma fala pedindo que os direitos dos povos tradicionais fossem respeitados. Em seguida, lideranças indígenas lembraram ao procurador que a lei não havia sido feita pelo indígena, “o homem branco nos impôs sua lei, agora que cumpram”. O procurador recebeu os documentos e prometeu que o processo não ficaria preso em burocracias e que as instituições fariam sua parte em garantir a vida e a terra do povo indígena. Porém lembrou que, em última instância, caberá ao Supremo Tribunal Federal dizer se a Medida Provisória feita pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) é constitucional.

  • “Vou pra Porto Alegre, tchau!”

    “Vou pra Porto Alegre, tchau!”

    Por Lais Vitória Cunha de Aguiar, especial para os Jornalistas Livres

    Três ônibus com cerca de 200 pessoas saíram do ponto de encontro, o Hotel Nacional, para Porto Alegre, em meio a férias de janeiro. Brasília, sendo uma cidade administrativa, torna-se vazia em férias. Que evento poderia reunir 200 pessoas de todo o entorno do Distrito Federal para viajar em pleno janeiro, e, ainda mais para uma viagem com cerca de 36 horas?

    O julgamento de um dos maiores líderes da América Latina é suficiente para tanto: Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente com mais de 33 títulos de doutor honoris causa, e, mais importante do que qualquer título, o homem que retirou milhões de brasileiros da miséria.

    Cada um dos militantes das mais distintas categorias presentes na Caravana sabia o propósito daquele julgamento: retirar o Lula da disputa presidencial de 2018. Por isso, todos gritavam “Eleição sem Lula é Fraude!”

    Todos os ônibus foram pagos pelos próprios militantes: a cada 13 camisetas vendidas, um militante ia a Porto Alegre. Foram tantas vendas que afinal cerca 200 militantes conseguiram ir. Vocês tem ideia de quantas pessoas se mobilizaram para que tal fato ocorresse?

     

    Contando com militantes de diversos movimentos sociais, foi uma caravana repleta de diversidade, mas que no conjunto formava um panorama bem conhecido: a sociedade brasileira, bem ao contrário daqueles que julgaram Lula, em sua maioria homens brancos de classe média alta.

    O começo da viagem não apresentou grandes dificuldades ou diferenças em relação a qualquer outra viagem de ônibus. Teve gente que leu, dormiu, cantou. Eu diria, porém, que a ansiedade para chegar a Porto Alegre no dia 23 e acompanhar o julgamento permitiu que uma aura de tensão se instalasse por toda ida.

    Para piorar a tensão, o nosso ônibus quebrou no meio da estrada, na divisa entre São Paulo e Paraná. Como sempre é possível agravar a situação, não havia sinal de celular. Estávamos incomunicáveis, totalmente sem serviço.

    Um dos outros ônibus foi muito solidário ao nosso infortúnio. Parou também e nos fez companhia, enquanto iam buscar o necessário para consertar a corrente, ou seja, durante as três horas em que permanecemos conversando, estendendo faixas contra a condenação do Lula.

    As reações dos muitos caminhoneiros que passaram por nós foram interessantes. Como disse um colega, “se dependesse dos caminhoneiros o Lula já estava eleito”, o que  me deixou surpresa, afinal foram os caminhoneiros que fizeram uma grande greve contra a Dilma pouco tempo antes do golpe do impeachment. Na maioria das vezes em que passava um caminhoneiro, ele buzinava para nós.

    Os xingamentos foram bem escassos, ainda mais que os militantes ali presentes eram em parte do NDD, Núcleo Pela Democracia que se reúne todas segundas feiras na Praça dos Três Poderes, em Brasília, em frente ao Palácio do Planalto, para denunciar o golpe. Na Praça dos Três Poderes sim, recebemos muitos xingamentos e poucas buzinadas simpáticas. Por isso mesmo, a cada buzinada o povo vibrava.

    A nossa água estava acabando, não havia comida, não havia um posto próximo, havia somente mato ao nosso redor: mesmo assim as faixas de apoio ao Lula permaneceram estendidas, seguradas por militantes, durante as três horas que permanecemos esperando pelo conserto do ônibus.

    Por coincidência a equipe dos Jornalistas Livres passou por nós, filmando em parte a alegria dos militantes que puderam ir a Porto Alegre, defender o Lula com sua presença e energia, a maior arma de quem não encontra sua voz representada nas instâncias do poder. Abaixo o vídeo dos Jornalistas Livres:

    Depois da imprevista parada de três horas, ainda tivemos que enfrentar uma chuva bem forte, o que fez com que fôssemos a uma velocidade bem menor. Ao chegarmos a Porto Alegre fomos tomar banho no clube da Caixa,  depois passamos pelo acampamento formado pelos movimentos sociais especialmente para o evento do dia, com Lula, e um dia depois, no julgamento.

    Assim que chegamos fomos para o evento com Lula,  lá encontramos uma senhora, vendedora de água e guarda-sol, que nos contou que não perdia um evento para defender Lula ou Dilma.

    Nós chegamos cedo, conseguimos acompanhar a marcha da Juventude Revolução até a Esquina Pela Democracia, no centro de Porto Alegre, um local simbólico da luta gaúcha pela Legalidade, durante a tentativa de golpe contra João Goulart, em 1961. Horas antes do discurso de Lula, o local já estava bem cheio. Algumas horas depois, não teria nem como se mover. Nós não conseguimos voltar para onde estávamos antes, por causa da incrível quantidade de pessoas (a Brigada Militar calculou em 70 mil manifestantes e os organizadores do ato, em 100.000. Era gente demais, então ficamos ouvindo todos os discursos na lateral, que também estava cheia, já que o evento não tomou apenas uma rua, mas todas as ruas próximas ao Mercado Municipal de Porto Alegre. Era muita gente.

    Caravana de Brasília no acampamento do MST, em Porto Alegre

    No dia 24, dia do fatídico julgamento, às sete da manhã, já estávamos no acampamento acompanhando as atividades. Sendo manhã bem cedo, pudemos ver gente do Nordeste e do Sul se juntando para cantar suas músicas típicas. Vimos um senhor tocando músicas que compôs na época da ditadura e explicando o significado para uma roda de jovens a sua volta.

    Depois houve uma reunião da juventude Mudança, que me deixou esperançosa e triste ao mesmo tempo: é muito bom ver  uma juventude de esquerda unida, de várias partes do Brasil, pensando em como transformar realidade da política.

    O mais interessante dessa reunião foi, sem dúvida, a fala do Patrick, de Minas, que apontou um problema específico, mas que se apresenta plural:  a política em geral não consegue chamar hoje o jovem da periferia, seja de esquerda ou direita. Esse é um papel que acabou sendo em boa parte assumido pelo crime organizado, que concede ao jovem a esperança de uma vida melhor por meio da venda de drogas. O crime organizado vende uma ideologia de individualismo, a qual o jovem compra com facilidade. Como ele pontuou: ‘A CUT não consegue parar o Brasil hoje, mas o PCC consegue.’

    Nessa reunião, após a fala de todos, como encaminhamento ficou decidido que iríamos fazer uma mesa sobre o assunto no Fórum Social Mundial, que nesse ano ocorrerá em Salvador do dia 13 a 17 de março.

    Apesar da tristeza com relação ao resultado do julgamento, era óbvio que o judiciário iria julgar Lula de forma injusta. Quantos Lulas não são presos todos os dias por roubar um pão, por fome? Imagine o que esses homens que prendem pessoas com fome não iriam fazer com um que defende as pessoas que eles prendem? Aqueles que os ditadores de toga não prendem são justamente os que se identificam com eles: a classe alta com contas na Suíça, os políticos com aviões de droga…

    Ao voltarmos para Brasília, ao menos o ônibus não quebrou. Nós pudemos, todavia, ouvir ao rap de alguns companheiros –Sander, Victor e Emerson– sobre a viagem. Termino aqui com o relato deles, que demonstra que ainda existe uma juventude de esquerda pronta para lutar pelo que acredita:

     

  • Não calarão a Juventude

    Não calarão a Juventude

    Por Marcelo Rocha, colaborador do Jornalistas Livres

    Logo que acordei me deparei com uma cena que me trouxe um flashback na mente. Há alguns anos, voltava de Brasília onde fui fotografar a despedida da presidenta Dilma do Palácio do Planalto e quando peguei o celular me deparei com uma foto de vários jovens dentro de um ônibus da Polícia Militar de São Paulo. Depois de dias ocupados na Diretoria de Ensino do Centro Oeste, lutando por merenda escolar, os jovens são arrastados para fora do espaço sem qualquer mandato judicial, apenas com um pedido do até então secretário de segurança pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal.

    Vi aqueles jovens sofrendo tortura psicológica dentro de um ônibus acompanhado por policiais militares que, segundo relatos, ameaçavam e zombavam daqueles que lutavam por uma educação diferente.

    Hoje, 25 de março, pela manhã em Porto Alegre, deparo-me com cena semelhante: um ônibus com 13 garotas e três rapazes sendo conduzidos ao presídio após se manifestarem contra a condenação do ex-presidente Lula. Mais uma vez jovens sofrendo com o terrorismo de Estado. Estado esse que busca criminalizar qualquer uma dessas pessoas. Detalhe é que estou passando por dois casos, não esquecemos dos 18 do Centro Cultural São Paulo (CCSP), do olho da estudante Débora Fabri ou de tantos e tantos outros casos que a política institucional junto com o judiciário busca criminalizar.

    Eles não suportam a ideia de que a juventude tenha voz, nos retiram dos processos políticos com um cenário composto por homens velhos e brancos. Mas não precisamos disso pra ter voz, a nossa voz ultrapassa as instituições. E isso não quer dizer que estamos desistindo, em todos os lugares que não querem nos ver, estaremos lá e perturbaremos seu sono. Derrubamos e denunciamos vários processos que fomos excluídos de construir – e tentaram impor sobre nós.

    Não quero ouvir mais um dia sobre renovação se essa não seja composta por esses que estão nas ruas. Valorizo e estudo muito os teóricos do passado, pois muitos vieram antes de nós, mas que possamos narrar nossa história, como povo latino, como juventude, como brasileiros.

    Enquanto os burocratas dormem e esperam o amanhã, nós lutamos para construí-lo. Não nos calarão. E se acha que está pesado, não arredaremos o pé, pois a luta está só começando.

    “Considerando nossa fraqueza os senhores forjaram
    Suas leis, para nos escravizarem.
    As leis não mais serão respeitadas
    Considerando que não queremos mais ser escravos.
    Considerando que os senhores nos ameaçam
    Com fuzis e com canhões
    Nós decidimos: de agora em diante
    Temeremos mais a miséria do que a morte.”
    – Bertold Brecht

  • Porto Alegre capital da democracia e resistência

    Porto Alegre capital da democracia e resistência

    Por Adriana de Castro Jornalistas Livres

     

    Milhares de militantes de todo o Brasil ocupam a capital gaúcha na espera do julgamento que acontece na manhã desta quarta-feira, em Porto Alegre.
    O julgamento da apelação de defesa do ex-presidente Lula pelo Tribunal Federal Regional – 4ª Região (TRF-4) é acompanhado em todo país e mundo afora, com muita atenção. Existe um estado de alerta dos movimentos sociais que apoiam Lula. E deixam o recado: “todo cuidado é pouco contra uma possível condenação arbitrária e sem provas”.
    A falta de energia elétrica transferiu a manifestação, que contou com 15 mil participantes, da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul para a Praça Marechal Deodoro.

     

    “Por que o Lula está sendo condenado, sendo inocente? Já que tantos outros e outras são pegos(as) em com gravações, com mala de dinheiro, subindo e descendo, e estão protegidos a ponto de poderem concorrer livremente. Ou seja, estes(as) outros(as) não estão submetidos à Justiça”, afirmou a presidenta Dilma Rousseff durante ato esta manhã em Porto Alegre.

    De acordo com Dilma, o golpe é um processo, não um ato isolado. “Este processo começou com um impeachment sem crime de responsabilidades feito por um grupo de usurpadores. Esse impeachment não foi dado apenas contra o meu mandato de 54 milhões de votos. Foi dado contra um modelo de desenvolvimento, para reduzir o gasto social com o povo brasileiro”, concluiu.

    O filosofa e escritora Márcia Tiburi, também presente no ato, considera o momento grave e o julgamento, perverso. Ela fez um chamamento para que todos e todas estejam atentos quanto a violência e a insanidade do poder judiciário.

    Ainda nesta terça-feira, aconteceu em Porto Alegre uma grande marcha, que culminou na Esquina Democrática com a presença do ex-presidente Lula. Lá estão mais de 50 mil trabalhadores para a vigília em defesa da democracia e do direito de Lula ser candidato.

    Movimentos do campo

    Desde segunda-feira, os trabalhadores rurais sem terra estão agitando Porto Alegre. A largada da jornada, com a marcha de 5 mil camponeses do MST e Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), da Ponte do Guaíba (BR 116) até o local do acampamento.

    Hoje, de acordo com o MST, mobilizações de rua, bloqueios de rodovias e acampamentos, aconteceram em todo o país, numa vigília democrática nacional.

    Os estados da Bahia e de Pernambuco amanheceram totalmente paralisados por ações de militantes da Frente Brasil Popular e MST, bloqueando as principais rodovias e clamando à discussão sobre a falta de provas do processo e a inocência de Lula. O Fórum da cidade de Juazeiro-BA foi ocupado ainda na madrugada. Além disso, no extremo sul da Bahia, a BR 101 foi paralisada na altura dos municípios do Prado, Itabela e Itagimirim.

    Somente em Pernambuco foram mais de 10 trechos interditados nos municípios de Petrolina, Serra Talhada, São Caetano, Moreno, Jaboatão dos Guararapes, Goiana, Escada, Petrolândia, Bonito, Passira e Camuru.

  • Fascistas forçam encerramento de exposição de arte em Porto Alegre

    Fascistas forçam encerramento de exposição de arte em Porto Alegre

    Mostra histórica de temática LGBT com 264 obras de artistas consagrados é acusada por grupos de extrema direita de ser apenas apologia a pedofilia, zoofilia e anti-cristã. Banco patrocinador aceita a censura com medo de boicote e conflitos.

    “O Eu e o Tu”, de Lygia Clark. Exemplo de uma das 264 obras que estavam expostas em Porto Alegre. A imagem, aliás, foi retirada do anúncio de uma retrospectiva da artista no MOMA de Nova York, em 2010 – https://goo.gl/anm2TQ

    #Libertários?
    #PelaLiberdadeDeExpressão
    #PelaLiberdadeArtística
    #FascistasNÃOpassarão

    Alguém consegue imaginar artistas como Volpi, Portinari e Lygia Clark como criminosos defensores da pedofilia que querem “destruir a família brasileira”? Alguém acha que um banco privado montaria uma exposição para  implantar um “comunismo globalista”? Pois centenas de comentaristas de sites de extrema direita (e também de nossa página no Facebook e talvez aí embaixo daqui a pouco) parecem acreditar nisso. Devem ser as mesmas pessoas que concordam com Olavo de Carvalho quando ele diz que a Pepsi adoça seu refrigerante com fetos abortados (https://www.youtube.com/watch?v=AblcSjwIZbg), os que creem piamente que a Terra é plana (https://www.youtube.com/watch?v=eC4YRYsB0PQ) ou os que juram que o nazismo é uma ideologia de esquerda (https://www.youtube.com/watch?v=nmFAPqzaAz8). Pois é. Em mais um triste passo em direção ao obscurantismo e fascismo, essas mentes “brilhantes” resolveram voltar suas baterias e seu “vasto” conhecimento em história, política e arte contra uma exposição artística: a Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, no Santander Cultural de Porto Alegre.

    A mostra histórica sobre arte com temática LGBT, com 264 obras de diversos artistas consagrados, como a “O Eu e oTu”, de Lygia Clark, feita em 1967, foi encerrada hoje após manifestações de grupos reacionários. Além de Clark, há obras de outros 84 artistas como Adriana Varejão, Alfredo Volpi, Cândido Portinari, Clóvis Graciano, Fabio Del Re, Flávio Cerqueira, Gilberto Perin, Sandro Ka, Yuri Firmesa e Leonilson. A mostra reunia pintura, gravura, fotografia, serigrafia, desenho, colagem, cerâmica, escultura e vídeo. Um painel amplo e diversificado da produção sobre a temática que segue outras mostras semelhantes como as cinco realizadas esse ano em Londres (https://www.out.com/art-books/2017/2/03/5-queer-art-exhibitions-see-spring-london), ou esta em Nova York (http://www.mcny.org/exhibition/gay-gotham) ou ainda essa em Paris (https://www.rencontres-arles.com/…/expositions/view/106/sin…).

    Mas depois de quase um mês de sucesso de público e crítica no centro cultural de um banco na capital gaúcha, postagens coordenadas em páginas e grupos de extrema direita, incluindo um vereador de Porto Alegre eleito pelo PSDB mas com “selo MBL”, divulgaram que se tratava de uma mostra de “apologia à pedofilia” e contra “a moral e os bons costumes cristãos”.

    Com isso, os que se auto-intitulam “libertários”, pediam a seus seguidores que pressionassem o banco privado (divina ironia) a fechar a exposição. Pior, estimularam seus adeptos a filmar, constranger e expor os visitantes do centro cultural. Desse modo, a segurança do banco foi obrigada a fechar as portas da mostra ontem para evitar confusões. Hoje, a direção lançou uma declaração de encerramento definitivo da exposição, que deveria permanecer aberta até 8 de outubro. Os relatos de agressões aos visitantes são bizarros, como pode se ver abaixo.

    No Brasil de 2017, os “libertários” parecem preferir a destruição de obras de “comunistas” e “anti-cristãs” (basta ver os comentários nos posts), da mesma forma como Hitler liderou a queima de milhares de livros de autores comunistas e judeus em 1933. No mesmo lugar onde isso ocorreu, aliás, recentemente a artista argentina Marta Minujín erigiu uma imensa instalação, o Partenon dos Livros, uma obra em favor da liberdade artística, intelectual e de expressão.

     

     

    Como bem lembrou Kiko Nogueira em artigo no DCM (http://www.diariodocentrodomundo.com.br/80-anos-depois-dos-nazistas-o-mbl-consegue-cancelar-mostra-de-arte-degenerada_por-kiko-nogueira/), “em junho de 1937, o ministro de Propaganda do Terceiro Reich, Joseph Goebbels, encarregou o presidente da Câmara de Artes Plásticas, Adolf Ziegler, de vasculhar todos os museus em busca de ‘arte decadente’. Milhares de peças produzidas depois de 1910, que não se adequavam ao ideal de beleza nazista, foram reunidas em Munique numa exposição chamada ‘Entartete Kunst’, ‘Arte Degenerada’. ‘Os senhores veem à nossa volta essas abominações da loucura, da insolência, da inépcia e da degeneração. O que os olhos percebem, nos causa, a nós todos, choque e repulsa’, falou Ziegler na abertura, antecipando a turma gaúcha. Expressionistas como Emil Nolde, Käthe Kollwitz e Ernst Barlach, alemães, foram jogados no lixo. Vassily Kandinsky, Marc Chagall e Pablo Picasso foram proibidos. ‘Praticamente não houve resistência’, escreveu a perita em história da arte Anja Tiedemann, da Universidade de Hamburgo. As obras que não foram destruídas acabaram vendidas no mercado negro para financiar o regime.”

     

    Goebbels na exposição de “arte degenerada” em Munique. Reichsminister Dr. Goebbels auf der Ausstellung “Entartete Kunst”
    Am Sonntag mittag besuchte der Reichsminister die Ausstellung im “Haus der Kunst”. Rechts vom Reichsminister (mit Brille) der Ausstellungsleiter Pistauer.
    Fot.: Ste. 27.2.38

    Já temos pelo menos um evento marcado em Porto Alegre em repúdio ao encerramento da exposição e o avanço dos fascistas (https://www.facebook.com/events/905454412938548/)

    Vejam aqui a vergonhosa declaração do banco para o encerramento da mostra: https://www.facebook.com/SantanderCultural/posts/732513686954201