Jornalistas Livres

Categoria: Carnaval da Resistência

  • Valorização da Vida no cortejo: o desafio de se abordar a Prevenção do Suicídio no carnaval em BH

    Valorização da Vida no cortejo: o desafio de se abordar a Prevenção do Suicídio no carnaval em BH

     

    Por: Cristiane Santos de Souza Nogueira*

     

    O suicídio é um fenômeno que perpassa a história da humanidade, sendo considerado na atualidade como um problema de saúde pública. Desde 2003 a OMS instituiu o dia 10 de setembro como sendo o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. No Brasil, a campanha do setembro amarelo se iniciou em 2015 e tem ganhado força a cada ano. Tendo como slogan “Falar é a melhor solução” objetiva-se promover e ampliar espaços de sobre suicídio, sensibilizando a população para as questões do adoecimento mental e desconstruindo mitos que impedem que as pessoas busquem ajuda diante da dor emocional.

    No entanto é importante que tais temas possam ser abordados durante todas as épocas do ano, uma vez os índices de adoecimento psíquico da população crescem no mundo todo e que é preciso conscientizar as pessoas para que aprendam a reconhecer e respeitar o sofrimento mental da mesma forma que reconhecem e respeitam o sofrimento e o adoecimento do corpo.

    Em novembro de 2019 uma das organizadoras de um bloco de carnaval de Belo Horizonte fez contato com o Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais solicitando orientações sobre como abordar a questão da prevenção do suicídio visto ser o tema escolhido pelo bloco para o cortejo de 2020.

    Em sua 9ª edição, o bloco que desde 2012 carnavaliza BH levantando as bandeiras do amor, da diversidade, da alegria, do respeito e demarcando o posicionamento contra qualquer tipo de preconceito e manifestação de ódio, definiu ter como tema o SETEMBRO AMARELO “para lembrar as pessoas que a vida de cada um é muito importante.

    Queremos dobrar nosso recado de afeto e trazer um tema que é por muitos ignorado. Avalia-se como uma atitude responsável do bloco buscar suporte profissional para levar esse tema para as ruas, demonstrando ter consciência sobre a necessidade se falar de maneira correta sobre um tema tão delicado. Nas chamadas para as atividades eu foram realizadas conjuntamente entre CRP e Bloco de carnaval, marca-se o convite para falar sobre o tema e para a responsabilidade de cada um na prevenção do suicídio e valorização da vida.

    “É um tema tranquilo para ser tratado? NÃO! Qualquer um pode falar sobre? TAMBÉM NÃO! Para dar a devida seriedade e respeito ao assunto, contamos com o apoio do Conselho Regional de Psicologia … que já faz ações de prevenção ao suicídio e irá colaborar com a gente”.

    Na próxima segunda-feira, 13/01, vamos ter uma roda de conversa sobre Valorização da Vida. É muito importante que a banda vá em peso para saber mais do tema e conseguir levar uma mensagem da forma mais respeitosa possível”.

    Ainda que não haja consenso entre a própria categoria da Psicologia, sobre os efeitos de campanhas e ações que envolvem a sociedade no tocante ao fenômeno do suicídio o CRP avaliou ser pertinente ofertar as orientações e suporte necessário para realização do cortejo, não podendo recuar ou se eximir desse debate, visto que a categoria profissional tem sido cada vez mais demandada no enfrentamento do suicídio.

    Foi realizada uma reunião na sede do CRP para primeiros alinhamentos e definições em dezembro de 2019, com a primeira orientação norteadora: em se tratando de carnaval, o tema seria abordado pela Valorização da Vida, buscando formas de se passar a mensagem da prevenção do suicídio com leveza e da forma lúdica que a ocasião comporta.

    Foram realizados dois encontros com os fundadores, organizadores e integrantes do bloco no Teatro da Cidade.

    O primeiro encontro, em janeiro de 2020, aconteceu em forma de roda de conversa, onde se buscou refletir sobre o fenômeno do suicídio considerando os aspectos epidemiológicos, demográficos, intrapessoais (transtornos mentais e comorbidades psiquiátricas), mas principalmente os aspectos interpessoais.

    Ao discutir características do modo de vida contemporâneo foi possível deslocar o comportamento suicida dos fenômenos da patologização e medicalização da vida, reconhecendo que a nossa forma de viver comporta elementos que fazem sofrer o ser humano e que o comportamento suicida pode se apresentar como expressão da dor intensa e sofrimento emocional insuportável, estando presente ou próximo de cada pessoa que ali podia se expressar. Buscou-se desconstruir mitos sobre o fenômeno do suicídio, apresentando fatores de risco e de proteção, legitimando que as pessoas são capazes de reconhecer sinais de sofrimento emocional, mas que para isso é preciso investir mais na convivência, na disponibilidade de escutar sem julgamento e de ofertar apoio e suporte emocional.

    Reiterou-se que é preciso fortalecer as redes de apoio, ofertar canais e ferramentas de apoio, legitimar a importância de se buscar ajuda profissional quando necessário e de construir saídas locais, mapeando os recursos e dispositivos disponíveis nos territórios de pertencimento.

    O segundo encontro se deu em formato de oficina abordando Valorização da Vida, contando com a colaboração da conselheira do CRP e de uma jornalista que contextualizou a chita enquanto tecido de resistência subversiva, resistência político afetiva na história do Brasil desde a colonização.  O bloco não usa abadás ou fantasias, sendo instituído o uso da chita para confecção de roupas e adereços para seus integrantes.

    A jornalista ao citar Walter Benjamin e sua obra “a história dos vencidos”, fala da chita em sua cesura, fazendo um recorte na história e demonstrando o descontínuo do tecido do povo. Originalmente da Índia, a Chintz foi levada para a Europa no século XVI por Vasco da Gama, sendo um tecido nobre e tão caro quanto a seda. Suas cores e figuras acompanham e interpretam a cultura local, sofrendo alterações pelos países por onde passa.

    Considerada mais que um tecido, um padrão, amplamente usado na decoração, na porcelana e na impressão de tecidos nobres, a Chita chega ao Brasil no século XVII, havendo uma proibição de sua produção pela coroa de Portugal, uma vez que os nobres só podiam comprar tecidos da Europa. Tal proibição não impediu que os escravos produzissem o tecido em teares escondidos, sendo usado também pelos os índios, passando a ser considerado no Brasil como pano de pobre, dos rejeitados enquanto em Portugal se realiza concursos de vestido de chita.

     

     

    Para os africanos que aqui estavam, a chita era um tecido carregado de memória afetiva, por a resistência em continuar tecendo. Os inconfidentes se vestiam de chita quando protestavam nas ruas da antiga Villa Rica, hoje Ouro Preto nas Minas Gerais.  Assim passa a ter a conotação de subversão e no século XIX vem nova ordem de proibição de qualquer tecido em MG, que teve a primeira grande industria dedicada à produção de chita.

    Curvelo, Terra de Zuzu Angel, que foi a primeira estilista que usou a moda como política, trazendo a chita como expressão de resistência na ditadura militar.

    “O não conformismo nas roupas tende naturalmente a expressar o não conformismo em ideias sociais e políticas”. (Flugel)

    Contextualizando a chita, a essência do bloco estava colocada. Assim, como a Valorização da Vida seria a tônica da abordagem da prevenção do suicídio no cortejo de carnaval, definiu-se pelo uso de chitas em cor amarela, tecidos com girassol e do próprio girassol como símbolo para 2020. Tornou-se oportuno também contextualizar sobre o uso da cor amarela e do girassol como símbolos da campanha da prevenção do suicídio no Brasil e no mundo.

    POR QUE O GIRASSOL?

    Setembro: início da primavera, estação das flores e da esperança. Pesquisas comprovaram que pessoas que moram em lugares bruscos, com pouco Sol, podem desenvolver tendências à Depressão.

    Assim, o girassol é a flor da campanha da Prevenção do Suicídio justamente por acompanhar a alegria e a vitalidade da luz solar.

     

    Nos campos, em dias nublados, os girassóis se voltam uns para os outros, buscando a energia em cada um.

    Não ficam murchinhos, nem de cabeça baixa. Olham uns para os outros … Erguidos, lindos.

    Nos ensinam que olhar para o outro, pode fazer toda diferença em nossas vidas, afinal a convivência é nossa força motriz. Seu miolo gera centenas de sementes, que produzem tantos outros novos girassóis! Semear esperança e muitos afetos é para o ser humano, sentido de vida!

    Se não temos sol todos os dia, temos uns aos outros…
    Que sejamos girassóis todos os dias!!!

    Nesse segundo encontro abordou-se algumas atitudes e falas que devem ser evitadas ao se abordar o tema, ressaltou-se a importância da escuta ativa e de se apontar canais de ajuda e construção de saídas para pessoas que apresentem sinais de dor e sofrimento emocional. Depois de um brain storm coletivo, de frases, palavras e ideias com os presentes, foram selecionadas frases de impacto a serem usadas no cortejo:

    – Aguente firme, Você não está só!

    – Você tem o poder de dizer ‘não é assim que minha história termina’

    – Pare e respire, há opções melhores, e muitas pessoas que te amam

    – Mesmo que as coisas estejam difíceis, sua vida importa; você é uma luz brilhante em um mundo escuro, então, aguente firme.

    Valorizar a vida é…

    É ligar quando sentir saudades.

    É não ignorar um pedido de ajuda.

    É ouvir sem julgar.

    É respeitar as escolhas e vontades.

    É dizer que ama.

    A comunicação entre a COMORG e a conselheira referência do CRP se manteve ativa para troca de ideias, construção de frases, mensagens e estratégias a serem usadas no cortejo. Através da revisão da playlist, definiu-se momentos de marcação sobre o tema durante o trajeto. Foi construído um release, um texto que foi disponibilizado a todos os integrantes do bloco, para que todos se preparassem para possíveis interpelações e questionamentos que pudessem surgir, antes, durante e após o cortejo, visto ser uma atitude ousada e polêmica um bloco de carnaval que abordar a prevenção do suicídio.

    “O bloco do Batiza, com suas chitas que espalham resistência e empatia pelo carnaval de BH decidiu abordar a valorização da vida no seu cortejo de 2020. O tema da prevenção do suicídio ainda é polêmico, envolvido em muitos mitos e julgamentos morais e muitas pessoas têm medo de falar sobre o assunto. É preciso disseminar a mensagem de que a vida vale a pena, de existem razões para viver. É desconstruir as ideias em torno do sofrimento emocional, levando a sociedade a respeitar e reconhecer a dor da alma da mesma forma que reconhece a dor do corpo.

    Dessa forma, as pessoas irão parar de esconder sua dor interna, falando e recebendo orientação, procurando ajuda profissional se for necessário. O suicídio é um problema de saúde pública no mundo inteiro, sendo o final de um processo de sofrimento insuportável.

    Estima-se que 90% dos casos sejam evitáveis mas para seu enfrentamento é preciso o envolvimento de todos os atores sociais, que auxiliem as pessoas que sofrem de desesperança, de desamparo, de desespero a construírem saídas e alternativas para a vida. As pessoas podem aprender a reconhecer sinais e sintomas da dor emocional que não é visível aos olhos e só pode ser identificada através da convivência, das relações.

    Precisamos de mais afetos e menos telas. De mais trocas e acolhimento e menos individualismo. É possível aprender a ofertar apoio, a ofertar escuta e acolhimento. Para isso, é preciso encarar as ameaças com seriedade, ajudar a pessoa a avaliar a situação, explorando soluções e dando orientações concretas para preservar a vida.

    Para tanto, é preciso antes de tudo, procurar compreender (sem juízo de valor), ofertar disponibilidade de escuta sem repressões e sem ser invasivo, apontando canais de apoio como o CVV,  serviços e profissionais de saúde mental.  FALAR É A MELHOR SOLUÇÃO E A CONVIVÊNICIA É A MELHOR SOLUÇÃO, se acreditamos e valorizamos a vida! Sejamos boas energias! Sejamos girassóis!” Vamos amarelar nossas chitas e as ruas por onde passarmos.

    BLOCO DO BATIZA

    Outras ações estavam planejadas para o cortejo como entrega de adesivos e de sementes de girassóis com frases de esperança, porém, com os problemas vivenciados pelos blocos de BH, às vésperas do início do carnaval, com

    As repercussões resultaram em comprovar que é possível abordar a temática com seriedade e responsabilidade, através de orientações técnicas e com embasamento científico, em contextos diversos, com leveza e transmitindo mensagem de esperança. Pensando que as saídas devem ser locais, que as micro políticas podem operar transformações…

    Chamando as pessoas para sua dimensão de participação e responsabilidade. Promover saúde mental nos moldes da saúde coletiva.

    Essa experiência buscou efetivar a encomenda inicialmente formulada ao CRP, conjugando a essência do bloco com suas a chitas, com o amarelo do girassol na perspectiva da Valorização da Vida e da Prevenção do Suicídio, de forma lúdica, propiciando a sensibilização sem mobilizar resistências e defesas frente a um tema que toca a todos de forma tão profunda. Um cortejo de carnaval como resistência e subversão aos processos de medicalização e patologização, para uma aposta de vivencias afetivas, de fortalecimento de vínculos, do estreitamento dos laços de convivência. Uma aposta nas tecnologias leves, na melhoria da qualidade de vida das pessoas, que só é possível pelas relações, afinal o ser humano é ser gregário, que se abastece da luz, do calor e da energia de outros seres humanos.

     

    Texto e Fotografia:
    Cristiane Santos de Souza Nogueira,
    Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais
    Especial para os Jornalistas Livres

    Edição da matéria:
    Leonardo Koury Martins, Jornalistas Livres

     

  • PM de Recife censurou shows durante o Carnaval

    PM de Recife censurou shows durante o Carnaval

    Parece inacreditável, mas aconteceu:  a Polícia Militar de Recife tentou, durante o Carnaval, impedir artistas de cantarem uma música de Chico Scince, e outras que denunciam a violência cometida pelo Estado contra comunidades periféricas.

    Sim, a censura se instalou no país, despudorada, apoiada pelo presidente da república.

    Em nota, a PM disse não há qualquer proibição a artistas, e que foi instruída a suspender blocos que estourassem o tempo de apresentação. Mas não foi o que se viu. Os integrantes da banda Janete Saiu Para Beber relataram no Instagram que a PM invadiu o palco no momento que a banda tocava a música “Banditismo por uma questão de classe”, de Chico Science.

    “A Polícia Militar fez uma barreira entre o público e a banda. Tivemos que parar o show com ameaça de levar nosso vocalista preso. A produção foi incrível e conseguiu reverter a situação, mas o mais absurdo foram os argumentos: Chico Science não pode tocar, não pode!”

    A banda Devotos passou por situação semelhante, e também foi às redes denunciar a ação da PM:

    “Todos que conhecem a Devotos sabem da nossa poética, que a nossa liguagem é coloquial, é urbana, de denúncia, de alerta e de posicionamento, usando a música como “arma”. Infelizmente estamos vivendo um regime de repressão velada, que para a maioria é normal, mas para quem trabalha com cultura, e cultura voltada para o resgate social, como é o nosso caso, sabe que estamos sendo minados, perseguidos e ameaçados de não exercer nossas ações e querem calar nossas vozes. Na noite anterior no pólo da bairro da Várzea, subúrbio de Recife, nós da Devotos também sofremos ameaças de prisão logo depois que tocamos a música “De Andada”, que está no nosso mais recente disco, “O Fim Que Nunca Acaba”, e continuamos com “Luz da Salvação”, do Cd “Agora Tá Valendo”, durante a execução dela ao vivo fazemos uma homenagem a Chico Science com trechos de “Banditismo por Uma Questão Classe”. Logo chegou, vindo do diretor de palco, que foi passada ao nosso roadie, a notícia que a polícia não havia gostado do conteúdo das letras e ameaçou, caso o show continuasse com esses temas que citassem a polícia, iriam acabar o show e levar Cannibal (vocalista) preso. Se isso não for cesura não sabemos o que é. O show continuou, eles não subiram no palco e nem tocaram na banda, mas a ameaça foi feita.”

     

    O cantor Chico César foi ao Instagram manifestar apoio aos artistas censurados pela PM: “Solidariedade à banda @janetesaiuparabeber, censurada e proibida de tocar Chico Scince em Pernambuco pela PM local. Abuso de autoridade! Isso tem que acabar, logo.  Fogo nos fascistas!”

    Zélia Duncan também se manifestou: “Vamos todos tocar Chico Science!”

     

    Ouça a música de Chico Science e Nação Zumbi censurada pela PM de Pernambuco em pleno Carnaval do Recife:

  • Combate ao assédio no carnaval de São João da Barra (RJ)

    Combate ao assédio no carnaval de São João da Barra (RJ)

    Conhecida por promover o melhor carnaval de rua do interior do Estado do Rio, a cidade de São João da Barra decidiu aproveitar a presença dos milhares de foliões que recebe durante a festa para falar de assédio. As mensagens estão nos guarda-corpos, pirulitos e painéis de led dos arcos e do palco oficial que enfeitam a Avenida do Samba. A Prefeitura também distribui panfletos e adesivos na cidade e nos distritos onde acontecem os eventos. A decoração também inclui mensagens de combate à homofobia e respeito à diversidade.

     

    A secretária de Comunicação Social do município, Mônica Terra, explica que a ideia tem tudo a ver com o slogan do carnaval deste ano: “Alegria de estar aqui!”, por propor uma reflexão sobre a importância do respeito. “Carnaval é tempo de ser feliz, de aproveitar a festa, mas é também tempo de paz, gentileza, cuidado, de combater preconceitos”, afirma.

    A telefonista Kamila Porto, 28, que saiu de Vitória (ES) para curtir o carnaval sanjoanense, aprovou o tema escolhido para a decoração da avenida.

    “A gente quer curtir, mas quer respeito, não quer que confundam as coisas”.

     

    Uma mulher no comando contra o assédio no carnaval

    O município de São João da Barra tem uma mulher como prefeita, que fez questão de enfatizar a importância do combate ao assédio ao dar as boas-vindas aos foliões na abertura oficial do carnaval, que aconteceu sexta-feira, 21. “São João da Barra promove um ótimo carnaval e todos são acolhidos com muito carinho. O que pedimos aos foliões é que ajudem a manter o clima sadio da festa, de confraternização e respeito. Não esqueçam que não é não!”, disse Carla Machado.

    Além da decoração temática, o combate ao assédio é abordado durante o carnaval por meio da distribuição de panfletos e folhetos. A campanha #NãoéNão é desenvolvida pela secretaria municipal de Assistência Social e Direitos Humanos. “Nosso objetivo é orientar os foliões sobre a diferença entre uma paquera e uma importunação sexual. A diferença é o consentimento”, explica a secretária Michelle Pessanha.

     

    No carnaval de 2019, falamos sobre a comissão feminina de Carnaval de Rua em São Paulo.

    Pra quando o carnaval chegar – Representatividade, segurança e inclusão feminina

     

  • Bloco de carnaval em Buenos Aires faz homenagem a Marielle Franco

    Foto: Ramón Moser

    Do caminhão coberto de tiras de tecido flúor e prateado, vem a voz sem vestígio de sotaque argentino de Gabriela Mercado, cantando “Ai, como eu queria que fosse Mangueira, que existisse outro Zé do Caroço…”. Os surdos marcam o compasso como um coração à espera do estouro da bateria. Ao lado do estandarte, surge a placa da rua Marielle Franco. “Está nascendo um novo líder…”. Um público de mais de mil pessoas, entre argentines, brasileires e outres migrantes, segue o Bloco Cordão de Prata, o primeiro e único da cidade de Buenos Aires, que leva esse nome em homenagem ao rio que une a região.

    Quem conduz o quarto desfile anual do bloco é Julia Cavalcante, instrumentista paulista com dez anos de experiência tocando em blocos tradicionais do Rio de Janeiro. Julia foi também uma das organizadoras do ato realizado em Buenos Aires no dia 14 de março de 2018 em homenagem a Marielle Franco. Naquela noite, pelo menos duzentas pessoas se reuniram espontaneamente no Obelisco da cidade estrangeira, ainda desorientadas pela notícia que vinha do Brasil. Com velas, abraços e canto, os migrantes brasileires mostravam concretamente aos militantes argentines do que se tratava a política com afeto defendida por Marielle.

    Migrante, afrodescendente e feminista, naquele momento Julia acabara de montar sozinha um projeto cultural em paralelo à sua militância política, o Centro de Estudos da Música Brasileira (CEMBRA) e seu bloco de carnaval. Aos poucos, o projeto tomou todo o seu tempo e se tornou ele mesmo uma militância.

    Foto: Ramón Moser

    “Quando eu cheguei a Buenos Aires em 2015, percebi que os argentinos adoravam a música brasileira, mas não a conheciam em sua diversidade. Sabiam alguns ritmos do sudeste e da Bahia, mas não muito mais do que isso”, diz. “O carnaval brasileiro que chegava aqui era aquele moldado pelo capital turístico, financiado por marcas de cerveja e padronizado, sem a autenticidade e a diversidade estética que caracterizam o carnaval popular”.

    Com o CEMBRA e o bloco, Julia, que agora conta com uma equipe composta por seus principais afetos na cidade, busca apresentar ao público argentino o verdadeiro carnaval comunitário de resistência, feito por e para o povo, e, com ele, os ritmos tocados em todo o país. Além de Zé do Caroço, o repertório de 2020 teve marchinhas dos anos 70, ijexá, maracatu, forró, funk carioca e duas cumbias, para também agradecer a cultura que há quatro anos recebe o carnaval brasileiro em suas ruas.

     

  • O carnaval de São Paulo tem Cor?

    O carnaval de São Paulo tem Cor?

    Se deixarmos que a comercialização prevaleça, para estimular o turismo… Os blocos serão para os ricos… e os pobres serão perseguidos pela GCM por vender bebida, ou serão colocados para fora do cordão.

    Mas EXISTE RESISTÊNCIA, e onde ela estiver, os Jornalistas Livres estarão junto ecoando o coro.

     

    Desfile do Bloco Afroafirmativo Ilú inã, #SP, 25.02.2019. Por Fernando Sato| Jornalistas Livres

    LEIA + EM NOSSO MANIFESTO DE 2019

    MUITA COR… e muitas cores…

    Em 2017 os Jornalistas Livres já faziam ampla cobertura da primeira vez em que o bloco Ilú Inã saiu no carnaval de São Paulo.

    Veja a playlist da cobertura completa no nosso canal do youtube:

    É por que já queriamos apontar para a necessidade da valorização da cultura negra no Carnaval de São Paulo.

    O Ilú Inã é um dos blocos que fala mais abertamente dessas questões, reivindicando o lugar de protagonismo do povo negro, tanto na exibição, quanto na re-ocupação dos espaços, e também nas relações econômicas que envolvem o carnaval.

    Mais sobre esse tema na explicação de Fernando Alabê idealizador do bloco, neste depoimento feito na cobertura de 2019:

    https://www.youtube.com/watch?v=mlMjbBJp8B4

     

    Estaremos na próxima segunda-feira, dia 17/02 acompanhando o bloco que homenageia Esú (Exu), como patrono principal do bloco, e por isso sai na segunda, dia deste orisa.
    O bloco homenageia também este ano, Xangô e Oyá

    + NO LINK DO EVENTO NO FACEBOOK

    https://www.facebook.com/events/646148869481108/

     

    #2020IluInãéquente
    Neste ano de 2020, homenageamos Xangô e Oyá, ofertando o calor de nossas ânsias em equidade e buscando sabedoria em nossa ancestralidade.
    Defendendo nossas buscas com a força da mulher que a tudo e todos enfrenta, acolhe os seus e defendendo-os, em par com os oshés (machados de duas lâminas) do Soberano de Oyó, fogo da justiça, sabedoria e prosperidade.
    Kawô Kabiesile, Xangô!!! Epahey, Oyá!!!

    Muito dendê, que nos aqueça e um amalá geral, em busca dos nossos direitos!!!

    Na página do bloco também tem uma programação de atividades antes do cortejo de segunda:

    https://www.facebook.com/pg/iluinablocoafroafirmativodesp

    Colaborou Fernando Sato

  • Brumadinho é homenageado e Vale denunciada por milhares de foliões no Carnaval

    Brumadinho é homenageado e Vale denunciada por milhares de foliões no Carnaval

    Por: Isis Medeiros, especial para os Jornalistas Livres
    Bloco Mangue Beat – Olinda(PE)
    Foto: Leo Milano/Jornalistas Livres
    As vítimas fatais e a população atingida de Brumadinho foi homenageada, enquanto VALE foi alvo de críticas durante os cortejos em várias cidades.
    O massacre da Vale em Brumadinho-MG no dia 25 de janeiro, foi rememorada não só por blocos de carnaval na capital mineira, mas também em outros estados do Brasil.  São Paulo e Pernambuco também trouxeram à tona as bandeiras do povo atingido de Minas Gerais.
    Bloco Mangue Beat – Olinda(PE)
    Foto: Leo Milano/Jornalistas Livres

    Em Belo Horizonte, o bloco que tradicionalmente abre as comemorações do 1º dia de festa no centro da capital mineira, o “Então Brilha”, demonstrou que política e festa combinam muito bem e iniciou a manhã com toque de sirene e um minuto de silêncio em homenagem às vítimas do rompimento da barragem da VALE na Mina do Córrego do Feijão.
    Bloco Chama o Síndico- Belo Horizonte (MG)
    Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Presso
    Bloco Então Brilha – Belo Horizonte (MG)
    Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
    Durante o minuto de silêncio, a bateria do bloco se calou e o som dos tambores foi substituído pelo das sirenes,  em tom de denúncia e protesto pelo crime cometido pela mineradora. Neste ano, o bloco atraiu cerca de 400 mil pessoas às ruas de Belo Horizonte na manhã do último sábado(2) de Carnaval e a bateria do bloco pediu que a tragédia  da Vale dessa vez não passasse impune. “Que a gente nunca se esqueça. Que gente é para brilhar e não para ficar debaixo de nenhuma lama”, disse Di Souza ,regente do bloco, dando abertura ao festejo.
    Bloco Unidos do Barro Preto – Belo Horizonte (MG)
    Foto: Fred Bottrel /E.M/D.A Press
    Bloco Chama o Síndico- Belo Horizonte (MG)
    Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
    Várias outros blocos de luta articulados com o MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens, tiveram a mesma atitude e cobraram mais responsabilidade por parte das mineradoras e do governo. Na segunda-feira (4), o Baianas Ozadas,  fez a multidão se calar por um minuto antes da saída do trio e uma pomba branca foi solta uma criança. Uma faixa estendida no trio elétrico do bloco dizia: “Todo mundo sabe, não foi acidente, a Vale mata peixe, mata rio, mata gente”.
    Os Pavões do bloco “Pena de Pavão de Krishna” se manifestaram contra a Vale e fizeram também um minuto de silêncio em homenagem às vítimas. A bateria silenciou. O bloco hasteou o mesmo bandeirão usado na abertura do carnaval de BH pelo bloco “Então, Brilha!” e pediu que as mineradoras fossem fiscalizadas para que sejam evitadas novas tragédias.
    Bloco Pena de Pavão de Krishna – Belo Horizonte (MG)
    Foto: Leandro Couri/EM
    Bloco Pena de Pavão de Krishna – Belo Horizonte (MG)
    Foto: Leandro Couri/EM

     

    O Bloco Volta Belchior também prestou sua solidariedade à luta do MAB e dos atingidos, o Bloco Afoxé Bandarerê clamou por justiça durante o Kandandu – Encontro de Blocos Afro.

     

    Bloco Volta Belchior – Belo Horizonte (MG)
    Fotos: Lucca Mezzacappa (Jornalistas Livres)
    Bloco Havayanas Usadas – Belo Horizonte (MG)
    Foto: Beto Hektor

     

     

     

    O Bloco Alô Abacaxi faz ecoar “Vale Assassina”  entre milhares de pessoas. Enquanto o Bloco Unidos do Barro Preto deixaram de lado o tradicional barro com que sujam foliões e pintaram os corpos com protestos em alusão às tragédias com barragens em Minas Gerais.

     

    Bloco Unidos do Barro Preto – Belo Horizonte(MG)
    Foto: Juliana de Souza/ Do Brasil Eventos
    Bloco Unidos do Barro Preto – Belo Horizonte(MG)
    Foto: Juliana de Souza/ Do Brasil Eventos

     

    Já o Bloco Havayanas Usadas que tradicionalmente já faz carnaval de luta, realizou intervenções criticando o governo Bolsonaro e pedindo Lula Livre! Débora Mendes, uma das fundadoras do Bloco Havayanas Usadas, fala da parceria com o MAB e denuncia o crime pedindo justiça. O grupo mineiro de mulheres bordadeiras “Linhas do Horizonte” também reafirmou importância da luta e prestou apoio ao movimento. Enquanto isso, o carnaval em Macacos, distrito de Nova Lima(MG), que teve sua população evacuada por mais um risco de rompimento de barragens desde o dia 20 de fevereiro, fez um carnaval de muita resistência e denúncia. Eles cantaram a marchinha “Assim não Vale” e levaram faixas e estandartes com frases contra a mineração irresponsável e que não respeita as vidas da população.

     

    Bloco Havayanas Usadas – Belo Horizonte (MG)
    Foto: Hemerson Morais/Jornalistas Livres

     

    Em São Paulo, o Bloco “Sem Teto” saiu às ruas exigindo direito à moradia enquanto prestaram solidariedade ao povo atingido, que com a tragédia, também perderam seu modo de subsistência, suas casas e a vida digna.

     

    Bloco Sem Teto – São Paulo(SP)
    Fotos: Lorenna Kogawa (Jornalistas Livres)
    Bloco Sem Teto – São Paulo(SP)
    Fotos: Lorenna Kogawa (Jornalistas Livres)
    No Nordeste, Brumadinho e Mariana também estiveram presentes, assim como Chico Science, através de seu irmão “Jamelão”, no Bloco Mangue Beat em Olinda(Pernambuco). Lama, resistência, humor, arte e cultura foram, no sábado (2),  a marca de um dos mais politizados e dançantes blocos do Carnaval de Olinda.
    Bloco Mangue Beat – Olinda(PE)
    Foto: Leo Milano/Jornalistas Livres
    Bloco Mangue Beat – Olinda(PE)
    Foto: Leo Milano/Jornalistas Livres
    Bloco Mangue Beat – Olinda(PE)
    Foto: Leo Milano/Jornalistas Livres
    O crime da Vale em Brumadinho se tornou a maior operação de resgate do Brasil e gera ainda mais indignação por ter se repetido. Em novembro de 2015, o estado já havia chorado pelas 20 vítimas de Mariana, mortas no rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, cujas donas são a Vale e a BHP Billiton. Até o momento, são 186 pessoas mortas e outras 122 continuam desaparecidas. As buscas, coordenadas pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, continuaram durante o Carnaval. De acordo com a corporação, 116 militares atuam nas atividades de salvamento.
    Bloco Havayanas Usadas – Belo Horizonte (MG)
    Foto: Beto Hektor
    Bloco Balai Lama – Belo Horizonte (MG)
    Fotos: Lucca Mezzacappa (Jornalistas Livres)