Jornalistas Livres

Autor: Flávia Martinelli / Jornalistas Livres

  • Podcast poético traz diálogo entre condenados e os que condenam

    Podcast poético traz diálogo entre condenados e os que condenam

    Série “Fórum de Investigações Poéticas” é resultado de vivência artística dentro de uma instituição do judiciário. Projeto traduz os meandros do sistema em arte e informação acessível a todos

    Artistas chegam numa repartição pública brasileira para vivenciar, por um ano e meio, o cotidiano da instituição. É uma residência artística, mas nos meandros das estruturas dos governos. O desafio é compreender as dinâmicas das instituições de poder e, com os agentes do Estado, usar as ferramentas da arte e da comunicação para mostrar a importância das pessoas que trabalham ali e facilitar o diálogo dos órgãos com a sociedade. A ideia, inovadora por si só, vai ainda mais além nos dois primeiros episódios do podcast “Fórum de Investigações Poéticas”, que se propôs a compreender o sistema judiciário brasileiro, e terá um total de quatro programas mensais até o fim deste ano.

    “Ao entrar no mais refratário e inacessível dos poderes, o Judiciário, profissionais da música, poesia, artes visuais, design, jornalismo e até grafic motion encontraram uma brecha e uma necessidade: a interlocução”, explica o artista plástico residente Daniel Lima, diretor da produtora e editora Invisíveis Produções. Após três meses de visitas ao Fórum Brás das Varas Especiais da Infância e da Juventude, em São Paulo, ele e sua equipe -formada pelo jornalista livre, designer e fotógrafo Fernando Sato, a produtora Lais Ribeiro e o pesquisador Felipe Teixeira- perceberam, de cara, a necessidade de colocar no papel a prática e os conceitos dos processos jurídicos do local. Antes da série de podcasts, nasceu, assim, um diagrama com a cartografia daquele espaço e suas estruturas.

    O cartaz da cartografia (abaixo), que pode ser baixado neste link em alta resolução, traz desde a importância da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente até o que significam termos típicos daqueles corredores como “oitiva informal”, “representação pelo Ministério Público” e “relatório de diagnóstico polidimensional”. Também esclarece os diferentes papéis dos profissionais do Direito que atuam nas instâncias jurídicas.

    “Como a gente se sente quando entra numa delegacia? Num fórum? São ambientes áridos, desprendidos de uma relação social e humana”, pontua o jornalista Sato, da residência artística. “Quem está do seu lado e quem não está? Informação é a primeira defesa. A cartografia, o podcast, são formas de tentar empatar o jogo. Começar com o 0x0 e, a partir disso, entendermos se a justiça é cega mesmo. E pra quem.”

    Fórum de Investigações Poéticas – Fórum de Investigações Poéticas (750×421)

    “Nos deparamos com a perversidade de um mecanismo desde sempre criado para perpetuar privilégios e ser incompreensível para a maioria. É muito comum encontrar mães sem saber porque não foram ouvidas em determinado momento no Fórum ou porque o filho não pode se manifestar naquele dia diante do juiz. Existe todo um procedimento feito para excluir”, diz Daniel, que também é mestre em Psicologia e doutorando em Meios e Processos Audiovisuais pela Universidade de São Paulo.

    “Além dos familiares e responsáveis pelos jovens infratores, era preciso também criar algo que esclarecesse os trâmites e conceitos até para os próprios funcionários do Fórum que, mesmo lá dentro, não compreendiam muitas situações.”

    A Cartografia foi criada coletivamente pelo grupo de trabalho com artistas e agentes públicos. O informativo contemplou dúvidas de mães, condenados e traz ponderações de ativistas: ‘é um sistema feito para ser incompreensível para a maioria’ – Crédito: Fórum de Investigações Poéticas

    O informativo contou com uma equipe de aprendizado colaborativo com agentes do judiciário, além entrevistas com desembargadores e juízes. “A cartografia traz ainda ponderações fundamentais feitas por especialistas que propõem novas condutas à justiça penal e alternativas ao modelo vigente, de prisão até para crimes não violentos, que até hoje não deu certo”, pontua o diretor.

    Podcast ampliou o debate

    Mas, então, veio a pandemia da Covid-19… Entrevistas e encontros presenciais no Fórum ficam impossíveis. Daniel partiu para os podcasts. “Foi positivo pois pudemos ouvir muitos especialistas e trazer uma visão transversal do tema da justiça, passando pela educação, saúde mental, lazer e cultura. Não há como fazer reinserção social sem discutir o sistema de acesso aos direitos com um todo”. Com a abordagem ampliada, o diretor trouxe para as entrevistas trilhas sonoras originais criadas a partir dos depoimentos.

    O resultado é surpreendente. “É uma investigação poética, criada para sensibilizar os ouvintes pela arte. Mostramos esse assunto árido com afeto, no sentido de afetar o intelocutor no corpo, na alma, na micropolítica do dia-a-dia e na subjetividade de qualquer pessoa.” De fato, não é um podcast sobre justiça apenas para especialistas. E isso é intencional. “Nossa justiça, tão injusta, remanescente do escravismo, fincada no punitivismo, tem que passar por uma transformação cultural”, acredita o diretor, que gosta de chamar o resultado do posdcast de “ópera jornalística”.

    Os áudios contam com poesias, tambores, músicas próprias e mixagem cuidadosa que é, em si, um personagem das narrativas. Cada episódio também traz um teaser em vídeo como um convite para ouvir o podcast. Assista o primeiro:

    “A gente não superou o regime escravocrata”

    Lançado em agosto, o programa de estreia trata da incoerência entre os 30 anos da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente no Brasil, que transformou o jovem em sujeito de direitos com uma série de proteções e garantias, mas não mudou as estruturas dos estabelecimentos de internação degradantes e violentos para infratores. Para discutir o tema, foram convidados o juiz Jayme Garcia, o secretário de Justiça do Estado de São Paulo e Presidente da Fundação Casa, Paulo Dimas, e a mãe de dois jovens que estiveram nos corredores das varas de infância, Miriam Duarte, fundadora da Amparar (Associação de familiares e amigos de presos/as), que luta pelos direitos dos assistidos.

    O link para o Spotify: https://open.spotify.com/episode/24qSb33g9FaU4AUU6M7eXG

    Se preferir, ouça o podcast no YouTube clicando aqui.

    Jayme Garcia, juiz entrevistado e que recebeu o grupo de artistas no Fórum do Brás, passou pelo sistema penal como juiz de execução e hoje atua na vara da infância e juventude. No podcast, ele critica a contaminação do Direito criminal no sistema voltado para jovens, que tem como finalidade principal o processo socioeducativo.

    “O índice dos jovens internados é muito alto, o último levantamento apontou 23 mil”, relata o juiz. “Faço minha própria estatística: 93% dos jovens que passam pela na minha vara são pretos ou pardos. Mais de 60% dos internados são pretos ou pardos. Costumo dizer o seguinte: o sistema socioeducativo e o sistema prisional são a face mais visível da latente escravidão que existe ainda no Brasil. A gente não passou né? A gente não superou o regime escravocrata.”

    “Eles têm tudo aquilo o que não têm fora”

    O podcast segue com intervenções de poesia, música e o diálogo em que o presidente da Fundação Casa, Paulo Dimas explica que “a internação acaba sendo um espaço importante para jovens que não tem nenhum convívio familiar, não tem nenhuma proteção social”. Eles, segundo Dimas, dentro do espaço socioeducativo, crescem… “Por que ali tem tudo aquilo que eles não têm fora. Tem atendimento médico, quatro refeições por dia, oportunidade de prática esportiva, escola.” Só mesmo ouvindo para compreender. A trilha sonora da sequência é fundamental.

    Vale ouvir, por fim, o relato de Miriam, moradora do Jardim Planalto na zona Leste, uma vítima do sistema socioeducativo estatal. Mãe de três que filhos passaram pela antiga Febem (Fundação Bem Estar do Menor, que foi substituída pela Fundação Casa), conta que dois deles foram assassinados ainda na adolescência. “Tenho que lutar para me manter viva e respirar.” O relato traz em detalhes o que jamais deveria ser feito com crianças e famílias vulneráveis. Só ouvindo mesmo.

    O rapper Dexter e Preta Ferreira explicam o que viveram

    O segundo episódio do podcast Fórum de Investigações Poéticas, recém publicado, explica as três engrenagens da Justiça Criminal: Segurança Pública (atuação das polícias), Justiça Criminal (fórum, julgamento, acesso aos mecanismos de defesa) e Execução Penal (presídios e encarceramento em massa).

    Para entender o mecanismo, foram convidados o rapper Dexter e a cantora e atriz Preta Ferreira, ambos foram encarcerados e questionam o sistema criminal. Também foram ouvidas as advogadas Marina Dias e Tamires Sampaio.

    Laís Ribeiro, a produtora do projeto, resume bem a proposta que perpassa todos os episódios: “buscamos maneiras, pela arte, de articular ações com o próprio setor público crítico e democratizar informações super complexas também de maneira crítica”. Ela entende que o sistema penitenciário não é um dos piores do mundo por incompetência, “a segurança pública não é violenta com certos grupos sociais por acaso, o judiciário não é uma máquina de moer vidas e sonhos porque passamos por uma crise Estatal”. Pelo contrário. “Tudo está conforme o planejado e muitíssimo bem engrenado. Precisamos, enquanto sociedade, encontrar as brechas para agir.”

    Veja, abaixo, o teaser do programa. Aqui, link para ouvir o podcast na íntegra pelo YouTube. E pelo Spotify, aqui. Não perca os próximos episódios. É transformador.

    PARA SABER MAIS:
    Site do Fórum de Investigações Poética por Daniel Lima

    Reportagem originalmente publicada no blog MULHERIAS

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  • Arma, mata-leão e algemas: o que o espancamento de Mestre Nenê, com o filho no colo, diz sobre o Brasil

    Arma, mata-leão e algemas: o que o espancamento de Mestre Nenê, com o filho no colo, diz sobre o Brasil

    Mestre Nenê só usa roupas brancas. Quando não está jogando capoeira, o chapéu na cabeça – que deixa à mostra longos dreadlocks – é praticamente sua marca registrada. Se for necessário identificá-lo por outra característica marcante basta encarar seus olhos. Verde-acinzentados, são inconfundíveis.

    Fotos: Lina Marinelli / Jornalistas Livres

    Na quarta-feira, 19 de agosto, por volta das 19 horas, ele estava com o filho de cinco anos no colo, na calçada da comunidade onde mora, o Mangue, encravado no famoso da bairro da Vila Madalena, quando cinco policiais de uma viatura o abordaram. Mestre Nenê não sabia, mas a diligência, que ele já havia visto passar na rua, estava à procura de um suspeito por roubo. O suposto autor do crime estaria em roupas escuras de motoqueiro, com cabelo curto e seria jovem.

    Aos 45 anos, as mechas grisalhas na barba ou cabelo denunciam a maturidade do Mestre. A única possível semelhança com o suspeito era ser negro. E foi o bastante para que a Polícia Militar de São Paulo valesse de seus protocolos de morte contra o capoeirista. 

    Revólver engatilhado, golpe mata-leão, a ida a um hospital para receber sedação e à delegacia para ser fichado foram os procedimentos destinados ao Mestre pelos agentes do Estado. Proteger o filho teria sido sua desobediência e desacato.

    Os Jornalistas Livres acompanharam Mestre Nenê ainda no 14ºDP de Pinheiros, descalço, naquela quarta-feira de frio. Alunos e seguidores do professor, que é discípulo do saudoso Mestre Ananias (1924-2016), um dos maiores porta-vozes da cultura popular do Brasil, também estavam na porta do local. 

    “Fico imaginando o meu povo quando não tinha ninguém para dar apoio. E quem não pode fazer isso? É essa situação do nosso país, né? Nunca mudou nem vai mudar… E está piorando”, disse ao sair do DP, exausto e com a voz falha, depois de sofrer por quatro horas diferentes manifestações de racismo institucional.

     Mata-leão está proibido desde 31/07 

    A chegada da polícia na porta da comunidade do Mangue não foi diferente de outras vezes; com a ordem típica, aos berros, do “mão na cabeça”. Mestre Nenê não se espantou. “São 520 anos de perseguição ao povo negro. Ninguém seria alvo de um revólver engatilhado em nenhum outro lugar da Vila Madalena”, diz o capoeirista. “Mas o Mangue é diferente; é o único local de negros na região.”

    Dessa vez, porém, Mestre Nenê estava com seu filho. “Meu menino brincava na calçada e veio correndo pro meu colo, com medo”, explica. “Como eu ia colocar mão para o alto com ele no braço?” E ainda tinha arma apontada para os dois. “É muito fácil o poder se aproveitar de circunstâncias para atacar lideranças negras. É muito fácil saber do meu papel naquela comunidade. Enxergo uma perseguição a mim e ao que eu represento. A capoeira atinge a todos, de maneira consciente e inconsciente. Muda o sistema.”

    Depois de quatro horas de terror, Mestre Nenê mostra os pulsos, ainda inchados, na porta da delegacia. Seu crime? Levar o filho para dentro de casa para que ele não presenciasse, aos cinco anos de idade, uma arma apontada numa abordagem policial (Foto: Lina Marinelli)
    Mestre Nenê mostra os pulsos, ainda inchados por causa das algemas, na porta da delegacia. Seu crime? Levar o filho para dentro de casa para que ele não presenciasse, aos cinco anos de idade, uma arma na cabeça durante abordagem policial

    “Vi o revólver na minha direção e, por consequência, diante do rostinho do meu menino! Foi por isso que eu avisei aos policiais, de maneira muito tranquila, que ia colocar a criança pra dentro da vila.”

    Não deu tempo de poupar o filho do desrespeito. Ao virar as costas, o capoeirista foi pego pelo mata-leão do policial. “Teve amigo capoeirista que depois me perguntou porque não me defendi. Sabe por quê? Eles queriam que eu reagisse. A nossa luta não é de hoje e sei que a saída é pela voz, é gritar, falar, chamar a comunidade, os jornalistas. E educar nossas crianças.”

    A cena foi vista por várias pessoas. “O Mestre caiu no chão, na escadinha da viela, e ainda protegeu a criança com o próprio corpo”, diz Dhemerson Francisco Soares, de 20 anos, uma das testemunhas. A técnica de imobilização, a mesma que matou por sufocamento o norte-americano George Floyd em 25 de maio e mobilizou protestos em todo o mundo, foi proibida pelo subcomandante da Polícia Militar de São Paulo desde o dia 31/07.

    “Queriam que eu reagisse”

    Mestre Nenê conta que sentiu tontura, o princípio de um desmaio e rapidamente as algemas foram apertadas em seu pulso. “Puxaram forte, mesmo, prendendo a circulação, pra machucar. E aí lembro de pedir por socorro e só querer saber do meu menino.” A criança foi amparada por moradores e pela mãe. As cenas com os gritos apreensivos do capoeirista foram registradas pela comunidade. (Vídeo acima)

    Na confusão, o casaco do capoeirista foi rasgado e ele perdeu os sapatos. Fazia menos de 10 graus na cidade naquela noite. Sua calça – branca, vale lembrar – ficou sem o botão que a prendia na cintura. Ao ser levado para o camburão, o capoeirista passou pelo constrangimento de ficar de cuecas na rua. Foi também nessas condições que chegou ao hospital público da Lapa.

    Frio, pés descalsos, calça brança imunda sem o botão que a prendia na cintura: enquanto estava algemado, o professor passou pelo constrangimento de ficar de cuecas no hospital e na delegacia (Foto: Lina Marinelli/Jornalistas Livres(
    Frio, pés descalços, calça sem o botão que a prendia na cintura: enquanto estava algemado, o professor passou pelo constrangimento de ficar de cuecas no hospital e na delegacia

    Ele achou que iriam cuidar de seus pulsos na emergência. Mas Mestre Nenê não foi atendido por clínico geral. Os policiais o deixaram na viatura, ainda com a algema apertada, e uma psiquiatra apareceu ali, pronta para medicá-lo. “Eu gritei que não queria tomar nada, era a única coisa que eu poderia fazer.” E, de fato, só por causa de seus gritos os alunos e amigos, que haviam seguido a viatura da polícia, conseguiram testemunhar o momento em que o capoeirista manifesta sua recusa em receber sedativos.

    Um dos discípulos da capoeira contou que, antes de ouvir a voz do mestre, havia perguntado à polícia sobre o andamento da consulta. “Eles mentiram, disseram que ele estava em atendimento quando nem tinham tirado o mestre do camburão. Não é uma mentira menor, é uma prática de rotina, de ocultação de vítimas”, analisou o aluno que não quis se identificar. 

    Sem curativos ou qualquer intervenção médica, o professor foi obrigado a assinar um papel afirmando que se recusou a receber socorro. E assim, com as mãos presas, agora inchadas pelas algemas, calças pendentes, em cuecas à mostra, foi levado para ser ouvido pelo Delegado. “Eu fiz nada”, repetia.

    “Foi racismo e o mestre reagiu a uma ilegalidade”, diz a advogada Vivian Mendes 

    “‘É preciso dar nome ao que ocorreu: racismo. Diferentes manifestações de racismo institucional foram praticadas pela polícia e até mesmo pelo hospital público”, disse a advogada criminalista Vivan Mendes, na porta do DP, antes de acompanhar Mestre Nenê ao exame de corpo de delito que vai embasar um processo de abuso de autoridade policial. “O que ele viveu são exemplos concretos de práticas escravistas que permanecem no âmago do Estado brasileiro.”

    Em depoimento, apenas dois policiais responderam pela abordagem. Afirmaram que o Mestre “desobedeceu a ordem legal”. O argumento foi contestado pela criminalista. “Não há cabimento em falar de desobediência pois não houve indícios de que os oficiais estavam diante de um suspeito. As roupas claras, o cabelo longo já o isentariam de um procedimento daquela maneira, ainda mais com uma criança no colo”, pontuou a especialista. “Apenas o fato de ser negro o incriminou? O mestre, na realidade, então reagiu a uma ilegalidade.” 

    Além da criminalista Vivian, atuam no caso as advogadas Ana Paula Freitas e Priscila Pamela, da Rede Liberdade, que atua em casos de violação de direitos e liberdade.

    Comunidade é famosa pela resistência

    Mestre Nenê ressalta a importância de contextualizar ainda mais o episódio. “Para começar, a escravidão nunca acabou e nem temos democracia. É a partir disso que temos que analisar todo o ocorrido”, pontua o capoeirista. “A polícia chega desse jeito, e de maneira natural, porque somos negros e isso precisa ser levado à sério de uma vez”, ressalta o morador do Mangue, comunidade famosa por sua resistência.

    Imagem do Google Maps mostra o contraste da rua Fidalga, onde fica a comunidade do Mangue, com os edifícios de luxo ao fundo. A “diversidade” da Vila Madalena aumenta o preço do metro quadrado mas não evita a violência da polícia no único local negro do bairro

    Remanescentes de uma favela maior que instalou em terrenos ociosos no começo do século passado, cerca de 200 famílias negras ocupam dois terrenos no coração do bairro nobre. A principal viela de acesso às casas simples fica na rua (curiosamente) chamada Fidalga. Ali, o metro quadrado vale, em média, R$ 11.000. Em média, pois os novos estúdios moderninhos de 25m2 podem custar tanto quanto os apartamentos de alto padrão que tomaram conta do entorno nos anos 1990.

    Mercado imobiliário de alto luxo avança sobre a comunidade do Mangue que resiste desde o começo do século passado. (Foto: Google Maps 2020)

    Vizinho dos espigões assinados por renomados arquitetos e construtoras, na casa de Mestre Nenê fica o ilê Flor d’Aroeira – Tambor de Crioula, Samba e Capoeira. Ali, ele treina quem é do Mangue, da Vila ou da roda de capoeira da Praça da República, indiscriminadamente. O ilê promove o ensino da música e o som do berimbau percorre as praças do bairro e de outras centenas, não só na cidade, mas mundo afora. Um grupo de dança acompanha os tambores, que são aquecidos em fogueiras.

    Flor D’Aroeira: celebrações fortalecem a união já existente entre as rodas de capoeira e as rodas de tambor de crioula e dão vida ao bairro (Reprodução Facebook)

    Mestre Nenê é também um líder comunitário, voz de respeito e exemplo de conduta. São afazeres intrínsecos ao seu papel e de todos mestres e mestras da cultura popular brasileira. Se reconhecem e são reconhecidos como patrimônios vivos, são herdeiros da memória e de saberes ancestrais transmitidos pela oralidade, geração após geração. Fazem o Brasil mais brasileiro. E, obviamente, faz a Vila Madalena ser única também.

    Palavras como “diversidade,”arte”,”cultura” e “boemia” são atrativos vendidos em qualquer panfleto imobiliário sobre o bairro. Não por acaso, a Vila Madalena virou reduto de bares, agências de publicidade, grupos de teatro e escolas com propostas mais libertárias. Desde que a vila é vila há tambor e a comunidade do Mangue.

    Capoeiristas de todo o país estão fazendo vídeos em solidariedade ao Mestre Nenê e cobrando do governador João Dória e do prefeito Bruno Covas uma retratação pública. As hastags para a campanha são #JusticaMestreNene, #RetratacaoJoaoDoriaMestreNene, #RetratacaoBrunoCovasMestreNene.

    Leia também: Mestre da cultura afro-brasileira é assassinado a facadas por eleitor de Bolsonaro, na Bahia

  • Campanha Despejo Zero: “Moradia é questão de vida ou morte na pandemia”

    Campanha Despejo Zero: “Moradia é questão de vida ou morte na pandemia”

    Em Ribeirão Preto, cidade conhecida como a “Califórnia Brasileira”, o casal Tatiane Pereira, 22, com o marido Mateus Cazula, 24, e o filho Henrique, 2, no dia 28 de maio. A prefeitura demoliu a casa que a família construía em terreno público abandonado. “Estamos sem trabalho e já fomos despejados por dever o aluguel. Ocupamos esse pedacinho da Favela das Mangueiras e com o auxílio-emergencial construímos as paredes pra morar. É o que dava. Foi tudo embora, e agora?” (Foto: Filipe Augusto Peres)

    “De que adianta falar para ficar em casa nessa pandemia se o próprio governo está demolindo nossos barracos?”, questiona a diarista Erica Cavalcante da Silva, de 36 anos. No último 14 de abril, ela acordou com o barulhão de uma retroescavadeira da prefeitura destruindo as estruturas de alvenaria e madeirite de seus vizinhos. Vinte famílias, das mais de 60, ficaram sem casa na comunidade Fé em Deus, apelidada de Descalvado, na periferia de Ribeirão Preto.

    A cidade do interior de São Paulo, conhecida como a Califórnia Brasileira desde os anos 70, é a maior produtora de açúcar e álcool do mundo e no município circulam 51 bilhões de dólares, 18% de toda a riqueza do Estado paulista. Desde que decretou estado de calamidade pública, em 23 de maio passado, porém, Ribeirão Preto também ganhou o título de campeã de despejos. 

    Observatório de Remoções, projeto desenvolvido por núcleos de estudos da USP e da Universidade Federal do ABC, apontou que pelo menos cinco áreas foram desocupadas ou estão em grave ameaça de ordens de reintegração de posse. E não é um caso isolado.

    Bolsonaro vetou artigo que impedia a expulsão de inquilinos até outubro

    Só na cidade de São Paulo, calcula-se que mais de 1.900 famílias foram atingidas por despejos na pandemia. O mapeamento do Observatório de Remoções comprovou aumento de ações do gênero em comparação ao período anterior.

    “As remoções seguem acontecendo, violando recomendações nacionais e internacionais”, diz a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik, uma das relatoras de um documento com denúncias de todo o país enviado à comissão de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas).

    Em resposta, o relator especial da ONU pelo direito à moradia, Balakrishnan Rajagopal, não poupou meias palavras: “despejar as pessoas de suas casas nessa situação, independentemente do status legal de sua moradia, é uma violação de seus direitos humanos”. 

    Ao contrário do governo da Alemanha, por exemplo, o presidente Bolsonaro vetou em junho o artigo que impedia a expulsão de inquilinos até 30 de outubro – parte do projeto de 14.010/2020, que trata das medidas emergenciais de resposta à pandemia. 

    Erica, na comunidade Fé em Deus: “só vai para a favela quem precisa. Só não derrubaram a minha casa porque ela fica no alto do morro e começou a chover forte naquele dia.” Ainda assim, a diarista se viu obrigada a assinar um documento que comunicava que a demolição ia ocorrer dali uma semana. “Na prefeitura eu implorei para não fazerem isso, disse que não tinha para onde ir. A única opção que eles me deram foi ir para um abrigo coletivo. E lá já estava com um montão de gente! Como assim?”  (Foto: Acervo pessoal)

    “É uma tragédia”

    “Não há respeito do governo federal ao isolamento nem ao drama da falta de moradia para mais de 7 milhões de pessoas. Também falta consenso entre as decisões das prefeituras, dos governos dos Estados e do judiciário na suspensão dos despejos”, diz o advogado Benedito Roberto Barbosa, da União dos Movimentos de Moradia (UMM) e do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos. “Sem moradia as pessoas ficam totalmente vulneráveis na pandemia. É uma tragédia, questão de vida ou morte”, resume. 

    “Milhões de brasileiros gastam a maior parte do que ganham com aluguel. Por outro lado, há milhões de imóveis abandonados que não cumprem sua função social”

    Benedito Roberto Barbosa, da União dos Movimentos de Moradia (UMM) e do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos

    Benedito é um dos articuladores da campanha “Despejo Zero – Pela vida no campo e na cidade”, lançada no último dia 23. De caráter permanente, construção coletiva em rede aberta à toda a sociedade, em apenas uma semana, a iniciativa já congregou mais de 100 mil brasileiros por meio de organizações, entidades, coletivos, movimentos civis ou grupos ainda em formação. São sem-teto, sem-terra, membros de mais de 40 movimentos de moradia que estão sendo removidos de ocupações, muitas vezes com força policial. Mas não só.

    Manifestação na manhã de ontem (30/07) em Belo Horizonte de integrantes de quatro ocupações ameaçadas por despejos em meio à pandemia (Reprodução Instagram⁣)

    Somam-se a esse contingente pessoas em situação de rua, cada vez em maior número, e povos tradicionais que estão sofrendo extrema pressão em seus territórios por madeireiros, pecuaristas, mineradores e grileiros de todo tipo, caso de indígenas e quilombolas. Há ainda trabalhadores informais sem sustento, como camelôs e ambulantes, moradores de cortiços e inquilinos de centros urbanos em situação de dívida ou em iminente despejo.

    Toda propriedade deve ter função social

    “Milhões de brasileiros gastam a maior parte do que ganham com aluguel e agora, com o desemprego, precisam escolher entre comer e morar. É desumano, inadmissível”, analisa Benedito. “Por outro lado, há milhões de imóveis abandonados que não cumprem sua função social”, completa o advogado.

    No Brasil moradia é um direito humano fundamental e a Constituição de 1988 prevê a função social das propriedades. Terreno, casa ou espaço abandonado, sem uso, pode e deve, sim, ser desapropriado pelo Estado para atender às necessidades da população.

    Em São Paulo, marcha do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), ontem (30/07), em direção ao Palácio do Governo do Estado. Além de #despejozero, manifestantes cobraram que recursos destinados às políticas habitacionais sejam liberados. João Dória não recebeu a comissão para diálogo e a polícia militar jogou bombas nos manifestantes no fim do ato (Foto: Reprodução Facebook)

    A expectativa é que a mobilização #despejozero pressione a aprovação do projeto do projeto de Lei 1975/2020, que propõe barrar as as ações de despejo em todo o país. A medida já tem a urgência aprovada no Câmara dos Deputados, mas ainda não foi colocada em votação.

    “Nesse momento, precisamos de mobilização popular intensa para explicar que essa é uma questão fundamental para a sobrevivência de milhares de pessoas”, diz a autora do projeto, a deputada federal Natália Bonavides, do Rio Grande do Norte.

    “Não temos para onde ir”

    Enquanto isso, Erica e milhares de pessoas seguem perdendo o sono.”Sinto que a qualquer momento vão derrubar minha casinha como naquele dia. Foi de supetão, sabe? Sem documento judicial nem nada. Teve até um morador, catador de reciclados, que tinha saído pra trabalhar ainda de madrugada e só na volta viu que não tinha mais lugar pra dormir”, lembra, ainda chocada com a frieza da guarda metropolitana que acompanhou o despejo.

    “Até agora tem idoso cardíaco e criança que tá sem teto, vivendo de favor em casa de vizinho.”

    Erica Cavalcante da Silva, de 36 anos, testemunha do despejo na ocupação Fé em Deus

    Mãe de quatro filhos, dispensada das faxinas diárias, ela é casada com o motorista Demileno de Souza, de 29 anos, antes da pandemia alugava um carro por R$ 480 semanais para trabalhar como Uber. “Mas ele teve tuberculose recente, é de risco e nem tem mais tanta corrida ou dinheiro que compense rodar”.

    Desde saíram de Belém do Pará, há um ano e dois meses, por falta de emprego e medo de uma “guerra violenta na comunidade”, a família vive na casa de 4m por 2,5 metros sempre em construção. “Vivemos mais com medo de ficar sem teto do que do vírus. Não temos para onde ir.”

    A casa de Erica, ameaçada de demolição (Foto: Acervo pessoal)

    A mesma frase foi repetida no dia de 28 de maio pelo casal Tatiane Pereira, de 22 anos, e seu o marido Mateus Cazula, de 24, quando a prefeitura, também de Ribeirão Preto, demoliu a estrutura em alvenaria de três cômodos que a família construía na Favela da Mangueira, a mais antiga da Califórnia Brasileira.

    “A gente já tinha sido despejado porque não conseguiu pagar o aluguel de R$ 550 e foi com o dinheiro do auxílio-emergencial que construímos as paredes pra morar ali”, explica Tatiane.

    Só faltavam duas fileiras de tijolo

    Mãe de Henrique, de 2 anos, e Heloísa, de 4, ela perdeu o emprego de atendente em um comércio logo no começo do isolamento social. “Meu marido também foi dispensado do serviço num lava-jato. Ele não tinha registro e saiu sem nada. Tudo o que a gente tinha foi para subir as paredes”, conta.

    “Só faltavam duas fileiras de tijolo e íamos mudar assim mesmo, sem nada mesmo. Era o jeito, né? Mas chegaram lá derrubando tudo, com polícia e cachorro em cima da gente.” A família toda está alojada num quarto dos fundos de uma prima do marido de Tatiane. “Antes não era tão difícil assim, a gente se virava, fazia uns bicos. Mas agora está muito triste. Só a gente sabe como é.”

    O OUTRO LADO: O que diz a prefeitura de Ribeirão Preto

    Questionada pelo blog, a prefeitura de Ribeirão Preto não respondeu nada sobre a demolição dos barracos e casas de alvenaria da comunidade Fé em Deus, onde vive Érica, no Descalvado. Foram ignoradas as solicitações de identificação numérica de possíveis processos judiciais de reintegração de posse e ações credenciamento de moradores para encaminhamento aos programas de moradia da prefeitura.

    De acordo com a Secretaria de Planejamento e Gestão Pública, em função da pandemia, “todas as reintegrações de posse, inclusive as transitadas em julgado, foram suspensas por solicitação da prefeitura ao poder judiciário”.

    Em nota da assessoria de imprensa, o município reiterou que “novas invasões ou tentativas de invasões em qualquer área da cidade são coibidas pela Fiscalização com o apoio da Guarda Civil Metropolitana, como é de conhecimento do Ministério Público e do Conselho Municipal de Moradia”.

    Promessa de habitação social

    Sobre a Favela das Mangueiras, onde Tatiane e Mateus tentaram construir uma casa, a prefeitura alega que “o fato em questão foi uma nova invasão e demarcações em área de lazer ao lado da comunidade das Mangueiras” e que, em 2017, já havia ocorrido reintegração e transferência das famílias que a ocupavam para empreendimento habitacional.

    Segundo o governo municipal, no local será construído outra habitação de interesse social com praça de lazer para atender 160 famílias, inclusive da comunidade das Mangueiras.

    “Prefeitura ainda cortou entrega de cestas básicas”

    A União dos Movimentos de Moradia de Ribeirão Preto, porém, afirma que essa promessa construção de unidades habitacionais existe desde 2017, à época das remoções. De lá para cá, nenhuma medida de cuidado e proteção da área foi tomada, deixando no local montes de entulhos e situação de abandono.

    “Em época de pandemia da covid-19, quando todas as medidas de proteção às populações mais vulneráveis deveriam ser tomadas, a prefeitura de Ribeirão Preto além de suspender fornecimento de cestas básicas e material de higiene, promoveu as remoções das famílias, colocando em risco a saúde de moradores e funcionários públicos nestas ações absurdas e desumanas”, diz o comunicado público da entidade que participa do #despejozero.  

     Colaborou Juliana Martins, especial para o blog MULHERIAS.
    Originalmente publicada no blog mulherias.blogosfera.uol.com.br

    (mais…)
  • Como tratar Covid-19 em casa de periferia: um guia popular e realista

    Como tratar Covid-19 em casa de periferia: um guia popular e realista

    Com reportagem de Flávia Martinelli e Ariane Silva, especial para o blog MULHERIAS

    Não são apenas máscaras, testes, respiradores e leitos de UTI que estão em falta durante a pandemia do coronavírus no Brasil. Faltam também informações oficiais e protocolos de tratamentos realistas para quem está em casa lidando com sintomas leves da Covid-19 nas periferias. Com ou sem teste positivo para a doença, os que já confirmaram o vírus ou suspeitam que foram contaminados são orientados pelo Ministério da Saúde a isolar-ser num quarto de casa, de preferência exclusivo. As orientações incluem ter à mão um termômetro e um telefone para se comunicar com um agente comunitário de saúde ou ligar para o SAMU 192. 

    Essas condições, no entanto, não contemplam a imensa maioria da população periférica e as comunidades estão se virando para sobreviver. Nesse Brasil “invisível”, cerca de 16% da população, ou seja, 31,1 milhões de brasileiros, não têm sequer a garantia da mais elementar necessidade dos cuidados com a saúde: água potável encanada. Quarto isolado, banheiro próprio e até termômetro e celular com crédito, é óbvio, para muitos ainda são artigos de luxo. 

    Diante disso, o blog MULHERIAS elaborou um guia realista e popular para lidar com a Covid-19 em casas da quebrada. São informações recolhidas em manuais para profissionais de saúde e adaptados para linguagem leiga, adendos práticos feitos por profissionais de saúde, agentes comunitários e redes que se auto-organizaram e criaram seus próprios protocolos básicos. 

    Profissionais denunciam a falta de cuidados específicos

    “Quem busca atendimento e é liberado para se tratar em casa não recebe sequer um folheto de orientação. Em teoria, todo mundo estaria sendo acompanhado à distância por profissionais do SUS, mas o que acontece é que faltam profissionais e estrutura de atendimento para que esse acompanhamento seja feito da forma correta”, diz a professora de enfermagem Natália Stofel, de 34 anos, que testemunha o impacto da pandemia nas comunidades enquanto orienta seus alunos em São Carlos, no interior de São Paulo, onde mora e dá aulas.

    “A reorganização do sistema de saúde não foi feita pelo Ministério nem por milhares de Secretarias de Saúde, mas pelos próprios profissionais”, explica a enfermeira que também trabalha voluntariamente em lugares carentes de todo tipo de atendimento. Em sua cidade, Natália conta que a solução foi formar um “comitê popular de crise” para debater os problemas e propor soluções com representantes da população e técnicos da área de saúde. “O grupo oficial que o Estado montou não tinha ninguém da área técnica. Não adianta. A iniciativa que está dando certo e está sendo levada à frente foi feita pelo movimento negro aqui da região.”

    A mesma crítica é feita pelo agente comunitário de saúde Adailton Costa, de 27 anos, que trabalha em Santarém, no Pará. Há seis anos no ofício pelo SUS, ele explica que sua categoria profissional é formada por pessoas que moram nas comunidades e são contratadas para acompanhar a saúde de seus vizinhos, fazendo visitas, levando medicação gratuita, monitorando sintomas de doenças diversas para, se for o caso, encaminhar pacientes para as Unidades Básicas de Saúde (UBS).

    “É a chamada atenção primária, que tem caráter preventivo, e poderia ter sido uma ferramenta valiosa o combate à Covid-19 se os profissionais tivessem recebido apoio do governo na forma de treinamento e equipamentos para realizar esse trabalho durante a pandemia. Mas isso não foi feito.”

    O agente de saúde Adailton, ao centro, com outras profissionais na linha de frente  do combate à pandemia: “temos que ser realistas: todos dizem para monitorar temperatura mas é mais comum do que se imagina as pessoas não terem termômetro em casa” (Foto: Acervo pessoal)

    Adailton denuncia não apenas a falta de equipamentos de segurança, que arca por si com máscaras caseiras e chegou a perder uma colega de trabalho para a doença, mas de informações. “Os protocolos que determinam quais sintomas monitorar e tratar, como organizar o fluxo de atendimento em hospitais mudam com frequência e muitas vezes não chegam. Ficamos sabendo do que é para fazer com semanas de atraso. E isso por meio do Whatsapp quando colegas compartilham a versão que têm.”

    Em seu município, a população em geral conta apenas com uma linha de celular para oferecer orientações sobre a doença. “É um único número para atender ligações de 300 mil moradores. Vive ocupado, claro, ninguém consegue falar”, conta. “Temos que ser realistas: todos dizem para monitorar temperatura mas não é comum as pessoas não terem termômetro nem nas comunidades! E as dúvidas são muitas vezes simples, como lavar roupas de uma pessoa doente.”

    Guia popular para tratamento de Covid-19 em casas de periferia

    Infelizmente ainda não temos um remédio para tratar a infecção pelo Sars-CoV-2, o novo coronavírus causador da Covid-19. Mesmo a cloroquina, que até o presidente Bolsonaro já admitiu não ter comprovação de que funcionaparou de ser testada pela Organização Mundial da Saúde como tratamento por aumentar a mortalidade entre as pessoas doentes.

    O que é feito em casos leves, então, é tratar dos sintomas para permitir que o próprio sistema imunológico do paciente dê conta de curar a doença. É preciso ajudar o corpo nessa empreitada com bastante água, boa alimentação, repouso, além de  tomar medidas para não infectar outras pessoas com quem se divide o espaço.

    Antes de tudo, porém, é importante ter alguma calma. Mantenha a casa organizada e preparada dentro do possível. Reze, medite, conecte-se com crenças ou pensamentos reconfortantes e prepare-se de maneira racional para enfrentar a doença. Por fim, todos os profissionais envolvidos nesse Guia pedem o favor de compartilhar essas informações, que estão checadas e confirmadas com especialistas em saúde, com o máximo de pessoas possível, sendo solidário e podendo salvar muitas vidas.

    Se você suspeita ou está com sintomas leves de Covid-19

    • Tenha em casa dipirona ou paracetamol para controlar a febre e ajudar na dor no corpo
      Os dois medicamentos são oferecidos gratuitamente pelo SUS. Converse com a sua agente comunitária de saúde para levar os remédios até você ou peça para alguém buscá-los na Unidade Básica de Saúde mais próxima à sua casa usando máscara ou cobrindo o rosto com uma camiseta de algodão. 

    Foto: Getty Images

    Não vá a hospitais ou UPAs a menos que tenha sintomas graves. Se você não estiver doente, em muitos hospitais corre o risco de se contaminar lá. Em caso de dúvidas para testagem ou se estiver precisando de remédios e não tiver em casa, procure o agente comunitária de saúde. Eles são profissionais capacitados para atuar e diversos bairros das periferias contam com o apoio desses profissionais.

    • Monitore sempre a temperatura, se possível usando um termômetro

    Há modelos por cerca de R$ 10. Mas caso não tenha, você conseguirá checar as variações de temperatura com a mão na testa ou por causa dos constantes calafrios. A febre causada pela Covid-19 costuma ser alta, é fácil de perceber. Para ajudar ficar confortável e lidar com os sintomas, dipirona ou paracetamol são recomendados de 8 em 8 horas. Cuidado com os anti-inflamatórios (tipo ibuprofeno), que nos últimos anos viraram “bala” e algumas pessoas usam inocentemente para dores em geral e podem agravar quadro de Covid-19.

    Em caso de tosse, uma mistura de limão e mel podem funcionar tão bem quanto alguns xaropes da farmácia. Então, dê preferência ao tipo caseiro num primeiro momento. Para os que são medicamentos, só use com recomendação médica pois alguns duplicam os analgésicos e é perigoso.

    • Tome bastante água, alimente-se bem e limpe tudo o que tocar com água e sabão

    Se você ou alguém da sua comunidade sofre com desabastecimento de água, falta de comida ou produtos de higiene, peça ajuda. Sua casa precisará de água limpa e potável, comida e produtos de higiene. Os que estão saudáveis poderão mobilizar esforços para salvar a sua vida. Não tenha vergonha, quando tudo passar você retribuirá a atenção.

    Quem está doente precisa beber no mínimo dois ou três litros de água por dia (que podem ser também na forma de chás, sucos ou sopas). Hidrate-se toda hora porque o vírus acomoda-se mais rápido em garganta seca.

    Faça no mínimo três refeições por dia para o corpo se recuperar. Tenha um pequeno estoque de chás, canja de galinha, sopas diversas e sucos de limão, laranja e etc. Eles não fazem mal mas também não curam. São tão importantes quanto qualquer outra fonte de água e vitaminas para o seu corpo. Cuide bem dele, é ele que vai fazer todo o trabalho de te curar.

    Não deixe faltar água e sabão pois tudo tocar precisará ser higienizado para não contaminar outras pessoas. Ou seja, mesas, balcões, móveis, torneiras e maçanetas de portas precisarão ser limpos constantemente.

    • Faça repouso

    Todo doente precisa descansar e muito. Não saia de casa mesmo se começar a se sentir melhor. Toda pessoa com Covid-19 deve ficar isolada em repouso por 14 dias.

    Morador usa máscara na favela da Rocinha, no Rio Foto: Fabio Teixeira/NurPhoto via Getty Images

    O que fazer se você divide a casa com uma pessoa infectada

    • Tente isolar um canto da casa para o doente

    Nem todas as famílias conseguem ter um cômodo separado para a pessoa infectada, mas é preciso fazer o possível para reduzir os riscos de infectar as outras pessoas que moram na casa. Mova móveis de lugar ou use um tapete para determinar uma área o mais isolada possível para o paciente. Tente limitar a movimentação da pessoa em isolamento domiciliar e minimizar ao máximo o compartilhamento de espaço.

    O contato entre as pessoas que moram juntas também deve ser feito com muito cuidado. Mantenha sempre pelo menos 2 metros de distância, nunca deixe quem está doente dormir na mesma cama com outra pessoa. Todos na casa devem usar máscara ou pano de algodão cobrindo o rosto o tempo inteiro.

    • Limite o número de cuidadores

    O ideal é atribuir a função de cuidador a apenas uma pessoa, que esteja com boas condições de saúde, sem ser do grupo de risco. Em todos os contatos com o doente, o cuidador precisa estar sempre de máscara bem ajustada, que cubra a boca e nariz, e ter total atenção para não tocar nela durante o uso, além trocar a máscara quando ela estiver molhada.

    A pessoa adoecida deve permanecer o maior tempo possível com a máscara. Se não tolerar, deve realizar rigorosamente cobrir a boca e nariz ao tossir ou espirrar com a parte de dentro do cotovelo, ou utilizando lenço descartável, e descartar adequadamente os materiais usados para a higiene respiratória.

    • Ventile o ambiente e limpe tudo

    Deixe as janelas sempre abertas para o ar circular e higienize com frequência móveis, aparelhos domésticos e maçanetas com água e sabão, álcool 70% ou água sanitária.

    Se tiver um umidificador, deixe perto do doente quando for dormir. Se não tiver, pode ligar o chuveiro na água quente ou fazer uma inalação com água numa bacia respirando o vapor.

    • Crie a rotina de limpeza das mãos

    Lave com água e sabão, respeitando os cinco momentos de higienização:
    1 – antes de contato com a pessoa;
    2 – antes da realização de qualquer contato ou procedimento;
    3 – após risco de exposição a fluidos biológicos (como tirar a temperatura, ajudar a trocar de roupa ou alimentar-se);
    4 – após contato com a pessoa;
    5 – após contato com áreas próximas à pessoa, mesmo que não tenha tocado a pessoa, cuidando direta ou indiretamente da pessoa.
    Enxugue as mãos preferencialmente com toalha de papel. Se não tiver, use toalha de pano limpa e troque por outra quando ela estiver molhada.

    • Deixe produtos de higiene no banheiro

    No caso de banheiro compartilhado, é importante deixar produtos para higienizar o local após cada uso da pessoa infectada. Tudo em que o paciente encostar, como vaso sanitário, descarga e torneira da pia e do chuveiro, deve ser higienizado com uma solução de água sanitária com água, álcool 70% ou esfregando água e sabão com uma buchinha.

    • Separe roupas e utensílios 

    Pratos, copos e talheres devem ficar separados porque o vírus pode permanecer vivo nas superfícies por até 3 dias. Separe também roupas de cama, sem nunca compartilhá-los. Estes itens deverão ser limpos com água e sabão após o uso e poderão ser reutilizados. A roupa contaminada para lavar precisa ficar num saco plástico separada das roupas dos outros integrantes da casa. Não agite e evite o contato da pele nessa roupa usada pelo doente. Tudo o que a pessoa com Covid-19 usar deve ser lavado com água e sabão em pó. Pode-se usar máquina de uso doméstico comum. Deixa todas as roupas secarem bem antes de usar de novo.

    • Visitas nem pensar!

    Essa dica vale para todo mundo nesse momento, mas para casas com pessoas infectadas é ainda mais importante: não é a hora de receber visitas. Se alguém precisar entregar alguma coisa, a pessoa deve permanecer fora da casa. Se um morador ficar doente, todo mundo que mora com a pessoa deve ficar em isolamento por 14 dias.

    Quando ir a um hospital ou ligar para o Samu (192) 

    • m pouco de “cansaço” para respirar todos os doentes podem sentir, mas se intensificar, com dor torácica, respiração ofegante, sensação de desmaio, palpitações, vômito e febre alta, é indispensável procurar assistência médica.
    • Se a febre estiver muito alta (a partir de 39ºC), não baixar com o uso de medicamentos antitérmicos (como a dipirona e o paracetamol), em caso de falta de ar ou se a pessoa aparentar ter dificuldades de falar ou raciocinar é hora de buscar atendimento. 
    • Febre alta será comum em algum momento mesmo nos casos que não complicarão. Mas é preciso buscar um médico no caso de febre maior que 39°C, sem baixar, por 4 dias ou mais. Esse foi o critério adotado pela Prefeitura de São Paulo para internação em Hospitais de Campanha dos casos “leves” até aqui.
    • Cheque qual a unidade básica de saúde ou hospital de referência no tratamento da Covid-19 está mais perto. É importante chegar lá já de máscara ou com um pano de algodão enrolado no rosto para cobrir a boca e o nariz. Ali a pessoa será encaminhada para uma área específica para pessoas com suspeita de Covid-19 para aguardar atendimento.
    • Ao ligar para SAMU 192 ou para o serviço de transporte hospitalar informado por um agente comunitário de saúde informe que o paciente está em isolamento domiciliar por causa da Covid-19.

    Fontes: Adailton Costa, agente de saúde de Santarém (PA), estudante de bacharelado interdisciplinar em Saúde da Universidade Federal do Oeste do Pará e membro do Sindicato dos trabalhadores em Saúde Pública do Estado do Pará (SINTESP); professora Natália Stofel, enfermeira pelaUniversidade Federal de São Carlos, doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Pelotas e mestre em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo; Rede de Apoio às Famílias de Vítimas da Covid no Brasil com base em orientações de médicos, enfermeiros e agentes de saúde voluntários, Ministério da Saúde e Centro de Operações de Emergência – Doença pelo Coronavírus (COE).

     

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  • Precisamos falar sobre a morte: guia do luto em tempos de coronavírus

    Precisamos falar sobre a morte: guia do luto em tempos de coronavírus

    Com reportagem de Flávia Martinelli e Ariane Silva, do blog MULHERIAS 

    O número de mortos pelo novo coronavírus no Brasil é um soco no estômago todos os dias. As notícias nos atualizam: uma, dez, 100 vítimas, 300 e agora mais de 600 pessoas morreram apenas nas últimas 24 horas. No momento em que esse texto é escrito somam-se 8.685 vidas levadas pela pandemia. Nessa semana, chegamos ao trágico patamar de terceiro país com maior índice de óbitos do mundo. Não dá tempo de sequer processar tanta informação.

    Mas, ainda que seja óbvio, é preciso lembrar o que dados revelam: além da irresponsabilidade e incompetência dos nossos governantes, cada número deve mostrar que TODA vida importa. Nesse momento de dor e sofrimento, o blog Mulherias, sempre atento às belas iniciativas das mulheres periféricas, tem a obrigação de fugir de sua pauta para falar sobre luto. Publicamos aqui o “Guia para pessoas que perdem um ente querido em tempos de coronavírus“, elaborado por uma rede espanhola de psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e terapeutas especializados no assunto.

    O livro foi traduzido para o português por voluntários do Memorial das Vítimas do Coronavírus no Brasil e pela Rede de Apoio às Famílias que, por sua vez, reúne mais de 60 organizações solidárias à dor dos que sofrem o luto. “São orientações para ajudar a lidar com esses momentos difíceis de isolamento e incerteza, oferecendo outras maneiras que atendem à necessidade de compartilhar e expressar a dor com os outros e, ao mesmo tempo, permitir honrar a memória de nossos entes queridos falecidos”, diz o coordenador da iniciativa, o historiador Danilo Cesar.

    Danilo é taxativo sobre a situação que estamos vivendo: “os esforços para garantir a vida da população não estão sendo suficientes e a doença hoje castiga mais a população negra, pobre e periférica, cujas mortes sempre foram banalizadas.” Em uma live que foi ao ar no último sábado, do coletivo Jornalistas Livres, parceira da Rede, ele também lembrou da situação das populações indígena e carcerária, que estão sendo gravemente afetadas.

    Velórios rápidos sem ver o rosto do familiar

    Como se não bastasse a dor das perdas em si, as despedidas, em muitas cidades do país, estão com medidas de restrição por questões sanitárias. Em São Paulo, por exemplo, a prefeitura está restringindo a duração dos velórios a no máximo uma hora. Somente dez pessoas podem estar na sala ao mesmo tempo. O caixão é recoberto de papelão e fechado para a cerimônia. “É muito difícil. E ainda temos um presidente que insulta a população com o seu ‘e daí?’; o que agrava ainda mais essa sensação de isolamento no luto”, completa Danilo.

    De acordo com o Guia, os rituais de despedida são atos simbólicos que nos ajudam a expressar nossos sentimentos ante uma perda, colocar um pouco de ordem em nosso estado emocional caótico, estabelecer uma diretriz simbólica para os eventos da vida e nos permitir a construção social de significados compartilhados. “Eles abrem a porta para que tomemos consciência do processo de luto.”

    Covid-19 e as novas formas de lidar com o sofrimento

    A internet, por conta do isolamento social, é uma ferramenta útil para lidar com a perda de alguém nesse momento. Vale uma reunião virtual com família, amigos ou com a participação de um guia religioso. “Vale escrever um texto expressando as lembranças e sentimentos direcionados à pessoa falecida, acender uma vela enquanto diz algumas palavras para a pessoa ausente. Deixe um minuto de silêncio para expressar amor, perdão e gratidão”, recomenda o manual.

    Publicar homenagem em redes sociais sobre o legado de vida que aquela pessoa deixou é saudável. “E assim, compartilhando-o, dará aos seus contatos a oportunidade de expressar suas condolências e apoio, acompanhando-o através de palavras, músicas e imagens.”

    O recurso foi usado pela família da pastora Sandra Cristina da Silva, de Barueri (SP), que tinha apenas 41 anos. Seus parentes não puderam prestar homenagens como gostariam no dia do sepultamento. Sem poder se reunir, compartilhar histórias e abraços, as condolências estão registradas página do Facebook do Memorial, um espaço virtual criado para reunir e compartilhar manifestações de afeto a quem quem partiu. “Continua aí de cima cuidando de nós”, escreveu a mãe de Sandra, Margarida, em mensagem na rede social. O marido, Silvio, agradeceu pelos anos que dividiu com a mulher e relembrou da alegria e companheirismo dela.

    “A impossibilidade de velar e acompanhar o enterro é uma violência para os familiares e amigos”, afirma a jornalista Malu Oliveira, 63, ativista e pesquisadora que faz parte do coletivo Segura a Onda, plataforma colaborativa surgida na Espanha que conecta os grupos de apoio às vítimas da Covid-19. No Brasil, a entidade também faz parte da Rede que elaborou o guia e organizou em seu site uma galeria online para registro de memória das vítimas. “Estas famílias ainda sofreram muito por falta de acesso a hospitais ou durante a internação de seus parentes sem receber visitas. Nada vai substituir o abraço confortador, o ombro amigo na hora da dor. Mas o ritual virtual pode ajudar a diminuir a solidão do luto nesta situação de emergência.”

    Outra voluntária do projeto, a historiadora Elisiana Castro, de 44 anos, destaca a importância de buscar novas formas de viver o luto durante o isolamento social. “O luto não vai parar, a dor da perda não é banida, a pessoa não deixa de sentir, ou de precisar de amparo por que nós estamos num momento de pandemia”, explica ela, presidente da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais (ABEC), que reúne estudiosos, pesquisadores e especialistas sobre o morrer. “Toda a sociedade deve apoiar as famílias no sentido de reconhecemos sua dor. Apesar de não ter recebido um funeral adequado e respeitoso, a pessoa querida não é apenas um número nesta soma macabra. Toda morte importa, cada número tem nome, idade, profissão e família.”

    Segundo os organizadores do Memorial e da Rede de Apoio, parentes e amigos não tratam apenas de comunicar a morte nas redes sociais e espaços virtuais, mas compartilham amor, afeto, abraços. “É esse abraço distanciado, mas real. Até me emociono quando falo porque é muito difícil reconhecer o quanto as pessoas estão desamparadas diante de uma dor tão grande como a da perda”, diz Elisiana, ciente de que a compaixão nos conecta como seres humanos. Mesmo que isso não dê conta, mesmo que não seja suficiente, enfim, estamos juntos.

    PARA SABER MAIS:

    • A Rede de Apoio às Famílias de Vítimas Fatais do Covid-19 no Brasil oferece apoio jurídico, psicológico e orientações sobre velórios, sepultamentos e rituais de despedida. A iniciativa faz também o monitoramento das mortes com jornalistas e cientistas sociais levantando informações sobre os casos. A rede pode ser contactada por Whatsapp ou Telegram no número (11) 93011-3281 e por e-mail em memorialcoronabrasil@gmail.com, e também pelo chat da página do Memorial no Facebook.
    • Outro projeto que registra por textos a memória sobre quem se foi, com mensagens de amigos e familiares, é o projeto Inumeráveis, que possui sitepágina no Facebook e Instagram. Por meio de um formulário é possível cadastrar novas histórias ou pedir ajuda de jornalistas voluntários para escrever um relato.
    • O Memorial das Vítimas do Coronavírus no Brasil monitora e compartilha relatos no Facebook e registra de forma mais permanente as histórias de vida na galeria do coletivo Segura a Onda. Todos os domingos, sempre às 20hs, o grupo convida a todos a acender uma vela, levar o celular ou bater palmas nas janelas em memória às vítimas. Abaixo, segue o vídeo-convite comovente que traz fotos de quem partiu.

     

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  • Veja como participar das redes de solidariedade contra a covid-19

    Veja como participar das redes de solidariedade contra a covid-19

    Com Ariane Silva, especial para o blog MULHERIAS

    Que a periferia está sozinha na luta contra o coronavírus não é novidade. Quando o presidente Bolsonaro foi a  público contrariar as recomendações da Organização Mundial da Saúde e colocar-se contra o isolamento da população para defender a economia, deixou evidente que vidas pobres não importam. Ao bancos, o governo já concedeu R$ 68 bilhões. Para a população, foi aprovado ontem (26/03) o Projeto de Lei da Câmara dos Deputados que estabelece uma política de Renda Básica Emergencial. O projeto ainda vai passar pelo Senado e o texto em discussão estabelece o auxílio de R$ 600 mensais por pessoa adulta sem emprego formal e R$ 1.200 mensais para mães solo, por 3 meses de duração.

    Enquanto o assunto segue em trâmites políticos, a periferia age com urgência, como sempre, se virando, como pode, mais uma vez. A tecnologia do “nós por nós” está em plena atividade e o blog MULHERIAS  foi atrás de quem está nos corres das mais de 200 iniciativas em andamento pelo Brasil. É possível colaborar com trabalho voluntário, doações, divulgação e até plantões de whattapp para tirar dúvidas. Confira ainda um guia para orientar a criação de novas redes de solidariedade. O método pode ser implantado na sua rua, prédio, bairro, comunidade, escola… e por qualquer pessoa disposta a ajudar. A hora é essa. 

    De comitês políticos aos comitês de solidariedade

    A ideia de se organizar de maneira autônoma, sem depender de governos ou órgãos públicos, é antiga, e parte de um princípio chamado de “auto-organização” pelos movimentos sociais. A funcionária pública Marcela Menezes, de 29 anos, o colocou em prática assim que soube da história de uma manicure que ficou sem renda porque o salão onde trabalhava fechou. “Mãe solo com 3 crianças, ela já estava sem comprar alimento e eu precisava fazer alguma coisa”, conta.

    Na última semana, Marcela, então, foi conversar com lideranças da comunidade e conseguiu mapear casos de outras pessoas que, assim como a manicure, perderam a renda e já estavam em apuros. Aproveitou para reunir voluntários  para ajudar. Nas mídias sociais, soltou o apelo e o coletivo Balaio se organizou, assim, às pressas em um grupo do Whatsapp.

    Marcela Menezes, 29, mora em Justinópolis, região de Ribeirão das Neves. O município na região metropolitana de Belo Horizonte já tem 140 casos suspeitos da doença e o isolamento é fundamental. Como ainda não há apoio para trabalhadores autônomos, ela criou um grupo para doar alimentos aos que já precisam (Foto: acervo pessoal)

    “A gente começou numa segunda-feira com três pessoas e quatro dias depois já eram 15 voluntários. E tem mais gente chegando.” Fora do grupo de risco e com todos os cuidados, ela mesma foi comprar mantimentos com as primeiras doações e o grupo foi fazer a entrega a pé na favela, batendo na porta dos mapeados e deixando as doações ali, sem contato físico. A iniciativa é exemplo de que dá para começar rápido e com pouca gente e recursos e ainda dar conta de demandas urgentes que fazem a diferença.

    Quarentena sem água e comida

    Enquanto os órgãos de saúde orientam lavar as mãos várias vezes ao dia, em favelas e periferias há falta de água até das grandes capitais, com comunidades inteiras sofrendo com o desabastecimento. São peculiaridades que não passaram despercebidas do Fórum de Mulheres de Pernambuco, que criou coletivamente um manual de higienização contra o vírus para quem tem pouca água em casa e precisa economizar recursos. Entre as dicas, estão as que recomendam o uso de garrafas pet de 2 litros com água limpa à mão para retirada de sabão e banho em bacia e de cócoras para economizar água.

    “Nos organizamos online para falar demandas reais pois as orientações do Ministério da Saúde levam em consideração uma classe média que tem recurso para comprar álcool em gel e tem água todos os dias”, conta a advogada Elisa Aníbal, de 25 anos, militante do movimento. “Além disso, fizemos cards informativos sobre sintomas leves e prevenção da transmissão comunitária. Todos eles acompanham áudio com o texto para que as mulheres com dificuldades de leitura possam se informar.”

    Em Belo Horizonte, Recife, São Paulo ou Rio de Janeiro também foram voluntários que ouviram as necessidades da população de rua. Sem os serviços assistenciais de alimentação oferecidos pela prefeituras, como o Restaurante Popular e postos de atendimento, foi necessário organizar às pressas marmitas para atender os mais vulneráveis.

    “Como ainda não há um projeto de isolamento social para quem está em situação de rua, as pessoas estão aglomeradas de qualquer jeito e passando fome”, lamenta Claudenice Rodrigues Lopes, de 46 anos, assistente social da Pastoral de Rua, entidade ligada à Igreja Católica. A situação está grave. A orientação é ficar em casa, mas como fico se sei que pessoas seguem nas ruas nas condições mais precárias, sem lugar pra higiene e pra se alimentar?” questiona.

    Claudenice reforça que as pastorais de rua cobram dos governos municipais a responsabilidade por esse trabalho. Mas, enquanto isso, os grupos diariamente articulam contatos para matar a fome imediata. “É o mínimo. Porém, estamos repensando em como fazer, por que não dá para seguir com a gente se expondo e expondo as pessoas.”

    Em Belo Horizonte a população de rua passa fome e voluntários se arriscam para tentar remediar a omissão do Estado

    Dos sem terra para os sem teto: movimento distribui marmitas para população em situação de rua

    Em Recife, o ponto de apoio é o Armazém do Campo, loja de produtos orgânicos e naturais do MST (Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais Sem Terra). A região central da cidade, onde fica o Armazém, concentra muitas pessoas em situação de rua e os grupos de atendimento cessaram atividades. “Resolvemos abrir a cozinha industrial para fazer marmitex numa ação articulada com a arquidiocese de Olinda, equipes voluntárias de cozinhas de sindicatos e ONGs que já faziam esse trabalho”, conta.

    O trabalho é dividido em diferentes equipes. Uma busca doações, outra fica isolada na cozinha preparando os alimentos e a terceira, na rua, faz a distribuição usando equipamentos de proteção para prevenir a contaminação. Toda a organização é feita por aplicativos no telefone.  

    Apoio para mulheres em situação de prostituição de SP 

    Com a sede fechada e as responsáveis, idosas, em quarentena, a entidade Mulheres da Luz não conseguiu manter as atividades como ponto de apoio para as mulheres em situação de prostituição no centro de São Paulo, que ficaram sem ter onde buscar preservativos gratuitos, comer e procurar ajuda. O jeito foi organizar o apoio pela internet e colocar apoiadoras jovens para nas tarefas de rua como separar e distribuir doações.

    “As mulheres lá no maior perrengue, a gente não podendo ir lá…  Mas gente está conseguindo ajudar”, conta Cleone Santos, de 62 anos, uma das coordenadoras da entidade. Ela comemora doações mas conta que ainda precisa de apoio financeiro para atender, no mínimo, 50 mulheres. Só assim poderá evitar que elas se arrisquem recorrendo à prostituição durante o período de quarentena e consigam se manter. As assistidas pela ONG têm entre 40 e 70 anos de idade, o que coloca quase todas no grupo de risco do COVID-19.”Além de cesta básica, algumas precisam de gás, outras de remédio ou pagar pensão ou contribuir no aluguel de onde moram”, explica Cleone. “Alguém tem que olhar para esse grupo.”

    Cleone Santos é coordenadora da Mulheres da Luz, ONG paulista que dá assistência a mulheres em situação de prostituição e luta pelo fim da exploração sexual. “Em dias normais elas já não conseguem se sustentar com os programas de R$ 20 ou 30 a que se submetem. Com a pandemia, precisam ainda mais da nossa ajuda” (Foto: reprodução Facebook)

    Saem os panfletos e entra o carro de som
    Moradores da Pedreira Prado Lopes, favela de Belo Horizonte, estão diariamente se mobilizando para protegerem uns aos outros durante a pandemia. Nos próximos dias um carro de som vai circular com informações sobre o novo coronavírus para conscientizar a comunidade. “A Pedreira tá bem vazia, mas tem muita gente na rua ainda. As pessoas parece que não tão acreditando muito”, conta Valéria Borges Ferreira, de 50 anos, que emprestou a voz para alertar os vizinhos do perigo. Muitos, sob pressão de pastores, continuam frequentando cultos presenciais mesmo com a orientação de permanecer em casa.

    “As igrejas da comunidade tão todas abertas e o pastor faz um apelo muito covarde para os fiéis estarem ali, colocando a fé deles em cheque. E brigar contra um vírus, brigar contra o Bolsonaro é fácil, mas brigar contra Deus é impossível”, resigna-se. Para Valéria, pastores mal intencionados têm se aproveitado da falta de informação na comunidade para manter os fiéis na Igreja.

    A preocupação com a falta de renda também afeta a comunidade, com muitas trabalhadoras e trabalhadores sem saber como vão se manter sem auxílio. “O que tá pegando mesmo aqui na Pedreira é a preocupação daqueles que trabalham informal. A minha cunhada mesmo. Ela é faxineira e três patroas já dispensaram ela. Hoje ela me falou: ‘Valéria, eu tô sem saber que faço. Ou  morro de fome dentro de casa ou eu morro do coronavírus”, conta.

    Valéria mora na comunidade da Pedreira Prado Lopes, em Belo Horizonte. É dela a voz que vai circular em carros de som alertando sobre o coronavírus. O serviço foi contratado pelos próprios moradores que fazem parte do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), que organiza a Ocupação Pátria Livre, instalada na região. O áudio foi gravado por uma moradora da comunidade com ajuda de comunicadores populares da região. Abaixo, o cenário da comunidade. (Fotos: acervo pessoal)

    MAIS DE 200 INICITIAVAS PARA PARTICIPAR, FORTALECER E AJUDAR. ENCONTRA SUA E COLABORE!

    Veja como entrar em contato com quem já está fazendo campanhas nas periferias 

    Planilhas colaborativas ponteAponte – Mais de 80 ações periféricas de mapeamento, arrecadação e campanhas solidárias estão reunidas nas planilhas abertas que estão sendo consolidadas diariamente pela empresa de avaliação de projetos sociais ponteAponte, que tem como objetivo promover encontros e conexões transformadores. O documento, muito simples em uma planilha de Google, é feito de maneira colaborativa e traz contatos de responsáveis pelas iniciativas, endereços e abrangência das atividades. “Decidimos organizá-la ao notarmos que havia muitas iniciativas incríveis surgindo espontânea e velozmente (felizmente!) e que o próximo passo seria ter uma visão macro para realizarmos ações mais integradas e coordenadas, com impacto coletivo”, avisa a entidade. Qualquer pessoa inserir comentários ou enviar sugestões de alterações, correções ou inclusões para leticia@ponteaponte.com.br e leticiacardoso@ponteaponte.com.br. Porém, importante ressaltar, não se trata de uma lista de recomendações e cabe a cada usuário entrar nos devidos links e realizar suas análises dentro de interesses próprios.

    Grupo autônomo contra o coronavírus de Ribeirão das Neves – Atua na região de Justinópolis,e está recebendo doações no Centro Cultural Di Quebrada, na Rua Cenira Gurgel de Carvalho, 137, perto da Escola João de Deus Gomes. Para doações em dinheiro, entre em contato nos números (31) 99999-6536 ou (31) 3638-1697.

    Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte – A entidade busca doações na quadra do Colégio Santo Antônio, Rua Santa Rita Durão, 1033. Também precisam de voluntários. Informações pelos telefones (31) 98374-5587 ou (31) 99402-6451. As doações serão encaminhadas para a população em situação de rua da cidade.

    Mulheres da Luz – A ONG paulista que atende mulheres em situação de prostituição recebe doações de produtos alimentícios (como cestas básicas) e de higiene (sabão, sabonete, pasta de dente e álcool líquido ou em gel) na Companhia de Teatro Pessoal do Faroeste, na Rua do Triunfo 301 e 302, e na Rua General Osório, 23. Para doações financeiras, o contato é (11)9824-99713.

    Marmita Solidária de Recife (PE) – As marmitas servidas no Armazém do Campo para a população de rua de Recife contam com doações para acontecer. O endereço é Av. Martins de Barros, 387. Contato: (81) 99855-3121.

    Quarentena Solidária – As comunidades Pedreira Prado Lopes e Vila Senhor dos Pastos, na região Noroeste de Belo Horizonte, solicitam doação de sabonetes, toalhas de papel, produtos de limpeza e alimentos não perecíveis, e também recebem doações de dinheiro. Para doar, mande mensagem para (31) 99591-3234 (Carol) ou (31) 99901-7623.

    UniãoSP contra o coronavírus – Grupo diverso formado por diferentes entidades que já desenvolvem trabalhos com as periferias de São Paulo, entre elas estão Agora!, Comunitas, Cufa, Educafro, GK Ventures, Instituto Locomotiva, Movimento Bem Maior, Península, Periferia Sem Corona, Pinheiro Neto Advogados, Rede Mulher Empreendedora, RenovaBR, Grupo Tellus e Vella Pugliese. No site https://www.uniaosp.org/ é possível fazer doações de cestas básicas e entrar em contato com o grupo que já arrecadou mais de 55 mil cestas e mais de R$ 3 milhões.

    ÉDITODOS – Nascida em 2017, a aliança de organizações reúne vários atores do ecossistema de empreendedorismo negro no Brasil que já atuam coletivamente afim de apoiar as experiências de empreendedores e empresas que souberam transformar sua cultura em inovação para produtos e serviços voltados para o consumo da população negra e não negra. Atualmente, a coalisão é formada pelas organizações: Afrobusiness, Agência Solano Trindade e Pretahub (São Paulo); Fa.vela (BH) e Vale do Dendê (Salvador). A meta atual é impactar 250 mil pessoas, atender a 130 projetos, fomentar mais de 500 novos empreendimentos em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belem, Maranhão, Minas Gerais e Bahia. Para isso, precisam arrecadar um fundo emergencial de R$ 1 milhão que serão destinados 500 empreendedores e R$ 300 mil para retomada econômica de pequenos negócios por 5 meses.

    GUIA DO VOLUNTÁRIO – Como montar um grupo de solidariedade na sua rua, prédio ou comunidade

    1 Faça o mapeamento das necessidades:
    _É preciso cuidar especialmente das pessoas idosas e das que têm problemas de saúde e estão em grupos de risco. Na atual conjuntura, são comuns os grupos de vizinhos que estão se organizando com listas de compras para evitar que idosos saiam de casa. Cada voluntário pode fazer a compra para vários vizinhos. O aplicativo Amigo Vizinho ajuda a colocar em contato quem quer ajudar e quem precisa de auxílio.

    _A saúde mental das pessoas também merece cuidados: organizar grupos para as pessoas se manterem próximas mesmo à distância e propor atividades coletivas a partir de casa também é uma boa. Por todo o país, diferentes clubes do livro estão funcionando pelo facebook.

    _No caso de distribuição de alimentos, é possível organizar um grupo para recolher doações, outro para comprar os donativos e ainda um terceiro para distribuí-los. Quando a comida é distribuída para pessoas em situação de rua, existe ainda a equipe da cozinha. 

    _O foco de atuação também ser voltado para tirar dúvidas via Whatsapp. É uma maneira de combater o pânico e as fake news, desde que feita com extrema responsabilidade, amparando-se em fontes fidedignas de informação como reconhecidos portais de comunicação, a Agência Nacional de Segurança Sanitária, Anvisa, o Ministério da Saúde ou secretarias de saúde de estados e municípios.

    _Grupos para pressionar o poder público podem cobrar de prefeituras e governos a assistência adequada para suas comunidades. 

    2 Chame mais gente
    _Seja qual for a frente de atuação ou necessidade a ser atendida, fica mais fácil e seguro atuar coletivamente e em rede.

    _Poucas pessoas podem fazer muita diferença: você pode fazer um grupo com a sua família, pessoas que moram no mesmo prédio ou quarteirão. A ideia é também dividir as funções por encarregados ou equipes, de forma que possam ajudar sem ter contato físico entre si.

    _Sabendo com quantas pessoas contar, é possível criar metas de atendimento do tipo de ajuda oferecida. 

    _Caso o grupo esteja coletando cestas básicas, busque locais de armazenamento e montagem dos kits ou entre em contato com outros grupos que estejam fazendo o mesmo tipo de ação.

    3 Cuidem-se
    _Para você e outros voluntários ajudarem precisarão se cuidar. Saibam em detalhes como se proteger para diminuir riscos de contágio ao ir fazer compras ou distruibuição de donativos. Busque informações de fontes seguras como a Agência Nacional de Segurança Sanitária, Anvisa, o Ministério da Saúde ou as secretarias de saúde de estados e municípios. O grupo de solidariedade de Ribeirão das Neves, na região metropolitana de BH, criou o “Protocolo Diquebrada de solidariedade contra o corona” para voluntários:

    • Use luvas + álcool líquido + máscara de proteção para trabalhar com as doações e higienizar TUDO
    • Não tenha contato direto com as pessoas doadoras. Crie um local para deixem os produtos, que serão recolhidos e higienizados posteriormente para distribuição
    • A distribuição deve ser feita com máscara + luva de proteção na porta das casas das famílias
    • Alimentos e produtos serão distribuídos em sacolas próprias

    São ações simples que fazem toda a diferença. É importante ir ajustando o protocolo conforme as necessidades do grupo, as tarefas que realizam e as áreas em que atuam. O grupo de Neves mudou o protocolo após ler a recomendação de que máscara é só para quem está contaminado ou trabalha com saúde, pois estão em falta. Para alguns grupos, por exemplo, o álcool em gel vai ser fundamental, pois vão atuar em locais onde não há água para lavar as mãos. 

    4 Tenha um plano
    _
    O planejamento de um grupo de solidariedade pode ser simples, com uma listinha de tarefas dividida por poucas pessoas, ou mais complexa com maior organização e detalhes para o grupo dê conta do recado.

    _Esse é o momento de dividir quem faz o quê, qual o prazo para ser feito, onde vão ser recebidas e mantidas as doações e tudo mais que precisar ser definido para fazer acontecer.

    _O grupo Periferia Sem Corona no Facebook tem várias iniciativas diferentes que estão trabalhando conjuntamente para alcançar mais pessoas e resultados. Por ali, também é possível conhecer e copiar boas práticas que estão surgindo em todo o país. Troque figurinhas, peça conselhos, busque os mais experientes. Todos querem ajudar.

    5 Divulgue a campanha
    Sua mensagem precisa chegar em quem pode  ajudar. Crie uma imagem de divulgação para dar visibilidade e circular bem nos grupos de Whatsapp e outras mídias sociais. Descreva nas redes a região em que o grupo atua, o que ele faz e como recebe as doações.

    6 Em ação!
    Com tudo preparado, chegou a hora de dar início à atividade. Alguns grupos planejam mais, outros reúnem as pessoas mais próximas bem rápido, já se organizam e começam a atuar no dia seguinte. É hora de agir rápido, então se precisar comece pequeno e vá somando mais gente e mais recursos no caminho. 

    7 Avalie e replanejar sempre
    Com tudo mudando tão rápido, inclusive as orientações do que fazer e o que evitar, é importante prestar atenção nas necessidades da comunidade atendida. Faça avaliações coletivas  para garantir que os protocolos são eficazes e a ajuda está chegando em quem precisa.