Jornalistas Livres

Categoria: Bolívia

  • Veja a tradução da declaração de Evo Morales

    Veja a tradução da declaração de Evo Morales

    DECLARAÇÃO DE IMPRENSA DO EX-PRESIDENTE EVO MORALES
    Buenos Aires, 18 de outubro de 2020

    1. Desde a cidade de Buenos Aires, neste dia histórico, domingo, acompanho nosso povo em seu compromisso com a pátria, com nossa democracia e com o futuro de nossa amada Bolívia, de exercer seu direito ao voto em meio aos acontecimentos em nosso País.
    2. Saúdo o espírito democrático e pacífico com que se desenvolve a votação.
    3. Diante de tantos rumores sobre o que vou fazer, venho declarar que a prioridade é exclusivamente a recuperação da democracia.
    4. Quero pedir a vocês que não caiam em nenhum tipo de provocação. A grande lição que nunca devemos esquecer é que violência só gera violência e que com ela todos perdemos.
    5. Por este motivo, conclamo as Forças Armadas e a Polícia a cumprirem fielmente o seu importante papel constitucional.
    6. Diante da decisão do Tribunal Supremo Eleitoral de suspender o sistema DIREPRE (Divulgação de Resultados Preliminares) para ir diretamente para a apuração oficial, informo que, felizmente, o MAS possui seu próprio sistema de controle eleitoral e que nossos delegados em cada mesa irão monitorar e registrar cada ato eleitoral.
    7. O povo também nos acompanhará nesta tarefa de compromisso com a democracia, como o fez tantas vezes, situação pela qual somos gratos.
    8. É muito importante que todas e todos os bolivianos e partidos políticos esperemos com calma para que cada um dos votos, tanto das cidades como das zonas rurais, seja levado em conta e que o resultado das eleições seja respeitado por todos.
    9. Neste domingo, no campo, nas cidades, no altiplano, nos vales, nas planícies, na Amazônia e no Chaco; em cada canto de nossa amada Bolívia e de diversos países estrangeiros, cada família e cada pessoa participará com alegria e tranquilidade na recuperação da democracia.
    10. É no futuro que todos os bolivianos, inclusive eu, nos dedicaremos à tarefa principal de consolidar a democracia, a paz e a reconstrução econômica na Bolívia.
      Viva a Bolívia!
      Evo Morales

    Tradução: Ricardo Gozzi /Jornalistas Livres

  • Bolívia: Fazendo do abraço um ato político em solidariedade contra o Golpe de Estado

    Bolívia: Fazendo do abraço um ato político em solidariedade contra o Golpe de Estado

    Nos dias 8 e 9 de março de 2020, uma delegação plurinacional de feministas chegará à Bolívia com o objetivo de tornar o abraço um ato político de solidariedade.” Assim começa a afirmação daqueles que agem para sustentar a construção de feminismos sem fronteiras atingindo um território onde, desde 19 de novembro de 2019, as garantias constitucionais estão suspensas por um Golpe de Estado racista, patriarcal e fundamentalista. Uma interrupção da democracia comandada, não por coincidência, por uma mulher.
    Nas ruas de El Alto, onde ocorreu um dos massacres mais cruéis contra as populações indígena, camponesa e humilde das cidades que vieram para defender a democracia após o golpe, os muros falam. “Eles mataram meus irmãos com a Bíblia na mão,” contam algumas. Em outros lugares, a disputa com vistas às eleições de 3 de maio – que não estão garantidas – sugere que, apesar dos assassinatos, da repressão e da dor, o povo boliviano continua em pé. Jamais de joelhos, diante da intenção de um estado que se voltou contra as maiorias para restaurar a supremacia branca com o castigo das botas.
    “Historicamente, os feminismos da nossa região se unem contra a militarização e pelo direito à liberdade. Portanto, a resistência do povo boliviano em geral e de suas mulheres em particular representa hoje a imagem mais clara de uma resposta organizada ao racismo, ao fundamentalismo e ao patriarcado após a imposição de um Golpe de Estado,” diz o comunicado das feministas sem fronteiras. “Assim como nossas irmãs na Bolívia, e também no Chile, no Equador, na Colômbia e no Haiti, são as mulheres e os dissidentes que não apenas sofrem as consequências diretas, sistemáticas e disciplinadoras da violência estrutural em seus corpos e territórios, mas também quem responde de forma direta e organizada.”
    A delegação feminista plurinacional chegará à Bolívia para demonstrar sua solidariedade como um ato político. Ela participará das atividades no dia 8 de março, Dia Internacional das Mulheres Trabalhadoras, e o fará em conjunto com as feministas comunitárias e populares que se opõem ao Golpe de Estado. Assim o fazem porque as mulheres e as dissidências são os alvos preferenciais dos fundamentalismos. E porque somente organizadas poderão soltar um grito capaz de romper o cerco midiático que censura as notícias sobre as violações dos Direitos Humanos cometidas desde novembro passado.
    No ano passado, o Golpe de Estado que derrubou o governo de Manuel Zelaya em Honduras completou uma década. Desde então, os feminismos da região se unem contra ditaduras e fascismos entoando um slogan tão político quanto o ato de denunciar: “Nem Golpe de Estado, nem espancamento das mulheres.” Da América Central à do Sul, a demanda por democracia é para este movimento de libertação uma desculpa para exigir que eles não nos matem, não nos violem e que a soberania sobre nossos corpos e territórios seja respeitada.
    Na Bolívia, o golpe cívico, militar, religioso e patriarcal deflagrado por grupos fundamentalistas e fascistas foi imposto contra a escolha das maiorias. Evo Morales, o primeiro presidente indígena da história da região e vencedor das últimas eleições, foi forçado a renunciar após receber ameaças de grupos cívico-militares contra sua integridade, razão pela qual encontra-se exilado. Uma ocasião para observar as manobras intervencionistas de organismos internacionais como a Organização dos Estados Americanos (OEA), que denunciou fraude após a decisão popular.
    “Desde então, repressão, militarização, tortura, detenções arbitrárias e criminalização daqueles que resistem a essa imposição tornaram-se uma rotina diária. Os massacres de Sacaba, Cochabamba e Senkata, El Alto levados a cabo pelo governo de fato de Jeanine Añez durante os primeiros dias do golpe são evidências claras”, afirma o grupo no comunicado, avançando em sua caracterização do contexto: “evidenciam a relação do golpe com grupos conservadores e fascistas que não toleram que os indígenas tomem a palavra, manifestem seus costumes, organizem ou se tornem parte de governos. Como parte do mesmo plano, o cerco midiático e a perseguição de líderes políticos e sociais como práticas sistemáticas colocaram em funcionamento um dispositivo de impunidade e desinformação em vigor até hoje.”
    Os feminismos estão por todos os lados. Trata-se de um movimento sem fronteiras que não pode mais ser mantido à distância. Que ocupa seu lugar na história e assume a responsabilidade política de intervir diante das injustiças perpetuadas pelo sistema racista, patriarcal e capitalista. “Não podemos, nem queremos, separar nossas práticas feministas das lutas dos povos,” finaliza a declaração. A presença da delegação feminista plurinacional na Bolívia é a possibilidade de transformar o abraço em ato político.
    E vai continuar até que sejamos todas livres…
  • Candidato de Evo Morales lidera intenções de voto na Bolívia

    Candidato de Evo Morales lidera intenções de voto na Bolívia

    O candidato do partido Movimento ao Socialismo (MAS), Luis Arce, apadrinhado político do ex-presidente Evo Morales, lidera as pesquisas de intenção de voto para o primeiro turno das eleições presidenciais na Bolívia, em 3 de maio.

    Segundo sondagem do instituto Ciesmori divulgada neste domingo (16/02), Arce supera com ampla vantagem o ex-presidente centrista Carlos Mesa e a autoproclamada presidente interina, a direitista Jeanine Áñez, mas ainda teria que enfrentar um segundo turno.

    Com 31,6% das intenções de voto, o candidato de Evo aparece 14,5 pontos percentuais à frente de Mesa, que obteve 17,1% de apoio na pesquisa. Áñez, por sua vez, conquistou 16,5%.

    Por sua vez, o líder civil conservador Luis Fernando Camacho alcançou 9,4%, seguido pelo pastor evangélico coreano Chi Hyun Chung, com 5,4%. A maior surpresa é o resultado alcançado pelo ex-presidente de direita Jorge “Tuto” Quiroga, que mal atingiu 1,6%.

    Uma sondagem feita em janeiro pelo instituto Mercados y Muestras para o jornal Página Siete havia dado 26% para Arce, considerado o pai da estabilidade econômica boliviana. O economista foi ministro da Economia e Finanças do país em duas ocasiões, entre 2006 e 2017 e novamente em 2019.

    No Twitter, Arce agradeceu “o apoio do povo bolivariano […] no interior e nas cidades”. Já seu candidato a vice-presidente, David Cochehuanca, enfatizou que os resultados da pesquisa “dão mais força para continuar trabalhando” no objetivo do MAS de retomar o poder na Bolívia.

    Os candidatos do MAS participarão nesta segunda-feira de uma reunião em Buenos Aires, de onde Evo Morales atua como chefe da campanha do partido.

    Áñez, em uma breve mensagem no Twitter, também agradeceu “a confiança recebida”, enquanto expressou seu compromisso de “colocar a Bolívia em primeiro lugar”.

    A nova pesquisa, encomendada pelo jornal El Deber e pela emissora de televisão Unitel, entrevistou 2.224 eleitores e foi realizada entre 7 e 14 de fevereiro nas capitais dos nove departamentos do país, com margem de erro de 2,07%.

    O candidato de Evo lidera as intenções de voto em cinco departamentos: La Paz (oeste), Cochabamba (centro), Potosí (sudoeste), Oruro (sul) e Pando (norte), enquanto Áñez triunfa em Tarija (sul) e Beni (nordeste), sua terra natal. Mesa recebe maior apoio em Chuquisaca (sudeste).

    Se os números da sondagem prevalecerem, Arce e Mesa disputarão o segundo turno em 14 de junho. A Constituição estabelece que, para ser eleito no primeiro turno, um candidato precisa obter mais de 40% dos votos válidos, com uma vantagem de dez pontos percentuais sobre o segundo colocado.

    O órgão eleitoral boliviano deverá revelar a partir desta segunda-feira quais candidaturas estarão habilitadas para participar da eleição. A chapa de Arce deve completar ainda alguns dos requisitos; e há questionamentos sobre Áñez ser candidata sem ter reununciado à presidência interina do país.

    As eleições de 3 de maio foram convocadas extraordinariamente após a anulação do pleito realizado em 10 de outubro, depois que uma auditoria da Organização dos Estados Americanos (OEA) denunciou irregularidades em favor do então presidente Evo Morales, eleito para seu quarto mandato.

    Evo, que governou a Bolívia por quase 14 anos, desde 2006, anunciou sua renúncia em novembro, pressionado pelas Forças Armadas, para no dia seguinte seguir em asilo para o México. A renúncia foi descrita como “golpe de Estado” por vários governos e políticos latino-americanos, enquanto outros países reconheceram o governo interino de Áñez.

    Em meados de dezembro, Morales seguiu do México para a Argentina, onde recebeu a condição de refugiado. À época, o vice-chanceler mexicano para a América Latina, Maximiliano Reyes Zuñiga, informou que Morales optou por viajar à Argentina “por causa da proximidade geográfica” com seu país.

    FC/afp/efe

    Via DW

  • Exclusivo: para especialista, Evo Morales tinha o direito de disputar sua quarta eleição

    Exclusivo: para especialista, Evo Morales tinha o direito de disputar sua quarta eleição

    Fotos: Leonardo Milano/Jornalistas Livres

    No recente Golpe de Estado ocorrido na Bolívia, a direita e a extrema direita  alegaram que Evo Morales não respeitou a democracia e o desejo do povo, ao concorrer a seu quarto mandato. Alegam também que houve fraude nas eleições, e que esse acúmulo de supostas irregularidades seria o fator desencadeador do Golpe, embora não tenham apresentado provas acerca dessas acusações.

    Para esclarecer essas questões, procuramos o especialista em constitucionalismo latino-americano, Gladstone Leonel, que concedeu aos Jornalistas Livres uma entrevista exclusiva.

    “A OEA foi uma instituição legitimadora do golpe. Hoje dá pra entender os motivos que fundamentaram o rompimento da Venezuela com a OEA.”

    “O que Evo fez é o que qualquer cidadão que busca uma demanda deve fazer em um país pautado no Estado de Direito e na repartição de poderes: recorreu ao Judiciário. Não foi uma manobra, foi um direito”

     

    JL – A oposição a Evo Morales o acusa de ter feito uma manobra para burlar o plebicito que ele perdeu. Muita gente, que não é de direita, tem dúvidas sobre isso e acredita que Evo deveria ter respeitado o resultado do plebicito. O que você pensa sobre isso?

    GL – O que Evo fez é o que qualquer cidadão que busca uma demanda deve fazer em um país pautado no Estado de Direito e na repartição de poderes: recorreu ao Judiciário. Não foi uma manobra, foi um direito, garantido por um devido processo legal e um julgamento de um poder próprio, o Judiciário. Certamente, algumas pessoas podem discordar da decisão, mas trata-se de análise própria do Tribunal Constitucional Plurinacional que considerou devido a possibilidade de reeleição e compatível com o corpo constitucional.

    “A Bolívia, como o Brasil, possui uma elite extremamente atrasada, colonizadora e racista.”

    JL – O golpe que ocorreu na Bolívia tem um forte caráter racista e misógeno. Viu-se nas ruas gente branca – em sua maioria, de classe média xingando os indígenas, dizendo coisas como “a Bolívia é nossa, chucros”. Você acha que esse ódio tem similaridades com o golpe recente que ocorreu no Brasil?

    GL – A Bolívia, como o Brasil, possui uma elite extremamente atrasada, colonizadora e racista. A diferença é que na Bolívia está uma parcela muito pequena de brancos, se comparado aos indígenas e mestiços. Contudo, exceto no governo Evo, essa elite sempre teve o domínio político do país. Não é uma surpresa desrespeitarem o resultado das urnas através de um golpe. O período de maior estabilidade foi durante os governos de Evo. A história da Bolívia é a história dos golpes de Estado, mais de 100 desde sua independência.

    “Certamente, contarão com o apoio internacional de países alinhados com o golpismo, inclusive os Estados Unidos, para se manterem no poder”

    JL – Como você acha que ficará a Bolívia, após o golpe de Estado? Há chance de o MAS voltar ao poder?

    GL – Chance há, mas ninguém dá um golpe desse para perder uma eleição na sequência. Certamente, contarão com o apoio internacional de países alinhados com o golpismo, inclusive os Estados Unidos, para se manterem no poder. Somente uma movimentação brusca da sociedade civil poderá garantir uma mudança de rumo no sentido da retomada do MAS à presidência da Bolívia.

    “Não existem golpes na América Latina sem o apoio dos Estados Unidos.”

    JL – Você acredita que há participação do governo brasileiro e dos EUA no golpe?

    GL – Não existem golpes na América Latina sem o apoio dos Estados Unidos. Seria uma inocência secundarizar o papel do imperialismo nos dias de hoje. Isso não só é notório, como explicitado pelos presidentes que reconheceram o golpe no momento que se iniciou, e o fazem isso não só na Bolívia, como em outros países como a Venezuela.

    “Ela (OEA) só foi a centelha que animou a elite golpista a consumar o golpe.”

    JL – A OEA disse que havia indícios de irregularidades nas eleições de outubro, mas não apresentou provas. Qual foi o papel da OEA (Ordem dos Estados Americanos) no golpe?

    GL – A OEA foi uma instituição legitimadora do golpe. Hoje da pra entender os motivos que fundamentaram o rompimento da Venezuela com a OEA. No caso da Bolívia, ela colocou em cheque as eleições sem apresentar prova de fraude. O governo Evo errou ao considera-la apita para uma auditoria, uma vez que ela já tinha se posicionado de forma a tumultuar o processo, fazendo críticas públicas e tendo um julgamento parcial sobre o processo. Não estava apta a auditar nada. Sequer teve tempo! Ela só foi a centelha que animou a elite golpista a consumar o golpe.

    “Caso o governo Bolsonaro continue implementando essas medidas anti-populares, em algum momento e de alguma forma, essa conta chegará”

    JL – Você acredita que, assim como está acontecendo com outros países da América Latina, O Brasil possa entrar em convulsão social, por conta da política ultra liberal de Bolsonaro?

    GL – Difícil fazer um diagnóstico e comparar as situações. Existem muitos aspectos distintos, como a formação do povo, alterações constituintes, dentre outros. Mas todas essas insurreições podem ser um sinal de que a insatisfação popular tem crescido conforme cresce o descrédito com o governante. As redes sociais potencializam e aceleram essas insatisfações, além de serem usadas como formas de manipulação. Caso o governo Bolsonaro continue implementando essas medidas anti-populares, em algum momento e de alguma forma, essa conta chegará, seja com maiores mobilizações ou mais provavelmente, maior repressão ao povo.

    JL  No seu ponto de vista, qual o papel da internet e das redes sociais na atual crise que se abateu sobre os países da América Latina?

    GL – Já adiantei isso na resposta anterior. Acredito que elas estejam acelerando e potencializando alguns processos, além de ser um formidável instrumento de manipulação.

    “Quando você tem uma pluralidade de meios, a notícia torna-se mais difícil de ser manipulada. Quanto mais concentrada, maior a manipulação.”

    JL – Como combater as fake news, que cada vez mais vêm influenciando resultados de eleições?

    GL – Um dos caminhos de combate às fake news é uma maior democratização dos meios de comunicação. Quando você tem uma pluralidade de meios, a notícia torna-se mais difícil de ser manipulada. Quanto mais concentrada, maior a manipulação. Enquanto no Brasil recebemos a notícia de 5 grandes grupos empresariais de comunicação e uma enxurrada de mensagens virtuais, sem qualquer regulação ou verificação de veracidade, na Argentina se tem na TV aberta canais de TV sobre a América Latina (Telesur), Rússia, Síria , dentre os locais. A notícia certamente chega muito mais qualificada ao receptor.

    “Esse foi o grande erro do governo do PT. Tirou milhões da miséria sem politização social.”

    JL – Qual a importância de se politizar as camadas sociais que ascenderam durante governos progressistas?

    GL – Total. Esse foi o grande erro do governo do PT. Tirou milhões da miséria sem politização social. Isso fez com que parte daqueles que saíram, voltassem a miséria em governos como de Bolsonaro, sem capacidade para resistirem a isso. A dificuldade de comunicação do governo com o povo também foi um sinal dessa despolitização, pois o povo amparado pelo discurso do consumo e da meritocracia achava que os êxitos na vida eram fruto do esforço próprio e não de programas de governo que possibilitavam isso. A proposta inicial do Fome Zero com Frei Betto possuía essa preocupação, algo que foi escanteado na implementação do Bolsa Família. Sem politização social e democratização da mídia, Judiciário e Forças Armadas, como ocorreu na Venezuela, dificilmente os governos populares na América Latina sobreviverão muito tempo aos golpes de Estado.

    • Gladstone Leonel da Silva Junior é Doutor em Direito, Estado e Constituição pela Universidade de Brasília. Pós-doutor em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB. Professor do Programa de Pós-graduação em Direito Constitucional da Universidade Federal Fluminense. Morou na Bolívia e escreveu o livro “Novo Constitucionalismo Latino-americano: um estudo sobre a Bolívia”.

    Leia tudo que publicamos sobre as eleições e o Golpe na Bolívia.

     

  • CIDH vai a Bolívia ouvir vítimas

    CIDH vai a Bolívia ouvir vítimas

    A Comissão Interamericana de Direitos Humanos esteve nos dias 24 e 25 de Novembro na Bolívia visitando as algumas áreas, e recebendo denúncias da população. O Secretário- Executivo da CIDH, Paulo Abrão foi pessoalmente ao local.

    O Massacre na Bolívia

    Em nota divulgada no dia 20.11, o organismo vinculado à OEA (Organização dos Estados Americanos), condenou a ação das Forças Armadas e policiais na repressão aos protestos realizados no país, e classificou como “inadmissível” o decreto da autoproclamada presidenta Jeanine Áñez que visa eximir de responsabilidade penal os militares que participem das matanças.

    Além disso, o comunicado também adverte sobre “as ameaças dirigidas a líderes do governo anterior, parlamentares e dirigentes sociais” ligados ao partido MAS (Movimento ao Socialismo), assim como “a funcionários e dirigentes de instituições independentes do Estado, como os organismos nacionais de promoção e proteção aos direitos humanos”.

     

    Mais na nota oficial:

    http://www.oas.org/es/cidh/prensa/comunicados/2019/301.asp?fbclid=IwAR2db8GDwY8rvKt3zyme_mXxlSPx9T489KCXiIH3NSw5RXSyHbZaAc4MqME

     

     

  • Bolívia: o que é e o que representa a bandeira Wiphala

    Bolívia: o que é e o que representa a bandeira Wiphala

    Por Jamille Nunes

    A Wiphala é uma bandeira com sete cores, onde cada uma delas carrega um significado. Ela não apenas é um símbolo dos povos originários da região da Cordilheira dos Andes, como também representa a filosofia andina.

     

    Suas cores e estrutura não são à toa, tal qual sua composição e dimensão. Originalmente quadrada, a simetria simboliza a igualdade dentro do sistema comunitário andino.

     

    As cores da bandeira representam:

    o branco – o tempo e o espaço, a história cíclica;

    o amarelo – força e energia que unem todas as formas de existência;

    o laranja – a sociedade, a formação, educação e prática da expressão cultural,

    o vermelho – a Mãe Terra, o mundo material e visível;

    o violeta – a ideologia andina de comunidade e harmonia com tudo o que existe;

    o azul – os fenômenos naturais, os espíritos e a energia cósmica;

    o verde – a produção andina e as riquezas naturais, da superfície e do subsolo;

     

    A Whipala também é uma fração da Chakana, vulgo cruz andina, também quadrada. Esta última, representa pontos cardeais, deuses e o mundo inferior, o mundo do meio e o mundo superior.

     

    Fotos: Marcio Lambert

     

    Origem

    Sua origem é misteriosa, mas alguns a atribuem ao povo Tiwuanaku. Em um sítio arqueológico a 70 km de La Paz, se encontram vasos esculpidos com os quadrados coloridos que datam de 200 a.C.

     

    Importante notar que até a invasão, os povos andinos não tinham o costume de usar bandeiras ou estandartes. Isso mudou ao entrarem em contato com os espanhóis.

     

    A Whipala se consolidou como uma bandeira nos anos 70, durante mobilizações campesinas para resgatar a identidade política dos Aimaras. O primeiro registro de alguém a utilizando dessa forma, segundo o historiador Gérman Choquehuanca, aconteceu em 1899, com o líder indígena Zárate Villca, durante uma rebelião da Guerra Federal.

     

    É provável que “Wiphala” derive etmologicamente de duas outras palavras aimaras: “Whipay”, exclamação de triunfo, e “Laphaqui”, que significa fluir com o vento.

     

    Whipala, símbolo pátrio da Bolívia

    A bandeira foi tomada como símbolo oficial da Bolívia durante o primeiro mandato de Evo Morales, em 2009. Por isso, ela figurava oficialmente ao lado da bandeira do país, inclusive em uniformes oficiais da polícia local. Uma das formas do polícia boliviana de demonstrar seu posicionamento a favor do golpe foi removendo a Whipala dos seus uniformes, enquanto outros manifestantes de direita atearam fogo nela.

    Fotos: Reprodução/La Voz de Tarija e Diario Registrado

     

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