Jornalistas Livres

Categoria: Brasília

  • Elisa Lucinda: “É loucura ou é verdade, tanto horror perante os céus?”

    Elisa Lucinda: “É loucura ou é verdade, tanto horror perante os céus?”

    Escrevo numa tarde sob o céu de Goiás,
    chama-se Brasília.
    É dia cívico e parlamentares nos traem:
    a mala de dinheiro,
    os encontros nos porões,
    nos escondidos ,
    nos banheiros,
    o comércio de homens brancos,
    as ideologias de conveniência,acordos de sauna,cargos ,chuveiros,
    tudo isso continua,e com a mesma prática revelada nas gravações,nas delações,na fartura de provas e suas devidas suficiências em boladas de dinheiro.
    É torturante,
    é indecência.
    Falam em nome do Brasil?
    De Qual?
    Do privado cheio de regalias?
    Do desmatamento,da matança de negros e índios, da farra das privatizações e suas folias?
    Falam nome de quem ,de qual Brasil?
    Puta que pariu!
    É cartel,é mala de porcentagens no motel ,é mentira ,é ganância.
    É a dignidade da gente pagando o banquete.
    Quem são esses?
    Reincidentes engodos,
    muitos eleitos outra vez
    e mais uma vez e de novo,
    enquanto aceitam nos bastidores propinas para melhor trair o povo.
    E ainda anunciam ficções:
    Brasil estável, juros baixos, emprego ressurgindo.
    A palavra dita vazia e à toa!
    Que mentira, que lorota boa!
    Ou só não baixou juros no meu cartão?
    Ou só não teve emprego no meu bairro?
    Ou era tudo pessoal então?
    Tudo parece muito triste,
    sabemos que quem assim insiste,
    quem se vende no porão,
    o que quer é o guarda chuva do poder, a segurança da corrupção,
    o que quer é a gaiola dourada do foro privilegiado,
    o que quer na verdade é nos foder.
    A quadrilha atenta voraz e todo dia
    contra o dever de educar,
    de empregar,
    de garantir os direitos dos labutadores e de uma nação.
    E tanto,desnutre, universidades, sangra grandes instituições,
    desidrara as culturas ,
    expulsa pesquisadores,
    exila pensadores ,
    e obstrui inclusões.

    A esperança que grita no canto do meu peito sabe,
    no entanto, que como nossa democracia é muito nova,
    ainda tem muito jeito.
    Estamos aprendendo a cada pleito.
    E a vendida votação de hoje,a justiça combinada ,cega ,
    negociada nos balcões do olho grande como princípio é defeito,
    será o fim eleitoral
    da maioria desses sujeitos.

    Brilham corajosamente
    Bravos e bravas representantes que ainda honram esta palavra no sentido perfeito!
    Mesmo em aparente minoria, não omitem revoluções, convicções ,
    e,por contraste, deixam expostas as identidades de malfeitores e seus malfeitos.
    Escrevo sob o céu azul na tarde incompleta .
    Novos tempos virão e cairão mais véus.
    “Senhor Deus dos desgraçados, dizei-me , vós, senhor Deus,
    se é loucura ou se é verdade, tanto horror perante os céus.”
    Novos sonhos da realidade nascerão do ventre da ilusão,
    Novos sonhos estratégicos da barriga da utopia
    em cada mente nascerão.
    Escrevo numa tarde inquieta .
    Escrevo numa tarde incorreta.
    E porque até hoje ,
    através dos séculos,
    a pergunta de estarrecimento do baiano
    Castro Alves ainda perdura,eu imploro então , grite, Castro, sua poética maldição :
    “Astros, noites, tempestades, rolai das imensidades,
    varrei os mares, tufão.”

    Elisa lucinda, triste inverno de 2017

  • Sobre Dilma, Vals e o machismo nosso de cada dia

    Sobre Dilma, Vals e o machismo nosso de cada dia

    Na quarta-feira passada (21) foi protocolado o pedido de anulação do impeachment. Três mulheres*, representando os Comitês Contra o Golpe de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro estiveram presentes. Acompanhei a iniciativa.

    Nós só pudemos entrar no STF – Supremo Tribunal Federal para protocolar o pedido de anulação do golpe depois de mais de meia hora esperando autorização, e mesmo assim tivemos que ser acompanhadas por quatro seguranças.

    Quatro mulheres de mais ou menos um metro e sessenta, uma delas com mais de setenta anos, sendo acompanhadas por quatro homens com dobro de seu tamanho e altura para simplesmente entregar um documento.

    Os quatro são contra o golpe. Um deles afirmou veementemente que nós estávamos muito quietas, e que ‘todo aquele pessoal lá fora devia botar pra quebrar. Tá muito pacífico. Chega.’ – Senti essa declaração como um desabafo da população, a qual não aguenta mais as reformas golpistas e falta de democracia.

    Lá dentro, todavia, os seguranças tiveram que ter atitudes diferentes: eu fui proibida de fotografar: essa é uma ordem a qual nunca obedeceria.

    Como resultado, tive o celular arrancado de minhas mãos e pediram para eu me retirar. Permaneci encarando o segurança e esperando para ver se ele tiraria a representante da juventude contra o golpe à força de um local público como o STF, que supostamente representa a justiça brasileira.  A sua única atitude foi fazer uma careta e pedir para eu não tirar mais fotos. Com a maior gentileza do mundo pedi para que ele me devolvesse o celular, atitude que tomou com certa relutância.



    ‘O sistema não pode me matar.’ -Val Costa, ONG feminista recomeçar.

    O machismo assume muitas formas, seja na política ou em órgãos públicos como o SUS.  Durante o encontro Pauta Feminina desse mês, que ocorreu no dia 22 de junho, a senhora Val Costa relatou a violência que sofreu no SUS. Por ser mulher e negra, a operação de seu câncer de mama foi postergado ao ponto de crescer ‘do tamanho de um limão’, como ela relata.  Para melhorar, quando a operação foi finalmente realizada, retiraram seus seios sem sua permissão e sem alvará do médico.  Seu câncer era somente no seio esquerdo.

    Dilma e Val Costa: duas mulheres com vivências totalmente diferentes, mas ainda sim possuem dois pontos em comum: ambas foram violentadas pelo sistema político machista e ambas são mulheres.

    Segundo o Mapa Mulheres na Política de 2016, o estado com maior participação feminina (total de cargos ocupados por mulheres dividido pelo total de cargos eletivos) , é o Rio Grande do Norte, com 21,54% das mulheres ocupando cargos políticos. O estado que apresenta menor participação feminina é o Espírito Santo, com 9,06%, que coincidentemente encontra-se em segundo lugar no Mapa da Violência. Nenhum outro estado, fora Rio Grande do Norte e Amapá, alcançam 20%.

    Não é a toa que, durante os nossos 128 anos de República, somente uma mulher, Dilma Rousseff (PT) ocupou a presidência, a qual, por acaso, foi deposta injustamente em seu segundo mandato.

    Assim como um péssimo médico arrancou os seios da dona Val sem necessidade, os péssimos políticos brasileiros querem arrancar do seio do Brasil os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. E, só para variar, as mulheres serão as mais afetadas.

    Como disse a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) na Pauta Feminina desse mês, “a reforma trabalhista é machista. A indenização extrapatrimonial é terrível. Se uma mulher ganha dez mil reais por mês e tem um acidente em seu trabalho, sua indenização será de cem mil, mas se é uma mulher que trabalha em um chão de fábrica ganhando um salário mínimo, sua indenização será de dez mil”.

    Da Dilma a dona Val, a solução para essas situações é a luta pelo feminismo. A construção de uma sociedade igualitária passa pela igualdade de gênero. O dia em que a igualdade de gênero não for somente uma ideologia, e sim uma ação que permeie a sociedade em sua totalidade, não teremos mais o sofrimento de Dilmas e Vals, e nem reformas que visem somente o bem do capital.

    *Os nomes foram preservados pela repórter por solicitação das manifestantes. 

     

     

  • Breve retrato da violência gratuita da polícia em Brasília

    Breve retrato da violência gratuita da polícia em Brasília

    Por: Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com – Especial para os Jornalistas Livres

    Para quem esteve nas ruas em Brasília nesse 24 de maio não foi difícil testemunhar atos de violência gratuita por parte da polícia. Filmar e fotografar de perto, no entanto, era mais complicado.

    Fui abordada em diversas ocasiões, por três vezes alvo de jatos de spray de pimenta mesmo claramente identificada como imprensa, impedida de tomar imagens por policiais por outras três e ameaçada de detenção mais uma.

    Ainda assim, foi possível filmar uma agressão totalmente desnecessária a uma jovem que estava apenas comendo um lanche na rodoviária da cidade. A detenção violenta e sem motivo de outro rapaz também foi registrada em vídeo.

    Mais uma senhora que não conseguia parar de chorar após apanhar e ter ameaças de prisão, mesmo não tendo quebrado coisa alguma ou portar qualquer objeto perigoso, foi fotografada nos braços de um amigo.

    Tudo isso aconteceu depois de terminados os protestos, já longe do Congresso e ainda em meio a nuvens de lacrimogêneo que atingiam manifestantes e brasilienses que somente queriam voltar para casa.

    O gramado com a cavalaria avançando sobre o povo e bombas caindo de helicópteros nem é mais preciso mostrar para comprovar. Para quem ainda não percebeu, o Brasil já vive em estado de exceção.

    Infelizmente, a tendência parece ser o aumento da repressão sobre todo o conjunto da população. E é o trabalhador comum, o mais pobre, aquele que perdeu mesmo o sapato furado correndo dos cassetetes, quem vai pagar mais caro por isso.

  • IMAGENS: o povo que resistiu nas ruas em Brasília

    IMAGENS: o povo que resistiu nas ruas em Brasília

  • Temer declares war on Brazilian people

    Temer declares war on Brazilian people

    Temer’s administration showed his true colors. With a recent decree, signed yesterday, the Brazilian President summoned the military to repress protests. Beyond being the head of a corruption machine, the usurper from the palaces of Brasilia demonstrated also to manage a war machine against his own people.

    Yesterday, more than one hundred thousand people met peacefully together in the capital, Brasilia, asking for the resignation of the puppet president, direct elections and giving a loud No to the law reforms that destroy retirement and workers’ rights. What did they find? Soldiers, armed to the teeth and willing to attack a democratic manifestation.

    There are dozens of injured. One of them, at least, was shot and is in the hospital. Tear gas and sound bombs were dropped constantly against worker men and women and unarmed youngsters. A typical scene from the times of the Military Dictatorship.

    Temer and his gang do not have any condition to continue in power. His offensive against the yesterday protests leaves no doubts. More and more, the coup’s government can only resort to repression. There is no way to continue defending, in a democracy, a representative soiled in dirt from head to toe by explicit corruption and dyed in blood from protesters.

    To keep in presidency this puppet of reactionary interests is a true provocation to the Brazilian people. The numbers don’t lie: 14 millions of unemployed, millions of families in despair, thousands of closing business, defaults rising… and now, coward repression in large scale. Everything is the work of an illegitimate administration, rejected even among the many that supported the coup’s adventure.

    The tragedy seen yesterday in Brasília is the new signal that the popular mobilization is the true enemy of the powerful. The plots to impose an indirectly elected president by this Congress of bootlickers do not represent a possible way out to the country. More than never, it is time to go to the streets and shout: Out with Temer! Directs Now!

    ___________________________

    Portuguese: https://jornalistaslivres.org/2017/05/temer-declara-guerra-ao-povo/

    Spanish: https://jornalistaslivres.org/2017/05/temer-declara-guerra-al-pueblo/

  • A maior repressão da história de Brasília

    A maior repressão da história de Brasília

    Enquanto escrevo, no dia do maior ato organizado por movimentos sociais na Esplanada dos Ministérios, o que se vê nas proximidades do acesso ao Congresso Nacional é o uso descontrolado do aparato policial. Uma brutal repressão. Desde a noite de ontem, milhares de pessoas se encontraram na capital federal, para pedir o afastamento imediato do presidente Michel Temer e lutar contra o desmonte da Previdência e das leis trabalhistas.

    O dia começou com uma longa e pacífica caminhada em direção à Esplanada. Dentro do Congresso, a UNE e o Centro Acadêmico “11 de agosto” entregaram um abaixo assinado ao presidente Rodrigo Maia com mais de 800 mil assinaturas, colhidas em menos de uma semana pedindo a saída de Temer. Por volta das 14h, o clima começou a mudar. Um festival de balas de borracha, bombas, borrachadas e muita intimidação.

    Milhares de soldados da Polícia Militar e da Força Nacional de Segurança, Forças Armadas, avançaram sobre os manifestantes, provocando pânico, correria, e deixando dezenas de feridos pelo caminho. Alguns já estão sendo atendidos no Hospital de Base. Ao meu lado, puder ver um jovem que teve o olho atingido e um morador de rua, teve a barriga perfurada por um tiro a queima roupa de bala de borracha. Os policiais, novamente, não seguiram os próprios protocolos de segurança em manifestações.

    Joelmo Jesus de Oliveira, morador de Brasília, relatou, entre tantas outras agressões, uma praticada pela polícia do exército.

    “Eles estavam dentro do Prédio, que tem vidros espelhados, saíram de repente e agrediram uma jovem com chutes na cara e murros”.

    Um senhor que filmava o ato teve seu celular destruído, uma enxurrada de gás de pimenta nos olhos e ainda borrachas para que se afastasse.

    “Se isso não é estado de exceção, não sei o que é.

    Nunca vi tamanha violência” Mas o que justifica tamanha repressão? Não houve movimento no Palácio do Planalto durante todo o dia. Temer está absolutamente isolado e sua base no Congresso desmoralizada para levar a cabo outras reformas. A saída por renúncia foi descartada pelo presidente, o que faz com que lhe reste apenas a força repressora. Mesmo com a forte repressão os movimentos seguem firme na capital do País. Resta aos movimentos resistir em Brasília e em todo Brasil.

    Serão dias duros e decisivos para barrar o desmonte e derrotar o golpe.