Jornalistas Livres

Autor: Lívia Anselmo

  • Matheus Chaparini não vai dormir em casa

    Matheus Chaparini não vai dormir em casa

    Enquanto cobria a ocupação da Secretaria da Fazenda, o repórter Matheus Chaparini foi preso pela Brigada Militar (BM) de Porto Alegre. Na manhã desta quarta-feira, 15 de junho, o jornalista saiu de casa para mais um dia de trabalho pelo Jornal JÁ, da capital gaúcha. Pelo excesso de autoritarismo de uma corporação que não tem medido esforços para oprimir e reprimir, Matheus não vai dormir em casa hoje.

    Matheus vai dormir no pior presídio do país, o Presídio Central de Porto Alegre, ao lado de tantas outras vítimas de um Estado que usa sua polícia para lotar presídios com pessoas inocentes ou não. Ainda aqueles que são culpados de algum crime, não merecem essa polícia e essa política de encarceramento.

    Hoje uma das vítimas da polícia que está cada vez mais perdida e perversa nas ruas do país foi Matheus. Um cidadão, por acaso jornalista, que estava onde os militares não queriam. Além disso, estava trabalhando na tentativa de mostrar como agem os soldados do governador. Para eles, ao que tudo indica, exercer o jornalismo livremente é crime.

     

    poa1506

    Matheus é vítima de uma polícia truculenta que age todos os dias nas favelas, periferias e contra movimentos sociais, pobres, negros e todos aqueles que estão à mercê do Estado. Quantos Matheus dormirão em presídios hoje? Ao lado de Matheus, mais 10 estudantes maiores de idade que estavam na ocupação foram encaminhados a presídios.

    O repórter deve sair amanhã, após uma Audiência Custódia. Ele sairá do presídio com acusações de crimes que, até aqui, nem sabia que se encaixariam na função de repórter que ocupa no Jornal JÁ. Acusado de corrupção de menores, organização criminosa, esbulho possessório, resistência à prisão, desacato de autoridade e dano qualificado ao patrimônio público, Matheus é mais uma vítima da polícia militar do Rio Grande do Sul, mas também poderia ser de São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Brasília, entre outras.

    Como Jornalistas Livres, defendemos o livre exercício da profissão e repudiamos a prisão de Matheus Chaparini. Não podemos aceitar tranquilos o fato de um colega ser preso arbitrariamente. Estamos em defesa de sua liberdade.

  • Secundaristas em Luta: escolas em Porto Alegre são ocupadas

    Secundaristas em Luta: escolas em Porto Alegre são ocupadas

    Enquanto os mais velhos aplicam um golpe travestido de impeachment, os jovens secundaristas colocam em prática conceitos de construção coletiva, representatividade e, até de, democracia nas recentes ocupações das escolas públicas estaduais de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Talvez, se o interino Michel Temer e seu ministério tivessem vivido estas experiências quando estudantes, o Brasil não veria mais uma vez a história se repetir com a oligarquia ignorando a vontade da maioria.

    Tal como tem acontecido nas escolas do Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará e Mato Grosso do Sul, os secundaristas da capital gaúcha têm ocupado as unidades de ensino para cobrar investimentos na educação. Desde a última quarta-feira (11), as escolas estaduais deixaram de ser espaço apenas para o ensino tradicional e passaram, a ser um espaço aberto ao diálogo com alunos, professores, comunidade e governo que, segundo próprios ocupantes, ainda não deu indícios de que haverá negociação.

    De portas abertas a quem quiser contribuir com o movimento, a ideia dos estudantes é que todos possam entender a necessidade da ocupação e a cobrança em cima do executivo estadual, que tem José Ivo Sartori (PMDB) como chefe. Escolas com estruturas defasadas, ausência de funcionários, professores com salários parcelados, instituições de ensino sendo fechadas e estudantes sem merenda são apenas algumas das irresponsabilidades que caem sobre o governo e motivam o movimento.

    foto 1 - Natasha Quednau

    Na capital gaúcha, até este domingo, 15,  são cinco escolas ocupadas. A primeira a se tornar sede do movimento dos estudantes, na quarta-feira,11,  foi o Colégio Coronel Afonso Emílio Massot que estava sem professores, merendeiras e sem dinheiro para a manutenção da escola. Em seguida, na quinta-feira, 12, estudantes ocuparam a Escola Agrônomo Pedro Pereira onde, segundo eles, existe a possibilidade de privatização parcial da educação pelo governo gaúcho.

    Uma das mais tradicionais escolas estaduais de Porto Alegre, o Colégio Júlio de Castilhos, também foi ocupado. Na zona sul da capital gaúcha, a Escola Estadual de Ensino Médio Padre Réus precisa de melhorias na estrutura e está ocupada. Segundo os ocupantes, nunca houve uma reforma no colégio. A última unidade a ser ocupada, na noite de sábado, 14, foi a Escola Estadual Paula Soares.

    Nas ocupações, adolescentes de 15, 16 e 17, em sua maioria, dão um belo exemplo de como seguir resistindo e lutando pela educação. Todos são iguais, têm liberdade para discordar e propor suas ideias, prevalecendo sempre o que o grupo discute em assembleias. Ou seja, há um regime democrático. Todos se dividem para os cuidados com a alimentação, segurança, limpeza, comunicação, contabilidade, administração e demais atividades. Ou seja, há construção coletiva. Meninas, meninos, homossexuais, negros, pobres, ricos,  pais, professores, voluntários e demais interessados estão discutindo o que deve ser feito. Ou seja, há representatividade.

    Tudo o que falta no recém-iniciado governo Temer tem de sobra nas escolas ocupadas. Inclusive, eles estão de portas abertas para os movimentos sociais que desejarem utilizar os espaços para formações, oficinas e palestras. Feminismo, cultura, representatividade de setores ignorados pela elite branca estão em pauta nas escolas. Uma nova escola está se formando.

    Greve por tempo indeterminado

    Na última sexta-feira, 13, os professores da rede estadual entraram em greve por tempo indeterminado. Os secundaristas organizaram grupos pelas redes sociais e preveem mais ocupações para esta semana que inicia. O objetivo é que o movimento todo apoie as reivindicações dos professores. Entre as pautas que levaram os docentes a optar pela paralisação estão o fim do parcelamento de salários, o reajuste de 13,1% nos vencimentos, o fim do fechamento de turmas e escolas, disponibilidade de merenda para todos e cumprimento da lei do piso que, de acordo com o sindicato, está 69,44% defasado.

    Foto: Natasha Quednau
    Foto: Natasha Quednau

    Ajuda

    Todas as escolas ocupadas estão precisando de ajuda de materiais para limpeza e alimentação. Pelo Facebook, os alunos têm divulgado tudo o que precisam.

    Ocupa Tudo RS

    Ocupa Julinho

    Ocupa Massot

    Ocupa Padre Reus