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Categoria: Mariana

  • Quatro anos do crime da Vale em Mariana

    Quatro anos do crime da Vale em Mariana

     

    Quatro anos após o rompimento da barragem de rejeitos da Vale/Samarco, em Mariana, entidades e movimentos ingressaram com um caso perante a Comissão e Corte Interamericana de Direitos Humanos (OEA) pedindo a condenação do Estado Brasileiro pelas violações de direitos humanos cometidas ao longo da Bacia do Rio Doce.

    O caso foi apresentado ao Sistema Interamericano de Direitos Humanos (OEA), e pede a condenação do Brasil por falha sistemática na fiscalização e reparação aos atingidos. Entidades pedem que o Brasil seja condenado pelas violações ao direito à vida, às garantias processuais e à proteção judicial, à liberdade de associação, ao direito à propriedade privada e coletiva, à igualdade perante a lei e ao direito a uma vida digna, segundo o disposto na Convenção Americana sobre Direitos Humanos.

    A iniciativa inédita foi uma articulação do Centro de Direitos Humanos e Empresas (HOMA-UFJF), FIAN Brasil, Grupo de Estudos e Pesquisas Socioambientais (GEPSA), Justiça Global, Movimento dos Atingidos e Atingidas por Barragens (MAB), e Núcleo de Direitos Humanos da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

    As entidades pedem a condenação do Estado Brasileiro em medidas de não repetição, em medidas reparatórias direcionadas à população atingida pelo rompimento da barragem de Fundão e também ao meio ambiente. Passados quatro anos desde o desastre, poucas medidas de reparação foram efetivamente tomadas para reparar os direitos violados da população que habita a bacia do Rio Doce. O rompimento de uma nova barragem de rejeitos da Vale, em Brumadinho, também demonstra de maneira evidente que o Estado Brasileiro tem falhado no seu dever de fiscalização.

    Raphaela Lopes, advogada da Justiça Global, aponta que o Estado Brasileiro tem responsabilidade direta no rompimento da barragem da Samarco, controlada pelas mineradoras Vale e BHP. “A responsabilização do Estado em relação ao rompimento da barragem de Fundão surge a partir de dois fundamentos. O primeiro diz respeito às medidas que não foram tomadas devidamente para prevenir que o desastre acontecesse. Isso tem a ver com o próprio licenciamento da barragem de rejeitos, que não foi feito de modo diligente, e também com o processo de monitoramento do funcionamento dessa barragem. O segundo fundamento decorre da falha sistemática do Estado em reparar os danos oriundo do rompimento da barragem de Fundão”, afirmou Raphaela.

    A petição apresenta uma série de violações que ainda hoje persistem ao longo da Bacia do Rio Doce. Famílias atingidas ainda não foram reassentadas, relatos de tratamento diferenciado entre atingidos – em especial em relação às mulheres, que sofrem discriminação nos processos decisórios e no acesso à reparação -, grande incerteza com relação à qualidade da agua, o que prejudica tanto o consumo da água em cidades ao longo da Bacia do Rio Doce, quanto a pesca e as lavouras que dependem do abastecimento do rio, são algumas das violações citadas no documento.

    “O Estado Brasileiro tem sido negligente com suas obrigações tanto de assegurar a proteção social como ambiental no caso das barragens de rejeitos, e frente a isso estamos vivendo tristes cenários. Passados quatro anos, vivenciamos a completa falência do sistema judicial na reparação aos danos causados pelo rompimento da barragem de rejeitos de Fundão, sem a efetivação de garantias de acesso à justiça das famílias atingidas. Esperamos que a Corte possa analisar essa caso, tão emblemático para a história brasileira, mas também para toda a realidade da mineração na América Latina. As comunidades atingidas depositam muita esperança no sistema interamericano para acessar seus direitos, na data de hoje”, disse Tchenna Maso, da Coordenação Nacional do MAB.

    As entidades pedem que o Brasil seja condenado pelas violações ao direito à vida, às garantias processuais e à proteção judicial, à liberdade de associação, ao direito à propriedade privada e coletiva, à igualdade perante a lei e ao direito a uma vida digna, segundo o disposto na Convenção Americana sobre Direitos Humanos.

    “Esperamos que venha a condenação do Brasil ao final desse processo, e que a Corte imponha sanções ao Estado. Além das medidas de reparação, há as chamadas medidas de não repetição, que podem incluir inclusive alterações legislativas, além da necessidade de o país avançar em uma política de reparação a atingidos por grandes desastres socioambientais, como foi o caso de Fundão”, destacou Raphaela.

    Para as entidades, o ingresso deste caso perante o Sistema Interamericano também se relaciona com o desmonte da política ambiental brasileira e seus órgãos de proteção. “O óleo que se alastra pelas praias do Nordeste, as queimadas na Amazônia e no Pantanal, o rompimento da barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho, todos esses episódios não são acidentais, são produto de uma escolha política deliberada que inclui a flexibilização da legislação e a fragilização orçamentária e institucional dos órgãos ambientais”, salientou Melisanda Trentin, coordenadora da Justiça Global. “Esperamos que esse caso possa fortalecer os movimentos sociais, os povos e populações atingidas que lutam contra esses retrocessos na seara ambiental”, concluiu Raphaela.

    Anexo: Perguntas e Respostas sobre o ingresso de um caso contra o Estado Brasileiro pelas violações decorrentes do rompimento da Barragem de Fundão.

    – Como funciona o ingresso de um caso no Sistema Interamericano?

    O Sistema Interamericano de Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos (OEA), possui dois órgãos: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. A Corte é o órgão que pode efetivamente julgar, condenar e impor sanções aos Estados que aceitam a sua jurisdição, como é o caso do Brasil. Somente a Comissão Interamericana pode enviar os casos para serem julgados na Corte.

    No caso ingressado neste dia 05, em que se pede a condenação do Estado Brasileiro pelas violações decorrentes do rompimento da Barragem de Rejeitos do Fundão, as entidades peticionárias pediram à Comissão o envio imediato do caso perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos.

    – Quais os fundamentos do pedido de responsabilização do Estado Brasileiro?

    Mesmo sendo a Samarco, empresa controlada pela Vale e pela BHP, uma entidade privada, há evidente responsabilidade do Estado Brasileiro neste caso. Primeiramente, o Brasil falhou no dever de realizar a devida e diligente fiscalização e monitoramento da barragem de rejeitos. É dever do Estado zelar para que empreendimentos que imponham riscos de danos ambientais, humanos e sociais cumpram critérios específicos de segurança e mitigação de impactos. O Estado falhou durante o processo de licenciamento ambiental, no âmago do empreendimento, e também durante a fiscalização de sua operação. A evidência maior da gravidade das falhas do Estado no cumprimento do seu dever de fiscalização e monitoramento se dá na repetição do desastre: pouco mais de 3 anos após o rompimento da barragem de rejeitos em Mariana, outra barragem da Vale se rompeu em Brumadinho, deixando centenas de vítimas fatais.

    O Estado Brasileiro também é responsável por falhar continuamente no processo de reparação aos atingidos pelo desastre. Isto se dá principalmente através da celebração dos Termos de Ajustamento de Conduta – até o momento, foram 4 TACs celebrados, e a população atingida esteve ausente da concepção e discussão destes quatro acordos. Por meio da luta de atingidos, de movimentos e organizações, conseguiu-se que houvesse representação dos atingidos em algumas instâncias, como na governança da fundação Renova, por exemplo. Mas resta demonstrado que esses avanços conquistados ao longo da celebração desses acordos foram insuficientes para de fato garantir uma participação efetiva da população atingida no processo de reparação. A fórmula dos termos de ajustamento de conduta tem sido justificada pela celeridade, mas essa celeridade se dá ao custo do sacrifício de garantias e direitos da população atingida.

    – O que é possível esperar a partir do ingresso deste caso contra o Estado Brasileiro perante o Sistema Interamericano de Direitos Humanos?

    Os peticionários esperam que a Corte condene o Estado Brasileiro pelo conjunto de violações apresentadas. O Brasil foi denunciado pela violação do direito à vida, do direito às garantias processuais e proteção judicial, da liberdade de associação, do direito à propriedade privada e à propriedade coletiva, à igualdade perante a lei e pela violação ao direito a uma vida digna.

    A Corte poderá impor sanções ao Estado Brasileiro. Elas podem ser as chamadas medidas de não repetição, que podem incluir inclusive alterações legislativas, ou a necessidade de se avançar em uma política de reparação a atingidos por grandes desastres socioambientais. Há também a possibilidade de as sanções incluírem medidas reparatórias para a população atingida, que podem ser medidas pecuniárias, ou medidas imateriais de satisfação.

    – Qual a importância deste caso no atual contexto político?

    O ingresso deste caso e a procura de uma condenação internacional do Estado Brasileiro são fundamentais neste momento de enormes tragédias ambientais no nosso país. O óleo que se alastra pelas praias do Nordeste, as queimadas na Amazônia, o rompimento da barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho, todos esses episódios não são acidentais, são o resultado do desmonte da política ambiental brasileira e dos seus órgãos de proteção. E somado a tudo isso, o Conselho de Políticas Ambientais de Minas aprovou, há dez dias, uma licença que permite o retorno das atividades da Samarco, com a aquiescência de órgãos como a Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais, o ICMBio, e o Iphan. A desproteção e as violações continuam, e o Brasil precisa ser responsabilizado por isso.

  • Vítimas da Vale vão à Justiça contra empresa alemã

    Vítimas da Vale vão à Justiça contra empresa alemã

     

     

    Atingidos pelo rompimento da barragem de rejeitos de minério de ferro da Vale em Brumadinho, na Grande Belo Horizonte, em Minas Gerais, protestaram em frente à sede da empresa Tüv Süd, na Alemanha, na manhã desta quinta-feira. A Tüv Süd certificou positivamente a segurança da barragem poucos meses antes do rompimento, que matou 271 pessoas. Dois bebês em gestação também foram mortos. Fotos das vítimas foram espalhadas em frente à sede da empresa, junto a pessoas cobertas de lama. Na placa, em alemão, os dizeres: “Contra os lucros inescrupulosos”.

    Fizeram parte do protesto Marcela Rodrigues, filha de Denilson Rodrigues, trabalhador da Vale morto pela avalanche de lama, e Amanda Andrade, irmã de Natália Andrade, trabalhadora da Vale que também morreu em Córrego do Feijão, distrito de Brumadinho onde encontra-se a mina de minério de ferro. Elas discursaram em frente à Tüv Súd, lembrando o tempo decorrido desde o desastre: “Nove meses, como uma gestação, como um bebê que vai nascer. E aqui agora está nascendo uma guerra, uma luta. Eu quero respostas. Desce alguém aqui e vem falar comigo!”, clamou Marcela diante das portas da Tüv Süd. A empresa se recusou a conversar com as atingidas e manifestantes do lado de fora, e impôs, como condição, que uma comitiva entrasse e que a conversa ocorresse longe das câmeras.

    No encontro com representantes da Tüv Süd, Amanda foi enfática ao frisar a co-responsabilidade da empresa pelo crime ocorrido em Brumadinho. “Até hoje, passados nove meses, eles não se dignaram a fazer contato com as famílias, nem ao menos emitir uma nota de solidariedade com pedido de desculpas às famílias das vítimas”, afirmou. Como resposta, a comitiva e as atingidas tiveram apenas falas frias e evasivas, pontuando que seria muito cedo para se apontar responsáveis pelo rompimento da barragem.

    O grupo também trabalha para a mudança da lei alemã. Uma coalizão de mais de 70 organizações e sindicatos propôs ao Parlamento Alemão e à chanceler Angela Merkel a adoção da “Lei da Cadeia Logística”, que pretende responsabilizar empresas que atuam ao longo da cadeia de produção pelas violações de direitos humanos que ocorrem na ponta. A queixa apresentada aponta os crimes de homicídio, corrupção, inundação, negligência e violação de deveres de supervisão. “O processo na Alemanha de forma alguma altera a responsabilidade da mineradora brasileira Vale S.A. pela falha da barragem. A Tüv Süd é co-responsável pelas mortes e danos ambientais. Este caso mostra que o sistema de certificação falha em garantir a segurança. E mais que qualquer outra coisa, oculta a responsabilidade”, declarou Claudia Müller-Hoff, advogada que trabalhou na queixa contra a Tüv Süd e também na queixa criminal contra um dos principais funcionários da empresa.

     

  • Atingidos denunciam na ONU os crimes da Vale

    Atingidos denunciam na ONU os crimes da Vale

     

    Representantes de movimentos de atingidos pela mineração estão em uma jornada de denúncia por diversos países da Europa, sobre as violações de direitos do setor mineral no Brasil e no mundo por empresas da cadeia minero-siderúrgico, que, por meio do seu capital transnacional acirram conflitos e desigualdades.

    No último dia 15, Carolina de Moura, coordenadora geral da Associação Comunitária da Jangada em Brumadinho (MG), e Flávia Nascimento, moradora da comunidade de Piquiá de Baixo, em Açailândia, no Maranhão, impactada pela siderurgia e pela ferrovia da Vale, estiveram presentes no evento “Dams and business accountability in the Amazon region: put the draft treaty to a test”, organizado por CIDSE, MISEREOR, Broederlijk Delen, FIDH, Franciscans International, Justiça nos Trilhos, Associação Comunitária da Jangada e Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale. O evento faz parte das ações paralelas à 5ª Sessão do Grupo de Trabalho Intergovernamental da ONU, em Genebra, Suíça.

    No evento foi debatido como o futuro Tratado Vinculante das Nações Unidas sobre Empresas Transnacionais e Direitos Humanos pode contribuir para evitar a impunidade e estabelecer padrões de responsabilidade civil, criminal e administrativa para as empresas, bem como sanções e medidas eficazes de reparação.

    O tema da Amazônia foi destaque e a sua destruição foi apontado como uma preocupação de relevância global. O desmatamento não é a única ameaça a esta região: centenas de barragens foram construídas e planejadas, e as atividades de mineração para extração de petróleo e ferro continuam a se expandir, apesar do pedido global por justiça climática.

    Não apenas o governo, mas também as empresas, desempenham um papel significativo e têm responsabilidades, segundo os atingidos. Nesse contexto, foi discutido como um futuro tratado pode contribuir para evitar a impunidade e estabelecer padrões de responsabilidade civil, criminal e administrativa para as empresas.

    Durante o evento, Carolina de Moura fez inúmeras denúncias contra a mineração no Brasil. “Nós precisamos de especialistas independentes, porque a mineração no Brasil funciona com base no auto monitoramento. Ela mesma faz o estudo do impacto, ela mesma contrata alguém para dar um laudo. A Europa está muito envolvida no caso de Brumadinho, pois foi a empresa TÜV SÜD que deu um atestado falso de estabilidade da barragem. Se eles tivessem dito para o governo e para a população que a barragem estava em risco, nós não evitaríamos o rompimento, não salvaríamos o Rio Paraopeba, mas pelo menos, nós tiraríamos 270 pessoas do caminho da lama”, afirmou sobre a situação de Brumadinho.

    Flávia Nascimento contou sobre a história de luta do povo de Piquiá de Baixo, que há 30 anos sofre com os impactos da mineração e há 15 anos iniciou sua luta por reassentamento. Em um discurso emocionado, ela fez um apelo: “Nós pedimos socorro porque estamos morrendo aos poucos. A gente fala sobre os nossos problemas e as pessoas não nos ouvem. Nós temos um presidente terrível, cuja Amazônia não representa nada pra ele e se ele continuar agindo dessa forma, nós vamos perder tudo que a gente conquistou.”

    Maria Isabel Cubides, encarregada de programa da oficina de globalização e direitos humanos da Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH), que moderou a sessão, afirmou que “é importante a realização de uma Jornada de Denúncias para que o cidadão tenha conhecimento dos impactos das empresas e tenha conhecimento sobre as empresas que elas conhecem e que estão ligadas aos bens que elas têm. O que elas consomem têm um impacto concreto. As pessoas muitas vezes veem esse impacto com muito distância.”

    Segundo Maria Isabel, “a ONU, dentro do seus mecanismos pode fazer um monitoramento da situação, por exemplo, das comunidades de Brumadinho e Mariana, de seus processos de reparação. Se são efetivos, adequados e integrais. E também sobre as comunidades afetadas pela mineração no Maranhão e no Pará, que há muito tempo está à espera de reparação efetiva e receber justiça.”

    “É importante que as organizações  convoquem o Estado a reforçar seu Marco Jurídico em termos da responsabilidade das empresas por violações aos Direitos Humanos e o Meio Ambiente e considerar que é uma oportunidade que pode ter muito impacto para que o governo faça essas modificações”, acentuou.

    A atividade foi exibida na íntegra e pode ser assistida em:

    https://www.facebook.com/FranciscansInternational/videos/984782345235506/

     

  • Atingidos denunciam a Vale na Europa

    Atingidos denunciam a Vale na Europa

     

    Atingidos, representantes de moradores e famílias vítimas de crimes cometidos pela mineradora Vale estão levando suas queixas e denúncias contra a empresa na Suíça, mais precisamente em Saint Prex, onde está a sua sede. “Fomos até a porta e pedimos uma conversa. A representante da empresa disse que ia verificar e não se dignou a voltar com a resposta. Chamou a polícia e foram eles que informaram que a empresa não nos receberia. Falamos da situação de Brumadinho e de Mariana, em Minas Gerais e do Piquiá, no Maranhão, na Amazônia brasileira. Exigimos justiça, reparação integral e garantias de não repetição”, informou Carolina de Moura Campos, coordenadora da Associação dos Moradores da Jangada, vizinhos da mina da Vale em Córrego do Feijão, distrito de Brumadinho, MG.

    Para pressionar a Vale e lutar pela criação de legislação que impeça novas tragédias como a de Brumadinho ou Mariana, vítimas das barragens da mineradora, advogados e ativistas estão percorrendo a Europa para denunciar a empresa, cobrar respostas do governo e de companhias europeias e alertar sobre a impunidade da Vale. O grupo pretende se reunir com investidores, políticos e representantes de organismos internacionais em sete países. A agenda inclui reuniões com relatorias especiais da ONU, audiências com membros do Parlamento Europeu e do parlamento alemão, representantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento, além de investidores da Vale e de empresas compradoras dos minérios extraídos no Brasil, promovendo ainda debates públicos e manifestações públicas. O grupo suspeita que a Vale promove evasão fiscal por meio de sua sede em Saint Prex, que reúne dezenas de diretores com altos salários.

    O grupo tem à frente a Articulação Internacional de Atingidas e Atingidos pela Vale, representada por Carolina de Moura, e reúne ainda Marcela Rodrigues, familiar de vítima do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, e Danilo Chammas, advogado popular da organização Justiça nos Trilhos, além de Antônia Flávia da Silva Nascimento, moradora da comunidade de Piquiá de Baixo, no Maranhão, impactada pela siderurgia e pela ferrovia da Vale. Eles passarão pela Espanha, Suíça, Alemanha, Holanda, França, Itália e Bélgica.

    Em Genebra, o grupo participará de reuniões na ONU sobre formas de responsabilizar empresas por violações de direitos humanos e da natureza. Levará seus problemas também ao Sínodo da Amazônia que está acontecendo em Roma. “Nos próximos dias, o objetivo é denunciar a impunidade corporativa da Vale e das empresas a ela associadas, a ameaça de retomada das operações no complexo Paraopeba, em Brumadinho (mina da Jangada), a falta de compromisso real da empresa e do Estado brasileiro com as medidas de reparação integral e de garantias de não repetição em Brumadinho e Bacia do Rio Doce, em Minas Gerais, e em Piquiá de Baixo, em Açailândia, na Amazônia”, afirmou Carolina de Moura.

    Confira abaixo os objetivos do grupo na Europa:

     

    Jornada internacional frente aos crimes da mineração no Brasil

     

    Esta lista de transmissão funcionará até o dia 10 de novembro de 2019. Seu objetivo é disseminar informações e mobilizar jornalistas e formadores de opinião para que deem repercussão às atividades de denúncia e incidência que estamos realizando de 3 de outubro a 5 de novembro em alguns países europeus (Espanha, Suíça, Alemanha, Holanda, França, Itália e Bélgica). A agenda inclui participação nas atividades da Campanha Global pelo Desmantelamento do Poder Corporativo, reuniões com relatorias especiais da ONU, audiências com membros do parlamento europeu e do parlamento alemão, representantes da OCDE, de investidores da Vale e de empresas compradoras dos minérios extraídos no Brasil, além de debates públicos e ações de protesto pacífico.

    Entre as várias denúncias necessárias diante da dramática situação do Brasil, estamos tratando de:

    – Denunciar a impunidade corporativa da Vale e das empresas a ela associadas, a ameaça de retomada das operações no complexo Paraopeba, em Brumadinho (mina da Jangada) e a falta de compromisso real da empresa e do Estado brasileiro com as medidas de reparação integral e de garantias de não repetição em Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais, e em Piquiá, na Amazônia Brasileira.

    – Divulgar os conceitos criados pelas populações atingidas: terrorismo de barragens, zonas de sacrifício e de alto risco de morte, indústria da reparação, entre outros.

    – Demonstrar a relação de causa e efeito entre as ações de empresas europeias em geral e alemãs em particular e as violações de direitos humanos e danos ambientais no Brasil, com especial destaque para os crimes da Vale.

    – Defender a importância de uma lei na Alemanha e outra em toda a Europa sobre a devida diligência em relação a toda a cadeia de valor. Que as empresas se comprometam a fiscalizar a origem das matérias primas que utilizam na fabricação de seus produtos e imponham condições às mineradoras e produtoras de ferro-gusa.

    – Denunciar a falência do modelo mineral no Brasil, as pretensões de avanço sobre a Amazônia; as ameaças e ataques ao sistema de proteção ambiental e em especial o automonitoramento de barragens, que tem se mostrado ineficiente e tem trazido insegurança e pânico a milhares de pessoas.

    – Fazer memória dos crimes, dignificar as vítimas, não deixar cair no esquecimento, denunciar a impunidade, valorizar o trabalho das defensoras e defensores e buscar solidariedade internacional.

    – Relembrar os perigos à vida e integridade física e psíquica por que têm passado os defensores de direitos humanos e da natureza no Brasil.

    – Denunciar as falsas soluções apresentadas pelas empresas, pelos governos e pelo mercado diante da crise climática global e chamar a todos os cidadãos e cidadãs da Europa a sua responsabilidade.

    Enviaremos notícias, releases e fotos das atividades periodicamente.

    Neste momento participamos do programa Ciudades Defensoras de Derechos Humanos, na Catalunha, Espanha. Daqui seguiremos para Genebra (Suíça), para participar da sessão do grupo de trabalho das Nações Unidas para um tratado vinculante para responsabilizar internacionalmente empresas violadoras de direitos humanos e da Natureza.

    Estamos também fortalecendo a divulgação das atividades do Sínodo da Amazônia que está acontecendo em Roma neste mesmo período.

    Estamos abertos para receber informações que possam enriquecer as nossas denúncias nessa jornada.

    Agradecemos por todo apoio e solidariedade.

    Carolina de Moura Campos, coordenadora geral da Associação Comunitária da Jangada – Brumadinho e membro da Articulação Internacional de Atingidas e Atingidos pela Vale.

    Danilo Chammas, advogado popular da equipe da Justiça nos Trilhos, defensor de comunidades atingidas pela Vale na Amazônia Brasileira e em Minas Gerais, membro da Articulação Internacional de Atingidas e Atingidos pela Vale.

    #valeassassina
    #salveajangada
    #criseclimatica
    #salveaamazonia
    #piquiadaconquista

  • “Não podemos falar em acidente, o que aconteceu em Brumadinho foi crime”, afirma o Promotor Público de Mariana

    “Não podemos falar em acidente, o que aconteceu em Brumadinho foi crime”, afirma o Promotor Público de Mariana

    Três anos após o crime cometido pela Samarco, Vale e BHP em Mariana, Dr. Guilherme de Sá Meneghin, Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de Minas Gerais da Comarca de Mariana, concede entrevista aos Jornalistas Livres e fala sobre o novo crime ambiental e humano cometido pela Vale e BHP Billiton.

    Na terça-feira (29), a justiça declarou a prisão de dois engenheiros terceirizados, André Yassuda e Makono Manba, presos em São Paulo, além de três funcionários da Vale, Cesar Augusto Paulino Grandchamp – Geólogo, Ricardo de Oliveira – gerente de Meio Ambiente Corredor Sudeste e Rodrigo Artur Gomes de Melo – gerente executivo do Complexo Paraopeba, presos em Minas Gerais.

    Os CEOs da Vale e da BHP Billiton continuam soltos.

  • O que eles querem ver?

    O que eles querem ver?

    Por Mauro da Silva com o apoio de Miriã Bonifácio para o Jornal A Sirene (jornalasirene.com.br)

    Em Mariana, o “casarão” da Fundação Renova/Samarco, localizado na Praça Gomes Freire, está continuamente servindo como ponto turístico da cidade, onde são expostas maquetes referentes ao local de reassentamento de Bento Rodrigues e repassados conhecimentos sobre o processo de reparação das comunidades atingidas a partir do ponto de vista da fundação/empresa. Também foi iniciado o programa VimVer, vinculado à área de atuação de Diálogo Social da Renova/Samarco, em que são oferecidas visitas monitoradas com especialistas dessa fundação/empresa nas áreas atingidas de Bento, Paracatu e Gesteira. Tendo em vista isso, foi encaminhada uma carta da Comissão dos(as) Atingidos(as) de Mariana à Renova/Samarco solicitando o transporte e a alocação das maquetes para a Casa dos Saberes. Isso porque se entende que, com tais medidas, a empresa usa ações obrigatórias de reparação para fazer propaganda de si mesma. E, ainda, utiliza recursos e espaços em desigualdade com o dos(as) atingidos(as) para criar a sua versão da história. Diante disso, reafirma-se que toda e qualquer informação que diz respeito a estes territórios deve ter o consentimento das pessoas proprietárias destas terras (e memórias).

    “VimVer o quê?” O que a Renova ou a Samarco estão fazendo? Esse é um projeto muito audacioso por parte da fundação/empresa, de entrar em um território que, embora ela tenha todo um interesse, não lhe pertence, nem à Vale ou à BHP Billiton, e sim ao povo, no caso de Bento, um povo sofrido que, durante três séculos, lutou para ter o seu lugar. Eu sou de uma geração que vem dos fundadores de Bento Rodrigues. Portanto, sou testemunha de que a Samarco sempre pleiteou esse espaço. Agora, por meio desse programa, a gente vê que ela se sente dona do que diz respeito à nossa comunidade, e está querendo se sentir dona também de Paracatu e das demais áreas que foram atingidas por essa tragédia-crime.

    “Assim, somos enfáticos em dizer que nada que diz respeito às nossas comunidades pode ser feito sem a participação direta dos(das) atingidos(as).”

     

     

    Então, esse Projeto VimVer é uma afronta à nossa dignidade, uma falta de respeito com o sentimento daqueles que perderam tudo, que perderam seus entes queridos. E ainda é um projeto que visa criar uma cortina de fumaça sobre aquilo que foi feito até agora em se tratando da nossa reparação. A Renova/Samarco, ao invés de reparar os danos que sofremos, vem causando violações ainda maiores. Eu, então, pergunto, como tive a oportunidade de questionar o Roberto Waack (Presidente da Fundação Renova) durante reunião realizada no dia 4 de maio, em que ele nos disse que esse não é um projeto voltado inteiramente para o turismo, que é um programa que vai levar estudantes, pesquisadores e aquela conversa de sempre, mas que, na verdade, vemos como algo que estou batizando de “turismo da desgraça”: “VimVer o quê?”. Assim, somos enfáticos em dizer que nada que diz respeito às nossas comunidades pode ser feito sem a participação direta dos(das) atingidos(as). Isso que estão fazendo está nos ferindo de morte. Estamos resistindo e lutando pelo tombamento dos nossos espaços, porque acreditamos que é isso que vai resguardar que esse território continue pertencendo a quem é de direito. E que não se enganem, pois, na versão do bandido, ele sempre é a vítima.

    Leia a matéria em seu site original: http://jornalasirene.com.br/manifestos/2018/06/13/o-que-eles-querem-ver