Jornalistas Livres

Categoria: Assistência Social

  • No Vale do Jequitinhonha, euforia e emoção para receber Lula

    No Vale do Jequitinhonha, euforia e emoção para receber Lula

    Gritos, celulares capturando cada movimento e muitas pessoas disputando um espaço na porta do ônibus. A situação, que se assemelha muito à de um grande astro da música chegando para um show, era a do ex-presidente Lula passando por diversas cidades da região do Vale do Jequitinhonha nesta quarta-feira, dia 25 de outubro, no terceiro dia de sua caravana pelo estado de Minas Gerais. A região foi uma das que recebeu mais benefícios durante o seu governo.

    Caravana do Lula por Minas Gerais. Foto: Ricardo Stuckert

    Paradas não previstas

    Durante o percurso, que previa passagens pelas cidades de Itaobim, Itinga e Araçuaí, o ex-presidente acabou fazendo algumas pausas no meio do caminho, pois diversas pessoas o aguardavam ansiosamente. Uma desses lugares foi Catuji, cidade com o 4º pior IDH de Minas Gerais.

    Maria das Neves Pereira, de 62 anos, era uma das pessoas que aguardavam o petista e relatou como o Bolsa Família melhorou as condições dela e de sua família, composta por quatro filhos e dois netos. “O Lula foi o melhor presidente que já tivemos. Eu tenho um problema de saúde e não posso trabalhar. Com a ajuda do Bolsa Família, agora eu posso fazer compra, pagar uma conta de água e comprar alguns remédios que não consigo de graça”.

    Foto: Patrícia Adriely | Jornalistas Livres

    Outra parada improvisada foi em Padre Paraíso. Tanto que Manoel Nunes Pinheiro, de 44 anos, nem sabia que Lula iria passar por lá, mas assim que foi informado pelo filho sobre a mobilização das pessoas para a passagem do ex-presidente, fez questão de sair de Itaraí e viajar por cerca de 50km para vê-lo. “Toda vida eu fui do lado de Lula, não existe outra pessoa que para substituí-lo. Com o governo dele, eu consegui comprar duas motos e uma bicicleta. Antes dele, pobre não conseguia comprar uma bicicleta, só com muito trabalho”.

    José Ramos Vieira, de 72 anos, revelou que essa não foi a primeira vez que ele viu o Lula. “Conheço ele desde 1976, época da primeira greve em São Paulo. Eu também trabalhava por lá. O Lula foi o melhor presidente da república. O que ele fez, melhorou para mim e minha família, não temos nada a reclamar. Consegui comprar casa, carro e me aposentar. Com ele, foi tudo mais fácil. Pela próxima geração, eu apoio ele”.

    O último local não planejado que Lula passou foi Ponto dos Volantes. Lá, a jovem Karina de Oliveira Alves, de 28 anos, não disfarçava a excitação por ver o ex-presidente. “Ele permitiu a mudança e nos tirou da miséria. Com seu governo, pudemos ter televisão, carro, moto e viajar de avião”, afirmou.

    Grande público

    Entre a multidão admiradora que o esperava na cidade de Itaobim, estavam os jovens Rafael Batista, de 22 anos, João Vitor Alves, de 18 anos, Leron Tanan, 20 anos, e Vinícius Araújo, de 17 anos. Eles afirmaram que não foram diretamente beneficiados por programas implantados durante o governo Lula, mas que reconhecem a importância das ações realizadas. “O comércio da cidade gerava dinheiro e atualmente parou. Ainda estamos em cima do muro, então viemos aqui ouvir o que ele tem a dizer”, ressaltou Vinícius.

    Em Itinga, Lula foi acolhido por um aglomerado eufórico de moradores, com direito, inclusive a um “camarote”. Quem proporcionou isso foi a moradora Thaísa Cordeiro, que abriu as portas e varandas da sua casa para que diversos amigos pudessem ter um bom ângulo para ver e ouvir o ex-presidente. “As outras vezes também foram assim na minha casa. Faço isso porque somos simpatizantes de Lula e reconhecemos a facilidade que ele trouxe para nós moradores”.

    Itinga foi um dos primeiros municípios a receber a visita de Lula após a posse dele como presidente da República em 2003. O lugar ganhou destaque após a construção de uma ponte sobre o Rio Jequitinhonha, que facilitou a locomoção dos habitantes do local e a atuação do comércio. Apesar disso, alguns moradores gritaram “Fora Copanor”, demonstrando insatisfação a um problema recorrente na cidade: a falta de água. De acordo com os moradores Aelson Batista Aguilar e Glória de Fátima Gonçalves, todos os meses de outubro e novembro falta água. “Estamos sem água já tem uma semana”, afirmou Glória.

    Por fim, Lula realizou um grande ato em Araçuaí, cidade que também recebeu grandes investimentos durante o seu governo. No local, 17 mil pessoas foram beneficiadas pelo Bolsa Família e foi realizado a instalação de 1.159 cisternas de água para consumo e 308 para produção. Para a camareira Cleusa de Sousa Câmara, Lula foi o melhor presidente pois ajudou os pobres. “Antigamente, a gente não tinha condições de comprar uma lata de óleo, agora conseguimos ter as coisas”.

    No ato, a estudante Natália Nunes, de 18 anos, segurava uma bandeira do Movimento dos Atingidos pela Barragem. Moradora de Guaranilândia, município a 169km de Araçuaí, ela afirmou que apoia o Lula por querer um país melhor. “Com o passar de dois anos do rompimento da barragem, nada melhorou. Acredito que o Lula pode resolver isso e muito mais”. Nesta quinta-feira (26 de outubro), o presidente continua a caravana com uma visita ao Campus de Araçuaí do IFNMG e à cidade de Salinas.

    *Editado por Agatha Azevedo
    Caravana do Lula por Minas Gerais. Foto: Ricardo Stuckert
  • Doria buscou até a bênção da igreja para salvar ração humana

    Doria buscou até a bênção da igreja para salvar ração humana

    O cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, tem se colocado ao lado do prefeito João Doria na defesa da distribuição dos alimentos liofilizados, popularmente conhecidos como “ração para pobre”.

    Perdendo na política, Doria recorreu ao que há mais de velho na política: a legitimação ideológica da Igreja.

    Talvez o papa Francisco não concordasse com a ideia mas, por alguma razão, o arcebispo deu a bênção ao projeto de Doria. Se você não se lembra quem é o arcebispo, os Jornalistas Livres lembram (e ao que tudo indica, os estudantes da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e o Papa Francisco também).

    Em 2012, dom Odilo nomeou como reitora a professora Anna Cintra, última colocada na eleição interna da universidade. Foi a primeira vez que o primeiro colocado da lista tríplice não foi indicado para ocupar a vaga. No dia 12 de março de 2013, ele participou do Conclave Papal, na Capela Sistina, na cidade do Vaticano, na condição de um forte candidato a sucessor de Bento XVI, que havia renunciado dias antes. Foi derrotado pelo cardeal Jorge Mario Bergoglio,  arcebispo metropolitano de Buenos Aires, o papa Francisco. Em 2014, foi a vez do papa Francisco impor mais uma derrota a dom Odilo e outros três cardeais que integravam a comissão que supervisionava o Banco do Vaticano, após diversas denúncias de corrupção na instituição.

    João Doria, entre a cruz e a espada, foi obrigado a recuar. Deus sabe quais acordos estavam por trás da “ração” de Doria e dom Odilo, mas é certo que o prefeito não desistiu totalmente da ideia e já anunciou que voltará à carga, oferecendo a tal “farinata” (o nome italiano é a mais ridícula gourmetização do Bonzo) aos moradores de rua. Por que não desistiu da proposta? E a licitação? Doria parece não querer desperdiçar o “alimento” feito com alimentos desperdiçados. Por se colocar contra este projeto, a vereadora paulistana Sâmia Bomfim (PSOL) foi hostilizada pelo prefeito.

    Não se sabe do que é feita a ração. Qual o seu conteúdo nutricional. Como sua qualidade será controlada. Um adulto diabético pode ingeri-la? Alguém com intolerância a lactose pode consumi-la? Um vegetariano? E os alérgicos? A ração do Doria é na verdade um projeto canhestro de gestão da fome. Não dá autonomia alimentar e dignidade ao pobre, mas o humilha com um composto seco à moda dos alimentos para cães. Falta a Dória tanta ética como transparência na proposta da ração.

    No fim, Doria parece ter perdido. Nem a igreja conseguiu salvar a alma do projeto.

    Não consigo não lembrar daquele trecho bíblico que ensina a fazer aos outros o que desejamos que nos façam. Será que Doria, Scherer e seus apoiadores comeriam a ração que desejavam distribuir?

  • ASSISTÊNCIA SOCIAL É DIREITO TODOS OS DIAS

    ASSISTÊNCIA SOCIAL É DIREITO TODOS OS DIAS

    Por: Leonardo Koury Martins,
    especial para os Jornalistas Livres

    Enquanto assistente social, compreendi que falar a linguagem mais simples e direta contribui para o acesso a informação e fortalece a comunicação enquanto direito. Aprendi que todo Assistente Social é um comunicador em potencial. Gramsci tinha razão quando colocou o conceito de comunicação popular como forma de organizar a população contra aqueles que querem o povo pobre e servil.

    Pois bem, é momento de falar, em especial sobre a Assistência Social e os direitos que na sua garantia podemos fortalecer. Dizer desta política pública descrita na constituição e que está cada dia mais presente na vida das pessoas mais simples seja na cidade ou no campo.

     

    Atendimento da Assistência Social na ocupação urbana Tomás Balduino / Ribeirão das Neves

    O corte proposto no orçamento pelo Governo Federal para a Assistência Social retoma em alguns meses a volta de um modelo que em boa parte já superamos no país. Nas últimas décadas conversamos com a população, gestores públicos, entidades, trabalhadoras e trabalhadores sobre romper cada vez mais com o assistencialismo e o clientelismo e garantir de forma gratuita (sem dever favor para ninguém) a Assistência Social como um Direito.

    Porque não o assistencialismo e o clientelismo? Porque assistencialismo é fazer, mesmo que se justificando como missão ou bom coração, remendos na vida das pessoas que precisam muito mais do que ajuda e clientelismo é agir de forma equivocada, imaginando que o direito a alimentação fica só na cesta básica, ou mais, fica só no favor e que o mesmo pode ser retribuído, as vezes com outro favor ou até mesmo com o voto que deve ser visto como um direito político inegociável, porem estas distorções tiram dos mais pobres o caráter de cidadania.

    Festa Junina do CRAS Sevilha em Ribeirão das Neves

    Pois bem, direitos não podem ser vistos como favor. Não estarei aqui para falar de números, mas para facilitar o entendimento do corte orçamentário no Sistema Único de Assistência Social SUAS, imaginem que antes você tinha 3000 reais e amanhã terá para fazer as mesmas coisas apenas 79 reais. Imagine quando estes três mil deixam de ser mil e se transformam em Bilhões e estes reais pouco passam de mil para financiar todos os estados e municípios brasileiros.

    Mas que direitos são estes? Vamos lá! Direitos para todos os seres humanos se organizando enquanto direitos socioassistenciais. Direito da mulher em situação de violência em ser atendida, de que as pessoas em situação de rua possam ter garantido diálogo com o estado de forma ética e respeitando sua cultura e vivências, direitos da população idosa e de pessoas com deficiência de serem compreendidas sobre suas vulnerabilidades temporais.

    E como se dão estas vulnerabilidades e risco referente ao trabalho da Assistência Social? Através da oferta de serviços públicos em Centros de Referência no âmbito da Proteção Social Básica (os CRAS) e Proteção Social Especial (os CREAS e outros equipamentos).

    E são nestes serviços que se garante a melhor qualidade de vida, a transferência de renda, os encaminhamentos para as políticas de Saúde, Educação, Emprego e Renda, Transporte e vários outros acessos, pois não se trabalha o fim da pobreza, por exemplo, sem pensar em todas as possibilidades do povo ter uma condição de vida melhor e seus direitos de forma integral garantidos.

    Contudo direitos são direitos. Nenhum direito a menos é reconhecer que mesmo quando não temos como agora o país vivenciando a Democracia, não devemos abrir mão do que já conquistamos, mesmo que o caráter do Golpe seja contra o povo brasileiro. Viva o Dia D proposto pelo COGEMAS e pelos Fóruns de trabalhadores, entidades e usuários da política de Assistência Social. Nenhum direito a menos se faz na garantia do direito a greve, a paralisar os serviços públicos, em garantir o diálogo com a população sobre o que está posto e na garantia de sonhar no que o Chico Buarque cantou. Um amanhã como um novo dia.

    Integração das atividades da Assistência Social e do Banco de Alimentos / Ribeirão das Neves, MG

    Fotografia e Texto: Leonardo Koury Martins – Assistente Social, Professor. Servidor Público da Prefeitura Municipal de Ribeirão das Neves e Conselheiro do CRESS-MG